Minha esposa foi currada e não fiz nada! - 2

Um conto erótico de Ribamar (Por Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 4188 palavras
Data: 30/04/2024 10:00:46
Última revisão: 07/05/2024 15:20:30

Saiu enfim, deixando-nos ali a sós. Talvez se não fosse a forma como tudo aconteceu, teria sido uma noite bastante interessante, excitante mesmo, mas acabou não sendo, pelo menos não para mim que não tive uma ereçãozinha sequer. De onde eu estava, só conseguia ouvir a respiração da Clara, pesada, ruidosa, aparentemente ela cochilava ou fingia muito bem, mas isso de nada importava, porque já estava feito e não havia mais nada a fazer. Aliás, havia sim! Tirei algumas notas da minha carteira para o táxi e joguei sobre uma mesinha lateral e saí pela porta da suíte. Não sei se ela notou ou não e isso não me importava naquele momento. Paguei a estada no motel na saída, inclusive com pernoite, afinal, o corno sempre paga as despesas e saí andando sem rumo. Pernoitei no primeiro hotel que encontrei. Meu casamento nunca mais seria o mesmo depois daquela noite.

(CONTINUANDO)

Desliguei meu celular e aproveitando que era uma sexta-feira de feriado, decidi ficar o final de semana fora. Não sabia bem como reagir a tudo o que havia acontecido e me sentia extremamente ferido pela traição da minha esposa. Sim, porque aquilo fora uma traição das mais pesadas contra o sacramento de nosso matrimônio. Eu já havia me decidido divorciar dela e só faltava contratar um advogado para cuidar de tudo, mas só poderia fazer isso na segunda-feira, então me restava apenas esperar.

Naquela madrugada de sexta para sábado não dormi nada, só fechando os olhos após o dia raiar e isso depois de entornar quase uma garrafa de um vinho barato que o pardieiro onde eu estava hospedado me forneceu. Acordei após as duas da tarde com uma ressaca das “brabas”. Decidi sair para comer algo e um sanduba numa padaria próxima resolveu meu problema, pelo menos, acudiu aquele que me afligia naquele instante.

Voltei para o hotel e tentei me distrair com a televisão, sem sucesso algum. Para ajudar, acabei colocando num desses programas sensacionalistas no qual uma apresentadora loira tentava impor o perdão a um senhor que havia sido traído por sua esposa que “teria sido seduzida” pelo bonitão da academia:

- Mete o pé nessa biscate, cara! - Falei de onde estava como se ele pudesse me ouvir.

Acabei me entretendo com o programa e para minha decepção, ele parecia inclinado a perdoar a messalina, inclusive ensaiando um discurso de que fora criado numa sociedade machista e que entendia as necessidades da esposa. Por sorte, ou azar, ela, achando-se já segura do perdão, confessou que não era a primeira vez que saía com o tal bonitão, afirmando que aquela fora a terceira ou quarta, pois nem mesmo ela se recordava, e daí ele se revoltou e pôs tudo a perder, xingando até a terceira geração dos antepassados da esposa.

Eu, logo eu, sorri feliz pelo desfecho dele e agora cabia apenas a mim ter a coragem de dar uma saída idêntica àquela que ele adotara. Decidi sair do hotel para espairecer e após andar um tanto, encontrei um centro comercial no qual um cinema me pareceu ser uma boa parada. Assisti um filme que não me lembro o nome ou conteúdo, porque eu literalmente estava só existindo, corpo presente, mas mente e alma ausente. Depois, saí e tomei um lanche reforçado numa lanchonete local e voltei para o meu hotel, onde eu tentaria novamente dormir, nem que tivesse que matar mais uma garrafa daquele vinhozinho detestável.

Ao entrar no quarto, vi um aviso de Wi-Fi grátis. Liguei meu celular e, após conectá-lo a internet do hotel, uma enxurrada de mensagens começou a bipar no meu celular. Várias, inúmeras e das mais variadas pessoas. Tinha dos meus pais, meu sogro, minha irmã, um pastor de uma igreja que nem frequentávamos e, perdoem a redundância, "claro da Clara". Ignorei todas, com exceção das dos meus pais e da minha irmã. O conteúdo era praticamente idêntico e queriam saber do meu paradeiro, preocupados com meu sumiço depois de uma suposta briga com a.. minha esposa. Respondi para todos eles com a mesma protocolar resposta: “Não se preocupem comigo. Estou bem. Não me liguem, eu ligarei para vocês.”.

O resultado foi parcialmente proveitoso, porque meus pais responderam com um “Ok. Se precisar, estamos aqui.”, mas minha irmã Zabel me ligou quase que imediatamente:

- Ribamar, que estória é essa, caramba!? Por que você sumiu?

- Boa noite pra você também, Zabel. Está tudo bem, aliás, não está nada bem, mas já, já vai ficar.

- O que foi que aconteceu? - Ela insistia na ligação, esbaforida como sempre.

- Há-há-há... - Ri, jocosamente, nervoso com as lembranças e respondi: - Ah, nada demais. A Clara só me traiu, só isso! Aquela biscate...

- Cê tá de brincadeira? Como é que foi isso?

- Não interessa como, nem com quem, só interessa que foi isso que aconteceu. Ela me traiu e eu vi tudo. Ponto final.

- Gente... Eu não tô acreditando: a Clara!?

- Pois é, a Clara...

- Tá, mas... Onde cê tá? Eu vou aí e a gente conversa, ou melhor, vem você pra cá. Você fica aqui em casa até resolver tudo. Eu falo com o Jurandir e sei que ele não vai negar.

- Não, hoje não. Vou ficar aqui no hotel até segunda. Daí procuro um advogado e resolvo tudo com ela.

- Ó... Esfria a cabeça e pensa direitinho. Não sei exatamente o que aconteceu, mas tomar decisão com a cabeça quente sempre termina em merda. Deixa para decidir isso depois de conversar comigo. Sou tua irmã e quero o seu bem, você sabe, não sabe?

- Sei, Zabel, sei...

- Não quer mesmo vir para cá?

- Não. Na semana que vem a gente conversa. Pode ficar tranquila que não vou fazer nenhuma besteira. Se eu não matei aquela desgraçada na hora, não vou fazer agora.

- Tá bom, então. Se cuida. Beijo.

- Beijo, Zabel.

Assim que desligamos a maldita curiosidade me impeliu para ler as mensagens que a Clara havia me mandado. Comecei das mais antigas, após minha saída do motel e o conteúdo começava com simples dúvidas, tais como: “Amor, onde você está?” e “Você vai voltar logo?”; até quando parecia que tinha caído a ficha da gravidade do que ela fizera e as desculpas começaram: “Desculpa, eu sei que errei, mas eu te amo. Volta.”, “Por favor, minha vida não é nada sem você.” e culminando na clássica “Se você não voltar, eu vou me matar. Juro que vou me matar!”; partiu então para um caminho que eu não esperava, me culpar pelo chifre que ela armou contra mim: “A culpa também é sua. Você podia ter falado NÃO!”; e a que mais me surpreendeu: “Amor, eu sei que você gostou de assistir. Eu te conheço, você é safado... Desculpa só eu não ter te preparado melhor e te dado atenção, mas eu fiquei perdida. Por favor, fala comigo. Eu te amo.”

Naturalmente, não respondi aquelas mensagens, ainda mais depois de ler as últimas. Ao contrário, fiquei possesso e ainda mais certo de que iria me divorciar dela. Ela devia estar grudada no celular, porque assim que viu que eu recebi e li as mensagens, me ligou quase que imediatamente. Ignorei e silenciei o celular. Não adiantou nada, porque ela continuou ligando, e ligando, e ligando, e ligando... Até que estourei e a atendi aos berros:

- Porra, Clara, para de me ligar!

- Riba, por favor, amor, eu... eu... Por favor, fala comigo.

- Falar o quê? Não tenho nada para falar. Você fez o que quis e fodeu... Fodeu com o nosso casamento. Simples assim.

- Não, não diz isso. Eu errei, eu sei, desculpa, mas olha só, a gente pode consertar, eu posso...

- Cê não pode nada! - A interrompi, já disposto a terminar aquela conversa descabida: - Filhadaputice sem tamanho o que você fez comigo, com a gente... Mas tá tudo bem, isso não é nada que um bom advogado não resolva.

- Não! Eu não vou, não quero.

- Tô nem aí se você quer. Eu não te quero mais, não mesmo.

Desliguei a chamada em seguida, depois o aparelho celular e, enfim, eu tinha paz. Que paz o quê!? Passei novamente a noite em claro e aquele vinhinho horrível veio me fazer companhia novamente. Sei lá que horas dormi, mas quando acordei, nova dor de cabeça me massacrava as ideias. Repeti todo o procedimento do dia anterior: padaria, hotel, centro comercial, só que não assisti filme algum, mas lanchei e voltei para o hotel. Liguei meu celular e havia nova leva de mensagens da Clara, só que desta vez ela se recriminava ter feito o que fez comigo e me pedia para lhe dar uma chance de salvar nosso casamento. Não respondi, nem ela me ligou. Dormi essa noite até que bem e no dia seguinte, logo cedinho, chamei um motorista de aplicativo, um de verdade, e ele me levou até minha casa.

Entrei silenciosamente, pé ante pé. Como era antes das sete, imaginei que a Clara estivesse dormindo. Fui até a cozinha tomar um copo de água e logo em seguida ouvi passos de seus chinelos pelo piso de nossa casa, andando rápido, tropeçando sei lá em que, talvez nos móveis, até vir onde eu estava:

- Amor, oi! Que bom que você veio. - Disse enquanto tentava me abraçar.

- Tira, tira a mão!

Mantive ela à distância, colocando uma mão entre os seus seios. Ela não conseguiu me abraçar e me olhou contrariada, depois triste em reconhecer que ela própria era a causadora daquilo:

- Vamos sentar ali na varandinha externa, amor? Lá é mais fresco para a gente conversar. - Pediu.

Apesar de entender que ela queria uma reaproximação, provado com seu abraço, notei, que ela olhava preocupada para a porta que separa a cozinha da sala, parecendo querer me levar para fora da cozinha também. Finquei o pé e não arredei dali. Ela me agarrou pelo braço, tentando me puxar e aí tive certeza que algo não estava certo. Desvencilhei-me dela e fui em direção ao nosso quarto, mas nem precisei andar muito e dei de cara com Catarina, uma outra prima dela com quem eu não topava:

- Oi, primo. Tudo bem? - Perguntou-me, um tanto quanto constrangida: - A Clarinha me ligou, dizendo que vocês brigaram, então vim prestar solidariedade.

- Não, nada bem. - Respondi da forma mais seca possível e olhei para Clara, intimando-a da minha insatisfação por ter aquela cobra peçonhenta à nossa frente.

Quando pensei que a desgraça se restringia a presença daquele ser em nossa casa, ouço um barulho vindo de nosso quarto. Clara e Catarina arregalaram os olhos nesse momento e ambas tentaram me puxar pelos braços. Desvencilhei-me das duas e só não lhes dei uns bons tapas porque não sou homem de agredir mulher; bater comigo, só na bunda delas, nada mais. Fui até o meu quarto. Assim que cheguei na porta e a abri, dou de cara com aquele mesmo negão da fatídica noite que terminava de vestir uma camiseta justa. Ele se surpreendeu comigo tanto ou até mais do que eu próprio:

- Opa! Tudo bem aí, amigo? Eu... Eu só... Bem, eu... é... já tô de saída, ok!? - Disse, claramente sem saber o que dizer: - Vamô nessa, Rina?

Como diria o célebre cancioneiro entoado nas vozes de Milionário e José Rico: “Minhas vistas se escureceram...” e não vi mais nada. Quando dei por mim, Clara estava ao meu lado, chorando ao mesmo tempo em que tentava me acordar. Ela estava tão perdida que nem notou que eu já a olhava, mesmo que atordoado:

- Já acordei! Já acordei! Pode parar... - Levantei-me à força da cama, porque ela ainda tentou me segurar: - Onde está aquele filho da puta?

- Pelo amor de Deus, não aconteceu nada! - Ela falou, ainda em lágrimas.

- Ah não!? Cheguei aqui e ele ainda estava vestindo a camisetinha justinha de viadinho de academia... - Zombei, claramente inconformado e empurrando ela para longe de mim enquanto em levantava: - Cê vai querer me dizer que não fizeram nada à noite? Aliás, deve ter sido uma surubinha e tanto, hein!? Afinal, sua priminha peçonhenta também estava aqui...

- Para, Riba, não aconteceu nada mesmo! Ele só veio aqui a meu pedido para ajudar na mudança do guarda roupas, ou será que você não notou nada de diferente no nosso quarto? - Eu realmente confirmei que o quarto estava todo mudado, mas dei de ombros e ela explicou: - Eu queria mudar, sei lá, fazer algo diferente para que a gente possa recomeçar, entendeu?

- Ah tá... Aham! - Resmunguei, respirando fundo para não chama-la de mentirosa e conclui que isso não faria diferença: - Tá! Deixa pra lá! Seguinte: vim para resolvermos o nosso divórcio e...

- Divórcio!? De jeito nenhum! Eu não aceito! - Interrompeu-me e desandou a chorar.

- Ok! Vamos para o litigioso então... - Falei e fui para o quarto de hóspedes buscar uma mala para pegar algumas roupas: - Só vou separar as roupas mais urgentes e volto para pegar o restante depois...

- Para! Vamos conversar!? Eu... Eu errei, já falei isso para você. Eu só quero uma chance de consertar. - Interrompeu-me novamente, já me deixando mais bravo do que estava.

- Vai consertar a porra da tua cabeça na pica daquele negão, ok? Não tenho mais nada para tratar com você. De agora em diante, você fala com o meu advogado e...

Nesse momento, dois toques na porta me interromperam pela terceira vez. Catarina abriu a porta, já pedindo licença e falou:

- Olha, não dá para não falar nada nesse momento: a gritaria de vocês tá dando para ser ouvida lá da rua!

- Eu tenho os meus motivos e a sua priminha aí... - Indiquei onde a Clara estava: - Sabe muito bem quais são.

- Eu sei! Eu sei também... Mas será que você daria uma chance para eu e o Dudu explicarmos tudo o que aconteceu?

- Quem é Dudu? - Falei e já deduzi na sequência: - Tá, o negão... Mas o que você tem a ver com tudo isso?

- Se você deixar a gente explicar, logo tudo ficará esclarecido e ainda vai entender que o maior beneficiário dessa história toda vai ser você! Só dá uma chance para a gente...

Ela era a típica víbora, peçonhenta, perigosa, mas sabia bem como vender o seu produto. As falas até não seriam suficientes, mas a forma como ela falava, seus trejeitos, a postura, tudo acabou me deixando bastante curioso e, afinal, eu não tinha nada a perder:

- Tudo bem! Fale enquanto arrumo a minha mala e já vou te avisando, sou bem rápido...

No ato, ela deu um grito chamando o tal Dudu que, apesar do tamanho, veio correndo como um cachorrinho adestrado, parando pouco antes do batente da porta, este praticamente da sua altura:

- É melhor você se sentar e prestar atenção na minha explicação para não perder nenhum detalhe, Riba. - Pedi-me a Catarina.

- Eu ouço com meus ouvidos. Vai falando que eu dou conta... - Falei, quando já dobrava algumas camisas.

- É... - Resmungou, pigarreando em seguida: - Então... Eu vou começar bem lá do início, ok?

- Você é quem sabe, o tempo tá correndo... - Desdenhei, voltando a dobras algumas calças.

- Tá... Seguinte... Eu nunca fui muito de acordo com a Clarinha casar tão cedo com você. Acho que você sabe, né? - Nem me dei ao trabalho de responder, apenas resmunguei um “Aham” e ela continuou: - Eu sempre achei que ela podia ter aproveitado um pouco mais a vida antes de se amarrar, mas aí surgiu você e vocês acabaram atropelando tudo.

Mesmo sem querer, balancei minha cabeça de forma negativa e dei uma risada zombeteira, antes dela continuar:

- En... Então... Aí, não lembro bem o dia, acho que você estava viajando a trabalho e nós...

- Caralho! - Falei, lembrando-me de uma viagem agendada e fui confirmar a data no meu celular: - Porra! E eu tenho outra agendada, mas isso é problema meu. Vai, pode continuar...

- É... Então... A gente acabou saindo para dar um volta, tomar um chopinho, nada demais. Daí, papo vai, papo vem, acabei contando de umas aventuras minhas e de como eu gostaria muito que ela tivesse ficado solteira mais tempo para a gente ter aproveitado juntas, afinal, a gente sempre se deu bem, né?

- É!? - Zombei novamente: - Então tá... Continue, continue...

- Pois é... Então acabei contando que estava saindo com o Dudu aqui e que ele era tudo de bom: grande, forte, parrudo, bem servido... - Disse e se calou, como se eu fosse me manifestar: - E perguntei para ela se não tinha curiosidade de, assim, experimentar outro cara, só para saber como é, né?...

- Sei, sei... Bom, se tinha essa curiosidade, já não tem mais, isso ficou bastante óbvio para mim. - Retruquei: - Ah, e ficou feliz em saber que você é tão preocupada com ela, porque ela vai precisar de bastante apoio nessa nova fase que irá se iniciar na vida dela e...

- Eu não vou me separar de você! - Clara praticamente gritou.

- Veremos, minha cara, veremos... - Falei em um tom calmo, baixo, suave, o que, por si só, acentuou ainda mais a força da minha decisão.

Um silêncio surgiu no ambiente e decidi por fim àquela conversa:

- Tá, vamos resumir? Você falou do seu pintudo namorado, ficante, paquera, marido, sei lá o que é, e ela ficou curiosa. Daí você, como uma prima exemplar e preocupada com o pleno desenvolvimento e a satisfação da Clara, o ofereceu para que ela matasse essa “vontade”, acertei? - Frisei bem a palavra, fazendo o movimento de aspas com os dedos, encarando-a, que, constrangida com a invertida certeira, fez uma cara resignada e baixou o olhar: - E digo mais: criativa como você parece ser, acredito que a historinha fajuta do roubo foi ideia sua também, não foi?

- Então, na verdade não. Essa parte do roubo, foi ideia foi minha... - Disse o tal Dudu, olhando ainda meio constrangido para mim: - Só que a Rina havia me falado que já estava certo entre vocês. Depois que fui embora, dois dias depois, é que ela me ligou e disse que o caldo tinha entornado...

Eu, que havia desviado o olhar para encará-lo, agora surpreso com a novidade, voltei a olhar para a Catarina e falei:

- Você enganou o seu próprio homem, Catarina!? Porra! Parece que a desonestidade tá no gene da sua família, hein?

- Riba, por favor... - Resmungou Clara, constrangida, ainda no canto da cama.

Suspirei fundo e voltei minha atenção para minha gaveta de cuecas, pouco me importando se aquelas explicações furadas iriam prosseguir. Após um breve silêncio, Catarina voltou a falar:

- Então, a Clara me falou que vocês tinham umas curiosidades, tipo assim, pelo meio liberal...

- Eu!? Quem te falou isso? - Perguntei, sem sequer a encarar.

- Ué, Riba, a gente já não conversou sobre isso? - Clara entrou no assunto.

- Já, claro, mas porque você puxou o assunto e se me lembro bem, havíamos combinado daquilo ficar só no campo da fantasia, não foi? Há! Agora já entendi de onde veio essas ideinhas tortas... - Falei, olhando para a Catarina de rabo de olho.

- Foi, mas... - Ela se calou, certamente tentando procurar as melhores justificativas: - É que você parecia curtir tanto quando a gente fantasiava que eu pensei que a gente pudesse dar um passo adiante.

- Talvez pu-dés-se-mos! - Dividi a palavra para frisar a explicação: - Os dois, em casal, se ti-vés-se-mos decidido fazer isso junto ou de comum acordo.

Calei-me e agora olhei em direção à Clara que me encarava com olhos arregalados, agarrada a um travesseiro:

- Nunca, Clara, presta bem atenção... Nós nunca combinamos dar um passo além das nossas fantasias entre quatro paredes e pode ter certeza que se eu tivesse aceitado não seria da forma como foi, eu sendo praticamente obrigado a engolir um chifre porque você supostamente teria se fodido roubando uma loja. Ah, vá se catar, cara!

Ela voltou a soluçar e minha paciência já estava quase esgotada. Peguei mais um tanto de roupas, agora sem nem prestar atenção no que, e praticamente joguei dentro da mala, sem qualquer cuidado:

- Riba, a questão é essa, talvez ela tenha errado, eu errei, o Dudu errou e...

- Olha, pior é que ele parece que entrou de gaiato na história também, até já não estou com raiva dele, mas de vocês duas... - Calei-me porque o zíper da mala emperrou e assim que consegui soltá-lo, completei: - Duas traíras do caralho! Tudo bem que a gente nunca se deu bem, Catarina, mas você foder com o casamento da tua prima por capricho teu!? Foi uma baita de uma filhadaputice!

- Caralho, Riba, para de ser chorão e presta atenção nas possibilidades, mané! Eu estou aqui para ajudar vocês dois: ela fez um gol jogando com o meu homem, agora eu estou te passando a bola para te ajudar a empatar o jogo! Entendeu, cabeção?

Respirei bem fundo e olhei para Catarina primeiramente nos olhos, depois a examinei de cima a baixo, fixando boa parte da minha análise na sua região pélvica, o que lhe fez até dar uma viradinha em minha direção. Por fim, voltei a encará-la e sorri maliciosamente:

- Nem que você fosse a última biscate na face da Terra!

Ela ficou sem reação e boquiaberta tamanha a surpresa. Um novo silêncio surgiu no quarto enquanto em pegava minha mala e já me punha em marcha para sair de lá. Precisei falar um “sai da frente!” para a Catarina, assim mesmo, bem grosso, pois ela estava em meu caminho, mas ao chegar em frente ao tal Dudu ainda fui camarada:

- Fica esperto, malandro, com uma mulher como a tua, pode esperar que o próximo chifre é o teu!

Saí caminhando calmamente pelo corredor e fui barrado pela Clara quando já estava chegando à porta da sala. Ela novamente insistiu para eu ficar para conversarmos, mas falei que já tinha dito tudo o que achava necessário e o restante ficaria a cargo dos nossos advogados.

Eu voltei nesse mesmo dia para o meu hotel, mas não poderia ficar ali indefinidamente, pois me comeria o salário, as reservas no banco e um fígado em pouco tempo. Como eu gozava de boa reputação com o seu Valdemar, dono de uma empreiteira em que eu havia conseguido um emprego de gerente de obras há coisa de uns meses, já no dia seguinte, consegui permissão para ficar num quarto nos fundos, onde funcionava um almoxarifado até eu me arrumar na vida.

Procurei um advogado, desses “porta de cadeia” mesmo porque os recursos estavam escassos, e expliquei toda a situação. Ele falou um tanto embolado, umas palavras meio esquisita, tinha uns tal de “data venia” e coisa e tal que não entendi nada, mas assumiu minha causa, tudo pela bagatela de “uma costela e um dedo mindinho”, que parcelei em dez vezes.

Como meu chefe já havia me determinado, viajei no final daquela semana para reorganizar uma obra no litoral. O que deveria ser simples e para se resolver em dois, no máximo três dias, virou dez, porque o antigo chefe dos pedreiros meteu a mão sem dó no dinheiro da empreiteira. Quando ele soube e fiz questão de mostrar tudo com provas de notas e desvios, porque os produtos comprados não estavam nos estoques, ganhei pontos com o chefe, que deu outros tantos pontos na cabeça do ex funcionário, pelo que eu fiquei sabendo...

Meu advogado já havia “convidado” Clara para uma conversa, mas ela não compareceu. Liguei irado para ela e despejei toda a minha indignação:

- Porra, Clara, quero essa merda logo! Vai lá no advogado e assina a papelada, meu!

- Oi para você também, Ribamar. - Clara falou, com uma leve risada, não a messalina que havia me traído, mas aquela dos bons tempos: - Fica calmo, amor. Acho que nem precisamos de advogado para resolver nossa situação. Dá uma passadinha lá em casa amanhã à tarde e vamos nós dois resolver isso, pode ser? A gente combina tudo direitinho e depois você pede pro seu advogado por no papel. O que acha?

- Por que a gente não marca no advogado então? Lá ele já faz tudo na hora e a gente assina, e a gente resolve, e cada um vai cuidar da sua vida, ué!

- Porque antes mesmo de ser sua ex, eu ainda sou a sua esposa, e acho que mereço um mínimo de consideração, apesar de tudo o que eu te fiz, não acha?

- Sei não...

- Tava pensando em fazer aquele cozido que você tanto gosta...

- Aquele... Aquele cozido!?

- É...

- Com costelinha e linguiça?

- Esse...

- Com batata, cenoura, milho verde...

- Aham! Com bastante cebola e pimentão. Ah, e forte no tempero do jeitinho que você gosta! - Ela arrematou.

- Isso é covardia, Clara...

- Quero ser sua amiga, Riba, se não der para continuar como esposa, pelo menos amiga...

Diz o ditado que “um homem se conquista pela barriga”, pois é... Além de ser a formosura em pessoa, Clara também cozinha bem por demais da conta e esse cozido era o meu preferido, simples, mas saboroso e bem servido, com um arrozinho branco, um tutuzinho de feijão e uma saladinha, tinha nada melhor na vida não. Como um parvo, caí na ladainha da danada, confirmando presença em sua casa no dia seguinte. Antes eu não tivesse ido...

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NAO SER MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 264Seguidores: 627Seguindo: 20Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Ser eternamente Côrno por um cozido...😒

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Tá de vento em polpa! Ótimo!

⭐⭐⭐💯

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Adorei muito bom nota mil amigo parabéns

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Kkkkk começou muito bem: criativo e coisas e tals. Mas já está caindo no lugar com do corno: não tem de ficar de Papinho com a vadia. Quer conversar é com o advogado e pô tô final. Vai ser corno toda vida kkkkkk. O conto está bom, só não esqueça do sexo

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Kkkkkkkk, um corno glutão. Impressionante como algumas pessoas tem o dom da comunicação tão apurado, tem escritor que realmente é bom mas as vezes perde a mão, exagerando na história, essa não, tem a dose certa de humor e sexo, e acredito que o "Riba" vai acabar cedendo às vontades da esposa safada com dotes culinários. Parabéns, totalmente excelente.

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Droga Mark, suas histórias são sempre boas mas tbm fodem o meu psicológico

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Cozido com tutu de feijão???

É sério isso???

Que heresia!!!

Cozido e pra ser apreciado num prato bem grande que caiba 1 kg de comida, inteiramente coberto com pirão feito do caldo do cozimento do próprio cozido.

Sobre o conto... Revoltado como estava, cozido nenhum ia abrandar a decisão.

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Olha que, aqui em MG, a gente aprecia bastante comer qualquer coisa com um bom feijão, cozido, virado ou tutu.

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Narrativa massa, parabéns Mark.. bora

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Hahahahaha...

Adorei o cara todo revoltado, o conto INTEIRO, fazendo a galera anti-corno ir ao delírio.

Ai no finalzinho, ele vai pra casa POR UM COZIDO KKKKK

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Avisando a todos por aqui: vou retomar e terminar o "Claire de Lune", "Marmita" e "No olho do cu é colírio!".

Talvez eu poste mais 1 ou 2 capítulos do "Jornada de um Casal ao Liberal", contando o reencontro e a superação do fatídico Rick e o casamento da Bia e Bernardo.

Só não posso garantir regularidade como antes, pois o tempo anda bem escasso.

Depois, só contos novos.

Forte abraço.

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Perfeito entendemos o teu tempo escasso faça o melhor para vc

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Barbaridade, eram essas que eu estava esperando terminar👏👏👏👏👏

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Só vou ter que ler alguns capítulos delas pra lembrar... 😂

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Ver essa notícia é melhor que ter ganho na mega sena!

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Muito bom essa quer o couro dele vamos a continuação

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Como profunda conhecedora de produtos etílicos, recomendo firmemente que o personagem se abstenha de beber vinhos baratos , melhor beber água da bica .

Isso de beber vinho barato é coisa de gente doida, se quiser ficar bem no grau mesmo, compre absinto, apenas alguns cálices irão fazer o personagens esquecer o chifre rapidinho.

Então em relação ao conto dizer que o conto está excelente é chover no molhado.

Outra coisa em relação ao personagem, "O que é um peido para quem já está todo cagado ", eu no lugar dele iria lá no almoço, comeria a carne e os ossos, dava uma bem gostosa com ela e ficava de amigo colorido, tipo ficante ainda fazia o ménage à trois com a prima, sacanagem nunca é demais kkkkkk.

Então tem vários tipos de cornos, tem o mansinho submisso que eu gosto muito, tem o corno indeciso, que eu odeio, aliás odeio o homem indeciso, e tem o corno vingativo e brabo, isso também gosto agora eu tenho uma história de uma corna para contar, vocês não sabem o que uma mulher traída é capaz de fazer, esse conto já está engatilhado mas ele vai precisar daquela narrativa bem forte e ácida do Vlad malvadão.

Nenhum homem é capaz de ser tão cruel e nuclear quanto uma mulher ferida na sua vaidade.

Mark e a Ida junto com mais uma meia dúzia de autores aqui do CDC são meu top 10, eu amo o conto de vocês me fazem sentir raiva, pena, me fazem chorar, me fazem rir, eu amo vocês.

Beijinhos da titia Sueli Brodyaga 😘 😘 😘 😘 😘 😘 😘 😘 😘 😘

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Aposto que vai ser dopado, vão tirar fotos dele apagado simulando uma relação com a prima e usar isso para melar o divórcio. Por isso não comeria nem uma garfada do tal cozido.

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É bem possível sim amiguinho Vinix .

Beijinhos da titia Sueli Brodyaga 😘😘😘😘😘😘😘😘

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Vão filmar e tirar fotos dêle com o negão...

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Eu não colocaria nem uma garfada dessa comida na boca.

Já está provado o quanto a Clara pode ser sombria...

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Eu amo esse feeling de humor nos contos, se não fica muito pesado, em todos os contos que eu escrevo eu sempre procuro colocar um pouquinho de humor, Acho até que é uma constante no meus contos , o Vlad malvadão kkkkkkk que tá aqui do meu lado de cara feia porque chamei ele de lá de malvadão kkkkk não gosto de colocar piada nos contos.

Vinix meu amigo lindo e querido, "O que é um peido para quem está todo cagado ", Eu no lugar dele ia lá comi a carne e os ossos, chamava a prima Catarina para o manage trois e ainda chamava o tal do Dudu o Duda e fazia logo uma surubinha kkkkk.

Uma pessoa traída como ele foi, se ficar remoendo o psicológico vai para o brejo, o melhor é aproveitar e bolar uma vingança bem cruel e calculada.

Beijinhos da titia Sueli Brodyaga 😘😘😘😘😘😘😘😘

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🤣😂🤣 esse ranguinhi vai da pano pa manga kkkk parabéns mark o conto e muito divertido tem muita secagem e umor

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Que gostoso que é ler seus textos. Esperando a continuação

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Caramba quando o cara acha que vai ter paz na vida, vai e descobre que foi tudo armado, e se duvidar esse cozido vai ser bem desgostoso ao paladar dele! Parabéns Mark! Excelente!

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Cara, esse cozido tá muito mal temperado ao meu ver! Tá com uma baita cara de outra armação, só não dá pra saber se é da esposa com a prima ou do trio.

Só resta aguardar o capítulo que tomara que seja amanhã para melhorar o feriado!

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Gostei do nock: Gordinho gostoso caminhoneiro

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Cara, eu não tenho assinatura Premium, por tanto não consigo ler a mensagem que me enviou!

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