TRAVESSIA [7] ~ Brigas

Da série TRAVESSIA
Um conto erótico de BERNARDO
Categoria: Gay
Contém 3414 palavras
Data: 05/05/2024 17:04:51

Rimos. Aquele assunto me interessava muito. O namoro deles não andava muito bem das pernas. Sei que é meio egoísta torcer pelo fracasso do namoro de alguém, mas eu não pude evitar. Isso me enchia de esperanças, mas eu não podia demonstrar nada. Tinha que ser amigo e oferecer apoio.

- Ah, conversa com ela, não deve ser nada.

- É, não deve ser mesmo. Mas vamos dormir, quero acordar cedo para aproveitar o restinho de férias que ainda temos.

- Verdade, vamos dormir. Boa noite.

- Boa noite.

Vítor logo adormeceu, devia estar cansado depois do dia cheio que teve. Eu não tive a mesma sorte. A noite passava e o sono não vinha. No silêncio da madrugada, só se ouvia a respiração forte de Vítor na cama ao lado. Só de pensar nele dormindo tão profundamente tão perto, eu já ficava excitado. A vulnerabilidade dele naquele momento me deixava louco. O contorno do seu corpo iluminado pela pouca luz vinda da lua me encantava. Quando ponteiro do relógio já marcava duas da manhã, uma coisa parece ter acendido em mim. Eu precisava do corpo dele. Como se estivesse em transe, me levantei lentamente da minha cama e me aproximei da dele. Ele dormia de boca aberta e short bem curto, como uma criança que cresceu demais. Sorri com a cena. Vendo-o daquela maneira, eu podia entender como fui me apaixonar por ele. Com a ponta dos dedos fui acariciando de leve suas pernas lisinhas. Eu ofegava, o perigo dele acordar deixava tudo ainda mais excitante. Passei o dedo indicador suavemente pelos seus lábios e ele se mexeu. Eu me assustei e me afastei, mas ele voltou a dormir profundamente. Novamente cheguei perto e pousei minha mão sobre seu peito. Seu coração batia tranquilamente, diferente do meu, cada vez mais acelerado. Fui escorregando com minha mão pela sua barriga, pela sua virilha e parei com ela sobre seu pau. O meu estava duríssimo, quase rasgando o short que usava. Tirei ele e comecei a me masturbar enquanto acariciava o pinto do meu amigo. Eu olhava seu rosto, ainda mergulhado em sonhos, e me excitava ainda mais. Rapidamente gozei.

Depois do gozo fiquei pensando na loucura que havia feito.

Fiquei admirando aquela cena grotesca de mim com a mão no pau, cheia de porra e a outra sobre o pau do Vítor, que ainda dormia inocentemente. Desde que havia me descoberto gay, aquela foi a primeira vez que senti nojo de mim mesmo. Me senti sujo, uma pessoa ruim, um molestador. Me limpei na minha própria cueca e corri para a minha cama, afundando meu rosto no travesseiro para não ter que sentir minhas lágrimas.

Dormi muito mal o resto da noite. Tive pesadelos com Zeca e Vítor me repreendendo e me deixando.

Acordei na manhã seguinte com uma cara péssima, como se estivesse doente, e era mais ou menos isso mesmo, estar doente era o único meio de explicar o que eu havia feito na noite passada. Vítor já havia acordado e estava escovando os dentes no meu banheiro. Fui até lá para fazer minha higiene pessoal também.

- Bom dia. - falei com voz de sono ainda.

- Pra mim tá muito bom, pra você parece que vai ter um péssimo dia pela frente, que cara é essa?

- A mesma com que eu nasci.

- Acordou de mau humor, foi?

- O que você acha?

- Fica aí então. - respondeu saindo do banheiro.

- Desculpa, dormi mal à noite - disse indo atrás dele.

- Desculpado. Dormiu mal por quê?

- Pesadelos. - respondi sem estender muito o assunto.

- Hum, eu por outro lado, dormi maravilhosamente bem.

Ri, de nervoso, sem ele perceber quando ele disse isso.

- O que vamos fazer hoje? - ele perguntou.

- Não sei, tem alguma ideia?

- Bom, a gente podia ir pra fazenda. A gente quase não foi lá nessas férias. Minha mãe já deve estar com saudades de nós dois.

- É, pode ser.

Acabamos de nos arrumar e descemos para tomar café. Minha mãe já nos esperava com a mesa posta com toda a sorte de guloseimas. Junto dela estava dona Margarida, a diretora da nossa escola. Eu e Vítor nos entreolhamos com medo de termos feito algo errado, mas nada veio à minha cabeça no momento.

- Bom dia, garotos! - falou minha mãe.

- Bom dia! - respondemos em uníssono.

- Bom dia! - falou dona Margarida com seu jeito amistoso e pacificador.

- Não se assustem, não estávamos falando mal de vocês.

Nos sentamos e nos servimos. Minha mãe começou a falar:

- Ela veio falar comigo sobre você, Bernardo.

- Eu? Por quê? - me assustei. Mil ideias passaram pela minha cabeça no momento.

- Bom, ontem eu estava conversando com a dona Margarida e ela teve uma ótima ideia.

Dona Margarida se levantou. Ela era uma mulher baixa, gordinha, um rosto infantil que destoava dos seus cabelos negros sempre presos em um coque alto. Ela andava sempre muito formal, de saias compridas ou calças. Ela dizia que era decoro, por chefiar uma escola de padres. Logo começou a falar:

- Eu pensei em fazer algo diferente na volta às aulas este ano. Eu queria fazer uma apresentação com os alunos, já que estamos recebendo muitos estudantes novos vindos de Belo Horizonte por causa da chegada da mineradora. Primeiro pensei em uma apresentação de teatro, mas percebi que estava muito em cima, não daria tempo. Depois considerei uma apresentação simples, com os costumes e a história da região, mas achei que iria ficar muito formal e desinteressante. Foi aí que tive a ideia de fazer uma apresentação musical.

Eu não estava gostando nem um pouco do rumo daquela conversa. Sabia muito bem onde ela iria acabar.

- Então fui conversar com sua mãe, pois já que ela é nossa professora de música, eu precisaria do apoio dela, e felizmente ela aceitou de imediato.

- Claro, dou meu apoio a qualquer projeto de incentivo à cultura. - minha mãe completou sorrindo.

- Pedi a ela sugestões de pessoas para cantar e ela me indicou uma pessoa: você.

Meu coração gelou só com a possibilidade de cantar em frente a toda a escola. Eu tinha vergonha de cantar para as pessoas próximas, em pequenas ocasiões, o que diria para centenas de pessoas, a maioria delas desconhecidas para mim.

- Sem chance! - respondi seco.

- Mas filho...

- Não, mãe! Eu não vou cantar para toda a escola. Eu morro de vergonha!

- Mais um motivo, você vai perder a vergonha. Vai te fazer muito bem.

- Quem pôs na cabeça de vocês que eu canto bem? Eu vou ser é vaiado e ficar marcado pelo resto do ensino médio.

- Vai ficar modesto agora? - se intrometeu Vítor - Você sabe que canta bem, mas adora fazer charme dizendo que não, né?

- Isso é um complô contra mim?

- Não contra você, mas a favor de você. - falou dona Margarida.

- Gente, não. Eu não vou cantar em frente àquela multidão de pessoas!

- Que multidão? São os alunos e seus pais, no máximo 1400, 1500 pessoaspessoas?!

Eles estavam ficando loucos! Eu cantando para esse monte de gente? Eu não estava preparado pra uma coisa assim! Era muita pressão, eu era tímido, ia acabar travando no palco e sendo vaiado.

- Bernardo, - começou minha mãe - como professora de música, com diploma nesta área, eu te garanto que você tem total capacidade de fazer uma belíssima apresentação. Como sua mãe, tenho certeza que você se sairá bem. Você sempre se saiu muito bem em situações de pressão extrema, você não vai travar não, te garanto isso.

- Concordo com ela. - completou Vítor.

- E então, Bernardo? Você vai fazer ou não? - perguntou dona Margarida.

Eu estava pensando. Deixando a modéstia de lado, eu sabia que poderia me sair bem. Mas eu estava inseguro. Me lembrei do Zeca na hora:

“Eu estou sendo honesto. Você tem extensão vocal, afinação, bom gosto, bom ouvido musical, divisão rítmica e sabe exprimir muito bem suas emoções na música. Ou seja, você tem toda a ferramenta, deveria trabalhar mais isso.

- Ok, vou pensar nisso.

- Quem sabe virar um grande artista com grandes shows e tudo mais?

- Não exagera. Eu não teria coragem. - falei rindo.

- Você precisa se arriscar, só assim não vai se arrepender quando ficar velhinho e olhar para trás."

- Eu vou fazer. Vou cantar para eles. - respondi firme.

- Graças a Deus! - respirou aliviada dona Margarida.

- Ótimo, filho! Vamos treinar todos os dias, pois a apresentação já é na sexta-feira. - minha mãe parecia entusiasmada.

- Já?!

- Desculpa, é que foi tudo meio repentino.

- Ok, ok... - eu estava com bastante medo.

- É isso, você vai cantar e eu vou ser o primeiro a aplaudir.

Vítor me encheu de confiança e esperança. Vislumbrei a cena dele puxando os aplausos de pé no teatro lotado. Parecia um sonho bom.

Terminamos de tomar café da manhã enquanto discutíamos os últimos detalhes. Eu treinaria com minha mãe as músicas que eu cantaria. Eu demonstrava confiança, mas no fundo estava morrendo de medo. O meu estômago parecia estar suspenso no ar, tamanho nervosismo.

Após o café da manhã eu e Vítor fomos para a fazenda do Cercadinho. Como sempre, dona Rosa me recebeu muito bem, como um filho. Logo o Rafinha veio correndo me cumprimentar. Ele era o irmão caçula do Vítor, tinha olhos verdes e cabelos loiros, como o irmão.

A principal diferença entre eles era no jeito de agir, o Rafael era uma criança super carinhosa, sempre que eu chegava na fazenda ele vinha me abraçar, mas Vítor logo o afastava. Os dois eram irmãos, mas não eram exatamente melhores amigos. Eu tinha dó dele, só queria ficar perto do irmão, se sentir fazendo parte da “turma”.

Quando entrávamos no quarto do Vítor para jogar videogame, ele o deixava para fora. A expressão de tristeza do menino era de cortar o coração. Eu ainda tentava argumentar, mas Vítor era meio intolerante em relação a isso.

- Ei, Bê. - ele me abraçou.

- Ei, Rafinha, tudo bem?

- Aham, quer ver meu novo álbum de figurinhas?

- Não! Vamos jogar videogame. - Vítor nem me deixou responder.

- Tá, posso ir também?

- Óbvio que não.

O garoto ficou com lágrimas nos olhos enquanto Vítor me arrastava escadas acima em direção ao quarto. Nem o repreendi, já tinha feito isso tantas vezes que me cansei. Ficamos o resto da manhã jogando videogame juntos.

Nestas horas ficava claro para mim os contrastes do Vítor. Ele conseguia ser um amor de pessoa comigo e um carrasco com o próprio irmão. Aquilo me assustava, eu me perguntava se ele não poderia acordar um dia e decidir que não gosta mais de mim. Ele era assim, uma pessoa confusa. Mesmo depois de tantos anos de amizade, eu não conseguia entendê-lo. Se numa hora eu o achava uma péssima pessoa por alguma atitude como a que ele tinha com o Rafinha, na outra eu já me lembrava como fui me apaixonar por ele, simplesmente por estar ao seu lado, jogando videogame.

Vítor ainda era um mistério para mimDescemos e fomos almoçar todos juntos, à mesa. A família do Vítor era meio radical nesse sentido, prezava muito pelas tradições. A comida estava ótima, dona Rosa era uma ótima cozinheira, quase tanto quanto minha mãe.

De repente Mariana chega para almoçar também. Acho que foi uma surpresa para todos. Dona Rosa logo foi cumprimentá-la, gostava muito dela. Aliás, era impossível não gostar de Mariana, ela era bonita, educada, inteligente e até então tinha se mostrado uma ótima pessoa. Ele me cumprimentou com educação, apesar de eu ter sentido uma certa frieza da sua parte. Quando ela cumprimentou Vítor, eu senti ainda mais frieza, desta vez vinda dele. Ninguém mais pareceu notar e ela se sentou e comeu junto da gente.

Eu estava estranhando aquela atitude. Primeiro aparece do nada, depois Vítor é frio com ela, contrariando o que ele tinha me dito, de que ela era quem estava distante dele. Decidi não me preocupar muito com aquilo no momento. Se fosse algo sério, Vítor me contaria mais tarde.

Ela se sentou conosco e almoçou enquanto conversava com dona Rosa. Vítor permaneceu calado pelo resto da refeição. O clima estava estranho. Mal sabia eu que dali para frente só pioraria.

- Parece que você vai sobrar Bernardo, o Vítor agora só vai ter olhos para a Mariana. - brincou a mãe dele.

Nem havia pensando nisso, mas era verdade. Não dava para eu ficar ali segurando vela, e nem iria fazer Vítor escolher entre eu e ela. Eu tinha que arranjar um jeito de ir embora. Obviamente, eu me sentia péssimo por ter que ser daquele jeito, mas entendia que era como devia ser. Eu já havia aceitado que meu amor pelo meu amigo era platônico, nunca se concretizaria.

- É... - como eu poderia ir embora sem parecer mal educado?

- Não preci... - Vítor começou a falar, mas o Rafinha foi mais rápido.

- Deixa eles pra lá Bernardo, vem comigo ver meu novo álbum de figurinhas!

- Ok, vamos lá! - me deixei ser puxado por ele. Atrás de mim senti Vítor bufar de raiva.

Fui com Rafael até seu quarto e ficamos distraídos vendo seu álbum de figurinhas. Ele era uma criança especial, mas sem dúvida tinha o mesmo defeito do irmão mais velho: era muito carente de atenção. Eu me concentrava na tagarelice sem fim do Rafinha para esquecer as cenas de Vítor e Mariana juntos que povoavam minha cabeça, mas uma cena deles bem diferente do que eu imaginava chamou minha atenção. Corri até a janela do quarto e assisti ao que parecia ser uma discussão entre os dois no lado de fora do casarão. Ela apontava o dedo para ele ameaçadoramente, enquanto ele respondia com cara de desprezo. Num certo momento, pareceu que ela havia dito alguma coisa muito grave, pois Vítor levantou a mão para lhe dar um tapa no rosto. Meu coração gelou: ele seria capaz de bater nela? Felizmente não. Ele se controlou e saiu pisando duro sem direção, para longe da sede. Mariana ficou parada chorando.

Aquilo havia sido muito estranho. Certamente alguma coisa muito grave estava acontecendo entre eles. Eu precisava descer e ajudá-los, afinal eles me ajudaram quando precisei de apoio. Pedi ao Rafinha que me esperasse e desci as escadas. Eu queria ajudar Mariana, pois claramente ela estava sofrendo, mas era impossível negar que eu estava um pouquinho feliz com aquilo. Me enchia de esperanças. Isso me tornava uma pessoa ruim?

Mariana se assustou quando coloquei a mão em seu ombro. Ela se virou para mim, e quando se deu conta de quem eu era, pude sentir um sentimento ruim passando pelo seu corpo.

- Você está bem?

- Eu pareço bem? - sua voz era irônica e raivosa.

- Não... - fiquei sem jeito com a grosseria - Eu vi vocêsAh, lógico que viu! - sorriu de um jeito falso e cruel.

- Desculpe, não era minha intenção.

- Para com isso! - ela agora gritava - Pare de se fazer de inocente, é tudo culpa sua!

- O que eu fiz?

- Não se faça de burro, você definitivamente não é. Acha que eu já não percebi seu joguinho para me separar do Vítor?

A cada instante que passava aquela conversa ficava mais estranha e perigosa. Seu tom era de acusação, mas eu não sabia qual o crime que havia cometido.

- Que joguinho, Mariana? Eu não sei do que você tá falando.

- Mentira! Você, todos esses dias, vem minando meu namoro com Vítor. Sai com ele todos os dias, ficam o dia inteiro juntos, sabe-se lá fazendo o quê. Você quer me afastar dele!

- Não, Mariana, eu juro. É sempre ele que me procura...

- Vai dizer que isso não te interessa?

- Hã?!

- Vai dizer que não gosta dele, de estar sempre com ele, todos os dias, todo o tempo?

- Gosto, é claro. Ele é meu amigo, uai.

- Você entendeu o que quis dizer. - sua voz era baixa, ameaçadora - Você está ou não está apaixonado pelo meu namorado?

Eu não sabia o que dizer. Ela tinha percebido tudo. Eu estava perdido. Me senti perdendo o chão. Ela ainda me encarava com seus olhos vermelhos e inchados.

- E então, você está ou não está apaixonado por Vítor?

- Mariana...

- Eu sabia! Você não consegue nem mesmo negar! - ela se afastou de mim repentinamente, mas ainda me apontando e gritando.

- Me desculpa, eu não tinha a intenção... - eu chorava de desespero com a situação.

- Cala a boca, sua bicha. - ela se aproximou de mim vociferando cada palavra - Eu tenho nojo de você. Você é imundo. Juro que tentei te ajudar, mas você me apunhalou pelas costas. Você é como todos da sua laia, a escória do mundo. Você viverá sempre na margem da sociedade, sabe por quê? Porque é lá onde vivem pessoas sujas como você. E só para informar, eu não vou desistir do Vítor. Eu vou lutar com o que eu puder e pode ter certeza que ganharei. Agora é guerra.

Eu fiquei parado assistindo Mariana ir embora. Caí de joelhos na grama e tive que apoiar minhas mãos no chão para não acabar deitado. O que estava me matando por dentro não era o discurso daquela garota repleta de ódio. Era a constatação de que suas palavras eram verdadeiras. Imundo, sujo, a escória do mundo. Eu era aquilo tudo que ela falou; só não queria enxergar antes. Não consegui segurar as lágrimas. Eu me sentia a pior pessoa do mundo.

Senti uma pessoa passar as mãos pela minha cintura e me levantar. Eu não conseguia nem mesmo levantar minha cabeça para ver quem era. A pessoa me arrastou para dentro do casarão, subiu as escadas comigo, me levou para dentro de um dos quartos e me deixou cair em cima da cama. Eu não falava nada, ainda estava atordoado. Meu olhar estava perdido.

Vítor estava na minha frente, mas eu não o via.

- Bernardo, o que ela fez com você? O que ela te falou? - sua voz transparecia preocupação.

- A verdade.

- Que verdade, Bernardo? - seu tom beirava o desespero, minha aparência devia estar péssima.

- Que eu sou sujo, a escória da sociedade, a vergonha da minha família.

- Não, você não é! Ela é que uma má pessoa. Menina mimada, não aceita não como resposta. Você acredita que ela teve a coragem de insinuar que você está apaixonado por mim?

Olhei para ele assustado. Pronto, a mentira tinha se acabado, era agora ou nunca.

- Não se preocupe, eu sei que é mentira. Ela só disse isso para me desestabilizar, e conseguiu porque eu quase dei um tapa nela na hora.

- É.

Eu sei que aquela seria a hora ideal para contar tudo, abrir meu coração para ele, mas não consegui. Fui covarde, apenas concordei que era mentira de Mariana. Não sei bem o motivo, acho que foi a surpresa, eu já tinha decidido guardar esse sentimento só para mim.

- Então, não fica assim não, ela só falou para te ferir, como fez comigo. -

falou com uma voz doce e olhando no fundo dos meus olhos.

- Não tem como Vítor, não consigo simplesmente esquecer. As palavras ainda ficam ecoando em minha cabeça.

- Bernardo... - ele ficou sem jeito.

Vítor subiu na cama e se deitou ao meu lado. Posicionou a minha cabeça sobre seu ombro. Aquilo me pegou desprevenido. Ele nunca foi o que podemos chamar de amigo carinhoso, não era de abraçar ou fazer declarações emocionadas. Ele logo começou a cantar baixinho uma música do Legião Urbana que eu e ele adorávamos:

“Mas é claro que o sol vai voltar amanhã

mais uma vez, eu sei

Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã

Espera que o sol já vem

Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena

Acreditar nos sonhos que se tem

Ou que seus planos nunca vão dar certo

Ou que você nunca vai ser alguém

Tem gente que machuca os outros

Tem gente que não sabe amar

Mas eu sei que um dia a gente aprende

Se você quiser alguém em quem confiar

Confie em si mesmo

Quem acredita sempre alcança...

Quem acredita sempre alcança...

Quem acredita sempre alcança...

Quem acredita sempre alcança..”.

(Mais uma vez – Renato Russo)

Fechei meus olhos com medo de aquilo ter sido apenas um sonho. Respirei devagar seu perfume amadeirado que me fazia tão bem. Foi como um remédio, imediatamente me senti muito melhor, me esqueci das palavras de Mariana e as sensações ruins que ela me causava. Ficamos em silêncio naquela posição pelo que pareceu breves segundos, mas se revelou ser a tarde toda, pois logo anoiteceu. Durante aquela tarde era como se só existisse nós dois no mundo. Era incrível o sentimento quase palpável que estava no ar.

Ali, pela primeira vez, eu percebi que Vítor me amava, e para isso ele não precisou me dizer nenhuma palavra.

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