Mando mensagem para o Mateus a noite, quero me desculpar por ter causado mais problemas a ele com o Beto, mas ele me responde me tranquilizando e falando que está tudo resolvido, ele até me convida para treinar, mas como nós dois bebemos achei melhor deixar para amanhã, estou marcando compromissos como se morasse aqui de novo e isso é estranho, outra coisa estranha é que Téo ainda não me ligou e nem mandou mensagem, Beto não deve ter falado ou pior falou e agora ele está puto comigo, então mando mensagem para ele.
“Téo, estou no meu pai.” Mando apenas isso. “Sério, porque não me falou que estava vindo Iuri.” Ele não parece saber que eu já estava aqui. “Queria fazer surpresa.” Espero os três pontos até sua mensagem chegar. “E deu certo estou surpreso, cara só queria que tivesse me falado antes, não estou na cidade.” Como assim não está na cidade eu penso. “Onde você está?” Pergunto. “Lembra que te falei do casamento na praia, durante a festa a noiva quis me chupar e o noivo pegou a gente, só que o cara é desse que gosta de ser corno agora estamos no nordeste em lua de mel.” Ainda não estou acreditando no que ele me falou. “Téo?” Ele responde. “Eu sei, eu sei, mas olha você fica até quando, eu vou está de volta no domingo, não está tão longe, esperei seis anos, você pode esperar uma semana?” Engulo em seco sua mensagem porque notei o tom que ele quis dizer, mas Téo é assim não tenho como nem ficar puto com ele, “Beleza, eu vou está aqui quando você voltar, divirta se na sua lua de mel.” Téo é o cara mais estranho do mundo, uma hora ele está me pondo louco para vir ver ele e agora está em lua de mel com um casal recém casado, realmente não consigo saber o que o Téo quer de mim, talvez Lipe tenha razão e essa viagem foi na verdade um grande erro.
E por falar em Lipe ele não me responde, mas pelo menos não me bloqueou, mando mensagem para o Jonas porque estou com saudades, nunca pensei que sentiria falta do meu irmão, mas estou, já me acostumei com ele e com Isaac mesmo que só tenha um dia que estou fora não ver eles é estranho, nos vemos todo dia. Para comemorar que estou em casa meu pai trouxe japonês, só os meus preferidos, vou ficar mimado assim, jantar com ele presencialmente é surreal, mais uma vez me vem a sensação de que nunca parti, esse momento é tão familiar para mim e acho que para o meu velho também que está feliz que nem pinto no lixo, é bom tirar um pouco a tensão na espera do resultado do exame, eu sei que sou filho do meu pai, minha dúvida é se o Jonas também é.
Estou dormindo melhor, pensei que minha vinda para casa seria mais difícil, mas até que está sendo de boas, meu pai já foi trabalhar quando saiu do quarto, tomo meu café e vejo que Lipe me mandou uma mensagem, ele diz que está ocupado com a faculdade e que deseja que tudo dê certo para mim em casa, achei a mensagem muito impessoal, mas não vou reclamar afinal ele me respondeu, desejo bom dia para ele, falo com Jonas rapidinho e ele diz que as coisas lá não andam muito boas, nossa mãe apareceu hoje mais cedo na casa dele, o clima está pesado, no fim ele agradeceu por mim ter viajado, afinal nem eu sei o que faria se visse ela de novo.
Não quero ficar em casa de bobeira, então pego o carro e saio para visitar alguns velhos amigos, meu pai me chamar para almoçar em um lugar perto do trabalho dele e durante a tarde aproveito para por uns trabalhos da faculdade em dias, já estou perdendo aula, não quero ficar muito atrasado, no início da noite Mateus me manda uma mensagem, dizendo para me arrumar que ele vai passar para me pegar. pergunto onde vamos e ele só diz roupas leves, deve está planejando algo na casa dele, lá tem piscina então explica as roupas leves, quando ele avisa que está chegando fico no ponto para recebê-lo.
“Então fim do mistério para onde vamos?” Ele arqueia as sobrancelhas e me olha com um ar de mistério. “Quem disse que acabou, só acaba quando chegarmos.” Ele fala, demora um pouco mas reconheço o caminho ele está me levando para o treino, até trouxe um kimono para me emprestar, o sensei quase cai para trás quando me ver entrando no dojô, tem umas caras novas, mas alguns velhos companheiros de treino vem me cumprimentar, estou tão animado de poder treinar de novo nesse lugar, o sensei não pegou leve, passou um treino puxado e gostei bastante de relembrar os treinos de antigamente, ele está mais velho por isso passou algumas de seus turmas para o Téo, mesmo assim a turma do último horário ele não abre mão.
Durante a luta de treino lutei contra um cara das antigas e venci, depois contra um novato, ele deu trabalho, mas consegui uma breja e o derrubei, quase no fim do treino Mateus me desafiou, ele é osso duro, o único na academia que podia vencer o Téo na nossa era de ouro, como Téo ainda compete e o Mateus não agora acredito que a diferença entre eles tenha aumentado, mesmo assim luto com tudo que tenho e até consigo cansar o Mateus, faço umas entradas e quase consegue derrubá-lo, mas ele é ágil e tem uma técnica muito precisa, me preparo para montar uma armadilha para ele, mas a experiência dele o faz prever meu movimento e me derrubar, só que meu plano não falha totalmente e consigo trazer ele para o chão junto comigo, Mateus cai em cima de mim, estamos os dois rindo afinal foi uma luta e tanto, vendo seu rosto tão de perto percebo que ele é ainda mais bonito de pertinho, logo trato de afastar de novo esses pensamentos e com a sua ajuda volto a ficar de pé, o sensei vem e me dá uns toques, me indicando o que posso melhorar e diz que quase venci, já fico feliz, afinal vencer o Mateus seria um feito e tanto.
Saímos do treino relembrando os tempos em que treinamos a seis anos, Mateus entrou já perto da minha partida, mas temos muitas histórias boas, paramos para tomar açaí no mesmo lugar em que íamos naquele tempo. “Nossa esse lugar continua igual.” Falei admirado do lugar não ter mudado absolutamente nada da última vez em que estive aqui. “Não vai levar sorvete para a Mel?” Pergunto. “No fim de semana ela já vai tomar com a avó e a tia dela.” Ele fala como um adulto responsável, sempre que se trata da Mel Mateus é outra pessoa, um cara muito responsável e sério. “Mas aí você já sabe até quando vai ficar?” Ele pergunta. “Ainda não sei, mas só estou esperando o Téo voltar e o resultado do teste de dna, falei com esse patife e ele está viajando.” Mateus faz uma cara de entendimento. “Agora faz sentido, ele não costuma faltar ao treino.” Ele diz, mas pelo que parece Téo tem andado estranho, o que me levanta outra questão, Beto não contou para o Téo que eu tinha vindo, nem consigo entender o porquê disso. “Se acertou com o Beto ontem?” Pergunto, a fim de quem sabe sacá algo que ainda não estou conseguindo observar.
“Ele falou que foi só buscar umas coisas que estavam lá em casa.” Ele dá de ombros, Mateus parece triste de ter tocado no assunto então me desculpo. “Não, relaxa é só que fico procurando motivos na minha cabeça para voltar com ele, eu amo o Beto, amo de verdade, na primeira turnê brigamos muito, agora vem uma nova por ai, sei lá, é difícil está na estrada brigado com ele.” Entendo um pouco o que ele quer dizer, queria está falando normalmente com Lipe, mas ele escolheu ficar na dele, criando um distanciamento que não pedi. “Ontem ele meio que me lembrou o porque acabou sabe, com as atitudes dele, talvez quando voltar da turnê vou ter pensado bem no que quero fazer e se vamos continuar, só que não tenho raiva dele e nem nada assim, Beto foi uma das pessoas mais importantes da minha vida.” Ele sorri se dando conta de que usou a palavra no passado, Beto foi alguém importante, quer dizer que ele está começando a aceitar que não é mais.
Ele me deixar em casa depois do açaí, ficamos dentro do carro conversando um pouco sobre o repertório novo dele, e Mateus me passa duas músicas suas inéditas que ainda não foram postadas para que eu escute e diga a ele depois o que achei, ele confiou muito em mim, afinal se eu vazasse essas músicas atrapalha todo o esquema de lançamentos. “Cara dá para acreditar, você é famoso.” Falei rindo. “Não sou tão famoso, gosto de ser meio nichado, estou ganhando uns trocados e tá bom demais.” Estamos rindo e nem foi dito nada engraçado. “Sabe sei que você voltou para se resolver com Téo, mas queria te agradecer por ter me ligado.” Sou pego de surpresa. “É que com isso do Beto e com toda essa situação com minha ex, sei lá estava precisando só sair e jogar conversa fora.” Ele nem sabe que está me ajudando também. “Quer isso, também precisava disso, Lipe não está falando direito comigo e estou começando a ficar preocupado, talvez essa não tenha sido a melhor ideia que já tive.” Confesso. “É que passei tanto tempo tendo medo de voltar e agora estou aqui, só que estou me dando conta de que não sei o que vim fazer aqui afinal, eu sei que tenho que conversar com Téo, mas é que agora que estou aqui percebi que já podia ter vindo antes, fiquei tão perdido dentro de mim que criei uma coisa que não existia na minha cabeça, mas desculpa estar te enchendo com minhas loucuras.” Tento abrir a porta do carro, pois fui tomado por um constrangimento de ter falado dos meus problemas ignorando que Mateus também tem problemas até maiores. “Espera Iuri, somos amigos, eu sei que foi difícil tomar a decisão de voltar, nunca queria diminuir o que você sente ou sentiu por causa dos outros.” Olho para o Mateus e me arrependo de ter feito isso porque agora meus olhos encontraram sua boca, e vejo os olhos dele descendo até a minha.
“Obrigado pelo convite, a gente se fala.” Digo quebrando nosso transe, é normal me sentir atraído por ele, já me senti assim antes, ele é bonito e um cara bacana, não posso deixar que minha carência estrague tudo, Mateus não é pra mim e nem eu sou para ele, a história dele é com o Beto e a minha é com Lipe ou com Téo nem sei mais. “A gente se fala.” Ele me responde, desço do carro e volto para falar com ele só que pela janela dessa vez. “Me avise quando chegar” Ele faz que sim com a cabeça e vai embora, vou direto para o banho para tentar tirar certas ideias idiotas da cabeça e tentar focar minha imaginação em outra coisa.
“Isaac, desculpe o horário.” Pois é, o banho não funcionou então liguei pro meu mano mais velho em busca de pérolas de sabedoria. “Relaxa mano, acabei de fechar, seu irmão está aqui comendo quer falar com ele?” Digo que ainda não, mas peço para ele falar que amo o Jonas e estou com saudades. “Preciso de sua sabedoria, senhor perfeito.” Falo e ele rir do outro lado da linha. “Estou sempre disponível para partilhar meu vasto conhecimento de mundo, fala o que você precisa?” Posso ver na minha mente Jonas revirando os olhos, ele odeia quando o Isaac banca o sabe tudo. “Téo está fodendo com um casal no nordeste e eu estou aqui esperando ele voltar para saber se ele gosta de mim, deve ter algo errado comigo não tem?” Colocar para fora parece ainda mais ridículo.
“Você sabia que esse era o risco?” Ele fala, não me julgando, tá mais me lembrando mesmo. “Mas tenho medo, tipo o Lipe não está falando comigo.” Isaac pensa por um minuto até que fala. “Não deve ser fácil para ele se apaixonar por um cara e saber que ele tem outro no coração, por mais que você diga que está ai para por um fim na sua história com Téo, para ele pode ter uma chance de você e do Téo se encontrarem, no sentido de se apaixonarem de novo.” Isso explica o porque ele tem me evitado, ele pode está querendo se preparar para o pior e falando comigo não vai ajudar a aceitar que não vamos ficar juntos, por isso gosto de falar com Isaac, ele sempre me mostra o que não estou vendo, até penso em falar com ele sobre o Mateus, mas não tem o que falar.
