Carla

Um conto erótico de Nassau
Categoria: Heterossexual
Contém 4501 palavras
Data: 28/10/2021 09:33:55
Assuntos: Heterossexual

Encontro Virtual

[Morena fala reservadamente para Escritor:] Oiiiii

[Escritor fala para Morena:] Oi! Boa Noite.

[Morena fala reservadamente para Escritor:] De onde vc tc

Eu era neófito nesse negócio de salas de bate papo. Havia acabado de examinar uns documentos que me mantivera ocupado por toda a tarde daquela sexta-feira e avançara a madrugada de sábado. A adrenalina circulando em meu sangue impedia que eu dormisse. Uma zapeada na TV e nada de interessante e, na internet, não tinha muita afinidade para poder usufruir das vantagens ou desvantagens que ela proporciona. Por falta absoluta de opção, entrei na sala de idade do UOL e estava apenas olhando as conversas quando notei a mensagem a mim endereçada. Respondi e aguardei. Quando veio nova resposta pensei: “Que diabos quer dizer vc e tc. Porém, como a mensagem se referia ao local, deduzi corretamente que vc seria você. A outra sigla não fazia a menor ideia, mesmo assim, resolvi.

[Escritor fala pra Morena:] Aclimação.

[Morena fala reservadamente para Escritor:] Pena que estamos longe fala no reservado

Vixe! Mais essa! – Que porra é essa de reservado. Fiquei entre sair da sala ou perguntar. A absoluta falta do que fazer e o maldito sono que não vinha fez com que me decidisse pela segunda opção.

[Escritor fala para Morena:] Reservado? Como é que faço?

Demorou um pouco e nada de mensagem para mim. Pensei: “Porra, minha falta de conhecimento espantou a morena”.

Já tinha desistido quando notei uma mensagem para mim.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] Tem uma caixinha embaixo, clique nela que só a sua morena vai poder ler suas mensagens.

Examinei a tela, cliquei no local indicado e agradeci:

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] Obrigado. Mas veio tarde, a morena sumiu.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] Eu sei. Ela saiu. Foi só para começar um papo.

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] Como você sabe.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] Apareceu a informação.

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] Ah!

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] Vc é novo nesse negócio.

Entendi que aquilo era uma pergunta.] “Cacete, onde é que foram parar as teclas de pontuação dos computadores desse povo?” - Pensei desanimado.

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] Primeira vez. Está difícil.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] Você se acostuma. rs

Entendi que ‘rs’ era riso. “Do que será que ela está rindo? – Pensei bem humorado. Antes que respondesse veio outra mensagem:

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] Vc já preencheu muitos fp uol?

[Escritor fala reservadamente para Noiva raivosa:] Que diabos é isso?

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] kkkkkk. formulário padrão uol. São umas perguntinhas básicas que todos fazem aqui. de onde tc. idade. se é casado e o que gosta de fazer.

Fiquei com vontade de perguntar se a tecla ‘shift’ do teclado dela estava com defeito, porém, achei melhor não fazer isso. Então respondi:

[Escritor fala reservadamente para Noiva raivosa:] Nenhum. Você é a primeira que converso.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] estou vendo que é novo nisso não é você é vc não é conversar é tc que significa teclar.

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] Estou vendo que não sei nada. Estou precisando de umas aulinhas. Você não quer ser minha professora?

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] vc está muito apressadinho. nem preencheu o formulário ainda kkkkk

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] não sei o que fazer. Melhor você perguntar.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] ta bom. vamos simplificar. Em vez de ficar respondendo perguntas, a gente fala logo tudo. Vou fazer aqui para vc ver como é: Idade, onde mora, o que faz, tipo físico.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] tenho 23 anos, moro na Vila Mariana perto do metrô Ana Rosa do metrô, tenho 1,68 cm de altura e como vc viu sou noiva e estou puta da cara com meu noivo.

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] e por quê tanta raiva assim?

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] epa não pula as etapas tem que falar de vc antes.

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] ops. Desculpe. Então tá. Tenho 37 anos, muito velho pra você? Estou no bairro da Aclimação, perto do parque, estamos relativamente perto, tenho um metro e noventa e oito muito alto pra você? e sou solteiro. Ah sim! E não estou com raiva de ninguém, pelo menos não por enquanto.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] kkkkkkk vc é engraçado

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] e não é muito velho, até gosto de homens mais experientes, meu noivo tem 35, não muito alto, meu noivo é mais baixo que eu uns 5 cm e sim moramos perto.

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] Isso é bom, espero. Posso perguntar agora?

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] curioso você né tudo bem estou com raiva porque meu noivo que sempre foi um porco chavista agora descobri que também é viado kkkkk ai que ódio.

Depois de mais de um minuto:

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] ei cd vc ficou assustado com o que eu disse?

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] Estou aqui digerindo isso. Ah! E não é chavista, é Porco Chauvinista.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor:] ai meu deus que vergonha vc deve estar me achando uma analfabeta vou desligar o pc depois disso

[Escritor fala reservadamente para Noiva nervosa:] Não faça isso. Você ainda me deve umas aulas de como agir nas salas de bate papo.

[Noiva raivosa fala reservadamente para Escritor: rss]

E o papo continuou noite a madrugada a fora. Com o passar do tempo, as reservas foram sendo deixadas de lado, ela informou que seu nome era Carla e ele retribuiu a confiança dela informando que o seu era Fabiano, muito embora nenhum dos dois informassem os sobrenomes. Fabiano achou que estava se divertindo como há muito tempo não fazia. Ele estava na fase final de um projeto e poder se descontrair daquela forma estava fazendo muito bem. Brincou com o fato dela nunca usar letras maiúsculas e não se importar muito com pontuação e riram juntos disso. O dia já clareava quando finalmente se despediram, porém, diante do fato de estarem se comunicando muito bem, ele arriscou convidá-la para sair e ela o provocou dizendo que já estava pensando que ele não ia convidar nunca. Marcaram então para se encontrarem no shopping naquele mesmo dia, sábado, e optaram pelo Market Plazza, também conhecido como da Av. Paulista. Para facilitar o encontro, trocaram números de telefones.

Era o ano de 2005. Fabiano estava preocupado com o lançamento iminente do seu terceiro livro. Acabara de escrever e havia sido programado uma noite de autógrafo. Ele não disse para Carla que o apelido que escolhera ao entrar na sala era na verdade a sua profissão, seu ganha pão. Ela perguntou uma vez apenas o que ele fazia da vida, porém, ele desconversou e ela não insistiu mais.

Quando acordou já passava das quatorze horas e ele não conseguia ficar parado. O lançamento de seu livro o terceiro estava envolvido em uma aura de mistério, pois o relações públicas da editora havia criado todo um roteiro para esse evento e ele defendia a ideia de que, quanto menos informações, maior a imprensa se movimentaria e isso daria destaque. Também era a primeira vez que havia sido pago para escrever. Havia assinado um contrato e a Empresa apostara alto no sucesso da obra e, ele sabia muito bem, que se as expectativas da Editora não fossem atingidas, ele poderia procurar um emprego, pois estaria queimado com autor de livros. Mas sentia que devia isso a ele. Seus dois primeiros livros só foram editados e colocados no mercado por ele ter recebido ajuda de um parente no primeiro e o patrocínio de uma empresa para o segundo. Dava graças por ter tido uma aceitação razoável, o parente rico havia recebido seu investimento com lucros e o segundo rendera o suficiente para ele abandonar o antigo emprego e se dedicar ao terceiro livro. Sentia assim, que estava no ponto crucial de seu sonho. Ou decolava ou desistia.

Com o pensamento totalmente envolto nessas preocupações não se lembrou do compromisso assumido com Carla. Por volta das quatro horas da tarde seu celular ligou e ele atendeu surpreso ao ver que era ela ligando:

– Oi gata? O que manda?

– Nossa! Que voz bonita você tem. Lembra-se de mim?

– Obrigado, a sua voz também é linda e claro que me lembro! Como poderia esquecer! – Mentiu descaradamente.

– Então. Desculpe eu ligar é que... – Carla vacilou e Fabiano ficou apreensivo, pois aquilo estava cheirando a um fora, mas não disse nada. Então ela prosseguiu: Então, entrei no Bate Papo do UOL e te procurei. Você não estava lá e fiquei em dúvida. O encontro que marcamos para hoje é sério? Está em pé? Ou foi só conversa de bate papo mesmo.

Na verdade, ele não pensava que fosse sério. Sair no escuro com uma mulher que não conhecia, jamais vira e só havia passado algumas horas conversando com ela através da internet. Tudo bem que foram horas agradáveis, mas daí deixar aquilo seguir adiante poderia significar também um tiro no pé. Porém, mesmo tendo se esquecido do compromisso, Fabiano ficou contente de ela ter ligado para confirmar. Afinal, passar algumas horas com alguém agradável, e ela dera mostras de que era muito simpática, seria muito bom. Resolveu arriscar, se fosse feia, e certamente era, pelo menos tinha uma conversa agradável e isso podia ser tudo o que ele precisava. E também, caso estivesse errado e ela não fosse uma companhia interessante, sempre poderia dar uma desculpa e encerrar o encontro quando lhe aprouvesse. Assim, sem vacilar, confirmou:

– Lógico que está em pé! Como eu poderia não querer te conhecer. – E para marcar posição, mentiu descaradamente: – Não parei de pensar nisso desde o momento que acordei.

– Mentiroso. – Respondeu ela rindo e depois falou: – Tudo bem então. Sete e meia da noite né?

– Sim Carla. Pode estar certa de que estarei lá nesse horário.

– Só mais uma coisinha... – Ela vacilou depois dele ter dito que sim e, muito constrangida, perguntou: Como é seu nome mesmo? Desculpe, não se ofenda comigo, é que eu esqueci.

– Tudo bem. Não precisa se desculpar. – Por dentro ele pensava que lógico que precisava, onde já se viu isso? Marcar um encontro e depois nem se lembrar do nome? Deu vontade de cancelar tudo, porém, quando percebeu já estava dizendo: É Fabiano, meu nome é Fabiano.

– Fabiano. É isso mesmo. Como pude esquecer. Mas vou tentar te compensar por isso.

Ele ficou sem saber como responder ao que ela havia dito. Nossa! Será que aquela promessa queria dizer o que ele estava pensando? Porém, nada acrescentou. Conversaram mais alguns minutos e se despediram com cortesia, nada mais que isso e ele resolveu tomar uma dose de uísque e depois um banho.

Fabiano chegou no local do encontro antes que Carla e ficou na praça de alimentação olhando ansioso para todos os rostos femininos que iam se aproximando ou passavam ali por perto, mesmo sabendo que isso não servia pra nada, pois ele não a conhecia. Arrependeu-se por não combinarem uma cor de roupa ou algo assim, mas agora era tarde. Ficou nervoso quando passou dez minutos do horário marcado, irritado aos quinze, pensou em ir embora aos vinte minutos e finalmente resolveu fazer isso quando viu no relógio que faltavam cinco minutos para as oito e estava se levantando quando seu celular acusou o recebimento de uma chamada. Olhou ao redor e só atendeu quando conseguiu ver uma mulher segurando o celular no ouvido e também olhando em volta como se procurasse por alguém. Ela era linda. Seus cabelos claros, compridos e lisos, caíam-lhe sobre suas costas e uma mecha descia pela frente e cobria um de seus seios que ele pode notar eram de tamanho médio. A boca carnuda se torcia na ansiedade de ser logo atendido. Ele atendeu:

– Oi.

– Oi. Onde você está?

– Na rua. Esperei e você não apareceu eu estou indo embora.

– Desculpe. Tive um probleminha e me atrasei. Você foi mesmo?

– Estou indo. Achei que você não ia mais. Quer dizer, pensei que não estava interessada e que era só uma brincadeira.

– Puxa vida. Não faz assim. Eu queria tanto te conhecer.

– Pois é. Mas não deu não é?

Fabiano falava enquanto andava em direção a ela, procurando fazer um caminho que impediria que ela o visse. Conseguiu seu intento e se postou próximo a ela, ficando admirando o corpo da garota que chamava a atenção também de todos os que passavam. Ela estava usando uma saia rodada de comprimento abaixo dos joelhos e uma blusa de mangas compridas branca, um pouco transparente, pois ele podia ver as tiras do sutiã também branco por baixo e nos pés uma bota de cano comprido. Mesmo não sendo uma roupa que lhe permitisse ter uma ideia exata do corpo dela, dava para notar que ela fora privilegiada pela natureza que lhe dera um corpo perfeito. Ouvia a voz dela pelo telefone e também ao natural tal a proximidade. Então afastou o aparelho do rosto e falou bem próximo ao ouvido dela que insistia para que ele voltasse.

– Eu não posso voltar porque ainda não fui.

– Aiiii. – Gritou ela chamando a atenção de todos a sua volta enquanto tentava recuperar o telefone que lhe escapara da mão, mas ele foi mais rápido e agarrou o aparelho em meio a sua queda enquanto ela falava irritada: – Porra cara, você é louco ou o que? Quer me matar de susto?

Fabiano pretendia brincar dizendo que era sua vingança por ela ter atrasado, mas diante da expressão e da forma que ela falara, percebeu que tinha se dado mal. Então passou a se desculpar:

– Desculpa Carla. Não pretendia te assustar assim, foi só uma brincadeira.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas depois parou. Ainda com a boca aberta olhava para ele espantada como se estivesse vendo algum espírito. Com muito custo conseguiu se controlar para poder falar:

– Mas você é... Você é... Não acredito nisso. Você é escritor mesmo? Fabiano Aquino?

– Sim, eu mesmo.

– Porra. Por que você não me falou isso ontem? Caralho cara, você me dá dois sustos seguidos. Você deve estar mesmo querendo me matar.

– Ei. Pode parar. Um susto com minha idiotice até pode ser, mas não me lembro de ter dado o segundo.

– Porra cara. Você é famoso!

– Sou? Eu não acho. Olha a sua volta. Está vendo alguém se aproximando de mim, pedindo autógrafo ou coisa assim?

– Ah! Sei lá. Pra mim você é. Aliás, qualquer pessoa que aparece em programa de entrevista na televisão é famoso.

– Nada. Nem sei o motivo de terem me entrevistado. Vai ver estavam com dificuldades de arrumar alguém entre os famosos de fato.

– Ou então estou certa e você dá audiência. – Disse ela entre dois sorrisos. Depois ficou séria e continuou? – Poxa vida. Se você acha que escrever dois livros não é interessante, então eu sou completamente invisível. Meu Deus, eu puxei papo com um cara na internet e marquei encontro e o cara é... o Fabiano Aquino.

A pausa proposital de Carla antes de pronunciar o nome dele deu um efeito especial ao assunto. Também massageou o ego dele o fato dela estar bem informada com relação a ele. Porém, olhando a sua volta, Fabiano notou que, por ser sábado, o movimento no interior do Shopping Center estava se intensificando ao ponto deles dois, ali em pé, estarem atrapalhando um pouco aos demais e resolveu sair dali:

– Vamos procurar uma mesa e nos sentarmos. Assim poderemos conversar melhor.

Carla aquiesceu e eles tiveram dificuldade de encontrar uma mesa. Foi nessa hora que ele percebeu a existência de um restaurante no shopping e, segurando-a pelos braços, a conduziu até lá. Entraram e foram encaminhados pelo garçom que os atendeu para uma mesa um pouco isolada das demais. Sentaram-se e ele perguntou o que ela queria beber:

– Pode ser uma coca cola mesmo.

Ele parou e ficou a encarou com expressão séria. Ela percebeu a reação dele e falou:

– O que foi? Por que está me olhando assim?

– Coca cola? Você está brincando, não está?

– Ah! Sei lá. O que você quer então? Fala que eu te acompanho.

– Estava pensando em chope, ou talvez um vinho.

O garçom interveio perguntando se ele desejava ver a carta de vinhos do restaurante, ele concordou com um aceno de cabeça e viu o jovem se afastar. Então pode, pela primeira vez, olhar para Carla e ficou perplexo com a beleza da jovem.

Não sabia se era o efeito da luz do restaurante, ou se o fato de estar mais próximo, notava agora que os cabelos dela eram loiros de um tom dourado. O rosto era digno de uma atriz. Simplesmente linda. Rosto oval de forma delicada, boca bem desenhada e olhos azuis, de um tom que lembrava a pedra preciosa água marinha, que brilhavam para ele. Estando no restaurante, ela só conseguia ver a parte superior de seu tronco e agora podia ver os seios firmes e de tamanho médio presos pelo sutiã branco que emprestavam uma aparência de inocência e provocação ao mesmo tempo. A maquiagem era bem discreta, com sombra valorizando os azuis de seus olhos e o batom vermelho emprestando sensualidade à sua boca que era um convite a um beijo. Ao se ver observada ela sorriu. Seu sorriso, embora tímido, agiu como um holofote que fora aceso para realçar tanta beleza e Fabiano se perdeu no branco e na perfeição de seus dentes e no profundo azul de seus olhos. Diante de tanta beleza, suspirou alto e viu o sorriso dela se transformar em pura timidez.

Levou algum tempo ainda para que Carla se sentisse à vontade, mas ela foi se soltando e passou a mostrar as qualidades que mantivera Fabiano acordado até o raiar do dia. Ela era dona de uma simpatia ímpar, um senso de humor afiado que só é possível ser demonstrado por pessoas inteligentes. Eles estavam na metade da garrafa de vinho quando ele pediu o cardápio para escolherem um prato para jantar. Carla protestou, dizendo que não era isso que esperava, porém, diante da insistência dele, ela acabou concordando.

Ao final do jantar e depois da segunda garrafa de vinho qualquer coisa que pudesse travar a ambos em uma conversa entre duas pessoas que se encontravam pela primeira vez. Carla ria muito com alguns comentários engraçados que Fabiano fazia, porém, não ficava atrás com os seus, fazendo até que, em certos momentos, eles recebessem aquele olhar de recriminação do maître do restaurante diante das gargalhadas que davam.

O tempo passava e eles não arredaram o pé. Apenas quando Fabiano sentiu os olhares ansiosos que alguns garçons lhe dirigiam é que perceberam que só restavam os dois no restaurante e já passava das vinte e duas horas. Suspirou tristemente informando à Carla que era melhor saírem antes que fossem convidados a se retirar. Ela concordou e ele pediu a conta. Logo estavam andando pelo Shopping que, pelo adiantado da hora, tinha poucas pessoas. Carla agradeceu pelo jantar e disse:

– Nunca imaginei que era um encontro chique. Se soubesse teria me vestido de forma mais adequada.

– Na verdade eu também não, – confessou Fabiano, – minha intenção era pegar um cinema, mas quando vi que você ficou abalada com minha brincadeira quis ficar com você em um lugar onde poderia me desculpar e calhou de irmos ao restaurante. E, por falar nisso, nem pedi desculpas. Foi idiotice minha brincar daquela forma.

– Esquece isso. Eu também tenho que me desculpar pelo atraso. – E mudando a expressão de séria para uma carinha sapeca, brincou: – É que achei que atrasar fosse prerrogativa das mulheres. Como eu ia imaginar que você é tão pontual assim.

– Verdade. A meu favor só resta a desculpa que ando muito ansioso ultimamente. Me perdoe.

– Só se você perdoar o meu atraso.

– Então ficamos assim. Vamos nos perdoar por nossas falhas passadas, presentes e futuras.

– Passada e presente eu topo, mas no futuro, nem pensar? – E dizendo isso ouviu-se o riso cristalino de Carla ecoando nos corredores do Shopping.

– Por que diz isso? Isso quer dizer que não haverá futuro? Foi tão ruim assim?

– Nãããooo. Respondeu ela assustada e estava pronta para se explicar quando viu a expressão de zombaria no rosto dele, então deu um tapinha em seu braço enquanto dizia: Seu bobo!

Depois de um breve silêncio entre os dois, ela perguntou:

– Agora conta o motivo de tanta ansiedade.

Fabiano começou a falar. Contou do livro prestes a ser lançado, de sua inexperiência no ramo com apenas dois livros lançados antes e de nunca ter havido um lançamento com noite de autógrafos e tudo o mais e que, por ser novidade para ele, aquilo o estava deixando louco. Enquanto falavam, sem combinar nada, andavam em direção ao estacionamento. Fabiano soube que Carla viera de Uber e assim se prontificou a levá-la para casa. Quando chegaram ao local onde o carro estava estacionado ele abriu a porta do carona para que ela entrasse, porém, em um gesto impensado, segurou o braço dela e puxou para si. Ela cedeu ao esforço dele e se virou. Seus corpos ficaram colados. Ela olhando para cima e ele para baixo. Então ele falou sorrindo:

– Está estranho o universo hoje. Vejo as estrelas abaixo de mim.

– Verdade? E você sabe ler nas estrelas? – Perguntou Carla numa voz suave e sensual.

– Bem que eu gostaria, mas acho que não conseguiria. O brilho que emana delas me impede de raciocinar.

O corpo de Carla deu um leve tremor e ela se aconchegou ainda mais a ele. Fabiano a enlaçou com as duas mãos se fechando em suas costas e fez uma leve pressão, Carla levantou ainda mais o rosto e, ficando nas pontas dos pés fechou os olhos e entreabriu os lábios em uma oferta irrecusável.

O beijo começou calmo, suave e foi se intensificando à medida que a sensação agradável dominava o casal. Fabiano sentiu a língua de Carla forçando passagem por entre seus lábios e a acolheu agradecido em sua boca sugando moderadamente enquanto as mãozinhas delicadas dela enlaçaram sua nuca e fazia carinho em meio a uma leve pressão. Os corpos se grudaram em virtude da necessidade de um contato íntimo. A ereção de Fabiano foi inevitável e, ao senti-la, Carla começou a fazer um leve movimento pressionando a pélvis ao encontro daquele cacete que parecia ter vida própria e procurava uma forma de se libertar de sua prisão. Quando sentiu que o desejo se tornava insuportável, Fabiano apoiou ambas as mãos no ombro dela e fez pressão para que se afastasse. Ela aceitou esse comando e descolou seu corpo do dele, porém, manteve seus olhos presos aos deles que o encaravam em uma pergunta muda. Fabiano recuperou o fôlego e disse:

– Vamos sair daqui senão...

A interrupção soou engraçada aos ouvidos de Carla que provocou:

– Senão o que?

– Senão eu vou acabar te comendo aqui.

– É sério isso? – E fazendo uma carinha que demonstrava todo o seu desejo, brincou. – Acho melhor ir você embora, senão eu vou te comer aqui.

Fabiano a empurrou delicadamente para que ela se sentasse, deu a volta e ocupou o banco do motorista. Em questão de segundos estavam se afastando do Shopping.

– Na sua casa ou na minha? – Perguntou Fabiano rindo.

– Pode ser na minha casa, desde que você explique para meu pai o que vamos fazer lá. – E gargalhou divertida.

– Eu, hem! Você pensa que esqueci que seu pai é militar?

– É sim. Mas reformado, lembra?

– Os reformados são os piores. Melhor ir para a minha casa.

Uma leve sombra turvou a expressão alegre de Carla e, percebendo isso ele perguntou:

– Qual o problema? Moro só. Não te menti.

– Não sei. Acho esquisito assim na primeira vez já ir para sua casa. Mas se é isso que você quer, então vamos.

Fabiano achou estranha a reserva que ela demonstrou com relação ao local e, para piorar, quando estavam na altura do Metrô Paraíso notou que havia alguma coisa errada com Carla. Ela retorcia as mãos e as feições de seu rosto havia mudado e era de pura demonstração de nervosismo:

– O que foi gata? – Perguntou com o seu melhor sorriso estampado no rosto.

Carla levantou a cabeça e olhou em seus olhos. Fez menção de que ia falar alguma coisa, mas não conseguiu e ela voltou a abaixar o rosto fugindo ao olhar inquisitivo dele.

A mente de Fabiano trabalhava febrilmente. Levá-la para casa e perder uma noite de prazer com aquela linda mulher não parecia ser uma opção. Sabia que depois permaneceria em casa se remoendo de arrependimento por não ter insistido. Porém, insistir era fazer com que ela se sentisse obrigada a acompanhá-lo e, nesse caso, além de ter um péssimo sexo, também teria motivos para se arrepender. Decidiu então seguir em frente e parou ao lado da Estação do Metrô Ana Rosa. Quando Carla percebeu que estavam parados, viu onde estava e perguntou:

– Por que você parou aqui?

– Para você me dizer onde mora. Vou te levar em casa. – Disse ele procurando demonstrar a calma que não sentia.

– Ah! Ta! Pode me deixar aqui. Eu moro pertinho.

– Nem pensar que eu vou te deixar aqui em uma hora dessas.

Ela insistiu, mas ele foi firme e venceu a discussão. Muito a contragosto ela indicou o caminho e logo ele estacionava em frente a um prédio que, pela aparência, demonstrava ser ocupado por pessoas de Classe Média Alta. Ela, ainda envergonhada, se despediu dele mantendo a cabeça baixa:

– Me desculpe. Sou uma idiota. Você deve estar me odiando.

– Carla. Olhe para mim. – Fabiano ordenou com uma voz firme e ela levantou a cabeça. Ele pode notar que seus olhos lacrimejavam e que verteriam lágrimas em questão de segundos. – Não se preocupe com nada querida. Fique sabendo que cada minuto que passei contigo hoje valeu muito a pena. Obrigado.

Ela se atirou sobre ele e o beijou na boca. Um beijo molhado diante das lágrimas que vertiam de seus olhos. Quando finalmente encerrou o beijo, segurou a face dele com ambas as mãos e disse:

– Você é um homem maravilhoso. Sei que… – Foi interrompida pelos soluços enquanto Fabiano se inclinava sobre ela para alcançar o porta luvas de onde retirou uma caixa de lenço, entregando a ela que, depois de usar alguns, juntou força para continuar. – Sei que você não vai mais querer nem ouvir meu nome. E eu nem sei o que deu em mim. E depois, qualquer coisa que eu disser agora vai soar como desculpa esfarrapada.

Fabiano continuou pensativo por um longo momento e depois falou:

– É verdade. Mesmo porque, não posso negar que estou super irritado. Então, vou te dar uma oportunidade de se explicar sim. Amanhã está bem? Você tem meu número, me ligue para a gente combinar alguma coisa.

Ela acenou com a cabeça concordando, abriu a porta e andou apressada em direção à entrada do prédio. Nenhuma vez olhou para trás

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Comentários

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Muito bom começo! A coisa🔥🔥🔥 promete!

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MUITO BOM... SURPRESO POSITIVAMENTE COM SEU CONTO... PARABÉNS

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Hum,vamos aguardar. As mulheres dos contos de Nassau aprontam bastante. Quiçá,essa seja das mais cruéis......

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