De passagem (Capítulo único)

Um conto erótico de R. Valentim
Categoria: Gay
Contém 1470 palavras
Data: 23/12/2023 16:58:40

A pior chuva dos últimos dez anos, foi assim que chamaram o temporal naquela noite, um castigo de Deus para os religiosos ou simplesmente um fechamento irônico de um dia inteiro de azar para os desacreditados, é interessante como um fenômeno facilmente explicado pode ter consequências e significados tão diferentes dependendo da perspectiva a qual esteja observando, em uma parada de ônibus qualquer da cidade podemos ter um bom exemplo disso.

De um lado um adolecente de dezessete anos se agarra em seu casaco tentando escapar do frio intenso e das gotas de chuva que o vento sopra em seu rosto corado de tanto chorar, do outro lado um homem de vinte e dois anos muito bonito usando uma roupa de policial justa em seu corpo malhado, dois estranhos sentados em uma parada de ônibus.

— Você está legal? — Perguntou o homem mais velho.

— Sim. — Respondeu o jovem, claramente mentindo, pois seu sim foi seguido por um gemido e fungado de choro.

— Tá bom. — O homem deu de ombros puxando um cigarro do bolso e acendendo na tentativa de se aquecer, no entanto depois da primeira tragada o jovem ao seu lado começou a tossir, por conta da fumaça.

— Desculpe. — O jovem se apressou em falar.

— Tudo bem. — Disse o homem soltando o cigarro e apagando com o sapato.

Os dois ficaram em silêncio por mais um tempo o jovem lançava olhares para o homem de vez em quando, todavia não dizia uma única palavra, o jovem estava mesmo triste isso era visível, já o homem estava irritado com algo, como eu disse para um aquele momento era um grande castigo, enquanto que para o outro se tratava apenas de carma e má sorte, porém a verdade era outra.

— Você é policial? — O jovem perguntou.

—Não. — O homem respondeu.

— Mas você está vestido de policial. — O jovem insistiu em sua dúvida.

— Sou striper. — O rosto corado do jovem ficou ainda mais corado.

— Striper do tipo que tira a roupa? — Disse o jovem.

— Todos os stripes são do tipo que tiram a roupa. — O homem respondeu dando risada da ingenuidade do jovem.

— Eu sei, queria saber se você faz. — O jovem gesticulava por estar constrangido demais.

— Quer saber se faço programa, se transo por dinheiro?

— É. — O jovem estava muito envergonhado.

— Não, só tiro a roupa.

— Legal. — O jovem fala atraindo a atenção do homem. — Quer dizer, desculpe. — Ele interrompe seu pensamento e apenas se desculpa.

— Tudo bem, porque está chorando?

O jovem respira fundo fica de pé e abre o casaco revelando está usando uma blusa cropped e uma saia de couro preta, isso não responde a pergunta do homem, porém o faz admirar a beleza do corpo do rapaz, sua pele branca e com poucos pelos parece delicada e macia, seu rosto corado lhe dando um ar de inocências e uma clara vergonha de está se mostrando para o estranho.

— Está chorando porque o tênis não combina com a saia. — O homem brinca, na intenção de tranquilizar o rapaz.

— Não, essas roupas não são minhas. — O jovem fala se cobrindo novamente.

— Porque está de saias e chorando no meio de uma tempestade? — O homem pergunta de novo.

— Porque está vestido de policial e sem casaco no meio desse frio? — O jovem devolve a pergunta.

— Fui demitido. — O homem responde.

— Por que, você parece ser um gato, quer dizer muito bonito, ou melhor. — O jovem se embaralha todo tentando corrigir o que arranca risadas do homem.

— Soquei um cliente. — O garoto arregala os olhos. — Trabalho no Lucky Thirteen, quer dizer trabalhava, lá a temos a regra de que os clientes não podem tocar, só que tem um idiota que sempre quer quebrar essa regra e ele vive no meu pé para que eu faça um programa pra ele.

— Mas você não faz programa. — O jovem fala.

— Pois é, só que o babaca não aceita o não como resposta só porque tem grana.

— Por isso bateu nele?

— Meu dia já tava uma merda desde cedo, descobri que meu colega de apartamento não estava pagando nosso aluguel e agora vamos ser despejados, o filho da puta não atende minhas ligações, simplesmente sumiu, quando cheguei no trabalho já estava puto ai esse babaca apareceu e veio com o papo furado de sempre.

— Ai você acertou ele?

— Não, disse que não, só que ele bebeu um pouco a mais, na hora da minha apresentação ele subiu no palco e tentou me agarrar, daí sim acertei ele e fui demitido logo em seguida.

— Mas ele quem te agarrou. — O jovem fala indignado.

— Pois é, mas ele é um dos principais clientes, é muito amigo do dono e tem muita grana.

— Sinto muito. — O jovem fala.

— Tudo bem, vou arrumar outra coisa, mas fala aí por que mesmo você estava chorando?

— Tem um cara.

— Um bom começo. — O homem pontua.

— Ele é meu vizinho desde sempre, temos a mesma idade, ele é o cara mais lindo do mundo, e meio que sou apaixonado por ele desde sempre. — Os olhos do jovem tinham uma misto de dor e brilho.

— E ele fez algo com você? — O homem pergunta.

— Não, é que esse anos caímos na mesma sala do terceiro ano.

— Bom.

— Pois é, criei coragem e me aproximei dele, ajudando a estudar, fazendo trabalhos em equipe com ele, com o tempo ficamos amigos.

— Ser amigo de um crush é sempre difícil. — Disse o homem demonstrando um pouco de empatia.

— Sim, mas ele meio que me deu uma abertura semana passada.

— Ah, muito bom e você aproveitou?

— Não exatamente, levei um tempo até acreditar que fosse real e não coisa da minha cabeça, mas ele foi específico, ele disse que queria ficar comigo.

— Então não entendi porque você está chorando, foi tão ruim assim?

— Na verdade não foi. — O jovem respira fundo e continua. — Sou virgem, nunca nem beijei na boca.

- Sério?

— Pois é, ele me disse para ir na casa dele hoje e que me mostraria como é o beijo e você sabe. — Para o homem era fofo o jeito tímido do jovem.

— Ele queria tirar sua virgindade, mas aí isso não explica as roupas. — Pontuou o homem.

— Depois da aula fui para a casa dele, só que estava muito nervoso, quando cheguei a gente conversou um pouco e ele disse que seria melhor se eu me vestisse como uma mulher.

— Ele te deu essas roupas?

— Sim, são da irmã dele. — Os olhos do jovem já se enchiam de água de novo. — Fui ao banheiro e vesti as roupas que ele me deu, mas aí quando sai ele estava com uns amigos e eles tiraram fotos minhas vestido assim, foi horrível.

— Nossa que babaca, se você quiser posso dar um corça nesse moleque. — O homem ficou bem irritado com o que tinha feito ao jovem rapaz.

— Tudo bem, eu fui um idiota de ter acreditado nele, mas na hora fiquei com tanta vergonha que só peguei um casaco para me cobrir e sai correndo.

— E agora está voltando para casa?

— Sim, mas acho que eles devem ter mostrado a foto para todo mundo.

— Parece que seu dia foi uma merda que nem o meu. — O homem fala. — E se eu posso falar azar desse babaca você está gato com essa roupa.

— Sério? — O rapaz fala envergonhado.

— Sério, a propósito me chamo Jean. — Disse o homem.

— Sou o Carlos. — O rapaz fala estendendo a mão e cumprimentando Jean.

O ônibus finalmente chegou e ambos subiram, não tinha quase ninguém além do motorista, eles sentaram no fundo um do lado do outro, Jean era ainda mais lindo dentro de uma ambiente iluminado e isso deixava o jovem Carlos desconcertado, para Carlos os homens bonitos nunca o notariam ou sequer o dariam uma chance, mas Jean conversava e olhava para ele com um visível interesse.

— Então Carlos, que tal eu tirar seu bv. — Carlos engasga com a própria saliva.

— Ah, sim, mas você tem certeza?

— Claro, seria um desperdício você ter se arrumado todo e não ter beijado ninguém. — Carlos rir da piada do Jean. — E ninguém deixa a Baby de canto.

— Essa cantada é velha. — Carlos fala rindo.

— Citar os clássicos faz parte do meu charme. — Respondeu Jean.

Jean e Carlos estavam rindo, ali no ônibus longe da chuva o dia deles pareceu melhorar, pelo menos um pouco, ambos sabiam que ao descer do ônibus ainda teriam que enfrentar seus problemas, mas durante aquele encontro, durante aquele breve momento eles se deixaram levar, Jean segurou o queixo de Carlos, encarou seus olhos por um tempo e percebendo que Carlos não iria recuar ele se aproximou e encostou seus lábios nos dele.

Um beijo doce e gentil, o primeiro beijo de Carlos, com um desconhecido dentro de ônibus tarde da noite e no meio da maior tempestade dos últimos dez anos, mesmo assim aquele foi o melhor beijo da sua vida.

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Comentários

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Queria agradecer as mensagens positivas em relação esse conto, fiquei satisfeito com o resultado.

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Só passei aq pra dizer feliz natal🎉🎉🎉

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Faz a continuação, por favor, Rafa!

Que conto lindo!

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TÁ BRINCANDO COMIGO QUE NÃO VAI CONTINUAR NÉ?

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Ele fica soltando essas bombas depois corre, vê se pode?

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Ah se a vida fosse uma viagem de ônibus

Lindo conto.

Feliz Natal.

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Que coisa linda. Parece um conto de fadas no meio de uma tragédia. Dois derrotados, uma tempestade e apesar disso tudo um beijo doce e gentil num momento de gloria. Você é o máximo. Obrigado e feliz natal.

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Conto excelente. Poderia dar continuidade e nos presentear com uma bela história que só você sabe fazer.. obrigado e feliz Natal

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Tão dengoso esse conto. Tão sublime. Gostei do Carlos. Ingenuidade em pessoa. Precisa sim de um Jean para amá-lo e defendê-lo.

Brigadão, meu Rafa!

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Você tb gostaria de alguém pra te defender, Paulo? 😉

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Jotinha, meu lindo! Claro que gostaria de alguém pra me defender. Quem não quer? Mas, na vida toda, tenho exercido o papel de defensor que, em algumas vezes, cansa. Infelizmente não tenho ao meu lado, um Jota, com sua peculiar sagacidade, seu humor; ou um Rafa, com sua genialidade, criatividade, que fariam sentir-me muito mais forte para enfrentar os desafios cotidianos (e aproveitar para dar/receber muito prazer).

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Não sou sagaz nem bem humorado não, isso é impressão que os comentários passam! Hahaha. Mas que eu sei defender, eu sei viu...

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Rafa, você manda MUITO. Que conto delicioso de ler foi esse?! Adorei. Crônica perfeita, com aquele gostinho de quero mais.

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Só uma coisa rapidinha que me ocorreu e quis dividir com vocês, espero que gostem, sei que não é muito o perfil do site, mas achei que tinha que ser escrito.

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Eu achei interessante, até porque mesmo uma pessoa que as vezes, tem dificuldade de imaginar as coisas, já imaginei algo assim, só que em versão hetero. É o mais interessante foi imaginando isso, parado no ponto de ônibus, eu fiquei olhando as pessoas em volta, e nesse dia tinha um menina e um cara, batendo papo no início eu vi que ela tava dessa forma aí, com. Olhso vermelhos de tanto chorar, é ao que parece o cara tava tentando consolar a mesma. Não vi se rolou algo mais depois disso, pois o ônibus que eu aguardava chegou.

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Outra coisa não se preocupe achar que não é perfil do site, vc é um ótimo autor, tem momentos que é bom ler textos mais leves.

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