Coração Partido -- Parte 2

Um conto erótico de Beto Cowboy
Categoria: Heterossexual
Contém 5525 palavras
Data: 11/07/2020 14:29:00

continuando minha história...

Minha paixão, aquela bonequinha linda saiu com o carro da garagem e manobrou em frente a casa, parando mais adiante me esperando.

Me despedi do caseiro com um aperto de mãos não muito firme, por conta do curativo na destra e fui montar na caminhonete afim de seguir a pequena até a tal chácara.

Pisquei os faróis e dei um leve toque na buzina. A menina arrancou com o carro, mas desta vez saiu devagar, muito diferente à noite anterior.

Saimos do bairro residencial e rodamos pela cidade, que aquele horário estava vazia, por uns 20 minutos até sairmos em uma antiga estrada boiadeira .

Ela à frente, ia com cuidado dirigindo seu carro, pois a estrada éra meio acidentada e poeirenta. Pelo caminho, muitas fazendas, sítios, chácaras , e alguns caborés pousados nos morundus dos cupinzeiros, e esses ao reflexo dos faróis, alçavam vôo.

Devo ter seguido ela por uns 5 km, e assim que atravessamos uma ponte de madeira, poucos metros afrente avistei a entrada bonita da chácara. A menina estacionou o carro na frente a porteira, saltou com um molho de chaves indo abrir um pesado cadeado que unia a corrente.

Com um pouco de dificuldade ela conseguiu abrir o portão, enquanto eu acelerava, dava toques na buzina e piscava os faróis. A "mal criada" me mostrou o dedo do meio, caiu na risada e disse :

-- a pressa é tanta, porque não me ajudou?

-- ahh gatinha, to com a mão machucada, tem dó do seu peão aqui...

Ela entrou no carro tagarelando alguma coisa e rindo, e estacionou dentro do alpendre do casarão feito todo em tijolos à vista envernizados.

Entrei e fui estacionar a caminhonete em baixo de uma velha figueira que ficava a uns 20 metros da casa do lado direito do terreno.

A minha gatinha correu fechar a porteira e logo estava de volta toda saltitante indo abrir a casa.

No trajeto de onde estacionei até a casa pude reparar no bom gosto dos pais da boneca. Era tudo muito organizado e bem zelado . O casarão éra de quatro águas, pé direito alto, alpendre virado para o norte e oeste pra se aproveitar o sol da manhã na casa, e proporcionar um sombreado no período da tarde. Uma piscina cercada com alambrado e toda calçada em volta com pedras que formavam mosaicos. Pelo escuro ainda vi um campinho e a área onde ficava a churrasqueira colado ao alpendre.

A pequena acendeu todas as luzes de uma só vez, deixando tudo claro.

Era impressionante aquele lugar.

Perguntei sobre quem cuidava daquilo tudo, e ela disse que o caseiro ia duas vezes por semana com a esposa deixar tudo limpo e organizado.

Entramos na casa, e eu todo curioso, fiquei igual besta com a decoração em estilo cowntry.

Me levou a uma das suítes da casa e disse que ali seria nosso cantinho do amor naquele final de semana.

Tirei meu chapéu, as botas e me joguei na cama. Era um colchão gostoso, daqueles que dava vontade de ficar deitado por hora. Ainda mais para mim, que sempre dormi em qualquer lugar.

Ela em pé me olhando com aqueles olhos azuis, o rostinho lindo, só me deixava ainda mais enfeitiçado.

Ela sentou na ponta cama e foi dizendo:

-- olha, não sei o que irá acontecer desse fim de semana em diante, mas sinto que minha vida jamais será a mesma, meu cowboy.

Fui até ela, passei meus braços em volta daquele corpinho dando um abraço carinhoso e ficamos assim por um bom tempo.

Eu me lembro de pedir aos céus para o tempo congelar, parar o relógio, e passar o resto da vida naquele lugar abraçado à minha linda mocinha.

Em seguida trocamos aquele beijo que só quem amou verdadeiramente alguém saberá do que eu falo.

Um longo beijo quente , molhado, um querendo devorar o outro, com nossas línguas enroscadas.

Meu coração batia tão forte, que tive a impressão de poder ouvir suas batidas.

Minhas mãos percorriam as costas da minha pequena, e ela apertava e me arranhava como uma gata, mordendo e lambendo meu peito.

Ela se levantou e com carinho tirou minha camisa, soltou meu cinto, calça e zorba, me deixando nu em pêlo naquela cama macia.

De onde estava ela me admirava com aquela carinha de menina sapeca...

Fui me arrumando até me encostar na cabeceira, e com um gesto, arregalando meus olhos, chamei a pequena para se juntar a mim. Ela subiu na cama, só tirou a calcinha e vagarosamente acomodou-se em meu colo sem tirar o vestido.

Ficamos muito tempo naquela posição nos amando, entre longos beijos, orgasmos intensos e muitas trocas de carinhos, juramos nunca nos separarmos.

O tempo havia parado, e eu queria ficar ali para sempre.

Agarrados, suados, nos amando..

E assim entramos madrugada a dentro, manhã do domingo e só adormecemos depois das 8:00 hs.

Acordei por volta de 13:00 hs, levantei com cuidado para não despertar minha gatinha, e fui procurar alguma coisa para comer ma cozinha.

Era uma baita cozinha, e tive dificuldade para encontrar os utensílios para passar um café.

Demorou, mas consegui fazer um café bem gostoso, forte e adoçado na medida.

Enchi uma xícara e fui acordar minha bonequinha, que de tão cansada, estava entregue a um sono pesado que demorou muito para despertar.

Soprava a fumaça que saia da xícara na direção do seu narizinho, e dava beijinhos leves na sua testa enquanto a chamava.:

-- ei minha mocinha, acorda, bom "dia"... passei um café gostoso... vamos... acorda preguiçosa...

Ela abriu seus olhos e ficou me encarando com ternura e pude sentir um calor diferente em meu peito. Àquela altura, eu estava totalmente entregue aos meus sentimentos de amor em relação a ela.

Eu que queria curtir um final de semana de baile naquela cidade, encher a cara de cerveja e ir pra cama com quantas eu pudesse.

Confesso que senti um pouco de medo naquele momento, mas ainda assim, queria e precisava viver aquilo tudo ao lado dela.

Ela se ergueu na cama, acomodando suas costas na cabeceira e com um olho aberto e o outro fechado, tomou una goles de café, que segundo ela estava muito bem feito.

Perguntou as horas, e disse que passava das 13:00 hs, e que eu precisaria ir para a pousada acertar minha estadia.

Ela fe cara se criança manhosa, e pediu para eu não me demorar muito, pois ainda tinha sono, e me queria de volta em menos de uma hora. Prometi não demorar, e fui me vestir para ir buscar o resto das minhas tralhas.

Dei um beijo na pequena, pegueinas chavesda casa e fui o mais ligeiro possível para a cidade.

Não demorei muito para chegar na pousada, e assim que estacionei, o funcionário que me atendeu na sexta-feira estava na frente do local varrendo a calçada e logo foi falando:

-- eh peão, final de semana rendeu heim... aproveitou bem pelo jeito...kkkk.

Desci da caminhonete e fui buscar minhas tralhas e encerrar a conta. Logo o rapaz veio me fazer um recibo, e assim que paguei, deixei o troco pra ele, afinal de contas, me livrou de um problema grande ao esconder a caminhonete na garagem da pousada.

Me despedi, agradeci demais ele e prometi voltar em breve.

Montei na caminhonete e sai rasgando para voltar aos braços da minha pequena.

Meia hora depois, eu estava na porteira da chácara e vi a minha gatinha sentada em um balanço de área pendurado nas vigas do alpendre.

Dei um leve toque na buzina, e ela veio abrir o portão toda preguiçosa resmungando o porque da minha demora.

Estacionei embaixo da figueira e fui de encontro a minha pequena que correu e saltou em mim, ficando pendurada com seus braços no meu pescoço e suas pernas em minha cintura enquanto me beijava.

A levei para dentro e sentei no sofá da sala com ela agarrada em mim, grudada igual carrapato.

E ali fizemos planos para o futuro, falamos sobre nossas vidas, me contou que em breve iniciaria sua residência médica, e eu querendo me aquietar e seguir ao lado do meu patrão, o Véio.

Me prontifiquei a falar com seus pais sobre os meus sentimentos por ela, e que faria tudo nos conformes.

Ela ainda me alertou que não seria fácil a conversa com seu pai, mas que tinha certeza que eu não fugiria da raia.

E resolvemos começar a namorar, e assumir nossos sentimentos sem medo de nada nem ninguém.

O domingo passou voando, então resolvermos ir "dormir", afinal de contas, ela tinha quem voltar para a cidade onde estudava, e eu tinha uma vacada para embarcar.

A noite passou à jato, e quando deu 4:30 eu acordei e fui passar um café.

Acordei a pequena e falei que precisava ir andando cuidar da vida, e ela também.

Tomamos o café e nos arrumamos ligeiro, pois eu queria acompanha-la até sua casa.

Em meia hora estavamos na casa dela, e pude perceber um carrão estacionado na garagem, me pareceu uma mercedes.

Ela deixou o carro na rua mesmo, e veio até onde eu estava se despedir.

Trocamos um longo beijo apaixonado e juras de não nos afastarmos por muitos dias. Ela também me passou o telefone da casa onde morava com suas amigas de faculdade e disse que estaria de volta na próxima semana, e se quisesse, poderíamos ficar juntos la na chácara outra vez.

Muito a contra gosto nos separamos e ela foi entrando em sua casa, me deixando ali em pé, do lado da caminhonete, com os pneus arriados, apaixonado, sem chão.

Mas alegria de trecheiro dura só até o próximo posto fiscal, o caseiro deu um assobio e me chamou:

-- oh peão, espera aí um pouco que preciso falar com você!

-- diga lá me amigo, o que manda pra nóis...

-- olha, te achei gente boa, e por isso vou te alertar. O patrão ja soube da confusão aqui em casa, e ta uma arara com a menina, acho melhor você não parecer por aqui tão cedo viu, ele tá uma onça com você por ter quebrado a cara do "tal" folgado que é filho de um amigo dele...

E o caseiro gente boa foi me contando tudo quanto havia acontecido desde a chegada dos pais da minha pequena.

Até relatou que o pai cogitou mandar ela embora do país caso ela tivesse de caso comigo, e não admitiria a filha com um "desqualificado" igual eu, um peãozinho sem ter onde cair morto.

Aquilo bateu fundo no meu peito, senti um embrulho no estômago e um pressentimento ruim, pois sabia que não seria parada fácil enfrentar os granfinos.

Agradeci os alertas e fui pensando naquilo até chegar no centro da cidade, onde parei em uma padaria para comer um lanche e ligar pro meu patrão.

Lembro de ter pedido um americano e uma coca gelada. Me lembro de beber a coca, mas no lanche nem toquei... a fome havia sumido e só pensava nas palavras do caseiro que martelavam em minha mente.

Paguei tudo e sai, logo mais adiante havia um orelhão na calçada, onde liguei pro Véio na fazenda:

-- alô... ouuu... a cobrá só pode de cê um cabocrim sem qualidade... ahahha... fala Beto, onde ocê tá caraiu ?

-- bom dia Véio, o senhor está bem? como foi o final de semana, tudo tranquilo aí na fazenda?

-- rapaizim rapaizim... que aconteceu, durmiu de butina? Fundiu o motor? Ta sem dinheiro? Saiu corrido da zona, levou uma facada? Ta preso? Que foi meu fio?????

Meu velho patrão tinha muitos defeitos e qualidades, mas uma de suas principais características como ser humano, éra reconhecer as pessoas pelo tom da voz, e ele me conhecia como ninguém. Sabia quando eu estava bravo, feliz, cansado, de saco cheio...

-- nada não Véio, ta tudo certim aqui comigo, o fim de semana foi bom...

-- ahhh rapaizim, cê que engana o Véio aqui...que aconteceu? Conta porque senão eu vô sabe pela boca dos otro e... hãmm... bao... ce que sabe... mas que ucê não ta bao, não tá e eu seidiz aí Véio, quando os caminhão vão chegar aqui?o senhor ja conseguiu o comboio?

-- ja sim... vao chega lá na fazenda umas 9 horas mais ou menos... ocê acompanha o embarque... cuidado com os bezerro... e fica esperano as guia e a nota fiscal... o guarda livro vai la no banco pra mim manda a ordem de pagamento...

-- fica combinado assim então... logo mais to indo embora e ai na fazenda nois proseia Véio...

--acho bom mêmu Beto... sabe que não gosto de ninguém dos meus chegado de oreia caída igual burro véio de olaria... kkkkkkkk.

É gente, o meu velho patrão apesar de grosso igual uma argola de laço, tinha uma grande sensibilidade para as coisas do ser humano.

E fui pra fazenda onde havia fechado o negócio, e na chegada o gerente e alguns peões já estavam com a tropa arriada, e prontos para buscar a vacada.

Após cumprimentar a todos, perguntei ao gerente se tinha um cavalo sobrando, pois eu precisava desanuviar as idéias... e queria ajudar a juntar o gado.

Ele respondeu que sim, que eu ficasse a vontade... e me disponibilizou sua própria montaria.

Lembro dele ter me perguntado do horário em que os caminhões viriam buscar as vacas...

Também reparou que eu estava meio pra baixo e perguntou:

-- oh cowboy, ta tudo bem com você companheiro, parece que o baile não fou bao pro ce, e esse curativo na mão, parece que brigou?

Eu sempre fui muito alegre e brincalhão por onde passei, e quando estava preocupado ou triste, as pessoas reparavam logo de cara.

Respondi que so estava cansado por ter dormido pouco, pois o baile havia rendido... e como rendeu!

Acendi um cigarro e montei no cavalo, chamei o resto da peãozada e partimos pra invernada juntar a gadaria.

Coisa de uma hora depois estávamos de volta com as 200 vacas e seus bezerros.

Fechamos todos no curral e coisa de 40 minutos depois, os caminhões boiadeiros começaram a encostar em volta do embarcador.

Serviço de hora e meia, todo gado embarcado sem acidente nenhum, sai com o gerente para providenciar a documentação pra viagem.

Chegamos no local, tudo agilizado, liguei pro Véio e disse que até umas 2 da tarde estaríamos chegando com a vacada.

No caminho de volta a fazenda, perguntei pro gerente da fazenda se conhecia um certo "doutor" fulano de tal e tal...

Ele coçou o queixo e pediu um cigarro antes de falar.:

-- oh cowboy, por um acauso dos acauso ocê não tem nada havê com o bate fundo (briga) que saiu na casona dele esse final de semana não, ou tem?????

-- é... mais ou menos...porquê companheiro?

-- porque cidade pequena é assim né, as notícia espaia igual fogo na gravanha em mes de julho...e nois tem um peão que a irmã dele trabaia de faxinera na Santa Casa e conto que um rapaizim foi lá na sexta-feira faze uns curativo, e tinha levado uma taca dum peão na casa do tal doutor...

e oia... mió ucê fica veiaco, pois o homi tem costa quente na vila e é poderoso viu.

.. cê fica longe daquele povo que aquilo lá não é pra gente do nosso tipo não...

Me calei é so fique matutando preocupado com as palavras daquele homem e as do caseiro logo mais cedo em frente a casa da menina.

Eu queria ir atrás da pequena e fugir com ela para algum lugar bem longe, pensei mil coisas, mas nada me consolava. Eu não gostava de assunto atravessado, e nem éra de me acovardar diante das situações, mas aquilo seria um páreo duro, e eu em breve descobriria o peso de um nome e das "amizades" importantes que fazemos ao longo da vida.

Aquele dia não passou, se arrastou igual uma lesma num monte de sal, e não havia lugar bom no mundo pra mim, pois so pensava na pequena, e nos momentos que passamos juntos na pousada e na chácara.

Doía meu coração, o ar faltava, sentia náusea, não tive apetite, nada me consolava, eu so queria encontrar a pequena e que o mundo todo se acabasse.

Chegamos na fazenda com a vacada um pouco mais tarde, e o Véio tava la na beira do curral esperando impaciente, andando de um lado a outro, fumando e cuspindo, com cara de poucos amigos.

Não brincou comigo como de costume, e apenas olhou por cima a vacada ainda embarcada e me disse :

-- desembarca logo esses bicho e vai la em casa que nóis tem que prosea umas coisa...e prepara a oreia que a prosa vai se cumprida peão!

O Véio quando pegava falar e taba bravo, a prosa éra pra mais de duas horas contadas no relógio.

Desembarcada a vacada, juntamos com a bezerrada e deixamos pousar na remanga pra não haver risco de arribada (fuga).

Fui pra sede da fazenda e o Véio tava na cadeira de balanço, pitando o cachimbão e com os olhos arregalados so me medindo.

Tirei o chapéu, bati a poeira e fui achegando sem cerimônia, afinal eu éra de casa, e o Véio sem rodeio foi falando:

-- ehh Beto, Beto, Beto, seu Beto... oia... dessa veiz ucê conseguiu mêmu... foi arranja increnca e cria causo na casa do "douto fulano"... e ainda saiu cum a fia dele, e bateu nos armofadinha... de cinta... quebro os dente dum otro e xingo todo mundo... fartô ucê puxa o "revórvi" e da uns tiro na casa do homi tamém... farto querê cume até os veio da casa... quem se pensa que é Beto... cê ta doido... bebeu além da conta... não tinha baile ou zona na cidade... não tinha muié... tava com os dinhero poco...que caraiu cê foi apronta na porra daquela cidade seu Beto... ehhhh rapaizim... cê é foda mêmu...

E falou mais um monte de coisa que nem me lembro mais... sei que me catracou mesmo!

Depois de ouvir o Véio despejar toda sua insatisfação com minhas atitudes, eu respirei fundo, acendi um cigarro e contei tudo nos mínimos detalhes pro Véio. Desde a hora que as meninas me pararam no farol e a doida me agarrou, da muiezada se esfregando em mim na piscina, até os momentos com a pequena... não omiti nada pra ele, pois além de meu patrão, o Véio éra meu amigo e confidente.

Ele com toda malícia e experiência de vida, coçou a cara, pitou mais um pouco, bebeu umas três pingas e falou com cara de debochado:

-- ahaha então o meu cowboy ta apaxonaaaado na menina... É isso então... caiu no laço né veiaco... eu comentava com a muié que uma hora cê ia aquetá o rabo e casar... mas tem um pequeno grande "pobrema" meu jovem... ali é vesperu... e ucê não da conta não... pode fica brabo e ronca igual uma onça, mas ali cê num tira farinha não menino.

Eu fiquei curioso em saber como é que o véio ficou sabendo de tudo... minha cabeça tava zonza e eu já nem atinava mais com nada, e então me veio a resposta :

-- sabe, hoje cedo, logo depois que você ligo aqui, eu recebi otra ligação... e éra do delegado amigo meu... sabe... me contando que um certo peão, com uma certa caminhonete preta placa tal de tal que ta no nome da minha agropecuária... sabe seu Beto... então, ele ficou sabendo que você trabaia pra mim e resorveu fala comigo antes de prende ucê e joga as chave fora sabe... pois um tal de cowboy quebro us dente do fio dum otro "dotô" angorá do rabo grosso e que a coisa não ia fica daquele jeito... e que éra pra eu da uma solução no causo... e o que ucê diz pro Véio aqui seu Beto??????????

E me encarou muito sério com os olhos arregalados.

Eu sem saber o que dizer, simplesmente dei de ombro e mandei a coisa corre froxa, que se tivesse que toma no cu eu ia toma sozinho, que não tinha medo de nada nem ninguém, pois o patrão me conhecia de outros tempos e sabia que eu não éra de me esconder, estava mesmo apaixonado na menina e que enfrentava o mundo por conta dela... e como todo jovem apaixonado falei um monte de tontice!

Ahh quando se é jovem agente fala e faz cada coisa...

O Véio então me interrompeu e disse que ia tentar me ajudar no caso da menina, pois se eu estava mesmo amando a pequena, ele apoiava. Também me tranquilizou quanto ao causo da briga, pois explicou ao delegado que eu éra tranquilo, e se bati em alguém, algum motivo me deram, e que se houvesse algum prejuízo ele arcaria com as despesas. Contou que o amigo dele retornou mais tarde e disse que tava tudo certo com o outro doutor, pois o filho dele, o fortinho folgado que eu moi os dente na pancada, vivia aprontando e que a surra talvez ajudasse ele a virar gente.

Fiquei mais aliviado em saber que o Véio tava do meu lado, e afinal de contas, meu patrão não éra doutor em nada, mas tinha as costas quentes pra caralho na região, tão ou mais que os doutores...sei que o povo o respeitava muito, pois em outros tempos, aquele meu patrão véio tirou o cu de muitos deles da reta, financeiramente falando, com seus bois e seus contatos nas principais capitais !!!!!

Eu estando um pouco mais calmo, bebi uma pinga com o Véio e ele gaiato que so me perguntou em tom mais descontraído sobre os fatos:

-- ou, mais ucê é um viado mêmu, bem que podia ter vindo busca eu aqui né... mais conta...a menina é bonita mêmu pra te dexa assim arriado... e as amiga dela... tudo safada mêmu... eita que nois ia fazê um forfé lá junto kkkkk...

Sei que a prosa foi até tarde da noite, nem jantamos, e enquanto ouvia o Véio tagarelar sem parar, meus pensamentos estavam looooonge... e so tinha espaço pra minha pequena!

Na terça-feira as 3 da matina eu tava em pé, me arrumei e fui pegar o Véio pra voltar a fazenda do Mato Grosso ver como estava o serviço nas invernadas.

Encostei na sede e o Véio ja tava todo serelepe, ancioso pra cair na estrada comigo.

Me chamou pra um café e antes de entrar pedi permissão pra usar o telefone, pois precisava tirá uma angústia do meu peito.

O véio sorriu e disse:

- eta que o homi ta xonaaado mêmu gente... vai lá no escritório e mata quem ta matanu ucê peão.

Eu sem noção nenhuma, liguei pra casa da minha amada as 4 e pouco da manhã.

Tocou e tocou o telefone até que uma voz rouca e sonolenta atendeu a ligação. :

-- alô... ai... meu Deus... quem é uma hora dessas...

-- ohh minha bonequinha, sou eu, o teu cowboy... tava ficando doente sem saber de você e ouvir sua voz meu amorzinho...

-- o meu amor, eu tava aflita também, que saudade, quanta coisa aconteceu desde ontem... meu pai ta uma fera comigo... meus "amigos" não falaram comigo... to com saudade, quero ver você... onde você está? Quero te ver...

E nisso a pequena começou a chorar no telefone.

Aquilo me matou e fiquei com um nó na garganta, e com vontade de gritar de raiva.

-- calma meu anjo, fica bem, eu to indo pra fazenda no Mato Grosso levar meu patrão, e de lá agente combina alguma coisa, ou eu você vem, ou eu vou te buscar, não sei, mas uma coisa é certa, quero ficar com você pra sempre...

-- então faz assim, hoje não vou ir pra faculdade, não estou bem, quero ficar no meu canto, e quando puder me liga por favor, o mais rápido possível, pois vou ficar aqui do lado do telefone te esperando... meu cowboy... não demora...te amo...se cuida...

E assim encerramos aquela prosa, e do lado estava o Véio so assuntando e matutando, sem dizer nada...

Tomamos um café reforçado, minha fome voltou, eu tava amando e sendo amado, e aquilo me dava forças pra lutar e seguir adiante. Confesso que me assustava um pouco, mas eu éra onça braba e enfrentava qualquer coisa.

Passava um pouco das 8 da manhã quando chegamos na fazenda do Véio lá no Mato Grosso do Sul, e de longe se avistava os pastos todos arados e gradeados, as cercas com mouroes novos e arames bem esticados, tudo do jeito que o Véio apreciava. Ficamos um tempo parados no mata burro da entrada admirando a paisagem de dentro da caminhonete. Entao me lembro bem das palavras do meu patrão velho :

-- de quanta terra vou precisa pra cê enterrado Beto? me responda isso...

-- ahh patrão, um buraco de 2x2 e 7 palmo de fundura...

-- pois é Beto, lutei com a vida, e apesar de tudo que tenho, ainda me admiro quando olho pras minhas terras...

O Véio tinha uns momentos filosóficos, muito, mas muuuuito raramente, mas tinha !!! Kkkkkkk

Depois de sair do "transe" da admiração, ainda comentei em tom de galhofa com o Véio que a cova da "catatumba" dele ia precisar de uns metros a mais por conta da língua comprida que ele tinha ... e caímos na risada...

Ele pra não deixar por menos, se fazia de ofendido e mostrava o cabo do revólver arregalando os olhos... e caía na risada klkkkkkk.

Tenho saudade daquele tempo bom!

Conferimos todo o serviço, juntamos os contratados pra empreita e realizamos os pagamentos, em seguida fomos almoçar.

Na sede , assim que parei a caminhonete, o menino que eu havia contratado veio correndo e me coxixando ao lado do ouvido deu um recado da tal mocinha que tinha ido arrumar a casa na semana passada, dizendo estar me esperando logo mais a noite no quartinho dela...

Mal sabia a moreninha que meu coração e todo resto já tinha dona, e eu nem conseguia pensar em mais nenhuma outra!

Agradeci o moleque, dei uns trocos pra ele e pedi pra ir caçar o que fazer, pois o Véio não gostava de gente à toa sem serviço rodeando a sede da fazenda.

Durante a refeição o Véio perguntou o que eu tava pensando em fazer em relação a menina, pois sabia que eu não ia desistir fácil dela.

Respondi que assim que agente voltasse pra São Paulo eu ia tomar uma decisão.

Ele me pediu calma e que não fizesse nenhuma cagada, pra depois não me arrepender...

Ja passava das 14 hs e o Véio foi tirar uma madorna depois da bóia, e eu fui na sala do rádio ligar pra pequena, que devia estar agoniada esperando minha ligação.

Dito e feito, o telefone nem tocou a segunda vez quando ouvi do outro lado :

-- Beto, é você?

-- sim meu amorzinho, sou eu... to aqui meu bem... o que foi?

-- ahhh... chorei muito né... poxa...saudade de você, não sei mais o que quero, nem sei mais de nada... so penso em você, e quem está ficando doente sou eu...

-- se acalma que logo estaremos juntos, te prometo, e vamos ser muito felizes juntos... quero você pra sempre do meu lado...

Minha amada sorriu e disse que a hora que eu pedisse, ela estaria indo ao meu encontro.

Combinamos de nos falar mais tarde ou caso não desse, no outro dia eu ligaria cedinho. Nos despedimos com juras e mais juras de amor eterno e ali eu tive a certeza, queria me casar com ela, mesmo que pra isso, tivesse que fugir com a pequena.

O Véio acordou e quis dar uma volta na fazenda e ir até a beira do rio. Chegando lá ele me falou que compreendia o meu sentimento pela pequena, mas que pela sua experiência, sabia que não seria fácil a família dela aceitar aquela situação.

Também se propôs a ser nosso padrinho, e disse que caso eu juntasse com a pequena, poderia levar ela para aquela fazenda, e viver ali tranquilo, pois gostava de mim e daria total apoio ao nosso amor.

Aquilo me deu novo ânimo, pois se o Véio tava no meio, a chance de dar certo éra grande, e nessa confiança toda firmei minha fé e até promessa eu fiz na época pros Santos me ajudarem.

Na boca da noite o Véio resolveu voltar pra São Paulo, e com cara de safado me disse que logo cedo ligaria para o corretor do gado que compramos pra perguntar se havia mais algum lote bom à venda.

Eu tava dando pinotes de alegria, pois assim que a pequena soubesse que eu estaria indo pra lá, com certeza iria ao meu encontro, afinal, fazia faculdade e morava a duas horas de carro da sua cidade.

Ameacei dar um beijo no véio, e fui repelido na mira do 38tão kkkkkk

Saímos ligeiro da fazenda do Mato Grosso do Sul e por volta de 21 hs estávamos em casa. O Véio mandou eu ligar pra menina e avisar que no outro dia estaria indo pra Dracena e ficaria la uns dias comprando gado à mando dele.

Liguei pra ela e contei a novidade, a menina até chorou de alegria, e disse que por ela, sairia naquela hora mesmo, e que estava anciosa pra me encontrar.

Falamos uma meia hora e nesse papo todo, ainda de "rabo de oreia" escutei o Véio resmungar que eu ia ter que trabalhar muito pra pagar a conta do telefone kkkkkk.

Nem jantar eu quis, fui pra minha casa e fiquei acordado até a uma da manhã pensando na pequena e fazendo planos para o futuro com ela...

Dormi um pouco e as 4 hs já estava com as malas prontas e nervoso igual jacaré pego na tarrafa, fumando igual uma caipora, doidinho...

Encostei na sede e vi as traia do Véio na varanda e pensei, o "marvado" quer ir junto pra garantir a "empreitada "... aquele éra o meu patrão!

Entrei na casa e logo fui bicar um café, comer uns pão de queijo, bolo...

O Véio chegou todo arrumado, chapéu de aba larga preto, guaiaca na cintura, camisa branca bem engomada, bota de cano longo, parecia um "bandeirante" português trajado daquele jeito, eu so via meu velho patrão daquela forma quando ia tratar algum assunto sério.:

-- bom dia seu Beto... tudo bao, ta com a cara amassada, parece que não dormiu nada rapaz... nunca vi ocê tão nervoso pra í oiá um gado moço... kkkkkkkk , vamo logo que quero chega cedo naquela cidade e ve se agente fica num lugar miozim...se depende duce, nois dormi na rede kkkkkk.

E saimos da fazenda indo pra Dracena, a estrada estava vazia aquele horário, e agente ia com calma, ouvindo uns modão, fumando, mas sem trocar uma palavra sequer.

O Véio so me olhava, e hoje, somente hoje eu entendo aquele olhar do meu velho patrão e amigo. Hoje sei que aquele olhar éra de pena, pois lá no seu íntimo, o Véio sabia que aquele meu amor seria impossível.

Quando marcava 7/7:15 hs mais ou menos chegamos na cidade, meu coração pinoteava no peito, eu deixei a caminhonete morrer umas duas vezes saindo nos sinaleiros, tava ancioso demais.

Segui até um hotel da cidade, o Véio pegou dois quartos e ja estando instalado, ele fez uma ligação para um corretor de gado que combinou de nos encontrar na Praça onde ficavam os negociantes. Nesse meio tempo até sairmos ao encontro do corretor, pediu para eu ligar para a menina e marcar um encontro, pois ele queria conhecer o motivo da minha angústia.

Mais que depressa avisei que ja estava na cidade e que queria me encontrar com ela. Ela disse que até o final da tarde estaria lá, e que era para eu encontra- la na chácara. Que éra pra eu seguir pra lá depois das 17hs que ja estaria a minha espera.

Tudo combinado com minha pequena , saímos do hotel e fomos encontrar o corretor, que nos levou a uma fazenda olhar um lote de 350 novilhas. Gado bom, mesmo, o Véio gostou, acertou o preço e pediu prazo de uns dias para buscar as fêmeas, pois estava resolvendo uns assuntos por ali e que compraria mais algumas cabeças naquela semana.

Marcava quase 13hs quando voltamos a cidade e seguimos para um restaurante.

Quando entramos no local, o Véio cumprimentando uns conhecidos, falando com todos e por fim juntamos as mesas com outros dois velhos.

Eram uns boiadeiros amigos do meu patrão, tudo gente graúda daquela região. E a prosa rolou solta, enquanto vinha chegando cerveja, carne, e tudo do bom e do melhor para nós, um dos amigos do Véio vira pra mim e diz:

-- por acaso num é ucê o peão que se engraço com a fia do "dotô fulano" não, né?!?!

Eu fiquei sem graça na hora e olhei pro Véio, que ,mais ligeiro que um lagarto, cortou a prosa e gritou pro garçom trazer outra cerveja...

Eu com os meus botões pensava, matutava e concluía, aquele meu caso tava na boca povo!!!

O amigo do Véio entendeu e se calou, mas continuava me medindo de rabo de olho, creio que pensado o quanto eu éra corajoso ou louco.

Continua...

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Comentários

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Pois é Jota, e eu nem era tão "desabonado" assim... O causo era nível social, status, casta, nichos... E rapaz, a coisa foi dolorida moço... Bem dolorida! Só quem passou por isso sabe!! Eu já era bem vivido, estava quase na casa do 30 anos, esprava passar por qualquer coisa, não por aquilo!!! Estudo tenho pouco, só curiosidade mesmo... e contar causo, já nasci com isso!!! Mais uma vez agradeço sua bondade e gentileza!!!

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Custa me crêr que você não tem mesmo estudo Cowboy. Você conta o causo muito bem, descrevendo a situação e criando uma imagem bem definida na cabeça de quem lê. Acabei de ler um conto muito longo e nem notei o tamanho. Você está de parabéns pela escrita. E a história, você já adiantou pelo título que não acaba bem, mas percebe se que você era uma rapagão apaixonado e sonhador, como eu mesmo era quando viví minha aventura com a Helga. Não tem como gente pobre, como eu ou você,se sair bem no meio da granfinada, ainda mais tendo a mente turva pela paixão mas

sigo torcendo por você.

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Tentando ler rapidão para chegar ao final dessa sua história.

Realmente é de apertar o coração.

Sem ar nesse momento...

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Ai, Cowboy.... estou com o coração apertado. Tá tarde prá caramba, mas não vou conseguir dormir sem ler o final.....

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Ai que bom que saiu,esperei tanto e agora continua a espera pelo restante dessa história de amor complicada mais linda de se guardar,amando e aguardando,com certeza 10 e uma constelação de estrelas pra vc meu querido

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