[LGBTQ+] PANDEMIC LOVE - DIÁRIO DE UMA QUARENTENA / 16 - ESPERA

Um conto erótico de EscrevoAmor
Categoria: Gay
Contém 3145 palavras
Data: 28/08/2020 21:47:21

Em algumas situações, a culpa é um peso desnecessário para carregar. O que passou deve ficar para trás, mas o que acontece quando não conseguimos deixar a culpa ir? A Regina fez merda, ninguém tira esse mérito dela, só que ela amava a Rosa tanto quanto a gente.

O frio do interior de São Paulo nos atingiu forte, até fumaça na boca saía. Nos dividimos em três equipes: André e eu, o Quintino e Lukas e o papai. Pegamos lanternas e começamos a procurar pela Regina nos arredores da fazenda. Decidimos iniciar pelo celeiro.

Os cavalos estavam descansando, então, tivemos que fazer silêncio. Nenhum sinal da minha irmã por lá. O André sugeriu investigarmos o galpão de feno. Não tinha reparado ainda, mas a fazenda de noite, no escuro total, era assustadora. Por um tempo, me senti dentro de um filme de terror, esperava o Jason nos atacar a qualquer momento.

— Que merda, Regina. — Falei para mim mesmo, focando a lanterna no caminho.

— Higor, ela deve estar com muito remorso. Quando você estava doente, ela chorou bastante. — Ele lembrou, caminhando ao meu lado.

— Eu nem sei o que estou sentindo, André. A Rêh errou feio. Trouxe a doença para a fazenda. Sorte que ninguém mais foi afetado.

— Vocês são irmãos, precisa perdoá-la. — Ressaltou André, tentando ser imparcial.

Perdão. Quem sou eu para perdoar a Rêh? A mais afetada nessa história toda foi a coitada da Rosa. Desde de sempre, ela se preocupou com o corona vírus. Limpava todos os cantos da casa, usava álcool em gel e máscaras. Logo, a Rosa dentre todas as pessoas? Isso é injusto. Enquanto isso, os políticos que deveriam se sentir culpados por tanta merda acontecendo, se fazem de desentendidos.

Ouvimos um barulho vindo do galpão de feno. Pensei logo no Fred Krueger aparecendo e enfiando suas garras na minha barriguinha. O André parou uns segundos, apontou a lanterna para a parte de dentro do galpão e vimos a Rêh, sentada no chão e chorando para variar. Pedi para ele avisar meus familiares que ela estava em segurança.

Entrei no galpão, pensando em maneiras de repreende—la, afinal, correr em uma situação dessas é idiotice. Fugir nunca é a solução e aprendi isso da maneira mais dura possível. Sentei ao lado da minha irmã e peguei em sua mão. Não queria passar um sermão, apenas mostrar que eu não a culpava, mesmo que no fundo, estivesse a culpando.

— Rêh. Eu queria ter uma palavra mágica para te falar agora. Tirar toda essa dor do teu coração...

— Higor. — Ela disse me cortando. — Desculpa, por ser uma irmã de merda. Sempre tive inveja de ti.

— Inveja de mim, Rêh? Pelo amor de Deus. Você é a estrela da família. Eu não sou ninguém, nem sei o que eu quero da vida. — Falei rindo. — Nunca conheci ninguém mais persistente e irritante na vida.

— Obrigada. Desculpa por te chantagear, falar para o Léo Meses sobre a sua sexualidade e pela festa.

— É. Tu vacilou um pouco, mas todos nós erramos. Eu não sou perfeito. Vamos voltar para casa, por favor? A Rosa precisa da gente.

Sim! Não ia fazer a Rêh se sentir mais culpada. Ganhei pontos como o melhor irmão, não é? Chegamos em casa e a minha irmã foi abraçada pelos meus pais. A Nadine apareceu e nos atualizou sobre a situação da Rosa. Aparentemente, estava estável, porém, carecia de cuidados intensos. Uma equipe saiu para pegar novos equipamentos que estavam sendo testados no Amazonas.

Para ajudar nas demandas financeiras, o papai pediu uma reunião da família. Eram 0h30 e estávamos todos no escritório, até mesmo o André. Para a surpresa de todos, quem liderou fui eu. Tive a ideia de fazermos uma live para arrecadarmos fundo para o tratamento da Rosa e de outras pessoas em Borá, o lugar que nos abrigou nas últimas semanas.

Todos adoraram a ideia. Comecei a delegar ordens, só que um problema apareceu. O Lukas não poderia usar as músicas da banda "Fusion", uma vez que não fazia mais parte da empresa. Um revés, ok. O Quintino sugeriu fazer uma live com covers de sucesso. Peguei o quadro do celeiro e levei para o escritório. Registrei todas as ideias que tivemos para tornar a apresentação um sucesso.

Não consegui dormir naquela noite. Fiquei focado na produção da live. Não queria que nada desse errado. O coitado do André adormeceu no sofá, peguei um cobertor e o cobri. Ele ficava tão lindo dormindo. Toquei em seu rosto, estava quentinho. Como o André conseguia mexer com os meus sentimentos?

Às 7h, comecei a ligar para os empresários que poderiam ajudar com o patrocínio da live. Tomei umas cinco xícaras de café, e Doutora, odeio café. Aquele líquido me encheu de energia, eu poderia correr uma maratona. Os meus pais ficaram impressionados com o meu dom de negociação. Fechei quatro parcerias em duas horas.

Infelizmente, o corpo arregou e precisei dormir. Deixei uma missão simples para os meus irmãos, uma seleção decente de música. Acordei com o Quintino falando sobre a beleza dos seus relógios. Garoto irritante! Joguei uma almofada na direção dele. Após um banho demorado estava pronto para mais uma rodada de Higor Produtor de Live.

Olhei no notebook e algumas marcas haviam respondido positivamente para a proposta. Ouvi a seleção feita pelos meus irmãos e aprovei as canções. Alugamos câmeras e equipamentos para a transmissão, conseguimos também uma segunda operadora de internet, não queria que a live caísse do nada.

Foram quatro dias de trabalho árduo. A Rêh ficaria responsável pela apresentação. Os meus pais leriam os comentários das redes sociais, e a estrela da transmissão, claro, o Lukas, tocando sucessos da música brasileira. Fechamos também matérias para sites, além de entrevistas para a rádio e televisão.

— Claro, o Lukas vai ter prazer de falar com vocês. — Falei ao telefone. — Sim. Perfeito. Vou agendar, obrigado. Tenha um bom dia. — Desejei anotando o horário da entrevista no caderno.

— Filho. Você está de parabéns. — Disse a mamãe pegando no meu ombro. — Acabei de dar uma entrevista para a Rádio Jovem Fã.

— Ótimo. — Falei procurando a entrevista nas minhas anotações e riscando.

— A Rosa ficaria muito orgulhosa de você. Tão empenhando. Parabéns! Com licença, a cozinha me espera. — Ela lamentou antes de sair do escritório.

— Com licença? Posso entrar? — Pediu André.

— Sério, André. Você não tem que pedir nada. — Tentei falar sério, mas sem sucesso e ri.

— A estrutura do palco está ok.

— Sério? — Perguntei olhando pela janela e pulando igual uma criança no natal. — Está lindo.

— Parabéns. Isso é tudo obra sua. — Ele comentou no meu ouvido, parado atrás de mim. — Você é incrível.

Eu sou incrível, ele disse. (risos de vergonha e amor) Eu sou incrível. Nunca ninguém disse que eu era incrível. Estar apaixonado é uma montanha russa de sentimentos, não é? Eu não aguentei e o beijei. Fomos atrapalhados como sempre, pelo Quintino, moleque do Quinto dos Infernos. A boca do André estava tão gostosa de provar. Ele explicou que todos os equipamentos foram revisados e aprovados para o início da transmissão.

Enquanto tentávamos fazer um bem, a Rosa lutava pela vida. Todos os dias passava pela porta do meu antigo quarto, sabia que atrás da porta, alguém que eu amava demais travava uma batalha com uma doença horrível. Apesar de tudo, queria manter minha esperava de ver a minha segunda mãe.

Naquela tarde, nós passamos toda a live. O Lukas testou os microfones e o violão, enquanto, escolhíamos os melhores ângulos de gravação. Lembrei de todos os cursos que participei de direção de TV, e também, das vezes que fui para as gravações das novelas e filmes dos meus pais. Tudo tinha que ser perfeito, em homenagem a Rosa e todos que batalhavam contra o Covid-19.

A estrutura final ficou linda demais. Usamos a área da piscina. Em quatro dias, conseguimos criar um ambiente bonito para a gravação. O André e seu Nestor construíram um arco que decoramos com plantas, usávamos tecidos de diferentes texturas na parede, uma bancada para os meus pais apoiarem os computadores, trouxemos o sofá da sala e, claro, os refletores quentes. O lugar ficou simples, porém, aconchegante.

Nada como a produção de uma live caseira para nos deixar à flor da pele. Às 19h59, daquela quarta-feira fria de São Paulo, mais de 20 mil pessoas já aguardavam no canal do Lukas. Nas redes sociais, todos comentavam sobre o assunto, ficamos até em primeiro lugar nos trends topics do Brasil. Me senti o Fred de "I Carly", com aqueles fones grandes e fazendo a contagem regressiva.

— 5, 4, 3, 2 e 1. Vai, Rêh! — Gritei.

— Boa noite à todos! Bem—vindos a essa live muito especial para nós, que queremos ajudar as pessoas que estão sendo prejudicadas por essa doença horrível. — Explicou minha irmã, brilhando como sempre.

Os operadores de câmera foram o André e o Quintino, estávamos com três câmeras, uma delas não ia precisar de cinegrafista, pois, pegaria o enquadramento completo. Fiquei cuidando dos cortes no computador e controlando o tempo da live. Depois da apresentação inicial, a Rêh anunciou o Lukas que esperava no sofá.

— Boa noite, irmã. Boa noite a todos que estão ligadinhos na nossa live. Como vocês devem saber, não faço mais parte da banda "Fusion", mas não se preocupem. Ainda somos amigos e nos falamos todos os dias. Só que hoje, temos uma missão muito especial e espero contar com sua participação e, claro, generosidade. A primeira música que quero cantar é "O Sol" do Jota Quest, aproveitando esse pôr do sol maravilhoso de Borá.

Sucesso! Sucesso! Não conseguia acreditar, Doutora. Acompanhava em tempo real a audiência da Live. O meu irmão tinha um apelo grande, principalmente, entre adolescentes. Após tocar algumas músicas, a Rêh entrou e fez a participação com os meus pais. Eles estavam lindos demais, pareciam que estavam no criança esperança.

— Boa noite. Gente, estou feliz com o alcance que tomamos. Os comentários de vocês estão sendo recebidos de forma carinhosa. — Disse minha mãe.

— Sim. Queremos agradecer aos empresários que estão entrando em contato. Já conseguimos um carregamento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para o hospital de Borá. Vocês são incríveis. Continuem doando, não importa o valor. Ajudem quem está nessa batalha, seja como paciente ou profissional. — Falou o papai, explicando as formas que os internautas podiam doar.

Pela primeira vez, desde sempre, fizemos algo em família. Fiquei feliz em incluir o Quintino e André, eles foram grandiosos para mim nesta quarentena. No fim da noite, conseguimos várias doações direcionadas para o hospital da cidade de Borá, apesar dos poucos casos, o governo não fazia nada no auxílio de quem precisava de ajuda.

O Lukas encerrou cantando a música "Espera" da banda Rosas de Saron. A emoção foi tanta que todos choramos com a performance dele, até o André. A chave de ouro selou aquela noite perfeita. Nunca me diverti tanto. Deu trabalho? Com certeza, quase não dormi nos últimos dias, mas batemos a meta e a sociedade seria beneficiada.

Para comemorar, o papai fez suas famosas pizzas. Subi a live para o YouTube e assistimos juntos. Depois de passar a adrenalina, encontrei alguns errinhos, mas nada que fosse um problema.

— Ei, Higor, filho. Não seja tão duro com você. Eu nem sei descrever o orgulho que estou sentindo de todos vocês. Apenas, obrigado. — Agradeceu meu pai levantando o copo.

— Bem, jovens. Queria ficar mais, porém, passou do horário dos idosos estarem acordados.

Ficamos conversando na área da piscina. O Lukas estava radiante, acho que a música fazia falta em sua rotina. Já a Rêh ganhou milhares de seguidores novos, ficou toda serelepe.

Acompanhei o André até o jardim, tentamos fugir um pouco por causa dos hormônios adolescentes.

— Estou muito feliz. Vamos ajudar tanta gente. — Comentei com o André.

— Higor. Tenho algo para te dar, sei que não está à sua altura. — Ele falou me entregando um envelope.

— André? — Questionei surpreso.

— Já deu meia—noite. Feliz Aniversário. — Ele desejou me beijando.

Enquanto beijava o André, um flash passou na minha cabeça. Como assim? Feliz Aniversário. Doutora, fiquei tão atarefado com a live que não vi a semana passar. Tinha esquecido o meu próprio aniversário, o André era um fofo e, a cada dia, me apaixonava mais.

Abri o envelope com cuidado, dentro havia uma carta e um desenho, dessa vez, de nós dois. Quase chorei, um presente tão simples, porém, carregado de significados. As minhas mãos estavam tremendo devido ao frio, toquei no rosto dele, que pele mais quente. Fechei os olhos e o beijei. Como sempre, o enxerido do Quintino estragou o clima.

— Feliz aniversário, primo! — Ele desejou abraçando o André e eu. — Caramba, a gente arrebentou hoje.

— Claro. — Falei revirando os olhos.

— Arrasamos mesmo. — Disse André, sem ficar indignado com a presença do Quintino.

— Sabe de uma coisa, Quintino. Vamos te arrumar uma namorada. — Soltei tirando ele da gente. — André? — Perguntei olhando como se fosse perguntar algo sério. — O Nescau está solteiro?

— Acho que sim. — Ele respondeu rindo.

— Hilário. — Falou meu primo. — Olha, quer dizer que vocês estão namorando é? Jesus, o Higor desencalhou.

Olhei para o André sem graça, afinal, não tínhamos conversado sobre relacionamento. Na verdade, nem sei se ele queria algo sério. Não me achava o cara ideal para namorar, porque o André pensaria diferente. Acabamos nos despedindo e subi para o quarto do Quintino.

Droga! Aquela pergunta não saia da minha cabeça. O que a nossa relação significava para o André? Uma ficada rápida. Bem, se ele pensava desse jeito, talvez, eu devesse aproveitar. O isolamento não seria eterno, uma hora ou outra, voltaria para o Rio de Janeiro. Dormi com esses pensamentos, ou seja, noite de merda.

Ouvi uns cochichos, mas não quis abrir os olhos. De repente, sinto um toque na ponta do meu nariz, ao abrir os olhos, estão todos no quarto. Meus pais, irmãos, Quintino, André e a Nadine. A Rêh segurava um bolo de morango com cobertura de pasta americana escrito: "Keep Calma And Finally 18tão". Droga, não pude nem levantar, pois, usava apenas uma cueca do Charmander.

Após um parabéns eterno com direito à violino, cortesia do Quintino, o pessoal desceu para tomar café. Ganhei um tempo extra para lavar o rosto na pia do banheiro e colocar roupas descentes. Escolhi para a ocasião uma camiseta preta com a frase "Live Wild" e meu calção da Fenda do Biquíni, quer combinação melhor para iniciar a maior idade? Não vejo.

O café estava delicioso, os meus pais arrasaram. Havia o meu Nescau de todos os dias, mas também bolo de fubá, pão de queijo, pão de leite, cuscuz salgado e biscoitinhos de polvilho. A Nadine trouxe boas notícias, a recuperação da Rosa nos últimos dias foi impressionante. Ela já respirava sem ajuda de aparelhos, estava comendo sólidos e tomando água.

— Podemos vê-la? — Questionei.

— Na verdade, ia sugerir isso. Vocês podem ir pela varanda. Ela vai estar esperando vocês com uma surpresa. — Falou Nadine toda misteriosa.

— Que tal a gente preparar uma apresentação? — Sugeriu Quintino, atuando de uma forma péssima e com seu violino em mãos.

— Claro. Pode ser "Espera", que cantei na live. — Disparou Lukas, em outra atuação horrível.

— Gente, está acontecendo algo? — Questionei.

— Não. Eles só estão felizes com a recuperação da Rosa. — Desconversou minha mãe, praticamente, me empurrando para fora de casa.

Subimos na varanda e a Rosa estava toda arrumada, uma princesa. Quase chorei quando a vi. Eram quase 20 dias sem abraçar a Rosa, sentir ela perto de mim. Me mantive firme para não deixá-la triste. Nosso contato era através da janela. Nós posicionamos de uma forma quase organizada.

— Rosa. Sentimos muito sua falta. — Disse Lukas, tentando não chorar.

— Rosinha. Desculpa. Por minha causa, você está assim. Por favor, me perdoa. — Implorou Rêh aos prantos, sendo amparada pela minha mãe.

— Estou bem, filha. Não se preocupa. — Pediu Rosa pegando no vidro da janela. — Vocês estão bem? Higor, você está tão magrinho.

— Rosa. — Falei chorando e tocando na mão dela, através do vidro.— Eu te amo tanto. Não sabe como eu fiquei. Por favor, melhora logo.

— Queremos cantar uma coisa para você. — Anunciou Lukas, dedilhando algumas notas no violão e começando a cantar.

****

Chove aqui e eu já não te vejo mais

Temporal fez a gente se afastar

Como vai você?

Fecho os olhos pra te ver

Enquanto o sol não vem

Espera o fim do temporal

Espera que isso vai passar

E devolver cada pedaço

Ao seu lugar

Espera ver o céu se abrir

Espera a chuva terminar

Que eu vou correndo

Bem depressa te abraçar

****

Essa música era um soco no estômago. A letra fala sobre pessoas que mesmo com saudade esperam para ver seus entes queridos outra vez. A gente sabe que no Brasil, a realidade é outra e, infelizmente, milhares de pessoas perderam a luta contra o Covid-19. A pior parte? Alguns foram enterrados em valas comuns.

Ver a Rosa, ali em pé, viva e se recuperando, me trouxe um pouco de esperança. Queria agradecer a Deus, aos médicos, a Nadine, que nos acompanhou de perto. Olhei para a Rêh, ela chorava nos braços da nossa mãe, um choro de desespero, remorso.

O Quintino acompanhou o André no violino. Aquele doce som ecoava pela fazenda, mas meu desejo era que todos pudessem receber essa mensagem de esperança e amor.

****

Se a chuva te assustar

Se o peito apertar

Me encontre nestes versos

Enquanto o sol não vem

E ao primeiro sinal

Do fim do temporal

Você pode me esperar

Que logo eu vou correndo te abraçar

****

A Rosa se afastou foi até a Nadine e trouxe um papel, um igual ao que eu recebi quando estava curado. Ela levantou e havia uma mensagem: "Venci o Covid-19". Minhas pernas ficaram bambas, esqueci até mesmo como respirar. Não tive outra reação, Doutora, desci a escada correndo, entrei em casa e subi desesperado para o meu quarto.

O tempo parou. O coração batia forte. A respiração ofegante. A porta estava a centímetros de distância, mas aquilo levou um tempo maior. Abri a porta e a Rosa me esperava com os braços abertos. Gritei, corri e abracei. Erámos dois sobreviventes de uma doença maldita que levou milhões de pessoas no mundo.

A Nadine se emocionou, olhei para ela e agradeci. Não tinha muito para se fazer, além de agradecer. Agradecer a oportunidade de ter toda minha família reunida outra vez. Quantos não tiveram essa chance? Abracei tão forte que a Rosa não conseguia respirar, me afastei e toquei em seu rosto.

— Oi? — Soltei, ainda chorando e ofegante.

— Oi, filho. Quanto tempo. Eu te amo!

— Te amo, Rosa. — Falei a abraçando novamente.

***

"Espera o fim do temporal

Espera que isso vai passar

E devolver cada pedaço

Ao seu lugar

Espera ver o céu se abrir

Espera a chuva terminar

Que eu vou correndo

Bem depressa te abraçar

Que eu vou correndo

Bem depressa te abraçar

Que eu vou correndo

Bem depressa te abraçar"

(Rosas de Saron)

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Comentários

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Felizmente ela melhorou. Agora é só o Higor se permitir amar e ser amado.

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