Onde o sol se esconde - Capítulo 5

Um conto erótico de Teo e samuel
Categoria: Gay
Contém 724 palavras
Data: 30/04/2025 20:36:21

Onde o Sol se Esconde (Capítulo 5)

Os inspetores chegaram sob o olhar vigilante dos padres.

Os carros pretos estacionaram no pátio de terra batida, levantando uma nuvem de poeira que pairou no ar pesado como um mau presságio.

Dois homens de terno escuro desceram, acompanhados de uma mulher de rosto sério. Trazendo pranchetas, olhares afiados e a desconfiança evidente.

Padre Clemente, sempre sorridente e cheio de falsas cortesias, os recebeu com exagerada hospitalidade.

O objetivo era claro: esconder a podridão atrás de sorrisos e paredes recém-pintadas.

**

O motivo da inspeção — embora abafado — era um segredo mal guardado.

Alguns meses antes, alguém havia feito uma denúncia anônima relatando abusos e maus-tratos dentro do orfanato, citando padres específicos.

A denúncia foi ignorada pelas autoridades locais — a Igreja tinha seus tentáculos em todos os cantos — mas, pressionados pela imprensa de fora, os superiores tiveram que agir, ainda que de má vontade.

Era uma inspeção "de fachada".

Mas Samuel e Teo viam nela uma chance real.

Mesmo que pequena.

**

Na tarde seguinte à chegada dos inspetores, uma notícia atravessou o orfanato como uma lâmina:

Elias havia sido encontrado.

Seu corpo foi achado às margens do rio, a alguns quilômetros do orfanato.

Oficialmente, disseram que foi um "acidente".

Que Elias havia escorregado e se afogado.

Mas Samuel e Teo sabiam a verdade.

Elias fugira para escapar de Padre Buzzi.

E agora, estava morto.

O luto que se espalhou entre os internos era um luto silencioso, cheio de medo e revolta.

**

No meio desse caos, Padre Buzzi começou a se aproximar de Teo.

De forma sutil no começo: elogios forçados, toques desnecessários, pedidos para que ele ficasse "após a oração" para "conversar".

Samuel, atento como um lobo, nunca deixava Teo sozinho.

Mas sabia que não poderia protegê-lo o tempo todo.

**

Como se o destino quisesse piorar tudo, um novo padre havia chegado ao São Jerônimo:

Padre Maurício.

Um homem alto, magro como uma faca, com olhos pequenos e frios.

Sua presença era ainda mais perturbadora que a de Buzzi.

Ao contrário de Buzzi, que escondia suas intenções atrás de uma máscara de bondade, Maurício não fingia. Sua simples presença no dormitório fazia o sangue dos meninos gelar.

Dona Clarice e Irmã Helena viam.

Sentiam o cheiro do perigo.

Mas também eram limitadas no que podiam fazer — qualquer movimento errado e seriam removidas do orfanato, deixando os meninos ainda mais vulneráveis.

**

Naquela noite, após a "oração obrigatória" no salão principal, Padre Buzzi pediu que Teo ficasse para ajudá-lo a "organizar os bancos".

Samuel quis protestar, mas sabia que, se chamasse atenção demais, colocaria Teo em ainda mais perigo.

Teo, corajoso como sempre, apenas assentiu.

Quando os outros meninos começaram a sair, Samuel lançou um olhar para Dona Clarice, que, entendendo imediatamente, bateu uma panela na cozinha, derrubando panelas e chamando os padres ao tumulto.

Teo conseguiu escapar, fingindo que ia ajudá-la.

Dona Clarice piscou para ele.

Salvando-o.

Pelo menos por agora.

**

Nos dias seguintes, Samuel e Teo passaram a planejar com mais cuidado.

Sabiam que tinham que falar com os inspetores.

Sabiam que corriam risco de vida.

Mas também sabiam que a morte de Elias não podia ter sido em vão.

Na surdina, Renato, Paulo, Miguel e até o pequeno Guto se uniram a eles.

Juntos, planejavam um jeito de contar a verdade, mesmo que os padres tentassem abafar tudo.

**

Numa noite particularmente fria, Teo e Samuel se encontraram no velho galpão de ferramentas, longe dos olhos dos padres.

Deitados lado a lado sobre sacos de batata vazios, olhando para o teto de madeira esburacado, Teo sussurrou:

— Você acha que a gente vai conseguir?

Samuel virou o rosto para ele, seus olhos brilhando na escuridão.

— Eu não sei.

— respondeu com honestidade.

— Mas eu sei que a gente vai tentar. Até o fim.

Teo sorriu. Um sorriso pequeno, cansado. Mas sincero.

— Com você... eu tenho coragem.

— sussurrou.

E, no silêncio frio daquela noite, seus dedos se entrelaçaram.

Eles não precisavam de palavras.

Eles só precisavam um do outro.

**

Mas o perigo estava mais próximo do que imaginavam.

Padre Maurício começava a fazer perguntas.

E Padre Buzzi não desistiria tão facilmente.

A próxima visita dos inspetores seria em dois dias.

Seria o agora ou nunca.

E no São Jerônimo, onde a esperança era um fio tênue prestes a se partir, um amor silencioso poderia ser a única luz contra toda a escuridão.

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