Fuga, uma solução para questões irremediáveis

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Gay
Contém 17603 palavras
Data: 16/02/2024 13:17:26

Fuga, uma solução para questões irremediáveis

O imenso navio de cruzeiro deslizava devagar para fora do porto de Southampton na confluência dos estuários dos rios Test e Itchen deixando o terminal de passageiros, de onde os acompanhantes dos turistas embarcados ainda acenam numa despedida prolongada, a poucos dias do último dia do ano. Do convés, eu observava e cena desprovido de qualquer emoção, era como se eu as tivesse perdido devido aos últimos acontecimentos. Eu passaria os próximos 29 dias a bordo, no que já considerava um desatino. Nunca fui dado a rompantes, a tomar decisões impensadas, o bom-senso sempre me norteou os passos, o que eu estava fazendo a bordo daquele navio sem ter dado nenhuma explicação a quem quer que fosse? Não havia uma resposta a essa pergunta. Não uma racional, e quem sabe, nem mesmo uma baseada nos sentimentos que estavam me perturbando.

Nem mesmo a reação do Piers quando voltasse da casa dos pais em Doncaster onde foi passar o Natal, e não me encontrasse em casa, era algo que me tiraria daquela catatonia imobilizante. Era como se o ontem já fizesse parte de um passado muito distante, que não despertava mais nenhuma reação ou sentimento. Em meu peito, no lugar do coração, parecia haver um bloco de gelo; quando há questão de duas semanas fervilhava dentro dele um amor incondicional e maior que o próprio universo.

- Achei o Piers tão estranho quando me despedi dele esta manhã. – confidenciei à Zara, uma amiga de infância que estava morando temporariamente conosco.

- Estranho como?

- Não sei! Faz alguns dias que ele está assim, talvez esteja tendo problemas no trabalho e sabe como ele é, quer sempre me poupar de tudo. – respondi. A conversa parecia estar perturbando a Zara.

- É, é bem possível!

- Sempre fazemos amor na véspera de um de nós ficar uns dias longe, mas quando o procurei ontem à noite, ele se esquivou, disse que estava cansado e precisava estar descansado para enfrentar a estrada hoje.

- Sabe como são os homens, difíceis de entender! – retrucou ela.

- Claro que sei, sou homem e não há nada de difícil de entender em nós! – devolvi

- Você entendeu o que eu quis dizer!

- O Piers não é de agir assim! Sei que ele não estava nem um pouco animado para passar o Natal na casa dos pais, isso se tornou um tormento para ele quando não aceitaram o nosso relacionamento, acusando-o de estar se relacionando com um pervertido. Eles ainda são daqueles católicos tradicionalistas fanáticos que enxergam o pecado em tudo aquilo que presenciam fora das pregações dos padres. Para eles, eu sou o diabo personificado que veio atentar o filho deles para conduzi-lo ao inferno através de coitos blasfêmios. Eu nunca os digeri, especialmente o pai, um sujeito asqueroso que dá em cima das mulheres sem o menor pudor, e se faz de devoto fervoroso dos ensinamentos cristãos. Um pulha. – argumentei.

- É vai ver é isso! – devolveu ela.

Eu quase ia mencionar que ela também andava meio esquisita nas últimas semanas, mas me calei porque sabia que era pouco receptiva a críticas, e logo se fazia de vítima encenando um dramalhão. A Zara e eu nos conhecemos na adolescência, estudávamos no mesmo colégio quando eu era o garoto mais tímido da classe por já desconfiar que não era igual aos demais garotos, mas que era gay. Eu só tinha um amigo na escola, o Joey, um garoto que morava a poucos quarteirões da minha casa e era órfão de mãe. Eu sempre desconfiei que ele era meu amigo mais por conta da minha mãe do que propriamente por mim, pois ela o tratava com o mesmo carinho que tratava a mim e ao meu irmão. Isso sem mencionar que ele era tarado por doces e bolos, e minha mãe sempre o chamava quando fazia algum, ou lhe mandava um pedaço através de mim.

- Amo sua mãe, cara! Ela é muito boa nisso, insuperável! – exclamava ele, quando engolia afoitamente algo que ela havia preparado.

Naquela época a Zara era uma garota meio balofa, usava umas roupas largas que a faziam parecer mais gorda do que era na realidade, afora o gosto duvidoso das estampas florais enormes e dos acessórios coloridos que usava. Apelidaram-na de árvore de Natal por conta desses exageros, e nenhuma outra garota queria ser vista ao lado dela, para não espantar os garotões metidos a machos que, movidos pela testosterona recém-adquirida, perseguiam as vaginas como cães farejadores. Para mim pouco importava se uma garota era magra ou gorda, tinha peitos grandes ou pequenos, era insossa ou gostosona, era uma garota e isso já era o suficiente para eu não me interessar. Ao contrário de mim, a Zara era atirada e extrovertida, sabia que a achavam feia, e isso alimentava seu rancor contra tudo e todos. A estrutura familiar desfeita com o divórcio litigioso dos pais também influenciava seu comportamento. Para ela todo homem era um cafajeste e toda mulher uma puta.

Eu era como um bichinho para ela, que podia ser o centro de suas atenções em troca de algum afeto desinteressado. Foi isso que nos tornou amigos. A primeira pessoa para quem contei que era gay fora da minha família foi ela. Isso não a impressionou, na verdade, quem se espantou com a indiferença dela fui eu, pois pensei que deixaríamos de ser amigos depois que contei. E assim fomos crescendo e trocando confidências. Ela me perguntava quando eu deixar de ser virgem, que aos 19 anos já tinha passado do tempo, feito uma maçã apodrecendo no pé.

- As bocetas encruam quando não são usadas, com o cu deve acontecer o mesmo; no dia em que você decidir dar esse rabão privilegiado que Deus te deu, já vai estar feito uma uva passa, nem pinto murcho de velho vai querer entrar aí. – argumentava a safada, especialmente depois que entregou a virgindade a um motorista de caminhão que vinha do interior duas vezes por semana descarregar a carga no supermercado do bairro onde morávamos.

- Você não presta, mente suja! – retrucava eu, incomodado com os disparates que ela proferia, particularmente em relação a minha bunda e ao fato de continuar virgem e com medo de tudo que fosse rapaz ou homem que me encarava cheio de tesão.

- Você devia ser padre! Não gosta de mulher, não usa o pinto, e não sabe o que fazer com o cu. Melhor rezar ao lado das beatas, ao menos estaria fazendo algo de útil. – sentenciava ela, quando queria implicar comigo, o que era um de seus passatempos preferidos.

Não sei porque eu a amava e a deixava falar essas barbaridades sem me deixar melindrar. Eu já havia assimilado que a Zara era assim, e ponto. Não demorou muito para a mãe a expulsar de casa depois que enfiou um novo macho no lugar do pai dela dentro de casa. O convívio entre ambas se tornou insustentável, ela foi morar com uma amiga solteira um pouco mais velha e começou a trabalhar numa empresa de importação e exportação, o que bancava seus gastos. Enquanto eu seguia meu caminho perseguindo uma formação acadêmica e uma carreira sólida, ela flutuava ao sabor da maré sem um objetivo definido. Estava sempre endividada, estava sempre metida num relacionamento tumultuado, estava sempre precisando da ajuda dos amigos para seguir em frente. Por sorte, se é que se pode chamar assim, ao se tornar adulta adquiriu um corpo esguio e sedutor que, não como na adolescência afugentava os garotos, mas atraía os machos como moscas no mel. As amizades dela vinham e iam na mesma velocidade de seus atos impensados, que deixavam um rastro de pessoas magoadas pelo caminho. Eu continuava o único amigo fiel no qual ela podia confiar nos eternos momentos difíceis pelos quais passava, fosse para apenas choramingar suas mágoas nos meus ombros, fosse para me pedir dinheiro emprestado, ou fosse para saber que ao menos alguém ainda se importava com ela.

A Zara veio me pedir asilo havia uns quatro meses, depois que o último namorado, um personal trainer de academia bombadão que tinha mais músculos do que cérebro a trocou por uma cliente e a colocou para fora do muquifo onde moravam. O Piers torceu o nariz quando lhe dei a notícia, a nossa amizade era algo que ele não via com bons olhos, mas para não me contrariar aceitou que ela viesse se alojar no quarto de hóspedes.

- Você a avisou que é por pouco tempo, Edric? Se não avisou, avise; sabe que ela gosta de se encostar nas pessoas sem a menor cerimônia. – disse ele quando lhe comuniquei.

- Sim, eu disse que seria temporário! Coitada, que custa dar uma força? Ela está sem emprego outra vez e, sem aquele cafajeste, não deve estar sendo fácil para ela. – retruquei.

- Não sei se você já percebeu, mas ela sempre está sem emprego e sem ter para onde ir depois que um malandro qualquer dá um pé da bunda dela. Sabendo que você é um bom samaritano, toda vez ela vem choramingar as desgraças dela no seu ombro e você se deixa comover e resolve os problemas que ela deveria resolver, afinal é uma mulher adulta e sabe o que está fazendo. – eu já previa esse sermão do Piers, e sabia que bastava deixá-lo excitado e gozar algumas vezes no meu cuzinho para ele se esquecer de tudo. – Caralho, Edric, com essa mulher aqui dentro de casa perdemos toda a liberdade. Vou ter que ficar me policiando toda vez que quiser te dar uma enrabada, que saco! – eu ri, fui até ele, acariciei seu rosto hirsuto e o beijei, enquanto acariciava o benga dele sob a calça. – Está vendo, é disso que estou falando! Quando vai poder fazer isso se ela estiver aqui dentro?

- Juro que não vou deixar você e esse pauzão sem meus devidos cuidados. Eu te amo, seu bobão carente! – ele riu e me deu um tapa estalado na bunda. Era sua maneira de concordar com a vinda da Zara para a nossa casa.

Como o Piers foi passar o Natal com os pais e eu ia para a casa dos meus num bairro próximo, resolvi não montar uma árvore da Natal naquele ano. Propositalmente não perguntei à Zara onde ela passaria o Natal, e nem fiz menção de convidá-la para vir comigo à casa da minha família. O Piers estava certo, ela era uma mulher adulta e precisava dar um rumo na vida sem a constante ajuda dos outros.

O Piers só estaria de volta para o Réveillon, tínhamos combinado com uns amigos de festejar a passagem do ano num hotel em Londres mesmo. Com o Natal se aproximando, dava para perceber que a Zara queria me falar alguma coisa, mas estava ensaiando há dias. Eu nem tocava no assunto, pelo motivo que já expus.

- Preciso te contar uma coisa! – começou ela, numa manhã durante o café, antes de eu seguir para o trabalho. Eu já esperava pela ladainha de – vou ficar sozinha e abandonada na noite de Natal e, mais isso e mais aquilo – quando ela despejou a novidade. – Estou grávida! – soltou, me encarando.

- Que maravilha, Zara! Uau, é fantástico! Quero ser o padrinho, nem me venha com desculpas! De quantos meses está? Não se percebe nada! Zara, minha amiga, vem cá deixa eu te dar um abraço! Parabéns! – eu fiquei tão feliz como se o pai fosse eu. Era a primeira vez que alguém tão próximo e querido ia ter um filho.

- É, é bem legal! Entrei no quarto mês. – respondeu ela

- Por que não me disse nada antes? Sabe que eu sempre torci pela sua felicidade! Então foi pouco antes de você se mudar para cá, pois está fazendo mais ou menos quatro meses que você veio morar conosco. Você já contou para o ..., como é mesmo o nome do bombadão, o mister músculos sem cérebro?

- Já, já falei com ele!

- E como foi que ele reagiu? Não me diga que ele se fez de sonso e não vai assumir essa criança, que eu mesmo vou lá e dou uns cascudos naquele troglodita. – afirmei

- Não, foi numa boa! Ele não disse muita coisa, ficou feliz, eu acho.

- É bom mesmo ele nem pensar em cair fora. Ele precisa te ajudar a criar essa criança, Zara! Não dá moleza não! Esses caras acham que é só ir metendo o pinto em tudo que é buraco e não se responsabilizar pelas consequências. – proferi naquele dia, como se coubesse a mim julgar as atitudes alheias.

- Sim, sim! Ele vai ajudar.

- Não te sinto tão animada, você devia estar nas nuvens! Ter um filho é uma das melhores coisas que podem acontecer em nossas vidas, não acha? Por que não parece feliz? – questionei.

Ela olhou para mim, as lágrimas começaram a descer pelo rosto dela e eu fui abraçá-la, pois sabia de seu histórico e de que nunca teve um lar onde se sentisse segura.

- Você é a melhor pessoa que existe, Edric! Eu não queria, mas você vai me odiar. Eu juro que não queria que isso acontecesse, Edric! – balbuciava ela no meio do choro.

- Quem te odiaria, Zara? Estar grávida não faz as pessoas gostarem menos de você!

- O Piers também pode ser o pai dessa criança! – o copo que estava na minha mão cheio de suco se espatifou no chão.

Olhei fixamente para a Zara imaginando que não tinha ouvido o que entrou pelos meus ouvidos. Ela olhava para mim com uma expressão imparcial. Ela deve ter trocado o nome do Piers pelo do bombadão, foi o que pensei, enquanto reinava aquele silêncio perturbador. Por alguma razão meus pés não se moviam, pareciam estar colados no chão. Começava a me faltar o ar, a saliva que eu tentava engolir não passava pela garganta que ia se fechando como se estivessem me estrangulando.

- Como é, o Piers? O que você quer dizer com isso? O Piers, pai dessa criança? Nem brinca com um assunto sério desses, Zara! – ela continuava me encarando, aquela expressão imutável em seu rosto, e a dor crescendo dentro de mim.

- Naquela semana em que você foi para Bruxelas a trabalho, e o Piers e eu ficamos sozinhos aqui, foi quando aconteceu. – confessou ela.

- Eu viajei poucos dias depois de você ter deixado o bombadão e se mudado para cá, não pode ser! – exclamei, caminhando feito um louco de um lado para outro tentando juntar acontecimentos com datas num emaranhado que revolvia toda minha cabeça.

- Tive uma discussão com o John por telefone, ele me devia um dinheiro e disse que não ia devolver por conta do tempo que morei com ele sem dividir as despesas do aluguel. Ele me ameaçou, disse que ia me dar uma surra se eu voltasse a cobrar a dívida, o Piers ouviu parte da discussão e quando desliguei, estava chorando e fui me atirar no ombro dele. Eu precisava de alguém naquele momento, entende, Edric? Eu estava desnorteada, sem grana e sem emprego, e aquele desgraçado se recusando a me devolver o pouco que eu tinha juntado. O Piers disse que vocês dariam um jeito de me ajudar, se mostrou carinhoso, e eu ... – não a deixei terminar.

- E você quis se assegurar dessa ajuda se enfiando na cama com ele e o fazendo meter a pica na sua boceta, não foi assim, Zara? Diga! Não foi assim, Zara? – berrei a plenos pumões.

- Desculpe, Edric! Desculpe! Eu não queria, juro, não queria! – repetia ela, vendo minha angústia arrancando tudo que eu sentia pelo Piers do meu peito.

- Como não queria, sua ... sua puta do caralho! Se você não quisesse não abria as pernas para o meu marido dentro da minha casa, da casa onde eu te acolhi com todo carinho, sua vagabunda desgraçada! Você sabe o que fez comigo, você acabou com o meu relacionamento com o Piers! – gritei colérico. – Justo eu que sempre te ajudei! Você me apunhalou pelas costas, entrou aqui e fez meu homem te engravidar, como você pode, Zara? Me explica como você pode ser tão miserável, ingrata e ... e ... e... Vá à merda, Zara! Vá à merda! Saia da minha casa agora, sua vagabunda! Sai daqui, Zara! – gritei, esmurrando a mesa e tudo que encontrava pela frente.

- Eu não sei quem é o pai desse filho, Edric. Juro que não sei! Pode não ser do Piers. – argumentou ela.

- Não me importa quem é o pai, Zara! Você trepou com o meu marido pelas minhas costas, se aproveitou da minha ausência para seduzir meu homem. Você acabou com oito anos de uma vida feliz que eu tinha com o Piers! Você consegue entender que acabou com a minha vida? Eu nunca mais quero olhar para a cara dele, nem ouvir qualquer desculpa que ele quiser me dar, o mesmo vale para você! Fora da minha casa, desgraçada!

- Eu não tenho para onde ir, Edric! Perdão! Perdão, Edric! Não me jogue na rua! – suplicou ela. Foi quando meu coração foi substituído pelo bloco de gelo.

- Foda-se, Zara! Foda-se! Suma da minha frente, agora! – berrei, indo até o quarto de hóspedes e arrancando tudo das gavetas e lançando pela janela. Eu precisava jogar fora toda aquela dor que estava esmagando meu peito, e as roupas voando pela janela pareciam ter esse efeito.

Ela suplicou até o último momento, até se arrastando aos meus pés quando a coloquei porta afora. Eu não sentia nada, só um enorme vazio, um vácuo. Não fui trabalhar naquele dia, não conseguiria me concentrar em nada. Voltei para o quarto e me joguei na cama chorando sem parar. De repente, me levantei e comecei a arrancar as roupas de cama, um asco profundo parecia me fazer vomitar, só de pensar que o Piers e ela fizeram aquela criança naquela cama onde eu o amei e me entreguei de corpo e alma aos desejos e vontades dele. Saí da casa e fui caminhar, pensei em me jogar da plataforma sobre os trilhos quando a composição do metrô chegasse à estação East Putney, a mais próxima da Cambalt Road onde morávamos, pensei em saltar da Putney Bridge para dentro do Tâmisa, pensei como acabar com a minha vida agora que não me restava mais nada além da dor da traição e do vazio que seria continuar vivendo sem o Piers. Nada mais faria sentido. Quando estava atravessando a Putney Bridge sem um rumo definido, um barco passou sob os arcos da ponte e foi quando decidi comprar a passagem do mais longo cruzeiro que encontrasse. Eu só precisava sumir, sumir de tudo e de todos, curar aquela dor longe de tudo que me cercava, nem que fosse no fundo do mar em qualquer lugar desse planeta.

A moça da agência de viagens estava se empenhando ao máximo para me mostrar as opções de cruzeiro disponíveis para aquela época do ano, colocando uma porção de folders na minha frente e tagarelando sem parar. Eu nem prestava atenção nela, apenas olhava para as ilustrações nos folders e para encerar a questão, apontei o dedo sobre um navio aleatório.

- Este! – exclamei, sem mais nem menos. – MS Queen Victoria! 29 noites! Este serve. – afirmei, empurrando o folder na direção dela.

- Boa escolha! O itinerário éTanto faz o itinerário! Como escolho a cabine, qual é o valor?

- Para o período que o senhor escolheu e por estar próximo da partida, só as cabines mais caras estão disponíveis, mas o senhor não vai se arrepender seja lá qual for a sua preferência. Temos estas aqui com ...

- Pode ser qualquer uma! – respondi, sem nem olhar para as cabines disponibilizadas no folder do navio. – Como faço o pagamento? – perguntei. Ela começava a me olhar de modo estranho, devia achar que eu era algum lunático fugido de algum hospício, pois ao contrário dos demais turistas que procuravam a agência e faziam zilhões de perguntas, eu não estava interessado em nada daquilo.

- Temos todas estas possibilidades! – respondeu ela. Sendo a primeira o pagamento integral à vista. Foi para onde apontei o dedo, uma vez que ainda não sabia se voltaria dessa viagem ou, se a enceraria prematuramente saltando para dentro do mar num lugar qualquer.

- Faço um cheque ou transfiro o valor? – ela estava cada vez mais intrigada.

- Como preferir!

- Me passe os dados para a transferência, faço imediatamente!

- Pois não, vou conversar um momento com o dono da agência, só um minuto, por favor! – minutos depois ela volta acompanhada de um senhor de meia idade que me sorria feito uma hiena com uns dentes tortos e multicoloridos. Creio que para garantir que o louco, no caso eu, não estava cometendo alguma irregularidade.

- A que horas devo estar no porto? – perguntei, depois que ela me entregou uma papelada que nem conferi.

- Depois de amanhã, às 10:00h, o navio zarpa às 14h30m, às 12h30m o check-in é encerrado. – respondeu ela.

- Ok! Obrigado!

- Boa viagem, senhor! E tenha um Feliz Ano Novo a bordo! – desejou ela as minhas costas, mas eu não respondi, só queria sair dali e voltar para casa para fazer as malas.

Enquanto fazia as malas, também aproveitei para arrancar todas as roupas do Piers do closet e socá-las dentro de malas que fui empilhando na garagem. A casa já era minha quando decidimos morar juntos, portanto, era ele quem deveria sair. Quando olhei para o closet vazio comecei a chorar, meus últimos maravilhosos oito anos ao lado dele tinham findado.

Eu já estava no terminal de passageiros fazendo o check-in quando o Piers me ligou, a carinha sorridente dele fazendo careta para mim no dia em que comemoramos cinco anos de união num restaurante e depois trepamos até o amanhecer era o plano de fundo da tela do celular cada vez que ele me ligava.

- Preciso apagar essa porra! – murmurei comigo mesmo.

- Como, senhor? – perguntou-me o rapaz que fazia o check-in quando me ouviu balbuciar.

Sempre imaginei um cruzeiro com cenas românticas, pessoas se beijando e se abraçando, choros e promessas de reencontro enquanto uma multidão se agitava num cais ensolarado antes de o navio apitar anunciando a partida. Nada daquilo correspondia ao que eu presenciava do balcão da minha cabine. Para variar chovia em Southampton, o céu estava carregado de nuvens cinzas e fazia frio, os passageiros embarcavam apressados, se houve beijos, abraços e juras de qualquer coisa, elas já haviam sido feitas dentro do terminal de passageiros climatizado, o cais tinha pouco movimento à exceção de um ou outro funcionário fazendo as últimas inspeções, ao longe avistavam-se as águas escuras do estuário e lembro-me de ter pensado – é uma boa sepultura, talvez um pouco gelada, mas para um morto isso já não fazia diferença. Não saí da cabine pelo restante do dia, nem mesmo para jantar, e não sei quando foi que adormeci.

O clima não havia mudado muito desde o dia anterior, não chovia, mas o céu continuava nublado. Apesar de faminto, fiquei me espreguiçando na cama. Para tomar o café teria que enfrentar aqueles quase dois mil turistas falantes e risonhos, e a última coisa que eu queria era ver e ter pessoas ao meu lado; essas criaturas abomináveis que não hesitam em pisar nos sentimentos dos outros apenas para obterem alguma vantagem. Cerrei os punhos num ato reflexo inconsciente quando me vieram à mente a imagem da Zara e do Piers.

Com a barriga protestando com veemência, me dirigi para o almoço. Sentei-me ao lado de um grupo tagarela que logo quis puxar conversa, mas que acabou desistindo depois que dei algumas respostas monossilábicas e lhes dirigi uma cara pouco amistosa. Estava me arrependendo de ter comprado a merda do cruzeiro, aquele ir e vir de turistas num espaço confinado estava me deixando irritado, especialmente porque eles riam, falavam alto como se fossem crianças soltas num parque de diversões. Comprei um livro e fui até o deque superior aberto onde ficavam as piscinas; como apenas uma era aquecida, havia pouca gente circulando e a maioria dos que se dirigiram para lá, também se entretinham com alguma leitura nas espreguiçadeiras. Contudo, alguns corajosos se aventuravam na piscina e quando saíam da água corriam rápido agarrar e se enrolar numa toalha para se proteger o ar frio que soprava no Canal da Mancha.

Ao meu lado havia uma meia dúzia de espreguiçadeiras vazias e, quando um grupo de quatro homens saiu da piscina veio se sentar nelas. Eram todos jovens, com idades semelhantes à minha. Mesmo desolado e frustrado com os homens, não pude deixar de reparar como eram atléticos e atraentes dentro daquelas sungas recheadas com falos condizentes ao tamanho avantajado de seus corpos. Pronto, acabou o meu sossego, pensei comigo quando começaram a conversar animadamente, ignorando que eu estava entretido numa leitura e, portanto, desejando um pouco de silêncio e privacidade. O pior foi quando um deles, que estava se secando, resolveu sacudir a cabeça molhada e os pingos respingaram sobre o livro que eu lia. Dirigi-lhe um olhar feroz que, mesmo assim, não lhe provocou reação alguma. Foi como se eu não estivesse ali e o que acabou de fazer não exigisse um pedido de desculpas. Bufei e tentei me concentrar na leitura, mas estava tão irritado com aquele falatório que já pensava em mandá-los à merda; até me lembrar que o problemático, o traído, o fodido, o desiludido com a vida ali era eu. Me mudei para uma espreguiçadeira mais adiante, enquanto um deles passou a me observar com mais atenção. Da espreguiçadeira para onde me mudei, prestei um pouco mais de atenção nele por uns breves instantes. O danado era um tesão, grande, maçudo, ombros fortes, um tronco trapezoidal sólido, braços e coxas musculosos e revestidos com uma quantidade de pelos não exagerada, mas que lhe conferiam uma virilidade latente, uma cabeleira vasta e uma barba por fazer de cor acastanhada o faziam sexy, e isso me levou a dirigir o olhar para a sunga preta que estava usando, um pacote volumoso se alojava dentro dela completando seu aspecto másculo. Este deve ser outro desgraçado infiel que à primeira fenda que encontrar pela frente vai metendo esse volumão dentro dela, remoí em meus pensamentos, e parei de olhar para ele.

O navio estava em festa na noite do Réveillon, os salões decorados, a música tocando, as pessoas agitadas num frenesi incomum esperavam a passagem do ano como se depois da meia-noite suas vidas fossem totalmente transformadas numa eterna festa. Não sei porque deixei a minha cabine, talvez a alegria daqueles passageiros fosse contagiosa e eu pudesse ser infectado com um pouco dela. Vesti o smoking e circulei entre o povaréu excitado. Começaram a me observar, mulheres me lançavam olhares libidinosos e sorriam, alguns homens tinham uma expressão de inveja estampada na cara, outros me acompanhavam com o olhar fixo nas coxas grossas e bunda que preenchia a calça, os membros da tripulação em serviço se derramavam sorridentes me perguntando se estava precisando de alguma coisa. O que não mudava era a minha cara de poucos amigos, de um sujeito revoltado com o mundo.

Meu celular tocou uma dezena de vezes durante todo o dia, era o Piers. A caixa de mensagens recebia uma a cada ligação não atendida. Ele tinha chegado em casa há dois dias conforme planejado, após passar o Natal com os pais, e devia ter pirado quando encontrou suas coisas amontoadas numa pilha de malas e caixotes na garagem com o bilhete – Não se atreva a estar em casa quando eu voltar – escrito numa letra carregada de raiva. Não tenho dúvida de que a Zara entrou em contato com ele após a nossa conversa e de eu a ter expulsado de casa, contando qual foi a minha reação ao descobrir a sacanagem deles. Por mais dor e sofrimento que estivesse sentindo eu não ia perdoar nenhum dos dois fossem lá as desculpas e justificativas que apresentassem. Descartar a Zara da minha vida era como tirar uma carga pesada dos ombros, já o Piers, depois de tudo que tivemos juntos, era algo com o que eu não conseguia lidar. Ele estava definitivamente fora da minha vida, mas fazer meu coração aceitar isso não estava sendo fácil.

Os dois salões de festa do navio estavam apinhados, num deles uma orquestra tocava clássicos eternizados enquanto os casais, em sua maioria de meia idade, dançavam com os rostos colados; no outro, onde fiquei, uma banda também trazia alguns clássicos da música popular e lançamentos que ainda estavam tocando nas rádios. Ali os jovens se contorciam ao ritmo dos poucos compassos que compunham as músicas, ora com os rapazes se esfregando nas moças, ora rodopiando sem cadência agarrados a elas enquanto suas mãos percorriam seus corpos enfiados em vestidos com generosas fendas. Eu acompanhava tudo encostado num canto do salão, como faziam outros caras solteiros tentando caçar entre o plantel disponível aquela que valeria levar para a cabine para um foda descompromissada quando a noite acabasse. Minha intenção estava longe disso, nem sei porque me enfiei naquele smoking, e já começava a sentir o enfado de estar ali. De repente, a música parou e em coro as pessoas começaram a gritar a contagem regressiva para a meia-noite, iniciando pelo dez. Só então reparei, no lado oposto do salão, aqueles caras que me obrigaram a deixar a espreguiçadeira naquela tarde. No um, a gritaria se generalizou, as pessoas se abraçavam e desejavam – Feliz Ano Novo – para quem estivesse a sua volta, como se fossem velhos conhecidos. Não consegui segurar as lágrimas. Foi na noite de um Réveillon há oito anos que o Piers, numa praia de Savusavu na ilha Vanua Levu em Fidji, tirou do bolso da bermuda um par de alianças em ouro amarelo e branco me encarou, e gritou alto para se sobrepor aos fogos de artifício que enfeitavam o céu estrelado – Eu te amo, meu amor – colocando uma das alianças no meu dedo e depois me erguendo em seus braços e rodopiando comigo durante o demorado beijo que trocamos. Saímos correndo dali em direção ao bangalô onde estávamos hospedados e começamos a fazer amor como dois coelhos ensandecidos pelo tesão.

Saí apressado do salão pela primeira porta que encontrei e comecei a correr pelo costado até chegar ao deque deserto daquele andar. Soprava um vento frio, o navio deslizava sobre as águas escuras deixando um rastro de espuma branca e brilhante para trás. Encostei-me num balaústre e deixei o choro fluir copioso, eu soluçava tão forte que todo meu corpo sacudia, enquanto eu socava o corrimão da balaustrada e repetia rancoroso – Zara, sua puta, por que você fodeu minha vida? Zara, sua puta, por que você fodeu minha vida? – diante dos meus olhos eu a via com o ventre crescendo feito um bolo no forno.

Rapidamente me demovi de saltar sobre a balaustrada, a única coisa que conseguiria com isso era me espatifar no deque das piscinas dois andares abaixo, não ia morrer, só quebrar alguns ossos e promover um escândalo a bordo. Não, não valia à pena. Qualquer ação teria que ser definitiva, sem volta, e daquele deque isso seria impossível. Eu não o havia notado até então, do outro lado do deque, num canto pouco iluminado, andando em círculos e pisando forte enquanto berrava com alguém ao telefone, o parrudão da sunga preta, agora também metido num smoking só que de paletó branco. Cheguei à conclusão que fosse lá o que aquele cara estivesse trajando continuaria sendo um tesão de macho e, mesmo sem nada, e principalmente por isso, devia ser um macho estonteante. De onde eu estava, com o vento soprando na direção dele, só consegui ouvir o sonoro – filho da puta – que ele pronunciou antes de enfiar o celular no bolso e desferir um soco contra o armário onde se encontravam as mangueiras de incêndio. Só então ele notou minha presença. Ficou me olhando, ainda caminhando em círculos, depois parou. Notei que hesitava vir na minha direção, e torci para que não viesse, virando-lhe as costas para contemplar o rastro de espuma do navio que se abria num leque.

- Tendo uma noite de merda também? – perguntou, alguns minutos depois, quando estava postado atrás de mim.

- Com certeza! – respondi lacônico. Ele se debruçou ao meu lado na balaustrada e olhou na mesma direção que eu.

- Estou fodido e sem chão! – exclamou após um silêncio

- Ao que parece é o mal da noite! – devolvi

- E todos lá dentro comemorando o novo ano! Vou ter um ano de merda, não tenho o que comemorar! – afirmou, após outro longo silêncio

- Se serve de consolo, não estará sozinho! Eu ainda estou decidindo se vou ter esse ano de merda ou se o encerro já nas primeiras horas do primeiro dia nessas águas. – devolvi, o que o fez se virar na minha direção com um olhar de espanto.

- Acabo de ser notificado de que meu sócio fugiu para a Austrália com a minha noiva e todo o dinheiro da conta bancária da nossa empresa, traidores filhos da puta do caralho! Esta era para ser a nossa viagem de lua-de-mel. Uma semana atrás eu estava no altar, a igreja cheia de convidados, esperando pela entrada dela. Ela simplesmente não apareceu, o casamento não aconteceu e eu fiquei com cara de palhaço. Desde então estou à procura do paradeiro dela. Há pouco a irmã dela me ligou e me contou tudo. – revelou ele.

- Benvindo ao clube! Meu marido fez um filho na barriga da minha melhor amiga a quem dei suporte a vida toda. – revelei.

Por quase meia hora não falamos mais nada. Creio que ambos estavam se perguntando por que raios eu, por que comigo, devo ser um monte de bosta para todo mundo achar que pode cagar em cima.

- Também fugiram? – perguntou ele

- Não! Ela contou na minha cara, é mole? Contou como se estivesse me contando que foi até a esquina fazer compras no supermercado, e não como se falasse sobre uma tragédia. Fodeu com a minha vida, fodeu com oito anos de um relacionamento maravilhoso, fodeu, apenas fodeu e pronto. – despejei.

Ele começou a rir, teve um surto e não parava de rir. Senti tanta raiva que quis acertar um soco na cara dele, mas ele me encarava sem parar de rir até eu me sentir contagiado e também desatar num riso idiota sem sentido. Ele apoiou as pesadas mãos sobre os meus ombros e me olhava diretamente nos olhos.

- Bela dupla formamos! Dois fodidos na noite do Réveillon em pleno Atlântico. Não é hilário, patético, uma desgraça que só pode acontecer com desgraçados? – inquiriu, antes de parar de rir e continuar me encarando, sem soltar meus ombros. Eu não respondi, apenas continuei olhando fixamente para ele.

Sem eu esperar, ele me puxou contra si, cobriu minha boca com a dele e não se desgrudou enquanto eu não comecei a retribuir o beijo, o que fiz envolvendo seu tronco em meus braços. Ele era grande e quente, os lábios fortes capturavam os meus, a língua era enfiada na minha boca e a vasculhava durante os beijos que se seguiram. Ele me prensou contra a balaustrada jogando o corpão contra o meu, enquanto suas mãos tateavam sobre mim. Em meio a um beijo devasso, ele amassou minhas nádegas e apertou sua virilha contra a minha. Eu estava quase me pendurando em seu pescoço largo e musculoso, quando ele me ergueu pelas ancas e eu circundei minhas pernas ao redor dele.

- Você é um tesudo do caralho! – grunhiu com os lábios me beijando. – Estou com o pau estourando de tão duro! – acrescentou.

Olhamos ao redor, tudo deserto, ele já estava arrancando minha camisa pelo cós da calça, descendo o paletó pelos ombros e procurando me despir afoitamente. Podíamos ser vistos por algum outro passageiro querendo tomar ar fresco. Ele me puxou pela mão e corremos ao largo do costado tentando abrir alguma das portas de vidro que porventura estivesse destrancada. Fomos parar do outro lado do convés, até que uma porta deslizou para o lado e corremos para dentro. Era a área de fitness, imersa na escuridão e fechada excepcionalmente naquela noite. Enquanto ele arrancava as minhas roupas eu arrancava as dele do corpo. O meu estava pegando fogo, a qualquer toque dele sobre a minha pele o ardor aumentava. Quando estava completamente nu ele me empurrou para cima de uma prancha de supino, de bruços e com cada perna pendendo para um lado, ele afastou minhas nádegas abrindo o rego profundo e liso, feito um leão esfomeado meteu a cara barbuda no meio dos glúteos e começou a mordiscá-los. Eu rebolava e gemia, agarrado à prancha e olhando para céu através dos enormes painéis de vidro. Quando olhei para trás, ele estava em pé, o caralhão grosso em riste, as mãos começando a envolver a minha cintura, ele se ajeitando ajustando a virilha às curvas da minha bunda. Cacetão e saco deslizavam ao longo do meu reguinho, ele arfava forte soltando o ar acumulado nos pulmões por entre os lábios cerrados. Guiando a chapeleta melada ele a posicionou sobre a entrada da minha fendinha que ele, devido a escuridão, não via, apenas sentia na ponta sensível da pica. Ele deu uma forçada, senti dor e rebolei, a cabeçorra se deslocou. Ele voltou a apontá-la sobre as preguinhas do cu e forçou ao mesmo tempo em que impedia de eu me movimentar. O cacetão entrou no meu cuzinho e eu gritei, ele estava me rasgando todo.

- Para, para, está me machucando, caralho! – gani protestando. Ele não parou, deu outra estocada bruta. – Ai, meu cu! Para, cara! Para, está me arrebentando! Me solta! – berrei, sem ele me dar ouvidos e socar aquele caralhão grosso até o talo no meu cuzinho.

Ele não dizia nada, só gemia e bombava meu cu com força, arregaçando meu buraquinho apertado, como se estivesse tendo um surto. Lançando todo o peso do corpo sobre o meu, ele movia suas ancas vigorosa e freneticamente, socando o cacetão fundo nas minhas entranhas. Eu me debatia debaixo dele, implorando para que me soltasse, mas quanto mais eu me agitava e gania, mais ele se agarrava a mim, mordia minha nuca, esmagava meus peitinhos salientes em suas mãos. A dor que eu sentia era tanta que meu corpo se contraía todo, o ânus repentinamente travou, apertando ainda mais aquela rola enorme entalada nele. Comecei a temer que ele me arrancasse as entranhas pelo cu, tão vorazmente ele me fodia. Eu sabia que não ia gozar, o prazer não se manifestava, apenas aquela dor excruciante ia se apoderando do meu baixo ventre. No entanto, à medida que a cadência das estocadas se intensificava, ele grunhia mais alto e mais forte, até sobrevir o urro e com ele o gozo que encheu meu cuzinho com seu leite viril. Jatos e jatos se sucediam, com ele se estremecendo todo e agarrando minhas ancas com tanta força que seus dedos marcaram minha pele clara. Ao arrancar o caralhão do meu cuzinho e a saliência com a cabeçorra distender minhas preguinhas eu soltei outro grito. Olhei para ele, estava parado com as pernas ligeiramente afastadas o cacetão ainda dando pinotes, ele arfando feito um touro, olhava para as minhas nádegas carnudas cujo rego se fechou assim que o pauzão dele foi sacado, e sobre as quais escorria um pouco do esperma denso e leitoso que ele ejaculou em mim. Parecia não estar atinando com o que aconteceu, suas mãos deslizavam entre a cabeleira, e seus olhos não se desviavam de mim, nu, ali debruçado gemendo com o cu encharcado de porra.

- O que deu em você, seu maluco? Estraçalhou todo meu cuzinho! Estou tão machucado que mal consigo me mexer, que porra foi essa? – reclamei, exaurido e sentindo fortes cólicas abdominais.

- Cacete! Rabão tesudo do caralho! Vem cá, levanta! Consegue levantar, eu te ajudo! – retrucou, me puxando para seus braços e encostando meu peito em seu torso todo suado, enquanto eu me agarrava nele tentando juntar as pernas e ficar de pé. Em seguida ele me beijou intensa e demoradamente.

Fomos catando as roupas espalhadas pelo chão e nos recompondo. Eu não sabia o que dizer, estava tão perplexo por ter deixado isso tudo acontecer, sentia revolta por ter transado com um cara quando ainda nem tinha conseguido digerir direito a traição do Piers, que comecei a sentir raiva de mim mesmo.

- Preciso ir! – exclamei, quando me achei em condições de sair dali.

- É, eu também! Meus amigos devem estar me procurando. – respondeu ele quando eu já saía correndo pela porta.

Cheguei à cabine sem forças, corri para a ducha, meu cu sangrava e as cólicas pioraram. Joguei-me na cama com a toalha enrolada na cintura, tomei uns analgésicos para ver se conseguia controlar aquela dor. A madrugada corria e eu rolava sobre a cama segurando o ventre entre as mãos. O que deu em mim, perguntei-me. Nem o nome do sujeito eu sei, e deixei-o me arregaçar inteiro, cazzo que idiotice sem tamanho você fez, Edric? Com a vida toda fodida você deixa um sujeito bruto como esse rasgar todo seu cu, que porra! E a dor aumentando, os espasmos abdominais eram tão fortes que parecia que eu ia parir. Só me faltava ir parar no ambulatório por conta dessas dores, o que eu ia dizer para o médico, como ia explicar o cu todo arregaçado e sangrando? Edric, seu imbecil, você embarcou nesse cruzeiro para se jogar no mar, não para se jogar nos braços do primeiro aventureiro caralhudo que aparece.

No meio da manhã me vi obrigado a seguir para o ambulatório do navio, cambaleando e receoso de que minhas vísceras escoassem pelo cu, queixei-me de cólicas, omitindo que o brutamontes tinha arrebentado meu cuzinho. Só abri um pouco a calça quando o médico me mandou deitar na maca para me examinar, temia estar com sangue na cueca ou nas pernas. Ele palpou meu abdômen, fazia uma pergunta atrás da outra tentando fechar um diagnóstico, enquanto eu escondia as respostas e torcia pelo fim daquele exame.

- Já sentiu essas dores antes?

- Não!

- Começaram de repente ou sentiu algum incomodo prévio?

- De repente! Acho que comi algo durante o jantar que não me caiu bem! – sugeri, para abreviar os questionamentos.

- Não me parece um distúrbio gastrointestinal, seu abdômen está muito rijo. – retrucou o médico.

- São as cólicas! – eu devia estar mesmo muito transtornado querendo induzir um médico a um diagnóstico só para me fornecer analgésicos mais potentes, ou outra merda qualquer que aliviasse aquela dor insuportável.

- Vou mantê-lo por umas horas em observação! Vamos ver como reage às medicações que vou lhe aplicar! – sentenciou o médico.

Pronto, lá estava eu olhando para o teto do ambulatório no dia primeiro de janeiro, com o cuzinho rasgado e toda aquela porra daquele macho formigando no meu rabo. O que mais falta acontecer, Edric, me perguntei.

Não vi mais o sujeito nos quatro dias seguintes em parte alguma do navio, embora eu também não tivesse o menor interesse em procurá-lo. Quando o navio aportou em Palma de Maiorca resolvi dar um passeio por Palma com a leva de passageiros que desceu do navio. Foi a primeira vez que deixei o navio desde a partida em Southampton, nas atracações em Sevilla e Málaga eu não me animei a descer, até porque com o cu naquele estado deplorável não me sentia seguro para encarar caminhadas mais longas que não as da cabine para os restaurantes de bordo e vice-versa. O médico também havia me aconselhado a descansar o máximo possível quando me liberou do ambulatório.

Num café da Av. Gabriel de Roca no badalado bairro de Portopi eu resolvi ligar para os meus pais explicando meu sumiço repentino, mas sem lhes colocar a par da causa, isso precisava ser feito pessoalmente quando, e se, eu voltasse. Havia outros passageiros do cruzeiro nas mesas da calçada quando o sujeito apareceu com os amigos. Sentaram-se no extremo oposto de onde eu estava, não sei se ele não me viu, ou se o fez de propósito para não ter que me encarar. Se eu já estava tomando birra do sujeitinho, ao vê-lo rindo animadamente com os amigos fiquei ainda mais puto. Cafajeste desgraçado, pensei comigo mesmo.

Pouco depois, ele entrou no café para ir ao banheiro, precisando invariavelmente passar a poucos metros de onde eu estava sentado, observei-o de soslaio quando passou por mim sem ao menos se dignar a um aceno. Precisa ser muito cara-de-pau para me foder daquele jeito feito, um animal, não pedir desculpas e fingir que não está me vendo. Quando regressou para se juntar aos amigos eu o interpelei.

- Qual é a sua para fazer aquilo comigo e fingir que não me conhece? – perguntei

- Fazer o quê? Não fiz nada que você também não quisesse!

- Você agiu como um animal, seu cretino! Me machucou todo com esse bagulho enorme e acha que vou te parabenizar por isso?

- Não sabia que você era tão sensível! Só falta me dizer que era virgem! Talvez seu marido tinha um pinto tão pequeno que nunca abriu seu cu. – revidou ele

- Filho da puta! Saiba que meu marido é muito bem-dotado, mas não é uma besta animalesca durante o sexo. Ele é gentil e cuidadoso, coisa que você nem deve saber o que é. Já se vangloriou com seus amigos da façanha, ou teve medo de contar a eles que trepou com um gay para que não duvidem da sua masculinidade?

- Não tenho problemas com a minha masculinidade, nem preciso provar nada a ninguém. Teu marido é tão gentil e cuidadoso que fez um filho na sua amiga! Sujeito fantástico, ele! – tripudiou.

- Veja só quem fala, o macho autoconfiante que a noiva deixou à beira do altar para fugir com o sócio que deve ser um homem muito mais interessante. Ela foi esperta descobriu que ia se casar com um cafajeste e caiu fora. Você tem mesmo do que se gabar! Babaca, cretino! – revidei. Ele perdeu a pose quando mencionei a noiva fujona, e foi se juntar aos amigos, que passaram a lançar olhares na minha direção quando ele voltou à mesa.

Era mais que certo que ele tinha contado que me fodeu na academia do navio, e feito disso um ato de bravura e demonstração de sua virilidade. Eu não podia estar mais puto comigo mesmo. Onde eu estava com a cabeça quando me entreguei para aquele completo desconhecido deixando ele me arregaçar barbaramente, quando ainda nem tinha resolvido as minhas pendências com o Piers? Onde ficou o meu bom-senso?

Encontrei-o novamente à noite durante o jantar, haviam escolhido o mesmo restaurante que eu, o Princess Grill no deque 11. Antes que eu pudesse dar meia volta para escolher outro lugar para jantar, um dos amigos dele me convidou a sentar à mesa com eles. É uma cilada, vão zoar comigo por conta da foda, imaginei, e recusei o convite.

No segundo dia, em alto mar, depois que deixamos o porto de Civitavecchia em Roma e o navio seguia para a ilha de Rhodes na Grécia sob um sol ameno e mar calmo, eu acabei cochilando na espreguiçadeira das piscinas de popa do deque 9, após ter folheado sem muito interesse uma revista que havia comprado em Roma. Ao despertar, o sujeitinho estava tomando sol na espreguiçadeira ao lado.

- Zangado? – perguntou quando me levantei para deixar o local

- Babaca!

Era óbvio que nos odiávamos. Com todos os precedentes com os quais estávamos lidando aquela noite de Réveillon só veio acrescentar mais aborrecimentos. Eu o queria longe de mim, não precisava de mais um patife na minha vida, mesmo ele sendo um tesão de macho.

No décimo quarto dia do cruzeiro estávamos passando pelo Estreito de Dardanelos rumo a Istambul, era tarde da noite, eu estava na varanda da minha cabine, sem sono, apreciando as luzes cintilando na margem direita do estreito. No canal de músicas do navio Michael Bublé e Laura Pausini cantavam em dueto You′ll never find , o que me fez questionar se eu um dia voltaria a ser tão feliz como fui com o Piers. Subitamente alguém batia com força na porta me tirando dos meus pensamentos.

- O que faz aqui a essa hora? – perguntei irritado quando me deparei com a cara do sujeitinho, encostado ao batente com os braços cruzados.

- Vim em missão de paz!

- É muita petulância sua aparecer na minha cabine a essa hora! Como descobriu qual é a cabine?

- A tripulação do navio é bem solícita quando se coloca algumas cédulas de Euro nas mãos dela.

- Bem típico de um mau-caráter, subornar pessoas! Dá o fora ou aciono a segurança! – ameacei.

- Cara, você é um pé no saco! Porra, eu estou hasteando bandeira branca, é tão difícil de entender? – retrucou ele, recolhendo o sorriso do rosto.

- Um pé no saco é o que eu devia te dar agora!

- Ia estragar seu brinquedinho! – exclamou, voltando a sorrir debochado.

- Idiota! Não tenho o menor interesse nessa coisinha insignificante!

- Há poucos dias você reclamou que era um bagulho enorme. – vangloriou-se

- Cara, eu estou de saco cheio das tuas respostas, da sua cara, de você inteiro! Diga a que veio e me deixe em paz! – intimei

- Vim te convidar a tomar um drinque no pub comigo, para me desculpar!

- Dispenso! Quero distância de você! Se era só isso, tenha uma boa noite! – devolvi fechando a porta na cara dele, o que não consegui porque ele interpôs um pé antes de eu a fechar.

- Você é foda, cara! Não quero deixar uma má impressão em você. Não há motivo para virarmos a cara um para o outro. O lance na noite do Réveillon não foi tão ruim, fala a verdade.

- Não foi ruim? Só pode estar brincando! Eu passei horas em observação no ambulatório pelo que você fez comigo. Se isso não foi ruim, eu não sei que nome dar ao estado em que fiquei.

- Desculpe! Consegue aceitar minhas desculpas sinceras? Posso ter me excedido, estava puto da vida, não sei o que me deu, descontei em você.

- Vamos deixar assim, o dito pelo não dito! Somos apenas dois estranhos com problemas fazendo o mesmo cruzeiro por alguns dias. Em breve voltamos para a rotina e nunca mais nos veremos, não devemos nada um ao outro. – retruquei

- Então, nem o drinque vai rolar?

- Boa noite! – consegui fechar a porta, ele não insistiu mais.

Recostei-me na porta e fiquei pensando na merda que acabei de fazer. Seria assim de agora em diante, brigar e arrumar confusão com todos apenas porque duas pessoas que eu amava me traíram? Eu nunca fui assim, conquistei uma legião de amigos justamente por ser uma pessoa compreensiva, amorosa e me preocupar com as amizades. Abri a porta de supetão para me desculpar caso ele ainda estivesse no longo corredor das cabines. Só que a porta se abriu com muito mais força do que eu esperava e ele caiu aos meus pés, pois também estava encostado nela pelo lado de fora.

- Você sabe mesmo como ser insistente! – exclamei em meio ao susto que levei.

- E você como matar a gente de susto! – revidou ele, enquanto eu o ajudava a se levantar. – Por que abriu a porta tão rápido?

- Pode me explicar o que fazia encostado na porta?

- Vamos ficar aqui nos interrogando ou vamos ao que interessa? – questionou ele. – Não me conformei de você não ter aceito o convite para o drinque, isso só prova que não me perdoou, e eu quis tentar de novo. E você?

- Me arrependi de ter te tratado mal e achei que ainda dava tempo de te encontrar no corredor, por isso abri a porta de supetão. – expliquei, o que o fez sorrir.

- Arrependeu, é? Ia correr atrás de mim? – a cada pergunta o sorriso ficava mais confiante.

- Não comece se achando! Eu apenas ia me desculpar por ter sido rude na resposta que lhe dei, nada mais!

- E o drinque? Vai rolar?

- Talvez outra hora! Como pode ver, já vesti o pijama e pretendo me deitar, é tarde. – respondi, nesse momento ele se deu conta de eu estar usando apenas a bermuda, o torso liso com sua musculatura definida tinha sua pele clara salientada pelos peitinhos protuberantes com seus mamilos acastanhados e biquinhos rosados, enquanto a bermuda estava recheada com a bundona carnuda e as coxas grossas.

- Como um homem consegue ser tão tesudo? – murmurou ele, não me permitindo ouvir a pergunta.

- O quê?

- Nada não! Estava pensando alto. – respondeu disfarçando. – Podemos pedir o drinque na cabine, tomá-lo na varanda. – sugeriu. Eu concordei, ele não ia dar sossego mesmo.

- Tudo bem! – devolvi vencido.

O navio entrava lentamente no Estreito de Bósforo se aproximando do porto para atracar e, permitindo ver as luzes de Istambul, enquanto passava sob a Ponte do Bósforo e ao largo da mesquita de Ortaköy, quando tomávamos um gin fiz refrescante enfeitado com folhas de hortelã e rodelas de limão que ele havia sugerido. Depois do primeiro gole, ele ficou me encarando, me senti nu com aqueles olhos perturbadoramente castanhos me examinando.

- Você foi a primeira pessoa com quem fiz sexo e, para ser mais específico, o primeiro cara, sem saber seu nome. A propósito, me chamo Alton! – revelou.

- Sou o Edric! – devolvi encabulado.

- É esse o momento em que dizemos – muito prazer – ou dispensamos esse detalhe?

- Dado o que já rolou, é melhor dispensarmos! – respondi, sorrindo timidamente

- É, é melhor! – devolveu. Por uns minutos ficamos sem assunto, nenhum dos dois esperava que a situação chegasse a esse ponto, foi embaraçoso.

- Por que escolheu esse cruzeiro? – perguntamos ambos ao mesmo tempo, para quebrar aquele silêncio constrangedor.

- Você primeiro! – disse ele, quando ambos se calaram novamente.

Expliquei que não foi uma escolha propriamente dita, mas apenas uma opção de última hora, enquanto ele afirmou ter sido uma escolha da ex-noiva para a lua de mel, à qual os amigos aderiram para não deixá-lo cair em depressão pelo casamento frustrado e pela fuga da noiva e do sócio.

- E está gostando? Notei que você não costuma deixar o navio quando atraca nos portos pelo caminho. – afirmou

- Não encaro esse cruzeiro como lazer, ou algo prazeroso, é mais uma fuga por não estar conseguindo lidar com a traição do Piers. – revelei

- Então o sortudo se chama Piers? Bosta de nome! Talvez por isso ele também seja um bosta! – exclamou ele.

- Ele não é um bosta! – revidei exasperado. – Nosso relacionamento era maravilhoso, nos amávamos, éramos muito felizes. Foram os melhores oito anos da minha vida! Não fosse eu ter querido ajudar a Zara, ainda seríamos um casal feliz! – afirmei

- Zara é a amiga traíra. A que decidiu experimentar o esperma do Piers e acabou com o bucho cheio. – ele falava em tom de deboche, o que me irritou, ao mesmo tempo em que fazia aquilo tudo soar como uma piada.

- Eu ficaria grato se não se divertisse às minhas custas!

- Desculpe, não estou me divertindo às suas custas. É que você me parece ingênuo demais, ao viajar por uma semana e deixar um macho e uma fêmea livres e soltos na sua casa sem fiscalização. Não podia sair boa coisa disso, concorda? – eu nunca havia encarado a situação sob esse prisma, mas detestei ter que concordar com ele.

- É, talvez!

- Talvez, não! Se você juntar um macho e uma fêmea de qualquer espécie, é uma questão de tempo para eles treparem. Por que com um homem e uma mulher seria diferente?

- Porque podem fazer suas escolhas de modo racional, porque tem consciência do que é certo e errado, porque sabem que suas atitudes podem magoar outros. – enumerei.

- Tudo isso não se sobrepõe ao tesão. Basta o tesão entrar em jogo para que a racionalidade seja esquecida, o certo e o errado seja ignorado e, magoar os outros seja relegado a um segundo plano. – defendeu ele.

- Você pode até ter razão, mas é uma maneira estranha e egoísta de pensar. – revidei

- Gosto cada vez mais de você, Edric! Ouvindo suas opiniões constato que é um cara legal, de boa índole. – afirmou, me encarando. – E um tesão de gostoso! – emendou ligeiro num tom de voz quase inaudível.

- O que está resmungando aí?

- Nada, não! Só falei que você é um tesão de gostoso! – fiquei constrangido diante da sinceridade dele e corei. Fazia tempo que não corava, e esse sujeito fazia isso comigo o tempo todo.

- Acho melhor pararmos por aqui! Não estou gostando do rumo que a conversa está tomando. – retruquei sincero.

- Edric, cara, não consigo esquecer aquela foda! Tenho tido ereções constantes me lembrando do seu cuzinho apertado encapando minha rola e ando me masturbando para aliviar a pressão dos colhões. Edric, isso nunca aconteceu comigo antes! Nenhuma mulher me deixou tão maluco quanto você com uma única foda, feita às pressas no calor do momento, impensada, movida pelo instinto, e tão, tão prazerosa que não me sai da cabeça. Eu precisava te dizer isso, precisava compartilhar com você o que estou sentindo e, preciso ouvir seu ponto de vista do que aconteceu na noite do Réveillon. – eu estava pasmo quando ele parou de falar.

- Não sei o que dizer!

- Como assim?

- Não sei, simplesmente não sei, Alton! Não era minha intenção transar com outro homem poucos dias depois que descobri que o Piers me traiu. Eu acabei fazendo o mesmo com ele, o traí quando trepamos. – afirmei

- Piers, Piers, Piers, essa porra de Piers! Cara, esquece ele! Naquela noite você estava pensando em se jogar no mar, olha a que ponto você chegou por causa desse sujeito! Você acha que é essa a solução, se suicidar porque ele engravidou sua amiga? Nenhum deles vale a sua vida! – argumentou

- Pelo que me lembro suas condições, seu estado emocional naquela noite também não era dos melhores. – devolvi

- Só que, ao contrário de você, eu não queria acabar com a minha vida, mas com a daqueles dois pulhas que me ferraram. Eu sou mais eu! Por que eu deixaria de viver para que eles usufruam uma vida em comum com parte da minha grana? Não! Definitivamente, não! Eu vou foder com a vida deles mais cedo ou mais tarde, assim que tiver oportunidade. – sentenciou se encolerizando enquanto discursava.

- E acabou me fodendo! – exclamei

- Sim, fodi você! Fodi seu cuzinho, perdi a cabeça, te machuquei, fiz merda, tenho consciência disso e estou arrependido, muito arrependido. Porque depois que nos separamos aquela noite, eu percebi que nunca tinha tido uma foda igual à que tive com você. Quando entrei na cama naquela noite, eu só pensava no seu cuzinho apertado, no calor acolhedor dele, a sua bunda encaixada na minha virilha, em seus gemidos sensuais. Desde então não tenho tido um dia em que não te deseje. – afirmou. Notei que ele estava sendo sincero e que aquela aproximação tinha muito mais escondido por trás do que aquela confissão.

- Eu estou confuso, não me peça nada, nem uma resposta, nem o que acho disso tudo, pois para mim ainda está tudo nebuloso. Acabo de sair de um relacionamento que, em tese, ainda não se encerrou. Não é o momento de eu pensar em nada, de tomar atitudes das quais venha a me arrepender depois. – retruquei

- Só me fala uma coisa! E pode ser, aliás, deve ser bastante sincero; você gostou do que aconteceu naquela noite, apesar de eu ter te machucado, porque eu sei que você também sentiu tesão?

- Senti, não nego! Você é um homem atraente, viril, sendo gay eu não tenho imunidade a homens como você. Também não nego que gostei de sentir você dentro de mim, mas isso foi por uns instantes tão breves que acabaram se apagando da minha memória, onde só a dor e as sequelas acabaram ficando registradas. – revelei

- Não sabe como me dói ouvir isso! Não por você, mas pelo que eu fiz! Eu entendo de você não querer mais nada comigo, principalmente sexo, a experiência foi horrível para você, mas eu estou disposto a tudo para tirar essa impressão de você e poder te sentir em meus braços outra vez.

- Como eu disse, não me cobre nada! Não tenho respostas!

- Sabe que é a primeira vez que passo uma cantada num homem? – perguntou rindo. – Se meus amigos souberem que Alton August Callbeck deu uma cantada num gay, vão me zoar pelo resto da vida. – disse ele

- E isso seria um desastre, uma catástrofe para a sua imagem de machão, não é? – inquiri

- Eu estou pouco me lixando para a minha imagem, Edric! Não depois de conhecer você, e estar sentindo o que estou sentindo! – ele havia tomado a minha mão entre as dele e olhava fixa e profundamente nos meus olhos, deixando minha cabeça ainda mais perturbada.

Nos dois dias que se seguiram me juntei ao Alton e seus amigos durante os passeios por Istambul, depois que ele me apresentou oficialmente a eles. Duas coisas ficaram bem evidentes, eles formavam um grupo coeso cujo senso de amizade era bastante intenso, e o Alton além de ser muito querido por eles, também era o que os liderava. Isso me fez compreender o porquê de o estarem acompanhando naquela viagem que inicialmente tinha um propósito completamente diferente. Não o abandonaram quando precisou dessa amizade.

Eu nunca tinha andado com um grupo assim, composto de machões que basicamente só falavam de mulheres, particularmente as que tinham fodido e que eram sempre muito gostosas, o que era uma evidente maneira de se autoproclamarem desejáveis; de futebol ou outros esportes nos quais eram experts; e de tudo que estava relacionado a máquinas, tanto carrões esportivos quanto motocicletas potentes. Portanto, assuntos dos quais eu estava mais por fora do que bunda de índio. Obviamente que eles logo notaram minha ignorância nesses assuntos e, não tenho dúvida, sacaram que eram os mesmos aos quais gays eram pouco afeitos e, certamente as especulações quanto aminha masculinidade começaram a ser sondadas. Isso não os impediu de serem gentis e engraçados para comigo, sem fazerem insinuações ou me dirigirem indiretas provocativas. De certa forma, parecia que estavam me aceitando como eu era, discreto, comedido, muito mais recatado e tímido do que eles, porém com um papo inteligente e sensato.

Passar mais tempo ao lado do Alton também me fez enxergar suas qualidades e não me refiro apenas às físicas, que são indiscutivelmente um sonho para qualquer mulher ou gay, mas as de sua personalidade. O fato de conseguir estar se divertindo depois de ter sido abandonado aos pés do altar e levado um golpe do sócio nos negócios indicava que ele era um sujeito forte e determinado. E, ao o observar mais de perto, tenho que admitir que começava a gostar dele. Não pensava nele como um substituto para o Piers, isso não. Porém, via-o como um homem com quem um gay como eu podia ser feliz, a despeito dele ser um hétero machão que talvez só precisasse do estímulo certo, ou da pessoa certa para ele se abrir a novas possibilidades.

Durante a estada em Istambul fomos tomar uns drinques no final da noite no 16ROOF bar do Swissotel do lado europeu de onde se tinha uma esplêndida vista do Bósforo e da parte asiática da cidade. Com o luar prateado ao fundo resolveram tirar umas fotografias junto ao parapeito de vidro do décimo sexto andar. Meu pavor doentio de altura me impediu de aproximar da beirada e virei motivo de gozação. O Alton e um dos amigos me abraçaram cada um de um lado e me conduziram tremendo feito uma vara verde até ficarmos enquadrados na paisagem.

- Medroso! Duvido que você ia ter coragem de pular do navio daquela altura toda se está se borrando todo agora que está em terra firme e cercado de proteção. – caçoou o Alton.

- Tento medo de altura, sim, qual é o problema? Vocês são umas pestes, sabiam? – eles riram.

Depois de Istambul, o cruzeiro passou novamente pelo Estreito de Dardanelos em direção a Santorini e ao porto de Pireus em Atenas iniciando seu caminho de volta. Foi durante o dia passado em Oia, com suas vielas estreitas e floridas ladeadas por casas brancas de janelas azuis e suas igrejas com seus domos também azuis dominando a paisagem que um dos amigos do Alton me interpelou quando estávamos observando o inesquecível pôr do sol na praça central em frente à igreja de Panagia de Platsani que nessa época do ano não era tão concorrido quanto no verão, porém não deixava de ser um espetáculo para os olhos.

- O Alton deve ter te contado pelo que acabou de passar. Ele é meio fechado quando se trata de falar de sua intimidade, mas sabemos que ele está sofrendo bastante. Ele e a Arlene namoravam a cinco anos, no último moraram juntos e pareciam ter sido feitos um para o outro. Nós gostávamos dela apesar das restrições que ela tinha para conosco por conta de roubarmos muito a atenção do Alton, o que a deixava enciumada e pouco simpática conosco.

- Sim, eu percebi que ele está bastante abalado com o que aconteceu, mas acho que ele vai superar rápido, dá para ver que é um cara de personalidade forte. – argumentei.

- Nenhum de nós sabe o que rolou entre você e o Alton, e porque ele está fazendo tanta questão dessa amizade com você. Também percebemos que você é muito diferente das amizades dele e, veja bem, isso não é nenhuma crítica a você que é um cara bem legal pelo que constatamos. O que vem nos intrigando é a maneira como ele olha para você e você para ele, tem algo esquisito nisso porque o Alton nunca foi de reparar em homens bonitos como você. Não queremos dizer o que ele pode ou não fazer da própria vida, porém nesse momento ele está vulnerável e pode não tomar as melhores decisões. O que nenhum de nós quer, é que ele se magoe ainda mais no futuro por ter tomado uma decisão errada, entende?

- Você é um bom amigo, sem dúvida! Diga aos demais para não se preocuparem, não quero e não vou magoar o Alton, ou fazer com que tome uma decisão da qual venha a se arrepender depois. Eu mesmo não atravesso um dos melhores períodos da minha vida e não quero envolver ninguém nos meus problemas. Também quero que saibam que não fui eu quem o procurou, e sim ele que veio à minha cabine tarde da noite para me convidar para um drinque que acabou nos aproximando. Se acharem melhor, posso me afastar dele sem problemas. – afirmei

- Não! Não precisa de nada tão extremado. Eu só quis te dar esse recado.

- Ok! Recado dado!

- Me desculpe se fui muito incisivo! A gente gosta muito dele, só queremos mantê-lo longe de problemas! – tentou remendar

- Eu entendi, não se preocupe! – devolvi.

Embora não tenha gostado de ouvir a ameaça velada do amigo do Alton, ela me serviu de alerta para não me deixar levar pelo charme e jeito sexy dele. Ainda fiz os passeios em Atenas com o grupo naquele dia. Foi o último antes de me afastar do Alton. Caminhando pelos rochedos escarpados da praia de Erotospilia uma aranha cujo diâmetro mal chegava aos 6cm saltou de um arbusto para sunga do Alton quando ele resvalou nele. O que se seguiu foi a mais hilária das cenas que já presentei, um homão parrudo feito ele pulando e gritando como um garotinho apavorado. Os amigos não perdoaram e zoaram com ele até não mais querer.

- Depois caçoa do meu medo de altura, não tem vergonha de fazer todo esse escândalo por causa de uma simples aranha? – questionei rindo.

- Esses bichos mordem! – devolveu zangado

- Ah, sim, sem dúvida! Eles são capazes de arrancar pedaços do seu corpanzil! Deixa de ser medroso, quando muito picam, e não mordem, para seu governo! E essa está fugindo da sua berraria! – retruquei. Ele rosnou na minha direção.

Tive tempo para refletir durante todo o dia seguinte quando o navio passou o dia em alto mar navegando em direção a Katakolon, onde já não os acompanhei mais.

- Onde se meteu? Faz dois dias que não te vejo! Fiz ou falei alguma coisa que te aborreceu? – perguntou o Alton quando veio me procurar em minha cabine após o jantar depois que deixei de acompanhá-los.

- Estive descansando e fiz uma programação diferente da de vocês em Katakolon, fui visitar um amigo dos tempos da universidade que se mudou para cá há alguns anos.

- Por que não me avisou?

- Não achei que fosse necessário!

- Por que está me tratando com essa frieza toda? – Foram eles, não foram, meus amigos, o que foi que eles te disseram? Eles te ofenderam, te ameaçaram?

- Não, claro que não! Ninguém me falou nada. E, não estou te tratando com frieza, apenas não quis passar esses últimos dois dias com vocês. – expliquei, omitindo a conversa com o amigo para não gerar atrito entre eles.

- Não gosta mais de mim?

- Não seja bobo, Alton! Que pergunta mais descabida! Ninguém está gostando de ninguém por aqui, fizemos uma programação juntos, que foi bastante divertida, mas foi só. – afirmei

- Eu te falei que estou gostando de você! Falei com todas as letras, e sei que você entendeu o que eu quis dizer e que também está interessado em mim. O que mudou, tão repentinamente? – cobrou ele

- Nem eu nem você estamos pensando com clareza depois de passar pelo que passamos. Nada do que dissermos agora pode ter algum valor mais tarde. Melhor aproveitarmos os dias que ainda restam desse cruzeiro e deixar as coisas como estão. – ponderei.

- Está querendo me convencer de que não sei o que estou sentindo por você? Não é só tesão, Edric, não é só essa puta vontade de te enrabar de novo, é algo mais profundo que está mexendo muito comigo. Eu estou gostando de verdade de você! E não diga que não sente nada por mim, porque eu vejo nos teus olhos que sente. – retrucou. – Me conte o que foi que eles te disseram. – insistiu.

- Nada, Alton! Nada! Volte para sua cabine! Quero dormir mais cedo, tive um dia cansativo com meu amigo de faculdade.

- Deixa eu dormir com você!

- Não! Isso está fora de questão! Não vou me deitar com você!

- Está com medo! Não é só medo da minha pica te machucar, é medo de se deixar levar pelo que está sentindo por mim! – exclamou, no que estava completamente certo, mas não precisava saber disso.

- Boa noite, Alton!

- Só vou ter uma boa noite se não me deixar dormir com você! – afirmou, me prensando contra a parede com seu corpão quente e começando a me beijar o pescoço, a borda mandíbula até seus lábios encontrarem os meus enquanto suas mãos entravam pela fenda do meu short e acariciavam minhas nádegas. Com a pele em brasa e o corpo todo tremendo de tesão, eu o rechacei, mandei-o embora e fechei a porta, lançando-me sobre a cama com os olhos úmidos e o peito esmagado por um sentimento confuso.

O vigésimo terceiro dia também transcorreu em alto mar rumo aos próximos destinos, Roma e a ilha de Kefalonia no Mar Jônico. Sabendo que o Alton e os amigos nunca saíam junto com os primeiros passageiros que desciam do navio, eu desci propositalmente cedo para não os encontrar, cumprindo o acordo que fiz com o amigo dele. Eu precisava de um tempo para me convencer de que o Alton não era uma boa escolha, de que não era o homem certo para mim, de que não existia e menor possibilidade de termos um futuro juntos. Também precisava convencer meu coração disso, pois quanto mais tempo passava afastado dele, mais saudades eu sentia, mais eu o desejava. Eu me sentia estranhamente ligado a ele, um desconhecido, um sujeito que me enrabou e arregaçou meu cuzinho numa única trepada bruta. Isso não podia ser normal, era bizarro, descabido, provido de qualquer lógica, porém estava me tirando o sossego e o sono quando havia tantas outras coisas pendentes necessitando de uma solução, e nas quais eu pouco pensava desde que o conheci.

O mesmo amigo que me dissuadiu a me afastar do Alton veio me procurar na manhã em que os grupos de turistas amontoados diante do balcão do concierge se preparavam para desembarcar do navio e passear por Corfu.

- Você comentou sobre a nossa conversa com o Alton, ele está puto conosco!

- Não! Não falei nada com ele, não foi esse o nosso acordo?

- Ele está jogando a culpa de você ter se afastado dele sobre nós!

- Não posso fazer nada quanto a isso! A minha parte estou fazendo, ficando longe dele.

- Então não faça mais! Volte a sair conosco e a ficar no grupo quando estivermos a bordo. Ele está puto por não saber o motivo de você não falar com ele. – revelou.

- Ele se acostuma, é só uma questão de tempo!

- Não dá para você falar com ele? Sei lá o que está rolando entre vocês, mas dá para perceber que ele está muito ligado a você e não quer que essa ligação se perca.

- Não, não posso falar com ele! Não vou ficar no meio desse joguinho. Não há ligação alguma entre mim e o Alton. Sou gay, ele me pegou na noite do Réveillon e foi só. Tenho que resolver meus problemas pessoais e não é hora de me envolver com ninguém. Vocês vão encontrar uma maneira de contornar essa situação sem mim, tenho certeza. – confessei, deixando o amigo dele com o olhar arregalado.

- Você gay, por essa ninguém esperava!

- Pois é, você tinha razão ao me pedir para me afastar dele. Ele não está em condições de fazer as melhores escolhas nesse momento.

- Cara, me desculpe! Estou me sentindo um imbecil. O Alton encontrou uma escapatória para suas dificuldades e eu falando o que não devia acabei prejudicando meu melhor amigo. – penitenciou-se. – Agora mais do que nunca, eu te peço encarecidamente, fale com ele, deixe ele se abrir, faça o que puder para ajudá-lo, por favor.

- Lamento, mas eu preciso esquecer o Alton! O que aconteceu entre nós foi uma loucura, um descontrole momentâneo, não tem chance de dar certo. – afirmei.

- Não sente nada por ele?

- A questão não é essa! Não importa o que eu sinta por ele, não posso me envolver! – ele me encarou como se soubesse que essa história ainda ia render muito, e que talvez fosse preciso eles darem um empurrãozinho para isso acontecer.

Kotor e Dubrovnik foram nossas paradas seguintes, em ambas excursionamos com o mesmo grupo de turistas e o Alton quase não se afastou de mim, estávamos quase sempre os dois uns passos atrás do grupo conversando e se divertindo afastados de olhares e intromissões alheias. Notei que os amigos se encarregavam de nos blindar como se estivessem torcendo para aquilo dar certo. Depois disso, o navio seguiu em direção ao porto de Trieste, nossa última parada. O meu voo de retorno a Londres só estava agendado para dali a dois dias, enquanto o do Alton e dos amigos partiria já no dia seguinte.

Na noite em alto mar entre Dubrovnik e Trieste o Alton me acompanhou até a minha cabine depois do jantar e, de um tempo que passamos no convés das piscinas do deque nove conversando ao relento frio, mas de céu firme. Não havia quase ninguém circulando por ali, um ou outro casal trocava amassos e beijos, os últimos de sua lua de mel, pois entre os passageiros havia muitos recém-casados. Num descuido ele me beijou com uma voracidade desmedida, antes de conseguir reagir, minhas pernas bambearam, o coração disparou e meu cuzinho piscava num frenesi próprio. Minutos depois, estávamos na minha cabine arrancando nossas roupas feito dois desesperados com o tesão ardendo em nossos corpos.

Ao ariar a cueca o cacetão dele já saltou fora à meia bomba. Era a primeira vez que eu o encarava sob a luz, e ele me pareceu ainda mais descomunal no que naquela noite na penumbra da área fitness do navio. Meu cuzinho se revolveu até as entranhas recordando o estado em que ficou depois daquele caralhão ter rasgado todas suas preguinhas. Grosso feito um pepino, com mais de um palmo de comprimento, fora a cabeçorra gigantesca que só era coberta numa pequena porção pelo prepúcio, ele ainda não estava completamente rijo e pendia pesado sobre o sacão igualmente avantajado. Como esse cara consegue guardar um troço desse tamanho dentro das calças, não é à toa que se consiga observar aquele volumão entre suas pernas sempre mantidas bem abertas quando se senta ou mesmo ao caminhar. Quanto mais desnudo eu ficava, mais o olhar do Alton se fixava em meu corpo e mais pinotes aquela caceta intrépida dava.

Ele foi me conduzindo lentamente em direção à cama sob a ação de seus beijos voluptuosos, nos quais penetrava minha boca com a língua assanhada, como se não quisesse que percebesse para onde estava me levando. Por meu lado, estava ficando cada vez mais difícil resistir o sabor de sua boca. Só podia haver algum tipo de droga em sua saliva para me entorpecer daquela maneira. Suas mãos percorriam meu corpo, o acariciavam e se apossavam dele. Com o tesão descontrolado, eu ia cedendo, minha resistência sucumbia àqueles beijos ávidos e sensuais. Quando minhas pernas tocaram na beira da cama me localizando no meio daquele torpor eu já não pensava em resistir àquele caralhão duro resvalando na minha coxa e àquele macho quente, cujo corpão estava tão colado ao meu que parecíamos uma escultura talhada na sensualidade. Aos poucos o Alton foi se debruçando sobre mim, afagava meu rosto e colocava aleatoriamente beijos úmidos enquanto as pontas de seus dedos deslizavam sobre seu contorno. Minhas mãos vasculhavam o corpo dele, deslizando sobre os ombros largos, a nuca musculosa, os bíceps maçudos, as costas vigorosas, o que só fazia o tesão dele aumentar ao sentir que eu o queria. Ele me posicionou de bruços quando ambos arfavam tomados pelo desejo, foi beijando e lambendo minhas costas até chegar às nádegas que suas mãos palpavam numa devassidão pecaminosa. As mordidas começaram sutis e a carne abocanhada e marcada pelos dentes era beijada em seguida. A cada investida eu soltava um gemido de pura luxúria, que me escapava da boca como se eu precisasse despressurizar o tesão acumulado. Isso dava ao Alton a certeza de que eu caminhava para a submissão à sua tara, fazendo-o cada vez mais confiante e predador. Um gritinho me escapuliu ao mesmo tempo que um espasmo percorreu meu corpo quando ele tocou meu cuzinho com a ponta da língua. Agora ele mordiscava ao redor da fendinha rosada que ele também estava vendo pela primeira vez sob a luz.

- Caralho, Edric, que cuzinho é esse? Lisinho, camuflado nesse rego fundo, tão pequeno que não passa de um buraquinho circundado por preguinhas rosadas. Nunca imaginei que um homem do seu tamanho pudesse ter um cuzinho tão diminuto. Cacete da porra, e o danado fica piscando para mim, me atentando. – sentenciou ele, vidrado no que seus olhos admiravam.

- Não faz isso comigo, Alton, eu te peço! – balbucei, com aquele macho atiçado pelo meu rabinho querendo me foder.

- O que eu estou fazendo, Edric, fala para mim? O que você não quer que eu faça, mas o seu corpo está pedindo, fala? Diz que você não quer que eu enfie minha pica nesse cuzinho, diz Edric! – provocava ele, sabendo que eu estava louco para ser fodido.

Ele repetiu a pergunta mais umas duas vezes enquanto enfiava um dedo no meu cu e o fazia rodopiar dentro dos esfíncteres que o aprisionaram numa contração abrupta. Eu só gemia e me contorcia entre os tremores que avassalavam meu corpo. Num ato reflexo, eu me virei ligeiramente de lado, fleti uma perna e franqueei o acesso dele a minha bunda, me oferecendo e me entregando aos seus caprichos.

- Está se entregando para mim, Edric? Cara, você me deixa maluco se oferecendo assim! Desde aquela noite eu não penso noutra coisa que não te enrabar novamente, atolar minha rola nesse cuzinho apertado e ouvir seus gemidos de tesão. – sussurrou ele, escorregando para cima de mim.

Ele só precisou afastar um pouco uma das nádegas e meu cuzinho ficou posicionado na ponta da caceta dura dele. Quando ele esfregou a cabeçorra melada sobre as preguinhas fui tomado de um pavor insano, eu não podia deixar esse macho me rasgar de novo, por mais tesão que estivesse sentindo, por mais que o quisesse sentir dentro de mim.

- Não! Eu não consigo! Você é enorme vai me rasgar! É melhor pararmos por aqui, me deixe sozinho, Alton! – sentenciei durante o ataque de pânico.

- Ei, ei, calma Edric! Não vai acontecer nada, não vou te machucar, prometo! Vou colocar devagar, só a cabecinha se você preferir, mas não me deixe nesse tesão todo, não seja tão cruel. – retrucou ele, procurando controlar sua gana para me foder, sem muito sucesso.

- Não, não dá! Eu fui parar no ambulatório na primeira vez, e fiquei quatro dias com o cu dolorido. Você é grande demais para mim, Alton! Nós dois não dá, não dá! – devolvi aparovado

- Não me peça para ir embora, Edric! Estou gostando muito de você! Se você quiser podemos ficar aqui só abraçados, mas não me peça para ir embora. Eu te quero, vou ser paciente, vou esperar você se sentir confiante. Você sabe que meu cacete cabe no seu cuzinho, ele já esteve todo aí dentro, você só está tenso e com medo. Quando estiver mais calmo a gente continua, eu coloco devagar, prometo, com todo cuidado e carinho. – suplicava ele, para não deixar a oportunidade passar.

Até aquela noite de Réveillon eu nunca tinha tido outro homem que não o Piers. Ele foi o primeiro, me desvirginou com um pouco de dor, mas uma dor suportável que deixou meu cuzinho ardendo apenas pelo dia seguinte. Depois disso, só ocasionalmente, durante um desvario incontrolável de tesão é que ele me arregaçava em meio a mais dor e dilaceração de algumas pregas. Nada que se comparava com o coito bruto do Alton que me rasgou as entranhas tão profundamente que precisei ser medicado. A questão não era só o tamanho daquele pênis, pois o do Piers também não era nem um pouco acanhado, era a maneira descontrolada como ele o usava para copular. Ele parecia perder o controle quando estava fodendo, esquecendo-se que debaixo dele havia uma pessoa lhe entregando o que tinha de mais delicado e sensível.

Concordei em ficarmos apenas abraçados, apesar do tesão que consumia a ambos. Ficou evidente que ele só tinha feito essa proposta para ganhar tempo, o desejo de me foder não tinha arrefecido, o que aquela inquietude e a constante movimentação agitada deixavam expressos. Meu cuzinho também não havia se conformado com a proposta, e continuava piscando e se revolvendo para não me deixar esquecer o que ele queria. Sempre agindo com sutileza, o Alton se esfregava em mim, me apertava com força em seus braços até eu reclamar de não estar conseguindo respirar direito; o pauzão dele já devia estar lhe atormentando e doendo, pois continuava duro feito rocha cutucando impaciente o sulco do meu rego. Mas eram os beijos dele que me entorpeciam me fazendo empinar o rabo na virilha peluda dele e abrir ligeiramente as pernas, o que deixava meu cuzinho vulnerável e mais exposto. Ele aproveitava para posicionar a chapeleta da pica sobre a rosquinha forçando um pouco até eu gemer numa quase entrega que não se consumava. Em dado momento, ele aproveitou essa abertura e levou uma das pernas sobre seu ombro. Com o cu aberto ele pincelou o cacetão melado sobre a fendinha, intensificou o beijo metendo a língua na minha boca e, quando a abri para recebê-la e sugá-la, descuidei do cuzinho relaxando os esfíncteres e, mais que ligeiro, o Alton meteu a cabeçorra dentro dela. O beijo abafou o grito que soltei, enquanto ele me agarrava com força para que durante o agito eu não lhe escapasse.

- Não, Alton, não! Pare, pare, está doendo! – exclamei em pânico.

- Ssssshhhh! Calma, calma, já entrou!

- Tira, tira, por favor, não vou aguentar!

- Você só está em pânico, vai dar tudo certo! Você só precisa relaxar, está muito tenso, teu cuzinho está apertando muito a minha pica, respire e relaxe. Tenso assim vou acabar te machucando, abre o cuzinho para mim, abre Edric! Deixa eu entrar em você, mas você precisa relaxar e abrir seu cu para mim! – orientava ele, com aquela cabeçorra entalada pulsando no meu ânus.

- Então põe devagar, Alton! Você promete que vai colocar devagar, promete para mim! – supliquei com a respiração angustiada.

- Prometo! Confia em mim, Edric! Vou colocar devagar, mas você precisa descontrair a musculatura para que seu cu possa se abrir e deixar meu cacete deslizar para dentro de você. Não é isso que você quer, me sentir inteirinho dentro de você? – era mais aquele olhar doce e carinhoso me encarando do que suas palavras que me levaram a fazer o que ele estava mandando.

Sempre com a boca colada na minha, ele foi se empurrando para dentro do meu cu, que se distendia todo para permitir a passagem daquele colosso rijo de carne vibrante. Cada impulso dele gerava um gritinho meu para aplacar a dor que se fazia sentir cada vez mais funda nas minhas vísceras.

- Esses gritinhos estão me deixando doido, Edric! Você sabe como deixar um macho maluco de tesão, seu rabudo safado! – grunhiu ele, enquanto o caralhão mergulhava fundo no meu cu.

- Vai devagar, Alton! Devagar, por favor! – minha voz não passava de um sussurro tão débil quanto meu corpo possuído se sentia, enquanto eu me agarrava aos volumosos bíceps dele.

- Abre, meu tesudinho, abre o cuzinho para mim! Só mais um pouquinho e minha rola vai estar toda atolada aí dentro! – ronronava ele, todo sedutor e carinhoso, me fazendo obedecer submisso ao sentir o prazer que aquela verga me preenchendo estava me proporcionando.

Ele fazia o cacetão deslizar suavemente num vaivém constante abrasando a mucosa anal, que minha musculatura contraída ao redor dele, encapava com firmeza dando a ele um prazer recíproco e o fazendo gemer e arfar numa rouquidão sensual. O sacão batia contra meu reguinho apartado ditando a cadência da foda. Tínhamos uma sintonia tão perfeita que foi se revelando aos poucos através do calor dos nossos corpos, do cheiro das nossas peles, do sabor dos beijos, da eletricidade que percorria nossas colunas. Eu jamais imaginei sentir algo semelhante, nunca tinha sentido isso quando copulava com o Piers e me questionava se isso era apenas físico ou, se o que eu estava começando a sentir pelo Alton transcendia ao prazer carnal. Aos poucos, voltei a sentir a chegada das mesmas cólicas que me avassalaram durante nosso primeiro coito, pois o caralhão dele revolvia todas minhas entranhas, gerando espasmos por toda a pelve. Eles vinham em ondas dolorosas e prazerosas; quando dei por mim estava gozando abundantemente liberando os jatos de sêmen como se estivesse purgando todo meu ser.

- Goza, meu tesudinho, goza e mostra para o teu macho como está gostando de ser enrabado! – exclamou o Alton quando me viu gozando entre ganidos de regozijo.

O gozo dele veio em seguida, quase simultâneo. Uma sequência de estocadas fortes e profundas me fez gritar temendo ser arregaçado como da primeira vez, mas elas foram poucas, retesaram o abdômen dele e os músculos de seus braços que me comprimiam com mais força, estremeceram todo o corpo dele e produziram um bramido gutural que eclodiu ao mesmo tempo em que os jatos de esperma denso e leitoso eram inoculados no meu cuzinho encharcando-o até vazar.

- Ai, Alton! Ai, Alton! Ai, ai, ai! – sussurrava eu no mais delicioso dos delírios, cravando meus dedos em suas costas e beijando-o vorazmente.

Coito consumado, caralhão pulsando frenético no meu cu, corpos ainda tremendo e nos encarávamos com a felicidade estampada nos rostos, cujos contornos acariciávamos delicadamente com as pontas dos dedos.

- Eu não te disse que minha rola cabia aí dentro! Era só você relaxar e se abrir! Confia em mim agora? – perguntou ele, deixando-se acariciar entre aqueles pelos duros de sua barba.

- Mas não pense que não doeu! Esse troço enorme machuca, sabia? – devolvi, só para não dar o braço a torcer. Ele abriu um sorriso malandro.

- Agora ele é enorme outra vez? Quando está bravo comigo chama-o de coisinha, quando está feliz e todo esporrado como agora diz que é enorme. Acho que você precisa se decidir! – exclamou malicioso.

- Safado abusado! Não se faça de sonso, você sabe muito bem o tamanho desse pauzão, só está querendo elogios! – devolvi.

Acordei com o rapaz entregando o desjejum na cabine, o Alton o havia pedido e estava recebendo o rapaz enquanto eu me espreguiçava na cama, sobre a qual os raios de sol adentrando pelo balcão batiam numa quentura convidativa. Ainda sentindo a umidade pegajosa do esperma do Alton formigando no meu cu, lamentei ser aquele o último dia do cruzeiro. No final daquela tarde atracaríamos no porto de Trieste. Havia chegado a hora de me despedir dele, e uma pontinha de desassossego se fazia sentir em meu peito. Cada um seguiria sua vida, aqueles poucos dias compartilhados logo seriam apenas lembranças, talvez nunca mais fossemos nos encontrar. Se eu tinha prometido a mim mesmo que tão logo não me envolveria com outro homem, e até pensado em colocar um fim na vida ao comprar a passagem do cruzeiro; por que estava me sentindo assim agora como se estivesse deixando para trás uma parte de mim mesmo?

- Tudo bem? Está sentindo dor? Te machuquei outra vez, não foi? – perguntou ele quando me viu pensativo.

- Não, não, está tudo bem, não se preocupe!

- Está triste? Arrependido pelo que fizemos essa noite?

- Não, claro que não! Eu amei cada minuto, Alton! Você é um homem maravilhoso! – respondi, beijando-o quando ele veio para cima de mim.

- Eu também amei cada minuto com você, amei o prazer que me fez sentir! Você é um tesão de gostoso! – exclamou, retribuindo os beijos.

Eu estava nu sob o lençol, ele o afastou, tocou um dos meus mamilos prensando o biquinho entre os dedos, depois o lambeu e beijou, me fazendo suspirar. A bandeja com o desjejum estava ao alcance das mãos dele, tomando um morango, ele o espremeu deixando o suco cair sobre meu mamilo.

- O que está fazendo? – perguntei abismado. Ele não respondeu, apenas lambeu o suco do meu peitinho e colocou o morango na minha boca. Senti meu pinto endurecer na hora.

Me encarando com aquele sorriso libidinoso, ele pegou um pedaço de manga da salada de frutas e repetiu o gesto, espremeu-o sobre o outro mamilo, lambeu o suco e o colocou na minha boca. Outro morango espremido sobre a minha barriga foi saboreado com a mesma luxúria e voracidade.

- Quero te comer! – balbuciou ele com a voz rouca e viril.

Eu me ergui, espalmei as mãos sobre seus ombros e o empurrei sobre o colchão, cobrindo o rosto dele de beijos que pinicavam meus lábios quando espetados pela barba cerrada dele. Fiz o mesmo joguinho dele, um pedaço de fruta amassado gotejando sobre o peito peludo dele que era lambido com sensualidade e carinho e depois colocado na boca dele. Fui percorrendo a trilha de pelos que descia pelo abdômen e ia terminar entre os pelos pubianos adensados da virilha. Pedaço após pedaço, lambida após lambida, o caralhão endurecia dentro do short que estava usando. As gotas do último pedaço de fruta deixei pingar sobre os pentelhos após baixar o short e soltar o cacetão intrépido; depois de o colocar na boca dele, abocanhei a chapeleta lustrosa e molhada e sorvi o sumo aromático que ela vertia.

- Vai acabar me matando, Edric! Cacete, seu putinho safado, o que deu em você? – grunhiu ele, contorcendo-se todo.

Não parei de chupar o mastro voluntarioso que latejava na minha mão, lambi-o pela base até chegar ao sacão e coloquei uma das bolas na boca massageando-a com a língua enquanto o Alton suspirava controlando os urros. A cada eclosão de um jato de pré-gozo eu o sorvia sugando-o com os lábios e o engolindo para total delírio dele, que não desgrudava o olhar da minha boca trabalhando sua verga.

- Se continuar me chupando eu vou gozar na sua boca, safadinho tesudo do caralho! – avisou ele. Fitei-o diretamente nos olhos e continuei mamando a jeba suculenta, fazendo-o entender o que eu queria. – É leite de macho que você está querendo, não é rabudo gostoso? Vai mamar meu leitinho, vai? Então chupa, tesão, chupa minha rola, safadinho! – grunhia ele, cada vez mais tomado pelo tesão, até sobrevir o gozo e ele ejacular enchendo minha boca com sua porra leitosa e amendoada, que eu engolia apressado para não sufocar. – Caralho, Edric, caralho! Ai caralho, minha porra, Edric! Você está engolindo minha porra, Edric, cacete como isso é delicioso! – repetia ele num transe de prazer.

Só nos juntamos aos amigos dele no almoço. Nos encararam cheios de desconfiança, imaginando o que tinha rolado entre nós para ele não ter dormido na cabine dele e só aparecer a poucas horas da atracação do navio.

- Onde cacete você se enfiou, Alton? Estamos há horas te procurando, tuas coisas ainda estão todas espalhadas pela cabine! Quando pretende fazer as malas, o desembarque é daqui a pouco?

- Estive ocupado! – exclamou ele com um risinho que não os deixou em dúvida quanto a ter me enrabado.

- Curando as feridas? – perguntou um deles, ao mesmo tempo em que olhava para mim.

- Que feridas? – ironizou. – Tenho outras prioridades a partir de agora!

- Que bom, meu amigo, que bom! Edric, é você o responsável por toda essa mudança do Alton? Pela cara de vocês dois dá para ver que sim! – afirmou outro dos amigos dele, em tom de gozação, o que me fez corar.

Antes deles pegarem o voo de retorno a Londres o Alton passou pelo hotel onde eu estava hospedado. Veio se despedir e me fazer prometer que nos encontraríamos assim que eu chegasse em Londres. Fiz a promessa sem saber se a cumpriria, uma vez que precisava resolver a minha questão com o Piers. Depois de ter transado com o Alton estava me sentindo como se também tivesse traído o Piers e, portanto, não era muito melhor do que ele. Com que moral eu poderia exigir algo dele se me deixei levar pela mesma tentação de luxúria? Sentia-me culpado, o que era ridículo uma vez que fora ele a me trair. Trocamos um último beijo carregado de devassidão e luxúria, antes de ele partir.

- É para não se esquecer de mim! Me ligue assim que chegar a Londres, quero te dar mais de mil desses beijos

Durante o voo fui recordando cada lance com o Alton, quase dava para sentir ele tocando minha pele, seu cheiro entrando nas narinas, o sabor do sêmen morno dele. Já não pensava em desistir da vida, queria vivê-la intensamente ao lado dele. O Edric centrado deixou-se apaixonar perdidamente por aquele estranho revoltado do convés escuro, e já não parava mais de pensar nele por um minuto sequer.

- Finalmente resolveu aparecer! Onde raios da porra você esteve, Edric? Mais de um mês fora de casa, estou te procurando desde o Natal. Você não atende as minhas ligações, não responde às minhas mensagens e, me deixa um bilhete com as minhas coisas todas empilhadas na garagem dizendo que não quer me encontrar quando voltar. Sei que está cheio de razões para estar furioso comigo, mas não é assim que duas pessoas que se amam resolvem seus problemas. – despejou o Piers quando entrei em casa. – Seus pais estão tão desesperados quanto eu, como pode sumir desse jeito sem dar explicações?

- Não sou eu quem deve explicações! De sua parte não quero ouvir nenhuma, você fez um filho na Zara durante a minha viagem a Bruxelas, e isso é tudo que preciso saber para te deixar. Nosso relacionamento acabou, Piers! Não vou te perdoar, e muito menos àquela vagabunda que eu acolhi em minha casa. Quero que saia agora! Nem consigo olhar para a sua cara! Foram mais de oito anos, Piers, oito anos que você simplesmente jogou no lixo! – exclamei, começando a chorar, porque não consegui mais reprimir aquele nó que sufocava minha garganta.

- Eu te disse centenas de vezes que não gostava da Zara, pedi para que não a acolhesse em nossa casa, mas a sua teimosia sempre prevaleceu.

- Então agora a culpa é minha? Você não gostava dela, não a queria aqui dentro, mas na primeira oportunidade fez um filho nela pelas minhas costas! Ora Piers, não seja patético!

- Esse filho pode ser de qualquer vagabundo por aí! Você bem sabe que sua querida amiga abre as pernas com uma facilidade medonha. Ela não pode dizer que sou o pai!

- Não importa quem é o pai, isso pouco me interessa! O que me interessa é que você meteu o pauzão na boceta dela quando teve a chance e traiu todo o amor que eu sentia por você! Isso não consigo perdoar, não sou tão altruísta, não sou tão santo a ponto de deixar isso passar. Vai embora, Piers! A casa é minha, não quero mais você aqui dentro! – impus.

- Você não está raciocinando direito, entendo que esteja abalado, precisa de tempo para reconsiderar. Nós nos amamos, Edric! Não vamos nos separar por conta de um erro, de um deslize que cometi. – argumentou ele.

- Está me chamando de idiota, acha que não estou raciocinando? Foder a boceta da Zara não é um erro, um deslize, é uma puta traição, Piers! É isso que é, uma merda de uma traição! Tudo o que eu precisava considerar, já considerei, e quero você definitivamente fora da minha vida. – revidei.

- Vou passar uns dias na casa do Jamie, te dar um tempo e espaço para pensar! Você sempre foi um cara doce e compreensivo, essa raiva vai passar e você vai perceber que o amor que sente por mim ainda está aí dentro. Vamos nos falando, eu vou te dar o tempo que precisar, sem pressionar! – insistiu ele.

- Você não está entendendo, Piers, acabou! Acabou para sempre! Pegue suas coisas como eu pedi e deixe essa casa, agora! – ele se recusou a sair, disse que não abriria mão de mim e que, quando a Zara parisse, eu teria a certeza que o filho não era dele.

Fui para o quarto disposto a chamar a polícia para me ajudar a expulsá-lo de casa. Contudo, ao ponderar um pouco, não quis protagonizar um escândalo na frente dos vizinhos que nos conheciam há muito tempo. Também não quis recorrer a agressão física, pois o Piers era bem mais forte do que eu, e não fazia meu estilo resolver as coisas na brutalidade.

Só consegui adormecer quando pensei no Alton, na nossa última noite a bordo, na segurança e no calor que encontrei em seus braços, no sabor de seus beijos depois que encharcou meu cuzinho de esperma. Queria estar com ele, queria poder deitar a cabeça no peito dele e esquecer tudo isso. Talvez ele estivesse procurando me esquecer, tentando deixar no passado o fato de ter trepado com um gay num momento de desilusão.

No dia seguinte ele me ligou, reparou de imediato o tom aborrecido e triste na minha voz e me cobrou os motivos. Citei apenas superficialmente minha discussão com o Piers e a recusa dele de sair de casa. Ele quis me ver, queria vir à minha casa, mas recusei passar o endereço para evitar que ele e o Piers se encontrassem. O Alton se zangou comigo, disse que eu não confiava nele, no que ele estava sentindo por mim, em recusar a ajuda dele para expulsar o Piers de casa e, já apelando, que eu não sentia nada por ele, que só senti tesão por ele e nada mais.

- Isso não é verdade, não me chantageie! Se eu disse que estava gostando de você é porque é verdade, não falo as coisas apenas por falar. – retruquei.

No final de semana ele estava na minha porta, descobriu meu endereço e veio disposto a que começássemos a namorar. Precisei rir quando ele usou exatamente esse termo – namorar – pois soava engraçado na boca de um heterossexual machão como ele quando dirigido a um gay. Acabou sendo inevitável o encontro dele com o Piers, que não trabalhava aos sábados e ouviu parte de nossa conversa e, o pior, presenciou a encoxada e o beijo que o Alton deu na minha nuca.

- Então é isso, fala em traição, mas deixa esse sujeito se esfregar na sua bunda como se fosse uma cadela no cio. Quem deve explicações a quem agora, hein Edric? Passou o último mês dando o cu para esse sujeitinho? – cobrou o Piers, o que acirrou os ânimos.

- Quem é você para falar assim com ele, sem nenhum respeito? – perguntou o Alton, peitando o Piers.

- O marido dele! O homem com quem ele vive há oito anos! E você é quem, um pinto no qual ele foi procurar consolo e desforra? – revidou o Piers.

- O marido traidor, você quer dizer! O marido que engravidou a amiga dele, é esse? – questionou o Alton.

- Você está compartilhando os nossos problemas com esse fulaninho que só está a fim de te enrabar, Edric, é isso?

- Fulaninho é o caralho, cara! Quer que eu te mostre quem é o fulaninho aqui? Eu quero o Edric para mim porque gosto dele, estou a fim dele. E, quer você queira ou não ele é meu. Se tiver alguma dúvida podemos esclarecer isso agora mesmo! – afirmou o Alton.

- Parem com isso, os dois! Parecem dois colegiais! Eu já dei o ultimato a você Piers, quero você fora da minha casa! E quanto a você, Alton, espere eu me decidir sem me forçar a nada. – não era o que nenhum dos dois queria ouvir, por isso protestaram.

- Você não fica mais nem um dia com esse canalha, vem comigo para a minha casa, até o expulsarmos daqui ou, se você quiser, ficar definitivamente morando comigo. – disse o Alton num tom bastante impositivo que, diante da renitência do Piers não me deixava muita escolha, e eu concordei em ficar na casa dele até o Piers deixar a minha casa.

- Você é muito mandão, e intrometido! Quem te disse que podia aparecer assim sem avisar e começar a brigar com o Piers? – questionei, enquanto o Alton dirigia para a casa dele.

- Sou, sou mandão e não gosto de ser questionado quando estou coberto de razão. Sou intrometido sim, quando se trata de livrar você desse cara que nunca te mereceu. – respondeu ele carrancudo. – Vamos acionar o sujeito na justiça, a casa é sua, ele não tem direito a reivindicar nada depois do que fez com você. Tenho um amigo que vai te ajudar nessa questão, ele é advogado, e será uma questão de dias para você ter seu ex fora da sua casa. – afirmou.

Sabendo que não valeria à pena insistir, o Piers deixou minha casa assim que recebeu uma intimação judicial. Tivemos uma última conversa, ele se disse arrependido e frustrado por eu não ter lhe dado outra chance, e me acusou de ser volúvel nem tendo esperado nosso relacionamento terminar para já me deixar enrabar por outro.

Quando voltei para a minha casa, algumas semanas depois, outra surpresa desagradável, a Zara teve a petulância de me procurar. Estava à minha espera quando regressei do trabalho.

- Não, mais essa não! Pode voltar de onde veio, não quero ouvir uma palavra que saia da sua boca! – protestei revoltado com a aparição inconveniente dela.

- Por favor, Edric, preciso que me ouça, preciso que me ajude, estou desesperada a ponto de cometer uma loucura.

- Pois então cometa essa loucura, mas longe de mim!

- Estou sem dinheiro, sem ter onde ficar, não consigo emprego com essa barriga, você não pode me deixar na sarjeta. Em nome da nossa antiga amizade, dessa grande amizade de tantos anos, Edric, não me vire as costas você também. – implorou.

- Foda-se, Zara! Foda-se! Se todos estão te virando a cara você bem sabe a razão. Quanto a essa amizade que você se refere, ela nunca existiu, a não ser para mim, pois você só a usou para obter vantagens de mim. Procure os machos que te fizeram essa barriga, por que comigo a fonte secou. Eu já havia te dito para nunca mais me procurar e vou dizer isso pela última vez. Suma da minha vida!

Eu estava impactado com esse encontro quando o Alton chegou e pegou a Zara partindo.

- É essa a putana? – perguntou.

- Não acredito que a maldita teve a coragem de voltar a me procurar para pedir ajuda, você acredita?

- Pessoas assim não se envergonham de nada, só querem obter vantagens às custas dos outros. Não fique desse jeito! Aposto que daqui a pouco vai estar se culpando, seu bobalhão sentimentalóide. – disse ao vir me abraçar. – Eu trouxe o jantar, você vai sentar comigo, vamos comer em paz, tomar um vinho e depois vou enrabar esse cuzinho até você pedir arrego, é isso com o que você tem que se preocupar, satisfazer seu macho. – ele era outro cara de pau que não media o atrevimento. Mas quando me encarava com aquele olhar safado e doce, meu cuzinho piscava e só queria a tranquilidade do corpão quente dele.

- Falou o manda-chuva! Faça isso, faça assim, faça assado! – debochei

- Estou querendo passar o resto da minha vida ao seu lado, mas como é que vai ser se você não faz o que eu mando? – perguntou ele

- Acho que você vai precisar descobrir! – respondi, encarando-o com um sorriso, o que o fez me puxar para junto dele e juntar seus lábios aos meus num beijo longo e carinhoso.

- Eu já te disse que vou te dar mais de mil beijos como esse?

Em tempo:

1. O garoto que a Zara pariu quatro meses depois não era do Piers, nem do bombadão. Talvez nem ela mesma saiba quem é o pai.

2. Há três meses vivo com o Alton na casa da Cambalt Road. Não há uma noite em que ele não enfie o caralhão no meu cuzinho e o deixe todo úmido antes de me beijar e me deixar adormecer sobre seu peito.

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Comentários

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Nossa, quase dois meses sem postar nada... Aconteceu algo? Sdds dos contos do Kherr.

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Mais um conto delicioso, kherr! Adoro entrar no kherrverso, como diria um antigo leitor seu que me introduziu aos seus contos hehe (e que sumiu por aí...)

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Obrigado Jota! Seus comentários são sempre muito benvindos! Forte abraço, meu querido!

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Fico alguns dias sem entrar aqui, e quando entro, me deparo com um monte de contos inéditos de um de meus escritores favoritos! Como a vida é boa!!

Kherr meu querido que conto fantástico, você sabe mexer com meus sentimentos, comecei a leitura indignado com o Edric, não consigo aceitar que algumas pessoas julguem suas vidas tão sem valor, a ponto de pensarem em suicídio só por causa de uma traição, mas fiquei com um sorriso de orelha a orelha quando ele manteve a postura, não perdoou o canalha e ainda saiu por cima encontrando um outro gostosão na figura do Alton, que se revelou o macho ideal para ele.

Outra coisa, você nos faz viajar por inúmeros países nas suas histórias, só nessa foram uns cinco ou seis diferentes, e fiquei curioso com duas coisas: como você escolhe seus cenários? E tem algum lugar que você ainda não escreveu, mas tem vontade de representar em alguma de suas histórias?

Sem mais a acrescentar, fico aguardando pelos novos contos, um grande abraço.

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Valeu Gilberto! Depois ainda me acusam que meus passivos são todos bobocas sem autoestima, mas não é bem assim. Num primeiro momento o Edric ficou sem chão, só quem já foi traído em condições semelhantes à dele sabe do que estou falando; mas aos poucos, ele foi descobrindo no Alton que quando uma porta se fecha, uma janela também se abre, e apostou todas as suas fichas no gostosão do Alton.

Muitos dos meus cenários, quase todos, fizeram parte das minhas viagens, tanto os lugares quanto muitas das características dos personagens. A recente história O Pirata Tarado foi inspirada nas paisagens de Granada, Trinidad e Tobago e Barbados onde estava em férias com meu marido. Eu gostaria de ambientar mais contos nos países como o Uzbequistão, Cazaquistão, Mongólia e Turcomenistão que dizem ter paisagens fantásticas, mas onde é difícil entrar e extremamente perigoso devido aos regimes governamentais inconstantes. Um super abração, meu querido!

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sem duvidas eu amo seus contos e como voce transmite todos os sentimentos , obrigada

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Obrigado shucunmama! Só tenho a agradecer! Abração!

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Você não existe. Deus abençoe essa mente brilhante cheia de sonhos e ideias que você transforma em palavras e nos presenteia. Cada conto seu que leio fico em êxtase e curioso pelo próximo. Poderia ficar aqui horas rasgando seda e te elogiando mas vou só te agradecer e desejar tudo de melhor que você mereça. Forte abraço do fã carioca.

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Olá Roberto! Quisera eu ser tudo o que você mencionou, mas te agradeço pela gentileza. Um super abração!

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