LIVROS E PAIXÕES [6] ~ A verdade sobre a prova

Um conto erótico de Renato
Categoria: Gay
Contém 4103 palavras
Data: 23/01/2024 05:47:02

Ele se levantou e foi tomar banho.

Eu o segui e nós tomamos banho juntos.

Trocamos beijos e carinhos enquanto no lavávamos. Eu aproveitei cada segundo.

Meu sexto sentindo estava apitando e eu resolvi que era melhor não perguntar sobre a tal prova. De um jeito estranho que não sei explicar eu senti que assim que eu perguntasse meu mundo giraria ao contrário.

Depois do banho eu inventei uma desculpa e disse que precisava ir para casa.

No caminho eu xinguei a mim mesmo de covarde...

Se eu sentia que tinha algo errado eu deveria perguntar e não fugir da resposta. Também me chamei de paranoico, afinal era só uma prova de inglês, o que poderia estar errado em uma simples prova?

Chegando em casa, o Carlos me ligou para a gente ir à praça encontrar com as meninas.

Eu perguntei o horário e ele disse que estaria lá às 19:30 h.

Eu olhei para o meu relógio sobre a cômoda ao lado da minha cama e vi que ainda eram 17:00 h.

Decidi aceitar o convite, afinal ainda teria algum tempo para descansar antes de sair.

Eu precisava descansar porque estava meio dolorido.

Fazer amor com o Alex foi perfeito, mas teve alguns efeitos colaterais.

Programei o celular pra despertar às 18:50 h.

Deitei na cama e apaguei!

Acordei com o toque do celular.

Sabe quando você acorda relaxado?

Foi assim que eu acordei. Me virei na cama e fiquei olhando para o teto. Minha mente estava vazia e eu não queria que ela se enchesse de preocupações e pressentimentos de novo.

O convite do Calos veio em boa hora!

Me arrumei e quando estava saindo, olhei para o meu violão novo no canto do meu quarto; passei a mão nele, procurei meu celular em cima da cama e procurei o nome da Marília na minha lista telefônica. Localizei o número e dei um toque.

- Alô, Marília?

- Alô, quem fala?

- Aqui é o Renato, tudo bem?

- Ah Renato... Tudo bem, claro!

- Bom olha, você está indo pra praça encontrar o pessoal?

- Estou sim!

- Me espera aí então, eu passo na sua casa pra te pegar.

- Ah legal! Vou ficar te esperando!

Ela desligou o telefone; saí de casa e subi a rua até a casa dela.

Quando passei em frente à casa do Alex a luz da sala estava ligada. Na mesma hora um monte de coisas passou pela minha cabeça e eu as varri para a escuridão do meu subconsciente, usando a imagem dos meus amigos.

Por isso fiz questão de pegar a Marília na porta da casa dela. Dentre todos, ela em especial me distraia dos meus problemas e para mim seria muito bom fazer a maior parte do caminho até a praça, acompanhado.

Quando cheguei à casa dela, toquei a campainha e ela abriu a porta sorrindo e claro, corando.

Ela sempre corava perto de mim.

Devo confessar que me assustei quando percebi que gostava disso. Gostava de vê-la corar perto de mim.

Ela estava com o violão dela na mão e disse quando percebeu que eu carregava o meu comigo:

- Parece que hoje nós vamos ter um luau na sorveteria...

- Hoje eu quero mostrar todo o meu talento!

- Nossa, acho que vai formar plateia em volta.

- kkk, se nós tivermos sorte, ninguém vai jogar tomate e ovos na gente.

Ela riu e me acompanhou rua acima. Cumprimos o caminho até a praça rapidamente e nem percebemos a distância enquanto conversávamos... E como eu esperava, meu objetivo foi alcançado e eu não pensei na tal prova e nas suas prováveis consequências.

Ao chegarmos à praça era possível ver a árvore das Luzes de longe e a sorveteria em estilo colonial parecia lotada; na verdade quando chegamos lá percebemos que ela estava tão lotada que não havia mais mesas prateadas.

Procuramos pelo Carlos e os outros e os achamos sentados na grama bem perto do tronco da árvore. Cumprimentamos todos e nos sentamos na grama também.

Matheus e Larissa parecem que finalmente haviam parado de desentupir as pias um do outro e conseguiram conversar normalmente com a gente.

Foi uma noite muito boa; o Carlos falou sobre sua última viagem a Portugal e como tudo para ele virava piada, nós não paramos de rir.

A Alê pontuava a história com seus comentários sem sentido (tadinha dela, se fosse loira não seria tão burra...).

A Larissa anunciou oficialmente que ela e o Matheus estavam mais do que ficando... Ainda não era namoro, era mais como a fica oficial.

Eu e Marília tocamos algumas músicas... Legião Urbana, Kid Abelha, Cazuza, Frejat, Paralamas e Titans... Só clássicos; eu não sabia as cifras de muitas dessas músicas, mas a Marília havia levado um caderno cheio de cifras.

Ela tocava bem melhor do que eu, mas eu cantava melhor e nós fomos nos ajustando ao ritmo um do outro. Eu comecei a cantar mais do que tocar e me surpreendi quando ouvi algumas palmas ao final de uma música.

Marília me olhou rindo e disse:

- Eu te avisei que ia juntar plateia. kkk

Eu estava muito sem graça, e claro, corei muito... Ela ficou rindo de mim.

O Carlos olhou pra nós dois e exclamou:

- Ah Meu Deus! Está rolando né!

Marília se engasgou com o riso e ficou mais vermelha do que eu. E eu também estava corado... E acho que isso fez com que todo mundo entendesse tudo errado.

Percebi que era hora de voltar pra casa, e como da outra vez, ficamos por último eu, Carlos e Marília.

Na hora de deixá-la na porta da sua casa, rolou um clima meio estranho e ela me disse:

- Parece que nós dois formamos uma ótima dupla.

Ela parecia uma pimenta de cabelos cacheados quando me disse isso.

- A julgar pelas palmas eu acho que sim, talvez a gente deva escolher um nome sertanejo como... Ah.. “Laranja e Bagaço”... “Goiabada e Queijo”...

Ela riu e deu um passo mais para perto de mim. Fiquei sem saber o que fazer e dei um beijo na bochecha dela.

Eu senti a pele quente dela e o seu perfume doce.

Ela parecia radiante de felicidade logo depois que eu me afastei e muito sem jeito e desengonçadamente ela andou para trás, em direção à porta, e dando um breve aceno de mãos, ela entrou.

Eu me virei para a rua e vi o Carlos me olhando com um sorriso engraçado.

Ele me disse com uma voz acusatória e meio brincalhona:

- Você só está flertando com ela né!

- Eu não estou flertando com ela.

Nessa hora eu pensei que talvez ele estivesse certo.

Ai meu Deus! O que eu estava fazendo...

- Cara, pode parecer, mas não é nada disso, pelo menos eu não tenho essa intenção.

- Eu imaginei que você não tivesse. Até brinquei com você ontem, mas quando vi você fazendo a mesma coisa hoje, achei que precisava falar com você.

Agora ele realmente estava falando sério e continuou:

- Renato, se você continuar com isso, acho que o Alex não vai gostar.

Eu fiquei branco gelo quando ele disse isso e logo depois quando eu ia negar, minhas bochechas coradas me traíram.

Eu fiquei mais vermelho do que nunca.

- Renato... Nem tenta disfarçar... Eu vi vocês dois juntos em uma sala logo depois do show de talentos.

- Cara, pelo amor de DEUS, não conta pra ninguém!

- Eu já sei disso há um bom tempo e nunca contei pra ninguém. Não vou contar agora...

- Por quê? Por que você guardou o nosso segredo?

- Porque eu também já me diverti com uns primos meus. Quem nunca se divertiu com uns primos quando era moleque?

- Eu nunca “me diverti” com meus primos.

- Mas se diverte com o Alex.

- Eu não me divirto com ele; eu amo ele!

- É; eu imaginei isso. O jeito como vocês se olham... Todo mundo percebe que tem alguma coisa. O fato cara, é que se você o ama, ele não vai gostar de te ver com a Marília. E por mais que eu entenda que você não quer que ninguém descubra sobre vocês, eu não vou deixar você usar a Marília como fachada. Ela não merece isso.

- Eu não quero usar ela como fachada.

Essa ideia me enojava, eu nunca faria isso nem com ela nem com nenhuma outra garota, mas eu estava muito confuso com tudo que eu acabara de ouvir.

O Carlos sabia sobre mim e o Alex e não contou a ninguém porque também gostava de se divertir com os primos...

Eu olhei para o Carlos e ele ainda estava meio sério e disse:

- Olha cara, se você me promete que não quer usar a Marília tudo bem, nesse caso eu só te alerto pra ter cuidado com o Alex, ele pode ficar puto.

Depois de dizer isso ele deu um sorriso sacana e disse:

- E claro, o mais importante: se um dia você ou o Alex ou os dois quiserem se divertir em grupo, me dá um toque.

E piscando um olho ele deu meia volta e foi embora pegando uma transversal que levava até à sua rua.

Filho da mãe!

Ele queria se divertir comigo e o com o Alex.

Hum... Tenho que confessar que por alguns milésimos de segundo eu pensei que talvez fosse divertido, mas logo depois minha mente voltou a ter foco... E esse foco era a Marília.

O que bolas, diabos, eu estava fazendo com essa garota?

Eu adorava a companhia dela, mas era como amiga.

O problema é que desde o começo eu percebi que ela queria mais do que amizade e de uma forma semiconsciente eu estava alimentando isso.

Eu precisava explicar tudo para a Marília.

Eu queria ela perto de mim. E para poder tê-la por perto, de forma segura, sem magoá-la, ela precisava saber toda a verdade sobre a minha sexualidade.

Quando cheguei em casa, encontrei minha mãe jantando com o Tio João e me juntei a eles e contei sobre a roda de música debaixo da árvore das Luzes.

Tio João ficou surpreso com esse meu novo passatempo e pediu pra eu tocar uma música e a minha mãe se juntou a ele dizendo que eu nunca tocava em casa e ela queria me ver tocar.

Toquei uma música bem simples do Legião Urbana chamada “Antes da Seis”, mais conhecida pelo seu refrão “quem inventou o amorrr... me explicar por favorr...”.

Minha mãe bancou a coruja e ficou elogiando o “bebê” músico dela, dizendo que eu tinha talento.

Tio João foi mais além e disse que se eu estivesse levando a coisa de tocar a sério, ele me colocava no conservatório de música, onde eu teria a orientação de professores de verdade sobre violão e canto.

Pensei por um minuto e aceitei a oferta.

A Marília ia morrer de inveja quando soubesse.

Naquela noite pensei em muitas coisas antes de dormir.

Aquele foi um dia incrível!

A minha primeira vez foi com alguém que eu amava muito.

O olhar do Alex logo depois... Meu coração acelerou só de lembrar.

Pensei também no Calos.

Ele sempre soube e guardou o meu segredo.

Ele entendia, do jeito distorcido dele, a minha relação com o Alex e ele conseguia ver o amor que havia entre nós dois e foi muito fofo da parte dele se preocupar com a Marília.

Ele queria ter certeza que eu não estava usado a amiga dele.

Sem dúvida nenhuma, o Calos tinha muita hombridade.

Falando na Marília, pensei nela também. Eu comecei a conversar com ela há apenas dois dias, mas já sentia como se ela fosse parte da minha vida... Tão amiga; tão companheira; tão compreensiva... Tão apaixonada...

Por que será que na adolescência tudo é tão intenso?

As amizades... Os amores...

Todos marcados pela intensidade.

Intensidade e Adolescência...

Existe uma obra literária clássica que fala exatamente disso:

“Romeu e Julieta”

A maior parte das pessoas quando ouve falar desses dois pensa logo em um grande amor proibido porque as famílias se odiavam.

O fato é que pouca gente percebe que o grande amor de Romeu e Julieta só durou cinco dias e que Romeu tinha dezesseis e a sua Julieta, se não me falha a memória, apenas treze, que na idade média, onde se passa a história, era a idade de uma solteirona, mas enfim...

Menos gente ainda, lembra que Romeu estava mortalmente apaixonado por Rosaline e queria até morrer por causa dela, mas quando conheceu a sua Julieta, esqueceu completamente a outra.

Julieta e Romeu se conheceram em um dia, casaram-se escondidos no outro, transaram no terceiro dia, passaram um dia separados e morreram no quinto e derradeiro dia desse Amor!

Eu sempre critiquei Romeu, mas agora não podia mais, afinal, ali estava eu mortalmente envolvido com alguém e vivendo relações intensas que se tornavam mais complexas a cada dia.

Morrendo de medo de saber o objetivo das provas do Alex; logo eu que sempre fui racional, de repente me percebi um tolo passional, igualzinho o lendário Romeu.

Definitivamente era hora de tomar as rédeas da minha vida.

Se minha intuição estivesse correta, eu precisava saber exatamente os motivos das provas no consulado e assim me preparar para o que viesse.

Se não fosse assim eu provavelmente iria acabar como o Romeu.

No dia seguinte, quando abri a porta de casa e olhei para a mureta do outro lado da rua, encontrei alguém que eu não esperava sentado lá: A Marília.

- Bom dia, Renato!

- Bom dia Marília! - eu respondi meio confuso.

- Eu estava passando aqui pela frente e resolvi te esperar para ir comigo até a escola. O Alex estava aqui te esperando também e foi ele que me disse que você ainda não havia saído.

- O Alex? - eu perguntei me fingindo de desentendido.

- É, ele sim. Ele me contou que de vez em quando ele te espera, mas como eu disse que ia te esperar, ele resolveu ir indo para a escola.

“Ele deve estar bufando de raiva” - eu pensei.

- Se é assim, vamos logo; lá eu falo com ele.

O caminho até a escola foi divertido.

Sempre era bom conversar com a Marília.

Quando chegamos, cumprimentamos o Carlos, que estava conversando com uns caras que eu não conhecia e ele piscou pra mim de um jeito engraçado e eu entendi o recado dele.

Quando entramos na sala eu tive que desviar da Larissa e do Matheus que estavam desentupindo pias entre as carteira.

Olhei para o fundo da sala e vi o Alex.

Ele parecia calmo, mas eu já o conhecia muito bem para saber que estava chateado.

A Marília se sentou do nosso lado e eu e ele não pudemos conversar durante a aula.

A Marília o elogiou dizendo que ele era um ótimo professor e ele respondeu:

- É! O Carlos me contou do seu showzinho na praça ontem.

A voz dele estava calma, mas eu percebi o tom de acusação. Eu havia inventado uma desculpa qualquer no dia anterior para poder sair sem conversar com ele sobre essas malditas provas e agora ele estava achando que eu menti para poder sair com a Marília, ou pior, com o Carlos.

Eu sabia que estaria ferrado assim que nós ficássemos a sós.

- Por que você não foi com a gente ontem Alex? - a Marília perguntou.

- Eu não sabia que vocês iriam para a sorveteria da praça, senão eu iria com certeza.

Ele disse isso me encarando. Fiquei calado porque, como dizia minha mãe: “fica calado, que calado você ainda está errado” .

Na hora do intervalo, a Lari veio chamar a Marília para ir ao banheiro.

Por que as mulheres sempre vão aos bandos nos banheiros?

E quando elas se afastaram e não tinha mais ninguém na sala, ele começou:

- Então, foi por isso que você saiu quase correndo lá de casa... Pra encontrar com o Carlos e a Marília?

- Eu posso explicar... Pelo menos eu acho que posso.

- Não; você não pode... Ontem foi o melhor dia da minha vida e eu pensei que tivesse sido especial pra você também...

Eu o interrompi.

- Foi especial pra mim também.

- Então porque você foi correndo quando o Calos te ligou? Ele me disse assim que eu cheguei aqui que vocês tinham saído ontem e que na próxima vez que “repetissem a dose” eu deveria ir junto. O quê você acha que eu pensei? Isso sem falar nessa garota que foi te esperar hoje cedo. Eu até preferir vir embora porque não queria segurar vela para o casal, porque parece que foi isso que eu fiz hoje a aula inteira... Segurei vela pra você e pra ela. O que você quer com essa garota? Você está enganando ela ou o quê? Teve uma recaída?

Era duro ouvir essas acusações tão duras.

Eu odiava quando ele ficava enfurecido desse jeito, mas eu não fiquei calado.

- Você sabe porque eu saí mais cedo da sua casa? Não tem nada a ver com o Calos ou com a Marília... Tem a ver com você e essas provas de inglês no consulado. O dia de ontem foi tão especial que eu fiquei com medo de saber o porquê de você estar fazendo essas provas e estragar o meu dia... Por isso saí correndo da sua casa e dei uma desculpa. Quanto ao passeio com os meninos, o Carlos só me ligou quando eu estava em casa e eu não estou enganando a Marília!

Ele ficou calado e meio branco quando eu falei das provas e disse:

- Bom... Depois a gente fala desses dois que estão te cercando. Eu realmente preciso falar com você sobre coisas mais importantes.

Meu coração gelou nessa hora.

Para o Alex engolir a raiva dele e mudar completamente de aparência e de voz, o problema era sério.

- Essas provas que eu estou fazendo...

- São pra ganhar uma bolsa de estudo no exterior, né?

Eu falei rápido e alto, vomitando em cima dele o medo que estava preso na minha garganta e as imagens dele no exterior, que rondavam a minha mente.

Ele suspirou fundo e isso confirmou minhas suspeitas... Ou pelo menos eu achei que confirmavam.

Mas eu logo iria descobrir que era pior.

- Na verdade, eu já tenho a bolsa de intercâmbio para os EUA... Desde antes de te conhecer, pra ser bem sincero, e essas provas que eu fiz eram só para concorrer às passagens.

Meu mundo quebrou no meio quando eu ouvi isso.

Não sei o que aconteceu com o chão debaixo de mim. Eu fiquei perdido e uma dor lacerante atravessou meu peito.

Ele sempre teve a bolsa de intercâmbio. Todo esse tempo.

Ele sempre soube que ia partir.

Lágrimas de tristeza e raiva escorriam pelo meu rosto.

Eu me sentei e não pude controlar o choro.

Como ele pode?

Tantas oportunidades de me contar e nunca fez isso!

Ele tentava me abraçar e pedir desculpas...

Falava coisas sem sentido sobre não querer me magoar... E sobre amor...

Eu não queria ouvir... Eu não queria ser consolado.

Eu queria correr pra longe dele!

Eu me levantei aos prantos, passei a mão na minha mochila e saí correndo da sala.

Ele gritou meu nome pedindo pra eu voltar lá, mas assim que viu que estava chamando muita atenção, o covarde parou.

Ele não tinha coragem de se expor.

Corri até a portaria da escola e aproveitei a distração do porteiro e saí correndo... Correndo para longe dali... Correndo para longe do Alex, porque eu o amava demais para ficar longe dele...

Maldito paradoxo do amor!

Meu coração estava aos pedaços e mesmo sabendo que isso era impossível, eu agarrava meu peito tentando sentir os vários fragmentos do que outrora fora um coração apaixonado.

Eu estava andando sem rumo... Eu não queria ir pra casa... Queria ficar longe de qualquer lugar onde eu já estive com ele... E assim eu acabei chegando à praça.

Sentei debaixo da árvore das Luzes, que estava com todas as suas lâmpadas apagadas naquela hora do dia.

Me encostei no tronco e chorei.

Chorei mais do que eu me imaginava capaz de chorar.

Meu celular tocava. Era ele.

Atirei meu celular para longe. Soquei o chão de raiva...

Como eu pude acreditar que Deus me daria um grande amor de graça?

Eu, com certeza, não merecia isso...

Agora eu ficava imaginando a minha ingenuidade.

Eu imaginava que uma prova no consulado significava viagem para o exterior, mas eu tinha esperanças que ele não passasse... A que ponto eu cheguei... Desejar que ele não passasse era muito egoísmo, mas o meu amor naquela época era egoísta; ele era o meu mundo e eu queria meu mundo perto de mim.

Mas não havia mais possibilidade dele não passar... Ele sempre teve a bolsa; ele sempre soube que o nosso tempo juntos era limitado...

Eu comecei a controlar minhas lágrimas. Eu precisava pensar claramente; saber a história toda, de onde era essa bolsa de intercâmbio, por quanto tempo duraria...

Talvez fosse uma bolsa de um mês ou dois.

Eu não dei tempo para ele falar, e o visto... ele precisava tirar o visto para os EUA e isso só se faz em Brasília.

Talvez eu ainda tivesse algum tempo antes dele viajar e talvez ele não demorasse a voltar.

E claro que nada disso justificava o fato dele nunca ter me contado nada, mas pensar nessas coisas fazia com que os cacos de coração que me restavam tivessem alguma esperança para continuar a bater....

Demorou algum tempo, mas eu consegui me controlar, ou pelo menos me controlei o suficiente para procurar meu celular na grama e voltar para casa.

Quando cheguei lá encontrei minha mãe sentada no sofá olhando pra porta. Quando ela me viu entrar suspirou um audível “graças a Deus!” e correu pra me dar um abraço.

Quando eu senti o abraço apertado, caí nas lágrimas de novo.

Meu coração doía muito; nunca imaginei que ser magoado doesse desse jeito.

Minha mãe sentou no sofá e eu deitei no seu colo, chorando, enquanto ela fazia carinho na minha cabeça.

Eu adorava os cafunés que ela me fazia, mas naquele dia nenhum carinho poderia penetrar na barreira de tristeza que dominava minha mente.

Era como se alguém tivesse morrido.

Ela não falou nada e nem fez perguntas; somente me deu colo.

Assim era o jeito dela me consolar. Sempre foi assim; desde que eu era criança.

Passado algum tempo eu sentei do lado dela e disse:

- Ele vai embora, mãe!

- Eu sei meu filho, a escola me ligou dizendo que você saiu correndo de lá e logo depois o Alex bateu aqui em casa te procurando e me contou o que aconteceu. Foi muito bom ele ter ganhado uma bolsa de estudos... Você deveria estar feliz por ele.

Eu fiquei chocado com as palavras que a minha mãe tinha acabado de me dizer.

- Como eu posso ficar feliz longe dele mãe? A Senhora não entende! Ele me enganou também... Ele sempre soube que ia viajar.

- Se você não consegue ficar feliz pelas conquistas dele, isso que você sente é qualquer outra coisa, menos amor.

- De que lado a Senhora está?

- Do seu lado, meu filho...

- Então como a Senhora consegue ficar feliz sabendo que eu vou morrer sem ele? Lembra do que eu disse anteontem? Ele é meu mundo...

- Ah Meu filho... - ela suspirou e continuou a falar. - Você só tem quatorze, vai fazer quinze mês que vem; tem a vida toda pela frente e muitos amores pra viver. Eu já tive a sua idade (eu odeio quando ela fala isso) e também tive “grandes amores” que eu achei que fossem durar pra vida toda... E sempre que eu achava que tinha encontrado o príncipe encantado, ele partia meu coração em um monte de caquinhos.

Ela abriu um sorriso triste.

- Eu e Alex não somos assim mãe. A nossa relação era perfeita, ele era meu sol...

- Esse era o problema. Essa história de sol, meu filho; aprenda uma coisa:

nunca deixe sua vida girar em torno de uma outra. Tenha equilíbrio nas suas relações... Eu estava te dizendo isso um dia desses.

Como eu queria ter compreendido o que minha mãe queria me dizer...

Provavelmente eu teria cometido menos erros.

Mas naquele dia eu não estava pensando direito, eu era única e exclusivamente movido pela força dos meus sentimentos... E claro que eu acabei fazendo besteira, afinal é isso que acontece quando a gente não pensa.

Eu já estava a meio caminho do meu quarto quando ela disse:

-Antes de condenar o menino, ou fazer alguma coisa estúpida, escuta a história dele. Deixa ele te contar a história toda da viagem.

Eu olhei para a mamãe e concordei com a cabeça.

Eu realmente iria fazer isso... Mas não naquele dia!

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