As consequências de ter uma esposa infiel (parte 8)

Um conto erótico de Lael
Categoria: Heterossexual
Contém 2476 palavras
Data: 28/03/2022 14:49:10
Última revisão: 28/03/2022 15:09:13

Durante os dois meses em que Rúbia e eu ficamos brigando feito adolescentes e voltando, nosso intermediador/ouvidor acabou sendo Ray que sempre estava na boate, por isso, naquele começo de noite, muito nervoso, após mais uma briga com ela, fui desabafar por assim dizer com ele. Contei do ultimato que dei a ela, o agradeci pela força que nos deu tentando nos unir, mas disse que agora é definitivo.

Ray começou a dizer que eu deveria dar a ela um pouco mais de tempo para que se sentisse segura em largar tudo e ficar comigo, mas no meio da conversa, ouvimos que Rúbia estava chegando e estávamos justamente em seu camarim. Ele então, me mandou entrar em um minúsculo espaço onde ficavam os produtos de limpeza bem ao lado do camarim dela.

Ray disfarçou dizendo:

-Chegou cedo, Mona! (Mona era e ainda é uma gíria que alguns gays usam para chamar outro gay, mas alguns também chamam as amigas por esse apelido).

- Ray, meu amigo, que merda! Tô destruída, o Raul acabou com tudo e agora não tem volta, me xingou para caramba e eu também soltei o verbo.

Rúbia desabou a chorar, um choro doído e Ray a acalmou:

-Não fica assim. Toma uma água. Toda quinta é essa história, acho que ele vai se convencer que você o ama, mas que você precisa de um pouco mais de tempo para confiar. – Ray falava alto para eu ouvir.

-Puta que pariu! Pior que gosto dele como de nenhum outro.

-Mona, te disse lá no começo, amor de pica, é amor que fica. Você gamou na primeira vez e me falou.

-Não, não é só isso, claro o sexo é bom demais me fez renascer porque nessa vida, fazia tempos que não chegava nem perto de um orgasmo, mas é bem mais, sabe aquele jeito meio mal-humorado de ser dele, emburrado? Quando estamos juntos, ele é um doce, me abraça, se preocupa comigo em coisas mínimas, como me cobrir direito de madrugada, coisas que parecem bobas, mas demonstram que a pessoa se importa com você, outro dia chorou me ouvindo. Sem contar que tem um papo bem diferente do nosso mundo e até do dele, tem planos na carreira.

-Mas, Mona, com tantos predicados que o bofe tem e você ainda tá fazendo cu doce? Larga esse lugar e vai ficar com ele.

-E se depois de dois, três meses, um ano vai, ele enjoar de mim e me despachar. Não aguentaria ser rejeitada, enganada...Não sei se iríamos dar certo.

-Mas o que é dar certo? De repente vocês têm seis meses maravilhosos ou seis anos e aí quando acaba não deu certo? Deu certo sim, por um número x de meses ou anos, depois deixou de dar. Viva o agora, se está mesmo gamada no tira, vai atrás do bofe, desce das tamancas e mostra para ele.

Rúbia chorou mais um pouco e disse:

-Só sei que hoje não vou fazer porra nenhuma de peça. Vou para casa pensar e ver o que decido.

-Isso, amiga. Dá uma chance ao bofe.

Rúbia foi embora e depois de ter ouvido toda a conversa, além de ter ficado muito feliz, vi que Ray era um cara fora de série, o agradeci muito e com seu jeito brincalhão, ele me disse:

-Me agradece quando souber de um bofe policial que curta esse tipo de fruta aqui, aí você me apresenta.

No outro dia, Rúbia me ligou e disse:

-Vou deixar a boate, está satisfeito?

Fiz de conta que não sabia de nada e disse:

-Pode ter certeza que não irei te decepcionar. Você não sabe como estou feliz.

-Vou procurar emprego e começar um curso de datilografia, já sei um pouco, mas com diploma deve ajudar.

-Prometo que te darei uma força no que for preciso.

-Sem essa de falar em me ajudar financeiramente, o que quero agora é o senhor aqui hoje o mais cedo possível.

A partir daí, que era o mês de setembro, Rúbia e eu passamos a ficar juntos quase todos os dias ou no meu apartamento ou no dela. Nós fomos incrivelmente felizes nesses meses e não só por causa do sexo doido, mas pela companhia, víamos filmes, tirávamos sarro um do outro. Ela quis parar de pintar os cabelos, mas eu insisti para deixar como estavam.

Rúbia arrumou um emprego como secretária, num escritório de contabilidade, não ganhava muito, mas era um começo.

A lembrança do que ela me falou sobre o tal Gersom era como um punhal cravado em meu peito. Até pesadelo tive com isso. Passei a procura-lo discretamente sem que Rúbia soubesse. Além da Boca, havia mais alguns locais em São Paulo, onde ele poderia estar, já que o sujeito gostava de pegar moças novas para usá-las como objeto sexual e fonte de renda com suas fotos e vídeos. Rodei em algumas quebradas e após muitas pistas falsas, um simples tiozinho cambista do jogo do bicho, me deu uma dica quente.

-Olha, esse tal Gersom está morando ali na Luz, sempre pegando mocinhas para fazer umas fotos, ele anda com um bolo grosso de fotografias delas peladas e aparece aí na padaria oferecendo se alguém se interessar, ele vende. Se não estiver lá na Rodoviária do Tietê tentando fisgar mais uma coitada, deve estar no apartamento dele.

O senhor não tinha o endereço de cor, mas pelas dicas consegui chegar ao prédio e após perguntar para umas três pessoas, me deram o número do seu apartamento. O prédio era antigo e mal cuidado, elevador quebrado, tive que subir até o 6º andar pelas escadas. Era um local de prostitutas, com clientes entrando e saindo, mas também de famílias humildes com muitas crianças chorando. Bati na porta do tal Gersom e após um tempo, ele abriu, eram 13h30, mas o vagabundo ainda dormia. Era um cara baixo, menos de 1,70m, magro, usava um ridículo cabelo moicano que se no começo dos anos 80 tinha feito sucesso entre roqueiros, tinha virado a coisa mais cafona do mundo no final dos anos 80, quando os cantores sertanejos adotaram esse estilo e foram copiados por um mar de otários. Tinha um bigodinho ralo que o deixava ainda mais ridículo. Eu queria enrolá-lo antes de tomar qualquer atitude. Quando abriu a porta, mostrei-lhe minhas credenciais e disse:

-Fica de boa que não estou atrás dos seus negócios com fotinhos de sacanagem, só quero informações sobre uma garota que trabalhou com você.

Gersom abriu a porta com cara de sono e eu entrei.

-Quem você está procurando?

-É o seguinte, como te falei não quero saber de nada do que rola aqui, eu também tenho meus lances por fora, certo, malandro? E tem coisa que eu vejo e tem coisa que eu não vejo, tá ligado no que eu quero dizer? Estou atrás de uma piranha que está aplicando o boa noite cinderela em meio mundo, mas agora deu zebra porque ela mexeu com um figurão e o cara quase empacotou porque era cardíaco. O nome dela é Rúbia e não vai dizer que não sabe, pois sei que vocês até moraram juntos.

Com a certeza de que estava falando com um policial malaco, cheio de gírias do submundo dele e que não queria nada com ele, Gersom se soltou até antes do que eu esperava:

-Claro que eu conheço, fui eu quem trouxe essa mina para São Paulo, gatinha demais, peguei cheirando a leite, cara, já não era mais cabaço, mas não sabia nem tocar uma punhetinha. Ficamos um ano juntos.

Eu fingi um certo entusiasmo para que ele se soltasse mais:

-Mas ela é tudo isso mesmo que dizem? Gostosa mesmo? O pessoal da Boca fala que é joia rara.

Ele acendendo um cigarro e todo despreocupado:

-Porra! A mina é linda, podia até ser atriz de verdade. Ganhei um dinheiro bom com ela, fotos para revista e até filmes de sexo explícito, eu bancava o empresário e namorado, mas ficava com quase toda a grana. Ela tava fazendo apresentação de sexo explícito ali na boca, tem cartaz e tudo, você não deu uma chegada lá?

-Claro que fui, tô atrás dela, mas a fulaninha sumiu depois desse golpe. Tô ligado também que após um tempo juntos, houve uma treta feia entre vocês, parece que um lance acabou mal, o que é que a putinha fez?

-Pois é, cara. A Rúbia demorou pra se ligar que o que eu queria era usá-la para fazer uma grana, mas teve uma última vez. Eu perdi até as calças num jogo de pôquer e os caras, dois da pesada mesmo, iam me apagar, aí o jeito foi oferece-la como pagamento, ia ser umas quatro, cinco vezes, mas já na primeira, sujou, a gente cheirou muita farinha e detonamos a menina.

-Detonaram como?

-Fodemos ela em três por um tempão, fizemos uma par de sacanagens pesadas, aí não lembro de quem foi a ideia de enfiar uma garrafa de cerveja na xana dela para ver até onde entrava. A seguraram e eu soquei com tampa e tudo, só que naquela confusão toda, o gargalo acabou quebrando dentro da mina, puta que pariu, foi uma treta fodida, eu sumi por uns 15 dias, mas nem deu nada, a Rúbia era tão burrinha que não me denunciou, só que depois sumiu. Tô até surpreso que agora ela tenha virado golpista.

Eu tentava olhar para Gersom, mas era como se o quarto todo rodasse, eu só o via o seu vulto encostado em uma cômoda marrom dessas bem antigas mesmo para aquela época. Tive vontade de vomitar com a naturalidade que ele contava tudo, mas consegui me controlar e fingi que era “normal” tudo aquilo:

-E os caras que estavam juntos, tão por aí ainda tacando o terror pelas quebradas?

-Que nada, os dois se foderam, mas não por causa disso. O Dentinho morreu num racha faz um ano ou quase isso, entrou com um Monza embaixo da traseira de um caminhão no começo da Castelo Branco. Já o Cido está no Carandiru, latrocínio, velho. Vai puxar uma cana brava.

Eu me levantei, fingindo que iria embora:

-Bem, então, desde esse tempo nunca mais você viu essa pilantrinha da Rúbia, mesmo?

-Orra, mano, nunca mais. Bem que eu gostaria de comer aquela bocetinha rosinha de novo, eu vi o cartaz dela lá na Boca e falei comigo mesmo “Se eu te pego, Rúbinha, além de te foder toda, dessa vez, vou enfiar uma garrafa de Coca das grandes”. – E deu uma gargalhada enquanto apagava a bituca do cigarro no cinzeiro.

Eu estava ali em pé, do meu lado esquerdo, estava a porta, do lado direito, uma janela daquelas antigas de madeira, com uma grande abertura para iluminar bem o ambiente e no meio Gersom que desencostou da cômoda e veio em minha direção para abrir a porta. Senti uma rápida tontura e me lembrei de uma benzedeira que lá em 70, 71, minha mãe me levou, pois eu estava aprontando demais na rua, e a mulher junto com outras começou a fazer uma espécie de cântico ou reza e no final, disse : “Esse menino é bom, mas não queira ver o lado ruim dele”. Parece que eu ouvi a voz dela naquele quarto, parti para cima de Gersom e o ergui de lado como se fosse uma guitarra, ele era pequeno e magro perto de mim, segurei-o com uma mão em um de seus braços e com a outra segurei uma perna, ele apenas teve tempo de exclamar “Ei, cara que po...” E como se estivesse me livrando de um tronco de madeira, dei um impulso com os braços para trás, depois com toda força para frente e joguei-o pela janela. Creio que ele só entendeu quando já estava caindo e soltou um grito curto, pois logo depois o que ouvi foi um estrondo forte do seu impacto. Nesse momento de insanidade, não pensei que ele poderia ter caído em cima de um transeunte qualquer, olhei pela janela e vi que ele caiu na calçada bem rente a guia, por pouco seu corpo não bateu em um Corcel vinho ali estacionado. Começaram os gritos desesperados das pessoas, ainda tive tempo de ver que uma grossa poça de sangue começava a se formar ao lado de sua cabeça. Desci rapidamente, mas sem dar bandeira. Fui embora sem acreditar no que fiz, era a primeira pessoa que eu matava sem ser numa troca de tiros com bandidos. Eu tremia a tal ponto que não conseguia segurar o volante do carro, meu coração parecia que iria explodir e não era possível organizar uma ideia, apenas via duas coisas: seu corpo passando pela janela e a poça de sangue se formando na calçada. Encostei o carro e vomitei, depois fiquei largado no banco do carro, buscando o ar para tentar voltar a dirigir.

No outro dia, o caso foi manchete no Notícias Populares, jornal sensacionalista muito famoso na época com o título “Voou do 6º andar para a morte” A matéria curta, dizia que uma pessoa viu Gersom saltar como se fosse mesmo voar e logo depois se espatifar na calçada fria. O texto dizia ainda que a polícia trabalhava com duas linhas, suicídio ou acerto de contas, já que ele devia a muita gente no mundo do crime.

Rúbia não ficou sabendo do ocorrido e eu, claro, é que não iria dar com a língua nos dentes, tratei de esquecer o que fiz, mas foram pelo menos cinco dias pensando como pude ser tão insano, pois minha intenção inicial era só arrebentá-lo legal, uma surra um pouco mais forte que a que dei no tal escritor que comeu Fernanda, quebrar um braço, uma perna, mas matar? E assim, sem planejar nada, o que poderia me foder por tabela. Fiquei preocupado que aquela pudesse não ser a última vez.

Num desses dias, estava no banho e a narrativa de Gersom do que ele e seus amigos fizeram com Rúbia, aparecia em minha mente como se fossem imagens. Lembrei-me também de como o olhar dela me irritava no começo especialmente quando mexia levemente o lábio superior mostrando os dentes, agora eu via aquilo como uma defesa, como uma fera que já tinha sido ferida e agora intimidava qualquer um que se aproximasse com seu jeito de encarar. Me sentei no chão do banheiro e chorei alto, estava pouco me fodendo para o cara que matei, minha tristeza era por saber o que fizeram com ela.

O ano de 1989 estava em seus últimos meses, mas mal sabia eu que se aquele ano estava sendo agitado, 1990 seria dez vezes mais.

Agradeço aos que gostarem se puderem deixar um elogio, pois como comentei no conto anterior com um leitor, o número de leitores dessa saga está sendo bem alto, por isso, um comentário sem pre ajuda a motivar para escrever mais e melhor.

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Comentários

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É impressionante como você escreve bem parece uma novela.

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Valeu pelas palavras, Thiago.

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Porra véi não há o que eu comentar , pois ao meu ver esta fantástico irmão , irretocável !!

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Nossa Lael, bom demais esse capitulo, foi surpreendente ele jogar o cara pela janela,(foi muito merecido) detalhes muito legais em relação aos anos 80...resumindo esta bom demais e pra variar ansioso pelo próximo capitulo. top top top

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Obrigado, Neto, achei que o texto não fosse passar pela violência, mas deu certo.

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É... e como diria Batman, citando Nietzsche: "se você passar muito tempo olhando para o abismo, ele pode olhar para você de volta [...]"

Eu já esperava o pézinho do Raul no lado negro da coisa, mas eu fico pensando... se dada a oportunidade e habilidade, eu faria o mesmo???

Sobre o romance, eu acho, particularmente, que ficaria divertido e interessante passar a ter um "triângulo" entre Raul x Rúbia x Fernanda.

A Rúbia é alguém que como Raul está reaprendendo a confiar, Fernanda tem que ralar pra conseguir seu lugar de volta, se é que conseguiria... tem potencial!

Excelente conto.

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Lael amigo foi muito show. As referências que vc buscou dos asnos 80 foi o máximo!!!! QUE VENHA OS ANOS 90!!!!!

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obrigado por notar e comentar, abração.

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Obrigado pela força e por notar esses detalhes.

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Parabéns este bandido teve o que mereceu,o que ele fez com Rúbia merecia a morte,vou esperar ansiosa pelo próximo,bjs querido

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Pô Lael, eu gosto muitos dos seus contos, de verdade, agora tenho um defeito, não gosto muito de ventar e acho que assim em seriado eu prefiro ficar lendo os contos e se for o caso comentar no último. Mas não se aborreça não, seus contos são ótimos. Três estrelas e nota 10

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