MEMÓRIA DA LOUCURA - ENTRE A PAIXÃO E A TRAIÇÃO III

Categoria: Heterossexual
Contém 2485 palavras
Data: 20/12/2022 17:27:55

3. Memória do fim

O tempo passou. Caminhando pela areia da praia, quarenta anos depois daquele episódio que marcou minha separação, todas aquelas lembranças ainda permaneciam vivas na minha mente e sempre que eu estava sozinho na praia elas reapareciam. Eu era agora um homem de 67 anos. Me tornara um profissional respeitado, tivera empresas, ainda fotografava. E ainda surfava, menos do que antes, mas sempre que podia, pegava umas ondas. Adorava ir para a praia ainda na madrugada e esperar o sol sair no horizonte para entrar no mar. Ainda conservava boa parte do meu vigor físico, embora meus cabelos tivessem ficado totalmente brancos. Minha vida tivera muitas e inúmeras aventuras. Mas todos os detalhes de toda aquela história ainda pareciam bem frescos na memória e ainda me provocavam sensações incômodas. Voltei no tempo.

Naquele dia em que deixei a Salva na casa de praia e regressei para nosso apartamento na cidade do Rio de janeiro, recebi várias chamadas de telefone em nosso apartamento. Atendi e vi que era ela quem ligava. Eu ouvia a voz, ficava mudo e desliguei todas as vezes. A cada hora acontecia uma chamada. Na sétima ligação já havia anoitecido e eu sabia que ela não ligaria mais. Deduzi que a Salva não havia revelado aos amigos o que se passara, preferindo a versão de que eu voltara para resolver alguma coisa de trabalho. Ela talvez tivesse esperança de que o tempo lhe desse a chance de remediar e reverter nossa separação. Os amigos só começariam a desconfiar quando chegasse o final de semana seguinte e todos se reunissem novamente na casa. Eu não voltando, despertaria suspeitas. Mas sempre havia o álibi de que eu poderia ser chamado para uma viagem de emergência.

Eu sofri muito naquela segunda-feira, a primeira noite sozinho em nossa casa. O dia foi um pesadelo. O cheiro da Salva na cama, no quarto, seus perfumes, sua roupa no armário, era uma memória constante de sua ausência, e a presença de sua traição, que me deixava mais magoado. Eu me sentira humilhado e isso era muito doloroso.

Para evitar que houvesse versões do que aconteceu, eu me lembrei de um dos amigos solteiros, que estivera lá no final de semana, e que era muito mais chegado, bem amigo mesmo, me permitindo falar a verdade com ele. Então, esperei dar dez da noite, para ter a certeza de que o encontraria em casa, e liguei. Ele atendeu e batemos um papo. Eu contei exatamente o que tinha acontecido. Queria que aquela fosse a versão oficial dos fatos compartilhada entre todos. Precisava que soubessem como as coisas se passaram. O que ele me disse então me surpreendeu:

— Sidney, eu pensei que você soubesse e estivesse permitindo acontecer. Sabemos que vocês são liberais. Como eu estava dormindo na garagem, no sábado, já tinha notado as movimentações estranhas da Salva e do nosso falso amigo. Eles se encontravam atrás da garagem.

Ele esperou que eu dissesse algo mais, e como fiquei calado ele prosseguiu:

— Eles faziam isso furtivamente, várias vezes. Acho que muitos amigos lá perceberam. Mas respeitaram vocês. Podia muito bem ser um acordo liberal entre o casal.

Admirado eu pedi mais detalhes e ele contou:

— O nosso falso amigo, sempre estava indo lá na garagem e no banheiro. Não jogou baralho nenhuma vez, ao contrário do final de semana anterior, não jogou sinuca, e na roda de samba do jardim aparecia bem pouco. Reparou? A Salva também fez o mesmo, durante muitos momentos do sábado, ela sumia, e isso muitos perceberam. Só você que não viu?

— Eu confiava tanto em todos, e nela também, que não prestei atenção. Juro. Era muita gente. Só agora que me recordo melhor desses detalhes. O corno sempre é o último a saber.

Ele acrescentou:

— O passeio na praia, de noite, foi incentivado pela Salva, muitos aderiram, eu mesmo fui até um determinado ponto e voltei com mais duas pessoas. Fomos dar uma volta na cidade.

Ele fez uma pausa, esperou que eu entendesse e prosseguiu:

— Eles insistiram para seguir mais, mas eu não quis. Depois soube que o outro casal que estava junto também percebeu as intenções deles e voltou dizendo que deixaram eles na praia. Para deixar os dois sozinhos. Então acho que a turma dos solteiros e alguns dos casais já tinha percebido tudo. Que ela estava de caso com o falso amigo. Mas parecia para mim que você permitia aquilo.

Eu agradeci a informação e pedi que se ele fosse voltar lá, ou se falasse com alguém do grupo, podia contar a minha versão e decisão. Meu casamento havia acabado.

— Pera aí Sidney, vocês são apaixonados, formam o casal mais legal da turma! Acho que vocês poderiam se entender. Não radicalize. Deve considerar. Você nunca pulou uma cerca na vida?

— Sim, eu pulei, faz muito tempo, era ainda jovem, e o estrago que fiz foi devastador. Nunca mais eu quero isso para ninguém. Por isso sei o quanto é sério. Mas o que me deixou magoado foi a forma que ela fez. Talvez, se ela me pedisse, dizendo que tinha vontade de experimentar, eu liberasse. Não sou dono de ninguém. Não tenho esse tipo de possessividade. Aposto que eu ia deixar rolar mesmo. Mas fazer desse jeito, escondido, e pior, na minha presença, me enganando, me deixa com nojo. Para mim não tem volta.

O amigo lamentou, tentou argumentar:

— Já parou para pensar que talvez ela estivesse apenas querendo fazer você passar pelo mesmo tipo de sensação que ela passa? Você é o gostosão, o rei da cocada, o comedor de turma. Todos falam da sua fama de pegador.

Ele insistia nos argumentos:

— As mulheres todas gostariam de ficar com você. Na cabeça dela pode ser que você faça isso em todas as suas viagens e com as modelos. Pense nisso.

Eu ouvia, mas não fazia sentido. Respondi:

— Ela sabe que não é verdade. Nunca traí.

Ele concluiu:

— Ela pode ver você como um comedor, que a trai sempre. Pode ser apenas uma espécie de fogo cruzado. Para você sentir o mesmo.

Eu respondi que eu nunca faria algo do gênero. Ele tentou outros argumentos, mas depois deixou quieto. Acho que ele também pensava que eu iria voltar atrás depois de um tempo. Mas, conforme eu previra, aquele meu telefonema para ele desencadeou uma série de outros entre terceiros e até no dia seguinte quase todos da turma já tinham se falado e sabiam da minha versão.

Praticamente todos os que estavam na casa naquele final de semana me ligaram na terça-feira para uma conversa em particular sem que os outros soubessem. E revelaram que a Salva estivera praticamente naqueles dois dias depois de minha partida, fechada no quarto, muito abatida, só saindo para fazer ligações de telefone, na tentativa de falar comigo.

Numa das ligações, no dia seguinte, terça-feira de tardezinha, uma das amigas, casada, talvez a mais íntima de nós dois, me contou que todos que lá estiveram já tinham falado com a Salva, informando que ficaram sabendo de tudo e que você contara o que houve. Na opinião de todos ela havia errado e deveria pedir perdão.

Salva não suportou a pressão e pegando as suas coisas pediu carona para voltar ao Rio de janeiro. Deveria chegar em algumas horas. Mas a Salva me conhecia, sabia que eu não a receberia em nossa casa e não arriscou. Pediu para ficar na casa da irmã dela, para quem teve que contar o que se passou. Naquela noite de terça feira, eu decidi passar a minha vida a limpo. Não iria ficar apalpando a ferida. E saí para jantar em algum dos bares do baixo Leblon, onde costumava ir sempre.

Não demorou para encontrar outras conhecidas que perguntaram da Salva. Eu revelei que estava definitivamente separado. Contei o chifre que levara, a atitude traíra do falso amigo. Elas admiradas se mostravam solidárias. O resultado é que uma delas logo aproveitou e se insinuou para me ouvir e me consolar. Eu sabia que não teria dificuldade para substituir mulheres na minha cama. E naquela noite eu queria muito aquilo. Pelo menos me fazia esquecer do sofrimento da paixão partida. E foi assim que eu fiz.

Uma morena alta, modelo de publicidade, bela e bastante safada era a pedida ideal. Levei-a para o nosso apartamento e fizemos sexo maravilhoso na cama de casal, durante toda a noite.

Primeiro tomamos um banho juntos bem demorado. Ela tinha seios lindos, volumosos de mamilos com grandes aréolas castanhas, especiais para fazer uma espanhola inesquecível. E o começo de tudo já foi muito bom.

Quando a morena abaixou minha cueca e liberou meu cacete que saltou meio duro para fora, ela exclamou:

- Ah, meu pai, louvado seja!

Eu achei graça e quis saber:

- Você reza sempre que vê um pau duro?

Ela riu e explicou:

- Rezo quando encontro o pau dos meus sonhos! Agradeço a deus.

Ri divertido. Tinha entendido o que ela queria dizer. Ela confessou:

- Além de ser um sujeito bonito, gostoso, inteligente e charmoso, você me aparece com esse pau delicioso? Não é grande demais e nem pequeno, é perfeito, lindo, grosso, se encaixa perfeitamente em tudo. Porra, sinceridade? A Salva dançou! Agora já era, tem que se arrepender e chorar.

Naquela noite eu estava com uma tara insaciável. E me esforcei para ser o melhor dos amantes latinos naquela ocasião. Além de chupar deliciosamente aquela mulher libertina e muito ardente por bastante tempo, pude foder com calma em várias posições, levando-a orgasmos alucinantes. A cada gozada dela parecia que eu me tornava mais tarado e viril, e redobrava minha potência. Penetrei na xoxota dela em várias posições, na cama, na cadeira, na mesa da sala, e também a penetrei no cuzinho, com habilidade e paciência, levando-a a um orgasmo com direito e mijada de prazer dela em minha sala. Ela gozou até desmaiar de prazer. Mas quando terminamos e finalmente adormecemos, em vez de satisfação eu sentia uma grande sensação de vazio e tristeza. A lembrança da Salva e o que ela fizera comigo ainda estava me torturando.

No dia seguinte bem cedo, fui levar a morena na casa dela para se trocar e ir trabalhar. Ela parecia feliz da vida. E foi ela que fez o telefone sem fio que bateu o serviço para diversas amigas, que se encarregaram de espalhar a novidade. Eu estava separado e era um amante que elas queriam ter acesso e oportunidade de provar. A partir daquele episódio, nos três dias seguintes eu podia escolher, porque muitas me telefonaram, dizendo que ficaram chocadas ao saber do que havia acontecido. O que elas desejavam era me consolar. Mas eu não estava mais entusiasmado, perdera o desejo, e evitava sair com outras mulheres. Eu não queria me expor mais. Durante o resto da semana uma grande tristeza se abateu sobre meus ânimos. Eu estava de férias, e não tinha vontade de fazer quase nada. A frustração de ver detonada a minha relação com a mulher que eu gostava, por uma traição estúpida, me deixava aniquilado. Cheguei à conclusão de que a separação da Salva tinha sido uma grande lição, e com frustração brutal, ferida permanente, e ao mesmo tempo uma benção. Eu não deveria me apaixonar nunca mais.

Não pretendia mais me dar ao luxo de gostar de outra mulher. Naquele episódio meu coração se blindou totalmente. Decidi que iria dar um tempo, ficar sozinho e repensar toda a minha vida. Mulheres dispostas ao prazer não faltavam.

Na sexta-feira retirei todas as roupas da Salva dos armários, e acomodei em malas. Fiz duas caixas de papelão com sapatos, cintos, bolsas, objetos e bijuterias. Fiz uma relação por escrito de tudo que estava ali acomodado. Liguei para ela na casa da irmã e fui direto:

— Salva, estou ligando para saber onde você quer que eu entregue as suas coisas pessoais.

— Calma querido. Espera. Eu quero conversar com você. Por favor.

— Eu prefiro que não. Não quero mais falar com você. Quero apagar a dor que sempre sinto ao lembrar de você. A ferida foi muito grande. Se puder não quero nem olhar em você de novo.

— Por favor, querido, eu preciso me desculpar. Eu sei que fiz tudo errado. Fui muito má com você. Reconheço. Mas eu o amo, amo demais, quero muito que saiba. Me perdoa.

— Pode amar o quanto quiser. O amor é seu. Comigo não tem volta. Fechei esse caixão e enterrei. Nunca mais quero mexer nele.

— Meu querido. Por favor. Pelo amor de Deus!

Eu ouvia seus soluços. Ela chorava forte. Aquilo mais me revoltava.

— Salva. Você tem dois dias para decidir. Me diz onde levo as suas coisas. Na segunda-feira quero a resposta. Quer que deixe na sua mãe?

— Pelo amor de deus! Nunca faça isso. Mamãe me mata se souber o que eu fiz. Por favor, nos poupe desse vexame e a ela dessa mágoa. Ela adora você. Não sei nem o que dizer a ela.

— Bom, nada vou dizer. Diga você o que quiser. Quero me livrar de tudo que seja seu. Diz onde eu deixo.

— OK, já que quer assim, vou pedir para minha irmã arranjar um lugar. Pode trazer aqui? Ou quer que eu vá buscar?

— Não, vou mandar entregar.

— Você não vem? Quero ver você, falar com você. Pedir perdão.

— Me poupe, Salva. Não tem volta nem perdão. Amanhã, sábado no início da noite vão entregar. Se você desejar retirar os móveis, eles estarão à disposição, basta você dizer onde quer que eu mande entregar. Não volte aqui por favor.

Eu já tinha esquematizado. Um amigo combinara de me ajudar. Ele iria entregar as malas e caixas no apartamento da irmã dela, com uma declaração para a Salva assinar. Queria ter a prova de que entreguei tudo. Desliguei sem me despedir.

Segundos depois o telefone tocou, mas eu deixei tocar até que a ligação caiu. Sabia que a Salva não faria nenhum tipo de pressão, porque ela não queria que a mãe soubesse os detalhes sórdidos da nossa separação repentina. Talvez, ela pudesse até contar uma mentira, dizer que eu a traíra, e foi isso que precipitou nossa separação. A mãe entenderia a revolta da filha, e não viria me cobrar nenhuma postura. Eu queria era evitar novamente quaisquer tipos de envolvimento com ela e queria deixar tudo cair no esquecimento. Como se fosse possível. Foi o que eu tentei. O tempo passou. Aquele episódio mudou minha vida completamente.

Continua

Meu e-mail: leonmedrado@gmail.com

NOTA DO AUTOR: Esta história é parte integrante de meu próximo romance a ser publicado em breve. Trata-se de uma história de pessoas reais cujos nomes foram alterados propositalmente. Portanto, direitos reservados e história exclusiva. Não é permita sua reprodução. Vou publicar aqui algumas partes, até onde acho que é conveniente. Faz parte da divulgação de minha próxima obra.

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Comentários

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Já passei por coisa parecida, hehe. A ex ficou incomodando um bom tempo. Mas nunca mais, hehe.⭐⭐⭐

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Leon este conto juntos com os outros daria um belo livro,mas o tempo dizem que cura qualquer ferida, bobagem não cura nada,deixa a ferida aberta, fazendo doer sempre martelando a mente, apesar do tempo.

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Bianca12@ - Esse conto já faz parte de um romance que está quase pronto para ser publicado. É uma história verdadeira com nomes alterados para não expor os verdadeiros personagens. Mas cada um se reconhece. Valeu.

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Cara seu coração e bem duro mais cada qual tem a sua reação, eu no caso foi vez perdoaria quem sabe, Leon tu é o cara amigo.

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Simplesmente forte e muitíssimo bem escrita.

Realmente surpreendente!

Não é a traição sexual o mote, mas a traição da confiança e cumplicidade.

Parabéns, Leon! Me deixou boquiaberto.

⭐⭐⭐

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Mark. Vi hoje seu comentário. Obrigado. Foram muitos contos seguidos e eu não li todos os comentários. Esse conto faz parte de um romance que está quase pronto. É uma história verdadeira com nomes alterados para não expor os verdadeiros personagens. Mas cada um se reconhece. Valeu.

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Cara excelente história parabéns, agora estou preso nela e esperando a continuação

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