Uma carona inesperada ㅡ Cap 1

Um conto erótico de LuCley.
Categoria: Gay
Contém 2299 palavras
Data: 01/08/2021 19:59:10
Assuntos: Gay, Homossexual

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Me chamo Otávio, ou Tavinho, para os mais íntimos.

Perdi meus pais ainda criança, aos 10 anos de idade. Foi a pior fase de minha vida.

Um brutal acidente de carro tirou meus amáveis pais de minha vida. Jamais os esquecerei.

Meu tio Leandro, irmão de minha mãe, foi quem se dispôs a cuidar de mim e dos negócios de minha família, que na época, tínhamos uma loja de acessórios automotivos.

Carros eram a paixão de meu tio e meu avô.

Ele passou a cuidar muito bem dos negócios e de mim, obviamente, mesmo o resto da família achar uma loucura alguém tão jovem como ele e solteiro, assumir a responsabilidade de cuidar de uma criança. Ele tinha vinte e quatro anos; mas não era nada imaturo, muito pelo contrário.

Mas mesmo assim, lembro que na época foi um reboliço e tivemos uma longa conversa com o juiz, para decidirmos com quem eu ficaria e se eu queria ter meu tio como meu tutor.

Entre entrevistas e visitas de assistentes sociais, meu tio, com a ajuda de meus avós, conseguiu minha tutela e precisou provar que era capaz de cuidar de mim, pois além de trabalhar na oficina que era de meu avô, também dividiria seu tempo em administrar os bens que meus pais haviam me deixado.

Alguns meses depois ele se mudou definitivamente para minha casa e confesso que foi a primeira vez que me senti seguro ao lado de alguém que não fosse meus pais.

Assumindo permanentemente os negócios e minha tutela, meu tio Leandro e eu nos tornamos inseparáveis.

Ele me levava e buscava na escola, me dava bronca caso precisasse e me lembrava que jamais substituiria meus pais, mas que me amava como se eu fosse seu filho.

Ele me educou e me ensinou tudo que sabia sobre carros. Eu adorava ajudar ele na loja quando terminava meus deveres da escola e também aprendia a atender os clientes quando os outros funcionários estavam ocupados. Também passava um tempo com meu avô na oficina quando não tinha nada para fazer e aprendi com o tempo a consertar carros. Eu adorava.

Quando eu fiz quinze anos, ele e meu avó me presenteou com um motor home caindo aos pedaços e ri muito quando os vi chegando com aquela lata velha.

ㅡ Obrigado, tio, mas vou fazer o quê com essa sucata?

ㅡ Poxa Tavinho! Abra seu coração e dê uma chance para a lata velha. Você ainda não pode dirigir, mas podemos consertar isso juntos e quando você atingir a maior idade, vai ter uma casa ambulante reformada por suas próprias mãos. Vai ser divertido. ㅡ Respeitei profundamente e o abracei, agradecendo.

ㅡ Você é o melhor tio/pai do mundo, sabia? Até hoje fico me perguntando o porquê de você ter aceito ficar comigo. Você era tão jovem e poderia estar aproveitando mais a sua vida, do quê ter a responsabilidade de cuidar de mim.

ㅡ Eu aproveito a minha vida, contigo. Me tornei uma pessoa melhor depois que comecei a cuidar de você. Agora sei que posso ser um ótimo pai, quando eu decidir ter meus próprios filhos.

ㅡ Você já é um excelente pai pra mim e tenho certeza que será para os seus também.

Ele me abraçou e encaramos juntos a missão de dar uma cara nova a lata velha ambulante que estava em nossa garagem.

Rimos demais quando ouvimos o para-choque despencar. Seria uma longa jornada até aquilo se tornar um motor home digno de ser dirigido, mas eu curti a ideia de montar meu próprio carro.

Tudo aquilo se tornou interessante e meu tio e eu nos tornamos ainda mais próximos.

Éramos uma família, ele e eu, e éramos muito felizes.

Meus avós sempre nos visitavam e ficavam admirados com o nosso potencial de responsabilidade. Tínhamos tudo sobre controle.

Conforme os anos foram se passando, comecei a me sentir um pouco diferente.

Eu não sabia explicar, mas sempre alguém me perguntava sobre as meninas na escola e aquilo era algo muito constrangedor.

Me sintia deslocado, como se mulheres não fizessem parte do meu mundo. Eu não pensava nelas, não as olhava da mesma maneira que meus amigos e não as achavam nenhum pouco atraentes.

Me senti perdido por um tempo, como se estivesse sozinho e não tivesse ninguém a quem recorrer.

Eu queria muito sanar minhas dúvidas. Queria entender o porquê de nunca ter me interessado por ninguém romanticamente.

Até que um dia, me vi admirando um amigo de sala. Eu já estava no segundo ano do segundo grau.

Lembro-me de estarmos na aula de educação física, quando meu amigo dobrou o calção para se movimentar melhor; deixando a mostra um par de coxas incrivelmente torneadas. Confesso que senti meu corpo esquentar e fiquei com medo de ter uma ereção ali mesmo.

Meus olhos ficaram vidrados, eu não conseguia me mexer, até que voltei a minha realidade quando levei uma bolada na cabeça.

ㅡ Está dormindo, Tavinho? ㅡ Meu professor estava rindo e pediu para eu prestar atenção no jogo.

ㅡ Não, estou de boa. Só me distraí. Já voltei!

O jogo continuou e meu time perdeu por minha culpa. Eu estava com os pensamentos pra lá de Bagdá. Que diabos estava acontecendo comigo?

Eu precisava urgentemente conversar com alguém.

Cheguei em casa cansado, tomei um banho e desci até a loja que ficava no final da rua. Meu tio acabara de atender um cliente e perguntei se faltava muito pra ele fechar. Me vendo preocupado, perguntou se estava tudo e bem e disse que sim, mas que eu estava meio aflito por conta de uns pensamentos estranhos.

Ele queria conversar ali mesmo, mas insisti que fossemos pra casa.

Pedi que deixasse um dos funcionários fechar a loja e praticamente o obriguei a ir pra casa comigo.

Assim que chegamos, pedi a ele que se sentasse e que esperasse eu terminar de falar, antes de me julgar.

Quase chorando, falei que não tinha mais ninguém em quem confiar além dele e pediu que eu me acalmasse.

ㅡ Tavinho, começa do começo, por favor. E se acalme, você está suando!

ㅡ Eu não sei como te dizer isso. Sei nem se você vai me entender.

ㅡ Se você não me falar, como esperar que eu te entenda? Vai, bota tudo para fora!

Eu não sabia se ficava em pé, se sentava ou se chorava ainda mais. Ele me olhava tentando adivinhar o quê se passava em minha cabeça e estava me deixando mais nervoso ainda.

Fui até a cozinha e tomei um copo gelado de água. Voltei para sala e o olhei bem em seus olhos:

ㅡ Acho que sou gay! ㅡ Silêncio absoluto!

Meu tio se levantou e foi até a janela.

Ele estava de costas e certamente pensando no quê eu havia dito.

Me sentei e me senti muito mal por jogar aquela bomba em suas costas. Talvez eu não deveria.

ㅡ Por que você acha que é gay?

ㅡ Tenho pensado muito sobre o fato de eu não conseguir achar as mulheres interessantes. Eu as acho lindas, mas não a ponto de conseguir me envolver romanticamente com elas. Isso é muito estranho?! Além do mais, hoje no colégio, fiquei admirando...bem...fiquei admirando as penas do meu amigo. Quase tive uma ereção no meu da quadra. ㅡ fiquei extremamente envergonhado e me assustei quando ele começou a gargalhar.

ㅡ Kkkkkkkkkk! Me desculpe, Tavinho. Meu Deus, você também?! Meu Deus, os velhos vão pirar quando souberem.

Por segundos o encarei. Como assim, "eu também?" Ele se sentou ao meu lado e colocou seu braço sobre meu ombro e me puxou para si me dando um beijo no rosto.

ㅡ Bem-vindo ao clube, garoto! ㅡ Ele disse e precisei recolher meu queixo que estava caído no chão.

ㅡ Está de brincadeira comigo, não está?

ㅡ Acha mesmo que eu brincaria com um assunto desse? Até parece que não me conhece.

ㅡ É que é meio difícil de acreditar. Você nunca me falou nada. E eu nunca suspeitei.

ㅡ Pois é, eu nem sei porquê acabei te falando, mas me senti tão a vontade contigo. Sei lá, me senti confortável em me abrir contigo.

ㅡ Mais ninguém sabe?

ㅡ A única pessoa que sabia, já não está mais aqui.

ㅡ Minha mãe! ㅡ Ele me abraçou e ficamos alguns segundos remoendo tudo que havíamos dito um para o outro.

ㅡ Sua mãe era uma pessoa maravilhosa. Seu pai também era incrível, mas a sua mãe era meu porto seguro, meu norte.

Começamos a conversar e minha ficha caiu quando comecei a perceber que nunca vi meu tio levar nenhuma namorada em casa.

Uma vez até perguntei se ele não namorava, mas ele disse que gostava de ser solteiro, então, nunca mais toquei no assunto, não vi nada de errado em ser solteiro.

Falei tudo que me preocupava. Trocamos confidências e um sentimento tomou conta do meu peito.

ㅡ Será que meus pais teriam orgulho de mim, se soubessem o quê eu sou?

ㅡ Claro que teria! Eu não tenho dúvidas disso. Sua mãe super te apoiaria e seu pai também.

ㅡ Mas você nunca contou para o papai, por quê? Tinha medo?

ㅡ Não! Nunca contei para seu pai, porque nunca precisei. Eu sentia que ele já sabia. O modo como ele conversava comigo era diferente. Nunca conversamos abertamente; esse tipo de conversa eu só tinha com sua mãe. Com ela era diferente, sabe? Com seu pai era como se falássemos por códigos, mas nos entendíamos muito bem. Ele me apoiava e me respeitava. Eu tinha muita consideração por ele, Tavinho, era como um irmão que nunca tive.

ㅡ Eles eram demais, mesmo. Sinto a falta deles.

ㅡ Eu também, garoto, eu também! Quer dar uma volta? Estou precisando arejar a cabeça um pouco. O dia na loja foi muito corrido. Topa?

ㅡ Topo! Só vou colocar outra roupa.

Fui para meu quarto e um peso parecia ter sido arrancado dos meus ombros.

Fiquei feliz por compartilhar algo tão íntimo com meu tio e saber que ele era igual a mim, me deixou mais seguro de quem eu era. Eu tinha um exemplo do quê eu era bem na minha frente e isso representava muita coisa. Conversávamos sobre tudo e nossa relação foi se estreitando cada vez mais a medida que o tempo passava.

No meu aniversário de dezoito anos fizeram uma grande festa.

Meus avós estavam tão felizes, que pude vê-los orgulhosos em saber que seu neto já era um homem.

Dado momento percebi que meu tio não estava por perto e perguntei à minha avó onde ele estava. De repente o vi chegando com a lata velha ambulante.

Fiquei sem entender o quê estava acontecendo.

A lata velha ambulante estava linda. A última vez que meu tio e eu a consertamos, faltava muita coisa pra terminar.

Por conta do meu cursinho pré-vestibular, precisei deixar a lata velha de lado e focar em meus estudos.

ㅡ O quê você fez com ela? Está linda! É para mim?

ㅡ Claro! É seu presente de aniversário. Bom, ela já era sua, mas agora está dirigível. Seu avô e eu adiantamos tudo que pudemos para que ficasse pronta. Como você não aparecia mais na oficina por conta dos estudos, ficou fácil deixar tudo pronto para seu aniversário.

ㅡ Caramba, eu amo muito vocês! Muito obrigado. Agora sim, está parecendo um motor home de verdade kkkk.

ㅡ Tanto tempo para ficar pronta, merece ser inaugurada. O quê acha?

Convidamos meus avós para dar uma volta na lata velha ambulante, mas preferiram ficam em casa e terminar de arrumar a bagunça.

Fomos só meu tio e eu.

Demos uma volta pelo centro da cidade e fomos até a praia.

Estacionamos perto do posto 9 e ficamos sentados na areia.

Conversamos, rimos e agradeci todo cuidado, carinho e dedicação que tivera por mim durante todo aquele tempo.

Senti por alguns instantes a falta de meus pais. Queria muito que eles estivessem vivos para me verem passando por mais uma etapa de minha vida.

Estava um calor insuportável e decidimos cair no mar.

Foi um fim de dia maravilhoso que jamais esquecerei.

Depois que saímos do mar, nos deitamos na praia e, em mim, um sentimento mais uma vez tomou conta do meu peito, mas era um sentimento bom. Quando vi a lata velha ambulante estacionada a poucos metros de nós, imaginei algo que talvez me fizesse me separar de minha família por algum tempo.

Meu tio me encarava com os olhos rasos d'água e, como se lendo minha mente, ele disse:

ㅡ É uma pena que eu não goste de pegar estrada por tanto tempo, ou poderíamos sair por aí com a lata velha.

ㅡ Eu estava pensando nisso agora mesmo. Você poderia tirar umas férias. Não poderia?

ㅡ Poderia sim, uns 15 dias no máximo, não tenho vocação para nômade.

ㅡ Eu tenho! Me bateu uma vontade de sair por aí, sem ter dia pra voltar. Você acha muita loucura de minha parte?

Ele ficou quieto. Nós dois sabíamos que um dia eu iria crescer e trilhar meu próprio caminho. Eu lhe era grato por tudo, mas queria conhecer o mundo, ou por enquanto, nosso país.

Ficamos pensativos por um tempo. Fechei meus olhos e me vi a cada fim de semana, estacionando a Lata Velha em uma cidade diferente. Seria muito interessante conhecer pessoas novas todos os dias. Era uma oportunidade única e eu tinha condições para fazer acontecer, só precisávamos nos planejar e colocar na cabeça de meus avós que eu já era maduro o suficiente para cuidar da minha própria vida...

Continua!

Espero que tenham gostado desse início. Não serão capítulos imensos como os antigamente, pois demanda muito tempo e não quero ficar sem postar por muito tempo.

Abraços e se cuidem!! 😉🌈

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Comentários

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Nossa!! Muito feliz q vc voltou Lu! Sou apaixonado por vc desde a história de Lipo e Cado!

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APESAR DAS REVELAÇÕES NADA DE INUSITADO. VEREMOS NOS PRÓOXIMOS CAPÍTULOS SE TUDO VAI ESQUENTAR MAIS...

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Saudades de ti, LuCley. Seja bem-(rê)vindo... Está narrativa promete. Conte-nos mais...

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Olá pessoal! Curtam, votem e comentem!ah, e seguem o meu perfil. É muito importante pra mim! ,😘😘

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Que maravilha vc voltou.

Seria demais se o casal central fosse os 2? Seria uma linda história.

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Poxa...sinto dizer que não será. Nem cogitei essa possibilidade, acho que você vai gostar.

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Tudo bem, confio em suas histórias.

Sei q será outro grande sucesso.

Mas ia gostar ...

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Ana, também pensei nisso, mas pelo título e pelo final desse capítulo eu já vi que não é esse o enredo. Mas vamos pra frente que já é sucesso.

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