Chega de CEO - Capítulo Dez

Da série Chega de CEO
Um conto erótico de KaMander
Categoria: Gay
Contém 5615 palavras
Data: 11/05/2023 01:17:50
Última revisão: 11/05/2023 02:02:54
Assuntos: Conversa, Gay, Homossexual

CAPÍTULO DEZ

“NINGUÉM AGUENTA MAIS RIVALIDADE GAY

Era madrugada da segunda-feira quando finalmente cheguei à suíte do hotel, reservada especialmente para mim pelas próximas duas semanas. A viagem foi tão longa que eu estava morto, louco por uma noite de sono de verdade, pois os cochilos que tirei durante o voo não adiantaram de nada. Ainda estava meio áreo tanto pelo fim do nervosismo de viajar de avião quanto pelo momento prolongado com o Thomas.

Nas últimas horas cochilamos grudados um no outro, assistimos a dois filmes, ouvimos música, compartilhando o mesmo fone de ouvido, e conversamos sobre trivialidades. Nada muito sério porque, no fundo, eu queria uma oportunidade melhor para falar de coisas importantes. Uma em que eu não estivesse dopado.

No fim das contas continuei sem saber direito em que pé estávamos. Não era um namoro, mas me parecia mais do que uma mera ficada. Por dentro ainda sentia medo de mergulhar de cabeça nessa relação, mas em contrapartida prometi a mim mesmo que obedeceria às minhas vontades.

Só me restava pensar mais no que queria, de fato.

Um funcionário depositou as bagagens num armário apropriado e se retirou depois que nos cumprimentamos. Fechei a porta e só então dei uma bela olhada na suíte: enorme, organizada e com certos luxos. Havia uma saleta de dois ambientes, contemplando sala de jantar e estar, além de uma pequena cozinha americana na lateral. O quarto era enorme, com vários armários embutidos, e o banheiro, digno de novela. Até banheira tinha.

Suspirei, sabendo perfeitamente que um funcionário de meu porte não valia todo aquele gasto, por mais que Thomas tivesse dito que sim. Contudo, resolvi passar pano na situação e dar o meu melhor para contribuir o máximo que pudesse. Não adiantava ficar brigando. Aquele homem tinha muito dinheiro e estava disposto a gastá-lo comigo, só que daquela vez eu não me sentia obrigado a retribuir nada, não no sentido emocional da coisa. Embora deva confessar que, sim, eu me incomodava.

Tomei um banho rápido e me deitei na cama a fim de dormir logo, pois as reuniões já teriam início mais tarde. Porém, antes de apagar, peguei o meu celular e mandei mensagem para mamãe, avisando que estava tudo bem e que eu havia chegado, depois mandei notícias para a Elisa. Da última vez em que conversamos ela ainda estava aconchegada na casa da mãe.

Foi então que desbloqueei o número pessoal do Thomas. Não deu nem dois minutos e ele logo mandou uma mensagem:

Thomas Orsini:

Finalmente!

Bruno:

Se fizer besteira vai rodar de novo

Thomas Orsini:

Vou ser um homem exemplar, prometo.

Bruno:

Hmm... Adoro homens exemplares.

Thomas Orsini:

Homens, no plural?

Quantos caras têm nesse seu aplicativo, seu Bruno?

Comecei a rir sozinho, achando graça daquele seu ciúme, mas, por outro lado, sabendo que podia ser um perigo à minha liberdade. A verdade era que eu ainda não sabia como ele se comportaria diante das situações que todo casal passava. Não sabia como era a sua dinâmica, nem o que exigiria de mim, nem o quanto cederia. Droga. Eu estava voltando à estaca zero com tantas suposições.

Precisava aprender a relaxar e deixar acontecer com naturalidade.

Bruno: Ciúmes, Thomas Orsini?

Thomas Orsini:

Não nego.

Quero você só pra mim.

Um arrepio de deleite e pavor cruzou o meu corpo. Estava me sentindo perdido em muitos sentidos. Eu queria ser dele, o problema não era aquele. Thomas tinha o meu consentimento para um envolvimento mais amplo, embora ainda não soubesse disso. A questão era se ele ficaria ciente dos meus limites como pessoa. Além de controlador, o homem era inexperiente nas questões sentimentais e era muito fácil ser dominado pelo ciúme excessivo. E eu não queria ninguém na minha cola desrespeitando o meu espaço.

Era loucura demais ficar pensando em tantas objeções tão cedo?

Eu só tinha certeza de que nós precisaríamos conversar muito, deixar o diálogo sempre honesto, se quiséssemos prosseguir saudavelmente.

Bruno: Depois conversamos sobre isso...

Preciso dormir e você também.

Thomas Orsini:

Descansa bem, lindo.

Até amanhã.

(vou cobrar essa conversa)

Bruno: Boa noite, moço!

Custei um pouco a dormir, sobretudo porque pensava nas milhões de paranoias que rondavam a minha mente sobre todas as coisas que estavam acontecendo ao meu redor. Não havia dúvidas de que precisava levar Thomas Orsini com mais leveza, sem os costumeiros preconceitos. Era difícil buscar equilíbrio, mas não impossível. Só que, por outro lado, eu não podia gastar minhas energias com ele em um momento tão delicado no trabalho. Meu foco deveria estar na filial da InterOrsini, portanto, precisava parar de pensar nele e cuidar do lado profissional com afinco.

Mais tarde, com o sono um pouco recuperado, peguei um táxi e fiz a minha primeira visita à filial, pois a equipe já me esperava. Se no Brasil a InterOrsini ocupava quase um prédio inteiro, em Los Angeles foram alugados apenas dois andares de um prédio comercial enorme, localizado no centro da cidade. Aliás, o centro era cheio de arranha-céus imensos e pomposos. A cidade era organizada, limpa e ensolarada, como boa parte da Califórnia.

Era uma pena eu não poder conferir os pontos turísticos, já que estava ali exclusivamente a trabalho, mas planejava ao menos tirar uma foto legal perto dos letreiros de Hollywood. Um clichê indispensável.

Algumas salas ainda estavam em reforma e os funcionários, em processo de reconhecimento, estudo e planejamento das atividades. Uma funcionária chamada Anne me mostrou cada espaço, fazendo-me uma apresentação completa de onde se situariam cada departamento. Alguns processos aconteceriam exclusivamente no Brasil, mas Los Angeles devia estar preparada para um procedimento eficaz, sem demoras devido à distância entre filial e matriz.

— Esta aqui é a sua sala — apontou para uma porta e eu me surpreendi. Não imaginava que teria um espaço meu naquele prédio. Até achei que havia entendido errado o que falou, mas não. Ela compreendeu minha expressão surpresa e explicou: — Como o senhor virá com frequência, terá seu espaço aqui e também é onde guardaremos documentos e arquivos relativos à criação.

— Entendi...

A sala não tinha nada demais. Estava quase vazia, contando apenas com uma mesa, uma poltrona e um armário, todos da cor preta, e era pequena, mas mesmo assim ainda estava chocado, sobretudo porque, apesar de desconfiar, tive uma comprovação de que minha presença na cidade seria mais comum do que pensava.

No fim das contas talvez desse tempo de conhecer os pontos turísticos.

Durante a reunião, minutos depois de minha chegada, o primeiro contato com a turma foi meio esquisito. Todos foram bem agradáveis e abertos comigo, assim como a Anne, mas eu ainda não me sentia seguro falando termos técnicos em inglês e me mantive meio perdido em alguns momentos. Contudo, como foi um encontro apenas para deixá-los a par do funcionamento da empresa no contexto do Brasil, percebi que teria um pouco mais de tempo para me aprofundar e entender a dinâmica do trabalho naquela cidade.

Para isso, precisaria compreender de perto como aquela gente pensava, de que forma agia o mercado publicitário e as questões de criatividade, que eu sabia que ali eram bem avançadas. Ser coordenador de criação em outro contexto seria um desafio e tanto. Precisava descobrir uma maneira de começar a pensar além de todo mundo.

Não vou mentir, estava muito nervoso, com um medo de errar quase paralisante.

Ao longo da semana tivemos muitas reuniões e trabalhei arduamente dentro da sala separada para mim. Conversei particularmente com cada funcionário já contratado e ajudei no processo de seleção de pessoal na minha área, para que assim uma equipe preparada fosse montada. Só vi o Thomas Orsini durante algumas reuniões.

Ele esteve extremamente ocupado com todos os processos, resolveu inúmeras demandas e se reuniu com gente de toda espécie em sua própria sala, a mais ampla e organizada de todas. Nós nos falamos de vez em quando através do Whatsapp, mas graças aos céus ele respeitou o meu momento e eu respeitei o dele. Havia muita coisa em jogo para os dois e nenhum de nós gostaria de cometer qualquer equívoco.

Foi na sexta-feira que Matheus Simas apareceu na empresa, já solicitando uma reunião geral com a sua presença. Eu nem sabia que ele também viajaria, mas não estranhei sua participação porque boa parte da tarefa da diretoria estava em suas mãos. Trabalhei normalmente, ou seja, com muito afinco e até tarde, como ocorreu em todos os dias da semana.

A equipe já tinha ido embora e era perto das oito da noite quando ouvi um ruído de vozes vindo da sala de reuniões. Eu não sabia quem ainda estava trabalhando àquela hora, mas resolvi conferir do que se tratava porque a minha curiosidade sempre falava mais alto em qualquer situação.

Quando vi que o barulho vinha da sala de reuniões fiquei ainda mais intrigado. A porta estava aberta, o que constatei por causa das lâmpadas acesas fazendo sombra no corredor, e não resisti ao dar apenas uma conferida em quem ainda estava ali. Claro que não contive o ímpeto de ver o Thomas de novo, pois muito provavelmente ele estaria ali também.

No entanto, o que acabei vendo foi mais do que espantoso. Tive vontade de furar os meus glóbulos oculares com uma lapiseira diante da cena que se mostrou à minha frente: Thomas de pé, apoiado na mesa de reuniões, e Matheus Simas empoleirado em seu pescoço. Em um instante ele simplesmente avançou para lhe dar um beijo e eu vi, com os olhos que a terra há de comer, quando os rostos se juntaram.

Assustado, e sem conseguir suportar mais um segundo daquele cenário, apoiei minhas costas na parede ao lado da porta.

— Matheus... Pare com isso! — a voz de Thomas soou muito irritada. Uma parte do meu corpo sentiu certo alívio, mas a outra ainda estava presa em um looping, repassando incontáveis vezes aquele beijo maldito. — Já chega. Eu não sei o que veio fazer aqui e nem o que quer com essa atitude. Deixei claro que deveria acompanhar os processos do Brasil.

Prendi os lábios com força. Meus punhos cerraram diante da raiva que tomava conta do meu corpo conforme toda qualidade de ideias passava pela minha mente.

— Você sabe perfeitamente o que quero — Matheus disse em um timbre carregado de malícia. — Sabe do que gosto...

— E então teve a grande ideia de vir aqui reviver situações que não acontecerão novamente.

Ouvi o chefe-geral soprando o ar dos pulmões.

— Deixe de bobeira, Thomas. Sei muito bem que com você é só sexo. Vai dizer que não sente vontade de estrear essa mesa? — escutei um ruído como se alguém tivesse batido no tampo de madeira da mesa de reuniões.

O meu coração paralisou, pareceu ter sofrido um processo de congelamento súbito. Então Thomas e Matheus...

— Olha, é melhor ir embora. Não quero ser indelicado ou grosseiro, mas você nem deveria estar aqui. Volte imediatamente para o Brasil e esqueça o que houve entre nós.

Meu Deus do céu. A voz de Thomas estava dura, fria como o gelo que invadiu o meu coração. De repente, meus olhos marejaram. Pensei em ir embora, mas só faria isso se tivesse ficado louco de vez. Eu que não iria perder a chance de saber tudo o que pudesse a respeito daqueles dois.

— É por causa dele, não é? Do gordinho novo coordenador? — Matheus falou em um tom desdenhoso e tive vontade de vomitar. Alguns segundos de silêncio foram feitos e fiquei esperando que Thomas falasse alguma coisa, mas a quietude prosseguiu. — Pensa que não sei o que está acontecendo? Os boatos já se espalharam na empresa inteira — ele riu, cheio de ironia. — Só queria saber o que você viu naquele cara para me trocar por ele.

Meus punhos se apertaram ainda mais. Abafei um arquejo como pude.

Estava tão enojado, decepcionado e... Sei lá mais o quê, que tive que ter sangue de barata para continuar na surdina.

— Não seja ridículo — Thomas, enfim, falou. — Não houve troca alguma porque você e eu nunca tivemos nada.

— Não? Eu me lembro bem dos seus momentos de carência e de como me tornou diretor da InterOrsini. — Aquelas palavras me deram a sensação de perder o chão e cair em queda livre. Foi como se todo o meu íntimo fosse derrubado. — Então o que vai ser? Pretende dar o meu cargo para ele?

— Afaste-se, Matheus! — Ouvi alguma movimentação dentro da sala. — A minha vida não te interessa. Não sei o que te deu na cabeça pra vir cobrar coisas que não te apetecem.

Matheus soltou um arquejo audível, rindo suavemente.

— Então é verdade. Você está mesmo com aquele gordo.

— Qual é o seu problema? — Thomas resmungou. — Com quem estou ou deixo de estar não é da sua conta.

Ele continuou rindo.

— Minha nossa, você está apaixonado? — Alguns segundos de silêncio se fez. Os meus olhos se abriram ao máximo, esperando por qualquer resposta, que não existiu. — Não acredito nisso. Você não se apaixona, já perdeu essa capacidade. E duvido muito que se encantou por aquele idiota.

— Chega — ouvi passos se aproximando da porta e olhei ao redor, tentando decidir para qual direção ir, mas fiquei paralisado, incapaz de me mover.

— Não, não vá, querido. Eu vou — Matheus continuou com aquele mesmo timbre pavoroso que me causava asco. — Mas não me procure quando estiver carente de novo, igual a semana passada.

Levei uma mão à boca, atingindo o auge da indignação.

Matheus veio caminhando lentamente, com o rosto erguido, quando, enfim, atravessou a porta e me viu ali. Seus olhos se arregalaram em surpresa e os meus se mantiveram nela com a maior firmeza que pude reunir.

— V-Você...?

— Está tudo bem — murmurei, controlando a vontade que tive de circular as mãos ao redor de seu pescoço. Aquilo não me ajudaria em nada, afinal. Eu que não gastaria o meu réu primário com aquela criatura. — Não vou te odiar por causa de homem — prossegui, enquanto Matheus recuava uns passos.

— Quem está... — Thomas, então, apareceu na porta e ficou chocado ao me ver também. — Bruno... — ele parecia desnorteado.

— Se tem uma coisa que detesto é rivalidade gay, sabe? — balbuciei para os dois, aquiescendo devagar, completamente anestesiado. — Isso aqui não é um desfile e não quero concorrer com ninguém.

— Bruno, eu... — Thomas tentou falar alguma coisa, mas gesticulei para que parasse.

— Matheus, você é tão lindo — prossegui, olhando-o nos olhos. Ele ficou desconcertado de um jeito grotesco. — Merece mais do que ficar recolhendo migalhas. — Seus cílios começaram a piscar sem parar. O homem estava morto com farofa. — Eu espero que pare de diminuir os outros só pra se sentir melhor. Assim como jamais irei te diminuir pra me sentir melhor porque não preciso disso. Posso ser apenas o gordo coordenador aos seus olhos, mas sei quem sou e o que mereço.

— Desculpe, eu não quis... — ele começou, porém o interrompi:

— Eu sei bem o que quis. E espero que se torne alguém melhor. Passar bem — dei alguns passos para trás e me virei, pronto para dar o fora dali.

— Bruno... — Thomas ainda me chamou, mas o ignorei completamente.

Fui até a minha sala com a cabeça erguida, a fim de recolher minhas coisas e voltar para o hotel. Tentei não chorar, não me desesperar ou agir feito um imbecil, por isso me controlava ao máximo quando ele adentrou o recinto e fechou a porta atrás de si.

— Estou cansado, Thomas, esse cara sugou minha energia e não...

— Por favor — ele disse desesperadamente, como se estivesse em pleno sofrimento. O rosto estava transfigurado pela agonia. — Não se afaste, por favor.

Soltei um suspiro prolongado.

— E o que devo fazer, Thomas? Você dorme com seus funcionários e oferece para eles cargos dentro de sua própria empresa.

— Não é verdade — balançou a cabeça copiosamente. — O que tive com Matheus foi muito pontual e não foi nada sério. Além de que sempre separei as coisas. Na época ele era o mais apto a ocupar um cargo diretivo e não quis ser injusto. Não podia tirar a chance dele só porque nos encontrávamos casualmente.

— E onde eu entro nessa história? Você não está fazendo a mesma coisa comigo?

— Não — continuou negando, chacoalhando a cabeça. — Não é a mesma coisa, nem se compara.

Foi a minha vez de negar.

— Não sei se quero fazer parte disso — murmurei.

— Bruno, por favor, você prometeu que conversaria comigo.

— Eu só não fui embora ainda por causa disso, Thomas!

Nós ficamos nos encarando fixamente. Havia tanta amargura em seu semblante que a minha guarda foi sendo abaixada pouco a pouco. Eu deveria ter mais calma para lidar com aquilo, mas no momento não estava conseguindo sequer raciocinar.

— Contigo é de verdade — ele murmurou, enfim, e se aproximou até se colocar à minha frente. — Contigo é sério e pra valer. Eu juro. Não quero nenhum outro, só você. Eu não cheguei até aqui pra que ainda duvide disso.

A minha respiração me foi retirada rapidamente. Perdi os últimos resquícios de raciocínio e fiquei de pé feito uma ameba, amolecido e ao mesmo tempo tomado pela chateação profunda. Meu sistema inteiro estava desequilibrado.

— Eu estou muito decepcionado, Thomas — fui sincero, fazendo um esforço para encará-lo. Seus olhos claros estavam firmes em mim e o semblante era de quem implorava. — Preciso tomar um banho e comer alguma coisa antes de pensar nessa merda toda.

— Eu te levo ao hotel e a gente pede comida no quarto.

— Não sei se vou conseguir pensar com você por perto — defini, desviando o rosto, sentindo muita vontade mesmo de cair no choro, mas me fazendo de forte e compenetrado.

— Prometo te dar o espaço necessário, só não me deixe sem você de novo — ele se aproximou de vez e segurou os meus ombros com ternura, depois envolveu as mãos grandes nas laterais do meu rosto. — Depois dessa semana cansativa tudo o que mais quero é ficar contigo. Não sei você, mas sinto saudades.

— Eu também senti — murmurei, propondo-me a ser honesto, apesar de tudo.

Thomas me envolveu em um abraço aconchegante, intenso, tão apertado que deixei as lágrimas caírem.

— Me perdoe por te fazer passar por isso — sussurrou perto do meu ouvido.

— Estou acostumado com essas maldades — choraminguei. Senti suas mãos alisando meus cabelos e me deixei levar completamente por aquele gesto. Ele estava sendo genuinamente carinhoso e gentil. — Não vou me abalar por causa disso, mas... Thomas, precisamos conversar.

Ele me deu um beijo na testa.

— Eu sei — e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos. — Vamos.

Abraçados lateralmente, deixamos a filial da InterOrsini rumo ao hotel. Eu estava chateado, desconfiado e muito triste pela maneira com a qual aquele doido me humilhou, além de todo o contexto evidenciado, e que me fugia do conhecimento até então, mas não dava para ficar adiando uma conversa séria e profunda com ele.

Já estava envolvido demais e ficar me negando um contato transparente, direto e sincero só pioraria a situação.

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“NINGUÉM AGUENTA MAIS ROMANCE ÁGUA COM AÇÚCAR”

Eu ainda estava meio desnorteado quando Thomas abriu a porta da minha suíte e me guiou para dentro com o maior cuidado, como se eu fosse um vaso de vidro prestes a quebrar em milhões de pedacinhos. De qualquer forma era assim que me sentia por dentro. Joguei o meu material sobre o sofá, junto com a bolsa, e sacudi os pés para me ver livre dos sapatos pretos.

Só então me virei para ele e capturei o seu sorriso, que naquele momento me soou um pouco destoante. Sem nada dizer, ele me puxou para si e grudou nossos lábios em um beijo suave, preguiçoso. Eu me deixei levar porque estava precisando daquilo. Havia passado a semana inteira pensando naquela boca saborosa.

Thomas segurou a minha cabeça e se afastou um pouco, olhando-me de perto e ainda sorrindo.

— O que foi? — decidi perguntar, já que não sabia qual era a graça. Bem que eu estava tentando não deixar as palavras de Matheus me atingir, mas o veneno soltado ardia e me sentia machucado.

Ninguém é de ferro e eu, tampouco.

— Você me enche de orgulho — murmurou, puxando meu lábio inferior com os dentes. — O que falou para Matheus, a forma como conduziu a situação... Eu só te admiro cada vez mais.

Bufei, mas acabei sorrindo também.

— Não me superestime, faltou pouco para eu meter a mão na cara dele.

Thomas riu suavemente, mas logo voltou a ficar sério.

— Vem — puxou-me pela mão e me levou até o banheiro. Abriu a torneira de água quente e deixou a banheira enchendo antes de se virar para mim.

Lentamente, voltou a me beijar. Fui enlaçado pelo momento sem qualquer defesa, entregando-me às suas carícias como se fosse a coisa mais certa e natural do mundo.

Ele ergueu a minha camisa por cima da cabeça. Inspirei, carregado de tesão ao receber suas mãos.

— Adoro a sua pele... — começou, entre selinhos molhados. — O seu cheiro e os seus cabelos... — puxou-os para trás, erguendo minha cabeça para olhá-lo de perto.

Havia um desejo cru em seus olhos.

Thomas abriu o zíper da minha calça preta social e ajudou a removê-la até o fim. Depois, fez o mesmo com a cueca, deixando-me despido por completo na sua frente. Não fiz qualquer objeção, mas me senti exposto e não tão confortável quanto deveria.

As palavras, sejam boas ou ruins, possuem um poder imenso sobre as pessoas. É por isso que é fundamental tomar cuidado com o que falamos, pois a facilidade com que se pode magoar alguém é enorme. Claro que devemos sempre filtrar tudo o que nos é falado, porque no fim das contas o que os outros falam têm mais a ver consigo mesmos do que conosco, mas ainda assim é muito difícil lidar com a opinião alheia. Foram anos da minha estrada aprendendo a lidar com tanto preconceito, com tantas picuinhas, com tanta gente interessada em opinar, sobretudo a respeito do meu corpo.

Eu era muito mais feliz ligando o foda-se.

O olhar de Thomas navegou pelo meu corpo, lentamente.

— Lindo — murmurou, e o peso daquela única palavra, a forma como foi dita e os olhos praticamente me devorando fizeram com que lágrimas se formassem nos meus. Eu me emocionei de verdade diante de sua adoração. — Perfeito e gostoso — Thomas apalpou minha bunda e me grudou toda nele. Infelizmente, ainda estava todo vestido. — Eu sou um homem de sorte.

Deixei escapar um soluço e, sem conseguir me conter, as lágrimas escorreram de vez. Ele as tomou com beijos demorados sobre minhas pálpebras. Foi naquele instante que me despi inteiro, de corpo e alma, e compreendi que nada mais importava. O que ocorreu mais cedo se tornou irrelevante de um segundo para o outro.

Havia certeza na maneira como ele me tocava e beijava, como falava e me olhava. Não me sobravam dúvidas. Seja o que fosse, nós resolveríamos. Porque, naquele momento, eu simplesmente o escolhi. E aquilo implicava muita coisa.

Thomas me fez entrar na banheira já cheia e tomou a iniciativa de despejar os óleos e sais que o hotel disponibilizava. Um cheiro doce e relaxante subiu, fazendo-me suspirar em relaxamento. Aquela água quente em contato com o meu corpo estava sendo muito bem-vinda.

— Descanse um pouco — ele disse, beijando a minha testa. — Vou pedir o jantar — e saiu devagar, como se nada demais estivesse acontecendo, como se aquela conexão louca não estivesse gritando nos meus ouvidos e, provavelmente, no dele também.

Fazia um tempo que eu não acreditava em alma gêmea, em encaixe perfeito, em uma força poderosa que se sobrepunha a tudo e todos para deixar claro o quanto alguém pertencia ao outro. Achava tudo aquilo uma grande balela. Mas ao encarar o piso do banheiro e ao ouvir a voz dele sussurrando ao telefone, entendi que nada era impossível. Talvez os romances melosos que ninguém aguenta mais existissem de verdade. Ou então eu estava ficando totalmente fora da casinha.

Ainda assim, o meu coração se mantinha ciente de tudo, bem como o meu corpo, o espírito e a consciência. Eu estava completamente entregue, tranquilo, inexplicavelmente livre do medo, tanto que me dei, por alguns minutos, o direito de não pensar em nada. Não havia o que ser pensado. Eu já possuía o que importava ao meu dispor e chegara a hora de ficar em paz.

Alguns minutos depois Thomas surgiu no banheiro usando apenas uma cueca boxer branca e segurando duas taças de vinho. Eu me senti no paraíso com aquela imagem que ia além da sensualidade. Sorrindo, ofereceu-me uma taça, fez um brinde silencioso e se sentou à minha frente, na beirada da banheira.

Fiquei imaginando as milhares de formas diferentes que existiam de tê-lo de vez dentro de mim, mas me mantive quieto, esperando pelo que viria, porque ele parecia empenhado em me mostrar algo relevante.

Tomei um gole do líquido tinto e sorri, então ele fez o mesmo.

— E você disse que não era romântico — comentei, rindo, tentando amenizar o clima intenso que se formou. A impressão que eu tive foi a de que, se não fôssemos com calma, morreríamos sufocados com tanta profundidade nos pairando.

— Acho que existe um homem romântico aqui dentro. Ele só estava esperando pelo estímulo certo — piscou um olho e tomou mais um gole, enquanto eu o observava com um sorriso de orelha a orelha, mais abobalhado impossível.

Ele depositou a taça sobre a bancada de mármore e voltou a me olhar, daquela vez com seriedade e certa tensão.

— Bruno, eu não quero que nada fique entre a gente, muito menos o Matheus. Precisamos conversar sobre o que houve.

Assenti, com medo de ter a minha paz arrancada, mas disposto a deixar o diálogo aberto. Estava tranquilo para iniciar um papo maduro.

— Vocês transaram semana passada? — perguntei logo, porque de todas as dúvidas aquela era a maior e uma das que mais me deixaram chocada.

Thomas deu de ombros.

— Eu não tinha nada além do seu adeus e a certeza de que não podia te procurar.

Assenti, complacente. Eu o entendia quanto a procurar outra pessoa para transar, embora não concordasse com a escolha do cara.

— Tudo bem. Eu não podia ir embora e levar o seu pau comigo, certo? — ri, então olhei para o ponto abaixo do seu abdômen. — Se bem que não me parece uma má ideia. Por que não a tive antes? — bati os dedos sobre o queixo, fingindo estar pensando na possibilidade.

Ele sorriu, mas percebi que não sentia tanta graça assim. Thomas estava meio desconcertado e diria até nervoso. Sua inexperiência no quesito diálogo aberto estava pesando.

— Fazia muito tempo que eu sequer encostava nele. Foi um erro me deixar levar.

— Quanto tempo? — eu precisava saber exatamente onde estava me metendo.

— Uns três anos. Bruno, eu nunca prometi nada a ele, nunca fiz ou falei nada que o fizesse pensar que teríamos algo a mais.

— Sei. Ele era tipo o seu cu amigo?

Thomas fez uma careta.

— Tipo isso. A mãe dele é amiga da minha e nos encontrávamos em algumas festas de vez em quando. Era uma coisa apenas corporal e ele também nunca teve interesse em nada além disso. Eu o contratei a pedido da mãe dele, mas me surpreendi com seu bom desempenho. Enfim, desde que Matheus se tornou diretor que não tínhamos nada. Deixei claro que nossa relação seria apenas profissional.

— Até a semana passada — completei com seriedade.

— Foi uns dias antes de te encontrar com aquele cara no restaurante — ele me olhou de maneira curiosa, como se me pedisse explicações. Eu não era obrigado a nada, mas ainda assim achei por bem informar:

— A gente não transou. Digo, Márcio e eu. Não rolou nada, foi só um jantar.

— Mas poderia. Você estava lá com ele.

— Ele não é meu funcionário — alfinetei, mas logo me arrependi ao perceber que Thomas arquejou, abalado. Não valia a pena ficar apertando naquela tecla. Era bobagem apontar o dedo na cara dele quando há uma semana estávamos distantes e parecia definitivo. Eu mesmo pensava todos os dias em seguir em frente, só não tive coragem de ir de verdade. — Mas isso não importa agora, podia ser qualquer pessoa tanto para mim quanto para você. Seria idiotice minha ter raiva de você por ter seguido em frente quando eu mesmo tinha deixado claro que não teria volta. De qualquer maneira nós dois temos um passado que nem sempre vai deixar o outro satisfeito.

Thomas concordou comigo.

— Com certeza não fiquei satisfeito por ter te visto com ele. E eu não segui em frente, Bruno, só fiz uma besteira das grandes em um momento de carência.

— Você já transou com alguém da InterOrsini além de mim e dele?

Ele abriu bem os olhos.

— Não. Não, eu juro que não. O lance com Matheus começou antes de ele trabalhar para mim e não passou de alguns encontros aleatórios. Bruno, eu não transo com meus funcionários e saio distribuindo cargos, eu...

Segurei a sua perna e o encarei fixamente, interrompendo seu discurso quase desesperado.

— Não posso dizer que estou contente com o que houve mais cedo, Thomas, porém não quero agir feito louco, ficar desconfiado e criando paranoias. Se não for pra confiar 100% eu prefiro nem começar nada.

Ele assentiu novamente.

— Então é isso? — murmurou com tristeza. Fiz uma careta diante de seu timbre fraco e da expressão melancólica. — Não confia em mim e prefere terminar mais uma vez o que nem começou? — balançou a cabeça em negativa. — Se for isso o que realmente quer, vai ser pra valer de verdade. Eu estou começando a me magoar de um jeito que...

Aproximei-me dele, segurando a sua perna com as duas mãos.

— Às vezes a confiança é uma escolha — comecei, com a voz firme, e ganhei toda a sua atenção. — E escolho confiar em você.

Deveria ter tirado uma foto de seu rosto no momento em que se iluminou diante do que falei. Thomas soltou o ar de uma só vez, como se tivesse retirado um peso enorme dos ombros. Eu ri de leve e ele riu junto, visivelmente contente.

— Minha nossa, jurava que você ia embora de novo.

— Eu não, daqui não saio — voltei a me escorar na banheira, chacoalhando as águas e empinando o nariz de forma divertida. Ele soltou um riso engraçado. — Vou confiar em você e, se pretende quebrar isso, o problema será somente seu. Não sou desses que bisbilhota telefone, que repara em olhares e fica cavando situações pra reclamar. Tenho mais o que fazer.

Thomas piscou bastante os olhos, parecendo ver uma miragem diante de si.

— Eu escolho confiar em você também — suas mãos se prenderam às minhas com força.

— É assim? Somos exclusivos um do outro agora? — perguntei por via das dúvidas. Afinal, não havíamos definido que tipo de relação seria aquela. A questão da exclusividade tinha sido completamente indutiva. Não existia nomenclatura e eu nem sabia se seria legal nomear tão cedo.

— Com certeza eu quero isso e você?

— Se esse pauzão se enfiar em outro cu juro que arranco ele fora — resmunguei, mas sorrindo. — Isso responde a sua pergunta?

Ele soltou uma gargalhada tão espontânea que parei para acompanhar. Aquele ruído soou como música aos meus ouvidos e me questionei como pude me envolver tão depressa com aquela criatura inacreditável. Em menos de um mês desde que nos beijamos já estávamos ali, juntos numa suíte de hotel, em outro país, fazendo os primeiros acordos fundamentais para um relacionamento.

O mundo não gira, meus amigos, ele capota.

Nunca me imaginei caindo na rede de um CEO, o clássico da literatura erótica hétero, mas o céu é para todos e eu era filho de Deus, certo? Se aconteceu, então que fosse bom e trouxesse só coisas positivas.

Claro que eu não era idiota a ponto de me iludir achando que tudo seria um mar de rosas. Mas me sentia cada segundo mais pronto para encarar as adversidades e aproveitar ao máximo as melhores partes.

Thomas também parecia muito empolgado, pois, ainda rindo, jogou-se dentro da banheira com tudo e começamos uma guerra louca, molhando vinho, piso, toalhas penduradas e tudo o que estava ao redor. Não nos importamos com absolutamente nada. Levei a brincadeira a sério e ri tanto que comecei a chorar, depois a barriga ardeu e ainda assim continuei rindo e jogando água na cara dele.

Já estávamos sem forças quando a campainha tocou e nos calamos rapidamente, com os olhos esbugalhados e assustados.

— Caralho, o jantar — ele foi se levantando, mas eu o segurei e recebi seu olhar interrogativo.

— Estou muito feliz aqui com você — murmurei, pois queria deixar claro o que estava sentindo diante de tudo.

Podia parecer idiotice, mas para mim era importante que ele soubesse. Porque quando tive meu primeiro relacionamento me sentia muito inseguro, achando que era incapaz de fazer qualquer pessoa feliz, já que eu mesmo não era, e tinha tantas paranoias na cabeça que só queria que alguém tivesse dito que, de alguma forma, eu contribuía. Nem preciso dizer que não tive isso, certo?

Tornei-me, de repente, empenhado a não reproduzir com o Thomas as merdas que me aconteceram. Ninguém merecia passar pelo que passei, muito menos ele. O seu coração era virgem e eu queria invadi-lo devagar, calmamente. Queria que fosse leve, suave e seguro. Eu o havia escolhido para fazer as coisas certas.

Talvez por isso tivesse demorado tanto a bater o martelo. Porque fazer o certo é difícil na maior parte do tempo. Porque é preciso coragem, segurança e maturidade.

— Eu estou explodindo de felicidade, Bu — Thomas respondeu, deu-me um selinho molhado e bem demorado, depois se enrolou num roupão para receber o jantar.

Não consegui parar de sorrir nem mesmo quando aquele homem saiu do banheiro. A minha barriga doía pelas risadas e, também, pelas malditas borboletas que o povo insistia em retratar nos livros. Sinceramente, sempre achei que fosse azia.

Mas não era.

Era paixão mesmo.

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Comentários

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Um relacionamento mt bem construído e bem resolvido. Que capítulo incrível!! Continuaa

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Eu, bobo/romântico estou tão feliz com esse casal que por mim parava por aqui. Se for pra continuar que seja nesse clima de muito amor superando todos os obstáculos.

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AMEI!! Sinceramente amo esse casal. E você escreve muito bem, descrevendo com leveza e riqueza de detalhes os personagem e os sentimento, deixando-os vivos e mais profundos.

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