O Início do semestre letivo é sempre uma agitação nos corredores da universidade. É claro que para os veteranos essa é uma data muito esperada, afinal, assistir calouros sem saber o que fazer cheios de sonhos e expectativas é um bom passa tempo. Sem contar os trotes que, pessoalmente, acho um desperdício de tempo, mas acontecem aos montes, mesmo sendo proibidos no campus.
Foi em um dia como esse que a conheci, Alice. Me abordou no corredor, um pouco atordoada pela agitação do dia, e por estar com pressa, aparentemente. “Com licença, o Sr. Poderia me dizer aonde ficar o prédio 21?” “o setor financeiro, certo?” confirmei a informação, “ são dois prédios a direita desse em que estamos.” Disse logo em seguida. Ela me encarou com um olhar confuso e disse baixinho: “ mas estamos no prédio 37.” Eu sorri com o comentário, não foram todos construídos no mesmo período, uma outra dica disso é a diferença entre as arquiteturas, elas têm linhas bem diferentes. “ você tem razão, inclusive, quando você descobrir o motivo eu gostaria de ouvir a sua ideia, senhorita...?” “Alice.” “ Foi um prazer, Alice. Me chamo Augusto. Agora, eu preciso ir, tenho uma aula em poucos minutos. Boa sorte lá no 21.” Acenei com a cabeça e ela saiu andando as pressas, dizendo “obrigada, o prazer foi meu. Boa aula ao senhor.”
Já havia respondido a essa pergunta muitas vezes aquele dia, mas essa caloura tinha uma presença marcante. Era muita bonita sim, mas não era isso o que a fazia ser lembrada, eu ainda não sabia o que era exatamente, mas fiquei repetindo a cena na minha cabeça várias vezes ao decorrer daquele dia. Felizmente tive poucas turmas nessa terça feira, todas com poucos alunos, e a maioria já me conheciam por serem de 4° ou mais períodos, então as aulas já fluíam bem.
Na quinta feira, eu tinha outra aula de cálculo II em uma dessas turmas. E para a minha surpresa, lá estava ela novamente. Alice. Acredito que ela tenha ficado desconfortável, pois assim que percebeu que eu estava olhando pra ela, ela desviou o olhar. Eu fiquei confuso, por vê-la naquela turma, chequei a lista pra ter certeza se ela estava na turma certa já que acreditava que ela era uma caloura. Realmente havia mais um aluno em comparação a aula anterior... Alice Amorim, sobrenome de origem francesa, interessante.
Segui a aula normalmente, então, quando questionei a turma sobre dúvidas em relação ao exercício que acabará de corrigir, ela levantou a mão. “ Professor, a derivada sendo nula, a integral definida será uma região retangular, certo?” “ Sim, senhorita Amorim, você saberia me explicar o motivo?” “Porque se a derivada é nula então temos uma função constante.” “ Perfeito.” Definitivamente ela não é uma caloura.
A aula chegou ao fim. “ Senhorita Amorim, você teria um minuto, por gentileza?” ela assentiu. Assim que a turma ficou vazia, ela me perguntou “ Algum problema com a minha matrícula na sua matéria, professor? Sei que já perdi uma aula mas consigo recuperar.” “ Não, o prazo de inscrição ainda está aberto. Eu só fiquei curioso por vê-la nessa turma, imaginei que fosse nova na universidade.” “ Bem, nessa instituição sim. Mas estou transferindo o meu curso pra cá e consegui eliminar algumas matérias como cálculo I.” “ Entendo.” Eu disse, e em seguida fiquei olhando pra ela alguns segundos, senti a minha boca ficar seca, então molhei o lábio automaticamente. Então a vi acompanhando o movimento e ficando vermelha. Fiquei desconcertado por constrangê-la então fingi uma tosse coçando a garganta e disse “ Então seja bem vinda a universidade, se eu puder ajudar de alguma forma estou a disposição, mas acredito que a senhorita não terá problemas.” “ Eu agradeço. E até semana que vem.” Ela disse como uma promessa dando um sorriso e se virou em direção a porta. “ ah sim. Quase me esqueci, os prédios têm datas diferentes “ e saiu pela porta sorrindo.
Eu não entendi o que acabou de acontecer, em um momento parecia uma menina tímida e acuada, no momento seguinte segura e desinibida... Definitivamente uma personalidade singular, estou ansioso pra saber mais sobre ela.
Continua....
Caro leitor, esse foi um primeiro texto. Espero que
lhes proporcione uma boa leitura. Estou aberto a sugestões.
Um abraço.
