APENAS UMA REGRA (ROMANCE GAY/HOT) - CAP 18: ESTATÍSTICAS

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 1498 palavras
Data: 14/12/2021 01:36:35

Caralho! Caralho! Eu tô muito bravo. A Izzy acorda duas vezes, mas não diz nada, apenas chora. Nem imagino a dor e medo que ela sentiu durante o ataque. Não fui muito longe para ficar chocado. Através de uma pesquisa rápida, eu descubro que 175 travestis e mulheres transexuais foram assassinadas no Brasil.

Ainda de acordo com a pesquisa, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) afirmou que a cada ano, os ataques se tornam mais frequentes e sanguinários.

Vitória Rodrigues. Dandara dos Santos. Hevelyn Montine. Márcia Shokenna. Keron Ravach. Crismilly Pérola. Larissa Rodrigues.Thalia Costa. Essas são só algumas das vítimas espalhadas pelo Brasil. Elas não tiveram nem chance de defesa. Apenas viraram estatísticas dentro de uma matéria.

Puta que pariu. O nome da Izzy poderia estar nesses noticiários. Passamos quase dois dias no hospital. Graças a Deus, o estado dela evolui rápido. A coitada da Izzy está com marcas dentro e fora do corpo.

Bem, se depender de mim, a Izzy vai ter o melhor tratamento do universo. Graças a Deus, que tenho algumas economias e posso bancar os remédios. Desde quando acordou, a Izz não abriu o bico. Nem da sua cara zoada ela reclama.

O Miguel descola um carro e acomodamos Izzy com todo o cuidado. No caminho, nós trocamos olhares, porém, ficamos quietos. Segundo o médico, a Izzy precisaria passar por sessões de fisioterapia por causa do braço, ou seja, mais gastos. Na cabeça, faço a soma de todas as contas. Vai ficar apertado, só que a minha irmã precisa se recuperar.

A sensação de voltar para casa me tranquiliza. Eu só quero esquecer toda essa experiência traumática, principalmente, para Izzy. Na portaria do prédio, passamos despercebidos pelos vizinhos fofoqueiros. A Nicky nos espera e dá um forte abraço em Izzy. As duas ainda estão abaladas com a situação.

— Senta. — pedi para Izzy que estava debilitada devido aos ferimentos.

— Eu sinto muito, Izzy. — lamentou Nicky, sentando ao lado da amiga.

— Gente, não vamos sobrecarregar a Izzy. O que ela precisa é de descanso. Vou preparar o seu quarto. — falou Miguel, que consegue se sair muito bem em momentos de tensão.

A Izzy não falou nada, apenas chorou. Lágrimas e mais lágrimas escorreram de seus olhos. Como o ser humano pode ser tão cruel. Um ataque transfóbico virou rotina no Brasil. Caralho de país escroto. Por que as pessoas precisam se incomodar com a vida alheia? O que vai mudar?

Depois de um tempo, Miguel volta do quarto e leva Izzy. Ele pede alguns remédios que vão ajudar a nossa amiga a dormir. Corro até a cozinha e pego todos os medicamentos. Em seguida, vou à geladeira e pego um copo de água. Ao voltar para o quarto, o meu namorado está ajudando Izzy a deitar.

— Tudo bem. Com cuidado. — ajudando Izzy a deitar. — É difícil. Eu sei. Já estive no seu lugar. Lembra como você me conheceu, né? A dor física é difícil, mas nem se compara com a dor emocional. — pegando um travesseiro a ajudando Izzy. — Eu vou ficar aqui, viu. Não vou a lugar nenhum. Você cuidou de mim. Ajudou um desconhecido. Você não está só, Izzy. Não vamos deixar acontecer de novo, eu prometo.

De repente, lágrimas escorrem dos meus olhos. Eu levo um tempo para me recompor. Não quero aparecer chorando na frente da Izzy. Temos que ser fortes. Mais fortes que esses filhos da puta. Mais forte que eles. Eles não podem nos vencer. Nós vamos ajudá-la. Em breve, isso vai ser apenas um sonho ruim. Uma lembrança borrada na memória dela.

Entro e entrego o copo para Izzy. Seus olhos estão roxos e inchados. Seu rosto tem vários arranhões e hematomas. A Izzy continua calada. Talvez ainda esteja processando o ataque. Quando eu era abusado pelo meu pai, eu vivia passando momentos horrorosos na minha cabeça. Imagino que passar por um ato de tanta violência a deixou surtada. Quem não ficaria?

Vamos para o quarto. Eu não sei o que conversar com o Miguel, porque o meu pensamento está 100% voltando para a Izzy. Ela não parece ser a mesma. Teve várias oportunidades para me provocar, mas deixou passar todas. Acabo me perdendo em minhas preocupações e durmo.

De novo. Os malditos pesadelos. Sonho que o meu pai está me abusando. Ele me bate. Ele não tem pena. É uma fera que não tem misericórdia do próprio filho. Recordo do medo de morrer. Eu era apenas uma criança, caralho. Eu não merecia isso. Ninguém merece.

— Para! — acordei aos gritos e assustei o Miguel que jogava alguma coisa no celular.

— Ei. — deixando o celular de lado e me abraçando. — Tá tudo bem. Vai ficar tudo bem. Eu tô aqui, Stef. Eu estou aqui. — beijando a minha cabeça.

O Miguel me acalma. A voz dele consegue alcançar algo dentro de mim. O medo passa. A voz dele me acalma. A gente não tem tempo de se acalmar, quando a Nicky começa a gritar. Levantamos correndo e seguimos para fora.

A Nicky está na porta do banheiro. Seu semblante é aterrorizador. A tiro do caminho e fico chocado com a cena da Izzy cortando os seus cabelos cacheados. Ela usa uma tesoura e não para, apesar dos nossos protestos. Com uma agilidade ímpar, pego a tesoura e a Izzy desaba no chão aos prantos.

Faço a mesma coisa que o Miguel fez comigo. Abraço e digo que tudo vai ficar bem. Eu queria tirar toda a dor do peito dela. Eu aguento a dor. A Izzy é delicada, apesar do seu jeito durão.

— Eu não quero morrer, Stefano. Eles me bateram porque sou trans. Eu não quero mais morrer. — Izzy colocou para fora todos os seus medos.

— Izzy. Você não fez nada de errado. — garanti, ainda abraçado com a Izzy.

Amiga. Os seus cabelos lindos. — Nicky também desabou em lágrimas.

O Miguel entra no banheiro e senta no vaso. Ele pega a tesoura das minhas mãos e continua a cortar os cabelos de Izzy. Eu estava tão transtornado que não me importei com os cabelos caindo em cima de mim, porque continuava agarrado com a Izzy. Depois de uns 15 minutos, o Miguel terminou o corte e não disse uma palavra.

A deixamos tomar banho e ficamos na sala, ainda calados e chocados. De repente, o celular do Miguel começa a tocar. Do outro lado da linha está William. Ele avisa que o Klaus desapareceu e não se encontra em lugar algum. Por causa dos últimos acontecimentos, o meu namorado ficou preocupado com a situação do tio.

Eu estou em uma linha cruzada. Quero ir com o Miguel, porém, a Izzy precisa de mim e a Nicky não estava em condições de cuidar dela sozinha. Eu dou vários conselhos para o Miguel, afinal, não é bom confiar no William, principalmente, com a identidade do mandante do ataque sendo um mistério.

Combinamos de deixar os nossos celulares ligados. Não quero perder nenhum detalhe deste encontro maldito. Por outro lado, a Izzy não está nada bem. Vou ter que confiar nas habilidades do meu namorado, eu sei que ele ficou mais esperto de uns tempos para cá, só que a preocupação continua sendo uma constante neste relacionamento. Tenho a sensação que nasci para cuidar dele. Estou sendo dramático demais? Talvez.

— Assim que você chegar...

— Vou ligar o celular, Stefano. Não se preocupe. O que o William pode fazer? — Miguel questionou, me cortando e passando as mãos nos meus cabelos. — Criança, eu estou ligado.

— Criança é o teu...

— Olha a boca. — Miguel me repreendeu e beijou o meu rosto.

— Eu... eu... só toma cuidado, por favor. Qualquer coisa estranha eu vou correndo. — avisei o abraçando.

— Tudo bem, bebê. Eu vou ser cuidadoso.

Os segundos passam. Os minutos passam. Estou quase para ligar para o Miguel. Ele já devia ter ligado. Encaro o telefone, mas não posso ligar. Preciso esperar o sinal que combinamos. A Izzy se acalmou mais, principalmente, após um remédio que a fizemos tomar. Cautelosa, a Nicky parece um gavião. Eu nunca entendi a amizade das duas, mas sei que elas se amam.

Perdido em meus pensamentos nem reparo o celular tocando. Eu o deixo cair das minhas mãos, mas o pego no ar. Atendo. Graças aos céus, o Miguel está do outro lado da linha.

— Cadê o meu tio? — Miguel questiona, então, percebo que ele não está falando comigo. — O que você vai fazer? Não encosta em mim.

— Pega o celular dele. — pede alguém.

— William, o que você vai fazer? O que fez com o tio Klaus?! Ei, me solta. Não. Não....

— Miguel?! — eu grito, olhando para o celular só para ver a chamada ser encerrada. — Droga! Porra! — eu levanto, ainda sem saber o que está acontecendo.

O que o William fez? Pego as minhas coisas e deixo as meninas em casa. Eu não tenho ideia do que vou fazer, mas preciso ajudar o Miguel. Ele está em perigo. Filho da puta. Se ele encostar um dedo no Miguel. Ninguém pode encostar no Miguel. Eu vou matar o William.

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Comentários

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Parabéns ao autor(a), que mesmo num conto erótico está abordando a transfobia, tocando em um assunto que muitos ignoram.

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