"Clair de Lune" - Capítulo 32 - Surpresas

Um conto erótico de Annemarye (Por Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 3813 palavras
Data: 19/12/2022 18:46:54

Saímos então em seu carro até o apartamento de seus pais, chegando por volta das sete e meia. Um aroma gostoso de uma comida que eu não identifiquei de imediato inundava o apartamento. Mal entramos e dona Gegê apareceu correndo para nos cumprimentar:

- Anne! Ô, meu anjo, me desculpa de novo. - Falou, sem sequer me cumprimentar.

- Já passou, dona Eugênia. - Falei, dando-lhe dois tapinhas nas costas: - Não vamos lembrar disso, por favor, senão vou começar a chorar novamente.

Capítulo 32 - Surpresas

- Jura que não está brava comigo!? - Perguntou a dona Gegê para mim, ainda insegura com meus sentimentos, fazendo rir espontaneamente.

- Já voltamos a ser amiguinhas, dona Gegê. Não se preocupe.

Da mesma forma rápida que surgiu, meu sorriso sumiu quando seu Balthazar se aproximou da gente com um semblante sério, contido, me encarando com um olhar quase inquisidor:

- Então… - Resmungou, sem tirar o olho de mim.

- Oi, seu Balthazar. - Respondi com um voz trêmula, estendendo-lhe minha mão que também tremia mais que uma vara verde para cumprimentá-lo: - Tudo bem com o senhor?

Ele baixou seu olhar para minha mão, voltando-o para meus olhos em seguida e abriu um sorrisão:

- Cumprimento minhas filhas com um abraço, já te falei isso antes, lá em casa, se lembra, Annemarye? - Me falou, ainda sério.

- Me lembro, sim, senhor.

- A regra também vale para as minhas noras. - Disse e abriu um sorriso e os braços para mim: - Entendeu? Se o abraço vier acompanhado de um beijo no rosto, fica ainda melhor.

Correspondi com um sorriso ainda meio tímido, mas não lhe neguei o abraço e o beijo sugerido, aliás, dei dois, como fazemos em Minas Gerais:

- Tudo bem com você, minha querida?

- Vou bem, sim, seu Balthazar. Obrigada. - Respondi, ainda sorrindo e completei: - Melhor agora, a bem da verdade.

- Fica tranquila! O que aconteceu já ficou no passado e não restou nenhuma mágoa para nós. Espero que você também já tenha perdoado a Gegê pela besteira feita?

- E como eu conseguiria ficar brava com ela, seu Balthazar? Ela não desgruda de mim. - Falei e ela já veio mesmo me pegando no braço, fazendo com eu me voltasse para ela e, sorrindo e já brincando, tirasse seu braço de mim: - Desculpa, dona Gegê, meu braço e todo o restinho está reservado para o Marcos a partir de hoje.

Fui até ele e o peguei pelo braço. Ela parecia uma criança dando tapinhas de satisfação pela brincadeira que eu havia feito:

- Ai, eu adorei! - Disse e me pegou pelo outro braço: - Ele fica com um braço e eu com o outro, Anne. Quero nem saber!...

- Melhor não contrariar, Anne. - Marcos disse, sorrindo: - Essa aí não tem jeito.

- Não tenho mesmo! Vamos sentar na mesa e beber um vinho? Balthazar você não pega um para a gente?

Ele saiu enquanto fomos até sua mesa de jantar. Marcos, cavalheiro, puxou a cadeira para eu sentar e se sentou ao meu lado. Enquanto isso, seu Balthazar já retornava com dois vinhos em mãos e depois de uma consulta rápida ao Marcos, decidiram por um tinto suave da Argentina:

- Esse eu ganhei de um advogado de lá, Anne. Ele também trabalhava para o Maradona e havia me prometido um encontro com ele que acabou nunca se realizando… - Contava seu Balthazar.

- Ela é entendida em vinhos, pai…

- Sou nada, Marcos, para com isso! - Rebati.

- Se eu não tivesse visto, até acreditaria, mas eu vi.

- Ah é!? - Disse seu Balthazar, me encarando: - Então, vem me ajudar, oras!

Dona Gegê voltava com uma travessa de pãezinhos com um antepasto de beringela e já nos olhava curiosa:

- Deixa a menina em paz, Balthazar!

- Eu quero ver como se faz, Gegê. - Ele retrucou e me encarou: - Tem algum problema para você, Annemarye?

- Não, seu Balthazar. Não tem. - Disse e me levantei: - Onde está o abridor, decanter, taças de boca larga…

- A gente tem esse tal “decanter”, Gegê?

Ela o olhou curiosa, sem saber direito o que seria isso e eu expliquei:

- Parece uma jarra com um gargalo mais comprido e fino, dona Gegê.

- Aaaah! - Ela disse, sorrindo: - Acho que tenho, sim.

Fui com ela até um armário e achamos o bendito decanter. Voltamos à mesa e o seu Balthazar já se encarregava de abrir o vinho. Coloquei um pouco no decanter e fiquei chacoalhando para liberar os odores do vinho e depois o coloquei numa taça, oferecendo ao meu anfitrião:

- Eu bebo e gosto bastante, mas não entendo de vinho, não, Annemarye! - Disse e riu, mas obrigado.

Fiz o mesmo com mais um pouco e coloquei numa taça para mim mesma, seguindo de três balançadas na taça e passando a sentir o odor e depois o sabor:

- Huummm… Bom demais, viu! - Suspirei e disse: - Envelhecido em tonéis de carvalho, com notas de frutas vermelhas, eu diria cereja ou framboesa, bem frutado e docinho. Gosto muito!

Eles me encaravam curiosos, eu diria até surpresos, só o Marcos me olhava com orgulho. Expliquei do curso que eu havia feito na Itália, enquanto eu virava o restante da garrafa no decanter e depois lhes servia e ficaram ainda mais surpresos do motivo não muito nobre pelo qual eu havia iniciado o curso:

- Então, íamos eu e as meninas lá mais para beber, mas no final acabei aprendendo um pouquinho também.

- Danadinha, hein, Gegê!? Ela é cheia das historinhas também. - Disse seu Balthazar, rindo da minha peraltice.

Sentamos e ficamos conversando boa parte da noite enquanto um cheiro de assado começava a inundar o apartamento todo:

- Humm! Que cheirinho bom. - Cochichei para o Marcos: - Já tô ficando com fome.

Ele, danado e ainda carente, aproveitou que eu havia me virado para falar próximo ao seu ouvido e me beijou a boca, superficialmente é verdade, mas certeiro e bem na frente de seus pais. Assim que pude, eu o encarei meio constrangida e não consegui não sorrir para ele que agora passava seu braço por sobre meu ombro, trazendo-me para mais perto de si. Os olhos da dona Gegê brilhavam e um sorriso verdadeiro, um pouco malicioso, surgiu no rosto do seu Balthazar:

- Estou tão feliz por vocês, Anne. - Disse a dona Gegê: - Acho até que demorou muito para vocês se entenderem.

- É, né… - Falei sem concordar ou discordar.

- As coisas acontecem quando têm que acontecer, Gegê. Talvez não tivesse dado certo se eles tivessem forçado algo antes. - Retrucou o seu Balthazar.

- O senhor acredita em destino, seu Balthazar? - Perguntei, curiosa.

- Não sei se em destino, Anne. - Disse e tomou um belo gole de sua taça, olhando para o teto do apartamento: - Eu acredito em oportunidades. Vocês tiveram algumas chances, mas a oportunidade real mesmo só surgiu agora.

A fala dele fazia sentido, mas não totalmente. Fiquei matutando aquilo com a minha taça em mãos, chacoalhando-a em silêncio. Eles pensaram que eu pudesse ter ficado contrariada ou chateada com sua conclusão:

- Balthazar, deixa a menina em paz!

- Mas eu não falei nada, Gegê.

- Não mesmo, dona Gegê. Só achei curiosa sua colocação, mas não discordo, nem concordo com ela. Só achei curiosa…

Um alarme soou e seu Balthazar nos pediu licença para ver se o assado estava pronto, deixando-nos os três na mesa. Dona Eugênia nos olhava de uma forma que parecia ser ela um dos participantes daquela história de amor, não que ela não fosse, ela tinha um papel bastante importante, só não protagonizava. Aliás, o protagonista masculino da história começou a encará-la com um sorriso no rosto e ela a ele, enquanto eu olhava os dois sem entender:

- Ah! Vou ajudar o Balthazar. - Ela disse num certo momento, rindo de si mesma ou da situação em si.

- O que foi isso? - Perguntei, curiosa.

- Eu dei um sinal para ela ir “ajudar” o meu pai. - Disse simbolizando as aspas com as mãos enquanto frisar a palavra ajudar.

- Será que estão precisando de ajuda? - Perguntei para ele, enquanto olhava na direção deles.

- Psiu! - Ele chamou minha atenção.

Quando me virei, ele segurou meu rosto e caprichou num beijo. A carência dele era tanta que eu não o impedi, apesar de saber que aquele não era o melhor momento para namorarmos. Quando se deu por satisfeito, eu o encarei e vi em seu rosto uma alegria que era difícil de não se deixar contagiar:

- Não é o melhor lugar e hora, né, Marcos? Seus pais estão aqui. - Eu falei, constrangida, mas feliz ao mesmo tempo.

Ele sorriu também constrangido e olhou por sobre meus ombros, enquanto começava a rir:

- Seus pais estão atrás de mim, né? Ah, você não fez isso… - Resmunguei, já imaginando ter sido flagrada novamente.

Acerte! Bem, quase… Quando olhei para trás, vi os olhinhos maliciosos da dona Gegê brilhando cúmplices de nossa pequena arte. Ela trazia uma travessa com salada nas mãos e um sorriso no rosto. Eu a olhei, envergonhada novamente e, sem saber o que dizer, me virei para o Marcos e resmunguei:

- Ah, Marcos…

Não tive tempo de continuar e ganhei um abraço apertado da dona Gegê, encostando sua cabeça na minha e depois um beijo no rosto:

- Não se envergonhe de namorar, meu anjo. Fico muito feliz que estejam se curtindo. Fique tranquila e “carpe diem”!

- Um beijo gostoso desse é de abrir mesmo o apetite, não é mesmo, Gegê? - Brincou seu Balthazar que chegava com uma travessa de assado nas mãos.

- Ô se é! - Ela concordou, sorrindo.

Assim que ele colocou sua travessa na mesa, a encarou com um carinho no olhar e a beijou também em nossa frente. Não foi um beijo tão intenso, apaixonado como o que eu recebi, mas foi marcante e suficiente para me fazer ruborizar. Marcos sorria, aparentemente acostumando com essa demonstração de amor, mas eu fiquei sem saber como agir e apenas sorri concordando quando eles se separaram. Eles saíram de mãos dadas para buscar outros pratos e eu voltei a encarar o Marcos:

- O quê? - Ele me perguntou, rindo da minha cara.

- Eu vou te matar, Marcos! - Resmunguei ao mesmo tempo em que ria de toda a situação.

Acabei me descontraindo mais do que imaginava e agora era eu que o pegava num beijo gostoso. Assim que o soltei, ele encarava alguém atrás de mim novamente:

- Ah… Você só pode estar de brincadeira. - Disse e me virei para ver o casal atrás da gente novamente: - Não acredito! Já é marcação comigo.

Eles riram e se sentaram à mesa. Passamos a comer e a conversar sobre diversos assuntos. Não sei que horas terminamos nosso jantar com uma deliciosa torta holandesa, mas já era bem tarde. Fosse apenas o horário, eu teria ido embora sem problema algum, mas uma chuva típica de terras paulista havia se instalado desde quando eu chegara lá e não dava sinais de parar:

- Por que não dorme aqui, Anne? A chuva está forte e já está bem tarde mesmo. Amanhã cedo o Marcos te leva embora. - Propôs a dona Gegê, com um sorriso no rosto e uma malícia no olhar, enquanto eu a ajudava a lavar a louça: - A gente pode até jogar buraco para passar o tempo.

- Gente…

- Boa ideia, mãe! - Agora o Marcos me interrompia da mesa de jantar: - Te levo amanhã cedo para seu apartamento.

- Com meu voto, somos três. Você fica, Annemarye. - Sentenciou seu Balthazar, rindo de um pilequinho decorrente do vinho ingerido.

- Tá, mas gente…

- Fica tranquila, Anne, vou preparar o quarto de hóspedes para você e…

- Ô mãe! O que é isso? Claro que não, né! - Marcos a interrompeu: - Ela dorme comigo, poxa.

- Você já trocou os lençóis da nossa cama, Gegê?

- Ainda não Balthazar.

- Então, pronto, eles dormem lá e nós ficamos no quarto de hóspedes.

- O quê!? Não! - Retruquei imediatamente: - Sem chance! Dona Gegê, vamos lá trocar os lençóis da sua cama. Eu ajudo a senhora. Não vou dormir lá. Digamos que eu tenha más lembranças…

- Anne…

- Não! - Fui obrigada a interrompê-la: - Eu até aceito dormir aqui, mas não lá na sua suíte.

Ela me pegou pelo braço e fomos até sua suíte, onde ainda tentou me convencer a aproveitar o fato de os lençóis já estarem lá, mas não conseguiu. Então, os trocamos e voltamos para a sala de estar, onde pai e filho conversavam animadamente algum assunto que pararam imediatamente com nossa chegada:

- Você vai dormir comigo, né, Anne?

- Você vai se comportar? - Perguntei, encarando-o, séria.

- Claro que sim… - Disse sem convencer ninguém.

Dado o adiantado da hora, acabamos nos retirando para as respectivas suítes. Enquanto o Marcos foi para o banheiro fazer sua higiene noturna, eu me desnudei e me enfiei por baixo da colcha de sua cama. Ao voltar, ele a puxou para entrar e naturalmente me viu nua ali embaixo:

- Poxa, Anne. Assim fica difícil te respeitar... - Resmungou, já se deitando e tocando meu corpo.

- Então, aprenda a fazer em silêncio, porque eu também estou com vontade.

[...]

Enquanto esperava na sala de espera para ser atendido por um velho conhecido, com quem eu negociava o direito de lavra em uma de minhas fazendas, meu primogênito, Erick, me ligou. Ele parecia bastante nervoso e irritado:

- Alô, pai! Precisamos conversar.

- Opa, opa, opa! Boa tarde para você também, Erick!

- Ah, qual é, pai!? Vai querer dar lição de moral em mim agora?

- Vou e tenho todo o direito. Você é meu filho e me deve respeito, sempre! Agora começa do começo.

- Oi, pai. Tudo bem com o senhor?

- Foi bem, obrigado por perguntar, filho. E você, como está?

- Não tô nada legal, pai…

- Tá, agora podemos entrar no assunto principal. O que foi que aconteceu?

- O que aconteceu!? A filha da puta da Annemarye está mesmo com outro, inclusive, teve a cara de pau de me apresentá-lo hoje.

- Bom, nem vou te falar que…

- Para, pai! - Ele me interrompeu: - Nem começa com sermão pra cima de mim. Só quero tua ajuda para ficar com ela. De um jeito ou de outro, por bem ou por mal, vou ficar com ela.

Desde o início, eu sabia que a história dos dois não iria dar certo. Meu exu não bateu com o santo daquela advogadinha. Ela tinha um olhar abusado, forte, mas no fundo, bem lá no fundo, eu senti que ela era uma grande de uma safada e falsa moralista. Talvez só estivesse faltando uma boa surra de vara para colocá-la no trilho. Ainda assim eu precisava acalmar o Erick antes que ele fizesse uma burrada e a tirasse de nosso alcance:

- Erick, fica calmo! Você está com a cabeça quente e nenhuma decisão agora irá te ajudar com ela. - Comecei a rir de mim mesmo por estar tentando botar panos quentes: - Hoje à noite a gente pode se encontrar e conversaremos com mais calma, ok?

- Pai, eu tenho urgência! Quero resolver logo isso.

- Já entendi, Erick, mas vamos ter que conversar e planejar com bastante calma, afinal, essa gazela é mais arredia e inteligente que o que estamos acostumados a abater.

- Não interessa! Ela vai ser minha, nem que eu tenha que apelar no começo. Depois, com o tempo, eu faço ela gostar de mim…

Agora eu tinha certeza que ele estava fora de seu juízo perfeito, porque se eu fizesse o que eu tinha em mente para subjugá-la, ela dificilmente teria um sentimento que não o de repulsa pelo Erick e pelos demais. Se bem que a Renata, com o tempo e muito dinheiro, aprendeu a curtir e se entregava com vontade aos nossos caprichos, quem sabe a Annemarye também não seja assim. Novamente o Erick interrompeu meus pensamentos:

- Vamos com carga total, pai, sem dó, nem piedade. - Ela falava quase gritando na chamada: - Inclusive, eu tenho um videozinhos legais com ela.

Quando ouvi aquilo, ainda fiquei na dúvida se tinha ouvido corretamente, afinal, a Annemarye parecia tão inteligente, não combinava com o perfil dela se deixar filmar. Fiquei realmente interessado e a ver até uma possibilidade de realmente foder aquela morena gostosa, mas ainda assim eu precisaria do aval do Erick para não criar um problema em família depois. Aproveitei uma saída da secretária da sala de espera para verificar se tinha ouvido corretamente:

- Você disse vídeos de sexo com ela, Erick?

- Isso! Mas nunca de rosto. Apenas bunda, buceta… - Parou por um momento: - Tenho um que é meio de perfil, mas, como ela estava de cabelo solto, não deu para pegar direito. A voz dela aparece em alguns momentos, mas a gente não chega a falar o nome um do outro…

- Cara, essa me pegou de surpresa, mas pode nos ajudar bastante! Você tem certeza que está a fim de jogar pesado com ela? Depois que rolar, que a gente detonar sua mineirinha na cama, não tem mais volta, hein?

- Pai, já que ela não quer ser minha, vai ser nossa, pelo menos, até ela aceitar ser a minha exclusiva, daí vocês não vão mais pôr a mão nela. Então, aproveitem bem agora porque não vai ser sempre liberado assim!

- Tá! Bem, a gente precisa conversar pessoalmente. Você está em…

- São Paulo! - Me interrompeu: - Eu tô aqui.

- Melhor assim. Vai pro seu apartamento e assim que eu terminar um compromisso que eu já tinha agendado aqui, vou ao seu encontro. A gente conversa melhor lá e você já me mostra o material que tem guardado.

- Beleza! Te espero lá então, pai.

- Abraço, filho, e fica calmo que eu vou te ajudar.

- Joia! Até mais.

Sem notar, a secretaria havia retornado e esperava próxima de mim para me conduzir até a sala de reunião. Fiquei com a impressão de que ouviu alguma coisa da nossa conversa pela forma como ela me encarava, séria, incomodada, arredia, mas como eu não havia citado diretamente nome algum e tentei ser o mais discreto possível, ela não havia ouvido todo o teor. Fomos até a salada, onde ela deu dois toques na porta, antes de abri-la, me dando passagem:

- Boa tarde, Pinheiro. - Cumprimentei.

- Boa tarde, Barreto. Seja muito bem-vindo. - Me respondeu, já estendendo sua mão.

- Belo escritório esse seu aqui, meu caro. Pelo que vejo, os negócios vão de vento em popa, não é?

- Descontando algumas dificuldades com a fiscalização e autorizações governamentais, até que estamos indo bem, sim. - Disse e me convidou a sentar: - Mas e você? Como tem se saído na sua área?

- Agropecuária é uma área que sempre tem destinação aos produtos, afinal, as pessoas precisam comer, não é? A flutuação do mercado é normal, leis da oferta e procura, então, ano ganha-se bem, noutro ganha-se menos, mas perder, até hoje, eu nunca perdi.

- Isso é bom, muito bom, bom demais… - Falou enquanto me olhava: - Mas e a respeito da minha proposta? Vocês já analisaram? Há interesse de vocês para formarmos uma parceria para a exploração da fazenda Morro Alto?

- E quem não gosta de ganhar dinheiro, Pinheiro? - Falei e ri: - Já conversei, sim, com minha esposa e estamos mais que interessados. Vamos negociar…

[...]

- Ah, mãe, por favor, hoje não. - Pedi, tentando ganhar algum tempo: - Eu não estou legal mesmo. Amanhã… Amanhã a gente conversa, pode ser?

- Não, não pode, Márcia! Você vai começar a falar e agora. - Disse e se sentou na beirada da minha cama: - Você pode contar para mim e eu te ajudou a contar para o seu pai, ou a gente espera ele chegar e você vai ter que enfrentá-lo a ferro e fogo.

- Ah, meu Deus…

- Reze para quem você quiser. - Ela me interrompeu: - Aliás, você está precisando mesmo de uma religião na sua vida, porque parece que você está perdida, Márcia! Vai me desculpar, mas eu não estou te reconhecendo…

Eu não sabia o que falar, mas sabia bem o que ela gostaria de escutar e, a verdade, era algo que eu não estava disposta a partilhar naquele momento. Pensei em diversas formas de ganhar tempo, mas nada me vinha à mente. Involuntariamente, comecei a chorar e, ao invés dela se compadecer de mim, teve mais certeza ainda que algo estava muito errado:

- Vamos conversar, queira você ou não. Se não quer conversar comigo, conversará conosco e será hoje. Então, é melhor você já ir organizando suas ideias porquê de hoje não passa.

- Mãe…

- Seu pai vai chegar no final do dia. O tempo está passando…

- Eu vou contar tudo. Deixa só o pai chegar.

- Ótimo! Isso vai te fazer bem e se a gente puder ajudar em algo, nós não vamos medir esforços. Você sabe que queremos o seu bem, não sabe?

Nesse momento, meu celular tocou e vi que uma colega de faculdade, a Laura, me chamava. Atendi e o destino sorriu para mim. Uma desculpa, mais que perfeita, surgia à minha frente. Coloquei no viva voz para que minha mãe também ouvisse a ligação:

- Que dia será esse trabalho, Laura? - Perguntei.

- A apresentação é na sexta, mas a gente tem que preparar tudo para ontem. Temos que ensaiar tudo e nem pesquisamos os temas ainda, Márcia.

- Mas quando o professor deu esse trabalho?

- Hoje! Todo mundo foi mal na última prova de anatomia e ele inventou esse trabalho para recuperarmos a nota. Só que temos que fazer tudo até sexta.

- E o que vocês querem que eu faça?

- Ninguém sabe de nada! Por isso eu te liguei, para saber se você pode se encontrar com a gente ou a gente vai aí no seu apartamento para definirmos o que cada uma vai fazer. A gente estava pensando de nos encontrarmos na casa da Verônica e…

- Por mim, está bem! Eu encontro vocês lá. Só me fala o horário?

Combinamos o horário e me despedi dela. Minha mãe me encarava, surpresa e inconformada:

- Eu não armei nada! A senhora ouviu toda a conversa.

Ela concordou e fui tomar um banho, me arrumando e saindo em seguida para a casa da Verônica. Eu já imaginava ter ganhado, pelo menos, uma noite de sossego. Cheguei na casa da minha colega trinta minutos depois de ter saído de casa. Como eu era a grávida da minha turma de estudos e depois dos problemas de saúde que havia enfrentado, fui paparicada de todas as formas possíveis e imagináveis. Não posso negar que isso me fazia muito bem. Pelo menos, elas me tratavam como eu esperava ser tratada.

Dividimos os temas que teriam que ser pesquisados e combinamos de cada um desenvolver o seu e depois nos reuniríamos na quinta-feira para ensaiar a apresentação. Na saída, nos despedimos e a Laura me pediu uma carona, afinal, ela morava no meio do caminho até minha casa. Na Avenida das Américas, em um trecho que estava parado, fomos abordadas por dois marginais encapuzados numa motocicleta e, mesmo entregando tudo o que tínhamos em mãos, fomos alvejadas cinco vezes. Quando olhei para meu lado, Laura com a mão sobre o seio direito, gritava de dor. Eu tentei ajudá-la, mas minha visão ficou turva em questão de segundos...

[...]

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 195Seguidores: 541Seguindo: 19Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Bom este momento de tranquilidade deste casal,mas pelo jeito tudo irar mudar novamente,vejo nuvens no caminho,e av das Américas e perigosa mesmo,pois ali vive classe alta,alta e a miséria das comunidades em volta,e hj no rio está assim,não basta assaltar tem que matar mesmo para os pivetes ganhar moral,valeu o conto dr.mark está ótimo a cada dia

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caraca o que foi isso??? que loucura, a pessoa que esta por trás de tudo foi longe demais heinn, as duas sendo baleadas?? vem muita encrenca pela frente. o Erick então vai vir com carga total, ele esta sendo pior do que o pai e o irmão, essa história de vídeos vai dar muita dor de cabeça, muito vagabundo

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Foi tenso esse final. 😥😥😥

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O que pensar disso tudo, um louco querendo chatear a Anne e talvez um segundo louco tentando dar uma queima de arquivo. esses dois não terão uma semana de paz.

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Capítulo tenso.

Então o irmão do Marcos é mais perigoso do que imaginei. Será que a Márcia sobrevive para poder denunciá-lo.

A família do Erick, já sabíamos da falta de escrúpulos. Vamos ver se a Anny vai ceder ou enfrentar a chantagem.

Aposto no enfrentamento.

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Alguem poderia indicar outros contos não so de sexo, como os do Mark ? to curtindo bastante a leitura kkk

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O que é o amor( escritora id@)

Minha esposa se envolveu com o namorado da nossa filha(Lael ) ele tem várias histórias.

Liberais & apaixonados ( Max al- harbi ) Renata um grande amor ( neto batista)

A história de Pedro ( Dany/Joana)

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Esses são ótimos autores, não é só putaria, sempre tem um drama alguns com aventura enfim ótimos contos

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Man, cada um tem seus preferidos. Algumas boas histórias ainda estão se desenvolvendo, mas vou citar só a minha preferida: "O diário de Rafaela".

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Obrigado pelas indicações !! já vou começar a procurar rsrs

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Mark que louco a situação Amigo, aja mistérios nessa saga kkkkkk parabéns

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Será que o Aurélio está envolvido com esse suposto assalto. Se sim ele é bem cruel. São muitas frentes do mau pra ficar de olho.

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Cada dia melhor!! sem comentários

Espero muito que o dinheiro fale mais alto para o Rubens

Tomara que a Marcia morra ou no mínimo perca o bebe rsrs

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Pelo jeito só bucha daqui pra frente.

Esse complô da família do Erik a Marcia levando tiro... e logico o Marcos vai se desdobrar para ajudar ela... senta que vem encrenca

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Valeu pela parte do Maradona!

Cara esse negócio tá ficando muito tenso. Tô com medo pelos dois. A Anne não merece passar por sofrimento. Esse Eric é bem canalha.

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