TRAVESSIA [13]~ A busca da verdade

Um conto erótico de Felipe
Categoria: Gay
Contém 3592 palavras
Data: 06/05/2024 19:44:52

(Felipe fala)

Meu nome é Felipe Lopes de Azevedo e praticamente acabei de fazer 15, Nasci e fui criado em Belo Horizonte, assim como a maioria da minha tradicional família.

Sou branquinho, loiro, liso de tudo e tenho olhos azuis bem fortes na cor.

Estudo em um dos melhores colégios de Belo Horizonte e estou no primeiro ano do segundo grau.

Mas num mundo de tradições e aparências, me descobri gay ainda criança. Sofri muito por ser diferente, por ter o constante medo de que a qualquer momento me descobririam e eu jogaria o nome da família na lama.

Aos 14, que foi ano passado, cheguei a tentar namorar uma menina para ver se dava certo; até quase fizemos sexo, mas para mim não foi nada de mais.

Faltava algo... Depois disso me convenci que nunca encontraria alguém, pois não sentia tesão por meninas e nem me permitia me envolver com garotos.

Eu já tinha decidido que nunca ficaria com nenhum homem.

Mas todos os meus planos foram por água abaixo quando vi aquele garoto entrando na sala no primeiro dia de aula.

Seus olhos castanhos, seus cabelos cor de chocolate, seu rosto delicado, parecia um mega modelo. Ainda mais, parecia um deus, pois emanava uma certa energia que obrigava todos em volta a olhar para ele.

Não sei por quanto tempo fiquei viajando ao olhar para ele, mas sei que só parei quando vi retribuir seu olhar.

Nos olhávamos a todo momento durante aquele dia e de vez em quando sorríamos um para o outro. Eu nem pensava na possibilidade de alguém estar olhando, aliás, eu não pensava em nada. Só em casa fui me dar conta que estava perdidamente apaixonado por aquele garoto.

É incrível como o amor nos faz perder o medo de tomar certas atitudes.

Eu mesmo me assustei comigo quando corri para o banheiro atrás de Bernardo e lhe roubei um beijo.

Naquele momento tive certeza dos meus sentimentos, mas só para me decepcionar logo depois quando ele negou sentir atração por homens.

Eu tinha certeza que era mentira, porque poucos instantes antes ele tinha retribuído meu beijo. Ele só podia não ter sentido atração por mim.

Aquilo me deixou muito triste. Me afastei imediatamente dele, era até melhor mesmo, assim eu sufocava aquele sentimento.

Mas não deu certo.

Bancar o difícil sem olhar ou falar com ele só me fez sofrer mais e me apaixonar mais por ele.

Decidi engolir meu orgulho e convidá-lo para meu aniversário.

Fiquei em êxtase quando ele aceitou com um sorriso no rosto, demonstrando que ele queria aquilo tanto quanto eu.

Planejei aquela noite nos mínimos detalhes; minha mãe até estranhou minha extrema dedicação, mas não lhe dei atenção.

Naquele quarto da casa da minha avó onde nós ficamos juntos eu vivi o melhor momento da minha vida até então. Ali eu me senti completo, inatingível. Simplesmente feliz.

Cheguei a me decepcionar quando percebi que meu amor por ele não era recíproco, mas depois aquilo só me deu forças.

Eu tinha um objetivo na vida: fazer ele me amar tanto quanto eu o amava. E assim passamos meses maravilhosos juntos.

Eu percebia que alguma coisa o segurava, que ele realmente queria se jogar de cabeça em mim, mas não conseguia.

Até que minha prima Mariana veio me visitar.

Quando ela me contou toda a história de Bernardo foi como se todo o futuro que eu havia planejado com ele desmoronasse.

Me senti enganado, traído e ferido, mas o que mais me magoou foi a descoberta do que segurava ele na hora de dizer que me amava: ele amava o tal Vítor, não o tinha esquecido.

Terminar com Bernardo foi a coisa mais difícil que eu já fiz na vida, pois apesar de tudo eu ainda o amava demais. Difíceis também foram os dias que passei ignorando sua presença. Vê-lo sem poder beijá-lo, conversar bobagens ou simplesmente tocá-lo era doloroso.

Por insistência de Mariana, acabei indo passar meus últimos dias de férias com ela em Morro Velho. Pelo menos lá eu tinha certeza de que não encontraria com Bernardo.

Na hora eu não me dei conta, mas encontraria com uma outra coisa: o passado de Bernardo.

Fui sozinho de ônibus e cheguei em uma quarta-feira de manhã a Morro Velho. Mariana e sua mãe me esperavam na pequena rodoviária da cidade.

- Fez boa viagem?

- Sim, tia.

- Que bom. Você deve estranhar um pouco o ritmo mais lento de uma cidade do interior, mas vai acabar gostando.

- Tenho certeza que sim. - menti.

Fomos direto para sua casa, no centro da cidade. Era um casarão muito bonito, de arquitetura barroca, mas aparentemente reformado.

Fui instalado no quarto de hóspedes e Mariana veio logo para me fazer companhia. Eu adorava minha prima, a considerava minha melhor amiga, mas desde o dia que ela me contou sobre Bernardo, tenho olhado para ela de outra forma.

Era como se eu não a conhecesse mais, porque a menina que eu conhecia desde bebê era doce e meiga, não seria capaz de fazer uma maldade daquela, mesmo que tenham lhe dado motivos.

A nova Mariana era idêntica à antiga por fora, mas por dentro eu sentia alguma coisa diferente. Não era mais minha amiga que estava ali e eu não fazia a mínima ideia de quem era a estranha ocupando seu lugar.

Aquela sensação me incomodava, mas como não sabia bem o que fazer, decidi fingir que não era nada e procurei agir normalmente.

Mariana me apresentou para Deus e o mundo.

Os jovens da cidade se reuniam na praça central para conversar. Mariana era a mais animada, sempre foi uma pessoa bastante comunicativa.

De vez em quando ela se afastava um pouco do grupo e tecia só para mim algum comentário maldoso sobre um dos presentes.

Aquilo abriu meus olhos para como ela conseguia ser falsa em tempo integral com os outros.

Aos poucos fui sentindo a falta de alguém naquela conversa. Mesmo temendo um pouco conhecê-lo, perguntei:

- E seu namorado, não vai me apresentar?

- Ai, ela está viajando, só volta na sexta. Mas pode deixar que vou apresentá-lo sim; faço questão.

Eu não sei o que me fazia querer conhecer Vítor.

Se curiosidade, ciúme ou a vontade de confrontá-lo para saber o que aconteceu de verdade.

Voltamos para casa no final da tarde. De noite, deitado na cama, comecei a refletir sobre os fatos que eu sabia.

Eu começava a me arrepender de não ter deixado Bernardo se explicar. Será que eu tinha cometido um erro assim tão grande?

Ainda esperando pelo sono, tomei uma decisão: durante minha estadia na cidade, descobriria o máximo que poderia sobre o que aconteceu. E assim foi.

No outro dia, acordei bem cedo e, com a desculpa de ir comprar pão, fui procurar pelo pai de Bernardo.

Ele uma vez já havia me contado que seu pai era um pequeno comerciante da cidade, então foi só perguntar para algumas pessoas e acabei encontrando o lugar.

O armazém dele funcionava numa casinha bonita, simples, mas charmosa. Chegando lá, reconheci imediatamente seu André pela descrição que Bernardo havia feito do pai. Só uma coisa não batia, ele sempre se referia ao pai como um homem de expressão forte, mas o que eu via era um homem com olhar triste e mais rugas do que o normal para sua idade.

- Bom dia!

- Bom dia, meu jovem! Não te conheço, é novo na cidade?

- Ah, sim. Sou de BH, vim passar a semana com meus tios.

- Da capital? Deve estar estranhando o clima de cidade pequena.

- Um pouco.

- E o que deseja?

- Pão.

- Ah, claro, está quase saindo.

O silêncio tomou conta do lugar. Eu tinha que tirar alguma informação dele.

- O senhor toma conta disso aqui sozinho?

- Não, tenho dois funcionários, mas eles só chegam mais tarde.

- Isso é incomum, já percebi que na maior parte do comércio da cidade são os próprios familiares que cuidam.

Percebi sua expressão se abater.

- Eu não tenho família. Só meus pais, mas eles moram numa fazenda mais afastada da cidade.

- Sério? Eu achei que o senhor fosse casado. - sei que eu estava o machucando com aquilo, mas precisava ir até o fim.

- Já fui; me divorciei recentemente. - falou tentando fingir que mexia com outras coisas.

- Filhos?

Vi seu corpo todo se estremecer. Sem se virar para mim, respondeu:

- Eu tinha um garoto da sua idade, chamava-se Bernardo. Era um menino muito inteligente.

- Tinha?

- Tinha. Ele morreu há poucos meses.

Me assustei com suas palavras. Como um pai podia dizer assim que seu filho havia morrido, sendo que o mesmo estava vivo a alguns quilômetros de distância?

- Ma...

Gaguejei e ele deve ter pensado que alguém já havia me contado a história. Se virou para mim e falou grosseiramente.

- Não importa o que digam, a verdade é que ele está morto, pelo menos para mim. Agora leve o pão antes que esfrie. - disse me entregando uma sacola com os pães.

Fui embora ainda atônito com aquilo. Ele dava Bernardo como morto. Até onde podia ir o repúdio ao amor entre dois homens? Conseguia ser maior que o amor de um pai para o filho a ponto de destruí-lo?

Pior: até onde Mariana tinha ido? Ela tinha destruído uma família.

Ainda com aquilo na cabeça, saí ainda pela manhã com a desculpa de conhecer a cidade. Peguei uma bicicleta esquecida nos fundos da casa e saí pela cidade. Sabia onde devia ir, mas não sabia como chegar, então fui perguntando às pessoas, que muitos gentis foram me guiando.

Em alguns minutos eu estava cruzando a porteira da fazenda dos avós de Bernardo.

Deixei a bicicleta caída na grama e bati palmas, já que não havia campainha. Uma velhinha de aparência bem simpática veio me atender.

- Sim?

- Dona Maria?

- Sim, sou eu.

- Prazer. - falei lhe cumprimentando. A senhora não me conhece, mas já ouvi falar muito da senhora. Meu nome é Felipe, sou um amigo do Bernardo de Belo Horizonte.

Ela foi logo abrindo um sorriso e me dando passagem.

- Ora, então entre meu bem, qualquer amigo do meu neto é muito bem vindo na minha casa.

- Obrigado.

Entrei e a segui até a cozinha.

Estranhei um pouco, mas Bernardo já havia me contando que no interior se costuma receber as visitas na cozinha. Dona Maria me ofereceu broa e café fresco, e aceitei por educação, pois já havia tomado café da manhã.

- E o que traz um menino tão bonito da capital, aqui?

- Vim passar alguns dias com meus tios.

- Você tem parentes aqui? Quem são?

- Sou primo de Mariana Queiroz.

Vi seu rosto se fechar. Já esperava por aquilo.

- Eu sei, foi uma surpresa para todos os envolvidos.

- Imagino... - falou pensativa.

- A senhora sabe quem eu sou? - perguntei um pouco envergonhado.

Ela abriu um sorriso discreto.

- Seu nome não me é estranho. Sei sim quem é você e quão especial você é para o meu neto. Conversamos por telefone regularmente e ele me conta tudo.

- Então a senhora já deve saber que brigamos, certo?

- Sim, uma pena... - soltou num suspiro.

- A senhora deve estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui então...

- Não. No momento em que você se apresentou percebi que veio em busca da verdade, pois alguma coisa dentro de você te faz duvidar da versão dos fatos apresentada pela sua prima.

Lá estava a sabedoria dos mais velhos. Em poucos minutos ela já havia me desvendado por completo.

- Sim.

- Meu querido, - ela pegou nas minha mãos sobre a mesa - eu não posso lhe contar nada de muito novo, até mesmo porque não sei de todos os detalhes. O que posso te garantir é que em nenhum momento Bernardo abusou de Vítor ou tentou tomá-lo de Mariana.

O que eu vi foi uma garota em busca de vingança ao ser trocada por um garoto, um menino que ainda não estava pronto para viver um amor desse tipo e um inocente garoto em quem todos descontaram e deixaram carregar sozinho todo o peso.

Os detalhes você terá que dar uma chance a Bernardo para que te conte.

Conversamos durante toda a manhã e acabei ficando para o almoço. Acabei conhecendo também os pais de Zeca. Confesso que tinha muito ciúme dele, mas ao comentar isso com Dona Maria, ela me fez compreender que ele foi o único amigo de Bernardo no momento mais difícil da sua vida e era esperado que os dois criassem um laço muito forte.

Não havia porque invejar essa relação.

No começo da tarde, me despedi dela e peguei minha bicicleta para ir embora, mas uma última dúvida me atormentava, aliás, a maior delas.

- Dona Maria, a senhora acha que o Bernardo ainda ama o Vítor?

Ela respirou fundo.

- Talvez, eu não sei. Mas com certeza não o esqueceu, foi tudo muito recente e eles se conhecem desde sempre. Pessoas assim não se esquecem.

Ela viu que me abati com aquela sua resposta e completou.

- Felipe, meu neto te ama. Ele me confidenciou isso ao telefone. Talvez esteja nas suas mãos a chave para ele deixar Vítor apenas como uma boa memória da infância. Amores vêm e vão, mas grande amor só existe um, e eu torço para que você seja o dele.

Com aquelas palavras tão sinceras de dona Maria na minha cabeça fui embora de volta para a cidade.

Uma mistura de sentimentos tomava conta de mim.

Eu estava feliz por saber que Bernardo me amava e que eu poderia fazê-lo esquecer o Vítor.

Eu estava triste por ter tratado tão mal meu amor e ter lhe dito palavras tão duras. Eu iria me arrepender para sempre daquilo.

E agora, mesmo sem saber de tudo, eu descobri que não senti nada por Mariana. Nem mesmo ódio. Ela havia morrido para mim depois de ter me decepcionado tanto.

Eu começava a compreender a atitude de seu André.

Ao chegar na minha tia, tentei me comportar normalmente com Mariana, não queria tomar nenhuma atitude no momento. Aliás, não sabia se tomaria alguma atitude ou não, vendo o que ela fez com Bernardo, temi o que faria comigo.

Para quem expôs uma pessoa para toda uma cidade, expor outra para sua família não é nada, e isso realmente não estava nos meus planos.

A única coisa de que tinha certeza no momento era de que precisava conversar com mais uma pessoa: Vítor.

Dormi pensando em como seria nossa conversa no dia seguinte.

Acordei no outro dia e fiquei fazendo companhia à minha tia. Era um modo de me manter afastado de Mariana, mas ora ou outra ela vinha requisitar minha presença e eu era obrigado a ir. Não foi fácil, mas eu consegui. Mais ou menos na hora do almoço, a campainha tocou.

- Deve ser o Vítor, venha. - falou e desceu correndo as escadas.

Enfim eu conheceria o pivô de tudo aquilo.

Meu coração estava a mil. Quando cheguei ao andar de baixo, o vi recebendo um abraço de Mariana. Era um rapaz muito bonito. Seus cabelos eram loiros e tinham um corte bonito. Seu rosto era sério e forte, muito bonito. Seus olhos incrivelmente verdes cruzaram com os meus muito azuis quando parei na escada.

- Vítor, esse é meu primo, Felipe. Felipe, esse é meu namorado.

- Prazer. - dissemos nos cumprimentando.

Eu não sei o que sentia por ele: antipatia gratuita, inveja pelo amor de Bernardo, ou medo por eles terem uma grande história juntos.

Ele claramente não sabia quem eu era, e nem tinha como.

Almoçamos todos juntos.

Diferente do que Bernardo havia me contado nas poucas vezes que o mencionava, ele era muito sério, quase nunca sorria e eu podia sentir uma certa frieza na forma como tratava Mariana, que, se percebia, fingia muito bem.

Ele parecia estar cumprindo alguma obrigação muito chata ali. Logo inventou alguma desculpa para ir embora, mas eu não perderia aquela oportunidade. Menti que precisava ir ao mercadinho e saí de casa também. Ele já ia descendo uma ladeira quando o alcancei.

- Posso falar com você a sós? É importante demais e não quero ninguém por perto da gente.

Ele estranhou, mas concordou e me fez segui-lo até um campo de futebol deserto nos limites da cidade.

- O que você quer?

- A verdade. - falei firme.

- Hã?!

- Você não sabe quem eu sou, então deixa eu me apresentar. Meu nome é Felipe, e sou namorado do Bernardo.

Vi seu rosto se transformar. Se antes era tomado por uma morbidez e uma passividade, agora eu sentia ele vivo, seus olhos acesos e uma força o cercava.

- Como é?

- O que você ouviu.

- Mas ele não perdeu tempo mesmo... - falou com desdém, visivelmente alterado.

- Não é sobre isso que vim conversar com você.

- Eu não tenho nada para conversar com você. - ele se virou para ir embora.

- Por favor. - o segurei.

Ele me olhou e ficou esperando que eu continuasse.

- Por ironia do destino, aconteceu dele se envolver com o primo da Mariana, eu. Quando ela o viu em BH, me contou o que aconteceu.

Ele me escutava atento, mas ainda um pouco inquieto.

- Ela te contou que encontrou com ele lá?

- Não.

- Eu imaginei. Ela me contou uma versão da história que não bate e eu temo ter cometido um erro imenso ao acusá-lo por tudo.

Eu já chorava silenciosamente dizendo aquilo e as lágrimas já desciam pelo meu rosto o que pareceu prender ainda mais sua atenção.

- Por favor, me conte o que aconteceu de verdade.

- Como assim a verdade? - ele quis desconversar.

- Eu não tenho nenhuma autoridade para te pedir alguma coisa, não sou ninguém para você, mas Bernardo era.

Por quinze, vocês foram amigos, criados juntos, como irmãos. Eu sinto que lá no fundo você o quer tão bem quanto eu quero, por isso eu te peço: me conte o que aconteceu de verdade para eu ter uma chance de fazer Bernardo feliz.

Ele me olhava intensamente. Parecia absorver cada palavra que eu havia dito. Ele se balançou e olhando para baixo falou:

- Eu não sei como me apaixonei por ele. Talvez eu era a vida inteira, mas só fui perceber depois. Isso me assustava muito, como seria se todos descobrissem? É uma cidade pequena, o que seria de nós? Mas o que seria de mim negando aquele sentimento e mantendo distância?

Então fui me afastando de Mariana, que eu já namorava antes de tudo, até terminar com ela de vez. Ela é uma garota esperta, e como já sabia que Bernardo era gay, ligou os fatos.

Até aquela noite eu não conhecia seu lado mais cruel. Pelo puro prazer de se vingar de nós dois, subiu no palco e contou aquela mentira na frente de todos.

Não vi o final, porque saí correndo desesperado. Acabei indo parar na fazenda onde cheguei a socar Bernardo tamanha era a minha raiva pelo que tinha acontecido. Eu o culpei, era mais fácil do que culpar a mim ou a ela.

Ele disse tudo aquilo num fôlego só. Eu tinha até parado de chorar. Então aquela era a verdadeira história. Mariana usou de uma mentira para destruir a vida de Bernardo.

Eu tinha cometido um erro terrível, eu devia ter acreditado nele! Meu Deus!

- Obrigado por me contar.

- Se alguém souber disso... - ameaçou.

- Não se preocupe, não contarei nada. Além do mais, você também tem um segredo meu, pois Mariana não sabe que sou gay e muito menos que namoro Bernardo. Vai ser o nosso segredo, eu juro.

Ele me olhou com força e se preparou para ir embora, mas falei:

- Vítor, se me permite, por que ainda namora Mariana?

Ele suspirou.

- Que opção eu tinha? Ou confirmava toda a história que ela contou e reatava nosso namoro ou carregaria sozinho o peso de ser gay numa cidade pequena, porque ele foi embora e me deixou aqui. Eu não quero saber dele, se fez de vítima, mas fugiu e me deixou aqui para enfrentar tudo sozinho.

- Ele não tinha opção...- tentei argumentar.

- Tinha sim, e escolheu o caminho mais fácil: fugir dos próprios problemas.

Me calei. Não tinha como eu argumentar com toda a mágoa que ele sentia. Ele se virou e começou a andar para ir embora. Se antes eu senti medo, ciúme e antipatia, agora eu me sensibilizava com sua dor e senti pena.

- Eu realmente espero que um dia vocês dois possam se entender e voltarem a serem amigos.

Ele não me respondeu, nem mesmo olhou para trás, mas eu tive certeza que ele ouviu muito bem.

Voltei para a casa da minha tia. Já era fim de tarde. Não sei de onde tirei tanta frieza e indiferença para continuar fingindo para Mariana que estava tudo bem.

Alegando que estava cansado e precisava me preparar para a volta às aulas, embarquei de volta para BH no sábado de manhã. Mal cheguei e já fui direto para a casa do Bernardo.

Foi impossível segurar as lágrimas.

Eu precisava pedir desculpas por ser um imbecil, implorar que voltasse para mim, dizer que o amava mais do que amei qualquer pessoa na minha vida; confessar que sem ele minha vida não tem cores, não tem graça.

Cheguei ao seu prédio e porteiro me deixou entrar, afinal, eu era um velho conhecido.

No espelho reparei no quanto eu estava horrível com o rosto inchado por chorar e as roupas todas amassadas por ter viajado com elas.

Bati a campainha e foi ele mesmo que atendeu. Estava lindo como sempre. Ele sorriu largamente ao me ver e foi impossível não fazer a mesma coisa. Meu coração bateu mais forte e senti todo o ambiente à nossa volta se iluminar. Lutando para manter minha voz firme, falei:

- Bernardo, precisamos conversar.

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Comentários

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Completamente viciado no conto, posta mais por favor 🙏🏻

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Como disse antes, não gostaria de ver o Bernardo e Felipe juntos novamente, não acho que o Felipe mereça o Bernardo. Por mais que o Vitor tenha sido um covarde, eu gostaria de que eles tivessem uma chance de se amarem de verdade, o sentimento de um oelo outro parece ser mais forte e puro!

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Temos que lembrar que eles tem 15 anos né? Início da vida, são muitos imaturos ainda e estão de desenvolvendo! Mta água vai rolar ainda rsssss

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Você é o melhor nos contos.

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Esse conto é fantastico, sem duvidas um dos melhores!

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