Divã - As confissões da Senhora Telles (Parte 2 de 4)

Um conto erótico de Fmendes
Categoria: Gay
Contém 4142 palavras
Data: 31/05/2021 16:09:28

A segunda consulta com a Sra. Telles ocorreu mais de um mês após. Foi marcada em um horário comum e ela foi recebida pela recepcionista. Educadamente recusou a água e o café ofertados e se dirigiu ao divã.

Estava com suas roupas discretas, cabelos presos e óculos escuros, como da primeira vez. Porém, foi a porta se fechar para ela se livrar de tais amarras. Retirou a presilha, os óculos e até os sapados.

Não se deitou de imediato, mantendo-se sentada e me olhando nos olhos. Ao pegar o caderno e me sentar, perguntei:

- E como a senhora está hoje?

Ao que sorriu e respondeu com a voz calma.

- Ótima. Queria apenas, antes de começar, me desculpar pela minha saída abrupta de nossa última consulta. Espero ter recebido seus honorários.

- Não se preocupe com isso - tranquilizei - é uma reação comum, após se abrir para sensações tão ímpares. A senhora não tem do que se envergonhar. A verdade é que demos um grande passo logo em nosso primeiro encontro. A senhora demonstrou clarezas muito significativas do episódio que relatou e acredito que vamos desenvolver ainda mais. - e completei - e o cheque chegou e foi devidamente compensado.

Ela sorriu, tanto pelo gracejo, quanto pelo elogio. Era claro que gostava de ser elogiada. Era uma mulher vaidosa, e não importava a natureza do elogio, seria sempre bem vindo.

- A verdade é que não tinha entendido direito as minhas emoções naquele dia e... Narrar me ajudou muito.

- A narrativa tem esse poder, seja na terapia, ou em qualquer ato. Como o de escrever em um diário, por exemplo. Não importa. Quando você é capaz de tecer um enredo para sua história, significa que conseguiu unir uma série de dados e deu a eles sentido. Em especial, quando falamos de uma situação tão distinta quanto a que a senhora viveu.

- Ainda não tenho certeza se sei o que senti quando vi meu marido com outro...

- Talvez possamos descobrir juntos - sugeri.

A senhora Telles sorriu mais uma vez e se deitou, olhando a janela e começando a falar, sem precisar de mais incentivos.

*

Não posso negar que algo havia mudado para melhor desde àquela noite. Acho que, pelo menos durante o mês que se seguiu, voltamos aos tempos de início de namoro. Em que ficamos excitados facilmente na presença um do outro. Lembro que numa manhã, ele teve de se arrumar três vezes para ir ao trabalho. Rsrs

Na primeira, ele estava tão irresistível naquele terno que tive de arrancar dele.

Foi divertido, desabotoar sua camisa enquanto ele tentava por a gravata. Descer e arriar sua calça enquanto ele queria pentear o cabelo. Cristian sempre foi muito responsável com seus compromissos e naquela manhã em especial ele teria uma reunião importante. Pediu para eu parar, lembrou-me do compromisso importante que tinha. Mas até mesmo sua responsabilidade incontestável ruiu quando eu pus seu órgão em minha boca.

Acho que nunca fui boa em sexo oral. Não é o tipo de coisa que nossas mães ensinam, muito menos a minha...

Sempre o considerei apenas uma forma de agradar seu parceiro, uma vez que quem pratica não tem benefício algum. Mas acho que eu estava enganada. O que a experiência daquela noite me fez aprender é que existem muitas coisas ligadas ao prazer que não necessariamente precisam de uma relação fisiológica de causa e efeito para ocorrer. Tal como ver meu marido me despertou emoções. Fazer Cristian perder o controle daquela forma me fez sentir... de uma forma diferente. Eu o observava se contorcer e pela primeira vez aquilo me acendeu. E me estimulou a fazer mais, melhor. A chupar, a lamber, cheirar, tentar tudo, até morder, procurando arrancar dele mais gemidos que antes.

Nunca tinha apreciado o sabor de um pênis com tanta emoção. E devo admitir... é bom... o calor do órgão a forma como ele ia pulsando dentro de minha boca. A textura lisa da pele. O cheiro doce dos hormônios sendo liberados. Quando Cristian ia ejacular, ele procurou tirar o órgão. Como sempre fazia, em respeito a mim. Mas não sei o que deu em mim doutor... eu não deixei... Um sentimento inédito de posse me tomou... Era meu aquele líquido... era meu. Era fruto de meu trabalho. Meu esforço. Eu havia arrancado aquilo dele. Ele não tinha o direito de me tomar. Era meu. Só meu...

E eu bebi... bebi pois era meu trofeu.

E ver Cristian perder o controle, desabar no chão quando minha lingua passou pelo órgão sensível. ahhh... doutor foi... foi uma vitória.

Acho que precisava daquela prova, sabe?

Precisava saber... Que eu também era capaz de dar prazer a meu homem, fazer ele sair de sua rotina... Ser a percursora de seu desejo e não apenas aquela quem está a disposição quando eles afloram... E mais...ele podia dias atrás ter gemido para nosso motorista... mas eu também era capaz de o fazer perder o controle.

Parece bobeira, mas eu precisava daquela certeza...

Eu levantei, como se nada tivesse acontecido, limpei o canto da boca, e fui me arrumar, escondendo o sorriso de triunfo e ignorando meu marido caído no chão com as calças arriadas.

Mas aquilo não terminaria ali. E na segunda, quando ele tinha acabado de trocar de roupa, me viu de frente para o espelho arrumando os cabelos. E ficou me olhando daquele jeito. Percebia que me olhava, embora o ignorasse. Estava gostando daquele joguinho. Seria minha segunda vitória, se ele não resistisse a vir pra cima de mim...

E eu venci, doutor... Venci! Ele não aguentou de vontade e sem falar nada veio para arriar minha calcinha e me penetrar assim mesmo.

Me fiz de surpresa, embora não tivesse conseguido segurar o gemido ao sentir o órgão duro me penetrar daquela forma. Ele sequer tirou minha camisola e ele também não se despiu. Teve o cuidado de só por o órgão pra fora, mas sua roupa ficou tão amassada após o ato que ele foi forçado a trocar Hahaha

Desculpe... Acabei rindo alto demais.

Mas enquanto esse fogo se manteve aceso, eu cheguei até mesmo a esquecer o ocorrido naquela noite. Pelo menos... A parte em que envolvia Cauã. Mas com o passar daquele mês, creio eu que a dose de nosso elixir estivesse acabando. Talvez precisassemos de uma recarga...

Nosso motorista passava a maior parte do tempo comigo. Ele me acompanhava e me servia de segurança pelas ruas caóticas do Rio de Janeiro.

Além de sempre educado e solicito, é um homem grande e forte e chamava a atenção passando pelas ruas. Das mulheres e, pelo que pude notar recentemente, alguns homens também. Interessante que, quando parecemos tomar conhecimento de alguma verdade, ela nos salta os olhos a todo o momento, não é mesmo? E nos perguntamos: 'como nunca percebi antes?'

Mas não era algo que se impressionar. Cauã é um homem bonito e eu sempre fui capaz de ver isso nele. Embora nunca me tenha atraído de forma sexual.

Nunca tive outro homem, doutor. Nunca sequer me interessei por algum. Nenhum que não fosse Cristian.

E durante muito tempo, pensei que também fosse a única para ele. Embora esteja certa em saber que sou a única mulher em seus pensamentos.

Sabe... Acho que é isso que me conforta afinal. Pode parecer mera tentativa de consolo, mas acho que o que me ajudou a superar tal situação foi Cristian ter tido relações com um homem, e não com outra mulher.

Acho que eu não sobreviveria se descobrisse uma amante. Sou muito vaidosa, doutor. Deve ter notado isso. Então, para meu marido me trocar por outra, significaria, a meu ver, que aquela outra era melhor que eu em algum aspecto, que tinha algo a oferecer que eu não tivesse...

Mas um homem... Bem, como eu poderia competir com isso, não é mesmo? Pois um homem teria de fato coisas a oferecer que eu não tinha e nunca terei. Não há como competir. Ainda mais com um espécime tão másculo como Cauã.

Voltando pra casa, numa tarde, reparei em suas mãos másculas, enquanto dirigia. Sua postura impecável, sua pele negra e bem hidratada. Mas por mais que o achasse belo, não me atraia. Eu bem que poderia ter um caso com Cauã, não é verdade? Direitos iguais. Mas eu não o queria.

- Fico muito feliz por você trabalhar para nossa família por tantos anos, Cauã - falei assim, de repente. Simplesmente fiquei com vontade de dizer.

Ele, obviamente, surpreendeu-se, mas agradeceu:

- Obrigado, senhora. Eu também gosto muito de trabalhar para os senhores.

- É dicifil encontrar hoje em dias pessoas tão dedicadas, que nos sirvam tão bem... Em especial meu marido, ele deve ser um homem bastante exigente. - soltei essa última escondendo o sorriso maroto.

- O senhor Cristian é um grande homem. É um prazer servi-lo - afirmou.

- Eu sei que sim - e parei de falar então, pois queria rir

Admito que me senti ótima com essa brincadeira. Pois era satisfatória a sensação de ser mais esperta que do as pessoas pensam. Eles pensavam que estavam me enganando, mas era eu quem os estava. Pensei em confrontar meu motorista. Falar a verdade do que sabia. Mas desisti. Afinal, o que poderia ganhar com isso? Não ia expor o que eu sabia. Afinal, ainda tinham coisas que eu queria tirar daquilo. Eu não fazia idéia ainda, mas alguns planos começaram a ser traçados em minha mente naquele momento...

Acho que foi ali que eu tive uma compreensão, do que eu senti ao ver ele e Cristian. A imagem dele possuindo meu marido ainda povoava meus pensamentos, me tiravam do foco as vezes. E lembrar no que aquela pequena aventura transformou meu marido... Naquele homem repleto de fogo...

Eu queria aquilo de novo. Queria meu Cristian da noite do retorno de viagem de volta. Se o preço a pagar fosse que ele virasse montaria de outro homem, então ele que fosse penetrado por cada homem desta cidade. Eu estava disposta a pagar. Disposta a pagar e... Talvez... Se fosse possível... Testemunhar...

Temos um cômodo de nossa casa convertido a um escritório funcional. Cristian o usa mais, quando tem trabalho pra fazer em casa. Eu o uso menos. É mais um lugar onde eu guardo meus livros. Onde os pego. Mas ler, bem, sempre preferi ler em minha cama.

Porém, teve uma tarde em que fiquei mais tempo lá. Fui para buscar um livro, cuja leitura queria revisitar quando olhei para a mesa do escritório e o computador pessoal de Cristian. Fiquei olhando para ele enquanto uma ideia me acometia.

Eu usava pouco aquele computador, mais quando tinha algum trabalho a fazer.

O senhor não sabe, mas sou formada em designer gráfico , mas só exerço a função esporadicamente, na empresa de meu marido. Quando faço revisões.

Eu então sentei e liguei o computador, conhecia a senha. Abri o histórico da internet e nada encontrei. Nada além do habitual a um chefe de família. Nada mais obsceno...

Olhei os arquivos, as pastas e nada.

Eu já ia desistir da súbita esperança que tive e sair quando uma outra ideia me ocupou. Mexi nas configurações e liberei possíveis pastas ocultas.

Eureca, foi só voltar para a pasta pessoal de Cristian que um novo documento alí estava. Uma nova pasta, sem nome, apenas reticências (...)

Meu coração saltou e eu cliquei. Ao abrir, achei outras pastas, com nome de 'fotos', 'login' e 'outros'.

Eu já ventilava àquela altura. Cliquei em 'fotos' e várias imagens de meu marido apareceram. Nenhuma com rosto, mas eu conhecia bem aquele corpo. Seus músculos, sua pele, seu membro e sua bunda...

Fui na pasta 'login' e achei logins e senhas de sites os quais não conhecia, mas logo dei conta se tratarem de redes sociais.

Abri a guia anônima da inernet e visitei um desses portais. E encontrei o perfil 'Casado Sigilo'

O perfil de Cristian na darkweb. Acessei e vi suas conversas. Ler ali as mensagens trocadas. O que aqueles homens diziam que iriam fazer com meu marido e o que ele faria em troca. A forma ousada e depravada como falavam

'Vou te arregaçar. Você fica brincando com fogo'

'Quero chupar teu pau um dia em que você tiver comido tua mulher. Sempre quis saber como é o gosto de uma buceta'

'Quando vamos marcar para você me fuder?'

Pelo que parecia, Cristian fazia a linha versátil. Daqueles que gostam tanto de serem penetrados quanto de penetrar outros homens. Então não era só uma necessidade de ser comido. Isso me decepcionou um pouco, a princípio. Afinal, sexo anal era uma coisa que eu poderia lhe oferecer. Embora... Pensando bem, Cristian já me pedira algumas vezes e eu recusei. Considerava uma desonra e ele nunca insistiu muito no assunto. Sexo anal era pra prostitutas, não esposas.

Continuei lendo e outra coisa que me surpreendeu foi que, apesar de muitas conversas, pouca coisa parecia ter de fato saído dali. Muitos dos interlocutores de Cristian inclusive reclamavam que ele não saia do virtual. Que era um 'punheteiro' e gostava de 'se masturbar falando sacanagem na internet'.

Começei a vasculhar a memória, tentando lembrar as noites em que Cristian vinha até mim mais inspirado, para ver se batia com algumas daquelas conversas, mas sabia que seria um trabalho em vão. Não tinha como saber se uma daquelas conversas se concretizou.

Então, achei o perfil de 'Urso01'. E a conversa com ele me chamou a atenção.

'Por favor, me envie aquele video. Juro que nunca vou mostrar pra ninguém' foi a última mensagem que ele lhe mandou antes de Cristian passar a lhe ignorar.

Um video? Então havia um vídeo. Logo eu saí da página e voltei para a pasta, na 'outros' e cliquei. Achei umas outras pastas com histórias eróticas gays e outra pasta com um único arquivo. Um vídeo.

Minha mão tremia quando cliquei.

Era um vídeo curto. Nele, o celular era posto apoiado na cabeceira da cama, eu podia ver o corpo de um homem deitado de bruços, tendo um outro corpo de um homem musculoso e peito peludo por cima, pelvis encaixada nas nádegas que eu conhecia bem.

- Anda - o urso falou - fala.

- Não - a voz do meu marido, abafada no colchão.

- Vamos. To mandando - e lhe deu um sonoro tapa nas nádegas.

Então o urso puxou a cabeça de Cristian e o colocou diante da luz da câmera

- Anda, pede desculpas. Pois você ta dando o cú pra um outro macho. Pede desculpas para sua mulher - e começou a penetrar Cristian.

Os olhos de meu marido estavam lacrimosos, e ele tinha o rosto contorcido pelo prazer do coito.

- Ah... Ah... Desculpa amor... Me desculpa... Eu... Mas... Isso é muito bom

Aquilo me deixou perplexa.

- Isso, isso - o urso regorgizou com a declaração e começou a golpear violentamente. Órgão cravando fundo em Cristian. Meu marido começou a gemer alto e gritar. Logo antes dele mesmo pegar o celular e desligar a câmera.

Eu não conseguia pensar em nada, dizer nada. Apenas cliquei novamente e reiniciei o vídeo. Depois reiniciei de novo. E de novo. Sempre olhando os olhos de Cristian, o prazer em seu rosto.

"Desculpa, amor..."

Pus o vídeo em um loop continuo e me recostei. Vendo várias e várias vezes meu marido ser brutalmente comido por aquele homem.

Instintivamente, fiz algo até então impensado: eu me toquei.

Passei a mão por dentro de minha blusa e toquei meu mamilo, tal como Cristian fazia muito bem... E depois, adentrei a outra em minha bermuda e toquei meu clitóris. Repeti os movimentos, vendo meu marido ser abatido como um animal no cio. Vendo sua bunda ser covardemente agredida. Seu olhar choroso ao admitir para mim que estava gostando de servir a outro homem.

"Desculpa, amor..."

- Eu te perdôo, meu lindo - respondi baixinho, enquando me esfregava com mais intensidade. - eu te perdôo. Porque eu te amo...

E rompi novamente, ali, sozinha...

*

Deixei a senhora Telles absorver a onda de sensações que a acometiam. Estava em paz, olhando a janela, voltando àqueles momentos prazerosos.

- Sempre imaginei que já tivesse tido um orgasmo antes. Eu não sabia dizer antes o que era, então... Bem... Eu imaginava que naquelas vezes em que o sexo era mais prazeroso, fossem as vezes em que eu tivesse alcançado o orgasmo.

- A senhora nunca tinha gozado com seu marido, ou de outra forma?

A senhora Telles me olhou, com um sorriso divertido.

- Hoje sei que não. Não tem como confundir algo assim. Só quando gozei a primeira vez com meu marido, que pude ter certeza que, todas as anteriores não chegaram nem perto. Por melhor que tivessem sido.

- Muitas mulhores não conseguem sentir o orgasmo com seus parceiros - informei - muitas apenas o atingem através da masturbação, como a senhora fez.

- O senhor se masturba, doutor? - perguntou diretamente, e eu senti malicia em sua voz. Como quem tenta me constranger.

- Obviamente que sim - respondi de forma natural e ela ficou surpreendida.

- Nossa... O senhor nem sequer corou... De fato, é uma raridade. Pois os homens não costumam admitir isso. Pelo menos não para nós, mulheres. Entre eles, Talvez. Mas é fato que, desde que descobrem para o que serve, vocês vivem agarrados a seu brinquedo favorito, não é?

E riu

*

Mas para nós mulheres, não. Vocês homens podem não admitir, mas estão sempre se entretendo sozinhos. Para nós, somos ensinadas a repudiar tal ato não só para as pessoas mas para nós mesmas. Considerar tocar a si mesma algo baixo, vergonhoso, sem sentido.

Bando de idiotices que nos ensinam, não é mesmo? Me tocar foi tão... Tão.. nostálgico. Eu repetia as coisas que Cristian fazia em meu corpo e foi, por segundos, ter ele ali. Não era a mesma coisa, obvio, mas foi bom. Muito bom...ver o vídeo do pedido de desculpas de Cristian enquanto me tocava... Era o meu paraíso secreto e particular. Passei a amar aquele escritório. Pena não haver mais material como aquele...

Eu havia finalmente descoberto o orgasmo e não conseguia mais lembrar como era a vida sem ele.

Como, por algum momento, eu era capaz de confundir as transas mais elaboradas com a real sensação de gozar?

Uma vez conversei com minhas amigas mais íntimas a respeito de orgasmo. Não admiti, obviamente, que havia chegado a primeira vez. Para elas, eu sempre gozei com meu marido

E foi então que, conforme elas narravam suas experiências, eu percebi... Rs... Eu percebi... Rrsrs... Hihihi... Desculpa.

Eu percebi que elas nunca... Nunca haviam gozado.

Hahahhaha....

Me desculpe, doutor. Sei que pareco mesquinha ao rir de tal situação. Sim, eu sei. Mas... Mas o senhor não entende o que é o mundo das mulheres ricas. É uma fogueira das vaidades. Uma querendo se sobrepor a outras, fingindo sermos solicitas umas com as outras, mas adorando se sentir superior

Nossos elogios soam falsos, nossas narrativas modestas não são nada além de uma forma discreta de mostrar como somos felizes.

Reclamamos de nossas boas vidas ao mesmo tempo em que pontuamos como nossas coisas são melhores que a das outras.

Fazemos isso sim. É nosso hábito mais comum. É a forma como sempre fizemos e nossas mães antes de nós e nossas avós antes delas...

Elas são minhas amigas sim, não retiro o que disse. Mas nossa amizade consiste também em um jogo de egos irresistível. É o protocolo e todas nós sabemos as regras quando entramos.

Desculpe, olha eu me perdendo em devaneios. Mas com relação a risada que soltei agora, tal certeza me deu esse prazer pelo simples fato de que elas todas, sempre se gabaram da virilidade de seus maridos. E, mesmo que de forma velada, faziam pouco caso da natureza menos afoita de Cristian.

Era claro, e sempre foi, que ele não era como os demais homens. Não contorcia a cabeça para qualquer rabo de saia, não se gabava para outros homens de suas proezas sexuais, não antava por aí de pernas abertas como se tivesse um monumento entre elas.

Sim, é verdade que elas tinham alguma razão em suas suspeitas. Embora jamais a declarassem, primeiro por não terem qualquer prova, segundo por não quererem entrar em um conflito direto com nossa familia.

Mas você entende agora, não é doutor? Porque eu não consigo evitar de rir ao saber que elas jamais gozaram. Naquela manhã em especial, em que estávamos nós quatro no clube, tomando um café da manhã farto enquanto reclamavamos de nossas boas vidas, e surgiu o assunto do orgasmo... Ouvir elas narrando as sensações, as experiências... Rsrss meu Deus, era claro que elas não sabiam do que estavam falando, pois era a mesma coisa que eu falava. Antes de ter gozado de verdade

Hahaha.

E nesse momento, ficou se passando pela minha cabeça todas as histórias, todas as peripécias sexuais que elas tanto se gabavam

Hahahha

Marina, por exemplo, se orgulava em estar casada com o 'General de 5 estrelas e 3 pernas'. De acordo com ela, saia ardida de todas as suas relações, tamanha a espada do militar.

Já Rebecca, essa tinha seu 'senhor do gozo perpétuo'. E dizia que, se não fosse pela questão de preservar a intimidade, teria indicado o marido ao Guinnes, como o homem que conseguia penetrar por mais de duas horas inunterruptas sem ejacular.

Hahhahahaha

Mas a melhor era Silvia. Ela e seu marido, 'El fodedor'. Porque ela tinha que estar sempre arrumada e cheirosa para quando seu marido chegasse. Pois se 'El fodedor' ficasse um dia sem sexo, coitato, tinha até crises de enxaqueca. E ela se lamentando, pois não tinha sossego, não podia ficar praticamente um dia sem sexo, a coitada. Mais um dos lamentos de uma bem afortunada, que usa de uma falsa queixa apenas para jogar na cara das outras que ela tem algo que as demais não.

Pelo menos nesse último quesito, eu, Marina e Rebecca éramos mais realistas. Não tinhamos vergonha de dizer o obvio: que com o passar dos anos, o apetite sexual diminui. E não adiantava o quanto nos cuidassemos, nos mantivéssemos belas. Por mais suculento que um prato de carne assada possa ser, ninguém consegue comer carne assada todo o dia, concorda?

Hhahaha

Meu Deus, que vulgaridade. Mamãe, se viva fosse, me bateria na boca por dizer uma coisa dessas.

Mas os homens têm dessas coisas, não é doutor? Essa necessidade sexual que nós não temos. Obviamente elas não admitiam, mas pelas conversas era claro perceber que sabiam que eram traidas. Na verdade, seus maridos eram o retrato do que há de mais ridículo na masculinidade. Que é essa necessidade de mostrar para o mundo que vocês são homens, que gostam de mulher. Já ouvi trechos de conversas que tinham entre eles. E era de embrulhar o estômago. E ficava muito feliz de ver que Cristian nunca participava deles. Ele estava sempre lá, bebendo, escutando e rindo de vez em quando. Mas nunca que sua boca abria para falar coisas tão baixas. Sua boca só se abria para dizer belas palavras para mim, ou para fechar grandes negócios com seus sócios. Cristian gosta de conversar sobre política, filosofia e literatura. Não de fubebol, mulheres e bebidas.

Ah... Como eu amo Cristian.

E daí que ele se deita com homens? Como falei, não me importo. E daí que ele não é tão másculo? Do que adianta um membro gigante, ou a capacidade de segurar o gozo por horas, ou ainda um apetite sexual de um boi? Se nada disso ajudava suas companheiras e sequer ter segundos do que é o verdadeiro paraíso?

Acho que se esses homens um dia descobrirem os clitóris de suas mulheres, irão correndo para o hospital com elas achando ser um tumor.

Rsrsrra hahhah HAHAHAHHA.

Aí... Obrigado por escutar minhas loucuras, doutor. Você é como se fosse uma melhor amiga. Mais até do que minhas melhores amigas...

*

Quando conseguiu parar de rir, a senhora Telles olhou e relógio com certa decepção, e sorriu de forma preguiçosa.

- Acho que hoje não é um daqueles dias em que o senhor vai me deixar a vontade para ficar, mesmo depois da hora, não é?

- Podemos ficar um pouco mais, porém tenho outro paciente para daqui a meia hora - admiti.

Ela assentiu, e se levantou.

- Sabe... Sempre achei idiota a idéia de fazer terapia... Sempre achei que se tinhamos coisas para falar, poderíamos fazer para um amigo, marido ou familiar... Mas não seria o mesmo. É bom estar com alguém de fora, que sabemos que vai nos ouvir sem julgamentos. Se um dia minhas amigas conseguirem o feito de sair de suas ostras de cristal, ficarei feliz em indicar o senhor.

- Fico feliz em ouvir isso - admiti - Nossas consultas me são muito queridas, senhora Telles...

- Me chame de Renata - pediu.

- Renata. Gosto muito de nossas consultas. Pois vejo que a senhora... Digo, você. Está em um caminho muito ímpar em seu desenvolvimento e gosto de ajudar.

Ela sorriu mais uma vez. Levada pelo elogio. Então se despediu e saiu.

Senti que a próxima consulta não demoraria tanto a ocorrer quanto esta.

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Comentários

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Muito interessante ver uma narrativa desse tipo do ponto de vista de uma mulher, te acompanho desde de o ano passado e já li vários de seus contos, espero ansioso pela segunda temporada de Histórias de bar

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Maravilhoso Fábio, e chover no molhado eu sei ...mas e sim maravilhoso ...eu sou louca de tesão na sua mente ...rsrsrs

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Maravilhosos como sempre, tava aqui pensando, pq vc ñ faz uma 2 temporada de colégio militar?

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Perfeito, não sou fã de contas com pegada bi-sexual masculina, mas vc deixa o enredo Live e atrativo com a narração da Sra Telles. Nota 10

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