Ryan foi trabalhar e eu fiquei em casa, ele saiu sem se despedir, já havíamos brigado claro, mas nunca dessa forma, no fim da tarde já perto da minha hora de ir trabalhar ele me mandou uma mensagem falando que iria dormir na casa da mãe dele, isso me cortou o peito, apenas respondi que tudo bem, mas não estava nada bem, mil coisas se passaram pelo minha cabeça, e se ele estivesse me traindo e se isso fosse o que faltava para que ele terminar comigo, Ryan anda estranho a dias cheio de segredos, não sei o que pensar e nem posso falar com Fabim sobre isso, preocupa-lo só o faria vir me ver e separar ele de sua família é a última coisa que quero agora, então me encolhi no canto do sofá abraçando minhas pernas e choro até a hora de ir para o trabalho.
Cheguei atrasado e meu gerente não perdoou, depois de ser quase demitido e de ter sido humilhado levando um puxão de orelha na frente de todos eu fui me trocar, quando cheguei no balcão vi que Ton já tinha feito todos os preparativos para a abertura, ele percebeu que minha cara estava pior do que a de de manhã, o movimento do sábado é cheio ainda mais quando tem banda ao vivo, o restaurante fica cheio e muitas pessoas pedem drinks.
Quando estou mal costumo focar no trabalho, mas estou tão preocupado com Ryan que nem isso consigo fazer, eu confio nele, mas a cena da traição do Max reapareceu na minha mente e penso que também confiava cegamente nele, não vou aguentar passar por isso de novo, estou fazendo um esforço gigante para não chorar, até que Ton me chama.
— Chico, vai lá dentro tira uns quinze minutos que eu te cubro.
— Não, não posso fazer isso o gerente já está na minha cola. — Falei cansado.
— Deixa comigo, vai lá, sério.
O encaro por um tempo e aceito sua oferta, vou para o deposito, lá tem uma pia pequena que eu uso para limpar o rosto, pego meu celular e tem uma mensagem so Ryan “Eu te amo” essa simples frase acalma muito dos meus medos, respondo o mesmo para ele e ele me liga numa chamada de vídeo.
— Amor, desculpa. — Ele está com os olhos vermelhos e assim como eu.
— Eu é quem tenho que me desculpar.
— Você é tudo na minha vida Chico, eu fui um idiota. — Ele fala e quero chorar de novo.
— Eu te amo Ryan, eu tinha que ter falado antes.
— Vamos esquecer isso, pode ser?
— Por favor. — Falei enxugando as lágrimas.
— Você está num intervalo?
— Não, Ton está me cobrindo, precisava de um tempo.
— Ton, quem é esse?
— O Ton, ou melhor Everton que trabalha aqui e que você conheceu hoje de manhã. — Ryan não parece ter gostado, mas encerrei a ligação falando que tinha que voltar ao trabalho antes que a gente brigasse de novo.
Vejo nos storys da irmão dele que eles estão na casa da mãe dele, já dava para perceber que ele estava lá pela chamada de vídeo, mas essa confirmação foi como um alivio enorme para mim, sei que ele nunca teria coragem para me trair, mesmo assim esse medo irracional ainda mora em mim, de qualquer forma volto para o trabalho e vejo que o plano do Ton deu certo já que pelo resto da noite fico esperando meu gerente me chamar atenção, mas isso não acontece, encerramos tarde dia de Sábado é sempre assim, enquanto estamos encerrando Ton puxa assunto.
— Eu vou passar no Guto para tomar uma gelada, quer ir?
— Acho melhor ir para casa. — Falei.
— Você quem sabe, só me pareceu que você estava precisando. — Ele fala.
— Estou sim.
— Então? — Ele insiste.
— Tudo bem, uma gelada não vai me matar.
Saímos do trabalho na bicicleta dele, existe algo libertador em andar por aí sentindo o vento no meu rosto, o frio da noite chicoteando no meu rosto, na primeira vez foi estranho, só que agora é bom, poderia me acostumar com essa carona sempre, estou tão imerso na calmaria da noite que esqueço por dois segundos tudo que deixou meu mundo de cabeça para baixo, agora só existe eu e o frio da noite.
— Seu Guto desce a mais gelada que tiver. — Ele pede assim que pegamos uma mesa livre, o lugar está quase vazio, o movimento do seu Guto anda meio fraco tem um tempo, mas não abro mão de vir para cá.
— Obrigado. — Falei quando Ton serviu meu copo.
— O que aconteceu?
— Estou preocupado com a briga que tive com o Ryan. — Falei.
— Ele te ama, vocês vão se entender.
— Eu não sei, ele foi dormir na casa da mãe dele, tipo nós falamos naquela hora que você me cobriu, mas ele ficou puto de novo e não sei o que pensar.
Ton me escuta pacientemente foi muito bom poder desabafar com alguém, pior que eu mal conheço o cara e já estou descarregando meus problemas nele, começo a me desculpar quando me dou conta disso, mas ele é muito gentil e atencioso enquanto me tranquiliza, tomamos ainda mais uma duas e no fim ele não me deixou rachar a conta com ele e ainda insistiu para me deixar em casa.
Aceito só para poder andar mais de bicicleta, pela noite fria, ele me deixa na frente do meu prédio, nós despedimos e ele vai embora, quando entro no meu apartamento sinto um vazio terrível dentro de mim, experimento a sensação do que vai ser se Ryan sair de casas, vai ser só uma casa, fria e sem graça, bem diferente do lar que criamos para nós.
O apartamento vazio me deixa muito deprimido, tomo apenas um banho rápido e vou para cama sem comer nada, mesmo cansado não consigo pregar os olhos, estou tão distraido que tomo um susto quando escuto um barulho do quarto, quando olho vejo Ryan me olhando com um sorriso amarelo, deixando a sua mochila cair no chão.
— Não consigo dormir sem você. — Ele fala.
— Nem eu, vem aqui. — Estendo meus braços e ele vem deitar comigo, o abraço com toda minha força, ele me beija muitas vezes e só consigo pensar que se isso for um sonho não quero acordar.
Ele trouxe janta para mim pois sabia que eu não tinha comido nada, ele me conhece mesmo bem, na cozinha enquanto jantamos juntos conto a ele sobre minha noite péssima no trabalho e sobre ter ido tomar uma cerveja no Guto com Ton, não vou mais guardar segredos dele não importa o que aconteça.
— Amor confio em você, mas não gosto desse cara. — Ele fala.
— Se você confia em mim não tem porque se estressar com isso, eu te amo Ryan não existe homem para mim além de você, Ton em tem sido um ótimo amigo só isso.
— Tá bom, só não quero mais brigar, prometo que vou tentar conhecer esse tal Everton.
— Eu amo você. — Falei sentando em seu colo e beijando muito sua boca.
— Também te amo, sobre aquele outro assunto, o que você quer fazer?
— Não sei, eu queria justiça, ele quase te matou, acho que aceitar o dinheiro é simplesmente ignorar tudo pelo que passamos. — Falei.
— Tá vamos esperar o Di ligar, ele deve ligar hoje ou amanhã, aí dependendo do que ele disser, se for viável levar o processo adiante vamos fazer isso.
— Está falando sério? — Foi como um peso enorme saindo das minhas costas.
— Chico, eu estou com você no bom e no ruim, eu ta amo tanto que nem sei explicar, ficar brigado com você foi a pior coisa que já fiz na vida.
— Para mim também, não quero mais brigar amor.
— Sem mais mentiras? — Ele fala me dando o dedinho.
— Sem mais mentiras. — Fazemos a jura de dedinho, me vem perguntar o que ele vem me escondendo, mas nosso clima está bom não vou me preocupar com isso agora, não sei como pude achar que ele poderia ter outra pessoa ou que não me quisesse mais, se só de olhar em seus olhos percebo que esse homem é tão meu quando sou dele.
