Bernardo [17] ~ Apaixonado por Rafael!

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2131 palavras
Data: 02/12/2023 02:48:02
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

Meu avô paterno, seu Aurélio, morreu aos 82 anos, quando eu já tinha XVI. O que sempre gostei nele era sua vitalidade e energia. Até suas broncas eram gostosas de se ouvir. Na última vez que o vi, estávamos passando a páscoa com ele e minha avó no sítio para o qual tinham se mudado depois de se aposentarem. Meus pais estavam me pressionando para eu escolher logo meu curso para o vestibular, e eu tentava lhes explicar como eu imaginava minha vida no futuro, como ela não combinaria com as grandes responsabilidades de um médico, com a seriedade de um advogado ou com a falta de tempo de um administrador de empresas, então meu avô veio com um dos mais sábios conselhos que já recebi

_ Não faça faça planos para o futuro! É uma idiotice. Tudo o que eles vão lhe render são frustrações por não se cumprirem. Você acha que eu planejei isso aqui, um fim de semana com quatro filhos, dez netos e um bisneto num sítio aos oitenta e dois anos de idade? Não, eu apenas deixei a vida ir me guiando. Você tirou uma foto do seu futuro e está tentando chegar lá de qualquer jeito, a todo custo. Não pode, está errado, isso vai te deixar infeliz. Aprenda a viver com o que a vida lhe dá. É o que eu faço!

Infelizmente a vida lhe deu um câncer de próstata que ele escondeu de todos até poucos dias antes de sua morte. Mas sim, foi um dos conselhos mais lúcidos que já recebi: não faça planos. Porém eu tive que apanhar muito da vida para dar valor a esse conselho. Tive que fazer planos e me ver fracassando neles para aprender. Aos recém completados dezoito anos, eu ainda teimava em fazer planos. Quem me dera ter dado ouvido ao conselho de vovô e ter me negado a ser cúmplice nos planos de Pedro e Rafael. Planos esses que, diga-se de passagem, fariam de mim sua maior vítima.

_Então como vai ser?_ perguntou Pedro que me abordara quando eu me dirigia à lanchonete da faculdade.

_Ainda não tive tempo de pensar nisso, mas o primeiro movimento vai ter que ser meu. Eu vou ter que falar com Alice que você está mudando por ela e tal. Você tem que se manter afastado dela por enquanto, sufocá-la com sua presença é garantia de erro. Quando chegar a hora de você entrar em ação, eu te aviso.

_Acha que isso vai dar certo?

_É sua melhor chance. Ela tem uma má impressão sua e uma má impressão não some de um dia para o outro.

_E para isso eu vou ter que fingir que simpatizo com viados?

Meu corpo inteiro tremia quando ele soltava esse tipo de comentário. Eu já não estava no meu melhor estado depois de ter conversado com Eric, eu estava mais frágil que o de costume.

_É, Pedro, você vai ter que fingir isso, sim.

_É por uma boa causa, né?

_Aham.

Ainda não estava muito claro na minha cabeça como eu faria para fazer Alice acreditar em Pedro. Ela não era boba, uma mentira à toa não ia convencê-la. O plano estava começando a ser formar na minha cabeça.

Meu próximo passo era conversar com Alice e Rafael. Fui procurá-los e estavam sentados juntos num dos bancos próximos à lanchonete. Era engraçado de ser ver de longe: os dois não se falavam, estavam sentados lado a lado olhando para o nada. Me aproximei e os dois se levantaram juntos. Rafael ia começar a falar, mas eu o interrompi:

_Sim, ela sabe da existência de um plano de vingança. E sim, ela é confiável.

Ele tornou a fechar a boca. Alice então começou a falar:

_Devo supor que essa amizade repentina é parte do plano?

Tínhamos o cuidado de falar baixo para ninguém nos ouvir.

_Sim, é parte do plano.

Ela ficou esperando que eu continuasse e contasse o resto do plano. Suspirei e contei:

_Vamos fazer ciúmes em Eric.

_Isso é o grande plano de vocês? Fazer ciúme nele? Nossa, vocês são verdadeiros gênios do mal!_ falou irônica.

_E um belo dia,_ completou Rafael _ele vai nos flagrar nos beijando. Vamos fazê-lo pensar que eu e Bernardo estamos juntos.

Alice olhava de mim para Rafael tentando absorver a informação. Estava bem claro para mim que ela desaprovava o que estávamos fazendo.

_Vocês têm merda na cabeça? Por que simplesmente não seguem com suas vidas? O chifre tá doendo tanto assim?

_Ele merece pelo que nos fez!_ bradou Rafael.

_E agora eu realmente quero me vingar._ comentei e os dois olharam para mim _Ele me abordou agora no banheiro sobre nossa repentina amizade. Vocês não conseguem imaginar o nível da dissimulação dele. Chegou ao ponto de quase se fazer de vítima. Eu agora estou cheio de mágoa e raiva, essa revanche vai ser boa para extravasar isso.

_Ele teve coragem de vir falar com você?!_ perguntou Rafael e afirmei com a cabeça.

_Incrível!_ completou.

_Bernardo, me escute._ falou Alice bem séria desta vez _Você acha que isso vai acabar bem? Principalmente para você?

Eu sabia que ela estava se referindo à minha confusão mental em relação à minha sexualidade. Lógico que aquilo ia mexer comigo, mas eu queria correr o risco. Reproduzi para ela a mesma mentira que eu estava dizendo para mim mesmo:

_Vai ser só um beijo, nada mais.

Ela me olhou como se duvidasse seriamente que a coisa acabaria ali. Rafael se intrometeu:

_O que é um peido para quem já está todo cagado?

Nós dois olhamos para não acreditando na idiotice que ele tinha acabado de falar. Ele percebeu e se encolheu como em um pedido de desculpa.

_Bernardo, estou falando sério. Isso não vai acabar bem, principalmente para você.

_Eu vou correr o risco, Alice. Agora, se me dão licença, vou comer alguma coisa porque estou faminto.

Falei tentando encerrar a discussão com Alice. Ela tinha poder para me fazer mudar de idéia, era melhor evitar o assunto com ela por enquanto. Comprei meu lanche e voltei para onde eles estavam. Como estavam de costas, não me viram chegar e peguei o finalzinho de sua conversa.

_...em resumo, se você machucar o Bernardo, você vai se ver comigo, entendeu?_ falou Alice num tom ameaçador para Rafael.

Achei bonitinha a preocupação de Alice comigo, mas não a entendi. Como Rafael poderia me machucar? Eu estava tão cego, não via as coisas que derivariam daquele plano. Alice sim, ela previu tudo o que aconteceria conosco.

_Falando sobre mim?_ perguntei os assustando.

_Não, apenas comentando que o intervalo acabou, temos que voltar para a sala._ respondeu Alice se recompondo.

_Ok, então vamos.

Rafael nos acompanhou, mas foi calado, pensativo. Parecia ter levado a sério a ameaça de Alice.

[...]

As semanas foram se arrastando e aqueles planos iam sendo levados em frente. Rafael insistia que Eric devia ser pego de surpresa, por isso devíamos dar um tempo até ele se acostumar com nossa amizade. Ele tinha que acreditar que éramos namorados e estávamos juntos há algum tempo. Confesso que esse plano me provocava reações diversas. Eu ficava com raiva de Eric por tudo o que ele tinha feito, depois satisfeito por estar me vingando, para então me sentir culpado por fazê-lo sofrer e por fim estranhamente feliz. Eu não sabia a razão daquela felicidade, daquela leveza que eu sentia, daquela repentina vontade de sorrir que me vinha em momentos diversos do dia. Eu não associei aquilo ao fato de Rafael estar sempre nos meus pensamentos. Para mim, eu pensava muito nele por estarmos muito próximos nas últimas semanas, sempre sentando juntos e nos mesmos grupos de trabalho. Pela primeira vez em anos, eu estava feliz, mas não sabia explicar por quê. Eu ignorava o porquê.

Se numa frente a estratégia estava bem definida, na outra eu sofria com a resistência do inimigo. Alice não comprava a idéia da redenção de Pedro, por mais que eu tentasse introduzir isso delicadamente na sua cabeça. Eu tentava enganá-la falando que Pedro não era homofóbico, que aquela era só uma postura que ele adotava em frente aos seus amigos como forma de piada, mas ela não acreditava. Dizia que eu estava me enganando, que eu queria ver um lado bom em Pedro que não existia. Juntá-los nos mais diversos programas como bares ou trabalhos de faculdade também não funcionava. Sempre que ele se dirigia a ela, Alice o cortava e começava um papo com outra pessoa na mesa. O pior disso era ver a cara de tristeza e frustração de Pedro toda vez que isso acontecia. Rafael percebeu que algo estranho estava acontecendo e veio me perguntar. Não vi motivos para não, então lhe contei do “plano” de Pedro.

_Não acho que isso vá dá certo..._ comentou quando terminei.

_É, Alice é osso duro de roer.

_Você sabe que se um dia isso vazar você tá ferrado, né?

_Por que?

_Uai, imagina qual vai ser a reação dela quando descobrir que você está agindo pelas suas costas.

Eu já tinha pensado nisso, mas me tranqüilizava mentindo para mim que ela nunca descobriria.

_Eu sei, mas ela não vai descobrir. Você não vai contar, né?

_Não, de jeito nenhum, não é da minha conta.

_Obrigado.

Caminhávamos em silêncio lado a lado em direção a saída da faculdade. Eu não sabia explicar como eu conseguia me sentir bem em silêncio. Como a simples presença dele podia me fazer sentir daquele jeito? Cego para o que estava acontecendo, atribuí aquele sentimento à magia natural que Rafael envolvia as pessoas.

_E por que você está ajudando ele?

_Como assim?

_Ele é homofóbico e você é...

Ele se interrompeu antes de terminar a frase se lembrando que eu não estava confortável com aquela questão. Para poupá-lo de um constrangimento maior, respondi sua pergunta mesmo estando pela metade:

_Sei lá, às vezes acho que consigo ver alguma coisa em Pedro que só eu vejo, sabe? Ele é uma boa pessoa. E é apaixonado por Alice. Tudo o que ela tem que fazer é dar uma chance a ele.

Ele pareceu pensativo por instante antes de voltar a falar.

_Vou ter que confiar em você que ele é uma boa pessoa.

_Por que?

_Porque estou tentado a te ajudar nisso.

_Como?

_Eu tenho um plano, e pode ser que dê certo.

_Por favor me conte, porque tudo o que eu tento dá errado.

_Bom, vamos marcar de sairmos eu, você, Alice e Pedro.

_Ok..._ respondi tentando ignorar como aquilo soou como programa de casais.

_E, sei lá, eu vou começar a falar mal do Eric.

_Hã?

_Vai escutando. Eu vou falar mal do Eric, falar que, sei lá, ele tentou dar em cima de mim e depois xingá-lo. Então vamos combinar com Pedro dele ser a pessoa que vai defendê-lo aos olhos de Alice.

_Ela vai desconfiar ao ver você xingando Eric.

_Ela vai pensar que é a mesma mágoa e raiva de sempre.

_Ai, Rafael, não sei...

_Eu acho que pode dar certo.

_É muito arriscado...

_Sim, mas se você estiver certo, se os dois podem dar certo juntos, vai valer a pena, não?

_Talvez...

_Então?

_Ok, ok, vamos seguir seu plano. Amanhã você está livre?

_Estou.

_Então combinado. Vou falar com Pedro e Alice quando chegar em casa.

Quando me dei conta, já tínhamos chegado ao seu carro.

_Quer uma carona?_perguntou.

_Não, obrigado, estou indo para o dentista, não para casa.

_Você que sabe.

_Então...

Era comum eu ficar sem jeito com ele, sem saber o que falar ou fazer em seguida. E às vezes ele parecia ficar do mesmo jeito. Ficávamos feito bobos olhando um pro outro, pensando no que fazer.

_Até amanhã.

_Até.

Fui me despedir dele com um aperto de mão, mas ele me puxou para um abraço desajeitado que juntos nossos corpos. Senti o coração dele bater forte contra o meu. Os dois pareciam em sintonia, batiam juntos. Então eu me peguei me sentindo diferente de qualquer jeito que já me senti na vida. Eu me senti cheio de alegria, quente, feliz... Suas mãos deslizaram suavemente pelas minhas costas antes de me soltar. Nossos olhares se cruzaram e eu pude ver em seus olhos um brilho diferente. Talvez fosse o mesmo brilho que eu trazia nos meus olhos. Ele então entrou no carro e partiu, me deixando ali parado com borboletas no estômago. Só ali eu percebi que algo fora do planejado estava acontecendo. Só ali eu percebi que estava me apaixonando por Rafael.

Meu avô gostava muito também de uma frase que só aprendi a valorizar mais tarde. Vovô dizia:

_Bernardo, Bernardo... Você não faz planos para o futuro, é o futuro que faz planos para você!

E assim foi...

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