Depois de uma certa espera, segue a continuação da série do gaúcho!
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A casa de praia do Fred era sensacional. Não era grande nem luxuosa como o sítio onde tinha acontecido o casamento dele um ano antes, mas era bem bonita: um sobrado de estilo colonial, pintado de branco, com uma grande varanda na parte da frente. Depois que o motorista se encarregou de levar minhas malas até o quarto, segui por um caminho de paralelepípedos que cortava o jardim, até chegar nos fundos da casa. Era lá que a festa estava rolando.
Quando cheguei lá, fiquei de queixo caído. O jardim dos fundos era ainda maior que o da frente. Mesas haviam sido espalhadas pelo lugar, por onde os convidados circulavam. Mas o que realmente me deixou embasbacado foi a vista para o mar. A praia ficava a poucos metros da casa. Quem quisesse, era só caminhar um pouco por uma espécie píer que atravessava a mata virgem, até chegar na faixa de areia branquinha.
“É, o Fred sempre surpreende”, pensei. O cheiro da maresia e o barulho das ondas— que eu conseguia ouvir, apesar da música alta— me acalmaram um pouco. Mas eu ainda estava tenso. Peguei uma taça de champanhe em uma bandeja que passou perto de mim, tentando encontrar algum rosto conhecido. O Mauro, meu chefe, eu já sabia que não conseguiria vir por causa de uma viagem a trabalho para o Rio. Mas o Theo ainda não tinha me confirmado nada. Uma parte de mim queria que ele viesse. O puxa-saquismo dele costumava ser um porre, mas naquela hora bem que toda aquela bajulação podia me ajudar com a minha autoconfiança!
“Dr. Eduardo”! Que bom te receber aqui! Fez boa viagem?
Assim que escutei o “Dr. Eduardo”, me virei pra trás, já sabendo muito bem quem eu encontraria. O Fred vestia uma camisa de manga curta de linho azul-clara e uma bermuda bege, um pouco acima do joelho. A camisa estava sugestivamente com os últimos botões desabotoados, exibindo o peitoral trabalhado do Fred. E a bermuda…bom, tudo o que posso dizer é que ela fazia justiça pro dote do loirão!
“Caralho, se controla, Eduardo! Não deu nem dois segundos e você já está olhando pro volume do Fred!”’.
— Fala, Fred! — cumprimentei meu amigo com um aperto de mão atrapalhado, desviando o olhar do “pacotão” dele— Opa, fiz boa viagem sim! A estrada tava super tranquila! E o motorista é bem firmeza!
— Ah, bom saber! O Oscar é novo, ele é ótimo mesmo! Mas na verdade, eu queria ter te mandado o Wagner, que trabalha com a gente há anos. Só que ele precisou ajudar meu pai com alguma coisa de última hora…— ele deu uma risadinha e falou em um tom baixo— Espera só pra você conhecer o Wagner, Du! Você vai ficar molhadinha com o negão!!
Ih, tinha começado!
— Você sempre com alguma gracinha, né Fred?- me controlei para não subir a voz— Porra, eu já não vim na tua festa? Me ajuda a te ajudar, mano!
— Ah Du, deixa esse stress de São Paulo pra lá! Eu hein, não sabe nem levar uma piada na esportiva mais…
— “Levar na esportiva”? Essa é a boa! …— dei um gole no champanhe, mudei de assunto— Mas vem cá, você sabe se o Theo vem? Ele não me falou mais nada…
— Quem, o altão? Não, o Mauro acabou mudando de ideia. Ele me disse que você, como é mais experiente, viria representando sozinho o escritório hoje. Aliás, tá com a moral alta na firma hein, “Doutor”?— ele deu um tapinha no meu braço de brincadeira— Mas viu, vou te falar que achei uma pena que o meninão não veio! Bem que eu queria ver ele novo… todo altão, metido a machinho…aquele lá, depois de uma bebidinha e dois dedos de prosa… não sei não, tem potencial!
Cacete, a audácia do Fred não tinha limite! Nessa hora, quase como se eu fosse o irmão mais velho do Theo, senti que era meu dever defender o meu amigo mais novo das garras do loirão:
— Tu tá maluco? Fred, o Theo mal fez 20 anos!— falei olhando para os lados, com medo de chamar atenção — E eu tenho certeza que ele é hétero, então deixa ele em paz!
— Ihhh, mas eu já ouvi tanto essa historinha!- o Fred enfatizou o “tanto”- Depois a gente fala melhor disso! Agora bora lá, que eu vou te levar até a galera do fut!
Senti um friozinho na barriga. Tinha chegado a hora que eu tanto temia! Me lembrei dos momentos decisivos de tantas partidas de fut que já joguei. “Você primeiro perde a partida na tua cabeça”, o treinador da escolinha onde eu jogava desde moleque sempre dizia. Fiquei pensando no que o Professor Gérson — que sempre encheu a minha bola, dizendo que eu poderia jogar profissionalmente se quisesse — teria a dizer se soubesse das minhas “aventuras”...
Enquanto eu pensava nessas coisas, o Fred acabou ficando uns dois passos atrás de mim. Quando virei para perguntar se a gente já tava chegando na bendita mesa da galera do fut, percebi que ele estava manjando a minha bunda na cara dura — mordendo a linguinha, devorando o meu rabo com os olhos.
— Porra Fred, sério mesmo? Com a sua esposa por aí?- perguntei me virando para trás.
— Ué, não pode nem mais admirar a vista?- ele respondeu rindo- Cara, é impressionante! Mesmo você tentando disfarçar com essa bermuda larga aí, tua bunda ainda é maior do que a de todas as mulheres da festa! Me conta: quando você viaja de avião, eles não pedem pra você despachar essa bagagem toda não?
De fato, eu tinha ido pra festa com uma bermuda bem larga — um modelo marrom, de tecido grosso — para tentar disfarçar o tamanho da minha bunda. Se no meu tempo com o Dani eu adorava toda a atenção que meu rabão recebia, depois passei a me envergonhar de ter um rabo tão enorme. Fiquei tão encafifado com isso que até comecei a comprar shorts e calças um número acima do que eu costumava usar. Mas, mesmo assim, era foda: por mais que eu tentasse esconder, minha bunda simplesmente se destacava. Não era incomum eu notar algum cara no elevador ou na academia dando uma olhadela indiscreta.
Claro que eu ficava puto! Mas no fundo, eu ficava bravo era comigo mesmo. Porque eu sabia que, lá no fundo, uma parte reprimida de mim adorava ostentar meu rabetão…
— Rapaziada, saca só quem veio pra festa!— o Fred nos anunciou colocando o braço atrás de mim.
Enfim, tínhamos chegado na famigerada mesa da “galera do fut”. A alguns passos de distância, já tinha reconhecido vários rostos da minha época. O Tom continuava o mesmo: carismático, gente fina, com um sorriso fácil no rosto. Notei que estava ainda mais definido de físico, mas ainda sim, com aquela famosa barriguinha de chopp. Eu tinha uma certa simpatia pelo cara. Afinal, ele e o Fred foram os únicos do time que me mandaram uma mensagem de apoio depois daquela humilhação que o Will me fez passar em campo.
E bom, confesso que tinha boas lembranças daquela vara negra grossona dele macetando minha boca…
— Caralho, não acredito! Quanto tempo, Du! — o Tom disse vindo me abraçar — Como é que você tá?
— Tô bem, Tomzão! — respondi olhando para baixo, meio tímido — bom ver que tu tá em forma, hein?
— Ó quem fala! Tu tá monstrão, Du! — fiquei feliz que ele tinha se impressionado com meu físico -— viu só, Fred? O nosso Du virou maromba!
— Pois é, Tom! Mas convenhamos que o Du sempre foi bom de exercício, né? Agachamento, abertura de perna… o cara é fera…
Dei uma olhada furiosa em direção ao Fred. Ele sabia muito bem que, por conta do trabalho, eu tinha que aguentar cada piadinha que aquela cabeça loira desvairada bolasse. O Tom, pra minha sorte, não embarcou na onda, logo mudando de assunto:
— Bom, nem preciso apresentar a maior parte da galera: Paulinho, Cauã, Beto…todos esses são do seu tempo! Acho dos que tão aqui, só o Rique que você não conhece…
Ao contrário do que eu sentia pelo Tom, tinha um ódio tremendo de todos os meus outros “ex-parças” do fut. Não conseguia esquecer deles me arrastando quando me viram só de calcinha no gramado, nem dos olhares de predador que muitos me lançaram ao me ver naquela situação. Sem falar nas mensagens de merda que eles me enviaram depois!
Empinei o queixo e estufei o peito. Acenei com a cabeça, de cara amarrada. Eu que não iria baixar a guarda!
— Opa, Du! Quanto tempo mesmo!- o Cauã me disse. Ele era daquele tipo de cara que a princípio parecia simpático, mas sempre fazia um comentário maldoso. Era um dos que mais se achavam do time, porque era um dos mais dotados da galera— Você não tem ideia da falta que você faz lá no time…principalmente no vestiário, né pessoal?
Ele então deu uma risadinha, acompanhado do Paulinho e do Beto. Percebi ele olhando para baixo, para manjar minha bunda. Era incrível como eles me tratavam feito uma prostituta!
— E faz falta mesmo! Bem que o time podia ter um zagueiro de verdade, pra variar!- o Fred interveio- O Cauã e o Paulinho a gente deixa jogar por caridade! São tão perna de pau que já podem jogar nessa seleção brasileira de agora…
Toda a galera rachou o bico. Menos o Cauã e o Paulinho, que responderam com um “vai tomar no cu!” de brincadeira, mas ficaram visivelmente incomodados. Olhei pro Fred agradecido. Ele me retribuiu com uma piscadinha. Era engraçado: o loirão adorava tirar uma com a minha cara, mas as zoações dele não chegavam nem perto de me incomodar como aquelas babaquices que o Cauã dizia. Porque eu sabia que o Fred, apesar de ser um pentelho, nunca iria me expor ao ridículo em público de propósito:
— Prazer, Du! Henrique aqui, mas pode me chamar de Rique!— o cara que eu não conhecia se levantou para me cumprimentar— Ouvi falar muito bem de você! Todo mundo vive falando que você é o melhor zagueiro que já passou pelo time!
— Ah, é? Bom saber que a galera ainda se lembra do que é futebol de verdade naquela porra — respondi todo orgulhoso — O prazer é meu, Rique!
O cara novo, o Rique, me passou a impressão de ser gente boa. Era jovem, com no máximo 25 anos. Tinha o corpo em forma, mas não bombado. Com aquele cabelo cacheadinho curto, moreno, bigode grosso e um brinquinho na orelha, o Henrique tinha um certo ar latino — meio que de cantor de reggaeton — que me chamou atenção. “Cacete, o prazer é todo meu, Rique!”, não consegui deixar de pensar.
Meu Deus, estar no meio daqueles caras de novo estava mexendo com minha cabeça! Me lembrei da sensação de estar no vestiário depois do jogo. Todos aqueles machos suados, caminhando pra lá e pra cá, com as picas soltas balançando. O cheiro de desodorante masculino impregnado do ar, enquanto a galera trocava ideia sobre o último jogo do Campeonato Paulista ou discutia sobre qual das namoradas da galera era a mais gostosa. Eu sabia exatamente como era a pica de cada um ali, com exceção do tal Henrique. Que aliás, tinha toda a pose de ser abençoado nesse departamento…
“Ai, que saudade de um vestiário!”, pensei. Bem nessa hora, quando me virei de costas para elas para colocar minha taça vazia na bandeja que um garçom levava, ouvi o mais novo integrante do time comentar baixinho pro Tom:
— Porra, quando vocês me contavam, eu achava que era lorota! Tá maluco, o cara tem bunda de mina mesmo!
Não sabia onde enfiar a cara. Todo aquele esforço para disfarçar o tamanho da minha bunda pra nada! Mas o pior foi o jeito que o Rique falou, como se meu rabo fosse um assunto frequente na resenha da galera. Fiquei imaginando eles falando de mim daquele jeito escrachado. Como se eu fosse uma mina que todos eles tivessem traçado e pudessem trocar figurinha a respeito!
Enquanto lutava para esconder meu nervosismo, o Tom pareceu ter avistado algum conhecido à distância. Um sorriso largo se abriu no rosto dele:
— QUE ISSO! Mas é mesmo a reunião da galera toda! Por que você não disse que o Gaúcho também vinha, Fred?
Não, não podia ser! Juro, eu tinha ido para aquela festa disposto a aguentar qualquer coisa. Até mesmo topar com o Will e a Letícia juntos. Se bobear, até passar de novo por um vexame igual ao que passei daquela vez no gramado. Tudo seria melhor do que me reencontrar com o Dani! Assim que o Tom disse a palavra “Gaúcho”, me virei na direção em que ele estava olhando.
A música parou. Só se ouvia o som do mar e as conversas abafadas dos convidados. Minha garganta fechou, o coração acelerou. Se tinha uma pessoa que eu reconheceria a léguas de distância, essa pessoa era o Dani!
Era a primeira vez que eu via o gaúcho desde a nossa despedida no parque. Por um lado, ele continuava igual, com aquele mesmo ar leve, simpático com todo mundo com quem ele esbarrava pelo caminho. O mesmo sorriso arrasador, a mesma energia de quem está de bem com a vida, que sempre me encantou tanto. Mas, ao mesmo tempo, o Dani me pareceu ainda mais forte do que antes. Quando ele chegou mais perto, reparei nos bíceps pronunciados, destacados pela camisa de manga curta justa, no peitoral estufado, na postura ereta. Sem falar na barba fechada, bem cuidada, que ele tinha deixado crescer durante aqueles meses. Uma cara de macho gaúcho, tchê!
O Dani de antes ainda conservava um jeito mais de moleque. Mas o que eu via na frente era um homem mais sério. Desses prontos pra casar, ter filhos, assumir as grandes responsabilidades da vida. “Mano, como ele tá lindo!”, pensei, com o mesmo ar apaixonado de uma garotinha adolescente. À medida que o gaúcho foi se aproximando, quase em câmera lenta, senti os pêlos dos meus braços se arrepiarem. Meus mamilos ficaram salientes, marcando na camisa pólo vermelha que eu usava. E o meu cuzinho piscava ensandecido, parecendo uma boquinha de pássaro implorando por comida.
Mas o pior de tudo foi o meu pau, que esguichou um jatinho de pré-gozo na cueca. O Dani mal tinha chegado, e eu já estava tomado por um tesão avassalador!
— Opa, gurizada! — ele começou a falar, há alguns passos de distância- Como é bom ver a turma to…
Ele interrompeu a frase no meio, fincando o pé no chão, quando o nosso olhar se cruzou. De repente, era como se só nós dois existíssemos: todo o resto, a galera do fut, a festa, não passava de um cenário para o nosso encontro:
— E aí, guri? Com tu tem passado?
Caralho, como é possível que um simples “e aí guri? como tu tem passado?” podia me derreter todo? Me espantei como o tom do Dani foi carinhoso, sem um pingo de ressentimento na voz. Como já disse mais de uma vez, o fato do gaúcho não ter medo de se mostrar sensível sempre me fez achar ele ainda mais gostoso.
— Tudo certo!- devolvi com o rosto fechado, engrossando a voz — e com você, Dani?
Antes que o Dani pudesse me responder, o Cauã, inconveniente, como sempre, se meteu no papo:
— Ah Du, não tá sabendo da novidade? Pensei que você seria a primeira pessoa a saber…
— O quê?- perguntei, confuso com aquela história. Notei os olhares constrangidos de todo mundo à minha volta. Já o Dani fulminava o Cauã com os olhos.
— Que novidade? Vai pessoal, conta aí!
— Então, Du…- o Dani disse olhando para baixo em um primeiro momento, e depois erguendo o queixo — a tal da novidade é que eu…eu tô noivo, guri.
Não, eu não podia acreditar que aquilo que estava ouvindo era verdade! Como assim, o Dani, o meu gaúcho, estava ficando noivo de alguém? E de alguém que…não fosse eu?
Ainda me recuperando de espanto, consegui gaguejar algo de volta:
— Nossa, sério? Caralho Dani, meus…meus parabéns! E bom…posso perguntar com quem?
— Ah, eu já falei dela pra ti…é a Andressa, aquela guria que eu namorei antes de vir pra São Paulo, lembra?
“O quê?”. Não, aquilo era absurdo demais! Quer dizer que o Dani tinha voltado com aquela mesma mina que tinha partido com o coração dele lá no Sul? Que aliás, foi o motivo dele para tentar a vida em São Paulo?
— Ah, sei sim! Mas então quer dizer que ela vai se mudar pra São Paulo?
Mais uma vez o Dani olhou para baixo, parecendo tomar fôlego para seguir com aquela conversa.
— Não, Du. Eu que vou voltar pro Rio Grande — o gaúcho me disse, voltando a me encarar — O escritório em que eu trabalho vai abrir uma filial em Porto Alegre, daí meu chefe me perguntou se eu topava assumir um cargo mais alto lá. E enfim, acabei aceitando…
Meu Deus! O Dani, noivo de uma garota, e ainda por cima se mudando de volta para Porto Alegre! Parecia que a cada segundo que passava, aquela história só ficava pior.
— Nossa, Dani! Mas você sempre falou que adorava São Paulo, poxa! — falei desacreditado.
— Sim, verdade… mas não sei, acho que agora não faz muito mais sentido continuar por aqui…
— Bom…- o Cauã mais uma vez se intrometeu na conversa- Pelo menos não dá pra dizer que o gaúcho não aproveitou o tempo dele em SP, né não?
— Escuta aqui guri, tu tá passando do limite- o Dani se impôs, estufando o peito e erguendo o dedo- Se não fosse por respeito ao Fred, já tinha te afogado nesse mar fazia tempo!
— Opa, opa, vamos se acalmando aqui- o Tom, sempre conciliador, se colocou entre o Dani e o Cauã- Bora lá, a gente tá em uma festa!
— Se vocês me dão licença…— eu disse, logo em seguida saindo dali e caminhando em direção à praia. Coloquei a mão no rosto, para esconder o choro.
Eu tava arrasado. De todos os cenários que eu imaginei quando aceitei o convite do Fred, nenhum era tão terrível como aquele que tinha acabado de viver. Chegando na praia, sentindo o cheiro forte da maresia e o estrondo das ondas, percebi como o tempo tinha de fato passado. Eu estava firme com a Bianca, o gaúcho noivo da Andressa. De fato, aqueles “Du e o Dani” que a gente foi só existiam nas nossas lembranças.
“Du!”. Ouvi alguém me chamando, correndo atrás de mim na faixa de areia:
— Caralho, espera aí, Du!- o Dani me disse, me alcançando — Pera aí guri, vamo conversar!
— Conversar o quê, Dani?- me virei para ele- Não tem nada mais pra gente conversar…
— Escuta, eu não queria que tu ficasse sabendo assim! Queria eu mesmo ter te contado, mas aquele arrombado do Cauã estragou tudo! Não fica nervoso assim, guri, por favor!
— Como é que eu não vou ficar nervoso, Dani? Imagina saber de repente que você tá noivo e vai se mudar de volta pro Sul! Sem falar que você voltou com justo com a mina que você sempre me contou que aprontou pra cacete com você!
— Ei, eu entendo teu sentimento Mas essa é a minha escolha, Du — ele me retornou com a voz serena — Não pensa que foi fácil pra mim. A vida tem dessas, guri.
O Dani parecia estar segurando para não chorar. Ali parado na beira do mar, com o vento forte bagunçando os cabelos ondulados, ele nunca me pareceu tão perfeito. Em silêncio, nos aproximamos aos poucos. Nossos corpos se atraindo como imãs, independente da nossa vontade. Mais um pouco, daríamos um beijo.
— Sim, a vida tem dessas mesmo — falei interrompendo o passo Meus olhos se fixaram nos lábios grossos do Dani. Estava me despedindo — A gente se vê por aí, gaúcho.
Virei as costas para ele e caminhei de volta para a festa. Era isso: nossa história tinha oficialmente acabado. Só me restava engolir o choro e seguir em frente. Talvez o encontro com o Dani fosse até uma coisa boa, algo que precisava acontecer para finalmente me fazer cair a ficha.
Limpando os olhos, fui até o quarto para onde tinham levado as minhas malas. Queria alguns minutos de sossego antes de voltar praquela merda de festa. Mas quando a abri a porta, a personificação exata do oposto de “sossego” estava sentado na poltrona:
— Vaza, Fred — dei a ordem, pendurando o paletó no cabide — Agora não tô pra papo…
— Sério, Du? — ele me disse se levantando da poltrona, com um copo de whisky na mão — Quer me dizer que depois de tudo isso que você ficou sabendo, essa é a sua reação?
— Quem é você pra me falar qualquer coisa, hein? — arregacei as mangas — primeiro que você me garantiu que o Dani não vinha pra festa! E segundo que até parece que você não sabia dessa história de casamento!
— Ah, mas é claro que eu menti pra você! — o loirão me respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo — se eu tivesse contado que o gaúcho viria, você daria pra trás. E é justamente por causa desse casamento que eu precisava de você aqui!
— Mas do que você tá falando, Fred?
— Du, já te falei: o Gaúcho não te esqueceu, cara. Esse casamento é o maior erro que ele vai cometer na vida. Mas ainda dá tempo de vocês se resolverem…
— Ah, Fred! — disse me sentando na beirada da cama — Mano, você não entende! Não dá mais tempo agora! Ele tá noivo, vai se mudar e tudo o mais!
Nesse instante, não aguentei. Primeiro, uma lágrima escapou dos meus olhos, e depois desatei a chorar. Era a primeira vez que eu chorava assim na frente de um amigo mais próximo.
— Se eu pudesse voltar no tempo, eu juro que faria diferente! — falei enxugando as lágrimas- Mas é isso, a vida tem dessas…
O Fred ouviu tudo em silêncio. Percebi que ele tinha ficado surpreso com minha reação. Ele então colocou a mão no meu ombro. Achei que fosse dizer algo sério, profundo, querendo me consolar.
Mas no estilo clássico do loirão, ele meteu essa:
— “A vida tem dessas” é minha pica no teu cu, Du. Larga desse papinho, mano! Peraí, que eu vou mostrar uma coisa que vai mudar seu humor…
O dono da casa foi então até o banheiro, voltando de lá com uma caixa de presente. O sorriso no rosto dele mostrava que ele estava confiante com aquela estratégia:
— Fred…— falei cabreiro. Uma parte de mim já sabia o que tinha naquela caixa.
— Abre, Du. Fica como presente de casamento de vocês dois antecipado…
Ao abrir a caixa, encontrei uma lingerie vermelha de renda, cravejada com cristais prateados nas bordas do sutiã. Pelo tecido, dava para ver que era uma peça elegante, de marca — bem coisa do Fred. Ergui com os dedos e segurei contra a luz. Era um tesão!
— E se eu te contasse que essa foi a lingerie que a Nic usou pra mim na noite de núpcias?- o Fred então colocou um braço ao redor dos meus ombros — vai Du, imagina só: você com esse corpão todo, só com essa roupinha…tenho certeza que você conquista o gaúcho de volta em um segundo…
Fiquei hipnotizado por aquela roupa. E a voz do Fred ia entrando pelos meus ouvidos, quase como um feitiço. Botei a peça por cima da minha camisa pólo. Me olhei no reflexo do espelho que estava pendurado bem em frente à cama. O espelho não mentia. O contraste do meu corpo, tão másculo e forte, e a feminilidade que aquela lingerie exalava, nunca falhava em me excitar.
Notei então uma mancha se formando na minha bermuda. Era meu pau babando, só de me imaginar usando aquela lingerie.
— Ai Fred… — falei com a voz afinada, passando a mão por cima do tecido — eu preciso…eu quero o Dani de volta! Me ajuda, por favor!
— O Fred abriu um sorriso gostoso. O loirão não pestanejar quando disse:
— Aeeeeee CARALHO! A Dudinha voltou!
É, o Fred sempre me conheceu bem mesmo!
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Espero que tenham gostado! Fiquem ligados para os últimos capítulos da série! E quem gostou, não deixe de dar estrelas e comentar!