A NEVASCA DO SÉCULO - 5 - PRESENTE DE NATAL

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2677 palavras
Data: 24/02/2023 01:06:10

"O holy night, the stars are brightly shining It is the night of our dear Savior's birth"

A voz angelical da Carrie Underwood entoa a música 'O Holy Night'. Eu acordo e o Jake continua dormindo. Nem acredito que dormimos abraçados. Nunca me senti tão aquecido na vida.

Levanto e ergo os braços para cima. A minha costela faz um barulho engraçado e bocejo.Saio do quarto e vou seguindo a canção. Encontro a Sra. Harris fazendo algumas receitas no fogão. Ela é rápida e transita com tranquilidade pela cozinha.

O cheiro é tão gostoso, que o meu estômago ronca. Algo que tira um sorriso da mãe de Jake. Ainda cantarolando, ela coloca um prato de waffles e pede para eu sentar.

— Bom dia. — digo de maneira tímida, pois acabei de dormir agarrado ao filho dela.

— Bom dia, querido. — ela responde me olhando com um sorriso no rosto. — Espero não ter acordado vocês. Eu amo músicas natalinas.

— Tudo bem. — eu respondi, sentando na bancada. — Acabei dormindo mais do que o normal.

— Vocês estavam tão fofinhos abraçados. — a Sra. Harris comenta e me deixa desesperado.

— Eu, eu...

— Tudo bem, Mark. Vocês não estão fazendo nada de errado. — ela me cortou e, dessa vez, fico mais tranquilo.

Animada, a mãe do Jake me contou que estava deixando uma ceia de Natal, afinal, ela ficaria no hospital durante e depois da tempestade. O cheiro da torta de maçã fez o meu estômago reclamar de fome (de novo).

Levanto e vou até a geladeira para servir um pouco de leite para comer com cereal. A Sra. Harris cantava as músicas natalinas que saía do seu celular. Eu até me ofereci para ajudá-la, porém ela recusou.

Não demora muito e o Jake aparece todo lindão com o seu cabelo bagunçado. Ele abraça a mãe, que lhe beija a face. Os dois têm uma conexão especial, principalmente, depois da morte do Sr. Harris, que faleceu há dois anos.

— A senhora está fazendo o Peru extremo? — questiona Jake, que se debruça sobre a ave natalina.

— Sim. O seu pai estaria muito orgulhoso de mim. — afirma a Sra. Harris, que pega o Peru e coloca no forno. — Meninos, fiquem de olho no fogão, por favor. Vou tomar banho e tirar uma soneca de 30 minutos.

— Obrigado, mãe. — Luke a agradeceu, enquanto a abraçava.

— Obrigado, Sra. Harris. — eu agradeci um pouco tímido.

— Sem problemas, meus garotinhos. — ela afagou meus cabelos e subiu para o quarto.

— O Rayb ainda está dormindo? — pergunto, dando uma bela colherada no cereal.

— Esse deve ter ficado jogando até duas da manhã. Eu só sei que tive uma ótima noite de sono. — garante Jake, que serve um pouco de leite para si e misturou com café.

— Eu também. — solto ficando vermelho e devorando o cereal para evitar o contato visual com o Jake.

— Você é péssimo em paquerar, não é? — Jake questiona, se escorando na bancada e tomando um gole de café com leite.

— Como se você fosse o rei do flerte, Jake Harris. — respondo, revirando os meus olhos.

Meu Deus. Estou mesmo flertando com o Jake Harris. O que está acontecendo? Deve ser a tempestade de inverno. É isso. O clima deve estar mexendo com o sistema nervoso do Jake. Ele está sendo condicionado a pensar e falar essas coisas.

De repente, a campainha toca. Eu não estou esperando ninguém e, aparentemente, nem o Jake. Saio da cozinha e vou em direção a porta. Tomo um susto ao ver a Pam com uma bolsa gigante.

— Não vai me chamar para entrar? — ela pergunta, tremendo de frio.

— Claro. — abro caminho e a deixo passar. — O que você está fazendo aqui?

— Fugindo do caos. Do Caos! — ela grita e chama a atenção do Jake, que olha da cozinha.

— Ok. — digo tirando a mochila da mão da minha amiga, antes dela jogar no chão. — Respira, tira esse casaco e me conta.

— A minha tia do Equador decidiu fazer uma surpresa de Natal. Quem faz uma surpresa de Natal, Mark? — ela explica, andando de um lado para o outro quase fazendo um streaptease.

— Caramba.

— Ela veio com o marido e os dois filhos. Acredita que eu fui expulsa de casa. Eu vim andando nesta neve de merda, podendo congelar e morrer. — o drama na voz da Pam é evidente e faço de tudo para não rir.

— Pam, para com isso. A Sra. Sanches pediu para você vir pra cá, né? — questiono, colocando a mochila dela no sofá.

— Sim. — Pam se dá por vencida, pois sabe que não vou cair no seu drama. — Inclusive, ela tentou te ligar e não conseguimos contato. O meu pai me trouxe até a esquina, a sua rua está bloqueada.

— Ok. Rainha do drama equatoriano. Eu te amo. E sim, você pode morar aqui, mas essa casa é quase uma república. Os Harris estão aqui e um colega do Jake também.

— Posso dormir no sofá ou no quarto dos furões. — ela se oferece, mas dou uma risada.

— Larga de ser boba. Você pode dormir no quarto de hóspedes, a Sra. Harris vai passar os próximos dias no hospital por causa da tempestade de inverno. O Rayb, amigo do Jake, está dormindo no meu quarto. — olho para ela e cochicho. — O Jake e eu estamos no quarto dos meus pais.

A minha amiga dá um grito de felicidade e me abraça. Explico toda a situação, na verdade, sussurrei, uma vez que o Jake está na cozinha. Amo a energia da Pam. Ela sem dúvidas é o meu salva-vidas humano.

Vamos para a cozinha e o Jake está preparando chocolate quente com marshmallow. Ele informa que não existe nada melhor para espantar o frio que uma xícara bem quente de chocomallow.

Por causa da presença de Pam, o meu vizinho fica mais tímido, quase introspectivo, mas o deixo à vontade e dentro da conversa. O Rayb aparece depois de um tempo e toma chocomallow conosco.

Rayb é de origem inglesa e nos conta sobre os rituais natalinos de sua terra natal. A Pam também nos dá uma aula sobre a cultura equatoriana, inclusive, a sua mãe nos mandou alguns salgadinhos típicos do Equador, o bolón de verde.

Nem preciso dizer que devoramos toda a comida. Ela também trouxe uma carne assada, mas deixamos para o almoço. Na televisão, as autoridades de Buffalo dão mais orientações para a friaca que está chegando.

Este ano, os meus pais não decoraram a casa para o Natal. No plano inicial, a gente estaria curtindo as festividades natalinas em família. Então, a Pam nos obriga a pegar algumas decorações para criar um ambiente instagramável com a intenção de bombar nas redes sociais.

— Eu sabia que os Davis não estavam no clima natalino, mas não fazia ideia de que o Mark havia se tornado o Grinch. — comenta Pam, que está enrolada com os enfeites de Natal.

— Cala boca, vadia. — solto e faço todos rirem.

— Sabe o que falta? Um visco. Eu trouxe um. — Pam vai até a sua mochila e tira um visco pequeno.

— É a bolsa da Hermione. — brinca Rayb, enquanto cola meias natalinas na lareira.

— Uma mulher precisa está preparada, Ray. — Pam se defende e entrega o visco para Jake. — Aproveita essa altura e prega isso no teto. Mas você sabe as regras, não é?

— Re... regras?

— Sim, ficou debaixo do visco com alguém precisa dar um beijo. — Pam explica de maneira séria e pega no ombro de Jake. — Espera o momento certo. — piscando.

Essa é a primeira vez que não vou passar o Natal com os meus pais, porém, existe algo dentro de mim que está adorando a energia da minha casa. Sério, eu não poderia imaginar outras pessoas para enfrentar essa tempestade, até mesmo o Rayb é um cara legal.

Terminamos todos os enfeites e luzes. Não sei como, mas Pam tira de sua bolsa uma ring light com tripé. A minha amiga posiciona o objeto e liga em uma das tomadas próximas da lareira. Então, damos um tempo para tomarmos banho e colocarmos nossas melhores roupas natalinas.

Jake e Rayb vão até a casa dos Harris para pegar algumas peças de roupa, já que as minhas não são tão grandes. Neste meio tempo, a Pam veio encher o meu saco sobre o visco que pendurou na sala. Para ela, esse é o momento ideal para um beijo apaixonado e quente.

Eu não sei o que fazer. No fundo, estou magoado com o Jake. Ele sumiu. Foi embora sem se despedir. Os meus pais até acharam que eu tinha feito algo de errado, mas, aparentemente, o meu único erro foi existir. Ser quem eu sou.

Uso a desculpa de tomar banho para escapar da Pam. Passo uns bons minutos deixando a água do chuveiro cair sobre o meu corpo. É tão bom. Tão reconfortante. Parece o abraço do Jake. Eu dormi abraçado a ele. O corpo dele colado ao meu. Uma sensação única e maravilhosa.

De repente, alguém bate à porta. Eu me assusto e escorrego no chão. A voz é de Jake. Ele pergunta se está tudo bem, mas o meu corpo ainda se recupera da queda. Será que quebrei alguma coisa? Mãos? Ok. Pernas? Ok. Coluna? Já teve dias melhores. Rastejo até o vaso sanitário e o uso para me ajudar a ficar em pé.

Me envolvo com a toalha e o Jake está vestindo um lindo suéter de Natal. Ele já tomou banho e o cheio do seu perfume envolve o meu olfato. O meu amigo se assusta, aparentemente, a queda me rendeu um galo roxo na testa. Explico que cai e Jake me ajuda.

— Eu vou pegar o kit de primeiros socorros. — ele avisa, antes de sumir do quarto.

Eu não sei se foi o susto, a dor na minha cabeça ou o fato do Jake atrapalhar a minha masturbação, mas eu desabei em choro. Depois de um tempo, ele volta para o quarto e pergunta pela segunda vez se está tudo bem. Eu confirmo com a cabeça, enquanto limpo as lágrimas, porém, não devo ter o convencido.

Com calma, Jake limpa o meu machucado e coloca um band aid do BTS. Sua mão está quente. Sua mão está quente demais. Esse calor percorre o meu corpo. Esse não parece o laço da verdade da Mulher-Maravilha, pois eu abro o meu coração.

— Não foi certo, Jake. Não foi certo o que você fez. Eu passei anos me culpando pelo fim da nossa amizade. — solto, afastando a mão dele. — Você não fez isso por mim, porque o melhor para mim sempre foi você. Fui privado da sua companhia. Não me interessa o número de amigos, pois no fim das contas éramos apenas nós dois.

— Eu sei, Mark. Eu sei. Eu já repassei isso tantas vezes na minha cabeça. Na verdade, fiquei com ciúmes. Logo no primeiro dia de aula, você fez diversas amizades. Ouvi um dos seus amigos me zoando e achei melhor me afastar. Eu sou assim, ok. Eu sou estranho. — se levantando e saindo do quarto.

— Mark? — eu tento o chamar, mas não adianta.

Nota 10, seu perdedor. Que droga. Cinco bilhões de vezes droga! Eu só quero dormir até o próximo inverno, porém, os meus planos são cancelados com a entrada da Pam no meu quarto. Ela traz nas mãos Tempestade e Avalanche, que estão fantasiados de papai e mamãe noel.

Eu nem preciso dizer que os furões estão adorando os meus amigos aqui em casa. Eles são animais que odeiam a solidão e ficam felizes quando existem pessoas ou animais por perto. Por esse motivo, o meu pai adotou dois furões para um fazer companhia ao outro.

Com uma delicadeza ímpar, a Pam me leva para a sala onde estão Jake e Rayb. Eles estão concentrados em um documentário sobre a criação das redes sociais. Sem cerimônia, a minha amiga desliga a televisão e pede para começarmos a ceia.

Percebo um sorriso malicioso em Rayb. Ele vai até a geladeira e pega uma garrafa de espumante. O Jake traz consigo quatro taças. Qual o motivo do brinde? Onde eles conseguiram essa garrafa de espumante? Eu nem vi eles saindo.

De uma maneira engraçada, o amigo do Jake explica que eles roubaram um dos espumantes do bar da Sra. Harris. Tenho certeza que isso vai ter uma consequência no futuro. Tomara que o Jake apanhe da mãe dele. O meu surto é atrapalhado com o espumante explodindo e os meus amigos rindo.

Eu preciso de uma boa noite de Natal. Ainda mais com o que vamos vivenciar nos próximos dias. Respiro fundo e recebo o copo das mãos do Jake. A Pam faz um discurso eterno sobre o poder da amizade e a importância de se ter um teto. Agradecemos por mais um Natal e brindamos.

Em seguida, vamos comer os pratos maravilhosos da Sra. Harris e, claro, a deliciosa carne guisada da mãe de Pam. Entre risadas e garfadas, temos uma noite leve e descontraída. Animada devido ao champanhe, a Pam liga o sistema de som que toca as melhores músicas de Natal.

Empurramos o sofá. A ideia é fazer uma pista de dança e nos divertirmos um pouco. Estou alto e alegre, não vou mentir. O Jake continua sentado na cozinha, bicando a bebida e nos olhando. Por impulso (sempre o maldito impulso), eu vou na direção dele e o puxo para a rodinha.

No início, o Jake parece desconfortável dançando, mas o álcool o ajuda. No fim das contas, sobramos apenas nós dois na pista de dança. A Pam recebeu uma ligação dos seus pais e o Rayb está caído no sofá. Aos poucos, a inconfundível voz da Sia nos surpreende com uma música lenta.

***

"Não chore, boneco de neve, não na minha frente

Quem pegará suas lágrimas se você não conseguir me pegar, querido?

Se você não conseguir me pegar, querido?

Não chore, boneco de neve, não me deixe assim

Uma poça de água não pode me abraçar, querido

Não pode me abraçar, querido"

***

Ok. Eu não estava esperando por essa. Sem graça, o Jake pensa em sair, mas eu o puxo. O álcool me deixa corajoso. Eu o abraço. Nem sei o que quero fazer, só preciso sentir o calor dele perto de mim. Somos um abraço bagunçado. Estamos confusos, entretanto, o desejo fala mais alto.

Aos poucos, entramos em sincronia e passamos a dançar lentamente pela sala. Eu coloco os meus braços em volta do pescoço do Jake e ele segura em meu quadril. É a primeira vez que eu danço com outro garoto. Sempre vi isso em filmes LGBTQIAP+, mas nunca achei que fosse acontecer comigo.

O Jake me guia para perto dos enfeites de Natal. Ele olha para cima. O meus olhos seguem a direção e dão de encontro com o visco de Natal. Você sabe o que as pessoas fazem debaixo do visco, não é? A gente se encara e a expressão do Jake é séria. Ele é mais alto que eu, então, fico nas pontas do pé e o beijo.

De repente, o Jake me afasta e seus olhos estão vermelhos. É a primeira vez que o vejo chorar. Dou um forte abraço e digo que está tudo bem. Eu quero o Jake. Eu quero provar tudo dele. Eu preciso do calor dele perto de mim.

— Você tem certeza disso? — pergunta, quase sem voz.

— Sim. — respondo, antes de voltar a beijá-lo.

"Vamos abaixo de zero e nos esconder do Sol

Eu te amo para sempre e vamos nos divertir

Sim, vamos até o Polo Norte e viver felizes

Por favor, não chore, sem lágrimas agora

É Natal, meu bem"

****

Do lado de fora, as coisas eram diferentes. As ruas vazias e silenciosas. O vento levando tudo em sua frente e a neve cobrindo tudo aquilo que podia. Foi um Natal diferente, eu não sei ao certo o que aconteceu, mas algo mudou dentro de mim. Estou na sala da minha casa beijando o meu melhor amigo, enquanto a maior tempestade de inverno do mundo nos ataca de uma maneira avassaladora.

Nosso beijo é interrompido com uma queda de energia. O que vai acontecer? Só o tempo vai dizer.

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Comentários

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Enfim o beijo, mas as emoções parecem estar bem conflitantes...

O que acontecerá a partir de agora????

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conto encantador, muito bom essa narrativa.parabens

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