Pouco antes da fama – parte 2

Um conto erótico de Dan-Dan
Categoria: Heterossexual
Contém 7607 palavras
Data: 23/05/2022 05:25:40

Nossa mente é incrível e nunca totalmente controlada por nós. Cada vez que recordo momentos do meu passado, pensando neles com a experiência acumulada da vida, muitas coisas ganham novos sentidos e significados. Mas recordar as sensações que tivemos na altura dos fatos sempre nos remete a emoções guardadas. E às vezes descobrimos novos detalhes.

Eu dormi, naquela noite na pousada, agitada com sonhos estranhos, acordava angustiada, a sensação de que eu queria rever o Leopoldo, mas não o achava entre muitos homens que eu via pela rua. A sensação era de que perdia na multidão. Despertava de tempos em tempos.

A primeira noite com ele deixara minha alma inquieta. Mas era somente a primeira noite. Acordei perto do meio-dia com nova esperança. Ainda teríamos outras chances. E eu sonhava em repetir tudo.

Fiquei alguns minutos na cama da pousada, rememorando passagens e sensações deliciosas da noite anterior. A primeira impressão que tive ao entrarmos na suíte do motel, um ambiente totalmente surpreendente para mim, eu nos braços do Leopoldo, lavada no colo, naquele gesto tão romântico e significativo como num filme de amor, sentia estar numa onda encantadora de paixão.

Hoje, ao escrever como aconteceu, fico recordando. Estava sendo levada para um ninho de amor, nos braços do homem que havia me seduzido durante o dia com seu charme, sua elegância, e também sua simplicidade. E acontecia sem que tivesse feito nada que sugerisse algo sexual, era apenas o exercício do seu poder masculino e viril de sedução e eu naquela noite fiquei logo apaixonada. Quando ele pegou no meu pé, soltou minha sandália e me descalçou, com uma delicadeza imensa, eu percebi que ele teria o que quisesse de mim. Meu corpo estava inteiro arrepiado e sensível. Ele me deixou de pé sobre a cama, para que pudesse retirar toda a minha roupa lentamente, e abraçados, ficamos trocando beijos. Ao me ver totalmente nua, bronzeada pelo sol das praias nordestinas, com marcas sensuais dos biquínis que eu costumava usar, ele murmurou:

— Que delícia essa sua pele cor de chocolate.

Ele se mostrava encantado. Seus beijos eram quentes como uma brasa que não queima, e suas mãos deslizando suaves despertavam sensações que arrepiavam tudo.

Ele também me deixou retirar sua roupa. O contraste de nossas peles, escura e clara, eram um estímulo a mais. Havia o perfume que se emanava do corpo e também o cheiro da excitação em nossas partes íntimas. Nossa respiração era intensa e forte. A emoção à flor da pele. Estávamos tomados por uma volúpia incrível.

Na minha memória, naquela manhã na pensão, recordando as sensações, ainda deitada, me lembrei da letra de uma das canções que eu adorava cantar:

“Queima como fogo, mas é doce feito mel”

“Arde igual pimenta, mas refresca feito hortelã”

“De fazer estrela, onde nem sequer existe céu”

“Este nosso amor, fala de tudo até de manhã”

Eu tinha que me levantar, e me arrumar, porque em poucas horas voltaríamos ao estúdio. E queria estar preparada para ficar atraente e desejável.

Depois do banho, eu caprichei no creme hidratante da pele, pois queria que estivesse macia e cheirosa. Quem tem pele escura de preto sabe como é importante manter sempre hidratada senão fica feia e sem brilho. Escolhi uma calcinha bem pequenina, de rendinha branca e não usei sutiã. Coloquei um vestido de seda artificial de poliéster cor de vinho, estampado de flores brancas bem pequeninas, um modelo estilo Boho, sem costas e muito gracioso, uma parte frontal superior como um top que cobria até pouco acima da metade dos seios, e ficava preso por alcinhas que se cruzam nas costas. Abaixo dos seios ele tinha uma faixa de uns quinze centímetros com elásticos que fazia ficar bem coladinho, mas depois descia soltinho e meio folgado e que ficava curto até no meio das coxas. Calcei as mesmas sandálias delicadas do dia anterior. Não levara muitos calçados numa bagagem reduzida. Para aquela viagem eu havia feito um tratamento de hidratação nos cabelos que os deixara muito macios e cheio de cachos. Escovei cuidadosamente e prendi com uma fita de veludo preto, dando um laço atrás da nuca e usei uma técnica que havia aprendido com minha mãe. Depois de dar a volta no cabelo com a fita e cruzar como se fosse dar o laço, enfiei as duas pontas por dentro do cabelo acima da volta, cruzei novamente por fora e dei o laço, impedindo que mesmo meio folgado o laço não despencasse. Deixava meu cabelo preso, mas meio soltinho ajudando que tivesse um caimento natural. Na época eu praticamente não usava maquiagem, era muito pouca, apenas nos olhos, e um batom bem natural só para dar um realce nos lábios.

Me olhei no espelho e gostei do que vi. Desci para o refeitório da pensão, passava do meio-dia, onde havia suco de laranja, uma cesta grande com frutas, e numa bancada a garrava térmica com café. Às duas da tarde iríamos almoçar pois às quinze horas seguiríamos para o estúdio. Os turnos de gravação iam de dezesseis horas até às vinte e uma. Depois havia um intervalo para um lanche e o novo turno começava às vinte e duas horas, e se estendia até às quatro da madrugada.

Quando chegamos no estúdio, o Leopoldo estava acabando de organizar com os técnicos a programação dos trabalhos. O produtor me disse que eu poderia gravar novamente o canto, aproveitando as faixas cujas bases já estavam prontas. Isso ajudava para eles estudarem o que faltava e servia de preparo para quando eu pudesse colocar a voz definitiva. Eles eram todos profissionais experientes e a iniciante era eu. Além de ser a mais nova. Enquanto eles preparavam as fitas, e conversavam sobre o trabalho eu fui para a cozinha e aquecendo um pouco de água fiz os exercícios para aquecer as cordas vocais. Muitas pessoas não sabem desses detalhes, mas um cantor ou cantora, tem a voz como um instrumento, e precisa aquecer, afinar, exercitar, como um atleta faz antes de disputar uma prova. Nos estúdios, devido ao ar refrigerado, o ambiente fica seco, e é perigoso. Sem esses cuidados, podemos fazer esforços repentinos, desenvolver calos nas cordas, e perderemos totalmente a afinação. Quando eu estava quase terminando, e todos os músicos ainda estavam no estúdio ouvindo novamente as faixas gravadas, o Leopoldo apareceu na sala que era cozinha e refeitório, simpático, embora formal, e me disse:

— No primeiro turno, você vai gravar as faixas que já estão com as bases praticamente prontas. Acho que vai ser fácil para você, pois já está bem ensaiada. Aí, no segundo turno eles têm mais faixas para gravar bases, e você não tem mais o que fazer aqui por hoje. Se quiser podemos dar outro passeio.

Sorri muito contente, e concordei. Embora ele me tratasse com toda a formalidade e educação, eu vi no olhar dele uma animação que antes não havia. Só de ver aquele homem de mais de trinta anos, sedutor me observando com aquela expressão maliciosa, me sentia arrepiada. É diferente ser olhada com desejo cúpido e ser olhada com desejo do encanto. Ele falou com jeito maroto:

— Vou ter que usar o carro. Se colocar você assim na garupa da moto, vamos provocar acidente no trânsito.

Eu sorri meio sem-graça, e nada disse. No fundo percebi que ele me admirava e gostava do que havia visto. Em quinze minutos de preparação eu já estava pronta, as cordas vocais aquecidas e fui para o estúdio. A maioria dos músicos ficava na sala da técnica, na hora que eu ia colocar voz. As bases estavam gravadas e eu ouvia nos fones, para cantar já ouvindo uma reprodução com os demais canais ainda não mixados, mas me permitia sentir a força do arranjo, e me inspirava

Parecia que naquela tarde eu estava encantada. Minha voz soava solta, límpida, e eu conseguia até brincar com ela me arriscando em alcances de tons que eu antes nem tentava. Leopoldo e o Produtor estavam sempre gesticulando, entusiasmados, e quando eu terminava de cantar ouvia no call-back os elogios. Com isso, as músicas foram sendo gravadas quase sem repetições, e o trabalho rendia bem. Em certa hora, quando terminei uma canção ouvi o produtor dizer:

— Perfeito. Se melhorar estraga! Nunca vi uma cantora acertar tanto de primeira.

Agradeci e o Leopoldo falou:

— De jeito que está indo, vai acabar sua parte antes da metade do tempo. Se conseguir isso eu lhe dou de prêmio outro passeio pela cidade. Assim eles terão mais tempo para acertar os arranjos, com solos finais e a mixagem. Vou levar você para ver a cidade de um mirante, bem do alto de um morro.

Para quem já estava feliz, aquilo serviu para me deixar mais animada. As gravações continuaram e realmente, eu estava tão inspirada que tudo fluía maravilhosamente. Consegui colocar voz, sem errar, em mais três canções e tinha sido mesmo muito rápido. O produtor disse que aquelas canções estavam praticamente prontas, iriam colocar alguns solos em faixas adicionais e depois tentariam uma mixagem de teste, para que no dia seguinte a gente pudesse avaliar o resultado.

Pronto, tínhamos terminado de colocar voz nas faixas prontas, antes do intervalo do lanche. Leopoldo combinou tudo para que entregassem as comidas, deu mais instruções aos técnicos, e me chamou para irmos passear. Ele avisou:

— Jantaremos durante o passeio. Não se preocupe.

Daquela vez não fomos de moto. Leopoldo tinha um jipe pequenino, preto, lindo. Era importado, cheirava a novo, eu nunca tinha visto um igual. Um Suzuki Vitara.

Tinha bancos de couro cinzentos, ar-condicionado, vidros elétricos. A coisa mais linda. Fiquei logo encantada. Logo que saímos do estacionamento do estúdio o Leopoldo disse:

— Vou levar você para jantar num restaurante tradicional daqui, bem famoso, onde muitos artistas frequentam. É um lugar que se come muito bem, com preços honestos.

Não era longe. Enquanto conversava com Leopoldo ele conduzia descendo a praia de Botafogo em direção ao bairro do Flamengo e entrou por uma rua cheia de prédios enfileirados dos dois lados, chamada Senador Vergueiro e seguiu até o final, numa pracinha chamada José de Alencar, virou à esquerda e procurou estacionamento. Achou uma vaga na rua Marquês de Abrantes. Aqui conto uma particularidade que só me lembro de ter visto no Rio de Janeiro. Os carros ficavam estacionados dos dois lados da rua, junto do passeio. Parecia que não havia vaga, mas logo surgia um “flanelinha” e fazia sinal. Os carros ficavam no plano, desengatados das marchas e sem o feio de mão. Então, o guardador empurrava um pouco cada um dos carros e logo se abria uma vaga para entrar mais um. Como havia rotatividade, sempre aparecia um modo de estacionar com o jeitinho carioca. Descemos e caminhamos até um local que parecia um Bar, chamado Café Lamas Restaurante. Vi na fachada uma placa que dizia existir desde 1874. Nossa! Fiquei admirada, tinha mais de cento e dezoito anos. Leopoldo explicou que considerando a data de fundação, era o restaurante mais antigo do Brasil. Ele me levou por um corredor entre um balcão de cafeteria e outro de doceria, e só então entramos num salão enorme, com umas quarenta mesas ou mais, todas com toalhas brancas, um ambiente com espelhos nas paredes, muito elegante embora discreto. E parecia que o ambiente já estava bem movimentado. Muitas mesas ocupadas. Logo apareceu um garçom simpático, com certa idade, careca, vestido com calças pretas e um casaco branco, e cumprimentou Leopoldo como se fossem bem conhecidos. Ele nos levou para uma mesa mais ao fundo, num segundo ambiente, um pouco mais longe da entrada, separado do salão principal por portas de vidro temperado. Ali haviam menos mesas, talvez umas dez apenas. Nas paredes fotos antigas do passado com celebridades e clientes antigos do estabelecimento. Até o ex presidente Getúlio Vargas estava nas fotos. Leopoldo, muito bem informado, falava contando da história do restaurante. Algumas pessoas ilustres tinham sido clientes como Manuel Bandeira, Monteiro Lobato, Machado de Assis, Cândido Portinari, Sérgio Buarque de Holanda e Oscar Niemeyer que ainda costumava aparecer por lá. Relatou do passado, o antigo local original na Rua do Catete, antes de se mudar em 1974, para aquele endereço, ao completar cem anos.

A mudança foi devido às obras de criação do Metrô do Rio de Janeiro que começaram nos anos setenta. Eu, maravilhada, meio nas nuvens de estar visitando locais onde grandes artistas e personalidades frequentavam, estava tentando assimilar tudo, como se nunca mais voltasse um dia a pisar ali. Queria reter na memória aquele instante. Mal sabia eu na altura que nos anos seguintes, seria uma cliente assídua daquele estabelecimento, aparecendo nas madrugadas, e também muito bem recepcionada, famosa, reconhecida pelas pessoas. Figuraria como mais uma artista a frequentar e divulgar o local.

Impossível não referir também que o memorável humorista e também compositor, Chico Anysio, fez em parceria com o Nonato Buzar, uma das mais lindas canções que celebra o Rio de Janeiro dos anos 50, chamada Rio Antigo, e que cita o Lamas restaurante na sua letra. Eu jamais esqueceria dessa canção por conta desse meu primeiro contato com aquele local de tamanha referência histórica.

Mas naquela primeira noite tudo era totalmente encantador e inusitado. A menina do interior, encantada com tudo aquilo, se sentia sonhando. Escolhemos nosso prato e aceitando uma dica do Leopoldo eu fiz questão de provar o bacalhau à Gomes de Sá, um dos pratos sugeridos como especialidade da casa. Enquanto esperávamos tomamos um drinque e eu pedi batida de coco. Para não negar a minha origem do Nordeste, sempre gostei de tudo que tem coco.

Tomamos nosso drinque esperando o jantar, e vi que o Leopoldo estava me olhando com muita atenção, mas eu não sabia exatamente o que ele tinha em mente. Intrigada eu perguntei:

— Você está me observando muito. O que é? Algo errado?

Leopoldo abriu aquele lindo sorriso, e cheio de simpatia explicou:

— Estou observando você, nos detalhes, e quero memorizar esses instantes, para sempre. Você é uma garota espetacular, e eu fiquei encantado.

Eu fiquei muito feliz, mas não tinha ainda a experiência, a educação e o refinamento dele, e na minha simplicidade disse:

— Se gostou tanto, pega para você. Leva e guarda. Senão outro leva.

Leopoldo explodiu numa bela gargalhada e parecia mesmo ter achado muita graça. Eu fiquei sem-graça e parei de sorrir observando. Ele esclareceu:

— O que eu mais gosto em você é que você é autêntica, não é dissimulada e me parece ser uma pessoa muito sincera. Eu realmente estou admirado no bom sentido. Mas não posso simplesmente levar você. Pegar eu quero, levar, também, mas não posso querer guardar...

Eu ia querer ouvir mais explicações mas chegou o nosso jantar e com a interrupção, o garçom servindo nossos pratos cortamos aquela conversa.

Jantamos num clima muito simpático, o bacalhau estava divino e o Leopoldo pediu um vinho branco português muito saboroso para acompanhar. Como não sou de beber muito, logo percebi que o vinho estava começando a aquecer as minhas orelhas, os mamilos e o baixo-ventre. E mais uma vez aquele homem me deu prova de saber seduzir sem perder a elegância.

Ele percebera que eu estava novamente excitada, notara meus mamilos pressionando o vestido, e colocou a mão sobre a minha, fazendo carícias suaves. Eu olhei para ele e sorri. Ele falou com voz muito suave:

— Eu quero levar você, depois, para conhecer o meu apartamento. Não é como no motel mas teremos conforto e tranquilidade. Você aceita?

Fiquei ali pensando na sutileza da mensagem, muito discreta. E sorri muito contente. Então respondi:

— Sem beijo não tem como. Nem me beijou ainda e já que me levar para sua casa?

Novamente ele deu uma boa gargalhada. Aprendi que ele era assim, espontâneo e ria divertido. Ele concordou abanando a cabeça e confessou:

— Não é falta de vontade. É respeito.

Ele viu que eu não tinha entendido e explicou:

— Você é uma moça bem jovem, que eu conheci há dois dias, está gravando no meu estúdio, é a minha cliente, o disco que gravamos será o seu primeiro, e eu fiquei encantado com você. Mas fico com muito receio de parecer que eu estou chamando você para sair, para me aproveitar. E não é isso. Se eu pudesse eu trancava você e jogava a chave fora. Mas não é assim que tem que ser.

Eu não sabia me fazer de desentendida e fui direta:

— Posso ser sincera? Você quer, eu quero, estamos juntos, está sendo ótimo, temos pouco tempo, a semana acaba rápido, vamos aproveitar agora. Amanhã a gente aproveita de novo... e pronto... depois a gente vê.

Nessa hora ele me segurou pela nuca, me puxou para junto dele e me deu um beijo na boca. Em seguida disse:

— Vou aprender muito com você. Está totalmente certa.

Acabamos de jantar, tomamos um café expresso com uma moedinha de chocolate sabor de menta, que deu uma mistura deliciosa. Mais uma sofisticação que eu nunca tinha visto. Anos depois, em Paris, após o jantar em um bistrô muito romântico, fui tomar um café expresso e novamente veio uma rodelinha de chocolate com menta, o que me remeteu para aquela primeira vez que provei e viciei. A seguir, eu e Leopoldo partimos para o tal apartamento. No carro, antes de partir, enquanto o “manobrista” puxava os carros para nos permitir sair da vaga, ainda demos uns beijos.

Não era longe para onde fomos. Ficava no Humaitá, na frente de uma praça muito simpática chamada Largo dos Leões. Leopoldo tinha um apartamento de três quartos, sendo um deles a suíte. Paramos o Vitara na vaga dele e subimos abraçados para o andar dele. Uma coisa que eu sentia com o Leopoldo, é que ele não era invasivo, nem abusivo, mas tinha uma serenidade tão masculina, tão segura, que me transmitia paz e ao mesmo tempo desejo. Queria ser abraçada, sentir seus braços, seus toques, sua presença viril, sem ser insinuante.

Ao entrar no apartamento, identifiquei a casa com o jeito dele. Poucos móveis em madeira, desenho clássico. A sala era feita por dois ambientes. Um com dois sofás e duas poltronas, com almofadas forradas de couro preto, e uma mesinha de centro baixa, retangular, sobre um tapete de palha trançada. Sobre a mesa uma panela preta de ferro com pés e dentro dela um vaso com uma planta. Na parede duas prateleiras onde na de cima ficava a aparelhagem de som, e na mais baixa discos e alguns objetos decorativos. Gostei muito de ver alguns bonecos do Mestre Vitalino, em cerâmica pintada, um símbolo da arte popular do Nordeste. Sobre um banco largo de madeira na parede oposta, frontal a um dos sofás uma televisão quadrada de umas vinte e nove polegadas.

Nas paredes alguns quadros muito bonitos, em diferentes estilos. Na segunda metade da sala, uma mesa de madeira avermelhada, parecia peroba, quadrada, para quatro lugares, e com quatro cadeiras da mesma madeira no estilo bem rústico, com acento de palha trançada. Da sala de jantar havia uma porta para a cozinha, também muito limpa e discreta. Geladeira e fogão, pintados na cor cinza, uma bancada de granito com prateleiras em baixo protegidas por uma cortininha de tecido xadrez vermelho e branco. No alto, em cima da bancada de granito também vi duas prateleiras e dois armários de madeira presos na parede. Havia uma bancada central na cozinha, tipo uma ilha, com dois banquinhos. Tudo parecia em ordem, arrumado, limpo e impecável. Perguntei:

— Você vive aqui? Sozinho?

— Sim, depois que me separei, vivo sozinho.

— Mas quem cuida e limpa para você?

— Tenho uma diarista que faz limpeza, e passa a roupa, uma vez por semana. Por quê?

Leopoldo me olhava intrigado e questionou.

— Tem medo que apareça uma mulher ciumenta e encontre você aqui?

— Não, bobo, claro que não, é porque eu nunca vi uma casa de homem tão bonitinha, arrumada e impecável como essa. Parece aquelas casas que vemos nas fotos de revista.

Leopoldo deu uma sonora gargalhada. Apertou o play de um aparelho de som e logo o sistema de pequenas caixas acústicas espalhado pelos cômodos inundou o ambiente de música. Um som instrumental delicioso, parecido com o Jazz, mas com muito mais suingue. Fiquei encantada, mas não deu para perguntar quem era. Leopoldo logo me abraçou. Ele disse:

— Sempre fui muito arrumado, organizado e cuidadoso. As mulheres é que bagunçam a minha vida.

Na minha impetuosa mania de falar o que me ocorresse eu disse:

— Comigo pode casar. Quero casar com você. Nisso a gente combina. Também sou cuidadosa e organizada. Não vou bagunçar a sua vida.

Abraçado, ele me suspendeu do chão, me deu um beijo no pescoço que me arrepiou toda. Falou:

— Você já bagunçou e nem sabe como.

Ele foi me levando nos braços para um corredor interno que dava para os três quartos, sendo que ao lado de um deles havia um banheiro. O segundo quarto, ficava em frente do lado oposto e era um escritório dele, e o terceiro quarto, após a porta do banheiro era a suíte dele. Tudo arrumado, impecável. Vi também um vaso de planta no banheiro, indicando que ele gostava de plantas. Aquele homem estava me fascinando. No quarto dele uma cama de casal quadrada, devia ter uns dois metros por dois, com dois cubos de madeira rustica dos lados, tipo caixotes, servindo como mesas de cabeceira. Sobre um deles uma luminária de leitura. Sobre a cabeceira da cama uma prateleira presa na parede com alguns livros.

Do lado um armário embutido até o teto, com seis portas, que ocupava toda uma parede e as duas portas do meio davam entrada para o banheiro da suíte. Do lado oposto, ficava a janela, coberta por uma persiana fina.

Uma pequena bancada presa na parede em frente ao pé da cama suportava outro aparelho de TV, um pouco menor. A cama estava coberta por uma colcha de Piquet cor de creme e se viam duas almofadas coloridas encostadas na cabeceira. Cada vez mais parecia casa de revista de decoração. Ele me colocou no chão, e deu um outro beijo no pé da orelha que me arrepiou inteira. Depois falou:

— Não fale essa palavra. Casar. Fiquei meio traumatizado. Mas eu entendi o seu elogio e fico satisfeito de me apaixonar por alguém que também gosta de tudo arrumado.

Animada pela palavra “apaixonar”, e abalada pela informação do trauma de casar, eu não sabia o que pensar. Queria questionar mas tinha medo de prosseguir.

Naquele instante o calor do corpo dele, e suas carícias me tiraram completamente a capacidade de pensar. Fomos nos acariciando, nos beijando e novamente ele me despiu calmamente, me beijando onde me despia, e me observando como se eu não fosse de verdade. Quando eu vi já estava nua, fora beijada em quase todo o corpo e minha pele escura se mostrava totalmente arrepiada. Ele me deitara sobre a cama, ficando de joelhos no chão.

Leopoldo me abriu delicadamente as coxas, ficou olhando como se examinasse a xoxota. Intrigada perguntei:

— O que foi? Não é a mesma que você chupou ontem?

Leopoldo deu uma sonora gargalhada bem divertida. Ele respondeu bem-humorado:

— É mais a mesma não, depois que eu chupo fica muito melhor. Mas é a bocetinha mais linda que eu já tive a chance de ver na minha vida. Me apaixonei.

Fui eu que achei graça. Ele cheirava minha virilha como se fosse um animal. Eu podia sentir a sua respiração quente na minha virilha e na xoxota e aquilo me deixava completamente arrepiada. Mergulhei meus dedos da mão esquerda nos cabelos dele e agarrei. Ele continuava a cheirar e disse:

— Você está no cio. Sinto o seu cheiro. É alucinantemente excitante.

Meu corpo vibrava e se arrepiava todo. Quando ele começou a passar a língua suavemente com delicadeza eu gemia e urrava, me contorcendo de prazer. Instintivamente, ergui as pernas sobradas e fiquei com as coxas abertas, separadas em V, me oferecendo para suas lambidas. Leopoldo deu uma parada, se afastou me observando e disse:

— Essa pose é uma das mais lindas e provocantes que eu acho. Você só com isso está me dizendo “Vem que eu sou sua”.

Quando ouvi aquilo eu senti uma onda de volúpia me invadindo, pois era exatamente o que eu sentia e queria expressar. Então Leopoldo passou a se dedicar a me proporcionar um prazer alucinante, lambendo, chupando, mordiscando, beijando e sugando a xoxota, prendia o clitóris, me fazendo entrar em ondas sucessivas de mini-orgasmos, que se seguiam num crescendo. Me deixei levar e de fato tive alguns orgasmos deliciosos com ele chupando. Finalmente quando ele me deu uma trégua de um minuto, eu suspirei. E falei:

— Eu fui chupada por bons amantes e ótimas mulheres experientes, mas como você eu nunca senti. Que loucura!

Ele riu e experiente falou:

— É a situação geral. Você pode comer excelentes pratos iguais em diferentes restaurantes, todos especiais, mas o que estiver na melhor companhia vai ter o melhor sabor e dará mais prazer.

Sorri encantada com a sabedoria dele e pedi que queria retribuir. Ele se deitou sobre a cama ao meu lado. Soltei suas calças, e em seguida puxei a cueca. Quando terminei de retirar sua cueca fiquei mais uma vez admirando aquele corpo elegante, firme, e seu membro claro, ereto, circuncidado, com a cabeça bem avermelhada, empinado e quase tocando em seu umbigo. Eu não tinha nenhuma timidez ou vergonha e fazia aquilo com tranquilidade e naturalidade. Fiquei de joelhos entre as suas pernas e me debrucei sobre o seu ventre. Dei uma lambida de leve sobre a glande e também, como ele fizera, aproveitei para cheirar e me deleitar com aquele cheiro delicioso do sexo quando emana seus hormônios despertadores da libido. Eu disse:

— Adoro um pinto, me estimula, me dá um tesão enorme. Gosto de bocetinha também, gosto por igual, mas não deixo de adorar um pau duro e tesudo.

Leopoldo sorria feliz e satisfeito e falou:

— Dan-Dan, você não existe! Não faça isso comigo.

Olhei meio assustada sem entender direito o que ele queria dizer, se estava contrariado ou insatisfeito. Mas ele parecia feliz. Perguntei:

— Não gosta que eu lamba o seu pinto?

— Eu adoro, adoro demais. Estou falando do seu modo de ser. Eu, depois de duas relações desfeitas, não tenho mais idade para me apaixonar de novo. Mas não vou resistir.

— Você então vai se apaixonar?

— Não, não vou.

Dei uma chupada na cabeça do pau e olhei para ele, fiz cara de safadinha e falei

— Quando eu já tinha esperança pronta você me nega?

Leopoldo sentia os solavancos do pau sincronizados com seus suspiros que agitavam seu ventre. Ele meio ofegante disse:

— Não vou me apaixonar, já apaixonei sua diabinha! Que loucura é essa?

Passei a lamber e depois chupar o pau dele com vontade, e quando eu sentia que ele suspirava muito forte e contraía os músculos do abdômen, eu parava e olhava para ele. Com a cabeça apoiada na almofada ele me observava sereno. Feliz. Uma de suas mãos me acariciava os cabelos e a outra ele agarrava forte na colcha.

Com os dedos de um dos pés enfiado entre as minhas coxas ele brincava delicadamente na entrada da minha xoxotinha. Era a primeira vez que um homem fazia aquilo comigo, e meu tesão me arrepiou inteira. Ataquei o cacete e chupei, tentando enfiar tudo até na garganta. Segurei um segundo e voltei atrás sugando forte. O caralho dava pulsos fortes. E ele enfiou o dedão do pé na minha xoxota. O desespero de volúpia que aquilo me deu me fez ofegar forte. Quis me assentar sobre o pé dele, mas ele movimentou o pé para baixo de forma que o dedão saiu de dentro e eu me esfreguei no peito do pé. Minha xoxota escorria de tão tarada. Não resisti e pedi:

— Mete agora, enfia aqui, eu quero dar para você, mete gostoso! Me fode de novo. Me faz gozar.

Leopoldo me puxou pelos cabelos com delicadeza, até que eu fiquei deitada sobre o seu corpo. Ele perguntou bem baixinho com voz sussurrada:

— Você toma pílula?

Eu fiz que sim, e ele então pediu:

— Vem, me engole, senta em cima e me fode com essa boceta mais linda.

Fiquei surpresa com a forma que ele usava, de ser eu a foder ele, e não o contrário. Mas excitada como estava me apoiei com os braços em seu peito, ergui um pouco o corpo sobre os joelhos e fui rebolando sobre aquele pau duro, me esfregando, encaixando a xoxota até que senti a cabeça da rola ser engolida pelos grandes lábios. Compreendi na hora o que ele dissera e fui me deixando ceder, meu corpo pressionando, e fazendo com que a minha xoxota fervente de desejo fosse engolindo aos poucos aquele pau delicioso que me invadia a boceta, espremido pelas minhas contrações de prazer. Numa atitude muito hábil ele criava a sensação de inversão, e era eu a ativa que me apossava do macho que se deixava possuir em toda a plenitude do tesão.

Eu sentia a rola dura e vibrante que eu recebia e ao mesmo tempo devorava. Sem controle eu comecei a me movimentar sobre ele, metia mexendo a pélvis enquanto ia pra cima e pra baixo sobre o seu ventre. Leopoldo sussurrava:

— Vem, me fode gostoso com essa bocetinha mais tesuda, sua safadinha! Gosta e devorar uma rola né? Que delícia!

Comecei a sentir um prazer enorme que me invadia, subindo desde a virilha ao ânus, na xoxota se espalhava pelo corpo em ondas sucessivas de muito tesão. Leopoldo agarrou meus dois seios, um com cada mão e apertava deliciosamente, como se me ordenhasse suavemente.

Meu prazer foi redobrado com aquelas sensações. Olhei em seus olhos e vi aquelas duas contas azuis brilhando e seu semblante de felicidade com a ponta da língua entre os lábios. O êxtase veio crescendo, aumentando, invadindo cada parte do corpo. E gemendo e suspirando forte, deliciada, gozei novamente como poucas vezes eu tivera. Novamente aquela sensação de que o pênis dele parecia ter sido feito na medida para a minha xoxotinha. Se encaixava inteiro, me preenchia completamente, mas não provocava dor, não incomodava, por isso o prazer era tão intenso. Me recordava de ter feito sexo com o Lírio e outros dois parceiros eventuais que eram mais dotados, e não transmitiam tanto prazer, pois às vezes, conforme o ímpeto até incomodavam e ficava desconfortável. E sentir o calor daquela pica vibrante e rija que entrava e saía da minha vagina daquele jeito delicioso, deslizando na minha mucosa, lubrificado nos meus fluidos, penetrava fundo a ponto de eu sentir meu útero tocado, mas sem forçar ou doer. Com isso em três minutos quando percebi que Leopoldo estava entrando em orgasmo, jorrando golfadas de porra dentro do meu útero, eu tive de novo um novo êxtase tão grande, que novamente ao gozar ejaculei jatos de um líquido que brotava com minhas ondas de prazer inebriante. Depois de um minuto de quase entrar em colapso de prazer, senti que ia desfalecer nos braços dele. Logo perdi completamente a noção de tempo.

Acho que fiquei um minuto apagada, uma sensação de nascer de novo. Ao recobrar os sentidos estava aninhada nos braços do Leopoldo que me acariciava suavemente. Dei um beijo nele, e não resisti. Cantei para ele:

“Não adianta nem me abandonar, nem ficar tão apaixonado, que nada, que não sabe nadar, e que morre afogado por mim! ”

Leopoldo sorria e completou:

“ Mistério sempre há de pintar por aí...”

Ficamos ainda por alguns minutos em silêncio desfrutando daqueles momentos maravilhosos de intimidade. Eu sentia a minha xoxota toda melada e escorrendo, mas Leopoldo nem se incomodava de termos molhado a cama dele. Depois, ele me beijou e se levantou, me pegou em seus braços novamente e me levou para o banheiro. Seus gestos se repetiam como da primeira vez. Entrou no box, abriu o chuveiro e esperou a água ficar temperada, nem quente demais e nem fria, e apontou sobre uma prateleira de vidro temperado uma cestinha com toucas plásticas para proteger o cabelo. Vesti uma delas e a seguir entramos sob a água.

Mais uma vez ele me deu banho com carícias deliciosas que eu também pude retribuir. Como se lesse os meus pensamentos ele falou:

— Eu também adoro o momento do banho. Gosto muito de água e sempre sinto que água e sexo combinam muito bem. Notei que você também gosta.

— Eu não disse nada. Como você sabe que eu gosto?

Ele sorria e falou algo que na hora eu não entendi direito:

— Eu sou meio bruxo, tenho uma sensibilidade enorme para pressentir certas coisas. Do mesmo jeito que ao ver você entrar no estúdio no primeiro dia, era como se eu já esperasse que um dia você iria aparecer.

Nossa, ao ouvir aquilo me senti emocionada. Meu coração disparou. A única coisa que consegui dizer foi:

— Por favor, você vai ter a eterna responsabilidade por todo coração que cativou.

Ele apenas me beijou. Depois falou em voz baixa:

— Não sou pequeno e muito menos príncipe.

Depois, calado, ele me deu banho como gostava de fazer. Aquele banho juntos novamente nos encheu de volúpia. Leopoldo me beijava, acariciava, chupava os mamilos de um jeito delicioso. Sempre carinhoso e envolvente. Mas não passamos daquelas carícias. Leopoldo disse que iria preparar um drinque para nós. Nos enxugamos sempre com carinho e depois, ambos sem roupa seguimos para a cozinha. Ele me colocou sentadinha num banquinho, diante da bancada, serviu um pouco de vinho tinto suave numa taça, e colocou uma tijelinha com castanhas de caju torradas. Para uma nordestina aquilo era o máximo. Ele se serviu também de vinho e me chamou para irmos nos sentar na sala. Levei a tijelinha de castanhas e ele as duas taças. Nos sentamos lado a lado no sofá. A música de jazz muito gostosa ainda tocava no ambiente, e eu quis saber quem era. Leopoldo revelou:

— Esse é o Stanley Clarke, um compositor de jazz, e pop rock. Originário da Filadélfia, é negro. Toca baixo elétrico e contrabaixo. É muito respeitado por seu trabalho inovador. Tem excelentes trabalhos, lançou vários álbuns e eu sou um admirador. Ele já trabalhou fazendo trilhas para o cinema e a TV. A música que está tocando agora se chama Justice's Groove.

Eu fiquei encantada e admirada por ter a oportunidade de conhecer mais sobre artistas e músicas que eu desconhecia. E Leopoldo era um grande conhecedor. Ficamos na sala ouvindo música, bebendo vinho e conversando por mais de uma hora. Leopoldo também me apresentou um outro músico que eu desconhecia. Ele colocou para tocar um tal de John Mayall. Fundador da banda John Mayall & the Bluesbreaker. Eu também nunca ouvira falar dele. Um jazzista branco que tinha alma de negro e foi um dos principais responsáveis pela fusão do Jazz e do Blues. É um cantor e também compositor, de origem inglesa, multi-instrumentista.

Nossa, eu estava deslumbrada e pela primeira vez eu me via nua sentada com intimidade, ao lado de um homem muito atraente e viril, e nossa prioridade não era apenas o sexo. Leopoldo me dava atenção, não era ansioso, mesmo sendo muito sensual não perdia a ternura. Eu não resisti e falei:

— Sobre aquela conversa de apaixonar. Eu estou apaixonada. Nunca me senti assim antes.

Leopoldo me deu um beijo muito carinhoso, e falou:

— Eu também estou, mas isso a gente não pode deixar acontecer, pois pode nos fazer sofrer.

Olhei para ele sem entender direito. Ele explicou:

— Você termina esse disco que vai gravar agora, viaja, vai ter a seguir uma turnê para sua apresentação ao mercado, primeiro regional, e depois será nacional, terá imprensa, jornalistas, fãs, admiradores, uma agenda lotada de compromissos, e é a prioridade da sua vida agora. Não pode fazer nada e tem que levar isso muito a sério. Não podemos imaginar uma relação nossa agora. Vai atrapalhar tudo.

Eu olhava angustiada, me sentia triste, perdida e desiludida. Mas sabia que ele falava a verdade. Eu esbocei uma pergunta:

— Mas eu gosto de você, você gosta de mim?

— Gosto muito, mais do que gostar, sinto uma paixão de dar febre. Mas não posso perder a noção das coisas. Vamos ter calma.

— O que você está dizendo? Não me quer?

— Eu quero muito Dan-Dan. Mas primeiro vem a sua fama. Estamos antes da fama. Vamos ter paciência. Eu vou esperar você alcançar o sucesso que virá. Com ele muitas experiências e mais maturidade. Vamos nos encontrar muitas vezes, matar a saudade, mas sem deixar que exista declaradamente uma relação. Seremos discretos. Mais adiante, você saberá que eu tenho razão e tudo tem seu tempo.

Eu estava triste e emocionada.

— Mas eu quero você agora.

— Leopoldo me abraçou aconchegante e disse:

— Você já tem. Não vou a lugar algum. Não quero relacionamento com ninguém. Tenho minha vida estável. Você sabe onde eu estou e quando der vamos nos encontrar em segredo. Matar a saudade. Sou capaz de esperar você. Cada coisa tem o seu tempo e lugar.

Naquela hora eu estava bem abalada, e triste. Fiquei bem deprimida, mas ele me beijava, me acarinhava e eu fui ficando mais envolvida. Ele disse:

— Aproveite o momento. Temos o agora. Amanhã é depois, não é isso que me disse?

Eu sorri. Era verdade. Nos abraçamos e ele me levou novamente para o quarto. E tivemos mais duas horas deliciosas de carinhos, afagos, carícias, excitação, desejo, entrega e fizemos sexo daquela forma arrebatadora que cada uma era melhor do que a outra. Quando vimos já estava na hora de retornar ao estúdio e depois de outro banho gostoso nos vestimos e fomos embora.

Eu ao mesmo tempo que estava alucinadamente encantada, sofria com a consciência da verdade. Se eu soubesse o que eu passaria distante dele, não teria feito nada do que fiz. Mas eu não sabia. E tudo decorreu como ele havia previsto.

Nos dias seguintes os trabalhos de gravação tomavam menos o meu tempo do que o dos músicos. Eu tive uma facilidade enorme de colocar a voz em todas as faixas e depois, enquanto os técnicos, músicos e o produtor se encarregavam de finalizar as gravações, eu sempre tinha uma folga para sair com o Leopoldo e além de alguns passeios maravilhosos com ele, tínhamos nosso momento íntimo que a cada vez ficava mais gostoso. Depois de dez dias, o disco estava com as mixagens prontas, e o trabalho chegou ao final. A despedida foi muito dolorosa, pois além de desfrutar de momentos deliciosos com o Leopoldo, eu tive que encarar o dia de partida.

Voltei com o produtor e os músicos para o Nordeste, e deixei Leopoldo, como ele mesmo me disse, com todos os quatro pneus arriados e sem sobressalente.

Na bagagem, levávamos as fitas com a cópia das mixagens das músicas, prontas para serem enviadas à gravadora. O disco seria masterizado, feita capa e depois prensado. Não era um investimento pequeno e o produtor estava dando o melhor possível.

No começo, eu falava quase todas as noites com Leopoldo por telefone, mas a conta começou a vir alta para ambos pois nos revezávamos para ligar. No mês seguinte diminuímos para duas vezes por semana, e já no terceiro mês para uma vez por semana. A saudade era imensa, mas a satisfação de saber que estávamos alimentando aquela paixão, mesmo com a distância, me mantinha encantada. Mas ambos estávamos sentindo muita falta de sexo. Eu sofria assédios constantes.

Não eram somente de alguns antigos parceiros eventuais, ou de algumas amigas, mas também do Lírio que quando voltava de alguma viagem me visitava. Nessa altura eu estava vivendo numa pequena quitinete alugada, na capital, para ficar mais fácil de atender as apresentações que o produtor marcava. Com o Lírio, fui sincera e contei o que havia acontecido, que estava apaixonada pelo Leopoldo e não queria misturar mais nada. Ele compreendeu, sorriu e falou:

— Não esquente com isso. Sexo não arranca pedaço. Ficar sem sexo faz mal. Fale com o Leopoldo, e se libertem para satisfazer a necessidade do desejo. Não se preocupe, fale com ele e me conte.

— Eu na hora não entendi muito bem o que o Lírio me disse, mas resolvi no dia seguinte conversar com Leopoldo e contar o que acontecia. Para minha surpresa, ele sorriu e disse:

— Demorou para despertar. O Lírio tem razão. Você tem dezoito anos ainda, está no auge da sua curva de hormônios, sexo para você é vital. Eu sabia que ia chegar uma hora que teríamos que encarar isso. Só não podia dizer antes de você me contar.

Eu bem embaralhada não sabia se ficava revoltada ou se achava bom. Eu perguntei:

— Mas, você acha que tudo bem? Se eu ficar com alguém, você como fica?

Ouvi o Leopoldo respirar fundo, esperar uns segundos, talvez encontrando a melhor forma de dizer:

— Dan-Dan, eu vou ficar como estou. Louco de tesão em você. Vou morrer de inveja do felizardo que ficar com você, vou até sofrer um pouco, com ciúme e raiva dele, mas vou superar, porque eu adoro você, e sei que isso não vai arrancar pedaço como diz o Lírio, e se você gostar de mim, não vai deixar de gostar por conta disso.

Eu sem entender perguntei:

— Você gosta mesmo de mim?

— Dan-Dan, eu não gosto, eu tenho enorme paixão por você. Mas justamente por isso, que eu entendo que se você fizer sexo com alguém, não deixará de gostar de mim e nem eu de você.

Eu estava tão desnorteada com aquilo que nem disse nada. Leopoldo perguntou:

— O Lírio foi seu primeiro homem, não foi?

— Sim, foi.

— Você gostou e gosta dele por isso mesmo, não é?

— Sim, é, mas agora eu gosto muito mais de você.

— Muito bem. Imaginemos que você faça sexo com o Lírio, como já fez, vai deixar de gostar de mim por isso?

— Claro que não! É diferente.

— Então, está respondido. Eu não vou deixar você passando necessidade por conta da nossa distância. Nesta fase, nossa relação tem que ser mesmo aberta. Não vejo nada de mal nisso. Mesmo que eu adore você, não tenho o deito de ser egoísta.

Eu não resisti e perguntei:

— Quer dizer que você também poderá ter as suas aventuras por aí, sair com outras?

— Dan-Dan, isso é verdade. Já era assim antes de conhecer você, e hoje, depois de conhecer você eu nem tenho vontade de sair com ninguém. Mas se aparecer alguém que me desperte a vontade, poderei sair, sem deixar de gostar de você como eu gosto.

Fiquei meio calada. Não sabia o que falar. Mesmo sendo uma pessoa liberal, ainda estava agindo como os padrões que todos seguiam. Perguntei:

— E se um de nós se apaixonar por outro?

Leopoldo deu uma gargalhada e eu fiquei meio puta com aquilo. Mas ele disse:

— Se você achar alguém que desperte em você uma paixão a ponto de superar a nossa, eu recomendo que abrace com todas as forças. Não tenha medo.

Não resisti e perguntei:

— E se acontecer com você?

Ele respondeu irônico:

— Por isso que eu ri. Imagina se vai aparecer uma deusa de dezoito anos, linda, da cor do pecado, amante imbatível, deliciosa, sem frescura, verdadeira, honesta, simpática, inteligente, cantando como uma diva, e que se encante por mim, como foi com você. Acha mesmo que isso pode acontecer assim tão fácil? Se acontecer isso eu vou querer as duas.

Não aguentei e dei risada. O filho da puta era inteligente e de um bom-humor fora de série.

Insisti:

— Quer dizer que você está liberando geral, sem restrições? Posso fazer o que eu quiser?

Leopoldo respondeu:

— Não estou liberando, porque nunca pedi nem restringi nada de você. A única coisa que eu quero de você é cuidado com o que faz da sua vida, que se dê ao respeito, se valorize.

Ele fez uma pausa, e emendou:

— Mas tem uma coisa que exijo. Seja feliz, faça o que tiver vontade e não deixe de me guardar no seu coração. Ah, e seja sempre sincera. Não me esconda nada. Eu serei sempre dessa forma. Verdadeiro com você.

Fiquei calada, e na hora senti tanta emoção que comecei a chorar em silêncio, as lágrimas desciam sem parar, nem conseguia mais falar. A vontade que eu tinha era de parar tudo e viajar para o Rio de Janeiro, de ficar com ele, abraçar e não sair mais de perto.

Leopoldo disse:

— Dan-Dan, não chore. A gente vai ser feliz. Eu já sou feliz de ter conhecido você.

— Não estou chorando. Como sabe?

— Ele riu e respondeu:

— O bruxo aqui poderia até ser seu pai. Não preciso ver para saber.

Sem argumentos eu disse:

— Você não existe.

Ele riu daquele jeito divertido, bem-humorado e respondeu:

— Então, aproveite o que está ao seu alcance. Não sofra pelo que não existe.

Eu não queria terminar a ligação dando um ponto final naquilo, então, disse que iria pensar e voltaria a conversar com ele. Nos despedimos como sempre muito carinhosos. E meu coração estava tropeçando sem saber como agir. Mas no dia seguinte, voltei a ligar e falei que ia tentar, para ver o que acontecia. Leopoldo disse que era o melhor a fazer, e que depois queria saber como eu tinha feito.

Estava nervosa, mas também sentia muita saudade de ter um sexo gratificante. Esperei a próxima visita do Lírio com uma certa ansiedade.

Prometo que logo que puder voltarei a contar como foi.

Espero que tenham gostado. Beijos. Dan-Dan.

Continua.

Vi que alguns autores colocam um lembrete no final dos seus contos. Então farei igual. Não quero a minha história publicada em outros locais por terceiros sem a minha autorização: “Esta história não deve ser copiada ou reproduzida em outros blogs e sites. Tem direitos autorais reservados”. Obrigada.

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Comentários

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Dan-Dan- Eu vi que você já publicou várias partes da sua história. Que bom. Desculpe eu não ter vindo comentar. Vou ler cada uma e comentarei. Estava mergulhado nos meus trabalhos. Está excelente. Texto impecável e narrativa muito agradável, leve e detalhada. Parabéns.

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Que história Dandan... Muito boa parabéns

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Obrigada Dany/Joana, fico agradecida mesmo. Volte sempre.

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Obrigada Fer_Nanda. Eu escrevi essas minhas histórias faz tempo, mas só agora me decidi a publicar. Fica minha gratidão.

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Ellen_Zinha, eu relutei muito tempo para contar minha história. Agora, estou criando coragem. Obrigada.

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Fico muito contente e feliz Saori_ishkawa. Carinho sempre gera carinho. Obrigada.

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Querida Lívia Pepper, ainda tem muita história por contar. Recebo o seu beijo com muita satisfação e carinho. Obrigada.

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Apenas um adendo: o restaurante mais antigo em funcionamento no Brasil é o Restaurante Leite, que fica aqui no meu país Recife. Inaugurou em 1882.

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Olá JMFN - Agradeço sua contribuição. Se você sabe ler e interpretar textos vamos lá: "Vi na fachada uma placa que dizia existir desde 1874. Nossa! Fiquei admirada, tinha mais de cento e dezoito anos. (Naquela época) Leopoldo explicou que "considerando a data de fundação", era o restaurante mais antigo do Brasil. (reparou entre as aspas?) Relatou do passado, o antigo local original na Rua do Catete, antes de se mudar em 1974, para aquele endereço, ao completar cem anos. A mudança foi devido às obras de criação do Metrô do Rio de Janeiro" - Ou seja, tive o cuidado de deixar todas as informações bem claras, explicando tudo, mas sempre aparece alguém que acha que eu disse algo diferente sem se ater ao detalhe esclarecedor. Não estava criando uma disputa entre restaurantes mais antigos, mas destacando a informação específica de um restaurante que me foi muito querido por muitos anos. Espero ter esclarecido. Se você gostou do meu conto, fico feliz. Obrigada.

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Bandeira branca, querida autora.

Não teci o comentário com o intuito de menosprezar a sua minuciosa descrição. E nem poderia: perto da grandiosidade da sua história, meu comentário é insignificante. Talvez eu tenha sido mal interpretado ao falar da minha terra e essa confusão começou. Tampouco queria criar uma disputa, visto que a minha intenção era encerrar esse assunto com humor, afinal, até onde eu sei, não existe algo como uma "agência fiscalizadora dos recordes de restaurantes antigos".

Ps.: Sei ler e interpretar razoavelmente bem. Infelizmente, as minhas palavras é que foram mal interpretadas. Vida que segue...

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Desculpe JMFN, eu reagi preocupada, pois parecia que a questão levantada estava levando o foco do assunto para outro lado. Acho legítimo você enaltecer a antiguidade do restaurante da sua terra. Temos que dar valor mesmo. Estamos em paz. Fique tranquilo. A propósito adoro sua terra, pois a origem de parte de minha família e da família de meu marido vem de lá.

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Cheguei pra ler um conto e fiquei com o coração bem apertado pelo seu sofrimento. A cada linha que se passava eu senti cada vez mais vontade de te abraçar bem apertado e dizer que tudo vai dar certo. O Leopoldo tem mais maturidade que você e eu, pois eu tava quase gritando aqui pra você largar tudo e viver com ele. 🤣🤣🤣

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Calma amigos. Eu estou ainda no começo da minha história. Muita coisa ainda por acontecer - repararam: UM pouco Antes da Fama? - então.

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Lindo, querida!

Palavras do Max ao terminar de ler:

"Dan-Dan e Leopoldo, na verdade, são seres celestiais que vagam pelo espaço e pelo tempo desde a criação. Com o propósito de colocar mais diversão no mundo, criaram Eros e as ninfas."

Muito bom. Esse Max é uma figura. Como não amar?

3 estrelas, querida.

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Jaque, agradecida. Conselho de amiga? Segura o seu homem. Só divida com quem gosta mais de você do que dele. hehehe. A fila dele está enorme... Como esse, e o Leopoldo fica difícil achar... Mas existem. Ouvi dizer que aí na sua cidade tem alguns... Raros exemplares.

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Fodástico! Dan-Dan, você é pica! (Ou seria Xota? Tá valendo, isso? Fica mais correto? De qualquer forma, é dito com carinho e respeito.)

3 super estrelas.

Ah! Como bom carioca, preciso dizer: além do bacalhau Gomes de Sá, o Lamas tem também o Filé que é considerado o melhor da cidade, patrimônio gastronômico do Rio. Meu pai sempre comprava. Espetacular.

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Meu primeiro leitor hoje! Obrigada! Eu posso lhe confessar. Até aquela data, nunca havia comido um bacalhau a Gomes de Sá. Aliás, antes da turnê que fiz no ano anterior, nunca tinha comido em restaurante. Imagine o impacto que foi. Agradeço seu elogio. Pelo Leopoldo ele diria você é "bocetinha" mesmo!

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