Meu Preço - Capítulo Nove

Um conto erótico de M.J. Grey
Categoria: Gay
Contém 2510 palavras
Data: 24/11/2022 19:00:38
Assuntos: dívida, Gay, Homossexual

***CAPÍTULO NOVE**

O vinho chega antes dos pratos escolhidos. Ele me serve, mas não bebo. Estou a ponto de chorar, sem vontade de fazer mais nada.

Quero ir embora.

Nunca mais verei os meus pais! Um buraco se abre no meu peito e a dor me sufoca.

— O que foi? — pergunta, como se não soubesse a resposta.

— Nada. — Limpo o canto dos olhos com os dedos, antes que as lágrimas desçam.

— Não quer beber? Posso pedir outra coisa. — Tenta pegar a minha mão por cima da mesa, mas puxo para longe.

— Não quero nada, apenas voltar para minha casa. — Encaro-o, e ele fica me observando.

— Escreva uma carta amanhã e mandarei entregar — sugere.

— Não é a mesma coisa.

— Mas é o que posso fazer no momento. É a única coisa que vou ceder a você, então espero que se alegre, ou nem isso te concederei. — Sua autoridade sempre me deixa irritado, e a tristeza dá lugar para raiva.

Olho feio para ele.

— Está bem! Eu aceito a carta. — Fico quieto novamente.

Os pratos chegam, e o número 32 nada mais é do que um bife grelhado e um pouco de purê de batata, com umas folhinhas verdes decorando o prato.

Corto um pedaço da carne com nojo, está malpassada; porém, quando levo a boca, acabo gostando — é saborosa e macia. Devoro o prato todo. Depois chega a sobremesa: uma taça de sorvete com muita cobertura e algumas frutas, as quais saboreio que nem criança.

— Gostou?

Não sou mal-educado, sei agradecer quando é necessário.

— Sim, obrigado.

— Te trouxe aqui para entregar isto. — Ele estende a mão, mostrando uma caixinha de veludo preta. Assim que abre, fico impressionada com o anel. Ele brilha tanto, a pedra é pequena e delicada ao mesmo tempo. — Comprei pensando em você, vai ficar perfeita em seu dedo.

Não quero ser grosso, mas não esperava um anel.

— Para que isso?

Lembro-me do anel que Lucas me deu, simples e com tantos significados.

Lucas!

— Você é meu noivo e precisa de um anel. E um anel à altura da sua beleza.

Ele sabe o que dizer para fazer uma pessoa se sentir importante. Tento afastar o pensamento de que o que ele está dizendo possa realmente ser verdade.

— É lindo.

— Me dê sua mão. — Estendo a ele, e o toque da sua pele na minha me faz ficar desconfortável. Seus dedos estão gelados e trêmulos. Percebo que ele também não está se sentindo confortável com o toque, porque rapidamente coloca o anel e me solta. — Como imaginei, ficou mais lindo na sua mão.

— Obrigado.

Me sinto estranho recebendo um presente dele, ainda mais um anel tão lindo que deve ter custado o olho da cara.

— Amanhã iremos para São Paulo. Você irá conhecer a minha família e a nossa casa, onde vamos viver — assegura, com toda calma do mundo.

A aflição toma conta do meu ser. E se a família dele não gostar de mim?

— Como devo agir? Eles sabem que você compra pessoas?

Ele ri.

— Não, anjo, elas não sabem da minha vida aqui. Sabem que tenho um clube, mas nunca vieram para conferir. E se vierem, vão ver apenas o clube. Há meios de convencê-las. Portanto, pode se comportar como quiser, só não conte sobre o meu inferno particular.

Seu olhar é desafiador, me alertando que, caso faça o contrário, vou pagar bem caro.

— Não contarei nada, apenas estou com medo de que não gostem de mim. Sou uma pessoa simples. — Dou de ombros.

— Você é tudo, Samuel, menos simples. Você é lindo, e elas vão amar você — afirma ele, com mais elogios.

A garçonete volta.

— Quer que te sirva mais alguma coisa, senhor? — pergunta, se insinuando.

— Quer mais alguma coisa, anjo? — Ele olha para mim, sem dar atenção a ela.

Gosto da cara de vergonha que ela faz.

— Não, obrigado, quero apenas ir para casa.

— Traga a conta. — Gabriel não desvia os olhos dos meus. Fico preso naquela escuridão.

Ele esconde algo e quero saber o que é. Talvez uma dor bem profunda que o transformou em quem é hoje.

Depois que paga, nos levantamos. Gabriel me guia até a saída, segurando a minha cintura. O toque dos seus dedos está me provocando, me deixando tonta — e olha que nem bebi o vinho.

O carro parece abafado, o seu cheiro me domina, fazendo minha cabeça girar. Sinto-me claustrofóbico. Preciso de ar e, mesmo com o arcondicionado ligado, o clima está quente, bastante caloroso.

— Você está bem? — pergunta, me analisando enquanto dirige.

— Estou... Estou ótimo... Eu... — digo em um fio de voz. Estou sufocando, suando frio.

O que é isso?

— Você não parece bem.

— Preciso de ar, por favor. Pare o carro.

Assim que Gabriel estaciona, saio do carro quase correndo. Agradeço ao ar que entrou em meus pulmões: um ar sem o seu maldito cheiro inebriante.

O que está acontecendo comigo? Não posso me encantar pela sua beleza e seu charme, sou muito mais inteligente que isso.

— Está se sentindo melhor? — Ele chega mais perto, mas imediatamente ergo a mão para mantê-lo afastado.

— Você pode dirigir com as janelas abertas. Sei que tem arcondicionado e tudo mais, entretanto preciso do ar puro de verdade — peço, praticamente implorando.

— Claro, devia ter pedido antes. Você tem problemas com lugares fechados?

Lugares fechados nunca foi um problema para mim, mas o cheiro dele? Ah, sim, esse sim me faz mal.

— Não, essa é a primeira vez que me sinto assim... — Minto, porque já me senti assim perto dele. Quer dizer, não tanto quanto hoje.

Entramos no carro e ele abre todas as janelas, mas fica em alerta, olhando os retrovisores toda hora. Nem parece aquele cara despojado, seguro de si.

— O que está acontecendo? — pergunto, pois estou ficando com medo.

— Não é seguro andar dessa forma.

— E por que não?

— Porque tenho inimigos, anjo, muitos inimigos, e estamos apenas com dois seguranças atrás de nós.

— Tem seguranças atrás de nós? — Olho para trás e vejo um SUV preto.

É claro que tem. Como não percebi?

— Sempre tem seguranças atrás de nós e em qualquer lugar que for. Você não percebe, mas estão lá — declara, seguro de si, de novo.

Chegamos bem ao hotel e só agora noto que ele não correu essa noite, nem para ir nem para voltar.

Entro no apartamento, me sentindo cansado, exausto até. Esses sentimentos estão me matando. Quero fugir dele, ficar o mais longe possível.

— Não quer beber nada? — Oferece, sendo gentil novamente.

— Não sou de beber muito, mas agradeço o convite.

— Boa noite, anjo.

— Boa noite, Gabriel.

Ele sorri diabolicamente.

Subo para o quarto, sentindo seu olhar em mim, mas tento ignorar.

Os sonhos me atormentam de novo. Reviro na cama quase a noite toda. Acordo suando várias vezes e, toda vez que fecho os olhos, sonho com Gabriel me tocando, me acariciando; suas mãos passeando pelo meu corpo nu, sua boca na minha ou beijando meu corpo todo, me fazendo contorcer de desejo.

Merda! Está tão quente que preciso tomar um banho gelado.

Por que ele não sai da minha cabeça? Por que sonhar com coisas que nunca deverão acontecer? Me questiono, como se fosse funcionar de alguma forma.

Volto a me deitar, apenas de cueca. O calor está infernal essa noite, até abro a janela para entrar ar frio, porque o ar-condicionado não está dando conta.

Acordo bem e me espreguiço na cama.

— Tão lindo. — A voz do Gabriel ao meu lado me faz pular. Quase caio da cama.

— O que faz aqui? — Ele encara o meu corpo.

Mas o que tem meu corpo?

Quando olho para baixo, noto o que ele tanto está olhando.

Merda! Esqueci que tirei a roupa para dormir. Puxo o lençol tentando me cobrir ao máximo, e ele ri, pois me atrapalho toda, quase caindo de novo.

— O que faz aqui, Gabriel? Será que nunca terei privacidade? — indago, prendendo o lençol no corpo.

Olho para ele e percebo que está só de cueca Box e com um volume enorme, que faz meu rosto pegar fogo — e depois o resto do meu corpo.

Cubro o rosto com as mãos.

— Saia do meu quarto, Gabriel!

— Por que a vergonha se, quando nos casarmos, verei você sem essas peças e você me verá sem as minhas?

Merda! Por que meu corpo responde a ele dessa forma? Meu estômago se aperta, causando um frio na espinha que se aglomera por completo em meu ventre.

— Ainda não somos casados, e não quero ver nada seu. — Minha voz sai abafada pelas minhas mãos.

Ele se diverte às minhas custas.

— Pare de ser bobo! Pode abrir os olhos, já me cobri.

Tiro as mãos, mas continuo com os olhos fechados. Abro um olho primeiro, depois o outro e, sim, ele se cobriu com o meu travesseiro, que vai ficar impregnando com o cheiro dele agora.

— Por que está no meu quarto?

— Vim te acordar, porque daqui a pouco vamos para São Paulo.

— E por que não me acordou?

— Porque quando cheguei aqui, vi você dessa forma. — Aponta para mim enquanto percebo seu pomo-de-adão subir e descer, engolindo em seco. Ele pergunta em seguida: — O que tem contra o ar-condicionado?

— Esse ar deve estar quebrado, porque passei calor à noite toda — explico.

— Não está não, funciona perfeitamente. Como sou um bom cavalheiro e, fiquei com medo de você pegar uma gripe, fechei a janela e aumentei o ar. Lembrando também que sou homem, portanto, resolvi ficar e admirar a paisagem que, por sinal, é uma paisagem de tirar o fôlego.

— Você é um otário.

— E você é delicioso.

Bato com o travesseiro nele, e ele ri.

— Saia logo do meu quarto! — grito.

— Vá se arrumar, vamos sair em uma hora. Arrume as malas. Se precisar de mais, tenho no meu quarto, é só pedir. Ah! Chegaram os pacotes da loja da Vera, eles estão no carro — diz, saindo do meu quarto e me dando uma boa visão da sua bunda.

Argh. Sinto vontade de me estapear.

Coloco uma roupa florida.

Gabriel está levando as malas para o carro e, toda vez que passa por mim, pego ele me olhando, até que não aguento mais.

— Algum problema com meu short? — pergunto, me sentindo despido.

— Não, por quê? Está lindo. — Ele para, colocando a última mala no chão.

— Você fica me olhando como se fosse um erro usá-lo.

— E é, já que está me distraindo — diz, me olhando de cima a baixo, descaradamente.

— Estou te distraindo? — Por que tinha que perguntar?

Preciso parar de ser curiosa.

— Sim, ele é perfeito. Fico pensando em como seria arrancá-lo do seu corpo, e isso me distrai pra caramba — responde, como se fosse uma coisa normal a se dizer.

— Posso tirar — Assim que as palavras saem, ele arregala os olhos, me fazendo perceber o que acabei de dizer. — Não é o que está pensando... Eu...

Quer dizer... Eu posso pôr outro se você quiser.

Me atrapalho todo.

— Você não tem nem ideia do que estou pensando. Não sabe o que está causando em mim, então é melhor não dizer mais nada. — Suas pupilas dilatam.

Balanço a cabeça no automático, confirmando.

Não sei nada sobre essas coisas de ativo, porque nunca passei por isso. Lucas nunca me disse nada sobre o que falo ter o poder de provocar alguma coisa, apesar de não me lembrar de nenhuma conversa parecida com essa.

Gabriel é intenso, provocador e manipulador. Não posso me esquecer disso.

A viagem está sendo tranquila, pelo menos até agora. Ele argumenta que poderíamos ter ido de avião, mas como não gosta de voar, prefere dirigir. Usa o avião somente para viagens longas. Sim, ele tem um avião particular.

Estou quase perguntando o que não tem.

Talvez o coração, porque no lugar deve ter uma pedra de gelo.

Paramos num posto no meio do caminho para comer, só porque praticamente implorei. Agora tem cinco SUVs pretos, estacionados do lado de fora, cada um num lugar diferente, com dois homens em cada carro.

Nenhum deles é autorizado a descer.

— Deveria alimentar seus homens.

Vá saber se eles comem direito? Nem sei como têm tempo para ficar grandões daquele jeito.

— Eles são treinados e bem preparados para esse tipo de situação. Qualquer mimo pode distraí-los. — Gabriel entra no modo Homem de negócios. Resumindo: chato.

Será que ele é bipolar?

— Ou poderia fazê-los gostarem mais de você e não te acharem tão...

Sei lá, idiota? — Mordo o salgado.

— São pagos para me proteger e não simplesmente gostar de mim.

Noto que seu tom de voz aumenta, está ficando bravo. Dou de ombros.

— Mas se gostassem, ajudariam mais o seu trabalho.

— Vai continuar com isso? Estou perdendo a fome. — Ele está muito bravo.

Pelo jeito, ele não gosta de ser questionado.

Rio internamente. Sei que estou pisando em um campo minado, mas não me importo.

— Mas, pense bem: eles te protegem... Se gostassem de você, ficariam felizes em te salvar quando precisasse, agora chato do jeito que é, bem capaz de te deixarem morrer. Eu deixaria!

— Chega! — Ele joga o prato de salgado na mesa e sai batendo o pé para fora da sala de refeição, chamando a atenção de todos a nossa volta.

Gosto de atingi-lo, talvez tenha achado o seu ponto fraco. Saboreio a comida até com mais gosto.

Antes de ir embora, pego seis salgados e dois refrigerantes para cada carro e o faço pagar.

— Samuel, não faça isso! Eu te proíbo. — Coloca toda a autoridade em sua voz, achando que eu ficaria com medo. Bem, confesso que um frio se instala na boca do meu estômago, mas ele não precisa saber disso.

Vou até os carros e entrego o lanche para cada um deles, que me agradecem e dizem que estavam mesmo com fome.

Olha, que crueldade! Se tivesse um patrão desses, não pensaria outra coisa senão mandá-lo à merda.

Gabriel me espera dentro do carro, impaciente. Sua expressão é dura, deve ter ficado puto porque não o obedeci.

— Está tudo bem? — pergunto assim que ele arranca com o carro.

Seu olhar é frio.

— Não, não está. Você é teimoso! Me desrespeitou na frente dos meus homens. Tem noção do que fez?

— Deveria ser mais gentil com as pessoas — retruco, petulante.

— Não sou gentil, está lembrado? Não tenho piedade. Precisa entender que não sou exatamente o que pensa que sou, e isso é só um aviso. Eu comando aqui, e você tem que fazer o que eu mando, estamos entendidos? — As palavras saem com uma frieza medonha. — Você entendeu?

Ele me força a responder.

— Entendi. — Me encolho, quieto.

Às vezes me esqueço com quem estou lidando, principalmente nos meus sonhos idiotas.

— Você me acha chato? — Gabriel pergunta depois de um bom tempo em silêncio.

Não esperava por essa, e obviamente não mentiria só porque ele é o fodão da galáxia.

— Com certeza.

Ele ri.

A tensão que paira entre nós passa.

Nunca viajei para tão longe, sempre vivi na região com meus pais e com o Lucas. Sinto a falta dele. Inclusive, queria muito vê-lo agora. Olho as paisagens passando e me sinto triste por dentro.

A distância pode parecer longa, mas vou mantê-los em meu coração para sempre.

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Comentários

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Enfrentar o Gabriel é bom mas desrespeitar ele na frente de outras pessoas, não acho que seja saudável.

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