(Bernardo fala)
4 de janeiro de 2010
Era o último dia de Beatriz em Nova York e estávamos aproveitando para fazer compras. Henrique tinha sido chamado para um editorial de moda que o ocuparia o dia todo. Eu e Bia, cercados de sacolas, nos sentamos num café para descansar um pouco e comer alguma coisa.
- Ufa! Não acredito na quantidade de dinheiro que você me fez gastar com roupas. - Falei ao me sentar. - Eu nem vou ter tempo de usar a maioria delas!
- Deixa de bobagens, você tem um guarda-roupa grande o suficiente.
- Ai, Bia... - Falei rindo. - Só tenho que te agradecer.
- Pelo quê?
- Por ter vindo passar o natal e o ano novo comigo. Eu estava precisando disso.
- Saudades de casa?
- Muita!
- E quando você volta?
- Não faço a mínima ideia. Tenho shows marcados até o fim de fevereiro e até lá é bem possível que sejam marcados mais outros.
- E quando você aparece no Brasil para pelo menos visitar?
- Humm... Acho que em abril para o “re-casamento” dos meus pais.
- Mas todo ano eu vou ao Brasil. E nunca esqueço vocês todos!
- Eu sei; você vai visitar o Felipe né?
Abaixei a cabeça e meus olhos se encheram de lágrimas. Quando me dei conta já estava chorando.
- Saudades dele Bia. Saudades de verdade...
- Eu sei, eu sei...
- Você vai ao casamento, certo?
- Vamos ver...
Já ia começar um discurso para convencê-la a ir, mas ela fez sinal que recomeçaria a falar. Eu não tinha percebido ainda, mas o assunto da minha volta não tinha sido jogado na conversa sem propósito.
- Você vai ver o mister Frouxo? Com certeza ele vai estar no casamento.
- Eu sei... - falei me lembrando daquele pequeno detalhe.
- Você tem um pouco mais de três meses para ensaiar seu discurso para ele.
- Não há nada o que falar para ele. Lógico que vou cumprimentá-lo e ser amigável, mas nada mais.
- Você estará sendo tão frouxo quanto ele.
- É o que estou tentando te dizer desde sempre, nós dois estamos em pé de igualdade.
- Não acredito que vá ser necessário que alguém dê um empurrão para que vocês tomem uma atitude. Nem parecem ter a idade que têm.
Talvez eu estivesse mesmo me comportando de modo infantil ao planejar evitá-lo na festa, mas era a única coisa que eu podia fazer.
Ia ser doloroso, claro, mas qualquer outra opção seria ainda mais dolorosa, pois estaríamos mais uma vez criando esperanças para depois destruí-las. Ver Vítor depois de dois anos longe sem poder beijá-lo, abraçá-lo ou me declarar para ele, seria a coisa mais difícil para mimVítor fala)
8 de janeiro de 2010
Mais uma vez, lá estava eu em uma boate gay na capital.
Era sempre a mesma história, eu alugava o quarto de um hotel baratinho por uma noite, ia caçar um cara que me agradasse fisicamente, dormia com ele e ia embora no dia seguinte.
Eu era um cara bonito, não era difícil achar interessados em me deixar levá-los para a cama. Mas no fim, era tudo tão artificial. Tudo tão frio, sem emoção, quase mecânico. Valia pela gozada, mas logo depois minha melancolia voltava com tudo. Ao meu lado na cama, tive os mais variados gays de Belo Horizonte, mas era só com Bernardo que eu sonhava.
Naquela noite não foi diferente. Dormi com um cara, o mandei embora ao amanhecer, paguei a conta no hotel e parti de volta para Morro Velho, mas antes decidi passar no shopping para comprar alguma coisa para minha mãe, pois era aniversário dela.
Minha cabeça voava longe pensando mil coisas, a maioria delas envolvendo Bernardo.
Nem vi uma moça parada me olhando. Senti seus olhos me queimarem e quando a olhei, senti meu coração parar por um segundo. Mariana me olhava com um sorriso maldoso no rosto.
- Olha só quem resolveu sair do esconderijo! - Ela falou vindo em minha direção.
Apesar de tudo, eu não conseguia sentir ódio ou raiva dela, somente pena. E ela falou aquilo numa altura considerável, então não deu simplesmente para fingir que não ouvi.
Ensaiei um sorriso que nunca apareceu e deixei que me beijasse no rosto, me cumprimentando. Depois de dois anos sem ter notícias suas, era incrível o poder que ela tinha sobre mim.
- Oi. - Falei sem jeito, pois sua presença me incomodava.
- O que te traz a Belo Horizonte?
Era incrível como todas as suas palavras soavam intencionalmente falsas e irônicas, apenas para me tirar do sério.
- Nada de mais.
- Qual é, Vítor; não seja tão frio comigo, eu mereço esse tratamento por acaso? - Falou sem perder o sorriso maldoso.
- Merece mais. Bernardo devia ter entregado o relatório à polícia.
Seu sorriso se fechou, mas rapidamente se recuperou, fingindo estar calma.
- Então ele te contou, não?
- Não. Contou ao meu irmão e ele me contou.
- Entendo. Ele e seu irmãozinho se dão muito bem, não é mesmo? Mas que pena que vocês não puderam ficar juntos, né? - Falou fingindo estar sentida com nossa situação. - Estou sabendo que ele está fazendo muito sucesso lá fora.
- É, está, e eu torço muito por ele.
- Ótimo, ótimo, mas em nome dos velhos tempos, por que você não me acompanha nas compras?
Sem me dar tempo de responder, ela pegou no meu braço e saiu me arrastando para dentro de uma loja de roupas. Eu já tinha me arrependido amargamente de ter passado naquele shopping.
- Então, estou aqui em Belo Horizonte de férias. Estou morando em Paris e noiva de um cara ótimo! Olha só. - Falou me mostrando seu exagerado anel de noivado. Ficou bem claro que ela estava tentando me fazer ficar com ciúme ou inveja, objetivo no qual não obteve sucesso.
- Que bom Mariana...
- Ai, Vítor, você não sente saudade de nós dois? Eu sim... - Falou como se realmente sentisse, mas eu a conhecia muito bem e sabia quando estava mentindo.
- Não, Mariana, não sinto saudade nenhuma de nós dois. - Respondi sem emoção na voz.
- Ah, admita: você me amava. - Falou sem me olhar, procurando por alguma peça de roupa numa arara de roupas.
- Não, nunca te amei. Sempre fui apaixonado pelo Bernardo e sempre vou ser. Você foi apenas uma tentativa falha de enganar a mim mesmo. Prova disso é que nunca fui com você pra cama...
Ela me olhou com raiva, mas logo disfarçou num sorriso e voltou a olhar as roupas. Eu precisava dar um jeito de escapar dali, e de repente uma ideia maldosa surgiu na minha mente.
Sem que a atendente da loja visse, peguei uma blusa pendurada no cabide e, delicadamente, a coloquei dentro da bolsa de Mariana. Me segurei para não rir ao imaginar o desfecho daquilo.
- Mariana, tenho que ir. Adoraria dizer que foi um prazer reencontrá-la, mas não foi. Tchau.
Sem dar tempo dela responder, saí andando rápido para fora da loja.
- Espera! - Ela gritou e correu para me seguir, mas no momento em que ela passou pela porta, o alarme começou a apitar.
Ela ficou sem ação olhando para os lados, como se procurasse de onde tinha vindo o alarme. Olhei para trás e sorri travesso para ela, que ao entender tudo, parecia soltar fogo pelos olhos.
As atendentes e os seguranças vieram pedir para ela abrir a bolsa educadamente, mas ela se exaltou, gritando para todos “quem ela era”. Na última vez que olhei para trás, um segurança a segurava sem fazer muita força e uma atendente tirava a blusa de dentro da bolsa.
Fui embora em paz comigo mesmo.
Foi a última vez que vi Mariana. Amigos em comum nossos disseram que ela estava em Paris casada com um francês chato. Talvez tenha sido melhor assim, com ela em paz longe de mim e do Bernardo, sem espaço para uma eventual vingança. Ela era perigosa, e é bom manter pessoas perigosas felizes e a uma boa distância de você.
Passado o susto por encontrá-la, saí do shopping sem nem mesmo comprar o presente da minha mãe, não tinha mais cabeça para isso, e voltei para Morro Velho.
Ao chegar à fazenda, notei um carro estranho, caro, parado na porta. Estacionei o meu e entrei cuidadoso, curioso para saber quem estava nos visitando. Acho que lá no fundo, eu esperava ser Bernardo, apesar de não acreditar muito naquilo depois de sua última carta dizendo que estava muito bem em Nova York.
Ouvi vozes vindas da sala.
Caminhei até lá e vi meus pais e meu irmão conversando com uma pessoa que eu não podia ver de onde estava, mas que com certeza era uma mulher pela voz. Os três pareciam encantados pela sua visitante e se despertaram do transe quando me viram entrando.
- Olha, Vítor chegou! - Falou minha mãe estranhamente animada.
A mulher então se levantou. Era de longe a mulher mais linda que eu já havia conhecido. Mesmo com calça jeans, camiseta básica e cabelo amarrado, ela era linda. E acima de tudo, ela transmitia alguma coisa especial, uma espécie de magia que nos forçava a manter os olhos nela. Eu não podia dizer que não a conhecia, eu conhecia sim, mas não pessoalmente, só pela televisão, que não fazia jus à sua beleza.
Na minha frente estava Beatriz de Lima.
- Olá. - falou me estendendo a mão num cumprimento. - Você deve ser o famoso mister Fr... Vítor.
- Sim, sou eu. - Falei lutando para não gaguejar.
- Muito prazer. Vim conversar com você sobre Bernardo. Quero ajudar vocês a ficarem juntos novamente.
Mesmo sem ouvir mais nenhuma palavra sua, meu coração se encheu de esperança novamente.
Quando tudo está perdido, a única coisa em que se pode segurar é na esperança de que tudo vai melhorar, de que um futuro melhor nos aguarda. Esperança de que outros outubros virão, outras manhãs plenas de Sol e de luz.
8 de janeiro de 2010
Beatriz de Lima estava parada na minha frente, na minha sala.
E mais, ela queria me ajudar a me reconciliar com Bernardo. Era tudo tão surreal. Eu sabia que os dois eram amigos, Bernardo já tinha citado isso diversas vezes. Eu sabia também que ela tinha estado com ele nos últimos dias em Nova York pelo que ele disse na última carta. Será que ela me trazia alguma mensagem dele?
- Podemos conversas a sós? - Ela perguntou.
Antes mesmo de eu responder, minha mãe se adiantou:
- Lógico que podem; aqui mesmo. Vamos deixar vocês conversarem em paz. Vou preparar um café.
E saiu puxando meu pai e Rafael. Os dois ainda estavam sem ação, hipnotizados pela beleza de Beatriz.
Rafael quis ficar, mas eu falei para ele que não mesmo.
Aí Beatriz disse a ele:
- Rafael, só queria te dizer que você é um garoto especial para Bernardo e ele é louco por você. E eu tenho certeza disso.
Do seu rosto só se viam as lágrimas caindo e a emoção tomando conta dele.
Beatriz foi até ele e o beijou no rosto. Disse a ele que fazia questão de vê-lo na banda do Bernardo. Seus olhos brilharam de tanta felicidade.
Meu irmão era feliz com as pequenas coisas e com as pequenas demonstrações de amizade e carinho.
Ele sim era um anjo...
Assim que ficamos sozinhos na sala, fiz sinal para que ela se sentasse na poltrona e me sentei de frente para ela. Eu não me aguentava de ansiedade querendo saber se ele tinha me mandado algum recado, mas ela não dava sinal nenhum de coisa alguma, apenas me olhava impassível, como se lesse a minha mente.
- Hrrr. - Falei limpando a garganta alto. - Indo ao assunto, o que você...
- Sabe, - Falou me interrompendo. - Estou tentando ver o que você tem de especial para ele se derreter por você.
Abri a boca para lhe responder, mas me calei sem saber o que dizer. Além de eu não saber a resposta, eu fiquei sem ação com sua pergunta. Mas ela parecia querer um resposta, pois não me disse mais nada, continuou a me encarar sem demonstrar nenhuma emoção.
- Eu... Eu... Bom, não existe resposta para esse tipo de pergunta. Ou melhor, existe, mas é melhor você perguntar diretamente para Bernardo.
Resolvi ir direto ao que estava me afligindo para ela parar de dar voltas.
- Foi ele que te mandou?
- Não, ele não faz a mínima ideia de que estou aqui. E nem vai ficar sabendo, não é mesmo?
Murchei novamente.
Se não era por iniciativa dele, era por iniciativa dela? Se intrometer assim na vida dos outros nunca dá certo. Visualizei o momento da minha reconciliação com Bernardo se afastando.
- Uai, então por que... - Comecei, mas ela me interrompeu novamente.
- Ele é meu melhor amigo. - Foi a primeira vez que a vi demonstrar alguma emoção, seus olhos brilharam e um meio sorriso surgiu ao falar dele. - Ele é o único que me entende e consegue furar minhas barreiras. É a única pessoa em quem eu confio cegamente para me abrir e desabafar. E também a única pessoa que eu sinto capaz de ajudar sem alguma coisa em troca.
É por isso que estou aqui, para ajudá-lo.
Ele não está feliz, pelo menos não completamente. A carreira dele só preenche parte da sua vida.
- Mas ele tem o tal Henrique, não?
- Não, não tem. Henrique é um ótimo garoto, mas só isso. Eles não estão apaixonados um pelo outro, apenas suprem suas carências mutuamente. Bernardo nunca amou outro a não ser o Felipe, mas ele precisa de um novo amor e esse é você. É com você que ele deve construir um futuro.
- Um futuro para nós é complicado...
- É por isso que estou aqui, para negociar um futuro para vocês, se quiser pensar assim. Mas antes eu preciso de garantias de que você merece.
- O quê?
- Se eu vou te entregar Bernardo assim, eu preciso saber se você o merece. Ele não deve ter te contato, mas fiz a mesma coisa com Felipe. Só deixei ele livre para Bernardo quando senti que os dois estavam prontos para serem felizes. E eles foram mesmo... Acho que ninguém nesse mundo pode dizer que já foi mais feliz que aqueles dois.
Por isso estou aqui, para saber se você está pronto para ser feliz ao lado do meu amigo.
Fiquei sem palavras para respondê-la novamente.
Como ela ousava vir até a minha casa e questionar meus sentimentos por Bernardo? Ela não tinha esse direito. Não podia sair por aí medindo a intensidade do amor dos outros.
- Eu amo o Bernardo! - Falei com raiva.
- E eu acredito. - Respondeu friamente, sem se deixar afetar pelo o que eu disse. - Mas uma relação vai muito além disso.
- Como assim? O que você quer afinal?
- Até onde você estaria disposto a ir para ficar com Bernardo? Ou melhor, do que você estaria disposto a abrir mão para isso?
- Eu...
Do que eu estava disposto a abrir mão para ficar com Bernardo? Eu tinha me feito essa pergunta diversas vezes, mas ela nunca levava a medidas reais.
Eu não queria abrir mão do meu trabalho, eu tinha lutado muito para chegar aonde tinha chegado dentro daquela mineradora. Eu era um dos mais bem pagos lá, caminhando para um alto cargo de gerência no futuro.
Eu não seria feliz se largasse tudo e recomeçasse do zero e acabaria magoando Bernardo, como ele profetizou na última vez que nos falamos.
Porém, o que mais me segurava era a exposição. Eu estaria disposto a abrir mão da minha privacidade por ele? Estar sempre em revistas e jornais, ver piadinhas na internet sobre nós dois e mais, ouvir piadinhas sobre mim no trabalho. Por Bernardo valia à pena fazer aquele sacrifício?
Valia, mas por quanto tempo eu aguentaria até começar a descontar nele minha frustração? Quanto tempo duraria nosso namoro se eu abrisse mão da vida que levava? Por quanto tempo seríamos felizes?
- Eu não sei... - Falei me entregando à minha dúvida.
Beatriz se levantou e começou a caminhar pela sala, como se pensasse numa solução. Mas para mim ela já tinha vindo com uma solução na cabeça.
- Do que você tem medo exatamente? De ser exposto? De perder o que conseguiu com seu emprego?
- Das duas coisas.
- Bom, então vamos por partes. Se houvesse a oportunidade de você mudar de cargo dentro da mineradora, mas se mudando para uma outra cidade, você iria?
- Como assim?
- Somente responda.
- Eu... Acho que sim... - Falei sem saber aonde ela gostaria de chegar.
- Ótimo. A segunda questão é um pouco mais complicada. Eu e Bernardo fazemos parte de um mundo à parte sim, mas com um pouco de treinamento e cuidado é possível se viver nele.
Vocês dois estariam em exposição contínua sim, mas ela diminuiria com o tempo. Chocaria as pessoas de início? Chocaria, mas elas iam acabar se acostumando. Você estaria disposto a abrir mão de sua privacidade por alguns poucos meses?
- Sim...
Ela fazia tudo parecer tão simples. Eram coisas que eu já tinha pensado antes, mas eu nunca tinha motivação para por em prática por algum motivo qualquer. Eu não sabia que motivo era esse, mas Beatriz parecia ter todas as respostas.
- E agora vem a questão principal.
- Qual?
- Você quer ser feliz?
- Como? Que pergunta idiota, claro que eu quero!
- Não parece. Nem você, nem ele parecem estar dispostos a serem felizes. A meu ver, vocês já apanharam tanto da vida que não acreditam mais na felicidade.
Bernardo acreditou e foi feliz de verdade uma única vez. Com Felipe. Ele sim abriu mão de tudo por Bernardo. Tudo mesmo.
E vocês ficam colocando barreiras no seu próprio caminho, como se não achassem que merecem ser felizes. Isso é o principal desafio de vocês: quererem ser felizes.
Fiquei a encarando sem saber o que falar. Tínhamos realmente medo de sermos felizes? Era isso que nos segurava? Colocávamos barreiras no nosso próprio caminho? Beatriz falava de um jeito como se isso fosse verdade, e talvez fosse mesmo. Como ela já tinha provado, havia soluções para nossos problemas, mas simplesmente as ignoramos. Ignoramos a felicidade.
- Pela sua cara, já percebi que você concordou comigo. Nada do que fale ou faça aqui vai te mudar imediatamente, é um processo que leva algum tempo. Tudo o que você tem a fazer é estar disposto a tentar.
Até seu irmão estaria, pois ele é louco pelo Bernardo. Não nesse sentido, mas ele daria tudo para estar ao lado dele pelo resto da vida. Rafael tem adoração por ele e demonstra isso no olhar. Isso só pode vir da infância.
Me lembrei de como Rafael era louco por Bernardo enquanto eu só o maltratava desde pequeno.
- Então, Vítor. Você está?
- Estou. - Respondi firmemente.
- Ótimo. - falou sorrindo de leve. - E voltamos à minha questão, você merece essa chance?
- Claro, que mereço!
- Por quê?
- Porque só eu posso fazê-lo feliz.
- Me prove.
- Como?
- Me prove. Como Felipe me provou. Aliás ele provou para si mesmo e para todo mundo ver quando subiu naquele palco.... - Vai; me prove!
Como eu ia provar uma coisa dessa para ela? Ela era doida. Mas me lembrei de uma coisa que a convenceria.
- Venha comigo. - Falei saindo da sala.
- Para onde?
- Meu quarto.
Ao chegarmos lá, fui até a minha escrivaninha e tirei dois papéis. Entreguei o primeiro a ela.
- É a última carta de Bernardo. Ele escreveu depois de passar o natal com vocês.
Ela pegou e leu. Balançou a cabeça de leve como se concordasse com o que estava escrito.
- Tudo muito honesto e muito bonito, mas não prova nada sobre você.
- Tome. - Falei lhe entregando o outro papel. - É a carta que lhe escrevi em resposta, mas nunca enviei.
Ela a pegou e começou a ler. Um discreto sorriso foi se formando em seu rosto. Quando acabou, ela me olhou como se fosse a primeira vez que me via, como se tivesse acabado de ler a minha mente.
- Então, isso prova que eu o mereço? Até a sua visita eu estava disposto a sair do caminho dele para fazê-lo feliz. Existe prova maior que essa?
- Não, não existe... Eu vou te ajudar.
Sorri da mais pura felicidade.
Sua ajuda não era garantia de nada, mas uma injeção de esperança. Agora, eu tinha esperanças reais de que eu e Bernardo íamos nos acertar.
- E o que você tem em mente? - Perguntei afobado.
- Calma, ele só volta ao Brasil em abril para o casamento dos pais. Até lá temos muito o que fazer.
- Ah... Ótimo. - Falei, mas me lembrei de um detalhe. - Mas você disse que o problema era com nós dois, como você vai fazer para guiá-lo também?
- Bom, digamos que deixei alguém encarregado dessa tarefa em Nova York.