O outro capítulo 12 Você me faz tão bem!

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 7629 palavras
Data: 19/11/2021 20:20:42

Capítulo 12

_ Isso é muito loucura! Você é completamente louco!_ Leandro disse sorrindo. Tentava manter a sensatez, mas o olhar e o sorriso malicioso e devasso de Abner não o permitiam.

Foi puxado pela cintura, ficando com a boca próxima ao do moreno.

_ Eu sou louco sim...louco por você.

Sentiu os lábios serem beijados como não eram há tempos, fazendo o seu corpo se arrepiar e se entregar sem nenhuma resistência.

_ Venha! Não dá para ficarmos nessa descompostura aqui no saguão._ Dimitri foi puxado para dentro da casa._ Você está todo molhado. Se ficar assim vai acabar pegando um resfriado. Vou te arrumar uma toalha e...

Leandro foi interrompido, sentindo a boca de Abner beijar a sua nuca, o abraçando por trás. Sentia que o amante estava excitado, esfregando o sexo duro em suas nádegas, o que o fez ficar duro também.

_ Meu deus! Assim você vai me molhar todo._ Leandro falou sorrindo e se afastando.

_ Esta é a intenção. Quero que fique todo molhadinho para que retire as suas roupas junto comigo._ Abner sorriu com um canto da boca despudorado, deixando Leandro com as pernas bambas. Não resistiu ao amante e se atirou sobre ele, segurando a sua face e o beijando. Diante de tanto sofrimento que passara nós últimos dias, Leandro quis se permitir ao direito a felicidade, mesmo sabendo que seria momentânea e que havia muitas chances de se arrepender futuramente.

Enquanto as suas roupas secavam na secadora, Abner usava um roupão branco, que recebeu antes de tomar um banho quente no banheiro de hóspedes. Estava sentado numa das cadeiras da cozinha, observando,com ternura, Leandro preparar um chá quente para ele. Aquele olhar terno transmitia a Leandro uma sensação gostosa de conforto e acolhimento... sensações essas que há muito anos não sentia com Júlio.

Havia trocado o pijama molhado por outro seco. Entregou a caneca fumegante a Abner sorrindo.

_ Eu não sou muito bom em cozinhar, mas em chás, eu me viro.

Antes de pegar a caneca,Abner envolveu os seus dedos sobre os de Leandro e os acariciou por uns segundos. Trocaram olhares afetuosos. Abner sentiu o coração aquecer...era a primeira vez que sentia aquela maravilhosa sensação, que ele não sabia definir em palavras.

_ Obrigado.

Bebeu fechando os olhos e dando um leve gemido de prazer, sentindo todo o carinho que Leandro pôs na bebida.

_ Está ótimo! Realmente você tem mãos de fada. Arrisco a dizer que seria um ótimo cozinheiro.

_ Eu?!_ Leandro gargalhou, achando absurda a ideia de alguém como ele, que não sabe nem descascar uma batata direito, poderia ter a possibilidade de cozinhar bem._ Eu sou um desastre na cozinha.

_ Ah, não brinca!

_ É sério.

_ E o que você é bom em fazer... além de sentar?

Leandro corou envergonhado com a última frase de Abner.

_ Nada. Eu sou completamente inútil.

_ Por quê?

_ Porque nunca aprendi nada. A minha mãe me criou como um bonequinho de cristal... não me deixava fazer nada e só estudar... E o Júlio...._ Leandro parou por um instante,se sentindo triste por todas as vezes que Júlio o fazia se sentir inútil.

_ Ah, para! Gente como você geralmente faz um monte de cursos quando criança. Nem tempo para respirar vocês têm.

_ Isso é verdade...quando criança tive que jogar futebol e lutar karatê para agradar o meu pai e tocar violino para agradar a minha mãe. Sempre que chegava uma visita lá em casa, ela me exibia como uma atração. "olhem como o Leandro toca bem o violino... Leandro fala inglês como ninguém. Diga alguma coisa, filho."

_ Que merda, hein!

_ Era horrível! Eu ficava tão envergonhado que tinha vontade de ser engolido pelo chão. Eu parecia presunçoso fazendo esse tipo de coisas. Era muito desagradável.

_ Se você me explicar o que é presunçoso, eu te agradeceria.

_ É aquele tipo de pessoa que se acha superior aos demais.

_ Ah, tá. Mas, você não me parece ser assim.

_ E não sou. Mas os meus pais me faziam parecer ser.

_ E de tudo que você fazia, o que realmente gostava?

_ Muitas coisas.

_ Quais? Tudo sobre você é fascinante.

_ Você tá me deixando envergonhado.

_ Essa é a intenção...mas não faço por maldade, só porque você fica lindo coradinho._ Abner disse sorrindo, piscando um olho.

_ Deixa de ser bobo!

_ Mas, voltando, o que você gostava de fazer?

_ Tocar piano, desenhar e esculpir. Essas eram as minhas atividades favoritas. Eu também gostava de estudar. Amava estudar história da arte, literatura, línguas e música. Enfim, se eu ficar falando desses assuntos você vai acabar dormindo.

_ Quero ver as suas obras de artes.

_ "obras de artes", você fala como se eu fosse um artista.

_ Claro que é. Artista é quem tem o dom e pratica arte, não só os famosos. Neste mundo tão vasto, creio que há e houveram grandes gênios que nunca foram descobertos...eu não sei o porquê tenho a impressão que você é um deles.

Leandro gargalhou alto. Na verdade, não sabia como reagir, já que não estava acostumado a receber elogios.

_ Sério mesmo, Leandro. Quero conhecer a sua arte. Me mostre os seus desenhos e esculturas. Eu adoraria te ouvir tocar piano, mas parece que vocês não têm um.

_ Eu tenho sim. Ele fica no minha biblioteca. O Júlio me deu de presente, quando completamos cinco anos de casados.

_ Júlio?! Que Júlio? Não o conheço nenhum Júlio. Você conhece algum Júlio? Acho que não.

Leandro sorriu.

_ Você não existe, Dimitri.

...

Á medida que caminhavam em direção á biblioteca, Abner observava o luxo da cobertura. Sentia-se um pouco mal diante do que via, pois tinha certeza que nunca teria a chance de ter uma relação mais sólida com Leandro. "Ele jamais largaria esta vida para ficar com um fodido que nem eu."

Leandro abriu as portas francesas de madeira pintadas de branco e vidro liso.

_ Este é o meu cantinho particular.

_ Puta que pariu!_ Abner exclamou, olhando em volta, sem disfarçar o deslumbre._ parece cenário de filme!

As estantes repletas de livros cobriam três, das quatro paredes. Em uma delas, havia uma escada móvel. No centro, ficava um piano preto de calda e uma cadeira achoada em frente e um grande lustre a cima.

Perto de uma das estantes havia um sofá capitonê salmão de três lugares e duas poltronas ao lado. Eles ficavam próximos á grande janela, que proporcionava luz natural ao ambiente.

A única parede não ocupada pelas estantes de livros ficava em frente a janela. Havia nela desenhos realistas de pessoas vestidas de jeitos distintos.

_ Caralho! Quem foi o gênio que fez esses desenhos?! O artista deve ter cobrado o olho da cara para fazer essa maravilha!

_ Não. Ele não cobrou nada.

_ Como assim não cobrou nada?! Isso deve ter dado um trabalho danado.

_ É...deu um pouquinho de trabalho, mas valeu a pena. Fui eu quem desenhei.

Abner arregalou os olhos.

_ Você?!

Leandro respondeu sorrindo, balançando a cabeça positivamente.

_ Esses são os meus personagens favoritos dos livros que já li. Tá vendo aquela mulher com um olhar misterioso? É a Capítulo, de Dom Casmurro. Aquelas duas mulheres negras segurando a Espada de São Jorge são Belonisia e Bibiana, de Torto Arado.

_ E aquele homem maltrapilho, sentado na beira da cama com um olhar atormentado e as mãos sujas de sangue?

_ É o Raskolnikov.

_ Raskoni quê?

_ Raskolnikov, do livro Crime e Castigo.

_ Ah, tá!

_ Aquele belo homem que está diante de uma pintura pavorosa é o Dorian Gray, aquele olho da TV é o Grande irmão de 1984.

_ Caralho! Que foda! Estas Aias de vermelho eu conheço...e aquele Vampirão é o Drácula...mas é aquela criatura feia e triste?

_ É a criatura de Frankenstein. Essa é a personagem que mais me comove. Eu chorei muito quando li esse livro.

_ Chorou de medo?

_ Não. De pena. Frankenstein não é uma simples história de terror... é sobre abandono, como uma vida sofrida de maus tratos e negligência pode transformar um ser inocente num monstro._ Leandro pôs as mãos nos olhos para impedir que as lágrimas caíssem._ Não repare. Eu sou muito sentimental.

_ Está aqui é a catedral de Notre Dame. Esse ao lado é o corcunda, essa é a Esmeralda e este o Claude?

_ Sim! Você leu?

_ Não. Assisti a animação da Disney. Com certeza, você já esteve lá.

_ Sim. Há alguns anos. Eu fiquei emocionado...mas não pelo fator da religiosidade. Eu não sou um homem religioso e sim pelas maravilhas arquitetônicas.

_ Este cachorro?

_ É a cachorrinha Baleia, de Vidas secas, do Graciliano Ramos. O capítulo dela é um dos mais triste do livro. Ela pertencia a uma família muito pobre, nômade do sertão nordestino. A bichinha morreu com fome, sonhando com um mundo repleto de preás, onde ela pudesse se alimentar á vontade. Como se o nosso mundo fosse cruel demais para essas pessoas e seres e eles tivessem na morte algum tipo de esperança.

_ Nossa! Pesado! Mas, você ler para sofrer? Qual é a graça disso?

_ Eu não leio para sofrer. Leio para conhecer realidades e pessoas distintas das minhas, para poder compreende-las através de belas palavras, mergulhando fundo nas suas vidas, almas e sentimentos.

_ Que incrível! Os livros te proporcionam tudo isso?

_ Sim. A literatura é a minha janela para o mundo. Eu sempre vivi na minha redoma, nunca senti na pele os males que as dificuldades financeiras causam as pessoas. Através da literatura eu posso conhecer realidades diferentes das minhas, posso aprender com pessoas que têm pensamentos diferentes dos meus, conhecer novas culturas, e até tempos remotos...e posso me conhecer. Muitas vezes já me encontrei me identificando com muitas personagens... até dar para evadir e dar um descanso dos meus problemas.

'Pensa o quão fascinante é o fato de só os seres humanos serem capazes de criarem ficção.

Além disso, os livros servem para aumentar o nosso repertório e fazer leituras da nossa realidade, fazendo ligações com as histórias.'

_Caramba! Eu não fazia ideia que simples papéis poderiam proporcionar tudo isso. Parece mágica.

_ Deve ser. Às vezes, eu me pego pensando como uma combinação de letras e tecido de palavras podem gerar textos tão lindos e histórias tão emocionantes.

_ Você já leu todos esses livros?

_ Os das duas estantes sim. Os da terceira ainda não.

_ Você já leu tudo isso! Puta que pariu! Mas, você disse que a literatura te faz pensar os problemas de gente pobre e tal...o que você faz para ajudar essas pessoas?

_ O que posso. Faço algumas doações para instituições de caridade. Eu confesso que gostaria de doar mais. No entanto, Júlio me mataria. Ele diz que não se deve dar o peixe e sim ensinar pescar...toda aquela conversa da meritocracia de sempre.

_ De uma certa forma ele não tá errado.

_ Não estaria se vivêssemos num mundo, onde todos tivéssemos oportunidades iguais. Mas, a realidade é que muitos morrem de fome, enquanto outros gastam rios de dinheiro com coisas fúteis. O mundo é muito mais amplo do que o nosso próprio contexto.

Abner o olhou admirado. Leandro estava longe de ser aquele homem desequilibrado, egoísta e estúpido que Júlio o classificava.

Ao olhar em volta, uma escultura de madeira Sobre uma das mesas o chamou a atenção. Era o busto de uma mulher de cabelos longos e cacheados. Ela tinha a cabeça erguida e o colo com seios carnudos sob um decote.

_ Não vai me dizer que foi você quem fez isso?

_ Sim. É a minha mãe. Gostou?

_ É perfeito!

_ Há mais por aqui._ Leandro apontou para duas mãos que se entrelaçavam, que estavam sobre uma das estantes, um gato persa, uma deusa egípcia, um pescador e tantas outras.

_ Leandro, você é perfeito!

_ Que exagero!

_ Não é exagero! É verdade! Você é um artista, é lindo, é simpático, é inteligente e ainda tem um bom coração. Apesar de todas essas características você não se tornou um cara arrogante. É por isso que o seu marido tem medo de você.

_ Eu agradeço pelos elogios. Mas, a última coisa que Júlio tem de mim é medo.

_ Claro que tem! Júlio é vaidoso demais, se acha mais importante do que todo mundo, mas no fundo sabe que não é. Pra ele é torturante ter uma luz tão brilhante como você ao lado dele. Por isso, faz tudo para te apagar.

_ Você fala como se conhecesse o Júlio.

_ E conheço.

_ De onde?!

_ Das palavras da Val.

_ Então, você conhecesse a pior versão dele.

_ O que é o suficiente para saber que ele não te merece.

Leandro se abraçou como sinal de autoproteção. Não se sentia confortável em falar do marido. Esse desconforto foi percebido por Abner, que para amenizar a situação disse:

_ E aquele vinho ali? É para ficar de enfeite ou rola uma tacinha?_ perguntou sorrindo.

Leandro sorriu de volta e o serviu.

_ Um brinde.

_ A quê?

_ A minha sorte de ter a honra de te encontrar, Leandro!_ Abner tocou na taça de Leandro e o puxou pela cintura._ Você não tem noção do qual maravilhoso é, meu amor.

Leandro foi surpreendido com um beijo caloroso.

_ Toca pra mim?

_ Sério mesmo? Não precisa fingir interesse para me agradar.

_ Eu não estou fingindo. Tudo que vem de você me interessa.

Leandro sorriu e o beijou.

Sentou ao piano empolgado. Depositando a taça no instrumento.

_ O que quer que eu toco?

_ A princípio, a sua música favorita.

_ Aí você me pegou. Eu não tenho uma música favorita. Tenho várias favoritas.

_ Escolha uma e toque._ Abner disse, apoiando o braço no piano. Olhou satisfeito para os dedos de Leandro sobre as teclas. Reparou que já não usava mais a aliança, e que se livrou dela recentemente, já que ainda havia a marquinha de sol contornando o dedo.

_ Vou das primeiras que aprendi... A minha avó paterna tinha um piano no sítio da família. Ela amava me ouvir tocar e me ensinou essa. Sinto uma nostalgia tão gostosa quando toco, chama-se Moonlight sonata, de Beethoven.

_ Hum! Que chique!

_ Deixa de ser bobo!_ Leandro disse sorrindo.

Abner o observava fascinado como os dedos finos e brancos do amante eram ágeis no instrumento, proporcionando um som tão agradável. Com a cabeça abaixada, os seus cabelos negros e brilhantes eram como cachoeiras caindo por seu rosto belo e compenetrado.

"Queria eu pôr uma aliança naquele dedo vazio." Pensou admirado. Degustava o vinho tinto, sonhando com uma vida ao lado de Leandro. Era maravilhosa demais a possibilidade de poder desfrutar de sua companhia todos os dias, ser beijado por aqueles lindos lábios toda vez que acordasse e quando chegasse em casa depois de um dia de trabalho árduo no seu próprio restaurante. Seria um sonho ter aquele corpo delicioso sendo seu debaixo dos lençóis e onde o desejo gritasse, sem ter medo de ser descoberto. Sonhava acordado andar de mãos dadas com Leandro de cabeça erguida sem temer nada e ninguém, apresenta-lo a sua mãe como genro.

Abner se deu conta que estava cansado da vida de luxúria, com corpos que lhe davam prazeres momentâneos, ou paixões tórridas e sufocantes como a que um dia sentiu por Júlio.

Além disso, sentiu exausto por servir como carne expostas para que seus clientes o usasse e depois pagassem por isso. Aquela vida o incomodava. Leandro era um convite ao paraíso. Ele fazia o seu coração se aquecer, sentia em seus braços, além de prazer, uma sensação de conforto, de proteção recíproca. Era a primeira vez que se importava com alguém que estivesse junto. Leandro era para ele muito mais que um simples corpo gostoso, era acalento para a sua alma.

Bateu palmas quando Leandro terminou de tocar. Parabenizou-o com um beijo.

Novamente as taças de vinho foram repostas. Abner sentou ao seu lado e conversavam alegres, esquecendo do mundo lá fora. Eram só os dois.

As gargalhadas vieram em seguidas, junto com beijos e mais músicas. Na segunda garrafa já estavam embriagados e felizes. Leandro tocava músicas mais alegres e cantavam juntos.

"Buongiorno Italia, gli spaghetti al dente

E un partigiano come presidente

Con l'autoradio sempre nella mano destra

Un canarino sopra la finestra

Buongiorno Italia, con i tuoi artisti

Con troppa America sui manifesti

Con le canzoni, con amore

Con il cuore

Con più donne e sempre meno suore

Buongiorno Italia, buongiorno Maria

Con gli occhi pieni di malinconia

Buongiorno Dio

Lo sai che ci sono anch'io

Lasciatemi cantare

Con la chitarra in mano

Lasciatemi cantare

Una canzone piano piano

Lasciatemi cantare

Perché ne sono fiero

Sono un italiano

Un italiano vero"

Cantavam juntos entre gargalhadas. Beijaram-se ao final da música.

_ Só perdoa o meu italiano que tá uma merda.

_ Que nada, Dimitri! Você foi ótimo! Parli italiano, ragazzo? (Você italiano, rapaz?)

_ Cosi cosí. Ho imparato alcune parole da un amico.( Mais ou menos. Eu aprendi algumas palavras com um amigo.)_ na verdade, Abner aprendeu um pouco do idioma com um cliente Italiano, que atendeu por alguns anos.

_ Posso invitarti a mangiare? Ho fame.

_ Iiih, você vai ter que traduzir, porque o meu italiano ainda não chegou nesse nível.

_ Posso te convidar para comer? Tô morrendo de fome.

Abner sorriu, direcionando a ele o mesmo olhar que um admirador olha para uma obra de arte.

...

Chegaram a cozinha abraçados, trocando carícias e beijos apaixonados. Seus olhos sorridentes refletiam a alegria que um causava no outro.

_ Que cozinha foda! Aliás, tudo nesta casa é foda! É linda a decoração. Ela transmite uma sensação de conforto e aconchego.

_ Ah, sério que você acha mesmo isso?! Eu fico lisonjeado que alguém tenha percebido isso. Essa era a minha intenção ao decorar esta casa.

_ E você foi muito bem sucedido. Quando eu tiver o meu restaurante, quero que você fique responsável pela decoração. Quero que meus clientes sentem essa sensação de aconchego e conforto não só nos pratos servidos, mas também no ambiente.

_ Pode deixar. Vai ser um prazer._ Leandro disse sorrindo, tocando na ponta do nariz de Abner, antes de lhe dar um selinho.

_ Como eu estava só em casa, dispensei a Patrícia e nem pedi nada para jantar. Estava sem fome. Acho que podemos fazer um sanduíche.

Abner caminhou até a geladeira e a abriu.

_ Com tantas coisas aqui dentro e você quer comer sanduíche?! Nem pensar. O que deseja comer?

_ Hum! Acho que vou querer estrogonofe de carne bovina. Amo esse prato e há tempos não como. A minha avó sempre preparava pra mim.

_ Pois bem, mocinho, mãos a obra._ Abner disse entregando o avental a Leandro e vestindo o outro.

_ Como assim?

_ Você está me devendo um jantar. Chegou a hora de pagar.

_ Você tá brincando, né?

_ Eu pareço estar brincando?

_ Eu não sei cozinhar.

_ Não sabia. Hoje você vai aprender a fazer o melhor estrogonofe de carne da sua vida. O arroz deixa comigo.

_ Você tem certeza que quer arriscar comer algo feito pelas minhas mãos?

Abner se aproximou, pondo a boca próxima ao ouvido de Leandro e sussurrou:

_ Não quero só comer algo feito por essas mãos, como quero comer esta bunda._ disse dando um tapa nas nádegas de Leandro.

_ Safado!_ Leandro disse sorrindo e mordendo os lábios. O toque de Dimitri ativava a sua líbido, o deixando louco.

_ Se o fogo ficar baixo deste jeito, vai demorar muito para ficar pronto.

Além de tenso, Leandro estava aflito diante do fogão. A colher de silicone mexia as tiras de filé mignon que douravam na panela.

_ A carne precisa de tempo para cozinhar no próprio caldo, assim os sabores dos temperos vão penetrando nela e molho ficará espesso. Cozinhar demanda tempo e paciência, querido.

_ Tudo bem, chef Dimitri._ Leandro virou o pescoço para trás, dizendo a frase com o sotaque francês. Abner não resistiu ao biquinho que a sua boca fazia e o beijou.

O cheiro do tempero e o caldo ganha vida e invade sorrateiramente a casa, perfumando o olfato e torturando a fome.

Como um bom e dedicado aluno, Leandro seguia a risca as instruções do seu mestre no preparo do prato. Quando o caldo foi tomando a forma e consistência desejada, ele se alegrou, dando pulinhos comemorando o bom resultado que obteve.

_ Não acredito que consegui cozinhar! Eu não acredito!_ pulava como uma criança feliz!

_ Calma, mocinho! Você precisa provar.

_ Estou com medo. Prove você?

_ Não, senhor. Quem deve experimentar é o cozinheiro. Você deve provar aos poucos para vê se falta alguma coisa...deixe o paladar dar a palavra final. Como diz a minha mãe: "Não se deve colocar qualquer coisa na mesa. É necessário servir o nosso melhor."

_ Que coincidência! A cozinheira que trabalha no nosso sítio, a Lurdes, ela sempre diz a mesma coisa.

Leandro pôs um pouco do caldo na palma da mão e provou.

_ Hum! Acho que falta uma pitadinha de sal.

Pôs um pouco de sal e deu para Abner provar.

_ Como está?!_ perguntou temendo a crítica do chef. Naquele momento, ele sabia como era a tensão sentida por um concorrente diante de um jurado.

_ Huuuum! Está como você!

_ Como eu?! Como assim?

_ Per-fei-to.

Leandro se atirou em seus braços. Estava orgulhoso de si mesmo por ter conseguido preparar um prato culinário.

_ Agora apague o fogo para o creme de leite não coalhar.

Serviram-se na mesa de centro da sala, sentados no tapete, com as pernas em forma de borboleta. Não havia nenhum requinte sobre a mesa, as panelas de arroz e estrogonofe estavam ao lado dos pratos, copos e uma jarra de vidro com suco de pitangas preparados por Abner. O pacote de batata palha estava aberta ao lado.

O casal comia satisfeito, embalados pelo som da chuva que caia do lado de fora.

Para deixar o ambiente mais agradável, Leandro só acendeu as pequenas luminárias de cores amarelas, que iluminavam os cantos da sala.

"Você tem que pegar as mais vermelhinhas." Ao beber o suco de pitangas, Leandro foi transportado para a infância. No sítio de sua avó, o pequeno menino carregava uma vasilha de plástico para colher do pé as frutas para o preparo do suco. Ouvia atento as instruções da avó sobre a colheita. Sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Não era apenas o sabor do suco que estava ali, mas também a saudade da sua avó. Não era uma saudade dolorosa, como a que sentira nos primeiros anos da morte dela, era uma saudade gostosa que preenchia o seu coração de bons sentimentos, feliz por ela ter feito parte da sua vida.

Explicou isso a Abner, quando esse perguntou o motivo pelo qual fazia os seus belos olhos escuros umidecerem. O cozinheiro pousou a sua mão sobre a dele e o olhou com carinho.

_ A comida tem esse papel de resgatar, pelos aromas e sabores, lembranças queridas, e desta forma, nos conectar ás pessoas especiais...mesmo que elas não estejam mais aqui.

_ É verdade. Uma boa comida é aquela que, além de nos oferecer bons sabores, nos oferecem boas lembranças. Toda vez que eu comer um estrogonofe de carne e um arroz branquinho e soltinho como este, vou me lembrar de você e deste momento especial que estamos vivendo agora. Dimitri, você não sabe o quão bem está me fazendo. Tive dias muito difíceis ultimamente e este momento está sendo um alívio tão bom!

_ Quer desabafar?

_ Não. Eu prefiro ignorar o problema e viver o agora contigo. Me fale sobre você. De onde vem esse amor tão lindo pela gastronomia?

_ Quando eu era criança, eu adorava observar a minha mãe cozinhar. Gostava de sentir o cheiro vindo das panelas e de olhar os seus movimentos, seu ir e vir, como cortava os legumes e verduras, de como adicionava os temperos... detalhe, fazia tudo isso escondido debaixo da mesa.

_ Como assim? Por quê?

_ Segundo a minha mãe, cozinha não era lugar de homem...tinha medo que eu me tornasse gay.

Os dois gargalharam.

_ Pelo visto não adiantou.

_ Gay eu não sou.

_ Não vai me dizer que é hétero?_ Leandro perguntou debochando, cruzando os braços na cintura.

_ Também não.

_ É o que você é então?

_ Um cara que gosta de tudo, menos de rótulos.

_ Entendi.

_ Mas, voltando a falar da minha mãe...ela não era muito de demonstrar os seus sentimentos com palavras. Mas, cozinha divinamente. E através da comida dela, eu sentia o amor que ela transmitia. Aí eu quis fazer o mesmo para ela e cozinhei para ela quando o meu pai morreu. Depois que provou, deu um sorriso que não dava há dias. Isso me deixou tão feliz que eu me disse: "Quero fazer isso para o resto da minha vida!"

_ Que lindo, Dimitri!_ Leandro se admirou, apoiando a palma da mão no queixo._ Estou amando te ouvir falar. Você fala de comida de um jeito tão poético.

_ Cozinhar é fazer poesia para ser degustada.

_ Amei!_ Leandro ergueu o corpo para frente e o beijou._ Amei, meu amor!_ o beijou novamente.

_ Eu sou?

_ O quê?

_ O seu amor?_ Abner perguntou feliz.

_ Sim!

Leandro foi puxado para mais um beijo.

_ Então, me deixe te amar despido de roupas e pudores?_ Dimitri sussurrou ao pé do seu ouvido, o deixando vibrando de tesão.

_ Não fale assim que você me deixa louco._ Leandro sussurrou quase gemendo, dominado pelo tesão. O seu membro pulsava e o corpo era tomado por um arrepio.

Suas bocas se encontraram num beijo molhado e voluptuoso, convidava os seus corpos ao prazer.

_ Sabe de uma coisa? Com todo esse papo de comida e você todo gostosinho, me deu uma vontade de te devorar naquela cozinha.

Leandro ficou sério, se recordando da noite de sexo pavorosa que teve com Júlio na cozinha. Sentiu o corpo gelar de um horror inexplicável.

_ Não! Não!

Abner estranhou a forma assustada que Leandro dizia.

_ Aconteceu alguma coisa, meu amor?

_ Não.

_ Você não quer?

_ Quero...quero muito, mas não na cozinha..._ sua expressão de horror se converteu num sorriso vingativo._ Eu quero sim. Quero ser seu na minha cama.

_ Na que dorme com o seu marido?_ Abner arqueou a sobrancelha.

_ Sim. Há algum problema pra você?

_ De jeito nenhum, bebê._ Abner o puxou pela gola da camisa do pijama e o beijou.

...

Seus corpos nus se entregavam aos beijos e amassos entre os lençóis marroquinos. O quarto escuro, e o único som que ecoava eram os gemidos e sussuros dos amantes.

Por baixo, Leandro erguia a cabeça, com os olhos fechados sentindo a chama da paixão queimar em sua pele, que era saboreada pela língua de Abner. Seus mamilos eram puxados e sugados levemente. A língua passeava pelo seu peito, barriga e virilha.

_ Aaaaaa! Dimitri!_ disse gemendo, sentindo o seu pau sendo engolido pela deliciosa boca do amante.

Contorcia-se de desejo, erguendo a cabeça de entregando ao momento. Se a sua intenção era se vingar de Júlio, já não se recordava mais nem da existência do marido. Apenas Dimitri existia naquele momento.

O vai e vem da boca do amante o levava á loucura como não ia há tempos. Suas pernas vibravavam e o seu membro pulsava na boca de Abner.

_ Você é tão bom! Parece um profissional! Sabe me deixar louco!

Abner levou a boca próximo a de Leandro e disse:

_ Eu sou um leitor de corpos. Ainda mais se for gostoso como o seu.

Leandro recebeu um beijo e teve as pernas erguidas para cima, Abner ficou entre elas beijando o seu pescoço. Desceu novamente, retornando ao sexo oral.

Excitado, gritou de prazer ao atingir o tão sonhado orgasmo.

_ Gozou muito, hein meu bem!_ Abner se admirou, acariciando os seus cabelos negros e molhados de suor. Olhava-o apaixonado.

_ Aaaaah! Fui ao paraíso como não ia há tempos! Aaaaaaa! Isso é tão bom!_ Leandro sorria e dava selinhos em Abner.

_ O merdinha do seu marido não te faz gozar? Você precisa de um homem de verdade.

_ Marido? Que marido? Não tenho marido nenhum!

_ Ah, meu amor! Eu te amo tanto!_ Abner pôs as mãos em sua face e o beijou com desejo.

Leandro virou a posição ficando por cima. Sentou sobre Abner, beijando o seu pescoço enquanto o masturbava. Beijava todo o seu corpo, dando leves mordidas, provocando arrepios.

Chupou-o até deixá-lo louco implorando para entrar em Leandro.

_ Aaaah vou gozar!

_ Ainda não, mocinho!_ Leandro disse sorrindo, beijando a ponta do seu nariz.

Caminhou nu até a gaveta e pegou o lubrificante, se umificou e encaixou. Foi sentando aos poucos. Rebolava com as mãos apoiadas no peito de Abner, fazendo movimentos circulares, em seguida subia e descia com velocidade.

_ Que delícia! Puta que pariu! Você é muito gostoso! Cavalga em mim, minha cadelinha gostosa!

Abner deu leve tapa em sua bunda e masturbava o seu membro rígido.

As estocadas aumentavam frenéticas. Abner sentia o membro ser sugado e contraído dentro de Leandro, com toda certeza, era o cu mais gostoso que já comera na vida.

_ Que rabo gostoso! Eu te pertenço, Leandro! Sou todo o seu!

Leandro se abaixou para beija-lo.

_ Me fode gostoso, meu macho! Essa piroca é uma delícia!

_ Ela é toda sua, meu amor.

Leandro foi virado para baixo. Desta vez, era Abner que estava por cima. Queria retribuir o prazer que recebia do amado. Colocava as mãos na sua cintura e socava fundo, afundando a cabeça em seu pescoço.

Leandro podia sentir a sua respiração e o seu hálito quente. Envolveu as pernas entre os quadris do cozinheiro querendo mais e mais do amante o invadindo.

Suas bocas se beijaram depois de trocarem palavras profanas.

O pau de Leandro estava duro e posicionado para cima, se encontrava preso entre a barriga dele e a de Abner. Conforme se roçavam, sentia como se estivesse sendo masturbado. Essa deliciosa sensação se misturava com o prazer que sentia em ser penetrado.

Abner sorriu satisfeito, sentindo o gozo do moreno molhar a sua barriga.

Acariciou os seus cabelos e trocaram sorrisos. Seus olhares penetraram um no outro, irradiando um sentimento tão bom, que transbordavam em seus corações.

Abner gemeu alto atingindo o orgasmo.

Feliz em proporcionar prazer ao amante, Leandro o beijou.

_ Acho que te amo, Leandro! Eu nunca senti isso antes!

Leandro acariciava o seu rosto sorrindo.

_ Obrigado, Dimitri.

_ Pelo quê?

_ Por existir.

...

Leandro apoiava a cabeça no peito de Abner. Suas pernas se entrelaçavam e seus dedos se tocavam.

Abner acariciava seus fios de cabelos cor de noite. Sentia tanto afeto, que desejou que o mundo parasse, só para que aquele momento nunca terminasse.

_ Você teria coragem de largar tudo para ficar Comigo?

Leandro ergueu a cabeça para olhá-lo.

_ Estou falando sério. Você teria coragem de mandar o seu marido merda para a casa do caralho e viver comigo?

_ A minha vida é muito complicada, Dimitri.

_ A gente descomplica juntos.

Leandro sorriu.

_ Eu tenho uma filha adolescente e com um temperamento difícil.

_ E daí? Muitas pessoas têm um padrasto. Ninguém morre por isso. Ela ainda vai ter vantagem. Ao invés de ter só dois país, terá três.

_ Uh, é! Já tá pensando em ser o pai da minha filha?

_ Não só o dela como o dos nossos próprios filhos.

Leandro gargalhou.

_ Que loucura, Dimitri!

_ Loucura nada, bebê. Já até vejo o nosso futuro. Nós dois morando numa linda casinha perto da praia... não será luxuosa como esta, mas será bela e confortável. Toda decorada de acordo com o nosso jeitinho. Com pomar, passarinhos na gaiola, um fogão á lenha e uma varanda repleta de plantas e uma rede.

_ Ah, não! Não gosto de passarinhos presos em gaiolas.

_ Então, não teremos gaiolas. Os passarinhos serão atraídos pelo pomar.

_ Aí sim.

_ Já vejo também a nossa casa lotada de parentes para o almoço de domingo. A minha mãe falando alto na cozinha, o meu padrasto rindo das pérolas da Valéria, a Vanessa revirando os olhos quando você mandar ela parar de ficar no celular e interagir com os demais.

_ Pior que ela faz isso mesmo._ Leandro disse rindo.

_ E o Enzo me deixando louco por jogar bola dentro da sala.

_ Enzo?!

_ O nosso filho!

_ Que viagem!_ Leandro gargalhava.

_ E a Lorena toda hora reclamando do calor...

Leandro ergueu a cabeça e olhou espantado para Abner.

_ Lorena?! Você conhece a Lorena?! De onde?

Abner percebeu que disse além do que deveria.

_ Lógico! A Lorena vai ser o nome da nossa filha.

_ Enzo e Lorena. É melhor você voltar para realidade. Olhando assim pra você, Dimitri, você não me parece ter paciência nenhuma com crianças.

_ Pior que não tenho não. Acho melhor a gente trocar as crianças por um gato e uma cadelinha.

_ Sim! E vamos nomea-los de Enzo e Lorena.

_ Boa._ Abner disse sorrindo, dando um beijo na testa de Leandro._ Mas, na real, eu quero mesmo ficar com você. Você não parece ser feliz no seu casamento, por que se privar? Quem sabe seremos felizes juntos?

_A minha vida é difícil, Dimitri. Muito difícil. Eu quero muito resolver os meus problemas, mas eu preciso pôr a minha cabeça no lugar para poder enfrentar tantas coisas.

_ Que coisas?

_ Um divórcio, um luta judicial pela guarda da minha filha, a rejeição dela por não aceitar a nossa separação...sem contar que preciso conquistar a minha independência financeira.

_ Nós podemos fazer tudo isso juntos!

_ Eu adoraria. Mas não posso te fazer de bengala. Eu quero andar com as minhas próprias pernas. Eu quero, pela primeira vez na vida, conquistar o meu espaço...acho que podemos aproveitar esse tempinho para nos conhecermos melhor. Eu sei tão pouco de ti.

Leandro sorria acariciando o seu rosto.

_ Você vai me conhecer. Mas, isso será conforme formos nos encontrando. Sabe aquela história das mil e uma noites? Em que cada noite a mulher conta uma história diferente para o marido, assim ela prolonga a vida dela. Então, a cada dia você vai conhecendo um pouco mais de mim, assim garanto mais tempo com você.

_ Hum! Esperta a minha Sherazade._ Leandro o beijou.

Leandro despertou com o som do toque do seu Smartphone. Ainda sonolento, pegou o aparelho e despertou rapidamente ao ver que era uma ligação de Júlio.

_ Puta que pariu!_ exclamou assustado._ Ah, meu deus! Será que ele está vindo para casa?!

Atendeu com o coração batendo a mil.

_ Alô... Júlio.

_ Meu amor, eu te acordei?

_ É ... Eu tava dormindo... Você tá em São Paulo?

_Não. Estou no Rio.

Leandro ficou trêmulo com os olhos arregalados.

_ Eu fui assaltado em São Paulo. Tomei uma surra e tô todo fodido. Me roubaram a carteira e o celular, a minha sorte é que não roubaram o meu carro... aquele que tenho lá na nossa casa de São Paulo. Eu já fui medicado e fiz um B.O. Já peguei o avião e cheguei no Rio. Estou indo para a casa agora.

_ Tudo bem... Você está bem agora?

_ Que nada! Tô todo fodido de dor. Vou precisar de muitos cuidados, carinhos e beijinhos do meu maridinho lindo e gostosinho.

_ Tudo bem...eu vou levantar e buscar a Vanessa na casa da Lorena para te esperarmos aqui. Como é sábado, e Patrícia está de folga, vou providenciar algo para o nosso almoço em algum restaurante.

_ Ok. Te amo, coração. Beijos.

_ Tchau, Júlio.

Leandro desligou as pressas e levantou desesperado, acordando Abner.

_ Acorda! Acorda!

Abner gemeu sonolento. Assustado, Leandro o sacudiu.

_ Levante logo, que o meu marido está chegando!

Abner acordou assustado.

_ Eu vou pegar as suas roupas na lavanderia e você se vista o mais rápido possível.

Leandro se vestiu, correu e voltou com as roupas num estalar de dedos. Abner se vestiu e puxou para si.

_ Você tá tão lindo assustadinho.

_ Para com isso, Dimitri! Você tem que sair daqui antes que o Júlio chegue. Eu tenho que lavar as taças e o resto da louça que usamos.

_ Hum! Criminoso profissa. Até as provas do crime ele quer apagar._ Abner o beijou, apalpando a sua bunda._ Que delícia você, hein! Gostoso!

Leandro se soltou.

_ Bora, Dimitri! Você tem noção que está brincando com fogo?!

_ Tá bom! Tá bom! Tô indo, meu nenê.

Na sala, Leandro abriu a porta apressado e Dimitri saiu, ficando na soleira.

_ Me dá um beijinho de despedida.

Leandro o beijou rápido.

_ Eu vou te ver de novo. Vou pegar gostoso como ontem. Pro seu maridinho só vai sobrar o perfume da nossa luxúria nos lençóis dele. _ Abner o beijou novamente.

Leandro se afastou.

_ Já chega! Agora vá!

Acompanhou com o olhar Abner ir até o elevador privativo. O cozinheiro deu um passo para trás e sussurrou sorrindo:

_ Gos-to-so!

Leandro fechou a porta.

Correu para lavar a louça e tirar todas as evidências da visita de Abner.

Depois de tudo finalizado, se jogou no sofá aliviado. Recordou do beijo do amante e tocou os lábios sorrindo.

...

Vanessa foi despertada ao som da voz de Lorena chamando pelo seu nome e tocando em seu ombro. A menina abriu os olhos sonolenta e gemendo de sono.

_ O seu pai está na sala. Ele veio te buscar.

_ Mas já! Eu disse a ele que ia depois do almoço! Que saco!

Lorena encolheu os ombros e ergueu as mãos para o lado.

Era a primeira vez que Leandro ia á casa da secretária do marido. Ao ouvi-lo chamar por seu nome no portão, Lorena se assustou com a sua presença, já que o combinado era que ela levaria Vanessa para a casa.

Leandro explicou sobre o assalto e a agressão que Júlio sofrera e disse que seria melhor se ele encontrasse a filha quando chegasse em casa.

_ Claro. Entendo perfeitamente.

Lorena estava só em casa com Vanessa. Os seus pais haviam retornado ao sítio, quando os primeiros raios de sol davam o seu ar da graça.

Enquanto aguardava na sala de estar, Leandro reparou que alguns porta retratos estavam vazios. Eram os que guardavam as fotos de Abner. Lorena as retirou para que Vanessa não o conhecesse.

_ Oh, pai, que vacilo hein! Eu não falei que eu ia pra casa depois do almoço? Que saco essa marcação pra cima de mim._ Vanessa estava com a cara amarrada e a pele do rosto amassada, por ter dormido muito tempo na mesma posição. Leandro não estranhou o seu mau humor matinal. Já estava acostumado com ele.

_ O seu pai está vindo pra casa.

_ Mas, já! Ele não disse que ia passar o final de semana em São Paulo?

_ Sim. Mas, aconteceu um imprevisto. Ele sofreu um assalto.

_ Ele está bem?!_ a preocupação de Vanessa era explícita na sua fisionomia de espanto.

_ Está sim. Mas, seria bom se ele te entrasse em casa, quando chegasse._ Para não preocupa-la ainda mais, Leandro ocultou sobre a agressão.

_ Mas, ele tá bem mesmo?

_ Sim. Agora vá escovar os dentes e trocar de roupas. Quando Júlio me ligou, ele já estava no aeroporto. A essa altura, já deve ter chegado em casa. E ainda tenho que passar no supermercado para comprar a geleia preferida dele e algumas frutas.

_ Quer tomar café da manhã conosco, Leandro? Não tenho nada tão chique quanto as coisas da sua casa, mas é tudo gostosinho.

_ Oh, querida, muito obrigado, mas vai ficar para a próxima. O Júlio está nos esperando. Acho que ele vai preferir tomar café da manhã conosco.

_ Tudo bem.

Quando eles chegaram, Júlio os aguardava sentado no sofá da sala.

Com muita dificuldade, havia tomado banho e trocado a blusa e calça social por roupas mais leves: um short preto de moletom e uma camisa branca, nos pés calçava chinelos macios de usar em casa. Os pés estavam apoiados num puf.

Vanessa correu em sua direção e o abraçou. Ficou assustada ao ver o seu rosto inchado e machucado.

_ Meu deus! O que aconteceu, pai?! O que fizeram com você?

_ Foram uns filhos da puta que me pegaram de surpresa! Mas eu já falei com o delegado, que é o meu amigo. Ele me garantiu que vai pegar os marginais. Acredita que os desgraçados meu roubaram a carteira e o celular?

_ O importante é que você está vivo._ Leandro disse estranhando, em pensamento, o fato dos bandidos não terem levado o carro e a rapidez de Júlio em chegar ao Rio de janeiro sem os documentos. Ele tinha certeza que Júlio estava mentindo. Desconfiava que o marido nem se quer pisou em São Paulo naquela noite, que estava com o tal de Abner.

No entanto, não quis perguntar nada e preferiu mentir que acreditou na sua história. Estava emocionalmente cansado de brigar com Júlio.

_ E você mentiu pra mim! Disse que não havia acontecido nada com ele.

_ Menti sim, Vanessa. Eu não queria te desesperar.

_ Não adiantou nada. Eu estou desesperada.

_ Calma, meu amor. Eu não quero que você tenha outro ataque de nervosismo. O importante é que eu estou vivo, como o seu pai disse.

_ Você tá bem mesmo?

_ Claro. Agora dá um beijinho no papai, minha princesa._ Júlio pediu sorrindo e abrindo os braços. Ela o beijou e o abraçou._ E você, minha vida? Não vai me dá aquele beijinho gostoso, que só você sabe dar?

_ Eu vou na cozinha guardar estas sacolas e preparar o café da manhã. Na correria, nem eu e nem a Vanessa não comemos nada.

Leandro saiu sério.

_ Gente, ele tá tão frio com você, pai! Nem se sensibilizou com o seu estado!

_ Fazer o quê? Leandro prefere acreditar mais nos venenos da amiga do que nas palavras do homem que o ama.

_ Isso é tão injusto! Você não merece isso! Não sei como você suporta.

_ O amor me faz suportar. Eu amo demais aquele homem...e a você também, querida.

Pai e filha trocaram sorrisos.

Na segunda-feira, pela manhã, Vanessa desceu as escadas correndo como sempre fazia. Estava uniformizada, com apenas uma alça da mochila pendurada nas costas.

Encontrou Júlio acomodado no sofá com o notebook no colo. Ele ainda estava com os hematomas e o corpo doía.

_ Paizinho, você está se sentindo melhor?_ a menina perguntou, sentando ao seu lado e lhe dando um beijo no rosto.

_ Mais ou menos.

_ A delegacia de São Paulo já te deu algum parecer sobre o paradeiro daqueles malditos, pai?

_ Até agora nada._ Júlio respondeu sem parar de digitar._ Mas isso não vai ficar impune. Nem que eu vá até o inferno, eu caço aqueles desgraçados.

_ Faça isso mesmo, pai. Faça aqueles marginais pagarem caro pelo que fizeram com você.

Vanessa retirou um documento e uma caneta da mochila.

_ Pai, a minha viagem será na quinta-feira. O meu pai Leandro já assinou a procuração me autorizando a viajar. Só falta você._ ela o entregou o papel e a caneta.

_ Não sei se devo te deixar ir.

_ Ah, pai! Não vá dar pra trás agora.

_ Quem é o responsável que vai com vocês?

_ A tia Márcia, mãe da Vivi, você a conhece. Ela foi a sua cliente quando se separou do marido... inclusive, ela é muito grata a você, por ter ajudado a depenar o idiota do ex marido dela.

_ Sei quem é.

_ Então, vai assinar?

_ O que o Leandro achou disso?

_ Ele concordou. Tanto é que assinou. Mas, é claro, que antes fez um interrogatório exagerado para a tia Márcia. Enfim, coisas do meu pai.

_ Se pra ele tá de boa, então, eu assino.

_ Aaaaaa! Que massa! Te amoooo!_ Vanessa o beijou no rosto._ Enquanto você assina, eu vou ao banheiro.

A menina saiu, deixando a mochila na sala.

Júlio fechou o notebook e apoiou o documento sobre ele. Leu-o e se posicionou para assinar. No entanto, a caneta falhou por falta de tinta.

Olhou para a mochila de Vanessa e esticou o braço para pegá-la. Abriu e não encontrou nenhuma caneta. Pegou o estojo. Ao abrir, o seus olhos se enfureceram com o que viu. Franziu o cenho e as narinas se abriram, devido a raiva.

_ Vanessaaaaaa! Venha aqui agora!_ gritou bravo, como nunca havia gritado com ela.

Vanessa entrou na sala correndo.

_ Que porra é esta aqui?!

A menina arregalou os olhos, a sua expressão era de espanto e o seu coração parecia que saltaria do peito. Júlio segurava a cartela de anticoncepcionais em mãos, direcionando para a filha um olhar misto de fúria e decepção.

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Comentários

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Capítulo lindo e perfeito do início ao fim. E com isso, teremos um ponto alto na história: Como será que o Leandro vai reagir quando descobrir que o Dimitri não é o Dimitri e sim,a pessoa que ele mais tem nojo na vida?

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