O ambiente era um convite à entrega: as cortinas pesadas bloqueavam a luz do fim da tarde, deixando o quarto imerso em penumbra quente. O som suave de um piano ao fundo era quase um sussurro, como se o próprio espaço respirasse com eles.
Victor a chamou com um simples gesto de mão — firme, silencioso, irrecusável.
— Venha até mim, Isabella.
Ela obedeceu sem hesitar, sentindo o peso da expectativa encher o peito. Assim que se aproximou, ele a guiou com um leve toque nos ombros, posicionando-a no centro do tapete macio. Seus olhos, ainda vendados, tornavam cada sensação mais aguda.
Victor então falou, a voz baixa e cortante:
— Hoje, você vai aprender a entender minhas mãos. Sem ver, sem perguntar. Apenas sentir.
O primeiro toque veio como um comando. A palma dele pousou na base da sua nuca, dedos fortes e firmes, conduzindo sua cabeça levemente para baixo, em submissão.
— Quando eu tocar assim — disse ele, o hálito roçando sua orelha —, é uma ordem. Você não questiona. Você se entrega.
Isabella estremeceu, sentindo o calor da mão que, mesmo sem força, carregava autoridade absoluta.
Em seguida, o toque mudou. Victor deslizou a mão para suas costas, percorrendo-a devagar, do pescoço até a curva da lombar. O gesto era largo, contínuo, como uma carícia que dissesse "estou aqui".
— Quando eu tocar assim — murmurou ele —, é para te acalmar. Para te lembrar que você não está sozinha, estou e sempre estarei aqui para guiá-la a cada passo.
O coração de Isabella, antes disparado, desacelerou sob aquela mão, como se seu corpo entendesse o que ele dizia.
O terceiro toque veio com mais urgência: Victor apertou sua cintura com firmeza, puxando-a um pouco para frente. Era exigente, carregado de expectativa.
— Esse toque — sussurrou, a voz agora mais grave — é o que exige. Quando você o sentir, vai me oferecer tudo, sem reservas.
O corpo de Isabella respondeu antes mesmo que a mente processasse: ela inclinou o quadril em direção a ele, buscando mais contato, mais entrega.
Então, finalmente, o toque que a fez suspirar. Com uma delicadeza inesperada, Victor passou os dedos pela lateral do seu rosto, traçando a linha da mandíbula como se moldasse um tesouro. As pontas dos dedos eram gentis, amorosas, cheias de orgulho silencioso.
— E assim... — ele concluiu, falando bem próximo ao seu ouvido, os lábios quase encostando na pele dela — eu te recompenso.
Isabella sentiu as lágrimas se acumularem sob a venda, não de dor ou medo, mas de um entendimento profundo. A linguagem silenciosa das mãos de Victor agora falava direto à sua alma.
Ele retirou a venda devagar, revelando o brilho úmido nos olhos dela.
— Você entendeu? — perguntou, buscando seus olhos com uma intensidade que fazia o mundo ao redor desaparecer.
Ela apenas assentiu, sem conseguir formar palavras. Porque agora, entre eles, era o toque que dizia tudo.
Victor sorriu, satisfeito. E suas mãos, sempre suas mãos, a recolheram outra vez — ora ordenando, ora acalmando, ora exigindo, ora recompensando — em um ciclo sem fim de entrega e confiança. Ficaram assim pelo que pareceram poucos minutos quando ele, abruptamente, se despediu e foi para o próprio quarto.
***
Pouco depois de Victor ter saído, ela se deitou na cama grande e macia do quarto que seria dela sempre que dormisse ali e não estivesse servindo ao seu mestre, afinal, mesmo sendo uma submissa, Victor sabia que todo mundo precisava de um pouco de privacidade de vez em quando. Isabella fechou os olhos e deixou os lençóis a envolverem como a memória das mãos de Victor.
O quarto era um santuário de sombras e calor quando Isabella se deitou, ainda vestindo a ausência de Victor como se fosse uma segunda pele. A penumbra ondulava, pesada, quase líquida, enquanto ela fechava os olhos e evocava, com o corpo e a alma, a memória dos toques dele.
Deitada sobre os lençóis, a pele de Isabella parecia viva, elétrica. Cada milímetro vibrava com a ausência dele — e com a lembrança feroz dos toques que ainda ardiam sob sua pele. Ela testou em si mesma, com as pontas dos dedos:
Primeiro, a mão que ordenava. Colocou a própria mão sobre a nuca, sentindo o peso imaginário da autoridade dele. Um arrepio percorreu sua espinha.
Depois, a que acalmava. Deslizou os dedos devagar pela pele do próprio braço, tentando imitar a carícia longa e tranquilizadora que a havia feito suspirar mais cedo. Seu coração se abrandou.
Então, o toque que exigia. Apertou de leve a própria cintura, sentindo a necessidade quente se espalhar pela barriga. O corpo inteiro respondeu, como uma lembrança acordada.
Por fim, o toque que recompensava. A ponta dos seus dedos roçou seu rosto, com ternura, com orgulho. E foi aí que ela sorriu secretamente, para ninguém além dela mesma.
Victor a havia ensinado mais do que uma linguagem. Ele a havia ensinado a se reconhecer pelo toque. E agora, mesmo sem ele ali, cada gesto seu carregava ecos do dele e do que estavam construído.
Os toques eram profundos, mais precisos, como se quisesse gravá-los em sua pele, marcá-la para que nunca mais se esquecesse. Como se dissesse: você é minha, mesmo na minha ausência física. Cada toque era um fio invisível ligando seu corpo ao dele, sua entrega ao comando, sua confiança, absolutamente tudo.
Foi nesse instante, nesse exato suspiro, que o ar mudou.
Pesado. Denso. Quente.
Ela não precisou abrir os olhos para saber: Victor tinha voltado.
O colchão cedeu sob o peso dele, e a mão — ah, aquela mão — interceptou a dela em pleno gesto, dominando-a com uma delicadeza brutal.
— Minha pequena sedenta... — murmurou ele, e o som de sua voz era tão íntimo que parecia lamber sua pele. – Eu deveria, definitivamente, castigá-la por pensar que pode se tocar sem mim. Não vou fazer isso dessa vez, mas terá que prometer que nunca mais se dará prazer sozinha, a menos que eu mande ou autorize. Lembre-se, você me pertence e o seu prazer, a partir do momento em que assinou o contrato, também é todo meu.
— Me desculpe, Senhor, eu só... Não consegui me controlar.
— Ótimo, amanhã teremos um dia longo pela frente, e vou dedicá-lo todinho a treinarmos o seu autocontrole. Toda submissa que se preze, precisa ter um autocontrole exemplar.
Isabella concordou com um gesto de cabeça e Victor puxou o braço dela acima da cabeça, prendendo-a contra o colchão. Não com força desnecessária — mas com a certeza silenciosa de quem não precisava repetir uma ordem.
Seus dedos percorreram o caminho conhecido: a nuca, as costas, a cintura, mas dessa vez, cada toque era diferente. Cada toque vinha carregado de promessas silenciosas.
Quando sua palma firme afundou na base da nuca de Isabella, ela gemeu baixo, incapaz de resistir à ordem muda de se render. Seu corpo inteiro se dobrou à vontade dele, como se estivesse implorando para ser moldado. Quando sua mão deslizou pelas costas nuas, em movimentos largos e possessivos, Isabella arqueou-se contra ele, sentindo o calor da pele de Victor fundir-se à sua.
O toque que exigia veio em seguida — um aperto faminto na cintura, um puxão que a fez colidir com o quadril dele. Seus corpos se alinharam em um encaixe que queimava, onde o desejo latejava sem disfarces.
Victor murmurou contra a curva da orelha dela:
— Quando eu tocar assim... você vai se dar inteira.
E ela deu. Sem resistência. Sem vergonha. Sem medo. Os corpos em perfeita sintonia.
O toque da recompensa foi o mais cruelmente doce.
Victor segurou seu rosto entre as mãos, polegares acariciando suas maçãs do rosto com uma ternura misturada à posse que a desarmou até o osso. Olhou-a nos olhos — e naquele olhar, Isabella viu tudo: o comando, a proteção, o desejo e o orgulho.
— Tão minha — ele sussurrou, antes de tomar sua boca em um beijo lento, profundo, devastador.
Ali, prensada sob o peso dele, presa pela autoridade das mãos que sabiam, exigiam, acalmavam e celebravam, Isabella soube: Victor não era apenas o homem que a tocava. Ele era o homem que escrevia nela. Com os dedos. Com o corpo. Com a alma. E ela? Ela era o livro aberto, a pele em branco, a história que só ele sabia ler.