Contratados: A Rendição - Capítulo 12

Um conto erótico de KaMander
Categoria: Gay
Contém 7137 palavras
Data: 13/05/2023 02:22:38

CAPÍTULO 12

*** MARCOS VALENTE ***

O corpo adormecido dele está encolhido na cama, coberto por um lençol. Um dia e duas noites foram o suficiente para aprender algumas coisas sobre Anthony. Ele não se move enquanto dorme, nem ocupa muito espaço na cama.

Ele é calorento, um lençol fino lhe basta para se cobrir, e, ainda assim, há um grande risco de ele dormir coberta e acordar nu. Anthony também não gosta de dormir de conchinha, ele gosta do seu próprio espaço, e carinho, definitivamente, não é algo que possa ser apontado como uma característica sua. Nem antes, nem durante, nem depois do sexo.

Seu rosto pacífico durante o sono não dá qualquer indício de que nas últimas trinta e seis horas eu o fodi feito um louco. Parece justo. Depois de semanas tendo meu juízo sendo fodido por ele, finalmente chegou a vez do meu corpo, e Anthony não está tendo problema algum em acompanhar minha ânsia em igualar o placar juízo x pau.

Então, por que caralhos eu não consigo dormir, tentando montar o quebra-cabeças que ele é? Por que, santo Deus, não consigo parar de pensar que três dias não são tempo o suficiente?

— Eu quero água... —resmunga, e eu inclino a cabeça, me perguntando se ele está dormindo ou acordado. Essa é mais uma coisa que aprendi. Anthony fala dormindo, na grande maioria das vezes, com ou sobre Isabella, mas há exceções. O que me leva ao próximo aprendizado, Anthony é um pai foda e isso está impresso em cada gesto ou fala seus, — A água não vai chegar até aqui sozinha... — reclama, quando eu não me movo para atender seu pedido. Outro aprendizado? Mandão! Muito mandão! Mandão para caralho!

Caminho até o frigobar do quarto e tiro de lá uma garrafinha de água, ao me virar de novo na direção da cama, encontro o corpo de Anthony completamente nu, deitado de barriga para cima. Ele se mexeu e o lençol agora está embaixo do seu corpo.

Minha visão, já acostumada à escuridão, depois de algum tempo a sua mercê, é imediatamente atraída para seu tórax. Estalo a língua e puxo meus próprios cabelos, irritado comigo mesmo.

Os dedos das minhas mãos e pés não seriam o suficiente para contar a quantidade de vezes que meu esposo tentou me convencer a falar sobre os últimos acontecimentos. Recusei-me. Eu precisava de tempo o suficiente para lidar com todas as novas informações e colocá-las em algum lugar em que fizessem sentido.

O problema é que encontrar este lugar está sendo muito mais difícil do que imaginei que seria. Anthony mentiu para mim, me enganou deliberadamente, e, ainda assim, não consigo pôr meus olhos sobre ele sem que meu corpo inteiro acenda. Mesmo a raiva descontrolada do primeiro momento parece ter saído do meu corpo junto com o primeiro jato de porra.

Desvio os olhos dele. Através da janela, o veleiro, ancorado na Marina, chama minha atenção. Franzo o cenho, mas não me dou muito tempo para pensar sobre isso, tomo uma decisão.

— Ótimo! Então você já pode levantar... — aviso.

— Nem fodendo! Ainda é madrugada! — resmunga, virando-se de lado e agarrando meu travesseiro.

— Nós vamos velejar... —Vira o rosto em minha direção e abre muito pouco os olhos.

— Não, nós não vamos! Porque isso significaria levantar às cinco da manhã quando eu fui dormir às quatro! — a voz está enrouquecida pelo sono. Se vira, fecha os olhos e agarra o travesseiro com mais força, sem deixar espaço para negociação. Paro no meio do meu caminho com a garrafa de água e me pego sorrindo.

— Bom... É realmente uma pena... Achei que você quisesse conversar... — Seus olhos se abrem e sua expressão ultrajada e sonolenta, ao mesmo tempo, é lindo. Lindo para caralho.

— E nós não podemos fazer isso em um horário normal? Em que pessoas normais estão acordadas e felizes? Marcos... Você realmente não quer ter que lidar com o meu mau humor matinal...

Se o seu olhar assassino for um indicio do que mais esse humor reserva, eu realmente não deveria querer. No entanto, se estou sendo forçado a fazer uma coisa que não quero, retribuir é o mínimo que ele me deve.

— Vou sair com o barco em quinze minutos, Anthony... Você pode estar dentro dele, ou não... — Um bufo é a única resposta que recebo quando lhe viro as costas levanto junto comigo a garrafa de água.

*************

— Cuidado... — oriento a subida de um Anthony enrolado em um cobertor a bordo do veleiro. Sua expressão emburrada deixa claro que não estava brincando sobre o mau humor. Não me contenho, rio.

— Quero saber se você ainda vai achar graça depois que eu chutar sua bunda em alto mar! — reclama alto, fazendo-me gargalhar.

— Você realmente não é uma pessoa matinal, certo?! E você não está com frio, pra que esse cobertor?

— Eu sou uma pessoa matinal, Marcos! Mas eu também sou uma pessoa que precisa de um mínimo de horas de sono. Alerta de spoiler, uma hora não é esse mínimo! E não estou com frio agora, mas quando o barco começar a se movimentar, eu vou ficar!

— Para de chorar e talvez eu deixe você dormir...

— Eu não sei o que foi que te deu a impressão de que eu precisaria da sua permissão pra isso... — Sem que eu lhe mostre o caminho, Anthony anda até a porta de acesso ao interior do barco, no entanto, quando gira a maçaneta, nada acontece.

Ele se vira na minha direção, encarando-me com olhos estreitados.

— Me dá as chaves e ninguém se machuca! — desafia. Sorrio largamente. Anthony suspira e decide tentar outra abordagem, — Marcos, eu estou com sono e não vejo você carregando qualquer comida, então estou supondo que em algumas horas, além de sonolento, eu estarei faminto... Quando quer, você é um homem inteligente, então me diz, quais são as probabilidades de essa combinação ser boa?

— Quando quero é? — Ironizo e começo a me movimentar, soltando as amarras da embarcação e ignorando completamente chilique de Anthony, — Geralmente, quando se quer alguma coisa de alguém, a bajulação é o caminho escolhido, não a ofensa.

— Deus, Marcos! Por que é que você faria algo assim, por quê?!

— Porque se eu quisesse velejar sozinho, não teria te trazido comigo. — aponto o óbvio, mas é o mesmo que ficar em silêncio. Anthony não se importa com meus motivos.

— Eu não quero velejar! Nunca entendi essa fixação que as pessoas têm por fazer o mais difícil, quando se pode, simplesmente, ligar um motor e chegar onde quer que se deseje.

— Deus! — Levo a mão ao peito, fingindo ter sido profundamente magoado, — Logo se vê que nosso casamento não é de verdade! Meu esposo nunca diria algo assim!

— Marcos... — choraminga. Aponto para a popa do barco, coberta por um futon impermeável e almofadas. Meu esposo joga a cabeça para trás e grunhe, irritado.

— Você é tão frustrante!

— Você não estava reclamando algumas horas atrás!

— Isso é porque Deus teve misericórdia de você e te deu alguma coisa pra saber fazer bem, foder, Marcos! Nisso você é ótimo!

— Obrigado pela parte que me toca, esposo! — Grunhe outra vez e se encolhe entre as almofadas.

Sem qualquer pressa, termino todos os procedimentos e faço as checagens necessárias para colocar o barco em movimento. O vento ainda não é o suficiente, então ligo o motor e deixo a marina. Atrás do leme, confirmo que essa foi uma boa ideia.

O mar sempre foi um dos meus lugares preferidos, mesmo que preterido a outras atividades. Acho que todo mundo tem alguma coisa que gosta de fazer, e, ainda assim, raramente faz. Essa é a história da minha vida com o iatismo.

O céu escuro acima de nós começa a desbotar conforme o barco avança sobre as águas. Com o piloto automático configurado, passo algum tempo debruçado sobre o timão, repassando em minha mente, pela milésima vez desde que cheguei à ilha, os últimos acontecimentos da minha vida.

Depois de ver e rever os mais inesperados deles, acabo rindo de mim mesmo e isso me lembra Isabella. “Mas o papai disse que a gente pode rir da gente mesmo...”.

Olho para trás e, como era esperado, Anthony está dormindo, deitado nas almofadas, enrolado no cobertor. Esposo. Meu esposo. Mentiroso.

Suspiro e balanço a cabeça para um lado e para o outro, negando e me obrigo a reconhecer, mesmo que a muito contragosto, a verdade. Anthony não mentiu para mim, ele omitiu, muitas e muitas coisas, mas o fato é que a maioria das declarações que eu gostaria de acusá-lo de ter feito, elo nunca fez. Eu fiz, ele apenas não negou... Gosto? Não? Mas no lugar dele, eu teria feito diferente? Também não...

Passo a mão pelos cabelos, e, outra vez, volto meu olhar para ele, agora, enrolado como um charuto no cobertor, apenas com a cabeça para fora. Rio e essa é só mais umas das coisas que me vejo sendo obrigado a reconhecer.

Não é que antes de conhecer Anthony eu tivesse dificuldades para sorrir. Longe disso, mas em sua companhia, exceto pelos momentos em que descubro que fui enganado, sorrir é uma constante.

Caminho até o local em que ele está deitado. De joelhos, arrasto-me até ficar posicionado atrás de seu corpo e me sento. Os lábios cheios, rosados, se destacam na pele limpa do rosto exposto, já que os cabelos estão presos de qualquer maneira no alto da cabeça.

— Esposo... Acorda... — sussurro em seu ouvido.

— Me deixa em paz! — vira-se para o outro lado, fugindo de mim e deixando as coisas muito mais divertidas. Foda-se, eu sou implicante.

— Vai, Anthony! Você já está aqui, esse é o amanhecer mais bonito que você vai ver na vida... Abre os olhos... — peço, aproximando outra vez a boca de seu ouvido. Aproveito a proximidade para deslizar a ponta do meu nariz em sua pele. Seu cheiro gostoso me provoca sensações muito indesejadas, mas as quais eu já começo a desistir de querer aprender a evitar.

— Não quero...

— Depois não vá dizer que eu não tentei ser decente... — aviso e começo a cutucá-lo. Anthony se remexe para um lado e para o outro, mas eu não paro.

— Inferno! — grita, dando-se por vencido e eu sorrio, vitorioso.

— Isso não é o que eu esperava dessa viagem... — reclama enquanto se ajeita, agora, deitando-se entre as minhas pernas.

— Você também não é o esposo que eu esperava, então acho que está tudo em casa...

— Estúpido! — abre os olhos só para estreitá-los para mim, antes de voltar a fechá-los, e eu sorrio.

Meu olhar desliza por todo o seu corpo, que eu sei, por baixo do edredom, estar vestindo nada além de um short, sou obrigado a reconhecer que ele tem um ponto.

— Por que você foi embora de casa? Se seus pais são tão preocupados com as aparências, eles nunca teriam realmente te expulsado se você fizesse a mesma ameaça que fez no dia do casamento... — Faço a pergunta que tem circulado minha mente desde o momento em que ouvi Anthony enfrentar a mãe.

O momento era péssimo, mas seu achei que a maneira como ele lidou com a mulher da creche sexy, porra! Aquilo foi espetacular!

— Nosso acordo ainda está valendo, você sabe, certo? Eu falo, você fala... — Reviro os olhos, mas aceno, concordando.

— Eu era jovem demais, Marcos... Não vou usar a palavra criança, mas, com certeza, jovem demais pra entender, pra aceitar, que meus pais não se importavam comigo. Ir embora pareceu a melhor opção... Eu não medi as consequências, eu ainda não tinha entendido que não pensava ou agia mais só por mim... Eu não fazia ideia da falta que o dinheiro me faria... — senta-se, encaixando-se em meu corpo.

Abraço o seu e apoio meu queixo em seu ombro. O olhar de

Anthony se perde no oceano. De novo, a certeza de que ele está me escondendo alguma coisa me atinge com força e eu me pergunto, o quê?

— Você se saiu bem, Anthony... Isabella é perfeita, bem cuidada, feliz... — Não entendo o porquê, mas sinto a necessidade de dizer e ele ri um sorriso que não alcança os olhos.

— É uma forma de ver as coisas...

— Mas não é a forma como você vê as coisas... — a compreensão me faz franzir o cenho.

— Até sua proposta estapafúrdia, havia oito meses que eu mal via minha filha, Marcos... — Vira-se para mim. Tão perto como estamos, é impossível perder qualquer nuance de suas expressões. Eu vejo tudo. As linhas em sua testa, os leves tremores em seu nariz, a inquietude das suas íris, — Eu a levava dormindo para creche e, quando a buscava, ela estava do mesmo jeito... Aos fins de semana, eu estava sempre tão atolado em trabalhos da faculdade que era uma conquista conseguir tirar duas horas para assistir um filme com ela...

A decepção consigo mesmo na voz de Anthony é quase palpável, mas não é sua única forma de ele me dizer coisas além das palavras. Eu ouço. Como se por um deslize, seus olhos gritam aquilo que sua voz tem insistido em esconder de mim.

— Você não é um pai ruim por causa disso... — Outra vez, o sorriso falso. Aperto seu corpo em meus braços, sentindo uma necessidade de confortá-lo, de convencê-lo daquela que parece uma verdade óbvia para mim. Não entendo essa vontade, mas a obedeço. Uma de minhas mãos encontra sua bochecha, lentamente, trago seus olhos até os meus. — Eu estou falando sério! Isabella tem sorte. Você assumiu a responsabilidade de ser tudo o que ela precisa, e, ainda assim, nunca falhou!

Seus olhos piscam, ele desvia o olhar e quando seu rosto volta para mim, suas emoções já foram escondidas.

— Cuidado, Marcos... Assim eu vou achar que você não quer mais minha cabeça numa estaca... — Eu rio. Els é realmente muito bom em fugir de assuntos que lhe deixam desconfortável.

— Eu ainda não gosto da sua amiga, eu ainda não gosto de ter sido enganado, Anthony, mas não posso dizer que não entendo o que você fez... E, provavelmente, a foda raivosa ajudou... — Anthony gargalha, eu adoro o som.

— A mim, com certeza, ajudou! — Ergo as sobrancelhas.

— Você estava com raiva? — questiono, mais uma vez, surpreendido. Quer dizer, ele me engana, tem a indecência de ficar com raiva da minha reação e ainda é cara de pau o suficiente para mencionar isso?

— Você estava agindo como uma mistura bizarra de boçal com criança birrenta! — Vira-se, deixando a lateral do corpo encaixada na minha frente, distorce o rosto em uma careta chorona e move a cabeça para um lado e para o outro conforme diz as próximas palavras: — “Oh, não fale comigo! Eu fui enganado!”, “Oh, não quero ouvir sua voz! Você é um mentiroso!”, “Oh, eu sou o Marcos babaca, ajo como um babaca, mas não quero ser chamado assim!” — Sua voz afinada completa a dramatização e, sem conseguir controlar, eu rio.

— Ok, Anthony! Pra começar, eu, definitivamente, não falo assim, e, com certeza, não disse nenhum desses “Oh’s!”

— Na minha cabeça, você disse! — aproxima a bochecha dos meus lábios, roubando-me um beijo. Brinco com a ponta do nariz em sua pele, alisando o maxilar e o queixo.

— Nem adianta, você não vai me distrair! — avisa, — Agora, é a sua vez!

— Ah, só você pode fugir de assuntos desconfortáveis, então? — Seu rosto sorridente se vira para mim. Com a boca perto o suficiente da minha para que eu quase sinta seu gosto, ele fala.

— Uma coisa eu preciso dizer a seu respeito, você aprende rápido! — Pisca um olho, provocador para caralho e volta a olhar para o oceano.

— O que você quer saber? — pergunto, com um sorriso no rosto que contradiz completamente minha má vontade em realmente lhe dar respostas, mas que eu não consigo evitar.

— Por que você seria pego duas vezes na mesma semana, Marcos? — rio, mesmo que eu não ache a resposta que darei realmente divertida.

— Você consegue chegar a essa resposta sozinh, Anthony... Do que é mesmo que você não para de me chamar?

— Uma criança birrenta?

— Uma criança birrenta...

— Te disseram pra não fazer alguma coisa e, só por isso, você decidiu fazer?

— Parece um bom resumo, mas, em minha defesa, eu estava determinado que fosse uma despedida... — Ele ri.

— Pelo menos isso você conseguiu... — gargalha, e eu bufo, — O quê?! É verdade!

— E consegui também uma imposição absurda e totalmente sem sentido do conselho, justamente por eles acharem que eu jamais a cumpriria...

— E aqui estamos...

— E aqui estamos!

— E por que você não cedeu à vontade deles? Por que simplesmente não desistiu do cargo?

— Eu sei que prometer ao meu pai que agiria como o herdeiro que o legado dele merece e meia hora depois ser pego transando com o meu secretário durante o expediente não é a melhor forma de expressar isso-

— Você fez isso? — Me interrompe.

— Eu não me orgulho, mas fiz... — E, contrariando qualquer que seja a regra que diz que esposos não podem se divertir à custa do marido, mais uma vez, Anthony gargalha.

— Deus, coitado do seu pai! Ele parece tão incrível!

— Obrigado, esposo! Agora, definitivamente, eu me sinto muito melhor!

— Desculpe... — pede, mas, instantes depois, volta a gargalhar, tornando a palavra completamente vazia de significado. Isso deveria me irritar, não deveria? Então por que caralhos, ao invés disso, eu passo a rir, junto com ele, às minhas próprias custas?

— Você quer saber o motivo ou não? — Mordo seu ombro. Ele geme e se esfrega em mim. Porra, Anthony! — Você realmente não é um esposo bebê... — resmungo para mim mesmo, mas, obviamente, Anthony ouve.

— O quê?

— Nada! Quer ouvir o motivo ou não? — desconverso, mas ele, logicamente, não me deixa mudar de assunto.

— O que é um esposo bebê, Marcos? — Desvio os olhos. Instantes depois, a gargalhada de Anthony soa ainda mais escandalosa do que antes!

— Você tem um problema com a minha idade! Ai, meu Deus! – E gargalha sem parar.

— Me avisa quando acabar...

— Pelo amor de Deus, Marcos! São só dez anos! — comenta, entre risos.

— Você tem vinte e um anos!

— Quase vinte e dois!

— E isso ainda são vinte e um!

— Você realmente não deveria ter se preocupado com isso!

— Não me diga? Mas quando eu achava que você era doce, inocente. Principalmente com você me dizendo que corria o risco de se apaixonar por mim!

— Oh, sim! Esse, com certeza, foi o melhor momento da minha curta carreira de ator! — Não consigo acreditar na audácia desse homem!

— Você não sente nem um pouquinho de remorso?

— Por ter te deixado acreditar no que queria? Sim. Por ter te visto sofrer de tesão e ter gostado? Não! Primeiro, porque eu também estava sofrendo e, segundo, porque embora eu não ache que seu histórico cafajeste devesse te sentenciar à castração, como a Grazi acha, até porque, isso seria um tremendo desperdício, — Lambe meus lábios, — eu não sou de ferro, e te ver sofrer um pouquinho me pareceu justo!

— Eu realmente não sei se você é pior mentindo ou sendo honesto... — comento e ele deixa um beijo em meu queixo.

— Onde nós estávamos? Hum... Sim! Você estava me dizendo o porquê de ter acatado a decisão absurda que te forçou a casar. — Olho para ele, esse homem não cansa de foder meu juízo!

— Meu pai... — cedo, sem opções, — Eu nem sempre tenho atitudes das quais ele possa se orgulhar, mas a Valente é o legado dele, e eu quero continuá-lo. Mesmo que, depois de um tempo, ele já estivesse conformado com a impossibilidade disso, — Anthony sorri como se soubesse de algo que eu não sei, — O quê?

— Seu pai se conformou com o fato de você não assumir o cargo que ele queria pra você por uma razão óbvia, Marcos... A empresa não é seu legado, você é! — A certeza em sua voz é tamanha que me faz franzir as sobrancelhas.

— Mas ele trabalhou a vida inteira por aquilo lá...

— Ele trabalhou a vida inteira por você! Tudo o que ele fez, tudo o que ele pensou, sonhou ou planejou, foi sempre por você, inclusive a empresa... Eu sei disso porque é exatamente como me sinto com Bella... Eu faria tudo, qualquer coisa, por ela.

— Até se casar... E comigo... — Entendo o que ele diz e meu coração muda de ritmo. Porra, pai! Ele ri baixinho, libertando minha atenção dos meus próprios pensamentos.

— Mas isso não está se saindo tão ruim quanto poderia... — aproxima-se e sussurra, em tom de confidência, — Você é gostoso! — Rio, sua mão toca meu rosto. Os dedos se infiltram pelos fios da minha barba, — Ele ama você, Marcos... Mais do que qualquer outra coisa, ele ama você! Não a empresa, o cargo ou o que quer que você ache que é seu legado, ele ama você!

Balanço a cabeça, concordando, e tomo alguns minutos absorvendo a sensação, a certeza. Anthony aninha-se ainda mais em mim e aumento meu aperto ao seu redor.

— É mais fácil entender a vida dos outros do que a nossa, não é? — Sua cabeça abaixa, fugindo do meu olhar, mas não lhe dou essa opção. Apoio os dedos médio e indicador embaixo do seu queixo e levanto seu rosto com delicadeza, — Você é um pai incrível! E se eu vejo isso, não tenho dúvidas de que Isabella sente...

— Obrigado... — deita a cabeça em meu peito, eu beijo seus cabelos. Um silêncio confortável se estabelece entre nós e, quando me dou conta, Anthony adormeceu.

**********

Anthony está na sacada do quarto, conversando com Isabella, como fez nas últimas duas noites e, do outro lado do cômodo, sentado em um dos sofás da antessala, com o celular nas mãos, eu o observo.

O corpo gostoso está coberto por uma camiseta cumprida e eu tenho quase certeza de que não há nada por baixo dela. Porra! Eu vou sentir falta disso em casa, porque se eu tenho uma certeza, é que não terminei com Anthony.

Se eu o desejava antes de conhecer seu toque à exaustão, agora, existe algo muito mais primitivo e cru com relação à forma como eu quero tocá-lo, sentir seu gosto, ouvir seus gemidos, puta que pariu! Apenas os pensamentos me deixam duro por ele, para ele. E quando ele inclina a cabeça para trás, gargalhando, eu balanço a minha, negando.

Anthony é perigoso. E, se eu soubesse disso desde o primeiro momento, nunca o teria colocado em minha casa, em minha vida, eu nunca teria me casado com ele. Não acho que eu seja capaz de me apaixonar por alguém, mas, apenas dois dias em sua companhia real, e não com as migalhas de sua personalidade que ele vinha me entregando até aqui, foram mais do que suficientes para deixar claro que, se eu fosse capaz de realmente me importar com alguém em um nível romântico, Anthony seria o candidato fodidamente perfeito.

Sorte a minha que eu não sou, então, certo?! Errado, porque tenho quase certeza de que, apesar disso, os próximos dois anos serão uma tortura. O fato é que eu simplesmente não consigo imaginar um dia nos próximos 730 em que eu não vá desejá-lo.

Pode ser que daqui a um mês, ou dois, eu me acostume com sua presença, seu cheiro. Pode ser que, em algum momento, sua risada sonora pare de me fazer sorrir, ou que seu olhar desafiador deixe de me excitar. Pode ser que eu me acostume a conviver com esse desejo que parece dividir espaço com o sangue em minhas veias, mas, até lá, eu estou fodido de verde e amarelo.

***********

*** ANTHONY RODRIGUES ***

Quente.

Muito, muito quente.

E molhado.

Muito, muito molhado.

E gostoso.

Muito, muito gostoso.

Um gemido escapa dos meus lábios enquanto minha mente ainda está totalmente envolvida pelo sono, mas a sensação, a sensação é boa demais para ser ignorada. Primeiro, acho que estou sonhando, mas à medida que meu raciocínio é despertado pelo prazer que atravessa meu corpo, percebo que não há imagens, tudo está escuro, então não pode ser um sonho.

Um filete de luz atinge minhas pálpebras, atentando-me para o fato de que elas estão fechadas. Mecho o corpo, a névoa do sono já não mais tão densa quanto antes, minha mente já quase completamente desperta. Sorrio, adorando ser acordado dessa maneira.

— Deus, sim... — Só percebo que falei quando ouço minha própria voz. Terminando o trabalho de me acordar, um dedo me invade ao mesmo tempo em que a língua quente, molhada e muito habilidosa brinca com minhas bolas. Ofego e abro os olhos, completamente dominado por sensações deliciosas e encontro Marcos entre as minhas pernas, empenhado em me enlouquecer.

Ergo os quadris, esfregando-me em sua boca. A barba espeça arranha minhas coxas, arrepiando-me e esquentando-me ainda mais. Marcos move o dedo dentro de mim, arrastando meu cu, ele o circula, eu estremeço inteiro. Puta que pariu! Se esse não é o melhor “Bom dia!” que existe, eu não sei qual é!

Sua língua sobe e desce pelo meu cuzinho, me lambe de ponta a ponta sem pressa alguma. Seus lábios provocam, instigam, chupam, beijam. Quando os dois trabalham juntos, eu sinto que vou enlouquecer.

— Marcos! —Seu nome salta para fora de minha boca e isso parece deixa-lo ainda mais determinado a me tirar qualquer grama de juízo. Gemo. Alto, baixo, arrastado e rouco. Esfrego os quadris em sua boca. Rebolo, querendo mais, muito mais. Quando ele se cansa de me provocar, finalmente enfia dois dedos em meu cu, me fazendo gritar, alucinado.

A invasão curta e contínua provoca ardência, me faz desejar mais, mais forte, maior, mais grosso e como se estivesse lendo meus pensamentos, ele fala.

— Goza, Anthony! Goza que eu como esse rabo gostoso que você tem! — Empurro a bunda para trás, engolindo seus dedos completamente. Volto a rebolar, agora, completamente preenchido.

Sua boca estala em meu pau, depois, seus lábios chupam. Eu explodo em um orgasmo que acende cada um dos meus nervos, eletriza a minha pele por aquilo que parece ser muito mais do que alguns segundos e me deixa sorrindo de orelha a orelha.

— Ah, homem! — Sua voz é tão rouca quanto a minha, mas no caso dele, o sono não tem nada a ver com isso. Meu corpo é virado e, rapidamente, minha barriga está pressionada contra o colchão. Um tapa estala em minha bunda, logo depois, o outro lado é presenteado também. Ah, porra!

Marcos aperta minhas coxas, puxa minha bunda para cima, manipula meu corpo mole como a umbonecao de pano. Não resisto, porque não quero. Não ajudo, porque ainda não voltei a ser senhor de mim mesmo. A língua especialista lambe meu cu, deixando-o completamente molhado. Duvido muito que eu vá me tornar senhor de qualquer coisa que não gritos e gemidos pelos próximos minutos.

Sua língua é uma delícia. Quente demais, gostosa demais. Ela desliza meu ânus como se esse fosse o trabalho da sua vida. Como se ela tivesse uma vida independente e quisesse passa-la sem fazer nada além de me lamber e me fazer gozar. Sem vergonha alguma, me esfrego nela, pedindo mais.

— Me fode, Marcos! Fode meu cu! — o tom imperativo não foi proposital, mas, Deus! Meu desespero é tamanho que já não sei mais o que realmente pretendo ou não.

Obedientemente, sinto a cabeça larga do pau de Marcos provocando-me. Relaxo, facilitando a entrada e me sentindo deliciado por ela. Devagar, ele penetra. Centímetro a centímetro, me faz desejar por mais. Tão fodidamente gostoso, tão... Um gemido corta qualquer coerência que eu estivesse me esforçando para manter e quando Marcos começa a se movimentar, eu desisto de fazer alguma coisa que não seja sentir ou gemer.

Seus dedos tateiam minha cintura, coxas, púbis, até se fecharem em meu pau, deslizando pelo meu gozo e sua saliva, estimulando-me a me empinar mais, totalmente perdido. O barulho de sua pélvis batendo em minha bunda é hipnótico, erótico. Sua mão livre agarra meus cabelos, puxando-os, e ardência do couro cabeludo se junta à da penetração em um dueto perfeito.

— Puta que pariu, que cuzinho gostoso! Eu quero encher ele de porra, Anthony! Deixa? Deixa eu gozar nesse rabo delicioso que você tem?

Minha resposta é um gemido arrastado e outro tapa arde em minha bunda.

— Deixa, gostoso? — Mais um tapa, forte, gostoso, que leva meu corpo inteiro a espasmos.

— Deixo! — Marcos belisca meu pau e esfrega a cabeça entre os dedos. Eu grito, tão perto de me despedaçar que posso sentir meu corpo inteiro prestes a explodir. Ele dobra o corpo sobre o meu e me morde, cortando o fio que me mantinha suspenso. Eu me desfaço como fumaça, sumindo em prazer e alívio.

Marcos sai de dentro de mim, mas continua com um braço ao redor dos meus quadris, mantendo-me empinado. Longe, muito longe, ouço seu ofego e, instantes depois, jatos quentes atingem minha pele, lambuzando minha bunda inteira e escorrendo por ela. O toque de Marcos me deixa e eu desabo na cama, ofegante.

Aperto os olhos, esperando que minha mente volte a funcionar, puxo um travesseiro, o abraço e deito a testa sobre ele. Conforme meus sentidos vão retornando, ouço Marcos se afastando e o barulho de água. Algum tempo depois, um tecido úmido é deslizado em minha pele, me limpando. Com seu trabalho feito, Marcos deita ao meu lado e eu abro os olhos, encontrando-o sorridente.

Mordo o lábio, ele aproxima o rosto do meu, a boca da minha e como se não tivesse acabado de ser fodido até a exaustão, meu corpo inteiro estremece. Meu cheiro está em sua pele, eu adoro isso. Adoro para caralho. Sem que nossos olhos se desviem, ou que qualquer palavra seja dita, sua língua lambe meus lábios e seu rosto acaricia o meu. Movo-me pela cama até que não haja qualquer espaço entre nós, seus braços me envolvem, e nossas línguas fazem o mesmo.

É o beijo que só nós dois temos. Intenso, desesperado, gostoso, longo. Tem gosto de despedida e disso eu não gosto, mas vou aprender a viver com. Marcos desce a língua pelo meu queixo, pescoço, marcando-me com sua saliva e me fazendo gemer. Meus mamilos estão doloridos, carentes. Eu os esfrego em seu corpo até que sua boca os alcance. Ele chupa um, depois o outro, morde um, depois o outro, e volta a beijar minha boca com fome e tesão.

— O helicóptero chega em uma hora... —avisa, sem desgrudar a boca da minha.

— E você tem alguma ideia de como a gente pode passar essa hora? — Lambo seu queixo, maxilar, mordo o lóbulo da sua orelha. Suas mãos fazem pressão em minhas costas, apertando, ainda mais, meu corpo no seu.

— Muitas, muitas ideias...

*************

“Essa não era a viagem que eu esperava...” Enquanto o helicóptero ganha as nuvens, repito em minha própria cabeça as palavras que disse à Marcos dois dias atrás.

Eu não esperava que ele fosse capaz de enxergar a verdade por trás das minhas justificativas e reconhecer que suas suposições eram tão culpadas por toda essa confusão quanto as minhas omissões. Eu não esperava que nós dois passássemos três noites e três dias transando feito coelhos e que, ainda assim, a sensação de que não foi o suficiente se esconderia em um canto escuro da minha consciência.

Eu não esperava que, ao invés de instalar entre nós dois um clima intratável, a revelação da verdade pudesse me fazer admirar Marcos de alguma forma. Eu não esperava que algo, nesse mundo de meu Deus, fosse capaz de aliviar o peso que rever meus pais, depois de cinco anos, teve sobre mim.

Eu não esperava reconhecer em uma viagem de três dias uma pausa necessária. Eu não esperava que eu realmente precisasse dessa pausa, eu não esperava gostar tanto dela. Mas, agora, ela acabou. Empurro para longe dos meus pensamentos quaisquer chances de atribuir mais adjetivos a ela do que “inesperada”.

Quando desço do helicóptero, no topo do edifício em que moramos, tenho vontade de correr porta a dentro. É como se meu coração estivesse batendo fora do peito e meu corpo estivesse desesperado para recuperá-lo.

Sim, os últimos dias foram surpreendentes, e, sinceramente, eu não me dei a oportunidade de pensar no que estava fazendo, não quando poderia me arrepender e perder a oportunidade de continuar a fazer por um tempo determinado.

E, agora, certamente também não é o momento em que eu pensarei a respeito. Agora, a única coisa em minha cabeça é finalmente reencontrar minha filha e esmagá-la em meus braços, Deus! Que saudade!

Não me importo com absolutamente nada, nem mesmo com o fato de que estou deixando Marcos para trás enquanto ando, alucinado, na direção do elevador. Ele chega rápido, as portas se abrem e eu entro, mas ao ver meu marido correndo para me alcançar, sou obrigado a estender a mão, impedindo que as portas se fechem.

— Calma, papai galinha! Sua pintinha está viva e bem no andar de baixo!

— Eu ainda posso chutar sua bunda para fora desse elevador! — ameaço.

— Eu gostaria de te ver tentar! — replica, sorridente, sabendo que não, eu não poderia chutar sua bunda para fora, já que ele é muito maior e mais pesado do que eu.

Bufo, inconformado. As portas se abrem já no nosso hall de entrada. Dessa vez eu corro para fora e não sou o único a encenar uma cena dramática na cobertura de Marcos, porque antes mesmo de ver rosto de Isabella, ouço seus passos apressados e, de repente, sou atingido com força por uma criança de quase quatro se lançando em meu colo. Nada, nunca, no mundo inteiro, me deu tanta paz. Puta que pariu!

Como é que os pais aprendem a se afastar dos filhos? Será que quando eles crescem fica mais fácil? Por favor, que fique, porque se essa vai ser a sensação toda vez que nos afastarmos, quando ela estiver adulta e for embora, eu vou morrer!

— Você chegou, papai!

— Cheguei! — E é embaraçoso que minha voz saia tão chorosa, mas ela sai.

— Foram só três dias! Deixa de ser dramático! — Levanto os olhos ao ouvir a voz de Grazi. Oh, oh! Isso tem tudo para dar errado, mas, agora, minha última preocupação é a provável troca de farpas entre Marcos e minha amiga.

Pego Isabella no colo e ela me aperta com braços e pernas. Afundo o nariz em seu pescoço, sentindo seu cheiro de criança, o melhor do mundo, e a aperto ainda mais.

— Ai, papai! Você tá me esmagando! — reclama e eu rio.

— Desculpe... — peço, afrouxando o aperto.

Isabella levanta a cabeça, seus olhos encontram Marcos e ela sorri para ele tão espontaneamente, que sinto um pouco de ciúmes. Quer dizer, três dias longe de mim e ela já está olhando para os lados depois de um abraço de apenas um minuto? Eu poderia ficar quietinho, agarrado a ela pelo resto do dia, e ainda são dez horas da manhã!

— Oi, Marcos! — fala animada, mas, pelo menos, não faz qualquer movimento para deixar meus braços.

— Oi, Bella! — estranho que ele use o apelido. Posso estar enganado, mas acho que é a primeira vez.

— Você aprendeu! — Minha filha comemora e eu olho para Marcos interrogativamente. Ele sorri, mas não me dá qualquer resposta. Aproxima-se, deixa um beijo ainda mais inesperado que o apelido, na testa de Isabella, e se perde dentro da casa sem nem mesmo reconhecer a presença de Graziella. Puta merda.

— Um amor... — Ela debocha e eu balanço a cabeça, negando, — Oi, estranha, — Minha amiga esmaga Isabella entre nós quando me abraça e a criança sapeca gargalha, achando isso muito divertido.

— Oi, Grazi! — Aproveito o abraço, senti falta dela também, — Eu não esperava te encontrar aqui...

— Só queria ter certeza de que você estaria bem...

— Ah, Graziella! Pelo amor de Deus! — Olho para ela com olhos estreitados e incrédulos.

— O quê?! Cautela nunca é demais! — Tenta justificar o injustificável e passa a mão pelos cabelos escuros. Torço os lábios e caminho para dentro, na direção do meu quarto. Marcos não está em qualquer lugar no primeiro andar, mas, na cozinha, encontro Carmem.

— Seja bem-vindo de volta, meu filho!

— Obrigado, Carmem! — Lhe dou um abraço precário, já que para minha felicidade, Isabella continua em meu colo, agarrada a mim. Beijo os cabelos de minha filha, satisfeito pela proximidade.

— Nós vamos para o meu quarto, — aviso.

— Precisa de alguma coisa, meu filho?

— Não, Carmem, eu tenho tudo o que preciso, — Aperto Isabella e Carmem sorri.

Deixo a cozinha com Grazi ao meu lado e subo as escadas devagar por causa do peso extra.

— É um belo apartamento... — minha amiga comenta, à medida que descobre os ambientes pelos quais vamos passando.

— É sim... — Sempre achei que fosse, mesmo quando morar aqui algum dia parecia tão absurdo quanto dizer que bananas são cor de rosa.

Abro a porta do meu quarto, entro e Grazi vem logo atrás.

— O que você quer fazer, meu amor? — pergunto à Isabella.

— Dormir, papai... — responde, dando um imenso bocejo, e eu olho para a madrinha dela em busca de respostas, afinal, são dez horas da manhã.

O sorriso no rosto de Graziella é resposta mais do que suficiente e eu gemo, frustrado. Sorvete no jantar, quebra na rotina de horários, que outras surpresas esses três dias ainda revelarão, em? — Que tipo de amiga eu seria se não estragasse sua filha? — ela questiona enquanto deito uma Isabella sonolenta em minha cama.

— Uma decente! — resmungo e decido me deitar também.

Aninho o corpinho infantil no meu e Graziella começa a circular pelo quarto enquanto coloco minha filha para dormir. É muito mais rápido do que eu gostaria.

Bella adormece praticamente no momento em que é deitada na cama, então, cinco minutos depois, eu tenho uma Grazi ansiosa, de braços cruzados, batendo o pé no chão.

Levanto-me com cuidado e aponto para o meu cantinho preferido do quarto. Sento-me na poltrona e minha amiga no puff, de frente para mim.

— Fala.

— O que você quer saber, Grazi?

— Bom, porque não começamos com o fato de vocês terem saído daqui prestes a se matarem e terem voltado felizes e sorridentes?

— O que eu posso dizer? Sexo relaxa! — debocho e seus olhos se estreitam para mim.

— Anthony!

— Tudo bem, Grazi... Nós conversamos! Foi isso, Marcos não ficou feliz, ele, definitivamente, não gosta de você, mas, o que eu posso dizer? Sexo e conversa resolveram nossos problemas!

— Simples assim?

— O que ele poderia fazer, Grazi? Porque me matar não era uma opção, e o que está feito está feito, estamos casados por um motivo.

— Você contou tudo a ele? Tudo mesmo? — desvio os olhos por quase um minuto inteiro.

— Não... Mas acho que devia...

— Não surta, Thon... Só porque vocês transaram, sua vida não precisa virar um livro aberto. Eu tenho certeza que a dele não é!

— Eu sei... É só... Eu não gosto que ele ache que eu contei tudo quando não contei, sabe? Talvez eu devesse ter dito que não diria tudo, porque agora eu só pareço um mentiroso. — esfrego as mãos no rosto. Evitei pensar sobre isso ao longo dos últimos dias. Mas, agora, em casa, com Isabella perto de mim, é impossível continuar a manter esses pensamentos longe.

— Thon, é só o Marcos... Você tá exagerando!

— Pode até ser só o Marcos! Mas ele nunca fez nada além de ser decente até agora, Grazi! Mesmo tendo todo o direito de ficar puto por um tempo, afinal, eu posso não ter mentido antes, mas omiti muita coisa. Mesmo assim, ele entendeu que eu não era o único culpado por isso e assumiu sua parcela.

— Tenho certeza que todo o sexo ajudou ele a enxergar melhor! — desdenha. — Mas esteja ele bancando o sensato ou não, eu não confio nele!

— Não se preocupe, a recíproca é verdadeira! E mesmo que você tenha falado isso como deboche, sim! O sexo ajudou, mas não muda nada, Grazi! Foi a primeira e a última vez... — Minha amiga me olha com uma única sobrancelha levantada.

— Foi bom? — Duas palavrinhas. Duas palavrinhas e minha mente se perde em lembranças impossíveis de ignorar, — Não fode, Anthony! — xinga, sussurrando, mas nem por isso seu tom se torna menos ameaçador, — Se a sua cara me diz alguma coisa, é que nem fodendo essa foi a última vez!

—Foi! — Não deixo espaço para discussão, porque Deus sabe que precisa ter sido, tudo que eu não posso é complicar ainda mais a relação já de merda que Marcos e eu temos, — Agora, porque você não me atualiza sobre o quanto você estragou minha filha durante esses três dias?

***************

Guardo a última das peças não usadas durante a viagem no closet e, como se estivessem esperando por isso, batidas soam na porta. Olho para a cama. Existem apenas duas pessoas que poderiam me chamar às onze da noite. Uma delas finalmente dormiu há apenas dez minutos e eu preciso pensar em uma maneira bem cruel de me vingar de Graziella por ter desorganizado completamente os horários de sono de Isabella.

Com um suspiro, caminho até a porta, ignorando o arrepio que varreu meu corpo apenas por pensar em Marcos. Encontro-o encostado no batente, com um sorriso safado no rosto, os braços cruzados na frente do peito nu e o corpo vestido por nada além de um short de dormir.

Rio, virando o rosto rapidamente. É mais forte do que eu. Meus olhos apreciam a visão, minha língua lambe os lábios e eu nego com a cabeça, é claro que ele não vai facilitar as nossas vidas, vai?

— O que você quer? — Uma de suas sobrancelhas se ergue e seu rosto ganha um ar divertido.

— Desejar boa noite?

— Boa noite, Marcos! — começo a fechar a porta, mas sua mão me impede.

— Tudo bem, talvez eu queira mais no que isso...

— Não. — Sou categórica.

— Teoricamente, ainda não são meia-noite, então nós ainda podemos considerar essa como a primeira e a única vez... — sugere e eu quero gargalhar da sua inventividade. Eu o faria, na verdade, se não fosse o risco de acordar minha criança.

— Nossa primeira e única vez acabou no instante em que o helicóptero alçou voo daquela ilha, Marcos. E mesmo que não fosse o caso, você chegou tarde demais. Já tem alguém na minha cama. — A expressão no rosto dele se transforma imediatamente, indo de relaxada e divertida para algo muito distante de divertimento.

Reviro os olhos. Sério, Marcos? Escancaro a porta do quarto, lhe dando passagem. Ele coloca a cabeça para dentro.

Assim que seus olhos encontram Isabella na cama, ele suspira, parecendo aliviado, e eu não posso acreditar. O que ele achou? Que eu realmente achei um homem e o coloquei dentro de casa no mesmo dia em que chegamos de viagem? Puta que pariu!

— Eu me recuso a perguntar se você achou que eu estivesse falando sério...

— Foi uma brincadeira estúpida! — resmunga e eu rio sem humor.

— Boa noite, Marcos! — Me despeço, praticamente expulsando-o. Ele ergue o corpo, seus olhos me analisam da cabeça aos pés uma última vez. — Você não vai tornar isso difícil, vai? Foi só sexo, Marcos...

É a vez dele de rir sem humor.

— Não, eu não vou... Boa noite, Anthony

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Comentários

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Cada dia mais apaixonado pelos seus contos. Some não, cara.

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Caraca. Parece que ainda tem muitos segredos que até nós não conhecemos. Algum plano? Porra, mas depois de 3 dias trepando alucinadamente e vamos combinar que foi mágico, porque parar? Acaba logo com essa merda de contrato e assumam que vocês se gostam. Tudo bem que o cara era um safado mas vamos combinar que ele parece mudado. Aproveita a oportunidade de poder unir o útil ao agradável e faz esse casamento ser de verdade, a probabilidade de ser bom é muito grande.

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