Adolescentes em ação [23] ~ SURPRESA!

Um conto erótico de Lucas
Categoria: Gay
Contém 12144 palavras
Data: 29/11/2023 14:33:40
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

O que seria meu presente de aniversário, reunir-me com meus amigos e namorado na casa de praia, tornou-se uma desagradável surpresa oferecida por Marcos e Riick, quem não tiveram nem a sensibilidade de escolherem outro local e momento para traírem o meu amor e amizade, respectivamente.

Eles ainda estavam abraçados quando Marcos resolveu falar.

– Lucas… Calma…

Não o esperei dizer mais nada. Virei-me e saí chorando em direção à rua. Nem bem passei pela porta da sala, encontrei-me com Luke que estava vindo juntamente com Matheus para dentro da casa…

– Luke, quero ir embora, vamos subir.

– Acalme-se. O que aconteceu?

– Nada. Só quero sumir daqui. – disse chorando muito.

– Espere aqui. Vou lá dentro saber o que houve e já conversamos.

Luke e Matheus entraram na casa. Eu fui para a calçada e fiquei chorando baixinho junto ao portão. Não demorou muito e Luke retornou.

– Lucas, todos nós vamos embora. O Marcos, o Matheus, o Riick e o Rodrigo estão arrumando suas coisas e já vão embora. Depois que eles partirem, você entra lá, arruma suas coisas e vamos embora juntos, eu, você, o Rafa e o RB.

– Luke… Eu nunca tive um aniversário tão triste em minha vida… Eu nunca tive um dia tão triste em toda minha vida.

– Lucas, não vamos falar disso agora. Lembre-se que o dia não acabou e seu aniversário também não. Quando você chegar em sua casa, você chama o Marcos e conversa com ele. Quem sabe tudo não passa de um mal entendido? Ouça o que o Marcos tiver para lhe explicar, depois você se decida quanto ao que queira fazer.

– Eu já me decidi, Luke. Nunca mais quero ver o Marcos na minha frente. Nunca mais vou querer ouvir sua voz… E muito menos a do Riick.

– Entre no carro. Vamos dar uma volta até que eles vão embora. Já, já voltamos e arrumamos nossas coisas e também subimos a serra.

Demos uma volta pela praia. Meia hora depois já estávamos de volta. Entrei na casa e o Rafinha veio me abraçar, mas não disse nada.

A viagem toda fomos os quatro mudos. Ninguém me perguntou nada e nada falaram.

– RB, você vai ficar na sua casa? – perguntou Luke ao namorado de meu irmão quando chegamos ao nosso bairro.

– Não. Ele vai dormir em casa. – adiantou-se Rafinha em responder.

Luke encostou seu carro em frente à minha casa.

– Que horas são? – ele perguntou.

Olhei no relógio de meu celular e respondi.

– 20h30.

– Ainda é cedo. Você agora está mais calmo. Sugiro que tente conversar com o Marcos.

– Não adianta, Luke. Já me decidi. Acabou. Sei bem o que vi e não tenho mais nada para conversar com ele.

– Lucas, os nossos olhos veem as coisas, mas quem nos diz o que está acontecendo é nossa mente. Acalme-se e pense melhor no que viu. Ok?

– Está bem, Luke. Vou pensar sim. – disse isso apenas para encerrar o assunto.

Descemos do carro. O Luke abriu o porta-malas. Tiramos nossas coisas e convidei, apenas por educação, o Luke para entrar. Torci para que ele não aceitasse, pois eu não estava com a mínima vontade de conversar com ninguém. Nem mesmo com o Luke, pessoa que eu tanto gostava e que não tinha dúvida nenhuma de que fosse meu amigo.

– Vou aceitar seu convite sim, Lucas, gostaria de beber um pouco d’água.

O Luke sempre foi muito educado. Jamais fora inconveniente com ninguém. Ele sabia da minha dor, da minha angústia, e mesmo assim, invés de ir embora resolvera entrar para beber água. Por qual razão não ia beber água em sua casa que estava tão perto? Enfim, entramos.

Nossa casa estava em silêncio. Deduzi que meus pais aproveitaram que não estávamos em casa e resolveram sair para se divertirem. Tentei abrir a porta da sala, mas não consegui. A chave não girava.

– Rafa, tá com sua chave aí? A minha não está conseguindo abrir.

– Não, Uca. Eu não levei a minha. Mas vamos entrar pelos fundos e pegamos a chave da cozinha que fica escondida na churrasqueira.

Tenho a impressão que todas as famílias têm em sua casa um esconderijo onde colocam uma chave reserva para caso ocorra algum imprevisto. Lembro-me que minha avó a colocava num vaso com samambaias que ficava pendurado bem ao lado da porta de entrada de sua casa.

– Mas, vovó, aí será o primeiro lugar que um ladrão irá procurar a chave, caso queira assaltar sua casa. – eu sempre falava isso para ela, mas pouco adiantava.

– Nunca ninguém mexeu em nada aqui. – dizia ela, que até hoje não modificou o seu esconderijo.

Apesar da frente da casa estar toda iluminada, a parte dos fundos estava apagada e tropecei numas latas, não sei de que, que estavam colocadas bem no meio do corredor que nos levava até a “nossa área de lazer”. Quando tropecei nestas latas, fez um barulho enorme, e ao mesmo tempo ouvi alguns sons que pareciam pessoas sussurrando e andando em nosso quintal. Parei imediatamente.

– Parem, acho que ouvi vozes. Pode ter alguém aí.

– Que nada, Uca. Não tem ninguém. – disse o Rafa que já se adiantou a mim e foi adentrando ao quintal.

Lembrei das vezes que sonhei que meu irmão morria. Principalmente daquele em que ele era morto por um ladrão que assaltara nossa casa. Corri atrás do Rafa para segurá-lo, e assim que o seguro pelo braço as luzes se acendem e uma multidão aparece ao meu redor cantando “parabéns”, acompanhando um CD que executava esta mesma canção, colocado por um DJ que instalara seu equipamento bem próximo à churrasqueira de nosso quintal. Uma enorme faixa estava estendida no muro da casa com a seguinte mensagem: “Lucas, feliz aniversário. Nós todos te amamos!”

Enquanto cantavam, eu, ainda assustado, observava quem compunha aquela multidão.

Estavam muitos colegas de escola, dentre eles Fabinho e as outras Panteras, Ariadne, os Internet, o Rodrigo, que estava comigo na praia momentos antes; estavam meu primo Vinny e sua namorada, a Dona Edith, mãe do Luke, Dona Lúcia; alguns amigos e parentes que fazia tempo que eu não via; bem perto da mesa do bolo, posicionada abaixo da faixa que me saudava, ao lado de meus pais, estava Marcos, com um enorme sorriso e mais lindo do que nunca, junto com seus pais e seu irmão, Matheus. Perto deles, com seu rosto angelical e olhar meigo, Riick também cantava o “parabéns pra você”. Quando eu vi o Marcos e o Riick, fiquei totalmente perdido e sem entender nada. Ou eu me tornara maluco e não sabia avaliar um fato quando o via, ou, aqueles dois formavam uma tremenda dupla de caras-de-pau.

Vendo meu ar de surpresa não só em relação à festa como também em relação às presenças de Marcos e de Riick, Luke se antecipou a qualquer atitude que eu pudesse tomar e, ao pé do ouvido, me explicou o que ocorrera.

– Lucas, relaxa e somente nos xingue depois. O Marcos e o Riick não te traíram, estávamos todos combinados para te fazer esta festa surpresa…

– Luke, seu filho… Até você…

Um sorriso de alívio, e ao mesmo tempo de felicidade, se abriu no meu rosto, e comecei a chorar. Rafinha ao meu lado foi o primeiro a me abraçar e dar os parabéns, chorando, pra variar.

– Te amo muito, Uca.

– Também te amo, Rafa.

Depois meus pais me abraçaram me beijaram. Choramos todos juntos.

– Obrigado papai. Obrigado mamãe.

– Nós que agradecemos a Deus por termos um filho maravilhoso como você. E não somos só nós que pensamos assim. – falou minha mãe – Veja todas estas pessoas que estão aqui, somente porque gostam de você.

Cumprimentei todos os presentes um a um. O penúltimo que cumprimentei fora o Riick.

– Perdão, meu amigo. – abracei-o chorando – Perdão por ter desconfiado de sua amizade.

– Parabéns Lucas. E você não tem de pedir perdão. Nós o enganamos. Qualquer um teria pensado a mesma coisa que você.

Nem precisaria dizer que quem eu cumprimentei por último fora o Marcos. Quando me aproximei dele, que se encontrava bem atrás do imenso bolo branco, não tinha nada a dizer, pois nem conseguiria mesmo, de tanto que eu chorava. Corri os poucos metros que me separavam dele, que me abriu os braços, sorrindo como sempre, e sem nos importarmos com as dezenas de pessoas presentes, nos beijamos de maneira cinematográfica. Não foi um beijo qualquer. Foi um beijo de final de novela, que num primeiro momento fez com que todos os presentes se silenciassem, não porque não soubessem que éramos namorados, mas por se surpreenderem com a nossa “ousadia” de nos beijarmos diante de nossos pais – algo que nunca havíamos feito até então – e de diversos outros heterossexuais presentes.

De repente um grito rompe aquele silêncio:

– Meninos, arrasôôô! Abalooou São Bernardo! – gritou Fabinho, usando uns óculos enormes, redondos e de lentes cor-de-rosa, colocando sua mão esquerda na cintura, como se fosse a alça de um bule, e a mão direita chacoalhando sobre sua cabeça uma espécie de echarpe de plumas, cor amarela.

Ao ouvirem o grito de Fabinho, todos os presentes começaram a gritar e assobiar, igual o pessoal da barraca GLS tinha feito na noite anterior, porém agora com muito mais entusiasmo, vibração e volume. Eu e o Marcos não ouvíamos nada de tão concentrados que estávamos em nosso beijo.

Alguém gritou:

– Som na caixa, DJ!

Imediatamente o DJ soltou “I Will Survive”. Meu pai, de imediato, já pulou no centro da pista de dança – nosso quintal – com uma echarpe como a de Fabinho, mas a dele era de cor lilás; usava também óculos escuros coloridos e começou a dançar, no que foi acompanhado pelos demais presentes. Com som das caixas de som, acordei de nosso beijo e notei o momento em que meu pai pulara na pista de dança com os mesmos badulaques vestidos por Fabinho.

– Marcos, será que meu pai é gay também?

– Não, bobão, olhe só.

Marcos tirou de uma sacola que estava escondida embaixo da mesa uns óculos para ele e os colocou, armação verde e lentes vermelhas; também colocou um em mim, igualmente berrante; retirou algumas echarpes, que não me lembro as cores e nos vestiu. Olho para o salão, e os próprios convidados já haviam distribuído entre si diversos óculos escuros, echarpes coloridas, pulseirinhas fosforescentes coloridas, que brilhavam no escuro, e umas anteninhas presas em arquinhos ou tiaras, que todos colocaram em suas cabeças. Fora instalado um globo e diversos canhões de luzes coloridas, além de luz negra e estroboscópica. A temática da festa fora “A era das Discotecas, anos 70”, ou seja, uma festa GLS mesmo. Até a Dona Edith e a Dona Lúcia estavam no meio da pista dançando. As duas com anteninhas na cabeça, pulseiras, echarpes e óculos. Meu pai se abraçou a mim e ao Marcos, um de cada lado seu, e nos arrastou para o meio da pista. Dançamos a noite toda junto de nossos amigos. Como os vizinhos estavam todos convidados, não tivemos preocupação com o barulho.

A festa terminou por volta das quatro da manhã, quando os ônibus começaram a rodar e vários amigos meus que moravam em outros bairros puderam ir embora. Marcos dormiu em casa.

Após tomarmos banho juntos, quando já estávamos abraçadinhos na cama e achava que iríamos dormir, Marcos se levanta e pega um pequeno embrulho. Era uma caixinha mais ou menos do tamanho de uma caixa de fósforos, porém mais alta, embrulhada em um papel vermelho bem escuro, lustroso e amarrada com uma fita estreita de seda, também vermelha. Num pequeno cartão preso ao pacotinho estava escrito “Lucas, não preciso dizer mais nada, pois o presente falara por si. Marcos”.

Ansioso por saber o que tinha naquela caixinha, rasguei o papel que a embrulhava e a abri. Havia um par de alianças. Elas eram de prata, porém seus exteriores eram negros e neles desenhados uns símbolos tribais que mostravam a cor branca (prata) de seu metal. Em uma delas, que Marcos colocou no meu dedo anelar da mão direita estava escrito “Amor Eterno – Marcos”. Quando fui colocar a outra aliança em seu dedo, notei que não havia nenhuma inscrição nela gravada.

– Marcos, por que não mandou gravar esta aliança também?

– Porque quero que você escolha a inscrição que deverei usar.

– Preciso escolher? Quero igual à sua: “Amor Eterno – Lucas”.

– Eu nunca tive dúvidas que você iria desejar esta mesma frase, mas queria ouvi-la de você.

Naquele resto de noite dissemos “eu te amo” um para outro infinitas vezes.

– Você não achava realmente que eu lhe daria cuecas como presente de aniversário, com dizeres que representavam que, para mim, você fosse um objeto sexual, não é?

– Pra dizer a verdade, eu gostei. – respondi rindo – Não me importo de ser seu objeto sexual. Mas fico aliviado de não ser apenas um objeto sexual.

Marcos me contou como tiveram trabalho para organizarem a festa, que foi quase toda planejada pelo Riick. Que por causa disso que eles cochicharam a semana toda no LG e mudavam de assunto quando eu me aproximava deles. Que sentiu uma dor muito grande quando foi obrigado a representar que estava tendo um caso com Riick, mas acharam de comum acordo com meus outros amigos e meu irmão, que esta seria a melhor maneira de retornarmos da praia antes do previsto, sem que houvesse qualquer desconfiança de minha parte, pois eu acreditaria que estaríamos retornando por um desejo meu de não mais querer permanecer na praia.

– Amor, mas por muito pouco não avancei em você e no Riick.

– Você não faria mal ao seu amorzinho, faria?

– Desde que meu amorzinho se comporte direitinho. – falei em tom irônico e já o beijei.

Apagamos as luzes, estávamos exaustos, e ficamos abraçadinhos embaixo do edredom, bem quietinhos, aguardando o sono que já aparecia. Fiquei pensando em tudo o que aconteceu naquele dia e como um turbilhão veio em minha mente, as minhas traições a Marcos. Senti-me como o mais “escroto” dos humanos. Meu remorso era enorme, e o que mais me doía não eram as traições sexuais com carinhas que cacei na Internet, mas sim os pensamentos e desejos que tive em relação ao Riick. A todo o momento me vinha à mente minha hipocrisia, em ter me zangado com Marcos e com Riick, pela suposta traição que eles encenaram na praia, quando talvez eu a tivesse realizado de fato, caso Riick tivesse me dado bola. Isso tudo não me saía mais da cabeça e o remorso não me deixava dormir. Decidi acordar o Marcos e contar tudo pra ele. Todas as minhas traições. Contaria das caçadas na Internet e contaria dos meus sentimentos em relação ao Riick, que terminaram naquela noite, quando o enxerguei apenas como um amigo, um verdadeiro amigo, e quando vi que ele, Marcos, era o meu verdadeiro amor, e mais ninguém. Acordei o Marcos e o expliquei que precisava revelar algo.

– Quero dizer algo que me incomoda muito e que acredito não ser correto esconder de você.

Meio sonolento, Marcos falou algo que me surpreendeu mais uma vez, naquele longo dia de surpresas:

– Você me ama. Disse isso diversas vezes hoje para mim. Não preciso saber mais nada. Só estamos um com o outro porque nos amamos e quando deixarmos de nos amar, nada nos segurará junto ao outro. Não quero que me diga nada, a não ser que não me queira mais como seu namorado. É isso que quer dizer, que não me ama mais?

– Não, amor. Lógico que não.

– Então vamos dormir. – me deu um beijinho nos lábios e já me abraçou de conchinha.

Enquanto Marcos me abraçava eu pensava nas palavras que ele acabara de me dizer. Tinha a nítida impressão de que ele sabia tudo que eu lhe contaria, mas me poupou do sofrimento da confissão, e de uma maneira educada, como ele era, me deu o seu perdão. Segurei até quando deu, mas ao perceber por sua respiração que Marcos já dormia, comecei a chorar baixinho. De vergonha de tudo que fiz.

Acordamos bem tarde no dia seguinte. Era quase meio-dia quando o Rafa e o RB nos acordaram.

– Os pombinhos não vão se levantar hoje não?

Faríamos um churrasco na hora do almoço. Os pais do Marcos e o Matheus iriam almoçar em nossa casa.

Quando descemos, usávamos nossas alianças, que nunca mais tiramos de nossos dedos. Tomamos um copo de suco e fomos buscar, a pedido de meu pai, um saco de carvão para usarmos no churrasco. Marcos foi dirigindo o carro de meu pai.

– Daqui a dois meses espero já estar com minha habilitação. – comentei.

– Será que você a conseguirá em dois meses? – perguntou-me Marcos com zombaria.

Dei um murro com pouca força no seu braço direito, na altura do ombro.

– Tá vendo como você judia de seu amor? – ele falou fazendo-se de sentido.

– Desculpe-me, amorzinho. – beijei-o na face, enquanto dirigia.

Quando Marcos foi contornar a praça da igreja de nosso bairro, para entrarmos no estacionamento do supermercado, vi um rosto conhecido no ponto de ônibus.

– Pare o carro, Marcos. Olhe quem está no ponto de ônibus.

– Não dá pra eu parar aqui. Vou estacionar na praça. Mas quem você viu?

– O Paulinho.

Marcos estacionou na praça e fomos até o ponto de ônibus. Queria conversar com o Paulinho. De longe já pude ver que ele estava com um aspecto saudável. Seu rosto estava mais bonito e quando nos viu, abriu um largo sorriso de prazer em nos ver.

– Paulinho, que bom te ver, rapá. – estiquei a mão e o cumprimentei com um aperto.

Marcos também o cumprimentou. Percebemos que Paulinho estava menos tímido e que se vestia de forma diferente. Parecia mais alegre e feliz. Nem parecia aquele aluno tímido, mudo, que conheci. Conversamos amenidades, demonstrei toda minha satisfação em vê-lo novamente, e manifestei minha solidariedade com o episódio triste que lhe ocorrera no LG.

– Paulinho, se um dia eu descobrir qual o moleque que lhe fez aquela maldade, eu vou bater tanto no cara que vai precisar de pelo menos uns dez pra me tirarem de cima dele.

– Lucas, por que você acha que foi um moleque? – perguntou-me Paulinho ainda sorrindo, apesar daquele assunto, com certeza, lhe trazer tristes recordações.

– Não foi? Sempre achei que pudesse ter sido o Breno, o Caio, o Fedô, ou qualquer outro troglodita daquela escola.

– Não. Não foi nenhum deles.

– Você fala como soubesse quem foi, Paulinho. – disse-lhe Marcos.

– Eu sei.

– Quem? – perguntei.

– A Marisa. Lembra-se dela?

– Lógico que me lembro. Evangélica. Pediu transferência do LG. Mas, todos dizem que foi por discordar do Luke, que segundo ela fazia apologia à homossexualidade.

– Não. Ela pediu transferência com medo que descobrissem que foi ela quem espalhou aqueles cartazes.

– Mas, Paulinho… – indagou Marcos – Por qual razão ela fez tudo aquilo com você? Espalhou aqueles cartazes para te ridicularizar?

– Ela era uma excelente amiga, ficávamos conversando o intervalo todo. Mas eu não percebi quais eram os seus reais sentimentos por mim. Um dia ela declarou que estava apaixonada e tentou me beijar.

– E o que você fez, Paulinho?

– Ah, Lucas. Eu me esquivei do beijo. Ela perguntou se eu não gostava dela. Eu disse que sim, mas apenas como amiga. Eu não podia dizer para ela que eu era gay, com medo que ela comentasse na igreja e meus pais, o pastor e toda a comunidade de nossa congregação ficassem sabendo de minha homossexualidade. Eu poderia ser expulso da igreja, e eu gostava de frequentá-la. Ela acabou pensando que eu simplesmente a rejeitei, ou que a tivesse trocado por alguma outra menina, e disse que me odiava e que se vingaria de mim. Não acreditei. Achei que ela falara apenas da boca pra fora. Alguns dias depois ela fez aquilo que vocês sabem. Senti-me humilhado, e como eu já andava muito encucado pelo fato de ser gay e achar quer vivia em pecado, acabei fazendo aquela burrada de tomar veneno. – falou e deu um sorriso envergonhado de sua atitude.

– Como pode uma pessoa que se apresentava como sendo tão religiosa e tão cheio de princípios fazer uma maldade tão grande?

– Pois é, Lucas. Mas, há males que vem para bem. Quando saí do hospital decidi que teria que redirecionar minha vida. Um dia, ouvindo mais um sermão do pastor de minha igreja, condenando os homossexuais e prometendo-nos o inferno, escutei ele mencionar que “existiam até igrejas evangélicas que estavam aceitando gays, mas que a ‘nossa’ igreja jamais iria aceitar pecadores no meio dos demais fiéis”. Prestei bem atenção no que ele falou. Cheguei em casa e pesquisei na Internet e descobri que realmente existem várias igrejas que não consideram a homossexualidade como pecado, e muito menos os homossexuais como pecadores. Decidi abandonar a minha antiga igreja e agora frequento uma destas igrejas que me aceitam os gays também como filhos de Deus. Estou indo pra lá agora. Se um dia quiserem ir… – deu uma risadinha e completou – Não estou mais no LG, mas chegou ao meu conhecimento que vocês também são gays e que se assumiram como namorados para a escola toda.

- Sim. Somos namorados. – erguemos nossas mãos e mostramos as alianças.

Conversamos um pouco mais com Paulinho e depois nos despedimos e prometemos que um dia visitaríamos a sua nova– igreja.

Após aquela surpresa que tivera ao ver Paulinho feliz com sua nova igreja e com o fato de poder assumir-se como gay, voltamos para casa muito contentes e passamos o resto domingo com nossas famílias, comendo churrasco, cantando, conversando e nos divertindo.

No começo da noite meus pais juntamente com o Rafa levaram o RB até a casa dele. Quando retornaram, o Rafinha me contou que ouvira a mãe dele dar uns berros logo que ele adentrara a sua casa.

– Eu não ouvi o que ela falava, Uca, mas aquela desgraçada estava judiando do Sloopy. Isso eu tenho certeza.

– Tenha calma, Rafa. Amanhã ele nos conta o que aconteceu. Mas acho que ela não bate nele mais não.

– Mas xinga muito.

Na segunda de manhã, já estávamos reunidos em frente ao portão do LG, eu, Marcos, o Rafa e o Rodrigo, quando o RB se aproximou de nosso grupo, vindo de sua casa, com um semblante muito triste e um pouco acanhado.

– Sloopy, o que aconteceu? Sua mãe te bateu ontem? – perguntou o Rafa para o RB.

– Preferiria que ela tivesse me espancado a ter feito o que fez.

– O que ela fez, R? Conte para nós.

– Lucas, para se vingar de mim, ela foi até a polícia e disse que eu havia fugido de casa, e que ela achava que eu estava com o meu namorado na praia…

– Comigo? – perguntou Rafinha.

– Não. Se fosse você não haveria problema algum, pois você é menor de idade como eu. Ela declarou no boletim de ocorrência que meu namorado é um professor do LG, de nome Luke…

Realmente, nem toda surpresa é boa. Aquela que a mãe do RB nos reservou para aquele início de semana era péssima, e poderia prejudicar a vida de uma pessoa boníssima, como o nosso amigo Luke.

Vários pesquisadores divergem quanto à origem da maldade humana. Uns dizem ser esta fruto do meio em que a pessoa vive, outros chegam a dizer que teria origem genética e seria inata em alguns seres humanos, o que implicaria dizer que estes não teriam culpa de suas malvadezas. É fato, porém, que existem pessoas más. Elas agem com a maior frieza e não se preocupam com as consequências de seus atos. Não se preocupam com o quanto de ruim poderão fazer contra aqueles aos quais direcionam suas maldades e o quanto de prejuízo poderão trazer à vida destes.

Ao final do período, esperamos o Luke na saída do LG para lhe darmos aquela notícia chata.

– Luke… – começou RB a falar, num misto de envergonhado e triste – Minha mãe…

– Já estou sabendo, R. Não se preocupe. Vamos resolver logo isto.

– Como soube, Luke? – perguntei curioso.

– Não foi difícil. O diretor Jorge colocou uma cópia do boletim de ocorrência no mural da sala dos professores.

– Ele pode fazer isto? – indagou Marcos surpreso.

– Não pode, mas fez. Já solicitei que ele o retirasse dali, pois isto não fere apenas a minha imagem, mas a do RB também. Ele acabou o retirando.

Mais tarde ficaríamos sabendo que a mãe do RB estivera na escola, ainda na sexta-feira à noite e solicitara o telefone de Luke, pois ligaria para o RB desautorizando-o a viajar. O diretor Jorge, para se vingar de Luke, aconselhou a mãe do “R” a ter cuidado com quem seu filho andava e fez insinuações de que vários alunos já haviam reclamado de assédio sexual por parte de Luke. Sugeriu-lhe um boletim de ocorrência pelo “desaparecimento” de seu filho e ainda lhe solicitou uma cópia deste. Sozinha, Helena, mãe do R, já seria capaz de muito. Incentivada então, não hesitou em agir e atingir quem quer que fosse.

RB fora com Luke até a delegacia e esclarecera que não havia fugido.

Apesar disso, o delegado de polícia achou por bem instaurar um inquérito policial para verificar o crime de “corrupção de menores” por parte de Luke. RB e todos nós que fomos à praia com ele prestamos depoimentos na delegacia de polícia e a verdade foi estabelecida. Mas o boato correu a escola e muita gente, professores e alunos, perguntavam ao RB se o Luke havia “abusado” dele.

Notei que, para o ser humano, não importa o quanto de qualidades boas uma pessoa possui, pois basta para ele ouvir uma notícia ruim em relação a esta mesma pessoa, para ele já julgá-la, desconsiderando todas as boas informações que possuía. O ser humano prefere, e gosta, de acreditar nas notícias que mancham a imagem de alguém. Adora fofoca. E todos nós temos um pouco disso. Se não nos policiamos, acabamos colocando pra frente fatos inverídicos sem a menor crise de consciência. Fazemos isto principalmente com o nome de artistas, esportistas, políticos, figuras públicas, que pelo fato de não nos conhecerem, achamos que não fazemos mal algum quando contamos as histórias, geralmente ruins, de suas vidas.

Um exemplo que ilustra bem isso foi o caso Michael Jackson. Ele nunca fora condenado por abusar sexualmente de crianças. Optou por pagar uma indenização à família de um garoto para evitar escândalos. Porém, somente após a sua morte é que pararam as piadas maldosas que o tachavam como pedófilo. O menino, agora adulto, então suposta vítima do cantor, veio a público, dias após a morte de Michael, e disse que na época das acusações fora obrigado por seu pai a mentir.

A mentira é uma das mais comuns expressões do uso da maldade, e esta adere facilmente a uma pessoa quando contra esta já existe um preconceito. Contra os homossexuais é bem mais fácil de colar uma acusação falsa de crime sexual do que contra um heterossexual.

Após muita pressão do nosso blog, Adolescentes em Ação, Amir, presidente do Grêmio Estudantil e a direção da escola resolveram organizar um campeonato de futebol de salão para finalizar o ano letivo.

Segundo o informativo do Grêmio, seria um campeonato nunca visto igual antes no LG.

– Uca, você viu como vai ser o campeonato?

– Vi sim, Rafa. Não será inter-classes. Cada equipe poderá organizar seu time com os jogadores que quiser.

– E vocês sabem o que ocorrerá, não sabem?

– O que você acha que vai acontecer, Marcos?

– Simples. Os melhores jogadores formarão panelinhas e o campeonato será desigual, ou inibirá a participação de times mais fracos.

– E isso é ruim, pois o campeonato deveria servir para integrar todos os alunos do LG e não para separá-los mais ainda.

Mas pouco ou quase nada poderíamos fazer para resolver aquela questão. Já nos encontrávamos no último mês de aula e nada mais poderia ser mudado. Procurei o Caio, que era de minha classe e capitão do time principal do LG.

– Então, Caio…

– Fala, Lucas.

– Soube que você tá organizando um time para o campeonato interno. Eu, o Marcos e o Rafa jogamos com você no principal…

Antes que eu pudesse completar qualquer raciocínio ele me interrompeu:

– Sinto muito, Lucas, mas meu time já está completo. Não leve a mal, mas o resto do “pessoal” não quer vocês três no nosso time.

Na hora entendi exatamente o que ele queria dizer, mas que não queria que eu levasse a “mal”. Os “veados” não poderiam disputar o campeonato no mesmo time dos machões.

– Caio. Não vou levar a mal. – disse com ironia – Eu ia apenas convidá-lo para jogar no time que formamos. Mas, já que você está comprometido, beleza. – Saí de perto dando-lhe as costas.

Falei aquilo apenas para afrontar. Nunca havia passado pela minha cabeça formar time algum. Como nós três éramos da seleção do LG e jogávamos juntos com o Caio e o resto do “pessoal” achava realmente que disputaríamos o campeonato juntos, não achava que o preconceito contra os gays fosse atingir aquele campeonato interno. Contei para meus amigos o que aconteceu e todos concordaram em formar um time para disputar o campeonato.

– Bem, já estamos em quatro – disse Marcos –, precisamos de um goleiro e pelo menos dois reservas.

– Uca, será que o João, nosso primo, não pega no gol para nós?

Lembrei que o João andava muito afastado de mim e do Rafa desde que nossa homossexualidade se tornou pública. Ele também não fora na minha festa de aniversário e nem explicou o porquê.

– Vamos conversar com ele depois.

Não demorou muito e se espalhou pelo LG que haveria no campeonato um time de “bambis”, e esse tom pejorativo que davam a nosso time nos dificultava cada vez mais em arrumar jogadores para nossa equipe. O Winston, caçula dos Internet, aceitou jogar conosco.

– Pessoal, vocês foram nossos companheiros na chapa do Grêmio e trabalhamos junto no festival GLS e depois no blog, de forma alguma eu os abandonaria agora. – disse com um largo sorriso no rosto aquele moleque de cabelo vermelho.

– Agora falta arrumar pelo menos mais um e um goleiro.

Estávamos conversando com o Winston quando se aproximou um moleque moreno, quase mulato, de olhos esverdeados, que nos cumprimentou e se apresentou.

– Olá! Meu nome á Alynson. Sou do primeiro ano.

– Oi! – respondi – Eu já te vi várias vezes, mas não sabia seu nome.

– Eu até sei seu nome, mas nunca trocamos idéia. – completou o Winston.

O menino era simpático. Conversou um pouco sobre outros assuntos, mas depois de algum tempo nos falou o que realmente desejava.

– Tô a fim de jogar no time de vocês.

– Tem certeza que quer jogar junto com os “bambis”? – perguntou Rafinha, para Alynson, com ironia.

– Tenho… Afinal, sou um bambi também.

Olhamos todos espantados para o garoto, ele deveria ter uns 16 anos, era mais ou menos do nosso tamanho e, apesar de magro, tinha o corpo bem definido, e até musculoso.

– Eu sou gay também. Jogo futebol e sou até federado em Santo André. Aqui no LG eu nem treino e peguei dispensa de Educação Física, justamente por não querer me envolver com estes caras ignorantes do time da escola. Sempre me mantive na minha e nunca revelei nada de minha sexualidade para ninguém. Não que eu tenha vergonha de ser gay, mas queria evitar confusão e não admitiria também ninguém zuando com minha cara.

– Você soube de nossa briga na quadra? – perguntei ao Alynson.

– Soube, sim. E fiquei muito puto com isso. E agora estou sabendo que vocês estão com dificuldades para completarem o time e estou aqui me oferecendo. Garanto que não se arrependerão.

Aceitamos de imediato o Alynson em nosso time. E não demorou muito ele já estava muito entrosado conosco, parecendo que nos conhecíamos há anos.

– Bem, falta agora o goleiro.

– Ainda não falou com o João, Uca?

– Não, Rafa, mas vou lá agora conversar com ele.

Atravessei toda a quadra da escola, deixando o Rafa e meus amigos sentados na arquibancada aguardando enquanto eu fazia o convite para o João, que estava do lado oposto ao nosso, sentado numa mureta que rodeava o pátio escolar, conversando com mais dois moleques. Chamei-o de lado, ele veio meio sem graça, e fiz o convite a ele.

– Ah, cara… de boa… – ele parecia constrangido ao falar comigo – Não vai dar não, já me comprometi com o time do Caio.

– Poxa, João! Você é nosso primo! Joga com a gente! Eu não sei por que você se afastou de mim e do Rafa…

– Ah, Lucas… Eu não tenho preconceito, mas os caras da escola e meus amigos estavam todos pesando em cima de mim. “Tava” ficando mal pro meu lado… Iriam pensar que eu era gay também…

– Foi por isso que você não foi à minha festa de aniversário?

– Foi sim, cara. Não leva a mal. Mas pensa no meu lado. Falaram que na sua festa tinha um monte de gay… Ainda bem que eu não fui… E agora estão falando que o time de vocês é o time dos bambis… Você já pensou…

Interrompi aquela conversa fiada:

– Já pensei, sim. Pensei que você é um imbecil, inseguro, que se deixa levar pela opinião dos outros e não tem vontade própria. Agora, nem que você quisesse jogar em nosso time, nós não iríamos te querer. Também não precisamos de sua amizade. Tchau.

Virei as costas e saí andando. Parei, virei para João e ainda completei:

– João, e tem mais: será que você não é gay não? Você tem tanta preocupação do que pensam de sua sexualidade. É sinal que você não bota fé no seu taco. Pensa nisso, rapá. E falando nisso, não tô lembrado de ter te visto pegando nenhuma mina até hoje…

Ele ficou sem reação às minhas palavras. Larguei-o lá mudo e voltei para o meu grupo.

– E então? – quis saber Marcos.

– Mais um que não quer jogar no time dos “bambis”.

– Amanhã é o último dia para as inscrições. Se não arrumarmos um goleiro teremos que nós mesmos nos revezarmos no gol. – falou RB.

– Daí nossas chances serão pequenas mesmo, pois nenhum de nós está acostumado no gol. – disse o Rafa.

– E seus amigos Riick e Rodrigo? – falou Alynson – Eles estão sempre com vocês. Eles não jogariam nem pra quebrar um galho?

– Ah, não… Os dois não são de futebol. Se um deles for para o gol, afundaremos de vez. – disse isso dando risada.

Ficamos o intervalo todo olhando os garotos da escola e analisando se poderíamos aproveitar algum em nosso gol. Mas, mesmo assim, ainda teríamos que torcer para que aceitassem jogar no time dos bambis.

Quando pensávamos que não acharíamos o nosso arqueiro, a Ariadne, acompanhada dos “Irmãos Metralha” se junta à nossa rodinha.

– Soube que estão com problemas, meninos? – nos perguntou com um sorriso no rosto e um ar de quem trazia a solução para qualquer problema.

– Sim… Precisamos de um goleiro. – respondi para ela – Você pode nos ajudar? – perguntei de forma irônica, pois achei que naquele assunto, futebol/goleiro, por mais capaz que a Ariadne fosse, ela não teria como nos ajudar.

– Seus problemas acabaram! – falou imitando o locutor do Casseta e Planeta, que anuncia os produtos Tabajara – Trago para vocês o goleiro de que precisam.

– Quem? – perguntamos todos nós ao mesmo tempo.

– Eu! – respondeu Monga com um sorriso.

Monga nos explicou que em sua vila jogava futebol feminino, mas que muitas vezes jogou entre os moleques também, e que até preferia com estes pelo fato do jogo masculino ser mais movimentado. Explicou que nunca jogou futebol no LG porque ali não se praticava futebol feminino e que não se dava bem com os moleques para jogar com eles.

Solucionado o problema do goleiro, preenchemos a nossa ficha de inscrição.

– Tá pronto? Podemos entregá-la? – perguntou o Rafa.

– Falta apenas uma assinatura. A do nosso técnico, Luke.

Levamos a ficha de inscrição para Luke que a assinou imediatamente. Estávamos já correndo para levá-la e entregá-la na secretaria do Grêmio quando Luke nos fez uma pergunta.

– Senhores, qual o nome do nosso time?

Olhamo-nos uns para os outros como se perguntássemos qual seria o nome daquele time que todo mundo já chamava de o time dos bambis. Começamos a sugerir vários nomes e nenhum agradava a todos. Até que Luke deu uma sugestão.

– A torcida do Palmeiras se irritava muito quando chamavam seu time de “porco”, até que nos anos 90 resolveram adotar o apelido pejorativo como sendo mascote do time. Hoje ninguém mais ofende os palmeirenses chamando-os de porco. Hoje eles gritam nas arquibancadas “dá-lhe porco” incentivando seu time a fazer gols…

– Luke… – antecipou-se Marcos – Você não está sugerindo que adotemos o nome de “Bambis” para o nosso time, tá?

– Sim, estou. Mas, não de uma maneira tão escancarada, mas de uma forma irônica. Já que os chamam de “bambis”, que tal colocarmos o nome no time de “Bambinos”, “meninos” em italiano?

Adoramos a idéia do Luke. Inscrevemos o time com o nome que ele nos sugeriu.

No dia seguinte o professor de Educação Física nos chama para uma conversa. O nosso time todo. E explica que deveríamos substituir a Monga, pois senão nossa inscrição seria indeferida.

– Mas, por qual motivo devemos substituí-la?

– Ela é mulher. – respondeu secamente – E o campeonato é masculino.

Ficamos muito chateados com a notícia. Estávamos todos nós do time sentados na arquibancada da quadra quando a Ariadne mais uma vez se aproxima e nos faz a mesma pergunta que nos fizera quando nos apresentou a Monga como nossa goleira.

– Estão como problemas novamente? Posso ajudá-los?

– Se você tiver um novo goleiro estará ajudando muito. – respondi.

– Não precisam de novo goleiro…

– Hã?! Como assim? O professor de Educação Física já explicou que o campeonato é masculino e a inscrição da Monga foi indeferida. – expliquei para a Ariadne.

– Balela. Esse professor não sabe nada. – falou com tranquilidade. – Nem a aula dele ele faz direito. Joga uma bola na quadra para os alunos se matarem com ela e fica batendo papo a manhã inteira. Quem ele pensa que é para indeferir a inscrição da Monga?

– Talvez ele pense ser o professor de Educação Física… – ironizou Marcos.

– Pode até ser… – respondeu a menina com convicção – Mas isso não lhe dá esse direito.

– Ariadne, poderia nos explicar melhor? Não estou entendendo aonde quer chegar…

– Lucas, nem parece que você assistia às aulas do Luke…

Ela passou a nos explicar seu ponto de vista e depois de nos ter convencido, imediatamente fomos até a sala do diretor Jorge, falamos do que se tratava o assunto e ele chamou o professor de Educação Física e o Amir, presidente do Grêmio, para participar da reunião.

Ao abrir a reunião o diretor de cara questionou a presença da Ariadne.

– Sem querer ser grosseiro, mas, gostaria de saber o que a senhora tem a ver com esta história, já que não é do time.

– Simples. Eu estou aqui representando os interesses dos “Bambinos” – o nome do time foi usado pela primeira vez de forma oficial, nesta reunião – Sou uma espécie de dirigente do time.

– E o que você tem a argumentar? A decisão já está tomada. A Monga não joga pois ela é menina e o campeonato é para meninos. – falou bem rude o professor de Educação Física, dando a entender que o questionamento de sua decisão era um absurdo.

– Ok. Vou expor meus argumentos.

E Ariadne passou a falar por alguns minutos, com muita segurança e eloquência.

– Primeiro: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, segundo a Constituição de nosso país.

– Não nego isso. – disse o diretor Jorge – Mas isso não significa que as meninas deverão jogar misturadas com os meninos. Elas têm o direito de jogarem, mas entre elas.

– Muito bem. – concordou Ariadne – Mas acontece que não temos aqui um campeonato feminino e somente um masculino.

– Nunca nenhuma menina se interessou em jogar, mas no ano que vem, então, formaremos um campeonato feminino, para que ninguém fique excluído. – explicou o professor de Educação Física.

– Ano que vem será tarde demais. – rebateu Ariadne – Monga é aluna do terceiro ano e ano que vem não estudará mais aqui. O campeonato de futebol não é uma atividade oficial da escola, diretor Jorge? Pois que eu saiba ele será realizado em horário de aula.

– É uma atividade oficial, sim. Não é uma brincadeira. Tem fins pedagógicos, com o objetivo, dentre outros, da integração de todos os alunos.

– diretor Jorge, se o campeonato é uma atividade pedagógica, é sinal que é importante para os alunos. E se é importante, nenhum aluno pode ser excluído. Peço o imediato deferimento da inscrição da aluna Cibele, mais conhecida como Monga, no campeonato interno, ou ainda hoje os doutores Carlos e Silvia, advogados do time “Bambinos” e por “coincidência”, pais dos alunos Lucas e Rafael, apresentarão um mandado de segurança para resguardar o direito à educação da aluna Cibele, e demais alunas que foram alijadas do campeonato, pois sequer a escola abriu inscrições para times femininos, e pediremos liminarmente que o campeonato seja suspenso enquanto o pedido do mandado não for julgado. Se isso acontecer, a escola toda ficará sem campeonato e vocês serão culpados disto, pois o blog “Adolescentes em Ação” não deixará de informar isto para todos os alunos.

O diretor, o professor e Amir olharam-se uns aos outros com cara de espanto. Até eu me assustei com a ousadia da Ariadne em ser tão ameaçadora com o diretor.

– diretor, se não houver campeonato os alunos irão me linchar! – falou Amir meio que apavorado.

O diretor Jorge ficou alguns instantes quieto e depois colocou suas mãos sobre a mesa, deu um sorriso falso e falou pausadamente:

– Como diretor do LG e responsável por todas as atividades pedagógicas desta unidade escolar, defiro a inscrição da aluna Cibela, goleira do time Bambinos. Caso encerrado.

Saímos eufóricos da sala do diretor. Abraçávamo-nos e ríamos muito.

– Brigadão, Ariadne. – dizia Monga enquanto lhe esmagava a mão com um aperto.

– Foi um prazer. – respondeu a Ariadne toda simpática e frágil – Mas não precisa apertar tanto minha mão, Monga.

– Bem, agora só falta uma coisa. – disse Marcos.

– O quê? – indagamos todos nós ao mesmo tempo.

– Os Bambinos precisam vencer este campeonato. Este povo preconceituoso terá de engolir o time de “bambis”.

Saímos da ala administrativa da escola gritando a frase que se tornaria o nosso grito de guerra no campeonato.

– Vamos Bambinos!

Como previsto, devido à maneira como o campeonato foi organizado, apenas oito equipes se inscreveram e foram divididas em duas chaves com quatro equipes cada uma. Os vencedores de cada chave disputariam o título de campeão

A abertura seria na segunda-feira, os jogos terminariam na sexta-feira com os jogos finais. Depois disso não teríamos mais aula. Os Conselhos de Classe se reuniriam para decidir sobre os alunos que deveriam ser promovidos e retidos, e após anunciado o resultado final começariam nossas férias. Só retornaríamos a escola para a cerimônia de colação de grau (formatura) que, na verdade, é realizada num teatro de São Caetano, cidade colada à nossa.

Nosso time de comum acordo resolveu assumir de vez a condição de “bambi” como antídoto a qualquer tipo de gozação homofóbica que pudesse existir contra nós no campeonato, fosse por parte da torcida, dos jogadores ou de qualquer outra pessoa.

Encomendamos um uniforme cuja camisa era pink, toda risca e detalhada em preto, calções brancos e meias pink, riscadas em preto. Nas mangas esquerdas de nossas camisas, uma pequena faixa de 3 centímetros de largura por 5 de comprimento, com as seis cores do arco-íris GLS. As golas e os punhos de nossas camisas eram brancos e a manga era comprida. No nosso escudo, pregado ao lado esquerdo do peito, dois meninos davam-se as mãos e as erguendo acima da cabeça, em seus pés repousava uma bola de futebol. Monga se vestia totalmente de preto. O único colorido em sua roupa era o pequeno arco-íris na manga de sua camisa. Realmente se vestiu de uma maneira que justificava seu apelido. Apesar de termos concordado, a idéia do uniforme rosa nos fora trazida pela Ariadne e pelo Riick que, junto com o Rodrigo, também organizaram o nosso desfile de abertura.

O Grêmio e a direção da escola realizaram uma abertura de campeonato igual nunca antes fora realizada no LG, só não divulgavam que muito do que fizeram foram sugestões que colheram no blog “Adolescentes em Ação”, que não se cansava em criticá-los. A abertura, assim como os jogos, foi realizada na quadra coberta do LG.

A abertura, assim como os jogos, foi realizada na quadra coberta do LG. Foi montado um palanque do lado oposto ao da arquibancada, onde ficavam as autoridades, direção, presidente do Grêmio e APM, professores e convidados. As equipes, após serem anunciadas, adentravam a quadra em desfile. Passavam primeiro em frente as torcidas, iam até o fundo da quadra onde a contornavam e depois passavam em frente ao palanque oficial. Ali, ficavam perfiladas em local previamente marcado aguardando o desfile das outras equipes. A ordem de entrada das equipes fora definida em sorteio.

– Seremos os últimos, exatamente depois do time do Caio. – comentei enquanto aguardávamos ansiosamente sermos anunciados.

– Time não. Seleção. Eles estão jogando com o principal do LG, somente nos excluíram, os bambis. – retrucou bravo o Rafinha.

– Calma… – disse Marcos para ele – Nós vamos acertar tudo isso nos jogos.

– Acha mesmo que podemos ser campeões? – perguntou-lhe RB.

– Tenho certeza. Basta acreditarmos. Futebol para isso nós temos.

– Será que é bom desfilar por último? – perguntou Winston.

– Acho que tanto faz. – respondi – Estaríamos nervosos de qualquer modo.

Escutamos o locutor anunciar a primeira equipe para o desfile. À frente de cada equipe vinha uma menina vestida de branco e segurando uma haste mais ou menos do tamanho de um cabo de vassoura uma plaqueta com o nome do time.

– Atenção LG! Convidamos a adentrar neste recinto – anunciou solenemente o locutor, um pai de aluno que sempre ajudava nas festas – a equipe Malucos Beleza.

Os malucos eram formados por alunos que curtiam rock e que tinham uma simpatia pelo Raul Seixas. A cor de seus uniformes era branca e o distintivo trazia o símbolo hippie de paz e amor. Logicamente, desfilaram ao som de Maluco Beleza.

A prefeitura enviou uma banda, também foi sugestão de nosso blog aceita pelo Amir e pelo diretor. Cada equipe entregou com uma semana de antecedência a música que gostaria que fosse executada quando estivesse desfilando.

– Poxa, Lucas. – falou Marcos enquanto aguardávamos a nossa vez de desfilar – O Riick e a Ariadne nem nos falaram qual música que vai tocar quando entrarmos.

– Marcos, a Ariadne comentou que iríamos gostar muito, principalmente, segundo ela, o RB e o Rafa.

– Tem idéia do que seja? – perguntou-me o Alynson.

– Ela me disse que é uma música que embala o time do OHIO no futebol americano.

Os Malucos foram aplaudidos por sua pequena torcida de roqueiros e se colocaram em seu lugar próximo ao palanque.

E o locutor anunciou a segunda equipe:

– Os Manos!

Os Manos optaram por desfilarem não com as camisetas que jogariam, mas sim com calças largas, jaquetões pretos, e todos estavam com gorros pretos bordado em branco “Os Manos”. Desfilaram enquanto a banda executava um rap dos “Racionais MC’s”.

– Nunca tinha ouvido rap tocado por banda de desfile. – falou Winston.

– E nem Maluco Beleza. – Emendou Alynson.

– Apolos do LG!

Apesar do nome, neste time só tinha uns moleques bem feios. Feios mesmo. Eles mesmos faziam troças com suas aparências e tinham apelidos como Lango-Lango, Monstro, Avesso e Rescaldo. Para eles desfilarem, a banda tocou “Amante Profissional”.

– Esses caras são uma piada mesmo! – disse o Rafa, rindo.

– Estão mais para Hefesto do que para Apolo.

– Como assim, Marcos? – perguntou-lhe Winston.

– Apolo era o deus da beleza, segundo a mitologia grega. E era um deus lindo. Já Hefesto, foi jogado pelas escadas do Olimpo logo quando nasceu por seu pai, Zeus. E ficou todo deformado e feio.

– Comensais da Morte!

Os livros da série Harry Potter influenciavam muito os alunos do LG, como aconteceu com os adolescentes do mundo todo. Vários alunos do LG tinham apelidos relacionados aos personagens da série, como aconteceu com o próprio professor de Química, que fora apelidado de Snape. Quando saiu o último livro da série HP, Relíquias da Morte, eu viria a saber da grande injustiça que cometemos com o personagem Snape, dando seu nome a esse professor tão detestado no LG. Desculpem pelo spoiler.

Os Comensais da Morte não deixaram de desfilar com uma faixa negra em que estava desenhada a “Marca Negra”, uma caveira da qual saía uma cobra de sua boca.

O locutor anunciou a equipe seguinte.

– Chamo agora Les Bleus!

Com as camisas da equipe francesa de futebol entrou um time formado por moleques loirinhos de olhos azuis. Eram meio que parentes entre si. Eles detinham a maior parte da torcida feminina. Era um time de gatinhos.

– Quero ver se sabem jogar bola ou se só são gatinhos. – falou Rafinha.

– Ah, sua peste! – RB deu um tapa no Rafa – Então você veio aqui pra paquerar os jogadores adversários.

– Não me bate na frente dos outros, Sloopy.

Les Bleus desfilaram ao som da Marselhesa.

– Anuncio agora o Al Qaeda.

Com o nome de grupo terrorista, o time do Al Qaeda desfilou com turbantes árabes e a música que a banda tocou, eu nem sei dizer qual foi. Mas parecia ser árabe.

– Espero que não queiram honrar o nome que escolheram. – falou Luke com ironia.

O grupo Al Qaeda foi o grupo que assumiu a autoria do atentado às torres gêmeas nos EUA.

Depois do Al Qaeda foi anunciado o time do Caio.

– Os Varões!

O Caio e seu time arrumaram uma forma de nos provocar. Não bastou para eles terem nos excluído de seu time e terem nos nominado de “bambis”, queriam tirar uma casquinha às nossas custas a todo o momento. Com o apoio, inclusive, do professor de Educação Física, que ficara zangado conosco, que contestamos o indeferimento da inscrição da Monga. O professor de Educação Física era o técnico dos Varões.

– Eles escolheram este nome para zuarem conosco.

– Por que zuarem conosco, Marcos? Eles acham que nossos pintos são pequenos? Só o do RB já ganha de qualquer um deles lá.

– Não é isso, Rafa! – explicou Luke gargalhando – Varão, significa “masculino”. Eles estão querendo dizer que são machos.

E desfilaram com seus uniformes verde-garrafa, acompanhados do técnico, o professor de Educação Física. A banda tocou “Macho Man”, do Village People.

– Querem ser tão machos e colocam uma música super gay para desfilarem… – comentou Alynson com descaso.

Os Varões desfilavam e conforme a banda executava o refrão de “Macho Man”, dava soco no ar e sua torcida, a mais numerosa, os acompanhava na coreografia. A torcida também trazia pedaços de madeira, que prendiam às mãos e usavam para bater na arquibancada, fazendo um barulho estrondoso acompanhando o ritmo da música. Quando os Varões terminaram de desfilar e se colocaram ao lado do palanque, sua torcida gritou em coro “é campeão”.

– Acho que estão bastante confiantes. Mas deveriam esperar os jogos. – falou Luke.

Seríamos os próximos a sermos chamados. A ansiedade era maior ainda. Uma coisa tão tola como aquele desfile de abertura de jogos internos parecia para mim a abertura dos Jogos Olímpicos.

– E aí meninos, tudo bem?! – era o Riick junto com a Ariadne e o Rodrigo.

– Que fazem aqui? – perguntei surpreso – Já vamos ser anunciados.

– Sabemos, e por isso estamos aqui. Vamos participar do desfile juntos com vocês.

Olhei para eles e vi que Rodrigo e Ariadne estavam vestidos com uniformes infantis, de prezinho. Ariadne com uma sainha toda preguiada e Rodrigo de calça curta e um suspensol e um pequeno boné. Riick estava vestido de veadinho, bambi, mas ainda não tinha colocado a cabeça da fantasia e a carregava embaixo do braço.

– O que vocês farão? – perguntei a eles.

- Liberdade. – falou Rodrigo.

– Igualdade. – emendou Ariadne.

– Fraternidade. – finalizou Riick.

– Os ideais da Revolução Francesa, senhores! Muito bem escolhido! – observou Luke todo satisfeito.

– Sim, Luke. Pois este campeonato e a nossa participação, que já é uma vitória, é uma revolução contra a hipocrisia que reina nesta escola. – falou Ariadne com muita emoção.

– A nossa participação defendendo a bandeira gay e assumindo que o time tem vários jogadores homossexuais vai servir para simbolizar a presença dos gays no dia-a-dia da sociedade. – discursou Rodrigo.

– E a vitória do Bambinos neste campeonato mostrará que os gays não são inferiores a ninguém. – Completou Riick com entusiasmo.

Todos nós aplaudimos o discurso de nossos organizadores de torcida e desfile.

– Adorei o discurso de vocês. Mas precisam ficar falando a todo o momento igual se fossem o Huguinho, Luizinho e Zezinho? – falou o Marcos dando risada.

Estávamos prestes a sermos anunciados e a Ariadne chamou a Monga.

– Você vai carregando isto. Bem atrás da menina com a plaquinha com o nome de nosso time. Segure bem alto e firme, Monga. Pois isto não é apenas um campeonato: é a batalha de uma guerra que ainda vai durar muito tempo.

– Pode deixar, Ariadne. Tô muito orgulhosa também. Vou defender isto aqui como se fosse minha vida.

E finalmente o locutor anunciou:

– E aí vem os Bambinos.

Ouvi uns gritos de vaia e um xingamento em coro vindo da torcida dos Varões. Parecia que já estavam combinados. Agora o coro que gritou “é campeão”, passou a gritar “bichinhas”. Quando escutou as vaias, Luke pediu para a aluna da plaquinha, que iniciaria o nosso desfile, não entrar. Pediu que aguardasse as vaias cessarem.

– Só entraremos quando formos tratados iguais às outras equipes.

Luke fez menção de ir até o palanque, mas antes disso, o pai de aluno, que fazia as vezes de locutor deu uma bronca:

– Até agora os alunos desta escola haviam se comportado de forma respeitadora e realizavam uma festa maravilhosa. Será que agora este pequeno grupo que vaia estragará tudo que fizemos até agora? É difícil para vocês respeitarem seus colegas que irão desfilar? Por gentileza, peço que não envergonhem esta escola com uma atitude tão intolerante.

Fez-se um silêncio e ele anunciou novamente:

– E neste momento convidamos para adentrarem a quadra do LG “Bambinos”!

A menina vestida de branco que carregava a plaqueta olhou para Luke, como se estivesse pedindo autorização e ele apenas sorriu e chacoalhou a cabeça consentindo que ela iniciasse o nosso desfile.

– Alea jacta est, Bambinos! – falou Luke que estava vestido de terno azul-noite, camisa branca e uma gravata bordô e com um chapéu idêntico ao do Indiana Jones, meio cinza, meio azul, que combinava com seu terno.

Com exceção da Monga, que estava toda de preto, inclusive um boné, todos nós estávamos com a camisa do nosso time, calça e sapatos brancos e um pequeno chapéu branco, de malandro carioca, que pegamos do figurino da “Ópera do Malandro”, que meu irmão ainda ensaiava, juntamente com o RB.

Assim que a menina da plaquinha colocou seu pé na quadra, a banda soltou os primeiros acordes da música que animaria a nossa torcida e nosso time durante todo o campeonato.

– Eu conheço essa música! – falou Rafa, todo contente – É a sua música, Sloopy.

Ariadne, Rodrigo e Riick descobriram na Internet que o time de futebol americano, de OHIO, nos EUA, usa a música Hang On Sloopy para animar a torcida e a equipe. Como a música ficava muito bonita e animada no arranjo para bandas, e como ela já nos era conhecida, acharam que viria muito bem a calhar para aquela ocasião.

Nos Estados Unidos, as escolas em geral, incluindo as universidades, têm muita tradição em formarem bandas que são usadas para animarem as partidas esportivas. No futebol americano a apresentação das bandas nos intervalos das partidas é um espetáculo à parte.

Atrás da menina com a plaquinha dos bambinos, uns três metros de distância dela, vinha Monga segurando toda imponente uma bandeira com o arco-íris GLS. Mais três metros depois vinha o Luke. Depois do Luke, em duas filas indianas, vínhamos nós, os jogadores da linha dos Bambinos. Na frente de cada fila eu e Marcos. Atrás de mim, o Rafa, e atrás do Marcos o RB, e atrás deles o Alynson e o Winston, respectivamente.

Tínhamos a segunda maior torcida, pois apesar dos alunos da escola estarem todos divididos para torcerem pelos oito times, a nossa torcida era formada pela união de diversas minorias, os mesmos que nos apoiaram na eleição do Grêmio – gays, nerds, surdos e outros excluídos da escola.

Atrás de nós vinham a Ariadne e o Rodrigo vestidos de garotinhos, trazendo a mensagem de liberdade, igualdade e fraternidade. Já o Riick, fantasiado de Bambi, pulava à nossa volta fazendo gracejos para a torcida e dando tchauzinho. Quando passamos em frente à nossa torcida, erguemos todos nós, ao mesmo tempo, os nossos chapéus com a mão direita e a saudamos.

Comandando a galera, vestidas de animadoras de torcidas, iguais às de filmes americanos, estavam as três Panteras com pompons cor-de-rosa que combinavam com suas roupas. E no último degrau da arquibancada, oito alunos seguravam placas, comas as letras que compunham o nome de nossa equipe: B A M B I N O S. Toda a galerinha segurava balões coloridos e conforme a banda tocava o refrão, no intervalo de tempo dos acordes gritavam: “É gay, é show! É gay, é gol!”, tal qual faz a torcida do OHIO.

Nossos três amigos fizeram realmente um trabalho sensacional para aquele desfile. Foi o melhor, até torcedores adversários cantavam o nosso refrão.

Em frente à nossa torcida, enquanto a saudávamos tirando nossos chapéus, Monga chorava enquanto chacoalhava a bandeira do arco-íris. Nunca imaginara que viria aquela durona chorando algum dia.

De repente nossa galera passou a estourar aquelas dezenas de balões, todos ao mesmo tempo, e parecia uma queima de fogos de artifício de tanto barulho que faziam. Dentro dos balões havia muito papel picado cor-de-rosa, e quando estes estouraram, surgiu uma chuva cor-de-rosa sobre a nossa torcida.

– Uca, isso é lindo! – gritou Rafinha atrás de mim.

Foi lindo mesmo. Um momento tão emocionante quanto o festival GLS, mas com um significado, para nós, bem maior que aquele.

Encerramos o desfile das equipes e nos posicionamos ao lado dos Varões.

– Convido o aluno David – o aluno que cantou Barbie Girl no festival GLS e que tinha voz de soprano – para cantar o Hino Nacional.

A voz do David era maravilhosa e nem necessitava de microfone se ele não fosse ser acompanhado pela banda. Depois do Hino, foi feito o juramento dos atletas e o pronunciamento do diretor Jorge declarando oficialmente abertos os jogos internos. Houve uma série de apresentações de danças preparadas pelas professoras de Educação Artística e de Educação Física.

– Poxa! A professora de Educação Artística nunca mais falou comigo! – disse o Rafa se lembrando do trote que passara na professora no início do ano.

A manhã foi divertida e emocionante. Fomos embora felizes.

– Meninos. A festa acabou. Amanhã começa a competição. – disse Luke para nós ao se despedir.

Passei o resto daquele dia pensando no jogo do dia seguinte. Nosso adversários seria o “Les Bleus”.

O Luke aceitou ser nosso técnico porque eu fora o primeiro aluno que tivera pedido isso para ele. Todos os anos, vários alunos lhe faziam este pedido, e ele comprometia-se com o primeiro convite, independente de quem fosse. A única exigência que o Luke fazia era que acatássemos todas as suas instruções e que jogássemos sem violências. Nem mesmo que nos xingássemos em momentos de tensão ele permitia.

Confesso que não tivemos muitos dias para treinarmos, mas Luke fez um trabalho intensivo conosco. Lembro-me que quando percebeu que o RB estava com muita dificuldade para acertar os passes, colocava uma garrafa PET bem distante dele e mandava ele chutar a bola e derrubá-la. O RB ficou treinando isso por horas. Não só ele, Luke mandou que todos nós praticássemos o treino do passe. Também deu várias dicas para a Monga de como distribuir a bola.

– Senhorita Cibele – somente o Luke na escola toda chamava a Monga de senhorita sem levar um safanão –, a senhorita pegue a bola com a mão direita, dê dois passos para o lado esquerdo e olhe para o fundo deste lado da quadra. Neste momento toda a defesa adversária se jogará para este setor pensando que a senhorita lançará a bola para o Alynson, entretanto, sem virar a cabeça, arremesse a bola para o fundo da quadra, no lado direito, onde estará o Rafael, livre para marcar o gol. Entendeu?

– Mas, lançar a bola sem olhar, professor? Eu posso errar o passe se não estiver olhando.

– A senhorita estará olhando com a visão periférica, mas sem mover a cabeça para que os adversários não percebam. Será muito rápido. Dois passos para a esquerda, olhar para a esquerda e bola na direita. Ou vice-versa. Dois passos pra direita, olhar para a direita, e bola na esquerda. Mas não faça isto a todo momento, senão perderemos o elemento surpresa. Use isso quando estivermos em dificuldades.

– Quando estivermos perdendo?

– Estar atrás na partida é algo normal e basta mantermos calma que viramos o jogo. Quando estivermos perdendo, é lógico que será um momento de dificuldade, mas às vezes será necessário usar esta jogada mesmo quando estivermos empatando ou vencendo por um placar estreito.

O jogo contra “Les Bleus” (Os Azuis, em francês) não apresentou maiores dificuldades.

O Luke escalou como titulares Monga, eu, Marcos, Rafa e Alynson, mas o RB e o Winston jogaram por um bom tempo também. “Os Azuis” eram bonitinhos, gostosinhos e educadinhos, mas eram bem fraquinhos no futebol. O jogo serviu mais como um treinamento para nossa equipe e pudemos notar que o Alynson jogava um bolão.

Apesar de não ter sido um jogo emocionante, a torcida feminina não deixou de prestigiar “Os Azuis” e, mesmo após o resultado final de 5 x 0, eles foram muito aplaudidos pelas meninas que por eles torciam.

– Ai Uca, podíamos ter deixado eles fazerem um golzinho. Eram tão bonitinhos… – disse o Rafa no banco do vestiário enquanto descalçava seus tênis e meias.

– Deixe o RB ouvir você falar isso… – o R estava no banheiro neste momento.

– Você viu o goleirinho, que gato? – perguntou o Alynson para o Winston.

– Mano, você esqueceu que não é todo mundo no time que é gay? – respondeu Winston com um sorriso.

– Putz, maluco. Esqueci que tu não curte.

– Relaxa, Alynson.

E caíram na risada.

Ao sairmos do vestiário, Luke estava à nossa espera.

– Meninos, parabéns pelo jogo de hoje. Amanhã enfrentarão “Os Manos”.

– Qual foi o resultado do jogo deles hoje Luke? – perguntou-lhe Marcos.

– Empataram com “Os Comensais”, 3 x 3.

– Estamos então em primeiro lugar em nossa chave. – falou o Rafa.

– Sim, mas ainda há muito coisa pela frente. – disse Luke.

Experiente, Luke sabia que o nosso primeiro adversário, “Os Azuis”, era um time bem fraco e não apresentaria também grande resistência nos demais jogos e que tudo indicava que perderiam para os Manos e para os Comensais. Para termos chances de irmos à final, teríamos de vencer os Manos e os Comensais.

Quarta-feira

Nosso jogo era o segundo. Pudemos assistir então a primeira partida do dia, Varões x Malucos Beleza. Os Malucos jogavam bem. No dia anterior haviam ganho a partida contra os Apolos.

– Olhem como o número 8 dos Malucos dribla com facilidade. – observou Luke.

A partida se mantinha equilibrada. Os Varões também venceram no dia anterior o Al Qaeda. Um jogo duro. Saiu até faísca, pois ambas as equipes usaram de muita violência.

Não demorou muito e o cabeludinho, número 8, Jim, driblou dois Varões de uma só vez e colocou a bola sobre o goleiro quando este saiu para fechar o gol. 1 x 0 para os Malucos com um gol digno de uma placa. Todos nós aplaudimos o Jim.

O juiz autoriza a saída de bola para os Varões. A partida prossegue e quando Jim toca na bola novamente e corre em direção ao gol, um dos Varões, maldosamente, fingindo que buscava a bola, atinge a canela do craque dos Malucos. O juiz imediatamente apita a falta e apresenta o cartão vermelho, expulsando o “varão” do jogo. Mas isto foi muito pouco pelo que ele fez, pois o Jim fraturou a perna.

“Assassino”, “açougueiro”, “animal” e outros xingamentos foram gritados pela torcida dos Malucos enquanto o jogador expulso saía de campo.

Durante dois minutos, os Varões foram obrigados a jogar com 4 jogadores, como mandavam as regras oficiais do futsal. Seguraram este resultado até que puderam colocar o quinto jogador. Sem o Jim, os Malucos se desestruturaram e perderam a partida, 3 x 1, para os Varões.

A partida de nosso time contra os Manos foi muito equilibrada. Aqueles meninos jogavam muito bem. A nossa torcida estava sempre presente e isso nos dava muita força. Cantavam, gritavam e dançavam. Se tivesse prêmio para a melhor torcida, com certeza ganharíamos.

O primeiro tempo virou 0 x 0. No intervalo o Luke nos chamou. Pediu que tivéssemos calma e colocou o Winston no lugar do Rafa, que estava muito nervoso. Chamou a Monga de lado, conversou baixinho com ela e depois deu dois tapinhas em suas costas dispensando-a e mandou-nos de volta a quadra.

Já estávamos com dez minutos do segundo tempo e o zero a zero continuava. Um atacante dos Manos chuta de longe uma bola em direção ao nosso gol. Ela vem fraca e Monga a mata com o pé. Em vez de distribuir a bola para mim ou para o Marcos que estávamos ao seu lado ela avança em direção ao gol adversário. Os Manos se surpreendem, pois apesar de ser permitido ao goleiro de futsal jogar fora de sua área, não esperavam que uma menina fosse atacá-los. Ficam meio que inertes com a surpresa e Monga, aproveitando-se disto, chuta a bola do meio de campo em direção ao gol adversário. Winston, que estava bem na frente do goleiro dos manos, propositadamente encobrindo-lhe a visão, sai dali milésimos de segundos antes da bola lhe atingir. O goleiro dos Manos vê nada. Fizemos um a zero. Monga corre para abraçar o Luke, e Winston faz a mesma coisa. Aquilo foi um gol que saíra da cabeça do Luke que combinou a jogada com a Monga e com o Winston.

Luke retira o Alynson da partida e coloca o RB, que estava mais descansado e poderia ajudar a segurar o resultado. Os Manos não conseguem o empate. O árbitro termina a partida.

Com aquela vitória fizemos 6 pontos e continuávamos em primeiro em nossa chave. Um empate apenas contra os Comensais já nos garantiria a vaga na final.

Os Comensais venceram os Azuis com muita facilidade. Fizeram 7 x 2. Viriam para cima de nós com toda a força, pois a eles só interessava a vitória.

Quinta-feira

Era o dia do jogo contra os Comensais. Eles tinham 4 pontos e teriam que nos vencer para irem para a final. Jogavam muito bem. Eram um pouco durões, mas não eram tão violentos quanto os Varões ou como o Al Qaeda.

– Hoje iremos entrar como o seguinte time: Monga, Marcos, Lucas, Winston e RB.

– Poxa, Luke! Que eu fiz de errado que você está me colocando na reserva? – falou o Rafinha, meio que reclamando, meio que chorando.

– Senhor Rafael – disse o Luke bem sério –, eu não disse que o senhor e nem o senhor Alynson tenham feito nada de errado. Eu apenas estou adotando uma estratégia para o time. E lembre-se sempre que quando me chamaram para serem o técnico concordaram em aceitar minhas decisões sem reclamações. Ok?

– Ok, Luke. Desculpe-me.

– Sem problemas, senhor Rafinha. – falou o Luke, agora, sorrindo e de forma carinhosa.

Eu não entendi muito bem qual seria a estratégia que o Luke usaria, pois apesar do RB e do Winston jogarem muito bem, o Rafa e o Alynson eram muito rápidos e habilidosos. Desconsertavam com muita facilidade a defesa adversária. O RB era resistente e tinha um chute muito forte, que chegava a machucar os jogadores que ficavam na barreira, quando ele cobrava falta e neles acertava. O Winston tocava muito bem e também era bastante rápido, apesar de não ter os dribles do Rafa e do Alynson.

O Luke nos passou sua última instrução – tocar bastante a bola e jogar no contra ataque – e entramos em quadra já sabendo que se empatássemos ou ganhássemos aquele jogo, nosso adversário na final, no dia seguinte, seriam os Varões, que haviam vencido os Apolos do LG e se classificado para a grande decisão.

Os Comensais jogavam muito bem. Com seus uniformes, preto-azul escuro, e um semblante rude que fazia jus ao nome que escolheram para sua equipe, impunham certo temor em quem os enfrentava. Parecia até que eram “Os Comensais da Morte” verdadeiros. Se o jogo contra os Manos foi muito difícil, este então eu nem saberia definir. Quando os “Comensais” perceberam que não estavam escalados o Rafa e o Alynson, vieram com tudo sobre nosso time, e foi muito sufoco segurá-los. Mas, assim como o Luke nos orientou, fizemos diversos contra-ataques e acertamos algumas bolas na trave, o que fazia a torcida a todo o momento soltar exclamações e gritos emocionados.

Com muita dificuldade, numa confusão em nossa defesa, toquei a bola para o Marcos que imediatamente, por cobertura, lançou o Winston quase na marca de escanteio dos Comensais. Assim que a bola atingiu o chão, ele a tocou pra trás, entre a marca do pênalti e o meio da quadra e o RB soltou um pedarto. O goleiro espalmou, mas quase é jogado para dentro do gol com bola e tudo. Abrimos o placar, 1 x 0.

A pressão dos Comensais aumentou ainda mais. Era um jogo muito corrido. Não entendia o porquê do Luke não pedir tempo. Estávamos muito cansados, mas os Comensais suavam e se cansavam muito mais.

Fim do primeiro tempo.

Enquanto descansava e tomava água, só então fui perceber que naquele dia a nossa torcida estava instrumentalizada. Eram as outras Metralhas e mais o moleque do segundo ano, que era da igreja do RB, não assumido no LG, que vimos tocando no festival. Trouxeram seus instrumentos de sopro e mais uns dois ou três bumbos e formaram uma charanga que empurrava a torcida ao som de “Hang On Sloopy” e outras marchinhas que são tocadas em estádio. Era muito gostoso jogar com a torcida cantando para nos animar. Mas todos os versinhos que nossa torcida cantava eram numa versão gay do que era cantado nos estádios pelas torcidas organizadas. Assim, “Caiu na rede é peixe iê iê ia…” virou “Caiu na cama é bofe, iê iê ia… Bambinos vai golear”. E cantavam também para uma das juízas que apitavam a nossa partida uma versão de “Se a canoa não virar…”: “Se a amapoa não roubar, olê, olê, olá… Bambinos vai golear”.

Ia começar o segundo tempo, eu estava extenuado. O único consolo era ver que os Comensais estavam mais cansados ainda.

– Luke, vamos revezar um pouco. Coloque o Rafa e o Alynson. Estamos muito cansados.

– Ainda não. Esperem mais um pouco. Continuem apenas a tocarem a bola bem rápido e a contra-atacarem.

Fizemos o que o Luke nos pedia. Os Comensais corriam atrás do prejuízo. Eles estavam muito cansados mesmo. Suas camisas todas molhadas de suor. Quando tinha decorrido metade do segundo tempo, Luke me substitui e o RB também, colocando o Rafinha e o Alynson em nossos lugares. Os dois eram muito rápidos e juntamente com o Winston, ligeiro, e o Marcos, que não apresentava cansaço, seguiram a nova instrução do Luke.

– Quero que partam para cima no ataque, sejam bem rápidos nos toques e nos dribles.

Naquele momento entendi qual fora a estratégia inicial do Luke. Cansou os Comensais durante três quartos da partida e agora naquele quarto final, colocava os matadores para o gran finale.

Nosso time tocava a bola com genialidade. Empolgava a torcida com um belo espetáculo. Em compensação, a nossa galera retribui cantando novos versinhos com a melodia de “Hang On Sloopy”.

“Vamos Bambinos, é hora de show”, cantavam acompanhados da banda um primeiro grupo, e o segundo grupo respondia igual no dia do desfile de abertura “É gay, é show; É gay, é gol!” Pude ver o Riick, a Ariadne e o Rodrigo à frente da torcida com arquinhos na cabeça que pegaram da minha festa de aniversário, mas em vez das anteninhas, eles adaptaram chifrinhos de veadinhos (renas). As três Panteras continuavam como chefes de torcida, e eu via o Bambi pulando e dando tchauzinho, mas não sei quem usava a fantasia, já que o Riick não a usava nesse dia.

Dois minutos depois das substituições, os Comensais tinham suas línguas batendo no dedão do pé e mal aguentavam nos marcar. Fizemos o segundo gol. E depois outro e outro. 4 x 0. Estávamos na final.

Nos abraçamos e corremos junto à nossa torcida para agradecê-los. Fizemos o maior carnaval nas arquibancadas. Já éramos vice-campeões.

Aproveitei aquela emboleira toda e enquanto abraçava o Marcos, comemorando a nossa campanha, dei-lhe um beijo na boca que o surprendeu.

– Você é louco?! – perguntou-me.

– Que diferença faz? Todos não sabem que somos os bambis do LG?

Nós todos do time nos retiramos para o vestiário, mas de lá de dentro ainda ouvíamos a nossa torcida cantando e gritando um mesmo verso provocativo: “Varões, podem esperar, a sua hora vai chegar… É amanhã”.

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Comentários

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Bateu muita saudade das épocas dos interclasses na escola.

Muito bom o conto, estou viciado ❤️

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