O outro capítulo 4 Dimitri

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 9191 palavras
Data: 21/10/2021 19:30:14

Capítulo 4

_ Desgraçado! Eu vou acabar com você! Eu vou descobrir quem você é e vou te matar!

Do outro lado da linha, Abner ouvia tapando a boca com a mão para conter o riso. Estava satisfeito em ouvir a voz histérica de Leandro e queria se deleitar um pouco antes de trocar palavras com o rival.

Júlio ouviu os gritos de Leandro. De imediato, enrolou uma toalha na cintura e correu para o quarto. O seu coração bateu em disparado ao ver o marido nu, gritando com o seu smartphone no ouvido.

Chegou até Leandro numa rapidez de jato, não dando tempo de Abner dizer algo. Júlio tomou o celular do marido.

_ Seu desgraçado! Você é um lixo! Um traidor!

Leandro tentava pegar o celular de volta, mas não conseguia, pois Júlio lutava ao máximo por ele. Com medo que o marido se apossasse do aparelho, Júlio o atirou com força na parede. O impacto foi tão destruidor, que o celular se partiu ao meio.

O aparelho custou muito caro, era o último iPhone lançado no mercado. Contudo, mesmo com o prejuízo financeiro, Júlio ficou aliviado por ter impedido um contato entre o marido e o amante.

_ Ele ligou de novo! De novo! Eu não aguento mais essa humilhação! Já tô de saco cheio._ Os gritos de Leandro eram trêmulos. As lágrimas desciam muito e o seu corpo tremia._ Você é muito cretino, Júlio! Mui...

Leandro não conseguiu terminar a palavra. Perdeu as forças e se jogou sentado na beira da cama. Envolveu os braços em volta da barriga dolorida, devido ao nervosismo e chorava descontrolado.

Vanessa passava no corredor e ouviu os gritos do pai. Assustada, quis entrar para saber o que estava acontecendo, mas se deparou com a porta trancada.

_ Por que você faz isso comigo, Júlio? Por queeeeee? Porraaaaaaaaa! Eu te dei tudo! Dediquei a minha vida a você desde que eu era um adolescente...Eu abri as portas do meu coração pra ti...Eu te dei o meu amor! O meu amor! E você me retribui me humilhando com um putinho qualquer? Qual será o próximo passo dele? Vir na minha casa me afrontar?

Júlio o olhava com raiva. Respirou fundo e andou de um lado para o outro.

A dor em Leandro aumentava. Se jogou de costa para a cama se encolhendo. Chorava soluçando, deixando Vanessa aflita do outro lado da porta.

Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, enquanto a dor diminuía, até se dissipar. Contudo, não conseguia parar de chorar, mesmo querendo muito que isso acontecesse.

_ Já se acalmou? Já parou de dar chiliques? Agora se arrume e vamos descer. Você já estragou o meu natal não precisa estragar os dos outros também.

Leandro o olhou furioso, tinha os olhos vermelhos e umedecidos.

_ Você é muito escroto! Como se atreve a dizer que eu estraguei a porra da sua noite se foi você e o seu maldito amante que estão estragando a minha vida? Sádico... Você é cruel!

_ Eu não tenho porra de amante nenhum! Essa sua histeria já tá me dando nos nervos! O Abner é um cliente! Eu já falei isso mil vezes, caralho! Aliás, era um cliente. Pelo jeito que você o tratou no telefone ele vai achar que tenho em casa um cachorro louco ao invés de um marido. Tá satisfeito em arruinar o meu trabalho por puro ciúme besta?

_ Filho da puta! É com ele que você vai viajar! Você vai viajar com o seu amante perto da data de comemoração do nosso casamento! Você é nojento, Júlio! Você merece um par de chifres para sentir o que eu tô sentindo!

_ Eu vou me arrumar. Tenho que atender as pessoas que estão chegando. Se eu ficar aqui ouvindo os seus absurdos vou perder o controle.

Júlio foi ao closet. Respirou fundo com as mãos na cintura. Num ataque de fúria, atirou um objeto no grande espelho que ocupava todo o espaço de uma das paredes. Tinha tanto ódio de Abner, desejando matá-lo.

_ Veado maldito!

.....

Vanessa correu até a biblioteca de Leandro. Chorando, sentou na poltrona de leitura, pondo as mãos nas pernas.

Olhou para uma das estantes, fitando os olhos num livro azul. Foi até ele, retirando entre muitos exemplares. Na capa estava escrito "Um conto de Natal" com o nome Charlie Dickens na parte superior. Recordou dos natais da sua infância, quando Leandro a colocava no colo e lia a história para ela.

Sentiu uma tristeza imensa, compadecida pelo sofrimento do pai. Passou os dedos na capa. Levou o livro até o peito, abraçou-o como se tivesse abraçando Leandro.

Assustou-se ao ouvir a porta se abrir.

Júlio a olhou com piedade por alguns segundos, antes de se aproximar e abraçá-la.

_ Você ouviu tudo não é, meu bem?

Vanessa concordou com a cabeça, que estava apoiada no peito dele. Júlio dava leve tapinhas nas suas costas como fazia quando ela era pequena.

_ Você me promete que não vai mentir pra mim?

_ Você sabe que não minto pra você, meu anjo.

Vanessa se afastou, olhando-o.

_ Pai, você tem mesmo um amante?

_ Claro que não, Vanessa! Agora até a minha filha vai duvidar do meu caráter?! Que tipo de homem você acha que sou?

_ Quem é esse tal de Abner que o meu pai tanto acusa de ser o seu amante? Esse cara vive provocando um inferno aqui dentro de casa.

_ Abner é um cliente. A Valéria inventou para o seu pai que me viu num motel com um outro homem. Ela só inventou sem ter nenhuma prova. Filha, você acha que se fosse verdade ela não teria registrado filmando ou tirando uma foto?

_ É...faz sentido.

_ De lá pra cá, Leandro ficou neurótico e acha que tudo quanto é homem que me liga é o meu amante.

_ E por que você quebrou o celular? Poderia ter deixado o meu pai falar com esse tal de Abner, que ficaria tudo explicado que ele é o seu cliente.

_ Eu quebrei porque tive medo do seu pai causar uma confusão tão grande e eu perder esse trabalho.

_ Entendi.

Vanessa abaixou a cabeça para chorar. Júlio a segurou pelo queixo, erguendo a sua cabeça.

_ Meu amor, não fique triste. Você é tão linda! Se continuar chorando assim vai acabar borrando a maquiagem.

_ Não se preocupe. Essa make é a prova d'água.

_ Olha que esperta! Essa é a minha garota.

Júlio a beijou no alto da cabeça.

_ Paizinho, eu não aguento mais vê o pai Leandro sofrer. Tá me machucando muito._ Vanessa se atirou nos braços de Júlio, chorando ainda mais.

_ Meu bem, eu vou resolver isso. Eu te prometo que vou acabar com o sofrimento dele. Também me dói muito vê o homem que eu amo sofrer desse jeito, desconfiando de mim.

_ Você vai mesmo resolver? Eu não quero mais que ele sofra.

_ Vou sim, meu amor. Você sabe muito bem que eu cumpro com o que prometo.

_ Sim. Eu sei.

_ Agora vá lá no quarto, melhore essa carinha e triste e desça para a festa.

_ Eu tô tão sem clima para festas. Só queria ficar no meu quarto, quietinha.

_ Nem pensar. Ninguém precisa saber que estamos passando por uma crise. Temos que demonstrar sempre o melhor. Agora vá lá, que vou te esperar lá embaixo.

Vanessa desviou o caminho do seu quarto, entrando no quarto dos pais.

Encontrou Leandro deitado, somente de cueca na cama numa posição fetal. Ela sentiu o coração partido em vê-lo naquele estado.

Leandro quis enxugar as lágrimas, mas não teve forças. Ele odiava que ela fosse afetada com os seus problemas.

Pai e filha trocaram olhares melancólicos e afetivos. Ela desejava arrancar a tristeza dele e jogá-la para mais distante possível.

Correu até a cama, abraçando-o.

_ Eu te amo, pai! Eu não aguento mais te vê assim.

_ Eu também te amo, minha filha. Te amo muito.

Leandro se encolheu nos braços da menina. Parecia uma criança desprotegida em busca de abrigo, enquanto ela acariciava a sua cabeça.

...

Havia duas mesas gigantes no salão de festa, próximo a piscina: uma com os talheres, pratos , taças e guardanapos de pano, todos nas cores que se alternavam entre branco e vermelho. A outra mesa estava posta com uma ceia farta, com a parte dos pratos principais e os frios.

Para atender o bar, Júlio contratou um barman, que preparava drinks como Martínis, servia gim, prosecco, whisky. Para as crianças e adolescentes, seria servido refrigerante ou drinks sem álcool.

A casa estava cheia de convidados. Um DJ comandava a festa com músicas que se alternavam entre eletro hits, sertanejo universitário e funk, o último Júlio permitiu para agradar a filha.

A festa estava repleta de gargalhadas, danças e puxação de saco. Júlio sorria como se nada tivesse acontecido. Aparentava estar numa felicidade plena, e isso enojava Leandro, que além disso, se sentia angustiado no meio daqueles falsos amigos. O fato de ter que forçar um sorriso o deixava ainda mais exausto emocionalmente. Quando conversava com as pessoas, ouvia mais do que falavam com medo de chorar. Não prestava atenção em nada do que lhe diziam, só pensava no caso extra conjugal do marido.

Abner, para ele, era um homem sem rosto e isso o perturbava ainda mais, imaginando-o de diversas belas aparências, em nenhuma o agradava.

Uma senhora idosa chegou na festa, caminhou em direção a Leandro. Ela tinha os cabelos brancos, curtos, com uma franja comprida a pele morena e vestia um vestido branco, que iam até um abaixo dos seus joelhos.

Leandro sorriu de volta ao vê-la indo ao seu encontro.

_ Dona Dirce! Que bom revê-la!

_ Feliz natal, meu querido! Você está casa vez mais lindo! O meu sobrinho deu sorte de se casar contigo.

_ Obrigado, dona Dirce. Maravilhosa mesmo é a senhora! Sempre divina!

Dona Dirce o olhou com carinho, acariciando o seu rostinho.

_ Você está triste, meu amor? Brigou com o meu sobrinho?_ Dirce perguntou surrando, com a boca perto do ouvido para que os outros não a ouvisse.

_ Tá tudo bem, dona Dirce. Pode ficar tranquila._ Leandro a deu um beijo no rosto.

_ Cadê o meu sobrinho e a minha neta? Quero dar um beijo neles.

Leandro a conduziu até eles. Júlio a recebeu com beijos e abraços. Amava-a muito. Como perdeu a mãe muito pequeno, foi nos braços da tia que teve o amor maternal.

Devido a idade avançada, dona Dirce passou a maior parte do tempo sentada. Seu Genaro, pai de Leandro, se aproximou com uma taça de vinho e sentou ao seu lado.

_ Só no cantinho, né dona Dirce?

_ Eu já não sou uma mocinha como a nossa neta. Quando chega na nossa idade, as pernas doem por qualquer motivo.

_ Isso é verdade. Eu tenho consciência que não sou mais um garotão. Por isso nem tenho mais pique para acompanhar a Angela nos eventos. Ela é bem jovem do que eu. Veja como está toda serelepe.

_ Eu reparei que o seu filho não está bem, seu Genaro. Ele me parece abatido. Sabe me dizer se brigou com o Júlio?

_ Não sei dizer não. Mas Leandro parece ótimo.

_ Não está. Vocês deveriam bajular menos o meu sobrinho e prestar mais atenção no seu filho.

Genaro a olhou quieto por alguns segundos. Em seguida, puxou um assunto trivial e a conversa seguiu.

A meia noite, Júlio discursava erguendo uma taça com martini. Dizia o quanto era grato a Deus pela família maravilhosa que tinha, passando a falsa imagem que todos naquela casa eram felizes.

Leandro não conseguia prestar atenção em nada do que o marido dizia. Enquanto Júlio falava, Leandro o imaginava comendo outro homem como fazia com ele. A vontade de chorar batia com força. Como aquela noite era torturante! Pediu licença para se retirar, alegando que não se sentia bem.

Optou por dormir no quarto de hóspedes. Depois de tomar banho e vestir o pijama, se abrigou debaixo dos lençóis, ignorando o festejo do lado de fora.

...

Leandro despertou meio zonzo. Sentia uma leve dor de cabeça e as pálpebras pesadas e cansadas, devido ao excesso de choro da noite anterior. Ficou olhando para o teto por alguns segundos até ser chamado por Vanessa para tomar o café da manhã, que nem poderia dá ser chamado de café da tarde, já que o relógio marcava doze horas.

Á mesa todos comiam em silêncio. Júlio concentrado no tablet lendo as reportagens sobre esportes, Vanessa navegando no Instagram verificando quantos likes adquiriu com os posts da noite anterior. Leandro pernecia pensativo mastigando o seu mamão.

_ Papais do meu coração, tenho um pedido para fazer a vocês dois.

_ Diga, meu anjo._ Júlio respondeu sem tirar os olhos da tela do tablet.

_ Eu e os meus amigos estávamos querendo curtir um pouco lá em Angra. Posso convidá-los para a nossa casa?

_ Que amigos?_ Júlio perguntou, dessa vez a olhava.

_ Ah, pouca gente. Tipo, a Marcinha, Vivi, Dóris, Roberto e Henrique.

_ Ah, o Henrique, o seu namoradinho.

Vanessa gargalhou.

_ Que viagem, pai! Nós somos somos amigos.

_ Hum... sei... Conheço bem esse papo de amigos. Eu e o seu pai dizemos muito isso quando ele tinha a sua idade. E olha aonde essa "amizade" nos trouxe, dezessete anos de relacionamento, dez de casados e uma filha linda. Não é, coração.

Leandro o olhava sério, sem responder.

_ Se vocês deixarem, nós ficaremos lá até o réveillon, quando vocês forem dar a festa. Então, posso ir?

_ O Leandro é quem sabe. Depois não quero ser acusado de ser o pai que passa a mão na cabeça da filha, o que estraga com mimos, como sou acusado.

Vanessa olhava para Leandro, pedindo com o olhar.

_ E aí, pai? Posso ir? Prometo que vou me comportar direitinho.

_ Pode ir.

_ Obaaa! Eu amo vocês!_ Ela deu beijo no rosto de cada um.

_ Mas vá de helicóptero. Não confio dos seus amigos no volante._ advertiu Leandro.

_ Beleza! Eu gosto de andar de helicóptero mesmo. Se bem que você poderia comprar um, hein paizinho.

Júlio gargalhou.

_ Eu ainda não tenho esse poder aquisitivo. Mas pode deixar, que um dia terei e vou fazer questão de te dar um de presente.

_ Você vai conseguir, paizinho. Você é foda!

_ Agora terminem logo esse café, que a Angela nos convidou para almoçar na casa dela.

_ Eu não vou.

Vanessa e Júlio olharam surpresos.

_ Como assim não vai, coração?

_ Eu não vou, porque não estou bem. Quero ficar no meu canto sossegado. Vou deitar para assistir TV, quero paz. E além do mais tenho que dar uma olhada nos estragos que os convidados mal educados fizeram com as minhas plantas.

_ Seria muita desfeita com a sua família, Leandro.

_ Já terminei o meu café da manhã. Com licença e tenham um feliz natal._ Leandro antes de se retirar.

Como havia dito, Leandro subiu ao terraço para cuidar das plantas que foram danificadas pelos convidados. Ele odiava os resultados catastróficos que as festas deixavam em sua casa. Tomou um banho e foi para o quarto deitar na cama e assistir um filme natalino. Sua paz foi interrompida com uma ligação de sua mãe.

Júlio e Vanessa estavam em sua casa, e o genro reclamou com ela pela falta de entusiasmo de Leandro em sair de casa naquele dia de natal. Como sempre gostava de bajular Júlio, Angela ligava exigindo a presença do filho.

_ Eu não vou. Não estou me sentindo bem.

_ Como não vem? A sua família toda está aqui! O que está acontecendo?

_ Eu não vou te contar, mãe.

_ Uh, é por que não? Quem sabe eu possa ajudar?

_ Pra quê? Pra você dizer que estou errado? Que devo fingir que nada está acontecendo e tratar o homem que me humilha como se fosse um rei? Não, mamãe. Eu não quero a sua ajuda. Me deixa desligar, que estou muito ocupado.

Antes que Angela dissesse algo, Leandro encerrou a ligação, voltando a assistir ao filme.

...

Antes de se reunir com a filha e os sogros no almoço de natal, Júlio foi até á casa do amante. Deixou Vanessa na casa dos sogros, alegando que precisava sair para resolver um problema imprevisto.

Chegou no apartamento furioso. Abner foi acordado com os gritos de Júlio chamando pelo seu nome. A porta do quarto foi aberta com violência. Júlio correu para a cama, puxou o braço do amante.

_ O que deu na porra da sua cabeça de me ligar, caralho?! Você quer foder com a minha vida?

Abner o encarava sem sentir nenhum resigno de medo. Empurrou Júlio com força, libertando o próprio braço.

_ Não encoste em mim! Se tá pensando que vai cair na porrada comigo e eu vou ficar apanhando feito uma mosca morta, está muito engando!

_ Não sei onde eu estava com a cabeça quando me envolvi com uma putinha como você!

_ A única putinha que eu estou vendo aqui é você! Eu sou solteiro e não devo nada a ninguém. Quem está moralmente errado é você, que é casado com aquele estorvo! Aliás, nervosinho o seu maridinho heim! Você vive dizendo que ele toma remédios para controlar as neuras, pelo visto o desgraçado não se medicou no natal.

_ Eu já falei mil vezes que vou resolver o meu problema com o Leandro. Você não tem nada que ficar afrontando ele!

_ Eu não afrontei ninguém! Só liguei pra você como sempre faço. Você que deu mole para que o seu maridinho histérico atendesse e ainda foi burro de salvar o meu contato com o meu nome. O filho feio é seu, querido.

_ Isso! Vai debochando, filho da puta. Essa merda que você fez vai ter consequência. Por sua causa a sua família inteira vai se foder. Eu vou demitir os seus pais lá do sítio e a sua irmã do escritório. Vai todo mundo para o olho da rua.

Abner levantou da cama. Encarava Júlio com ódio.

_ Atreva-se a demitir a minha família, que procuro o seu maridinho e a sua filha pessoalmente e conto do nosso caso. E olha tenho como provar. O tonto do Leandro sabe, mas é vagabundo o suficiente para continuar contigo para não ter que trabalhar. Mas e a sua filha? O que será que ela vai pensar quando souber que o paizinho dela é um adúltero?

_ Não meta a minha filha nisso!_ Júlio gritava apontando o dedo indicador para o amante.

_ E você não se atreva a prejudicar a minha família por causa das suas burrices e dos chiliques do seu marido!

_ Não me provoque, Abner!

_ Não me provoque você! A minha família ninguém toca!

_ Quer saber de uma coisa? Vá tomar no olho do seu cu! Vá se foder, Abner! Nunca mais quero olhar na sua cara!

Júlio disse correndo até a sala.

Quando Abner chegou no local, a porta estava aberta e Júlio estava próximo ao elevador.

_ Foda-se que você não quer mais! Vá lá e volte pro seu marido histérico e manipulador! Eu vou seguir a minha vida! Homem pra mim é que não falta! Vou caçar um bem gostoso, que me dê o que você não é capaz de me dar.

Júlio entrou no elevador mostrando o dedo do meio. Alguns moradores olhavam para Abner, abismados com o escândalo.

_ Estão olhando o quê? Nunca viram um casal discutir? Querem uma pipoquinha? Ah, vão pra porra, bando de fofoqueiros!

Bateu a porta com força.

...

_ Leandro, tem visita.

Leandro revirou os olhos para cima, ouvindo o anúncio de Patrícia. Estava sentado na biblioteca, lendo um exemplar de Crime e castigo. Ele odiava ser interrompido no seu momento de leitura, que para ele era sagrado.

Além disso, desde que Vanessa e Júlio se ausentaram de casa, Leandro se isolou de visitas. Estava farto do teatro de fingir que estava tudo bem.

Gentil, jamais mandariam uma visita ir embora. Fechou o livro, pondo em cima da poltrona.

No início da escada, a sua tristeza facial se transformou num sorriso. Os seus olhos brilharam ao contemplar a imagem de Valéria.

O seu coração bateu mais forte, dançando em alegria por finalmente matar a saudade da amiga querida.

Correu até ela, tão empolgado como uma criança feliz. Abraçou, levantando em seu colo, girando-a. Permaneceu em seus braços por alguns segundos, desejando que aquele momento não se acabasse nunca.

_ Já que Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até ele.

_ Louca! É o contrário, Chapolin Colorado.

_ No meu caso é assim mesmo. Por você, eu deixo o minha condição de montanha, crio pernas e venho te ver.

Leandro a beijou no rosto várias vezes.

_ Ah, meu amor! Eu estava com tanta saudades de você! Você me desculpa pelo que a Vanessa fez naquele dia?

_ Não só te desculpo por isso, como também te desculpo por ter cedido as chantagens do Júlio e ter me abandonado.

Leandro a olhou surpreso. Intrigado, tentando descobrir como ela conseguiu aquela informação. Antes que ele perguntasse, ela o respondeu.

_ Um anjo chamado Patrícia! Ela me contou tudo. E nem pense em brigar com a moça. Ela fez pelo seu bem. Temia que eu ficasse com raiva de você por não saber o motivo do seu afastamento.

_ Ainda bem que ela fez isso. Vou ser grato a Patrícia pelo resto da minha vida. Amiga, a minha vida está um inferno. Eu não ia aguentar ficar sem você.

_ A sua vida não está um inferno, bebê. Ela é um inferno.

_ Você quer um cafezinho? Eu peço para a Patrícia passar um.

_ Eu lá sou mulher de café? Quero aquele whisky maravilhoso que você tem aqui.

Os amigos foram á biblioteca, onde Leandro atualizou Valéria sobre os últimos acontecimentos. Patrícia chegou alguns minutos depois, trazendo um café para ele e whisky repleto de pedras de gelo num copo quadrado para ela.

_ Pelo menos você terá um pouco de paz sem aquelas duas pestes em casa._ Valéria disse, acendendo um cigarro nos lábios.

_ Eu sei que ela errou contigo, mas não precisa falar assim da minha filha.

_ Mas é a verdade! A sua filha é tão peste quanto o Júlio. Os dois são tão parecidos, que desconfio que ela seja filha biológica dele. Júlio nunca te explicou a origem daquela menina. Simplesmente apareceu com ela e disse"Olha a nossa filhinha, coração!" E você tonta, nunca correu atrás para saber de onde essa menina veio. Mas não quero perder o meu tempo falando naqueles dois. Eu vim te buscar.

_Pra quê?

_ Para que saia comigo. Hoje nós vamos a uma festa na casa de um ex- namorado e atual grande amigo.

_ Quem? Você já namorou o país inteiro. Troca mais de namorado do que de roupa.

_ Lógico! Os namorados eu troco porque não gosto de figurinhas repetidas, já as roupas, fico com elas porque me deixam mais lindas e não falam merdas no meu ouvido.

_ Ok. Quem essa figura que você vai á festa?

_ Eu não vou. Está conjugando o verbo errado. Nós vamos. Ele é muito rico, um grande empresário do ramo da construção cívil, o seu nome é Ivan Matarazzo. Ele e o seu adorável marido, Victor Matarazzo, vão dar uma bela festa em sua mansão em Itacoatiara. E não vou aceitar um não como respostas.

_ Você acha que vou dizer não depois do Júlio ter a pachorra de me deixar sozinho para viajar com o amante? A última coisa que quero é ficar aqui chorando. Já fiz isso durante todos esses dias. Agora basta.

_ Olha! Esse é o meu garoto!

_ Mas vem cá, me explica essa história de ex-namorado figurão?

_ Foi um rolo que tive quando fiz aquele curso de história da arte na Suiça... Aquele que ganhei uma bolsa, lembra?

_ Sim. Tô lembrado.

_ Então, conheci o Ivan na faculdade, onde oferecia esse curso. Menino, o cara é muito bom de foda. E ficou gamado na minha, dei uma chave de coxa no homem que ele ficou louco. Mas, aí o curso acabou, a carruagem virou abóbora e tive que voltar para o Brasil.

'O término foi amigável. Depois ele se envolveu com uma tal de Carla e eu com aquele italiano, o Pierre.'

_ Francesco.

_ Esse mesmo.

....

A festa foi oferecida no quintal da mansão, mais precisamente no gramado em volta da piscina. Luzes coloridas eram projetadas das paredes giravam causando um efeito de boate. Fumaças coloridas enfeitavam o ar e exalavam um cheiro agradável. Pequenos palcos foram montados, nos quatro cantos do jardim, onde um dançarino ou dançarina bailavam seminus.

Valéria chegou dançando ao som de Proud, com uma taça de chandon na mão. Usava um vestido longo preto, com o decote V profundo, saltos peep toe da mesma cor que o vestido. Leandro a acompanhava com vestindo uma calça tergal bege e um cinto marrom, a blusa social era branca por baixo de um paletó azul marinho. Para ficar mais confortável, optou por usar nos pés um par de tênis branquinho.

Leandro estava mais do que acostumado a frequentar e dar grandes festas. Contudo, há anos não ia a uma desacompanhado do marido. Ele ainda se sentia triste. Mesmo no meio de toda aquela agitação, ainda era corroído pelo ciúmes de imaginar Júlio e o amante se divertindo na viagem.

_ Pode desmanchando essa cara de tristeza. Você deixou Leandro lá fora. Aqui você é Guilherme Sobral, homem solteiro em busca de novas aventuras.

_ Que porra é essa de Guilherme Sobral?!

_ O homem que você será esta noite. Um homem lindo, que está chamando a atenção de homens e mulheres e que vai ficar com quem quiser, sem sentir remorsos. Afinal, Guilherme Sobral é solteiro, livre e desimpedido. Ele não tem marido tóxico e nem filha chata.

Leandro riu com a pérola de Valéria. Ficou animado com a brincadeira de ser uma outra pessoa naquela noite.

_ Vem, vamos dançar! Eu adoro essa música!_ Valéria o puxou até a pista. Ambos dançaram sorrindo e girando.

Proud terminou de tocar, iniciado Some lovin.

_Aaaaaa! É música de Queer as folk! Amoooo! Caralho!_ Valéria gritava, puxando Leandro para pular. Ele foi tomado por uma adrenalina, ficando alegre como não ficava há anos.

Um jovem de rosto angelical e cabelos loiros se aproximou de Valéria sorrindo, com os braços abertos:

_ Vaaaaal! Que bom te ver!

_ Vitinho! Aaaaaaa!

Ambos se abraçaram dando pulinhos.

_ Divônica como sempre essa minha amiga!_ Victor a elogiou, segurando em sua mão a girando para poder ver melhor o visual dela.

_ Você que é maravilhoso, mon amour!_ Valéria disse dando um Selinho no loiro._ Quero te apresentar o meu grande amigo, Guilherme Sobral...Gui, este anjinho é ninguém mais, ninguém menos que o anfitrião Victor Matarazzo.

_ É um grande prazer te conhecer, Guilherme!_ Victor disse esticando a mão para o cumprimento. Leandro retribui envergonhado pela loucura de Valéria por apresentá-lo com um nome falso.

Leandro paralisou ao ver um belo rapaz de olhar penetrante, com cílios naturalmente grandes. Ele tinha uma barba e um bigode fino, que contornava os lábios carnudos. Sorria de uma forma única e sedutora. Os cabelos eram tão pretos quantos os olhos, raspados nas laterais e muito curtos acima.

Além de belo, era estiloso: Leandro não era muito ligado a grifes, quem entendia do assunto era Júlio. Mas concluiu que as roupas do rapaz fossem do mais alto padrão do mundo da moda dos ricos pela qualidade dos tecidos. Usava uma calça jeans rasgada nas coxas, uma blusa branca debaixo do paletó amarelo, tênis branco.

_ Nossa! Que homem lindo! Parece artista de cinema! _ Exclamou hipnotizado pela beleza do rapaz.

Victor e Valéria olharam na direção onde Leandro olhava para ver quem despertava o seu interesse.

_ O meu marido é mesmo muito lindo._ Victor disse sorrindo, orgulhoso do seu companheiro.

Leandro sentiu a face arder de vergonha, ficando corado.

_ Ai meu deus! Que gafe! Me desculpa!

_ Não tem do que se desculpar, querido. Eu e a festa inteira concordamos contigo. Ivan é mesmo muito lindo! Olhar pode a vontade, agora tocar nem pensar.

Victor e Valéria gargalharam. Leandro sorriu por causa da vergonha que sentia.

_ Ah, não precisa ficar envergonhado, meu bem. Eu tô brincando! Venha, vou te apresentar o meu marido.

Victor segurou na mão de Leandro e o levou até Ivan. Valéria os seguiu.

_ Amor, olha só quem está aqui?_ Victor disse tocando no ombro Ivan, que olhou para trás, sorrindo no mesmo instante.

_ Caralhoooo, Val!

Ela pulou em seu colo, encaixando as pernas em seus quadris, beijando-lhe a face. Trocaram palavras banais de amigos, antes que Victor apresentasse Leandro ao marido.

_ Amor, este é o Guilherme, amigo da Val.

_ Ah, o famoso Guilherme! Que prazer finalmente te conhecer._ Victor disse apertando a mão frio de Leandro.

_ Famoso?_ perguntou Leandro, sem entender o porquê já era conhecido por Ivan.

O que Leandro não sabia era que Valéria esteve na casa de Ivan há algumas semanas atrás. Era um lindo dia ensolarado, o céu estava num azul tranquilo e as flores do jardim perfumavam todo o ambiente.

Valéria foi recebida de braços abertos pela pequena Alice, que vestia um macacão jeans jardineira, com um flor rosa bordada no bolso do peito. Os cabelos estavam penteados á Maria chiquinha.

_ Tia Val! Tia Val!

_ Oh, meu amorzinho! Como você cresceu! Cada vez mais linda! Tá com quantos anos?_ Valéria perguntou, dando um beijo nas bochechas coradas da menina.

A menina fez o sinal de cinco com a mãozinha. O casal Matarazzo também a recebeu com beijos e abraços. A família estava aproveitando o dia ensolarado para curtir a piscina.

_ Você quer alguma coisa, Val? Não vou nem te oferecer suco ou café, porque o seu fígado só aceita álcool.

_ É por isso que te amo, Ivan. Já me conhece bem. Bom, vou querer uma taça de champanhe e um pouco de caviar... Quero sentir o gostinho de vida de rico, já que na minha casa não tenho dessas coisas.

O casal riu da sinceridade de Valéria, sinceridade essa que eles adoravam.

Depois de mandar servir o pedido de Valéria, ela retirou a saída de praia e se juntou a eles na beira da piscina. Entre tantas conversas, Valéria fez questão de falar de Leandro, contando desde sua relação turbulenta com Júlio até o escândalo de Vanessa.

_ Esse é o Júlio Medeiros do escritório Vanessa Medeiros?

_ É essa praga mesmo._ Valéria respondeu a Ivan tragando um cigarro, erguendo a cabeça para soltar a fumaça.

_ Foi até bom você me falar. Eu estou atrás de uma nova equipe jurídica para as minhas empresas. Até pedi ajuda ao Renato para me ajudar na escolha, essa empresa estava entre as candidatas.

_ Renato ainda trabalha pra você?

_ Não. Ele está prosperando muito nas concessionárias. Vai até abrir mais uma filial... Acho que vai ser na Tijuca, né solzinho?

_ Sim._ Victor respondeu sentado no colo de Ivan.

_ Renato é foda mesmo. Mande lembranças para ele e para a Andréia.

_ Então, voltando ao Júlio Medeiros... a princípio, fiquei interessado na equipe dele. Soube que raramente perdem processos porque ele trabalha a base de troca de favores com juízes, entre outros jeitinhos brasileiros, o que seria muito bom pra mim. Marquei uma reunião e fui atendido pelo próprio. Confesso que não fui muito com a cara dele...faz o tipo bajulador... É aquele ditado "Quem puxa saco puxa tapete". Eu até daria uma chance a ele, mas depois da sacanagem que ele fez contigo, não quero nenhum trato profissional com o sujeitinho.

_ Eu fiquei com pena do Leandro, o marido. Eu já vivi um relacionamento abusivo, sei bem o quanto é terrível. Queria tanto poder ajudá-lo._ Victor falou compadecido.

_ Você quer ajudá-lo, meu Solzinho? Então, vamos ajudá-lo. O seu pedido é uma ordem._ Ivan disse olhando encantado para Víctor,beijando os lábios. Sentia que a cada ano o seu amor por Victor só aumentava._ Esse cara tá precisando sentir o gostinho da liberdade. Traga-o na festa, tenho um alguém para apresentá-lo.

_Hum! Gostei. Pode deixar que vou trazê-lo nem que seja amarrado.

_ Tá me dando fome! Você vai almoçar conosco, Val?_ perguntou Víctor.

_ Com certeza. Você acha que sou louca de dispensar as delícias da Maria?

_ Bom, vou ficar te devendo essa porque hoje é folga dela. Mas, eu faço questão de cozinhar para a minha grande amiga.

_ Obaaa! Então vai rolar o delicioso estrogonofe de frango do Vitinho? Amoooo.

_ É pra já, linda!

Victor se retirou sorrindo. Ele amava cozinhar para os entes queridos.

Tanto Valéria, quanto Ivan o olhavam admirados.

_ Victor é tão perfeitinho!_ elogiou Valéria.

_ Perfeito é pouco pra ele._ respondeu Ivan, maravilhado com o marido.

_Eu posso ir ao banheiro?_ Leandro perguntou num tom de timidez.

_ Claro! Fica na logo ali._ Ivan apontou para os banheiros externos._ Se tiverem muito cheios, também há outros pela casa.

Leandro se afastou indo ao local indicado por Ivan. Como estava lotado, não quis esperar e entrou na mansão a procura de um outro banheiro. Todos do primeiro andar também estavam ocupados. Optou por subir as escadas na esperança de encontrar um banheiro onde pudesse ter privacidade. Teve sucesso nessa última tentativa.

A caminho de volta para onde estava Valéria, Leandro se sentiu perdido em meio a tanta gente desconhecida. Casais se pegavam pelos corredores, pessoas gargalhavam bêbadas, outras faziam stories, na grande maioria blogueiras.

Desceu as escadas tão focado em encontrar Valéria, que não percebeu que era alvo do olhar de um jovem de pele morena, cabelos negros e lisos, vestido de terno preto.

O jovem o olhava encantado, sentindo o coração bater em disparada, sendo arrebatado por aquele estranho e poético sentimento, que até então o seu coração desconhecia.

Acompanhava os passos de Leandro fumando um cigarro. Ao vê-lo sair pelas portas francesas, indo para o jardim, o jovem o seguiu inebriado sem ter o controle de si.

_ Até que enfim, hein. Achei que tinha caído na privada._ brincou Valéria, tragando um cigarro.

_ Ah! Ali está ele._ Ivan fez um sinal com a mão para que o jovem se aproximasse._ Guilherme, quero que conheça o meu amigo Dimitri.

Leandro olhou para trás e o corou envergonhado diante do olhar de Dimitri, que o fazia se sentir despido.

_ Eu nem tenho palavras para dizer o quanto estou encantado._ Dimitri segurou na mão de Leandro, que estava ainda mais fria. Levou-a a boca, sentindo o prazer de tocar naquela pele.

Leandro sentiu um leve tremor no corpo. O olhar daquele belo desconhecido o deixava tenso e ao mesmo tempo excitado. Era a primeira vez depois de dezessete anos que se sentia atraído por um outro homem.

Ivan e Valéria sorriram um para outro.

_ Essa é Val Lopes, uma grande amiga.

_ Muito prazer._ Dimitri também beijou a mão de Valéria, porém com menos entusiasmo.

_ Vamos dançar, Ivan?

_ Claro.

Leandro a olhava suplicando em silêncio que não o deixasse sozinho com Dimitri. Mas foi ignorado pela amiga.

_ Então, Guilherme, nome bonito. Só não é mais bonito que o dono.

Leandro deu um sorriso amarelo, abaixando o olhar. A timidez de Leandro excitava ainda mais a Dimitri.

_ Você bebe alguma coisa? Podemos ir até o bar pegar.

_ Não, obrigado. Eu vou ficar sóbrio para dirigir. Val se perde quando vê bebida e eu que vou ter que carregá-la para casa.

_ Ah, só um pouquinho.

_ Eu vou dispensar. Eu não quero ficar embriagado.

Dimitri o puxou pela cintura, trazendo-o para si. Suas bocas ficaram próximas. O coração de Leandro batia tão forte, que ele teve medo de Dimitri ouvi-lo.

_ Eu quero te deixar embriagado...de tesão._ Leandro se arrepiou dos pés a cabeça ao ouvir o sussurro.

_ Com licença._ disse se afastando.

Dimitri o olhava por trás, sorria, com a consciência que não o deixaria escapar.

Valéria ficou com raiva ao Leandro sentado sozinho em uma das mesas. Ela deixou Ivan na pista e foi até ele.

_ Ta fazendo o que aqui, veado? Levanta daí e vai agora sentar naquele homem.

_ Tá louca?! Não!

_ Se você abrir a boca e me dizer que não quer por causa do traste do seu marido, eu vou virar a mão na sua cara. Deixa de ser idiota, Leandro! Júlio a essa hora deve tá gozando horrores com aquele putinho de quinta do Abner, gastando rios de dinheiro e você aí, correndo de um cara lindo! Bem mais bonito que o Júlio por sinal.

_ Precisava estragar a minha noite falando no nome daquelas duas criaturas?

_ Claro que precisava! Você tem que cair na real! Curtir a vida, que é uma só. Sempre foi uma besta quadrada. Leo, você tem 32 anos e só fez sexo com um homem na vida! Tem noção do quanto essa é bizarro? Você envergonha a comunidade LGBT. Nem as mulheres são tontas assim! Acordaaaa! Tá na hora de experimentar pirocadas diferente, mon amour. Sentir gostos de porras que não seja a do seu marido.

_ Você é tão baixa.

_Com muito orgulho, antes que baixa burra.

_ Aiii! Precisa magoar?

_ Leo, levanta a raba daí e vai quicar no pau daquele homem... Você sabe que eu tenho coragem o suficiente para te dar um tapa na cara na frente de todo mundo!

Leandro conhecia Valéria o suficiente para saber que ela cumpriria com a ameaça. Levantou e foi caminhando em direção a Dimitri, que estava sentado num banco do balcão do bar.

_ Mudou de ideia?_ Dimitri o perguntou sorrindo.

_ Estou com um pouco de sede... tá muito calor._ Leandro respondeu sem olhar para Dimitri. Pediu ao barman uma Coca-cola com gotas de limão.

_ Eu também tô sentindo calor, mas é lá em baixo.

O sorriso safado de Dimitri o fez paralisar.

Dimitri levantou e se posicionou atrás de Leandro. Roçava os lábios na nuca, fazendo Leandro se arrepiar.

_ Vamos para um lugar reservado? Eu conheço uma forma muito gostosa de refrescar o calor dos nossos corpos.

Dimitri segurou em sua mão e o levou para fora da casa. Valéria sorriu ao ver a cena.

Leandro não sabia o que dizer. Sentia as pernas bambas e uma pulsação no pênis. O perigo de estar com um desconhecido o excitava.

_ Tome._ Dimitri o entregou um dos capacetes da sua moto preta.

_ Eu morro de medo de andar nisso.

_ Não precisa ter medo, lindo. É só agarrar na minha cintura.

"Aí meu deus! Que loucura eu estou fazendo! Leandro fuja enquanto há tempo." O corpo não obedeceu a mente e ele subiu na moto.

Sentir o vento frio bater em seu rosto era uma sensação de liberdade. Arragava-se nas costas de Dimitri sentindo o seu perfume. O leve medo daquela situação de não saber o rumo que estava tomando fazia o tesão aflorar.

....

Leandro se sentiu aliviado quando Dimitri estacionou a moto em frente á praia pequena de Itacoatiara, descartando a possibilidade de ser assassinado num matagal.

"Deixa de ser bobo, Leandro. É madrugada e a praia está vazia. Ele pode muito bem te matar e jogar o seu corpo no mar." Foi o que disse a si mesmo, se arrependendo de ter cometido aquela loucura.

No entanto, Dimitri o olhou tão carinhoso, oferecendo-lho a mão para descer as escadas da praia, que Leandro se sentiu tranquilizado.

_ Esta é a parte mais tranquila da praia. Nem há ondas altas. Só essa "poça", que parece um lago!

_ É tão linda! Há tempos que eu não vinha aqui. Desde criança não piso em Niterói. Mas, tenho boas lembranças. Eu morei aqui dos 10 aos 12 anos. O meu pai sempre me trazia nesta praia nos domingos ensolarados...eu era tão feliz.

Leandro recordava-se das risadas e brincadeiras na praia de quando a sua mente de menino desconhecia a infelicidade. Sentiu tanta saudades de si mesmo que os seus olhos umideceram. Passou a mão neles para impedir que as lágrimas caíssem.

O céu estava tomado por estrelas brilhantes, a lua cheia refletia no mar salpicando luz sobre ele. O ar estava de um azulado sedutor.

_ Uma vez, eu li um livro chamado Mar morto, de Jorge Amado. Na história, os pescadores acreditavam que o brilho da lua refletida no mar era os cabelos de Iemanjá deitados sobre ele...achei isso tão lindo, que toda vez que olho para o mar lembro disso... Me desculpe, você deve estar me achando um idiota falando essas coisas.

_Nada que venha desses lindos lábios é idiota._ Dimitri disse percorrendo os dedos entre os lábios de Leandro.

_ Não precisa me bajular para me beijar._ O arrependimento bateu na mesma hora em que a frase foi proferida. Leandro quis retirar o que disse, mas antes de fazer isso foi beijado por Dimitri.

O beijo era bom...muito bom. Há anos Leandro não beijava outra boca que não fosse a de Júlio. Ficou tenso, sentindo as pernas bambas, enquanto sua língua provava o delicioso gosto da novidade.

Leandro se afastou ofegante, se abanando com a mão. O tesão o aquecia.

_ Que calor!

_ Tá calor mesmo, acho melhor tirarmos as roupas, porque o clima ainda vai esquentar ainda mais._ depois de dizer isso, Dimitri o puxou pela cintura, beijando-o com mais vontade. Suas mãos exploravam o corpo de Leandro, fazendo ele vibrar quando teve o seu membro tocado.

Apesar do nervosismo, Leandro cedeu aos toques de Dimitri. Correspondia beijando a boca do jovem e tocando em seu corpo. Ainda sentia um resigno de que não deveria fazer isso. Mas lembrou-se que Júlio estava com o Abner e não merecia a fidelidade que ele o dedicou por anos.

Despiram-se entre amassos e beijos quentes. Saboreavam um ao outro percorrendo mãos e língua pelos corpos.

_ O que você quer fazer: ativo ou passivo?

Leandro ficou surpreso com a pergunta de Dimitri, não estava acostumado a ser solicitado de que função iria exercer no ato sexual, era sempre Júlio que ditava as regras do jogo. Suas tocaram no membro dotado e rígido de Dimitri, sua vontade gritava por experimentar um pênis diferente na vida.

_ Passivo.

Dimitri sorriu.

_ Que seja feita a vossa vontade. É um prazer servir a um príncipe.

Dimitri foi com tudo na bunda de Leandro, era macia, lisinha e ao penetrar o dedo no ânus sentiu uma contração gostosa.

_ Venha._ disse Dimitri o levando para o mar.

Leandro sorria, olhava para os lados, temendo ser flagrado por alguém.

Dimitri o encaixou as pernas de Leandro nós seus quadris e o beijou.

Leandro foi a loucura sentindo ser penetrado por aquele desconhecido. Agarrava em seu ombro, sentindo a boca do jovem nós seus mamilos , ficando ainda mais vulnerável.

Gemia baixinho no ouvido de Dimitri, deixando o jovem ainda mais excitado e metendo com vontade.

_ Meu deus, você é muito gostoso!_ Leandro disse enquanto beijava os seus ombros.

Gostou dentro de Leandro, enquanto beijava a sua boca.

_ Nossa! Que loucura! _ Leandro Exclamou sorrindo, com a cabeça apoiada no ombro de Dimitri.

_ Loucura por quê? Não fizemos nada de errado.

_Eu sei. É que você é o primeiro homem que tive depois do meu..._ Leandro lembrou que naquele momento era Guilherme.

_ Você é casado?_ Dimitri perguntou acariciando os seus cabelos.

_ Não. Eu sou divorciado. Me separei há pouco tempo. Ele me traía na cara dura, chegando ao ponto do amante dele ligar para a minha casa.

_ Que bom!

Leandro o olhou espantado.

_ Olha azar do babaca, que perdeu um homem maravilhoso e sorte a minha de te ter todinho pra mim._ Dimitri sorriu e o beijou.

_Agora temos que ir.

_ Não, senhor. Você ainda não gozou. Só sai daqui depois que me der esse leitinho maravilhoso.

Leandro gelou com as palavras de Dimitri. Há muito tempo desejava gozar, mas Júlio nunca o satisfazia nesse quesito.

Foi levado até a areia por Dimitri, onde esse estendeu ambos os paletós.

_ Deite de barriga para cima com as pernas abertas. Eu vou te levar ao céu.

Leandro obedeceu tenso e ao mesmo tempo empolgado.

Fechava os olhos gemendo, sentindo a língua de Dimitri percorrer o seu peito, passando pelos mamilos chupando-os. A língua deslizou até a barriga e a mão foi direto para o pau.

_ Relaxa o corpinho._ Dimitri sussurrou em seu ouvido enquanto o masturbava.

Beijaram-se novamente. Em seguida, Dimitri levou a boca até o membro do parceiro.

_ Aaaaaa!

Dimitri sorria satisfeito ao vê-lo revirar os olhos de prazer.

Abriu ainda mais as pernas de Leandro, desceu a língua entre o ânus o pênis, onde lambia sem deixar de masturbar. Deslizou a língua até o buraquinho, penetrando-o.

Leandro não conseguia conter os gemidos, era a primeira vez que recebia um beijo grego, enquanto era masturbado. Nunca havia entrado nesse delicioso território da luxúria.

_ Aaaaaa! Isso é muito booooom!_ disse gemendo, mordendo os lábios.

Dimitri prometeu o que cumprira. Leandro chegou ao paraíso, se afogando em deleito do mais ápice dos prazeres. Gozou como não fazia há muito tempo.

Dimitri o olhava satisfeito por ter dado prazer a aquele homem que tanto o atraía.

Permaneceu admirando-o acariciando e beijando o seu rosto.

_ Gostou, meu amor?

Leandro se sentiu tão confortável ouvindo aquelas palavras. Era nova essa de alguém se preocupar com prazer dele.

_ Muito._ respondeu sorrindo, antes de ganhar um selinho.

Dimitri deitou ao seu lado, e o pôs a cabeça dele em seu peito. Observavam o mar, enquanto Leandro era acariciado nas costas.

Leandro estava tão feliz, sentia-se tão leve.

A lua iluminava o ambiente e as ondas do mar quebrando na praia embalavam aquela noite mágica.

_ Eu gostei de muito de você, Guilherme, que sinto até medo.

_ Medo de quê?

_ De me apaixonar. Recentemente, eu quebrei muito a cara...ou melhor, o coração. Me apaixonei por um homem casado. Acabei sobrando.

Leandro se sentiu mal por estar mentindo para aquele homem, que o fez feliz por aquela noite.

_ Eu sinto muito.

_ Eu nem sei porque estou te dizendo essas coisas. Vamos deixar o traste no passado. Me fale mais sobre você...o que faz da vida?

Leandro se animou com a aventura de ser outra pessoa. Disse que era professor de Literatura comparada numa universidade federal. Mudou a localização do seu endereço, dizendo residir em Laranjeiras, bairro em que vive os seus pais.

Quando soube que Dimitri tinha vinte e cinco anos, ficou com vergonha de ter revelado a sua idade antes.

_ Eu falei tendo de mim. E você? O que faz?

_ Sou estudante de engenharia civil.

_ Ah, que legal!

_ Na verdade, eu queria fazer gastronomia. Amo cozinhar. No entanto, o meu pai é engenheiro cívil há anos da construtora Matarazzo. O velho quer que eu siga carreira. Sabe, o velho tá para se aposentar e sonha que eu ocupe o lugar dele. Como eu gosto muito do coroa, vou realizar o sonho dele.

_ E você? Como fica o seu sonho? Não que eu queira me meter na sua vida. É que eu já cheguei a cursar alguns períodos de Direito para agradar os meus pais e foi um inferno. Eu não me encontrava nesse curso. Aí, acabei trocando de curso por Letras português/ italiano e os meus pais surtaram. Mas, eu fui muito feliz na época da faculdade. Aprendi tanta coisa e fiz bom amigos. Sinto muitas saudades daquele tempo.

Essas eram as únicas informações verdadeiras que Leandro disse naquela noite. Apesar de ter concluído a graduação em Letras, alguns cursos de especializações e mestrado, ele nunca exerceu o magistério. Seguiu os conselhos de Júlio, que dizia que dar aulas era uma perda de tempo, e ainda mais de Literatura, disciplina que ninguém se interessa.

Dimitri segurou em seu queixo e o beijou.

_ Não se preocupe. Eu colo grau em abril, com o diploma na mão e Ivan me promovendo de estagiário para funcionário, vou ter a minha própria grana e pagar o curso que quero.

_ Você é muito esperto._ Leandro o beijou num lado do rosto._ além de lindo e delicioso._ beijo do outro lado.

_ Errou o caminho, mocinho._ Dimitri o segurou pelo queixo levando a boca de Leandro até a sua.

Eles fizeram amor mais uma vez, sob as estrelas. Namoraram nus no mar e assistiram o por do sol abraçados.

Leandro desejou que o tempo parasse e que nunca despertasse daquele sonho.

Valéria o ligou dizendo que a festa havia acabado e que o esperava para voltar para a casa.

_ Infelizmente, deu meia noite e a cinderela precisa voltar para a casa._ Leandro disse começando a se vestir.

Dimitri o puxou pela bunda e o beijou.

_ Ah, não! Quero te roubar todinho pra mim.

_ Tá doido? Daqui chegará gente na praia e nos vê pelados.

_ Foda-se! Eu grito bem alto que fodi o homem mais gostoso do mundo!_ Dimitri gritava abraçando Leandro.

_ Louco! Fale baixo.

Envergonhado, ele beija Dimitri para que parasse de gritar.

_ Eu quero mais. Quero te ver mais vezes.

Empolgado, e se esquecendo que era casado, Leandro trocou o número de telefone com o jovem.

_ Até que enfim, veado! Deu muito? Deve tá com a bunda ardendo de tanto quicar.

_ Fala baixo, Val!

_ Foda-se! Todo mundo fodi! Até os santinhos que nem você._ Valéria gargalhava, bêbada.

Constrangido, Leandro a levou no colo até o carro dela. Era amarelo e não possuía capota.

_ Fala aí. Como foi quicar no gostosão? Heim, safada._ Valéria perguntou sorrindo, dando um tapa no ombro de Leandro. Ele sorriu mordendo os lábios.

_ Foi muito bom, amiga. Eu gozei! Amiga, eu gozeeeeeeei!_ Leandro gritava de felicidade.

_ Huuuuuu!

Como estavam parados no sinal vermelho, um motorista ao lado os olhou com reprovação.

_ O que que foi, palhaço? O meu gozou porraaaaa! Tu não goza não? Se bem que com essa cara de quem chupou de quem chupou limão, nem precisa me dizer a resposta.

Valéria gargalhou.

_ Para com isso, maluca!

Leandro agradeceu pelo sinal ter aberto.

_ Eu troquei o número com ele.

_ Huuum! Vai botar galha de novo no Júlio?

_ Não sei. Júlio merece muito pior por tudo que está me fazendo.

_ Muito bom! Muito bonito! Mas pode segurando a peteca. Você tá acostumado com uma piroca só, sentou em outra diferente e já quer gamar? Nã nã ni nã não! Precisa experimentar muito mais, pra não gamar de primeira em qualquer um. Vou te levar num prostíbulo que você vai amar.

_ Até parece que vou fazer essa loucura.

_ Ah vai ou eu não me chamo Valéria Lopes Macedo.

Eles foram para o apartamento de Valéria. Após o banho adormeceram cansados.

Quando Leandro despertou já eram duas da tarde. Saudade, a empregada de Valéria, o acordou para almoçar.

Passaram o dia felizes, rindo das loucuras que fizeram na festa. Leandro passou o dia inteiro suspirando, lembrando de Dimitri.

Quando o seu celular tocou notificando uma mensagem, atendeu animado na espectativa que fosse Dimitri.

"Boa noite, coração. Estou com saudades." Seu sorriso se desfez ao ler a mensagem de Júlio.

_ Filho da puta! Ele ainda tem a cara de pau de me mandar mensagem mesmo estando se estragando com aquele tal de Abner.

Leandro cogitou mandar um texto enorme esculachando Júlio e seu amante. Todavia, optou em responder com o desprezo do silêncio. Pensou em mandar mensagem para Dimitri, mas a timidez não o deixou.

No dia seguinte, se despediu de Valeria com o coração apertado. Infelizmente, o seu sonho chegou ao fim. Acabou as alegrias com a amiga, a noite maravilhosa com Dimitri. Agora era só o restava voltar para a sua vida infeliz, ao lado do homem que o trai e não o respeita, aturar os abusos do Outro de ligar para a sua casa e ser alvo de piada dos dois.

_ Amiga, eu amei tanto te ver! Não quero te deixar mais!_ Leandro falou a abraçando.

_ E nem precisa. Vamos nos encontrar as escondidas.

_ Você fica ofendida de ser desta forma?

_ Lógico que não. Agora será muito mais divertido porque vamos fazer o Júlio de trouxa._ambos gargalharam._ Vamos fazer o seguinte: você faz a sua inscrição na fitness body, aí a gente sempre malha a noite. Lá tá cheio de boys delícias desde professores a alunos. Assim a gente se encontra sem o idiota do seu marido saber.

_ Uh, é! A preguiçosa vai malhar! Essa é nova.

_ Eu quero ser a nova Nicole Bahls.

_ A loucura e o gênio forte dela você já tem.

_ Agora quero acrescentar isso e ter corpo gostoso da bicha.

_ Eu te amo, Val! _Leandro disse a abraçando.

_ Eu também te amo, meu bijuzinho.

No elevador do seu prédio, Leandro recebeu uma outra notificação de mensagem. Desta vez, para a sua alegria, era Dimitri.

"Boa noite, lindo. Quero tanto te ver. Me ligue."

Leandro suspirou com o telefone no peito. Planejou correr para a casa para ligar.

Leandro entrou em casa distraído, digitando no celular.

_ Olha só quem chegou! Que saudades que eu tava de você, coração!

Leandro arregalou os olhos ao ver Júlio. Ele estava sentado no sofá vestindo um terno azul escuro, calça de mesma cor e uma blusa social preta. Não usava gravata, ficando ainda mais charmoso. Ao seu lado estava um casal de meia idade: um homem gordo e calvo usando terno e gravata e uma mulher negra, de cabelos cacheados volumosos, usando um longo vestido vermelho.

Da cozinha vinha um cheiro agradável de comida francesa. E alguns empregados de buffet ornamentavam a mesa da sala, que só era usada em ocasiões especiais.

Júlio levantou sorrindo, indo de encontro ao marido, dando-lhe um selinho nos lábios.

Envolveu o braços nos ombros de Leandro e o conduziu até o casal.

Leandro não sabia como reagir. Estava surpreso por Júlio ter retornado da viagem sem avisá-lo e oferecer um jantar para estranhos.

_ Queridos, este é o homem da minha vida! A quem devoto os meus dias para fazê-lo feliz. Leandro, nome que é música para os meus ouvidos. Coração, esses são os meus ilustres clientes. Essa linda mulher é Suzana Torres e esse é Abner Santos, um casal adorável.

Leandro arregalou os olhos, admirado pelo que ouviu.

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Comentários

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Gostei do Leandro, personagem muito bom e te trazer para essa história o casal do outro conto, muito bom saber deles.

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Voltei a passar por aqui e li os vossos comentários que me deixaram atónito. Nunca pretendi diminuir o autor mas sim estimulá-lo na prossecução do conto.

Sou português e tenho 68 anos. Iniciei a minha vida sexual aos 16 anos num namoro com uma moça numa ilha remota do Atlântico onde nasci e onde se vivia num isolamento cultural que remontava ao século XIX. Descobri o amor no desenvolvimento de uma amizade com um colega de uma equipa de futebol da Universidade de Lisboa. A descoberta da nossa homossexualidade foi simultânea. Inventámos motivos para terminarmos os namoros com as namoradas que também se tinham tornado amigas. Partilhámos um apartamento durante cinco anos, até ao final dos nossos cursos num amor secreto vivido numa reciprocidade absoluta em que sempre respeitámos a virilidade um do outro ao ponto da nossa entrega como passivos, absolutamente prazerosa, ocorrer com uma rigorosa alternância com a posse como activos. Separámo-nos de comum acordo no final dos nossos percursos académicos por os nossos preconceitos na altura serem incompatíveis com a ideia de vivermos o resto das nossas vidas como duas bichas. Não foi falta de coragem de enfrentar os outros. Foi a certeza de que acabaríamos por nos desprezarmos se tivesse sido essa a nossa opção. A nossa separação foi extremamente dolorosa a ponto de termos necessitado de tratamento psiquiátrico com várias crises de internamento hospitalar. Ambos acabámos por nos casar alguns anos depois e temos filhos e netos. Vivemos 28 anos sem notícias um do outro. Encontrámo-nos por mero acaso em Lisboa aos 53 anos de idade. De início recomeçámos por reatar o nosso relacionamento levando vidas duplas. Assumimos o nosso relacionamento há 12 anos, divorciámo-nos e estamos juntos desde então. Agora que já estamos ambos reformados somos os babas dos nossos netos e o meu filho mais velho até casou com a filha do meu companheiro pelo que temos um neto em comum. Este resumo da minha história de vida não pretende ser uma justificação nem um pedido de desculpas pelo meu comentário inicial. Tanto eu como o meu amor concluímos apenas que vivemos em mundos com preconceitos e envolventes socioculturais nas antípodas das personagens da história, das críticas ao meu comentário e muito mais à reacção de ofensa do autor. Quem sou eu para pretender agredir ou menosprezar o trabalho de um autor. Nunca tive tal intenção e essa atitude é completamente contrária aos meus próprios sentimentos. Realmente vivemos em mundos muito diferentes e o mais plausível é já sermos demasiado velhos para nos identificarmos com a personagem Leandro. A propósito: As diferenças ortográficas e gramaticais do português falado e escrito em Portugal e no Brasil são uma realidade de tal ordem que seria de uma arrogância absurda eu fazer aqui correcções desta natureza. As línguas são vivas e evoluem. Presentemente, em Portugal, é raro diferenciarmos o género das personagens. Tão simples como isto. E reforço: o nosso apreço pelo conto e pela criatividade do autor são realidades incontestáveis. Só que a passividade do Leandro é para nós extremamente aflitiva e provoca-nos uma agonia tão deprimente que se torna muito difícil de aceitar.

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Fico muito feliz por ter conseguido viver o relacionamento com o seu companheiro. Parabéns. Sobre a atitude do Leandro é para incomodar mesmo, a intenção é que esse tipo de relacionamento não seja normalizado. Agora, o que me ofendeu foi o senhor dizer que tenho a intenção de fazer os leitores de imbecis. Essa não é e nunca foi a minha intenção. Em nenhum momento me senti ofendido pelo crítica ao personagem, e sim pelo que citei.

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Boa noite, gente. Eu queria deixar algumas coisas claras. Tenho recebido críticas e até acusações de criar um personagem imbecil e fazer vcs de imbecis ( o que é um absurdo).

Isso se refere ao comportamento do Leandro diante das manipulações do marido.

Primeiro, Leandro não é um imbecil e muito menos qualquer pessoa que vive ou viveu esse tipo de situação. Relacionamentos abusivos é algo muito sério, inclui manipulações piscologicas. Cada ser humano tem uma história, problemas dentro dela q a levam a se sentirem perdidas e vulneráveis diante de um abusador. Ainda mais no caso do Júlio, q não rola violência física.

É infindável que homem e mulher nenhuma aceita esse tipo de situação, uma pessoa que diz isso provavelmente vive no mundo da lua. O que mais há por aí são casamentos parecidos com os dos protagonistas.

Mais uma vez digo que Leandro não é um personagem estável. Ele terá o seu desenvolvimento e isso será ao longo da história. Não posso atropelar tudo para agradar meia dúzia.

E o mais importante, Leandro ainda não sabe que está num relacionamento abusivo. Ele é muito ligado ao Júlio, eles construíram uma vida e uma família, ou seja, laços afetivos fortes que não se desmancham com facilidade.

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O conto tem personagens bem estruturadas psicologicamente, embora no 2º capítulo me tenha parecido um pouco excessivo no nível de bulling praticado no casal. Hoje em dia nenhuma mulher tolera tanta humilhação muito menos por razões de dependência económica. A prova de adultério é bastante para justificar o divórcio em que todo o património do casal é dividido pelos dois podendo ser negociada a atribuição de uma pensão que garanta ao cônjuge dependente a manutenção da qualidade de vida que mantinha na vigência do matrimónio, no caso do património existente não ser passível de divisão. Qualquer mulher minimamente discreta contrata os serviços de um detective particular que reúne as provas de adultério necessárias para apresentar o pedido de divórcio em Tribunal. Num casal de dois homens, acho que por maioria de razão nenhum homem se sujeitaria a tanta baixaria. Os 3º e 4º capítulos desviaram um pouco o rumo da história tornando-a mais plausível, mas se o Leandro cair nesta armação do Júlio sobre o falso cliente Abner Santos, a imbecilidade quase que ultrapassa os limites da credibilidade do próprio conto. Continue que a história está bastante interessante. Mas não abuse da imbecilidade da personagem Leandro nem dos seus leitores, se pretende realmente construir uma história minimamente verossímil.

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Vamos lá, primeiro q Leandro não é uma mulher. Segundo que o que prende a Júlio não é dinheiro e sim coisas muito mais profundas q só quem vive um relacionamento abusivo sabe o que é. Terceiro, em não pretendo escrever história verossímil, é só uma história e pronto. Em último lugar, não estou tratando leitor nenhum como imbecil. Sempre fui educado com vcs, essa acusa é infame e me ofende.

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E para terminar, já q quer falar verossímil, então quer dizer q na vida real não existem casais (sejam LGBT ou hétero) em q um trai e o outro não toma uma atitude?

E quero enfatizar que a história ainda está no início.Leandro não é um personagem estável. Ele passará por um desenvolvimento, mas isso acontecerá ao longo da história. Eu não vou atropelar nada.

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Tolera viu! Acho que você precisa sair da sua bolha, ler notícias, assistir jornal... Porque não parece que vivemos na mesma realidade.

De qualquer forma, diante do seu discurso machista e antiquado (apesar de coerente em alguns pontos) você não seria forçado ou coagido a ler algo que não lhe convém. Portanto, é só não ler.

Grande abraço, muita luz, que você consiga sair da sua bolha algum dia.

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Nossa, tô com a cabeça fervendo aqui hahahahahahaha. Amei amei a participação do meu casal 😍 Agora eu fiquei encucada com esse final.

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