Jack de LOST (3)

Um conto erótico de L. Amaral
Categoria: Gay
Contém 1662 palavras
Data: 10/05/2025 20:15:32

Quando acordei, não encontrei o Jack ao meu lado. Depois de comer alguma coisa, fui procurá-lo. Ele meio que se tornou o nosso líder, que todos pareciam querer e precisavam ter. Eu não gostei muito disso.

No meio da praia, o encontrei com algumas pessoas: um loiro alto, chamado Sawyer, Kate, Charlie e um arábi, Sayid. Este último tinha um rádio em mãos. Ele logo os chamou para partirem.

— Tome cuidado, Kate — disse Jack.

— Pode deixar.

Eles trocaram sorrisos calorosos.

— Para onde eles foram? — perguntei.

— Foram buscar um sinal num ponto mais alto. O rádio não funcionou aqui.

Logo depois, fomos ver o ferido na tenda. Jack apertou a barriga do homem e ficou sério.

— Está rígida?

— Sim. Isso não é nada bom. E está ardendo em febre.

De repente, o homem acordou ansioso.

— Onde ela está? Ela é perigosa. Onde ela está?

— Quem? Quem é ela? — Jack quis saber.

— Minhas algemas, minha algemas! — Antes de desmaiar, acrescentou: — Olhe no bolso do paletó. Olhe no bolso do meu paletó!

Eu vasculhei o paletó e encontrei uma carteira e um o retrato de uma mulher, daqueles que se tiram em uma delegacia.

— É a Kate? — Mostrei a folha ao Jack.

— Sim. É a Kate.

— Então ela é uma... fugitiva?

— É o que parece. Ele deveria estar escoltando ela.

— O nome dele é Edward Marsl. É um oficial de justiça — falei depois de olhar na carteira dele.

Jack ficou pensativo. Enquanto olhava para a foto da Kate, ele parecia preocupado, decepcionado, aflito... Não sei.

— O que vai fazer a respeito, Jack?

— Nada. Isso não é da minha conta.

Ele me entregou a foto, e eu a guardei novamente.

— Se o Edward é policial, então onde está a arma dele?

— Eu também gostaria de saber.

— E quanto ao Edward? O que vai acontecer com ele:

Jack fez uma ligeira pausa e respondeu:

— Eu não posso mais ajudá-lo. Preciso caminhar um pouco.

— E a nossa barraca?

— Agora não dá, Donnie.

E ele me deixou sozinho.

Enquanto eu procurava alguma coisa útil nos destroços, um gordinho e de cabelo cheio, veio até mim. Era muito educado.

— Oi. Tudo bem? Eu sou Harley.

— Donnie.

Harley passeou os olhos em um caderno. Me aproximei para ver melhor a folha.

— É a lista dos passageiros?

— É sim. Donnie... Anderson?

Assenti com a cabeça. Alguns nomes estavam com um "X" e outros, com um "V".

— Prontinho — Harley fez um V perto do meu nome e acrescentou: — No final do dia vamos queimar os... corpos. Você conhecia alguém do avião?

— Não. Eu viajava sozinho.

— Vamos meio que fazer uma cerimônia. Se quiser falar alguma coisa depois, fique à vontade.

— Está bem — dei um sorriso simpático.

— Valeu, Donnie.

Queimar os corpos. Engoli em seco.

Fui para perto do mar e sentei na areia. Olhei para as ondas e relaxei com o som que elas faziam. Respirei fundo aquela brisa refrescante.

Já não via o Jack fazia algumas horas e foi ali, sentado, que o vi. Ele estava ao lado de uma mulher, assim como eu, olhando para o mar.

Rose era o nome da mulher. Parecia que ela estava em choque, ou algo assim. Ouvi dizer que era por causa do marido, que ficou na parte de trás do avião — a parte que se partiu primeiro e caiu em algum lugar.

Parecia que o Jack preferia ficar com ela do que comigo. Talvez ele tenha se cansado de mim, ou ela só precisa mais da companhia dele do que eu. Como eu disse, o Jack meio se tornou o nosso líder, pois sempre estava disposto em ajudar.

No meio da tarde, Charlie, Kate, Sawyer e Sayid voltaram.

— Kate, conseguiram o sinal? — perguntei.

— Nada, apenas uma transmissão em francês.

— Como assim, uma transmissão daqui da ilha?

— Tudo indica que sim. Como está o homem ferido na barraca?

— Mal. O Jack disse que não tem mais jeito.

— E o Jack?

— Ali, perto do mar, com a Rose — Apontei para eles ao longe.

— Ah. Depois eu falo com ele — Kate sorriu e saiu.

"Depois eu falo com ele". Revirei os olhos.

— Ela tinha que entrar na fila.

Edward Marsl gritou a tarde inteira. A ilha toda parecia ouvir. Vi olhares aflitos e com pena. Eu podia saber o que pensavam, pelos cochichos, que seria melhor alguém acabar com o sofrimento daquele pobre homem.

Me afastei, fui caminhar um pouco. Foi nessa hora que começou a chover e eu me abriguei debaixo de uma árvore. Até então, as chuvas na ilha eram rápidas e torrenciais, com pouco ou sem vento e trovões. Desejei que o Jack estivesse ali comigo me aquecendo em seus braços, como ontem debaixo dos arbustos.

Assim que a chuva parou eu voltei. Encontrei o Charlie conversando com o Jack. Eles falavam de um urso que encontraram na mata.

— Era um urso, Donnie. Mas não um urso qualquer. Era um urso polar — disse Charlie.

— Um urso polar aqui? — indaguei.

— Tá eu sei que loucura, mas é verdade.

— E como se livraram dele? — perguntou Jack.

— O Sawyer tinha uma arma.

— Uma arma?

— Foi o que eu disse, Jack. Mas acho que ela está com a Kate agora. Ela disse que sabia atirar melhor e...

— A Kate está com uma arma?

— Vocês estão me ouvindo ou não? Ei, o que foi? Pra onde estão indo? Jack?

Deixamos o Charlie e fomos em busca da Kate. Antes de chegarmos à tenda, ouvimos um tiro.

— Kate? O que você fez?

Ela acabara de sair da tenda.

— Eu não matei ele, Jack — disse, com um semblante triste.

Então, Jack e eu entramos na barraca.

— Sawyer?

— Alguém tinha que acabar com o sofrimento dele, doutor.

Os dois se encararam por quase um minuto. E de repente, Edward despertou gritando e se engasgando com sangue.

— Você acertou o pulmão dele? Que droga, Sawyer! Agora ele vai sofrer ainda mais — Jack exclamou.

Sawyer ficou apavorado:

— Eu mirei no peito dele, eu... Eu só queria ajudar. E só tinha um bala. Eu...

— Por que você não dá o fora daqui, Sawyer? — disse Jack.

— Merda.

E Sawyer saiu, desolado.

— E agora, Jack? — indaguei.

— Você pode me deixar sozinho com ele, Donnie?

— O que vai fazer?

— Eu não posso deixá-lo assim. Espere lá fora, eu não quero que você veja isso.

— Você vai...? Eu fico com você, Jack.

— Donnie, por favor, sai!

Ele me olhou sério. Após um momento, eu saí e o esperei.

Após alguns minutos Jack saiu da tenda, caminhou um pouco e sentou na areia. O segui. Ele me olhou brevemente, com os olhos marejados.

— Jack?

— Eu tinha que fazer, Donnie — a voz dele estava embargada. Olhou para as mãos trêmulas e acrescentou: — Eu precisei, eu...

— Eu sei, Jack. Eu sei. Está tudo bem.

Então, ao choro dele, eu tentei consolá-lo em meus braços.

— Obrigado, Donnie. Mas eu preciso ficar um pouco sozinho.

Jack se levantou.

— Você não quer ajuda para juntar o Edward com os outros corpos — indaguei.

— Ele não será queimado como os outros. Eu vou enterrá-lo amanhã. Agora vá, a gente se encontra na cerimônia.

— Mas, Jack.

— Me deixa sozinho, Donnie.

E Jack retornou à tenda.

Será que eu estava forçando as coisas com ele? Mas, todo mundo precisa ficar sozinho às vezes. Mesmo assim, eu deveria estar mesmo forçando as coisas, sendo tão complacente.

Fui me lavar no mar. Depois, troquei de roupas, passei um tônico nos cabelos, que estavam ressecados por causa da água do mar; e passei um hidratante na pele. Pensei um pouco se usava o meu perfume. Ah, um pouquinho não faria mal. Quando dei o primeiro esguicho, fechei os olhos e suspirei. Foi como estar em casa.

"É noite, estou no quintal de casa. Eu ouço fogos de artifícios e brindo um drink de morango com meus amigos. Olho para o lado e o vejo perto da minha, minha mãe. Seu olhar era triste".

Mais um esguicho:

"— Por favor, Donnie, não vá. Eu preciso de você — ele diz para mim na última que nos encontramos em meu quarto.”

Abri os olhos.

Naquele momento, na praia, me senti completamente sozinho. E deixei algumas lágrimas soltas.

Quando o sol se pôs, todos se reuniram diante da fuselagem do avião.

O Harley e uma jovem, loira e grávida, disseram algumas palavras e leram os nomes dos mortos. Então, atearam fogo na pilha de corpos dentro fuselagem do avião — o Jack ajudou com isso. Depois, ele veio até mim.

— Você está bem?

— Estou — respondi, um tanto indiferente.

Eu estava emocionado, como a maioria das outras pessoas. Entretanto, contente por não estar dentro daquela fogueira.

— Está bem mesmo, Donnie?

— Por que não estaria?

Olhei para o Jack. Este sorria levemente, porém tinha um olhar atento.

— Foi o jeito que falei com você? Hoje foi um dia muito estressante pra mim, eu não deveria ter descarregado em você. Eu não quis gritar com você, me desculpe.

— Não esquenta, Jack. Tudo bem. Eu só... achei que você queria ficar sozinho.

— Sim, eu precisei. Mas eu gosto mais de ficar com você, Donnie. Gosto da sua companhia.

Eu sorri.

— Você já deve ter percebido que também gosto da sua companhia, Jack.

— Ah, e eu não sei o porquê. Olha pra mim. Eu estou todo maltrapilho e com cheiro de mar. E olha você, todo arrumado e cheiroso.

— Para, Jack — eu ri. — Está me deixando sem graça.

Rimos.

— Eu não sei se deveria. Quero dizer, levando em conta tudo o que aconteceu, parece até loucura se importar em usar perfume.

— Não é loucura nenhuma. E que bom que você se importou, porque eu gosto. Eu gosto do seu perfume.

Virei o rosto para o lado, sorrindo muito.

— Tá, eu parei — Jack deu uma risadinha. — Pode voltar a olhar pra mim agora.

— Obrigado, Jack. Obrigado por isso — funguei. E mordi os lábios, tentando não chorar.

Então, ele piscou um olho para mim, em seguida segurou a minha mão. Mão grande e forte a dele.

— Amanhã vamos fazer a nossa barraca, está bem? — disse.

— Amanhã — Assenti.

E olhamos para as chamas altas da fogueira.

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