Casa indefesa

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 14974 palavras
Data: 14/06/2020 09:42:42

Casa Indefesa

A vida no povoado de Extrema no município de Afrânio em Pernambuco nunca foi fácil, o que dirá dos sítios paupérrimos da zona rural do povoado. A proximidade do açude de Extrema, não era garantia de que aquela gente pudesse contar com o dadivoso líquido. É em meio ao relevo suave e ondulado, praticamente todo coberto pela floresta hiperxerófila da caatinga que se localiza o sítio herdado por meu pai, cerca de meia légua a noroeste do povoado e, outro tanto do açude. Apesar de extenso, suas terras eram praticamente improdutivas; nas baixas vertentes do relevo o solo mal drenado com problemas de salinidade tem média fertilidade e, nos topos e altas vertentes solos rasos e pedregosos também apresentam fertilidade reduzida. Os roçados de macaxeira, feijão e milho se distribuíam a certa distância do casebre de quatro cômodos e chão batido, enquanto um punhado de galinhas magras e algumas cabras e bodes eram criados em cercados de paus tortuosos amealhados na caatinga, fincados no chão seco e amarrados precariamente com arame farpado. Sob um telhado precário se abrigavam do sol e da chuva, Furioso o jumento e Dindinha a jumenta valiosos ajudantes na lida do sítio. Da mesma forma que a pequena horta ao lado da casa, onde pés de jerimum espalhavam sua ramagem entre os pés de coentro e cebolinha que conseguiam sobreviver à custa das bombonas d’água que precisavam ser buscadas diariamente no açude.

Eu era o sexto filho dos oito que vingaram dos doze partos e catorze gestações da minha mãe, uma mulher de olhar inexpressivo tal como sua vontade. Ela fora entregue, aos quinze anos, ao primeiro aventureiro que bateu à porta do meu avô, como forma de diminuir o número de bocas dentro de casa, para tornar-se escrava resignada de um homem de pouco caráter, devoto aleivoso de padim pade ciço e machista ao extremo em sua ignorância celerada. Os filhos foram criados sob o açoite autoritário desse caráter sórdido. A seus olhos, as três primeiras filhas, Maria da Graça, Maria Aparecida e Maria de Fátima valiam o mesmo tostão furado que a mãe, ou seja, barregãs com quem se podia fornicar para alegrar o espírito e abonançar os culhões. À medida que eram paridas, ele se embebedava e amaldiçoava sua sorte. Quando começaram a vir os machos, Juvenal, Joviano, José, Jefferson e Januário, bendisse os novos ares de sua ventura, contando que a cada um deles parido, sua velhice estaria amparada. Desolou-se com as perdas prematuras de Jorge e Josué, mas comemorou na solidão de seu íntimo mesquinho as de Maria de Lurdes e Maria das Dores. Assim, desde cedo, habituei-me aos berros ensandecidos ao me chamar para encarar o trabalho no sítio, sempre completando meu nome com uma torrente de adjetivos pejorativos. Mesmo com o avançar da idade, nenhum de nós ousava questionar sua posição, seus desmandos, sua crueldade e sua injustiça, pois naquele rincão perdido e esquecido por Deus, era assim que as coisas funcionavam. Nos confins daquele sertão, homens eram endeusados como cabras-machos onipotentes que podiam tudo, o certo e o errado era ditado tão somente por suas vontades.

A contragosto meu pai permitiu que frequentássemos a escola, um grupo escolar precário que distava três quilômetros do sítio por estradas poeirentas e que, sob um sol escaldante parecia estar situada do outro lado do planeta. Essa permissão só veio depois que funcionários da prefeitura de Afrânio foram de sítio em sítio ameaçar os pais que preferiam ver seus filhos no cabo de uma enxada ajudando a colocar comida na mesa. Além é claro, de terem mencionado que as crianças podiam contar com uma merenda na escola e, uma parca ajuda financeira a título de ajuda de custo, o que no nosso caso significou uns litros a mais de cachaça para espairecer a difícil vida do meu pai.

Ao contrário dos meus irmãos mais velhos, uma vez que as minhas irmãs foram descartadas desse privilégio, eu percebi que aquele ambiente escolar representava a abertura de uma janela para o mundo, enquanto eles se queixavam da caminhada extenuante, da dificuldade em assimilar aquelas inutilidades que a professora despejava sobre nós e, do fato de se verem presos àquelas cadeiras quando podiam estar correndo atrás de calangos, tatus e mocós, pescando lambaris no açude ou armando arapucas para caçar bacuraus, arribaçãs e lambus.

Pelo lado materno, há gerações que já se haviam perdido no tempo, contava-se de um antepassado que não se sabia se era alemão, holandês, francês ou qualquer uma dessas etnias, o fato é, que seus genes se perpetuaram através dos anos e, de quando em quando, seus descendentes tinham filhos de pele muito clara, cabelos lisos cor de caramelo e olhos claros. Minha mãe os transmitiu à Maria da Graça e a mim, por isso, destoávamos dos demais, mais morenos, olhos e cabelos negros. Eu sempre encarei essa herança como uma maldição, pois nunca nos trouxe nada de positivo. Aliado a isso, tanto eu quanto a Maria da Graça, éramos mais longilíneos o que nos distinguia daquela população eminentemente brevilínea e troncuda.

Longos períodos de estiagem minguavam o que havia para comer. Lembro-me particularmente de uma estiagem que já durava três anos. Ela reduziu o açude de Extrema a pequenas poças entre o lodaçal, os rios que a abastecem se transformaram em trilhas de cascalho. Os vizinhos que tinham algumas reses as viram sucumbir quando até a palma escasseou. Minha mãe servia um café da manhã composto de um mingau de fubá e rapadura e, no almoço um feijão ralo, estocado nos anos de abastança e, engrossado com farinha de mandioca que, só de vez em quando, tinha algumas tiras de carne seca boiando na superfície. Embora pouco para dez bocas, era meu pai, Francisco Raimundo, quem não se avexava de colocar em seu prato duas ou três delas, mandando minha mãe à merda quando ela o censurava por não partilhar igualmente aquilo que para os filhos era tido como a mais fina iguaria.

- Eles são novos! Vão ter muito tempo para comer carne. Quem precisa de sustância sou eu, ou nem isso terão para comer. – respondia, sob o olhar submisso e silencioso de todos nós.

Mesmo em tempos de menor agrura, quando uma galinha do terreiro ia parar na panela, minha mãe, ao destrinchá-la, já separava um pedaço generoso de coxa e sobrecoxa que tinha destino certo, o prato do meu pai. Certa feita, o Joviano distraidamente espetou o pedaço sagrado e o colocou em seu prato. Assim que meu pai se sentou à mesa, reparou no sacrilégio. Seguiu calmamente até o baú onde ficavam os arreios de couro para os jumentos e, arrancando o Joviano pelo braço da mesa, assentou-lhe as tiras de couro nas costas, pernas e bunda até o suor lhe escorrer pela testa e o Joviano mal poder caminhar até o quarto. Perplexos e com o olhar petrificado, ficamos num silêncio sepulcral até o término da refeição indigesta. Minha mãe baixou o olhar e continuou a comer como se a cena que acabara de presenciar fosse algum relato remoto que não lhe dissesse respeito. Foi sobre a iniquidade dessa educação que crescemos, sempre cabisbaixos e assustados com a ira que podia explodir sobre nós se nos atrevêssemos a ultrapassar a linha imaginária que ditava as regras da casa.

O Juvenal e o Joviano mesmo assim, eram os mais atirados, os mais criadores de confusão e, embora não desafiassem meu pai abertamente, faziam de tudo para burlar suas ordens. Eu apanhei relativamente pouco do meu pai, não mais do que meia dúzia de vezes as correias de couro dos arreios desceram sobre meu lombo. Ao passo que o Jefferson e Januário, meus irmãos menores, eram os sacos de pancada preferidos do destempero do meu pai. Minha mãe já era mais afeita a impingir castigos às minhas irmãs, descendo a colher de pau, com a qual mexia a comida nas panelas sobre o fogão a lenha, sobre as coitadas sem se importar onde as atingia. Também fui vítima dessa colher de pau numa ocasião em que, por medo de ir ao entardecer até o açude buscar água, pois sabia que a volta seria feita na escuridão ou, apenas sob o luar se este desse o ar da graça, havia me recusado a ir, expondo uma infinidade de argumentos para justificar minha atitude. Por uma questão de dois centímetros ela não me cegou, pois a colher de pau atingiu o canto do meu olho direito abrindo um talho que sangrou até minha irmã me acudir.

Eu fui me conscientizando de que o inferno ficava ali mesmo, naquela casa, quando cheguei à adolescência, e quando os acontecimentos já não passavam mais despercebidos do olhar infantil como antes. Eu nunca consegui entender a fisionomia constantemente tristonha da Maria Aparecida. Ela era a mais formosa das três irmãs, com cabelos que desciam pouco abaixo dos ombros sempre soltos e esvoaçando, olhos vivos apesar de tristes, um corpo bem estruturado e seios que nunca viram um sutiã se remexendo abaixo da blusa, era ela quem mais atraía os olhares dos homens quando íamos ao povoado ou até Afrânio. Até que um dia, acidentalmente, descobri a razão daqueles olhos sempre melancólicos. Era o meio da manhã de um dia ensolarado, árido e quente, minha mãe me mandara levar uma moringa d’água fresca para o meu pai no roçado de macaxeira, o mais distante da casa, num baixio que mantinha o solo úmido por mais tempo na estiagem.

- Aproveita e veja se encontra a Maria Aparecida vadiando por aí, diga que estou precisando dela. Não sei onde aquela cadela se enfia toda vez que preciso dela! Vá num pé e volte noutro, está me entendendo moleque, tem muita folha para ser varrida no quintal. Não me faça corpo mole! – esbravejou, quando parti. Depois de alguns passos, lembrei-me de tê-la visto seguindo na direção do roçado de macaxeira, para buscar umas raízes, cuja tarefa havia sido deixada a cargo da Maria de Fátima.

Os pés de mandioca já estavam altos, encobrindo quem estivesse fazendo a capina entre as leiras, por isso, demorei a encontrar meu pai. Guiei-me pelo mato já capinado e fui lentamente avançando para dentro da plantação. De repente, comecei a ouvir gemidos e o farfalhar das folhas dos pés de mandioca que pareciam estar sendo derrubados. Vez ou outra, apareciam caititus nos lugares mais ermos do sítio e eu tinha um verdadeiro pavor deles, depois que vi o cachorro de um vizinho sendo estraçalhado pelas presas de um bando enfurecido que o atacou. Sem saber se corria de volta ou se avançava, fui me esconder entre a plantação. Da nova posição, duas leiras adiante, vi meu pai deitado sobre a Maria Aparecida, zurrando feito o nosso jumento quando a jumenta estava no cio. Levei uns minutos para entender o que estava acontecendo. A Maria Aparecida estava com o rosto virado de lado, para o lado onde eu estava, mas não me viu. Encaixado entre suas coxas, meu pai a fodia sem dó nem piedade, movendo sua pelve lascivamente enquanto ela, chorosa, soltava gemidos. Fiquei sem saber o que fazer, interromper o coito despertaria a fúria incontrolada do meu pai. Acudir minha irmã sem a menor condição física de enfrentar meu pai podia custar nossas vidas. Afastei-me por entre algumas leiras e comecei a chamar pelo pai, como se estivesse chegando naquele momento.

- Ó pai! Ó pai! Onde o senhor está, eu trouxe a moringa d’água! – gritei. Passaram-se pelo menos cinco minutos antes de ele responder. Quando cheguei junto dele, vi de soslaio a Maria Aparecida desaparecendo entre os arbustos. O velho ainda arfava quando lhe entreguei a água.

- Bem na hora! Preciso me acabar debaixo desse sol para por comida na mesa para esse bando de vagabundos que vocês são. – exclamou ele, tragando em grandes goles a água fresca.

Ao chegar em casa, procurei pela Maria Aparecida, ela se limpava entre as coxas com um pano úmido no puxado atrás da casa junto ao tanque.

- Você está bem? – perguntei.

- Claro! O que você quer aqui moleque? Vá cuidar da sua vida, peste! – grasnou ela.

Quando ela se juntou à Maria da Graça e à Maria de Fátima nos afazeres da casa, percebi como as irmãs a encararam. Naquela troca de olhares mudos revelava-se muito mais do que qualquer palavra e, eu soube então que todas elas já tinham sido seviciadas pelo cabra macho da casa. Engoliam em silêncio a dor e a vergonha por terem seus corpos usados por quem lhes deveria proteger e garantir a integridade. A situação das minhas irmãs me fez pensar sobre a submissão generalizada das mulheres naquele rincão imune às leis, à moral e à justiça, onde só prevalecia o alvitre torpe daqueles que nasceram com um pinto entre as pernas. Levei semanas para aquela cena se desvanecer da memória. E, já tinha quase a colocado num escaninho longínquo dela quando passei por algo semelhante.

Eu era a ovelha meio desgarrada da penca de filhos, pela posição que ocupava. Depois das três filhas, do Juvenal e do Joviano, foi que ocorreu a morte, antes de completarem dois anos, do Jorge e da Maria de Lurdes. Vinguei eu e, também morreram prematuramente a Maria das Dores e o Josué. Dela se apagaram as lembranças, se é que naquela tenra idade consegui guardar alguma e, dele ainda recordo o choro interminável que varava a noite, embalado nos colos que se revezavam. Até o dia em que o choro cessou, tão repentino, que minha mãe foi correndo junto ao berço. Quando voltou com ele nos braços, não havia uma única lágrima em seu rosto crestado pelo sol. Ela mandou o Joviano chamar o pai enquanto embrulhava o corpinho inerte em alguns panos. Juntaram-se os vizinhos, curiosos para saber como se dera a morte, a pretexto de consolar os pais sofridos. Seguimos até o povoado com as carpideiras entoando ladainhas e, de lá, até Afrânio onde o corpinho foi colocado num caixão branco e levado ao cemitério. Ninguém chorou, como se aquelas famílias estivessem habituadas a fazer essa peregrinação. Meses depois, minha mãe estava novamente grávida, continuando sua sina de parideira, e vieram primeiro o Jefferson e depois o Januário. Enquanto os mais velhos e os mais novos formavam praticamente uma escadinha, eu era o destoante com lapso de idade entre os mais velhos e os mais novos. Assim, sempre fui vítima dos mais velhos e, aquele que precisava cuidar dos mais novos.

O Juvenal e o Joviano estavam numa idade crítica, há tempos haviam descoberto para que serviam os hormônios que lhes encheram a cara de espinhas, a virilha de pentelhos, a gravidade na voz, os músculos tomando forma e, as picas endurecendo a qualquer pretexto. Era com os dois que eu dividia o mesmo colchão de palha de milho num dos estrados do quarto, enquanto no outro dormiam o Jefferson e o Januário. As noites longas e abafadas que se iniciavam assim que o sol se punha, colocavam os hormônios daqueles dois em ebulição. Durante o dia, entre um sumiço e outro, não era raro encontrar um deles enfiando o cacetão numa cabra ou mesmo numa galinha. Porém, à noite, o único buraquinho quente e macio disponível era o meu cuzinho. Como as fêmeas da casa eram possessão exclusiva do meu pai, nenhum deles sonhava em se intrometer nesse território. Sempre obrigado a me deitar entre os dois, sobrava pouco espaço para me safar das encoxadas que levava, ora de um, ora de outro. Da primeira vez que o Juvenal se aproveitou de mim, eu demorei a perceber que aquela proximidade forçada, aquela coisa dura que cutucava minhas nádegas, aquele arfar junto a minha nuca não eram devido ao espaço exíguo. Depois veio a mão que baixou meu short e apalpou sofregamente minha bunda. Eu protestei, ele me deu um safanão, acabamos por acordar o Joviano, que imediatamente sacou o que estava acontecendo. O pau dele endureceu e a mão ficou tão ousada quanto a do Juvenal. Prensado entre os dois, tentei me defender.

- Esse furdunço vai parar ou preciso ir até aí comer o couro de vocês? – rosnou meu pai no quarto ao lado. Eles taparam minha boca.

Enquanto eu me virava, ora para um lado, ora para o outro, eles pincelavam as jebas no meu reguinho liso, molhando-o com seus tesões impudicos. O Joviano foi o mais afoito para me penetrar, forçando a portinha do meu cu, que se travava ante a aflição de não conseguir evitar a entrada daquele bagulhão. Não conseguiu, e o Juvenal sem paciência de assistir a incompetência do irmão, resolveu agir. Enfiou meu rosto no travesseiro ao mesmo tempo em que me colocava de bruços. Montou em mim e encaixou a virilha na exuberante curvatura das minhas nádegas. Deslizou o cacetão no meu reguinho até encontrar a rosquinha pregueada, e então, apontou a cabeçorra úmida na fendinha travada e a forçou até sentir que sua vara deslizava cuzinho adentro, enquanto eu esperneava sob o peso de seu corpo.

- Eu estou perdendo a paciência, bando de cão lazarento! – gritou meu pai. Para não levar uma surra de chibata, parei de lutar contra o inevitável.

Afoguei meus gemidos mordendo o travesseiro, enquanto o Juvenal bombava meu cuzinho sem mais aquela pressa de ter que me largar antes do meu pai vir nos castigar. Não sei se foi a pressão que o Joviano exercia sobre ele esperando sua vez de me enrabar, ou se foi o tesão sendo satisfeito que logo levou o Juvenal a esporrar no meu cuzinho. Eu arfava mais do que ao retornar do açude com as bombonas cheias d’água penduradas num pau que levava sobre os ombros. Mal tive tempo de me refazer, o Joviano meteu sua rola afoita no buraquinho que o irmão laceara. A dor da penetração não foi menor por conta disso, e precisei morder novamente o travesseiro para suportar seu furor libidinoso. Eu não sabia o que estava doendo mais, o meu cuzinho sendo esfolado ou, minha dignidade sendo avexada por meus irmãos. Mal a primeira luz do alvorecer se ergueu no horizonte na manhã seguinte e eu já estava em pé, pois não tinha mais conseguido pregar o olho, mal conseguindo dar um passo com o cuzinho todo arregaçado e esfolado, e sentindo a umidade gosmenta no rabo. Embora não estivesse vendo, sabia que estava com o cuzinho machucado, pois o pano umedecido que eu usei para me limpar estava cheio de sangue.

- Os desgraçados do Juvenal e do Joviano bolinaram comigo e machucaram minha bunda esta noite! – queixei-me com minha mãe depois do meu pai sair.

- Arreda daqui, capeta dos infernos! Vai falar bestagem longe de mim, seu infeliz! – berrou ela, exasperada.

- Mas é verdade! Estou com as entranhas todas doloridas, nem consigo andar. – protestei inconformado.

- Tu vai sentir o que é entranha dolorida quando eu mandar teu pai dar uma coça nessa sua boca suja! Escafede! – berrou, e um pedaço de pau tirado do monte de lenha perto do fogão veio rodopiando na minha direção. Eu corri para o terreiro, travando o cu, pois tinha a impressão de que perderia as tripas pelo rombo que sentia entre as pernas. Inconformado com seu descaso, jurei que não deixaria os dois levarem a melhor sem serem punidos, e resolvi confiar na justiça paterna.

- Que é que está andando nessa leseira? – perguntou meu pai quando fui lhe levar a moringa d’água, onde consertava a cerca do piquete das cabras.

- Por culpa do Juvenal e do Joviano que bolinaram com minha bunda essa noite e me carcaram! – revelei.

- Vocês estão de putaria seus degenerados? Eu vou capar vocês que nem se capa um porco, para vocês deixarem de sem-vergonhice. – retrucou, me pondo para correr dali.

Se eu quisesse ver a justiça sendo feita, teria que fazê-la por mim mesmo, pois de nada valeu queixar-me do meu infortúnio. Cientes de que seu delito não geraria punições, passei a ter o cuzinho perseguido pela tara dos dois. A qualquer momento que o tesão lhes acometia as picas, saíam a minha caça como seu eu fosse uma quenga no cio. E, aos poucos, até a discrição foi sendo negligenciada. Em momentos de folga, quando íamos até o açude, ponto de encontro dos que queriam se refrescar nas tardes quentes, eu era sumariamente enrabado à vista de quem quisesse apreciar o espetáculo. De início, eu tentei correr, fugir, enfrentá-los com o que me caía nas mãos, mas sempre acabava rendido, alcançavam-me onde quer que fosse, me batiam e me fodiam até se darem por satisfeitos. Com o tempo e, ciente de que tudo acabaria exatamente como sempre, lutasse eu ou não, comecei a ter relações quase consensuais com eles. Ao menos, ficaria apenas ferido em meu orgulho e meu cuzinho, e não com o corpo todo esfolado e coberto de hematomas por ter brigado por minha dignidade. Sob o olhar curioso do Jefferson e do Januário, despertados pelo que rolava no estrado ao lado, eu chupava e lambia a verga retona e grossa do Juvenal, sorvia seus fluídos amendoados, acariciava seus culhões no meio dos pentelhos grossos e negros, fazendo-o grunhir de prazer, enquanto o Joviano ia metendo o caralhão avantajado e cabeçudo lentamente no meu cuzinho, pois já não era preciso ter pressa, apenas deixar o tesão fluir, meter num vaivém cadenciado, sentir a carne rija e quente encapar sua rola, até o gozo explodir abundante e dadivoso, em jatos que iam se perder no fundo do meu casulo acolhedor.

- Estão prestando atenção, seus fedelhos? Olhem bem para aprenderem como se tornar machos! – sussurrava o Juvenal para os dois menores, que não desgrudavam os olhos de mim, me contorcendo e engolindo meus gemidos a cada estocada que levava no cuzinho daqueles caralhões desavergonhados.

Minha desventura de presa fácil caiu na boca da rapaziada das redondezas, motivada pelo que viam meus irmãos fazendo comigo. Assanhados por terem presenciado os coitos perpetrados por meus próprios irmãos, começaram a me perseguir e a querer cobrar o mesmo tratamento para suas taras. Meus primos que moravam três sítios depois do nosso, foram os primeiros. Nenhuma visita terminava sem que eu fosse com um deles para um matinho e os presenteasse com meus favores sexuais. O que se configurava um martírio nas primeiras vezes com meus irmãos, acabou sendo uma forma de aplacar o meu próprio tesão e, o sêmen de um macho, um presente que carregava em minhas entranhas, uma vez que nunca havia sido presenteado com nada na vida por quem quer que fosse.

Numa das vezes em que estive na casa da minha tia, irmã do meu pai, e mãe dos primos que me enrabavam, eu conheci o Damião. Ele era filho de outros sitiantes da região, mas por residirem a certa distância de nós, meus pais tinham apenas um relacionamento cordial com a família. A primeira vez que o vi, tinha acabado de ser fodido pelo meu primo João num rancho próximo à casa onde pernoitava a meia dúzia de vacas que possuíam. Ao final dos coitos eu sempre andava cambaleante e inseguro, achando que a qualquer momento podia me escorrer a porra deixada no cuzinho por meus algozes. Minha fisionomia devia estampar essa realidade que aqueles já acostumados a me pegarem pelos cantos conheciam muito bem. O Damião olhou para mim de um modo inusitado, que eu jamais tinha visto no rosto de outra pessoa. Duvido que tivesse sacado o que meu primo e eu tínhamos acabado de fazer e, portanto, não podia atribuir aquele olhar a esse fato. Seus olhos tinham um brilho que mexeu comigo. Meu sorriso recatado e dubio foi retribuído por um amplo, que pôs à mostra seus dentes brancos contrastando com a barba cerrada negra que cobria seu rosto. Não éramos totalmente estranhos, nossos caminhos pelas estradas poeirentas e no povoado já haviam se cruzado poucas vezes antes. No entanto, não passaram disso. Nem os nomes um do outro sabíamos. Porém, só agora, tomando um café com meus tios e alguns dos primos é que botei reparo nele. Espadaúdo, com braços musculosos e peludos, pernas troncudas saindo do short apertado tornavam-no atraente e sedutor. Ele fugia completamente ao biótipo do homem regional e, tinha um jeito especial de olhar. Não sei se era eu que o via assim, ou se ele realmente era um sujeito ímpar para os padrões locais. Não troquei mais do que algumas frases com ele, ao ser questionado sobre meu irmão Joviano a quem ele alegou ser o único que conhecia da minha família. Fiquei tão impressionado com ele, com sua fala determinada, sua voz grave e aquele inseparável sorriso, que me neguei a seguir com meu primo Raimundo de volta para o rancho onde este também pretendia me foder.

Umas semanas depois, o Damião apareceu em casa. Disse que tinha ido ao centro do povoado comprar algumas coisas de que estavam precisando e resolvera conhecer o restante da família. Sentado sobre a cela do cavalo, ele me lembrou de um daqueles heróis medievais descritos nos poucos e surrados livros da biblioteca da escola, cujos conteúdos eu passei a devorar assim que o processo de alfabetização se completara. Talvez estivesse ali porque meus primos provavelmente deviam ter comentado sobre a existência das minhas irmãs solteiras, pensei comigo. Mas, ao longo da meia hora que passou conosco, percebi que eu era o alvo daquela visita. Fiquei um pouco desapontado, pois ele deveria estar querendo entrar para o bando de machos interessados no meu cuzinho fácil. Mesmo assim, acompanhei-o até a porteira quando partiu. Se minha amizade não lhe interessa, ao menos vou ter o gostinho de saber como é transar com um cara com aquele corpão, concluí.

Não demorei a perceber que meu julgamento foi errado. As constantes aparições e os encontros casuais no açude que, diga-se de passagem, ficava a uma boa distância do sítio dele, aliado ao fato de ele sempre perguntar por mim nessas visitas, me levou a crer que estava verdadeiramente interessado em mim. Um viado por aquelas bandas dominadas por cabras machos era difícil de encontrar. Se os havia eram tão enrustidos que ninguém desconfiava ou, eram como eu, gays por obrigação das circunstâncias e não por sua natureza.

Num domingo, fui com meus irmãos até o açude, que funcionava como ponto de encontro da galera da região. O Juvenal estava prestes a me enrabar dentro d’água quando o Damião se aproximou tanto que meu irmão se retraiu e, como ele não arredou pé, voltou a colocar a pica dentro do short e adiou seu intento. Foi óbvio que o Damião sacou o que estava acontecendo e, quase certo, que frustrou o assédio do Juvenal propositalmente.

- Obrigado! – balbuciei vexado, erguendo meu short dentro d’água, enquanto o Juvenal se afastava.

- Não por isso! – devolveu discreto, percebendo o quanto eu estava constrangido com aquilo.

Saí da água e sentei-me ao lado dele num tronco às margens do açude. Ele esteve nadando e o short molhado aderido ao seu corpo deixava ver o tamanho da verga que tinha entre as pernas. Por uns instantes fiquei me imaginando com ele ao invés do Juvenal engatado no meu rabo e, mais do que depressa, afugentei a cena da minha mente.

- Ele sempre faz isso com você? – perguntou ele, depois de havermos conversado por algum tempo sobre outros assuntos. Eu me reprimi e corei, afinal havia chegado o momento em que ele acabaria por me propor as mesmas indecências.

- Às vezes. – menti.

- Sei que provavelmente não consegue enfrentá-lo, mas já contou a seus pais o que ele está fazendo com você? – ele estava interessado no meu problema e não no meu cuzinho como eu pensei.

- Já! Não deu em nada. Ou eu apanho dele, o que já aconteceu diversas vezes, ou deixo que ele e o Joviano façam o que quiserem comigo. – revelei, vexado.

- Naquele dia em que nos encontramos na casa dos teus tios, o João também mexeu com você, não foi? – eu queria sumir dali, nunca senti tanta vergonha na vida. – Não quero parecer bisbilhoteiro, nem fazer com que sinta toda essa vergonha que está sentindo. É que eu te acho tão lindo, não deveria passar por isso, ter seu corpo usado por quem não sabe dar valor a ele e, nem a você. – acrescentou. Uma lágrima rolou pelo rosto acalorado. Aquela foi a primeira vez que alguém me dirigiu a palavra com carinho.

Eu confirmei a resposta à pergunta dele e, me senti confiante para revelar que outros já tinham me usado instigados pelo que viram meus irmãos fazendo comigo.

- Não quero que sinta pena de mim, por favor! Se eu pudesse mudaria tudo, mas você bem sabe que as coisas não funcionam assim por aqui.

- Eu sei! É triste, mas são as vítimas que precisam viver na clandestinidade e não os criminosos nesse fim de mundo. Você sabe que isso é um crime, não sabe? – retrucou ele.

- Sei! Mas não há o que fazer. Se eu ou outra vítima qualquer procurarmos a polícia, o padre ou quem quer que seja, vão alegar que estamos mentindo, inventando coisas. Em casa mesmo, meus pais negariam que meus irmãos estão me estuprando e, minha situação dentro daquela casa ficaria insustentável. – argumentei.

- Eu sei como é. – estabeleceu-se entre nós um pacto de confidencialidade onde, aos poucos, ele também me expôs alguns dos seus problemas e anseios. Quando dei por mim, estava tendo sentimentos por ele difíceis de confessar a mim mesmo, quanto mais abri-los.

Junho, mês de festa no sertão nordestino, não era diferente em Afrânio e seus povoados. Por todo lado as ruas e praças em frente as igrejas estavam enfeitadas com bandeirinhas multicoloridas. A festa mais concorrida acontecia no povoado de Caboclo. Uma enorme fogueira havia sido armada ao lado da igreja secular, barracas com comidas típicas e diversões se espalhavam pelas ruas, a população mais que triplicava nos finais de semana com todos acorrendo aos festejos. Minhas irmãs estavam loucas para ir, mas ainda negociavam com meu pai, como se fossem causídicas defendendo os interesses de um cliente ante uma corte.

- Não! E está acabado! Aquilo é antro de quenga e não quero ver filha minha se oferecendo para os machos! – devolveu meu pai, quando a Maria de Fátima insistia para ir aos festejos, pois havia alguns meses estava de trelelê com um carinha das vizinhanças.

- O Juvenal, o Joviano e o José vão, por que não podemos ir também? É muita injustiça! – choramingou ela.

- Eles são machos, não preciso me preocupar com nenhuma abocanha-benga solta por aí! – retrucou o velho, para o qual toda mulher era uma quenga em potencial.

Elas voltaram a insistir mais algumas vezes durante toda a semana. As respostas ficavam mais contundentes e mordazes, seguidas de um palavreado chulo justificando sua posição. Cedeu no sábado, do primeiro final de semana de festejos, quando minha tia e o marido passaram por casa em direção ao povoado e chamaram as meninas. Meu pai viu-se sem argumentos suficientes para negar a ida delas e, furibundo, permitiu que fossem. Pouco depois da missa que dera início aos festejos, encontrei o Damião. Ele se aproximou disposto a não permitir que bolinassem comigo.

- Soube que você viria e queria garantir que ninguém tomasse liberdades com você. – confessou, chutando o chão à medida que circulávamos entre as barracas.

- Por que está fazendo isso por mim?

- Porque não quero que seja obrigado a fazer o que não quer. – respondeu com firmeza. – E, também, porque gosto de você. – isso ele levou um tempo para expressar, já sem o mesmo tom de voz contumaz.

- Obrigado! Também gosto muito de você! – retribuí com acanhamento, temeroso de que ele interpretasse minhas palavras do jeito errado.

- Posso perguntar como é esse seu gostar de mim? – minha resposta havia acendido uma centelha de esperança no peito dele, fazendo-o criar coragem para prosseguir na investigação.

- Você vai achar que eu não valho nada mesmo, que é por conta disso que meus irmãos e os outros começaram a tomar liberdades comigo, mas mesmo assim, eu vou te dizer a verdade. – respondi resoluto. Tomei fôlego para continuar, pois nunca tinha sido tão verdadeiro com ninguém sobre os meus sentimentos. – Gosto de você como homem! Quer dizer ...., isto é, ...., bem, eu gosto de um jeito que é meio confuso de explicar. – eu não esperava gaguejar tanto, e não encontrar uma maneira de definir o que sentia por ele, embora no meu íntimo eu soubesse muito bem como era esse gostar. Ele riu.

- Quer dizer que se eu resolvesse te levar até a viela atrás da igreja e te beijar você não ia deixar de falar comigo? – questionou ele, com um sorrisinho safado.

- É! – respondi, sentindo que algo dentro do meu peito estava prestes a explodir.

Estávamos a meio caminho da viela que ele mencionara, já bem distantes do burburinho que acontecia na praça. Assim que tomei ciência de onde estávamos, percebi que ele tinha tudo planejado e, que minha resposta seria positiva. Os últimos passos até o murro que cercava um pátio da igreja foram dados quase correndo. Ele me apertou contra o peito e colou sua boca na minha. À medida que o sabor de sua saliva invadia minha boca eu sentia o corpo trêmulo amolecendo, e agradeci por estar agarrado nele. Ele me apertava contra o muro com seu corpo vigoroso e não desgrudava a boca da minha, metendo de quando em vez a língua nela provocando uma dança insólita com a minha. Não demorei a sentir sua ereção roçando minha coxa e, meu cuzinho começou a se contorcer cheio de esperança.

- Você beija bem! – disse ele, quando resolveu me dar um tempo para respirar.

- Nunca senti um beijo tão gostoso quanto o seu. – devolvi, ansioso por sentir novamente aquela boca viril.

- Isso quer dizer que posso passar a noite toda te beijando. – devolveu sedutor.

- Ahã! – concordei. Caindo novamente em seus braços e retribuindo cada um daqueles beijos carregados de volúpia e pecado.

De mãos dadas, sempre percorrendo as ruas paralelas e mal iluminadas, chegamos a um caminhão estacionado no final da rua principal, e que tinha servido para trazer as barracas da quermesse. Subimos na carroceria e um encerado amontoado a um canto serviu de ninho para nosso primeiro coito. Ele despiu minha camiseta e beijou meu ventre, subiu lentamente, beijando, lambendo e mordiscando a pele alva até chegar aos mamilos. Lambeu um, mordiscou o biquinho rijo antes de chupá-lo, cravou os dentes no contorno do peitinho até me ouvir gemer. Eu nunca tinha sentido tanto tesão. Enfiei minhas mãos por baixo da camiseta dele e acariciei os cabelos do peito dele, grossos e densos sobre a pele quente. Ele tirou a camiseta para que eu tivesse acesso mais livre ao seu tronco musculoso.

- Suas mãos são tão macias! É bom senti-las afagando meu peito. Você está me deixando doido, sabia? – eu concordei com um sorriso.

Ele puxou minha calça e minha cueca de uma só vez, engruvinhando-as aos meus pés, o que me impedia de abrir as pernas, coisa que eu estava morrendo de tesão para fazer. Quando perseguiam meu cuzinho eu sempre tentava escondê-lo, protegê-lo da injúria dos meus agressores. No entanto, agora eu queria que o Damião o visse, que sua obsessão por ele chegasse a tal ponto que sua jeba o desejasse. Para isso, eu me movia debaixo do corpo dele, enquanto os beijos se sucediam cada vez mais tórridos, procurando me livrar delas. Quando consegui, abri as pernas e o puxei pelo cós do jeans sobre mim. Beijei-o tão ternamente enquanto acariciava seu rosto hirsuto, que ele começou a baixar o jeans expondo seu falo colossal. Eu me encantei por ele, lembrando-me do mastro gigantesco que o Furioso expunha quando a Dindinha entrava no cio. Era a primeira vez que eu via um pau daquele tamanho num homem, achava que relatos dessa natureza não passavam de bravatas propaladas pelos machos para se fazerem de super-homens e serem desejados. O que estava diante de mim era a prova cabal de que existiam picas gigantescas, pois a dele estava ali, dura, babando pela chapeleta intumescida e roxa, exalando o cheiro de macho, com o sangue latejando nas grossas veias que o revestiam, e pronta para receber meus afagos. Deslizei uma das mãos que estava em seu peito, lentamente, até a barriga rija, com as pontas dos dedos circundei seu umbigo, ele me encarava desejoso de que aquela mão macia o tocasse na sua virilidade. Eu sorri antes de mergulhar a mão em sua virilha pentelhuda, contornei o falo que deu um ligeiro pinote quando o toquei, e fui acariciar aquele sacão que pendia pesado abaixo dele. O Damião soltou o ar por entre os dentes quando carinhosamente apertei seus culhões na palma da mão.

- Gostou? – grunhiu ele, deixando-me explorar seus genitais proeminentes.

- Muito! – sussurrei. Ele não cabia em si de contente, prevendo que saciaria todas as suas taras naquela noite.

Aos poucos fui me imiscuindo entre suas coxas vigorosas e peludas, peguei a rola e a levei à boca. Meus dedos logo ficaram lambuzados com o pré-gozo que vertia dela. Mesmo abrindo a boca ao máximo, só consegui colocar a glande para dentro, lambendo-a com a língua dando voltas ao redor do cogumelo carnudo. Ele se contorcia e gemia, oferecendo-me seu falo com magnanimidade. Pelo canto da boca escorria uma mescla da minha saliva com seu pré-gozo levemente salgado, enquanto eu chupava a verga com todo carinho e empenho. Enquanto eu trabalhava seu membro, ele acariciava minhas nádegas, explorava meu reguinho liso, vasculhava sobre as minhas pregas e dedava meu cuzinho.

- Quero comer esse cuzinho! – rosnou cobiçoso.

- Come! – balbuciei, com a verga entalada entre os lábios.

Ele me deitou de bruços, apartou os glúteos e começou a lamber meu cuzinho. Eu gania de tanto desejo. A barba espinhenta dele pinicava a pele ao longo do meu rego, e ele se acabava mordiscando e lambendo o contorno da minha rosquinha rosada. Lentamente ele foi subindo em mim, beijos e chupões já estavam na altura dos meus ombros, o pauzão pincelava meu rego, eu tremia de desejo empinando a bundinha e me oferecendo à sua devassidão. Nossas bocas voltaram a se encontrar, beijos lascivos e molhados declaravam nossas intenções. Ele guiou o pau até a portinha do meu cu, forçou e meteu. Eu me agarrei ao encerado até meus dedos ficarem pálidos, soltei um ganido que se perdeu entre o alarido que vinha da praça, e pronunciei seu nome tão firme e carinhosamente quanto pude. Ele foi me penetrando e compensando minha agrura com seus beijos apaixonados e devassos. Ele entrou tão profundamente no meu cu que esmagou minha próstata contra o púbis, me fazendo urrar de dor e prazer, que se misturavam em sensações contraditórias. Comecei a gozar, esporrando o encerado na mais divina das experiências. Não me lembrava de alguma vez ter esporrado tanto. O gozo aliviou a pressão da minha pelve, mas não suprimiu o prazer que eu continuava a sentir com aquela pica gigantesca se movendo num vaivém devasso no meu cuzinho dilacerado. Eu gemia libidinosamente, dava travadas com meus esfíncteres anais ao redor do pinto do Damião, rebolava para sentir todo o potencial daquela jeba agasalhada no meu rabo. Ele ensandecia com meu desejo de satisfazê-lo, apertando meus mamilos e chupando minha nuca. Duas estocadas brutas me fizeram gritar e, sua pelve se retesou. Um som rouco brotou em sua garganta e ele começou a ejacular. Eu sentia os jatos atingindo minha mucosa esfolada e, o cuzinho se inundando de porra. Pronunciei mais uma vez seu nome, gemendo. Ele se satisfazia, deixando o esperma fluir abundante e cremoso.

- Tesão do caralho! Você acaba comigo desse jeito, Zé! – rosnou satisfeito

Recostado na carroceria do caminhão, ele me puxou contra o peito, beijamo-nos demoradamente, seu sabor e seu cheiro estavam impregnados em mim. Nem me lembro por quanto tempo ficamos assim, apenas nos afagando. Uma lua em quarto minguante cercada por estrelas faiscantes brilhava no céu limpo, ao longe o alarido das sanfonas, violas, zabumbas e reco-recos ia ganhando o mesmo ritmo cansado dos tocadores, anunciando que a madrugada já ia alta.

- Onde caralho foi que você se enfiou, seu abaitolado? Estamos a horas atrás de você! – vociferou o Joviano assim que voltamos para a praça.

- Ora, eu estava segurando vela para a Maria de Fátima e o carinha que está a fim dela! Queria que a deixasse sozinha? – fui tão incisivo que ele pareceu acreditar, embora desse um olhar confrontador na direção do Damião.

- O tio e a tia já voltaram para casa faz tempo, temos que ser discretos ao entrar em casa, ou o pau vai comer. E, onde se meteu o Juvenal agora?

- Deve ter ido com os tios!

- Aquele lá? Vai esperando! Deve estar comendo uma pechereca por aí. – retrucou zangado.

Faltava pouco para o alvorecer quando chegamos em casa. Lamentei ter que me despedir do Damião sem poder lhe dar um último beijo, e dizer que tinha sido a melhor noite da minha vida. Creio que todos estavam sentindo algum tipo de agitação, pois era raro termos um pouco de distração, quanto mais acompanhados de novas pessoas. Ao me deitar entre meus irmãos, que logo caíram no sono, meu corpo ainda tremia e aquela umidade entre as minhas coxas formigando docemente no meu cuzinho, não me deixava pregar o olho com medo de que tudo não tivesse passado de um sonho.

Desde o dia em que flagrei meu pai trepado no meio das coxas da Maria Aparecida, nunca mais consegui deixar de observá-la. Já havia concluído que seu olhar tristonho vinha dessa desventura e, quem sabe quantas outras que carregava no silêncio de sua dor. Quem se preocupassem minimamente com ela veria seus olhos inchados de tanto chorar, que ela disfarçava quando na presença de outros. As mazelas da vida afetam as pessoas de formas diferentes, talvez por isso ela, dentre as outras, era a que mais se ressentia da sordidez do meu pai. Pois, eu já não tinha mais nenhuma dúvida de que ele abusava de todas.

De uns tempos para cá, contudo, a Maria Aparecida tornou-se ainda mais apática, ficava longos períodos em silêncio, enquanto minha mãe e as outras duas tagarelavam o tempo todo enquanto cuidavam dos afazeres da casa. Quando lhe restava uma folga, ela se isolava fazendo demoradas caminhadas pelo sítio ou, simplesmente sentando-se num conjunto de enormes rochas que ficavam no topo da mais alta colina da propriedade e, de onde se avistava ao longe a paisagem inóspita da região.

- Está tudo bem com você, Cida? – perguntei certo dia, quando toda aquela melancolia chegou a me afetar.

- Alguém algum dia vai estar bem nesse lugar? – foi o que ela me devolveu.

- É difícil, eu sei, também não me sinto bem aqui. Mas, é o que temos e, ao menos estamos todos juntos. – retruquei, tentando animá-la, embora eu mesmo nunca tenha acreditado que o fato de estarmos todos juntos significasse alguma coisa. O convívio físico nunca foi suficiente para nos tornarmos uma unidade naquela casa. Éramos seres que sentiam suas dores e alegrias sozinhos e calados. Nunca verdadeiramente fomos uma família.

- Se isso serve de consolo para você. – sentenciou.

- Não gosto de te ver tão triste! Tanta tristeza corrói a alma. Você devia fazer como a Maria de Fátima e a Maria da Graça, arranjar um namorado e viver sua vida com ele, da maneira como gostaria. – sugeri.

- Se eu tivesse anseios, ter um homem ao meu lado seria o último deles. – respondeu ela. Cercada pelo tipo de homens que havia ali eu podia muito bem compreender seu desprezo por eles. Pai e irmãos machos cafajestes, vizinhos e residentes daquele sertão uma súcia de machistas calhordas que tratavam as mulheres como meras parideiras, não podia mesmo ser o sonho de qualquer mulher, apenas sua desgraceira.

- Então procure encontrar algo que te dê sentido à vida! Existe um mundo nos livros, eu posso te ensinar a ler se você quiser, já que o pai nunca permitiu que vocês fossem à escola. – propus.

- Talvez! – eu sabia que ela jamais se disporia a isso. Foi sua maneira delicada de me dizer que não.

Passei a não deixá-la mais sozinha com meu pai. Aonde quer que estivesse e meu pai a seguisse, eu aparecia do nada, frustrando suas abordagens. Me oferecia a levar o farnel para ele quando minha mãe a mandava fazer esse serviço. E, não parava de vigiar cada um de seus passos sempre com o objetivo de evitar que meu pai a molestasse. No entanto, a desgraça já estava feita. A piora em seu estado acabrunhado tinha se intensificado nos últimos quatro meses. Ela agora caía num pranto desesperado a qualquer momento, ficava distante deixando queimar um arroz, derrubando uma vasilha de água, deixando uma louça cair de suas mãos, e até se recusando a comer.

- Preste atenção no que está fazendo, estaferma! – ralhava minha mãe, quando algo desse tipo acontecia. – Já que não presta para nada, saia da minha frente! – emendava furiosa, por ter que assumir o estrago feito por ela.

- Ela deve estar naqueles dias em que as mulheres não prestam para nada! – exclamou o Januário, meu irmão caçula, que já estava sendo doutrinado pela mesma canalhice machista.

- Cala essa boca suja, seu merda! – gritou minha mãe, descendo a colher de pau nas costas dele.

O paquete da Cida não havia descido nesse período todo. Ela levantava cedo, antes do que todos e ia para o fundo do quintal onde passava um bom tempo vomitando. Tinha pego asco para certos cheiros e comidas e, sem que ninguém, exceto eu, tenha visto, amarrava uma faixa de tecido na cintura para disfarçar o ventre que crescia. No dia em que a flagrei comprimindo a barriga saliente, enquanto chorava e alisava o ventre, desejei a morte do meu pai.

Naquela mesma semana, fui me encontrar com o Damião. Havíamos selado um acordo de nos encontrarmos toda quinta-feira ao final da tarde naqueles rochedos afastados do sítio. Era ali que namorávamos até a lua se levantar no céu, longe de tudo e de todos, construindo um amor que crescia e divagando sobre o futuro incerto. Eu sempre recomendava a uma das minhas irmãs que ficasse o tempo todo com a Cida, quando ia me encontrar com o Damião, sem nunca ter revelado o verdadeiro motivo para essa preocupação. A Maria de Fátima ficou com a missão, embora fosse nela que eu menos confiava, e eu parti para o meu encontro nos braços do Damião, sonhando com seus beijos, suas carícias, seu tesão pelo meu cuzinho e, seu esperma suculento. A chegada do carinha do qual a Fátima estava a fim e que, desde os amassos que ele deu nela durante as festas juninas, tinha-a deixado mais avoada, e fez com que se esquece completamente da irmã. Foi a brecha que meu pai precisou para chegar nela.

Ela estava colhendo macaxeira no roçado para a janta quando ele a encoxou, colocando-a num desespero só. Enquanto ela se debatia, temendo que seu segredo fosse revelado, ele enfiava a mão por debaixo de suas saias e agarrava sua xana, ao mesmo tempo em que agitação fazia uma de suas tetas saltar para fora da blusa. O velho tarado quase pirou. Abriu a braguilha e tirou o pinto para enfiar nela. Foi quando percebeu aquela faixa amarrada em sua cintura. A coitada gritou quando ele a arrancou e o ventre grávido surgiu como prova de sua vilania. O velho se desesperou, sabia que tinha sido ele a inseminar aquele ventre e precisava urgentemente de um álibi para fugir da execração pública. A Cida correu para casa com ele na perseguição, ao avistar minha mãe atraída pela gritaria, o velho berrou alucinado.

- Cadela! Quenga dos infernos! Puta maldita! É isso que dá deixar essas vadias soltas por aí! – minha mãe tentava entender o que se passava, atônita com tamanha fúria do marido.

- O que foi que você aprontou dessa vez, estrupício? – indagou minha mãe ao vê-la fugindo em direção ao quarto.

- A culpa é sua de ter parido essas malditas quengas! Vai lá ver sua filha embuchada e trate de consertar o malfeito antes que eu acabe com ela. – ameaçou. Era nessas horas que se via a valentia daqueles cabras machos sumindo como um copo d’água derramado sobre aquele chão seco.

Minha mãe foi até ela e, bastou que encarasse aquele olhar aflito para descobrir a verdade.

- Aprume-se! Vamos ter com dona Candinha! – exclamou, seca. – E trate de engolir esse choro! – emendou ríspida.

Eu quis acompanhá-las, pois já estava escuro, mas minha mãe mandou que me escafedesse. Seguiram rumo à casa da benzedeira do povoado, que era uma espécie de faz tudo naquele sertão, desde parteira, benzedeira e conselheira do alheio. Depois de examinar a Cida, a benzedeira alertou para o adiantado da gravidez, mas cedeu aos apelos da minha mãe e, como outras tantas centenas de mulheres daqueles rincões, deu-lhe uma boa porção de cabacinhas e folhas de maconha para que fossem feitas infusões que a Cida deveria tomar praticamente de hora em hora. Adicionou a isso, uma garrafada que já estava preparada para essas emergências, onde havia misturando raízes, cascas e folhas de outras tantas plantas abortivas.

Era tarde quando voltaram para casa. Eu as esperei no alpendre, ansioso por saber qual seria o destino de minha irmã a partir dali. Os mais novos já dormiam, os outros esperavam calados cada um a um canto. Elas entraram mudas. Minha mãe reavivou as brasas no fogão e pôs água a ferver. Preparou um chá com o que a benzedeira lhe havia dado e o levou até a cama da Cida. Ninguém se atreveu a fazer qualquer comentário. Eu estava indo perguntar à Cida como ela estava quando minha mãe me barrou.

- Vá cuidar da sua vida e deixe sua irmã em paz! – ralhou.

- Eu só queria saber como ela está, se precisa de alguma coisa. – retruquei

- Tudo o que ela precisa é que você não vá encher o saco! – devolveu.

A beberagem que a benzedeira lhe dera começou a fazer efeito de madrugada. A casa acordou com um grito da Cida, segurando as mãos na barriga e se contorcendo como uma jiboia estrangulando sua presa. Ela botava as tripas para fora por todos os lados. Por três dias seguidos continuou a agonia dessa mulher para expulsar de seu ventre aquela ignomínia implantada por meu pai. Quando o feto foi expulso, depois dela ter sangrado feito uma porca no abatedouro, estava tão pálida e prostrada que mal podia ficar em pé. Por mais uma semana ficou deitada naquele estrado entre a vida e a morte, esta última sondando-a com mais intensidade. O olhar cadavérico afugentava a todos, à exceção das minhas irmãs que precisavam dividir o espaço com ela e, minha mãe que tentava lhe mitigar a dor, ninguém se aproximou dela. Quando voltou ao nosso convívio, não era mais a mesma Cida, e sim um zumbi que vagava de um lado para o outro. Quatro semanas depois, o sol ainda não tinha se erguido quando a encontramos pendurada no travessão que sustentava o telhado onde pernoitavam os asininos, com as extremidades dos membros cianóticos e uma expressão serena de alívio no rosto que pendia inerte acima do laço da corda com o qual se enforcara. Até hoje, quando me lembro da cena, sinto como se uma enxadada abrisse meu peito e arrancasse meu coração, como se arranca uma raiz de macaxeira da terra.

O estranho foi olhar para a minha mãe. Ela não tinha nenhuma única lágrima nos olhos. Aliás, eu nunca vi uma lágrima rolar pelo rosto dela, creio que não as tinha. Também não disse nada, não se revoltou, não acusou meu pai pelo mal que fizera à filha, não rezou e não amaldiçoou a vida naquele inferno. Como um autômato, providenciou o que foi preciso, caminhou cabisbaixa e resignada ao lado do caixão até a sepultura e, voltou a sua rotina como se nada houvesse acontecido. Pela primeira vez eu comecei a compreender aquela mulher. Sem infância, ou se a teve, vivenciou-a sob o desamor e os castigos de um pai insensível, foi dada a um homem nefando, dez anos mais velho, quando ainda nem sabia o que era a juventude, em troca de alguma vantagem e do fato de diminuir o número de bocas da família. Foi como sair do purgatório para o inferno. Afora os andrajos que lhe cobriam o corpo, nunca teve nada de seu. Quase anualmente paria uma criança que lhe era colocada no ventre por um sujeito a quem servia como uma escrava e, pelo qual nunca sentiu nada, além de desprezo. Sem um tostão, sem nenhum lugar onde procurar guarida, seguiu em frente e foi levando os golpes do matrimônio e da vida como parte de seu destino, aniquilando-se e destilando seu fel resignadamente.

Já meu pai, não conseguia encarar ninguém. Mesmo que ninguém ousasse acusá-lo de nada, sua consciência o fazia, e esta não costuma ser piedosa. Ele também não ousou tocar no corpo frio da filha onde tantas vezes satisfez sua tara indecente. Mantinha-se nas cercanias, arrastando-se como um verme, sem admitir sua culpa. Eu não conseguia olhar para ele sem que me viesse o desejo de cravar-lhe um punhal no peito, por isso o evitei. A origem de todo mal que assolava as pessoas naquele casebre começava pelo caráter daquele homem.

Levei dias até criar coragem e seguir até a delegacia de Afrânio para denunciá-lo. O Damião me acompanhou, depois de apoiar minha decisão. Por trás de uma mesa carcomida pelo tempo, um sujeito petulante num terno esfarrapado, se dava ares de ilustre figura. Relatei-lhe detalhadamente os fatos na ordem mais cronológica da qual me recordava. Ele me ouviu como se estivesse ouvindo um rádio, fleumático e distante.

- E o que pretende fazer? Quer denunciar seu pai? – perguntou, ao fim do meu relato.

- Ele cometeu um crime! Não pode se safar como se nada tivesse acontecido. – retruquei.

- Você não acabou de dizer que a encontraram enforcada ao alvorecer e, que ninguém notou quando ela deixou o quarto, onde havia mais duas pessoas que poderiam ter percebido qualquer atitude no sentido de ela ser tirada dali à força? – questionou.

- Sim! Ela foi induzida a isso pelos anos de abuso que sofreu e, por ter engravidado nesses abusos. – argumentei.

- A lei não funciona assim, meu jovem! São necessárias provas, testemunhos para incriminar alguém. – afirmou.

- Eu estou dando meu testemunho!

- Está bem! Vou ver o que é possível fazer. – saí de lá frustrado, pois sabia que nada seria feito.

No entanto, alguns dias mais tarde o delegado e um investigador vieram até o sítio. Conversaram somente com meu pai, não nos termos em que eu tinha desejado, mas apenas para alertá-lo a ter mais cuidado com seus arroubos sexuais com as filhas que, numa eventualidade qualquer, poderia vir a configurar um crime, se mais pessoas viessem a se indignar com a situação. A solidariedade machista daquele fim de mundo prevaleceu sobre a justiça, mais uma vez. Séculos de desmandos e impunidade não seriam corrigidos pelo fato de um filho denunciar um pai. Ali prevalecia o patriarcado em sua forma mais abjeta, um absolutismo que não assimilou os tempos atuais.

- Filho duma égua, imprestável! Então você acha que aquela perdida se matou por minha culpa. O que te dá o direito de pensar isso de quem coloca comida na sua boca, sua víbora peçonhenta! Eu devia descascar seu couro debaixo da chibata, miserável, para você aprender a me respeitar. – berrava o velho quando o delegado partiu.

- Se o senhor tivesse um pingo de consciência saberia que só falei a verdade. – revidei.

- Uma verdade que você criou nessa sua cabeça transviada. Pergunte às suas irmãs e aos seus irmãos se eles têm a mesma opinião, pergunte! – o velho se gabava de tê-los sob seu controle e, nenhum deles, que ouvia nossa discussão, teve o brio de me apoiar. Meu pai só não me expulsou de casa naquele dia por que sabia que isso seria como passar um atestado de sua culpa e, o caso ainda fervia para ser tratado com tanta displicência.

Nunca precisei tanto de alguém como do Damião naqueles dias. Ele não só me apoiava, me dava forças, como me concedia todo seu amor. Eu me ressentia de não podermos viver nossas vidas em sua plenitude e, me contentava com os encontros entre os rochedos e outros, toda vez que uma oportunidade se oferecia.

- Quero fugir com você desse lugar! Quero poder entrar você todas as noites, dormir engatado em você! Quero que você seja meu cada segundo do dia. – dizia ele, enquanto eu o sentia dentro de mim, latejando vigoroso, cheio de amor.

No entanto, mal tínhamos com o que viver naquele lugar. Fugir ou simplesmente deixar tudo para trás era o mesmo que saltar de um abismo. Tanto quanto possível, juntávamos cada tostão que nos caia nas mãos, com o único intento de abandonar aquela vida sem perspectivas.

O Juvenal começou a erguer um casebre no sítio depois de engravidar uma garota assanhada das vizinhanças. Mais movido pela pressão do pai dela do que por vontade própria, ele falava em casamento e filhos, quando mal tinha disposição para ajudar na lida dos roçados. Ninguém deu muita importância quando se casaram numa festa simples que o pai dela promoveu, festejando a partida de mais uma saia sob sua tutela. O fardo da moça, Joventina, não foi diferente do de muitas outras. Nos três primeiros anos não fez outra coisa que não parir um rebento atrás do outro, enquanto se especializava em partilhar os parcos víveres entre as bocas que floresciam. Habituou-se a levar uns safanões do marido quando este resolvia cair na esbornia com os amigos, ou quando sentia o peso de prover aquele casamento impensado.

Para não perder privilégios ante meu pai, o Joviano seguiu o exemplo do irmão. Cabra macho para que ninguém tivesse dúvidas, embuchou a primeira infeliz que se deixou inseminar durante um esfrega-esfrega num daqueles forrós que varavam as madrugadas do povoado. E assim, mais um casebre brotou a algumas centenas de metros de nossa casa, para abrigar outra leva de desvalidos.

A Maria das Graças e a Maria de Fátima também se casaram. A primeira sem muita sorte, mas a segunda com um amor verdadeiro que, o rapaz íntegro e trabalhador, fez questão de levar à capital onde vivia sua família, dando uma vida modesta, mas que nunca havia tido.

Nunca tive a empatia e o respeito do Jefferson e do Januário, que me tratavam como escória, uma vez que cresceram vendo o que os dois mais velhos faziam comigo na calada da noite. Quando os hormônios começaram a atiçá-los tentaram obter dos mesmos privilégios dos quais desfrutavam o Juvenal e o Joviano, dado que estes agora tinham onde despejar suas porras. Enfrentei-os e a discórdia se instalou. Contra os mais velhos nunca pude me defender, mas daqueles fedelhos abomináveis não aturei um único desaforo.

Havíamos entrado mais uma vez no período chuvoso do agreste pernambucano e, desta vez, a estação estava sendo generosa. Os rios se perenizaram e o açude estava dia-a-dia mais cheio, por todo lado o verde resplandecia, os roçados ganhavam viço e o sorriso no semblante daquela gente mais constante. Eu chupava o cacetão do Damião debaixo da chuva quente do final de tarde, sem me importar com as roupas que iam se colando ao meu corpo à medida que se encharcavam. Não só aquela água que caía do céu era benfazeja como o sêmen que eu engolia aos borbotões para que não se desperdiçasse. Ele quase sucumbia ao tesão me vendo devorar sua virilidade com tanto zelo. Entre grunhidos e urros ele me jurava seu amor, e eu me sentia o mais feliz dos seres. A pancada de chuva cessou com a passagem das nuvens e o céu límpido se preparava para o anoitecer. Respirava-se mais facilmente com o ar abafado, porém úmido. Nossas roupas secavam sobre as rochas ainda quentes pelo sol inclemente que as fustigou desde cedo. Com a cabeça apoiada em seu ombro, eu acariciava seus testículos pesados, percorria com as pontas dos dedos o caralhão em repouso. Ele me mantinha junto ao corpo envolvendo-me em seus braços e deslizando a mão sobre as minhas nádegas. Conversávamos como dois apaixonados para quem o mundo deixa de existir quando estão juntos. De quando em quando, eu sentia o dedo dele fornicando o olho do meu cuzinho, como se ele estivesse me preparando para receber seu membro em breve. Eu gostava quando ele metia o dedo no meu rabo, sem cerimônia, sem permissão como se ele lhe pertencesse e não precisasse de nenhuma autorização para manusear meu ânus.

- Quanto mais o tempo passa mais apaixonado fico por você! Passo a semana sonhando com as quintas-feiras, quando sei que esse cuzinho vai agasalhar minha rola e satisfazer meus desejos. É torturante ter que esperar tanto para tê-lo em meus braços, para sentir suas carícias, para ter os teus beijos apaixonados. Preciso gritar ao mundo que te amo, que quero viver engatado nesse rabinho macio, é o único jeito de aliviar o que sinto aqui dentro. – confessou ele.

- Faremos isso um dia, meu amor! Eu também fico contando dias, horas e minutos para estar com você, para te sentir dentro de mim, para te dar todo amor que carrego no coração. – devolvi.

Enquanto fazíamos as juras de amor, o pauzão endurecia na minha mão, tornando cada vez mais difícil movimentá-lo. Sentei-me sobre suas pernas e tomei seu rosto entre as mãos, beijei-o até ficar sem fôlego e com os lábios inchados de tanto ele mordiscá-los. Ergui minha pelve e me sentei lentamente sobre seu tarugo imóvel e rijo. Era inevitável não gemer quando a cabeçorra distendia minhas pregas para ir deslizando cu adentro. Ao mesmo tempo em que queria a verga em mim, precisava ir sentando devagar para não rasgar meus esfíncteres naquele tronco grosso e maçudo.

- Gosto quando você geme assim, entre agoniado e ávido para ter minha pica no teu cu. – sussurrou ele, deleitando-se com minha iniciativa.

- Gosta, é? Gosta de me ver padecendo nesse trambolhão, seu tarado impiedoso? – gemi, rebolando para facilitar a penetração.

- Não há como não sentir tesão quando te deixo todo marcado e dolorido, pois sei que vai pensar em mim o tempo todo. – respondeu.

Eu já estava sentado sobre o sacão dele, a pica toda estava no meu rabo, pulsando e agitada como uma fera enjaulada. Comecei a cavalgá-lo. Ele abriu ligeiramente as pernas para que minha bunda se encaixasse mais profundamente em sua virilha, por conseguinte, metendo ainda mais seu membro em mim. Eu gania de prazer durante a cavalgada, agarrando sua cabeça e deixando que ele mastigasse meus mamilos. À medida que a excitação crescia, que a iminência do gozo começava a contrair toda a minha musculatura, que o ardor no cu se tornava quase insuportável, eu ronronava seu nome, levando sua gana a um estágio sem volta. Comecei a esporrar sobre a barriga dele, enquanto ele elevava as ancas e me estocava profundamente a cada sentada que eu dava sobre a pica. O Damião puxou meu rosto para junto do dele e me beijou, instantes antes de começar a alagar meu cuzinho escoriado com sua porra quente, e a bramir guturalmente. Estávamos tão embevecidos, imersos no prazer do nosso amor que não percebemos a aproximação de passos, mesmo por que raramente alguém ia até os rochedos.

Quando notei a fisionomia do Damião se transformando e, me virei para trás para onde seu olhar havia se fixado, vi meu pai a menos de meia dúzia de passos. Levantei-me tão abruptamente que perdi quase todo o esperma do meu homem, antes de conseguir fechar as pernas. Tão prontamente quanto eu, o Damião se levantou, ainda com a jeba à meia-bomba, e se interpôs entre mim e o velho, que já erguia ameaçadoramente o cabo da enxada sobre mim.

- Viado dos infernos! Invertido queima-rosca, lazarento! Então é aqui que você se encontra com teu macho, sua biba filha de uma égua! Eu vou te curar na porrada! Tu nem mais vai se lembrar para que serve o cu, miserável! – gritava encolerizado, vindo para cima de mim como um leão enfurecido.

- Você não toca um dedo nele, velho degenerado! – revidou o Damião, procurando arrancar a enxada de suas mãos.

- Tu não é macho para isso, seu cabra enrustido! – gritou o velho. Segundos depois, ele estava estirado no chão sem sua ferramenta de ataque. – Eu mato os dois! Escreve o que estou dizendo, eu mato os dois, seus degenerados! Ninguém vai manchar minha honra, muito menos dois pederastas, filhos da puta! – O Damião ia com o punho cerrado direto para a cara do velho quando o impedi.

- Por favor, não faça isso, amor! Deixe que me entendo com ele. Vá para casa, depois nos falamos. Não é o momento de acertarmos nossas diferenças. – pedi ao Damião que, muito sem convicção, foi deixando o lugar sempre olhando para trás.

Segui na direção da casa bem adiante dele, mas sem correr para não parecer um covarde. Quando me viram chegar, branco feito um lençol guarado ao sol, seguido de perto pelo velho completamente transtornado, juntou-se uma rodinha querendo saber o que havia se passado. Meu pai foi despejando, aos berros, o flagrante que acabara de fazer, dando-se ares de pessoa ilibada em condições de arbitrar como se seu passado fosse uma página imaculada. Apenas meus irmãos se mostraram indignados com sua ladainha e a ouviram até o final. Minha mãe voltou a sua apatia tão logo descobriu que a desgraça não valia sua atenção. As cunhadas preferiram não emitir sua opinião em momento tão familiar e na minha presença.

- Esse traste que você colocou no mundo estava cavalgando a pica de um macho lá nos rochedos, se refestelando feito uma puta! Você me ouviu, mulher? – gritou exasperado, quando notou que minha mãe não lhe dava mais ouvidos. – Vou matar esse invertido e aquele filho da puta! Na minha honra ninguém pisa! – emendou.

- Vai matar como matou a Maria Aparecida, velho nojento? – indaguei. – Ou como matou o filho que botou na barriga da coitada?

- Quem é tu para me julgar, seu merda?

Eu só me dei conta de que estava irremediavelmente perdido quando vi o Juvenal chegando com as cintas dos arreios e um porrete nas mãos e, se juntando ao meu pai. Corri na maior vula até a porteira, tendo ambos no meu encalço. Disparei em direção ao sítio da minha tia quando já mal se viam as pedras e buracos da estrada naquela noite sem lua. Percorrido quase um quilômetro o Juvenal me alcançou. Senti a chibatada do arreio estalar nas minhas costas antes de perder o equilíbrio e cair no chão empoeirado.

- Tu vai aprender a virar homem, viado! Quer que o povoado todo saiba que temos uma bicha libertina dentro de casa? Quer, seu safado, lazarento? – berrava, enquanto descia a chibata em mim.

Meu pai chegou pouco depois, estava quase sem fôlego, mas isso não o impediu de descer o porrete sobre mim. Eu protegia a cabeça com os braços, enquanto me açoitavam a ponto de eu começar a perder a noção do que se passava. De repente, comecei a sentir que me faltava o ar, após um chute que meu pai deu nos meus rins. A última coisa que vi foi o rosto contorcido de raiva do Juvenal, antes dos meus ouvidos zumbirem com a paulada que acertou minha cabeça. Não sei quanto tempo fiquei ali jogado, sangrando e desacordado, na beira da estrada, sem sentidos. O que me relataram é que fui encontrado por um motorista de caminhão que passava pelo trajeto ainda antes do sol nascer e, que me reconheceu como sobrinho do meu tio e me levou até o sítio.

- Quem pode ter feito uma barbaridade dessas com ele? – ouvi a voz da minha tia questionar. – Precisamos avisar o Chico, eles devem estar desesperados querendo saber do paradeiro do filho. – emendou.

- Não! – consegui balbuciar, sentindo que meu queixo parecia estar fora do lugar. – Foi ele. Foi ele que quis me matar como matou a Cida. – minhas palavras quase não podiam ser ouvidas.

- O que você está dizendo? Quem quis te matar? – perguntou meu tio.

- O pai! – consegui articular, antes de perder novamente os sentidos.

Embora não pudessem acreditar no que eu havia dito, resolveram postergar qualquer contato com meus pais, até obterem informações mais esclarecedoras. Eu ainda não havia despertado quando o Damião chegou à casa dos meus tios, alertado pelo meu primo, um dos que me fodia e que sabia da minha amizade com o Damião, mas não do nosso amor. Sem mencionar o que originou aquela vingança, o Damião confirmou que só podia ser malfeito do meu pai. Assim que pude me sustentar sobre as próprias pernas, revelei a verdade.

- Está na hora de sairmos daqui! – disse o Damião.

- Para onde? O que podemos fazer sem dinheiro, sem um destino certo? – questionei.

- Conheço uma pessoa no Recife que talvez possa nos ajudar. Enquanto você fica por aqui, eu vou até o povoado e entro em contato com ele. Se tudo der certo, hoje mesmo deixamos isso tudo para trás. Não mencione nada com ninguém por enquanto, espere eu voltar. – sentenciou.

- Meu pai e meus irmãos não tardarão a me procurar aqui. Quando me encontrarem estarei perdido.

- Peça a seus tios para não falarem nada por enquanto. Volto logo! – e ele partiu

Mijei sangue o dia todo, os chutes e as pauladas nos rins deviam ter ferido o órgão ou outra região qualquer. Respirar era uma verdadeira tortura e, suspeitei que estivesse com alguma costela fraturada. Eu sabia que estávamos prestes a cometer uma loucura, mas eu precisava enfrentar o desafio para me manter vivo. Minha tia ainda me questionava sobre o acontecido, como que duvidando do meu relato, solidária ao irmão, de cuja índole pouco conhecia.

No meio da tarde o Damião voltou. As notícias não podiam ser melhores. O conhecido dele no Recife não só nos daria abrigo como teria um trabalho para o Damião no hotel onde trabalhava. Antes de vir me dar as boas novas, ele havia passado na casa dele, pego um pouco de dinheiro com os pais e uma muda de roupa para mim, pois eu ainda estava com as roupas com as quais fugi de casa todas rasgadas e imundas de terra e sangue.

- Obrigado, tia! O Damião vai me acompanhar até em casa. Espero que a raiva do pai tenha passado. – disse ao me despedir deles, sem revelar meu verdadeiro destino.

- Abenção, filho! Tenha paciência com ele e não seja respondão, vocês hão de se acertar. – devolveu ela, crente de que dialogar com aquele velho era algo exequível.

A carona que pegamos até Afrânio quase terminou de me tirar a vida. Sacolejando por aquelas estradas de terra, parecia que minhas entranhas se desmanchavam e se desprendiam de sua posição. De lá embarcamos num ônibus rumo a Petrolina, depois de Petrolina ao Recife num total de mais de doze horas de viagem. Segurei a mão do Damião com tanta força como se largá-la, por um instante que fosse, significasse mergulhar para a morte. Eu estava tão esgotado e sem forças que a todo momento pensava que jamais chegaria vivo ao Recife. O Damião procurava demonstrar tranquilidade, me dizendo a toda hora que estava tudo bem, mas a preocupação com meu estado estava estampada na sua fisionomia contraída e tensa.

Parei de mijar sangue depois de uma semana da nossa chegada. Os hematomas pelo corpo causaram um verdadeiro assombro no conhecido do Damião. Ao todo, precisei de um mês para me restabelecer, embora alguns movimentos ainda me causassem dor e desconforto.

- Com a temporada de férias chegando, o hotel está contratando pessoal e, hoje me perguntaram se eu não conhecia alguém para a vaga de auxiliar de cozinha. Pensei em você, se já puder encarar o trabalho. – revelou nosso anfitrião.

- Claro! Nunca trabalhei numa cozinha, mas posso aprender se não exigirem experiência. – respondi.

- Não! Eles mesmos se encarregam do treinamento, é uma norma do hotel para todos os novos contratados, como foi com o Damião.

- Então amanhã mesmo vou com vocês tentar a vaga. – devolvi animado.

Foi menos difícil do que pensei me habituar ao corre-corre frenético daquela cozinha. Aprendi rápido as minhas funções e, quando dava tempo, me oferecia a ajudar algum colega que estivesse atrapalhado com o volume de trabalho. Ao final da temporada de férias eu estava tão habituado com aquela rotina que nem sentia as horas passarem. O Damião também ia bem em sua função e ambos acabamos sendo contratados definitivamente. A temporada também nos rendeu um belo bônus que foi distribuído entre os funcionários, nos permitindo fazer um bom pé de meia.

- Estou pensando em nos mudarmos para o Sul, São Paulo ou Rio talvez, o que você acha? – perguntou o Damião num entardecer de um domingo quando nossas folgas coincidiram e, nós caminhávamos pelo calçadão da praia de Boa Viagem.

- Estamos tão bem nos empregos, será que vale à pena arriscar? – eu não tinha a mesma segurança que ele frente à vida. A minha criação opressora naquela casa nunca me permitiu ter confiança nos meus atos, pois qualquer coisa que fizéssemos sempre era alvo de críticas ou mesmo de uma boa surra.

- Temos a vida inteira pela frente! Precisamos procurar as chances elas não virão até nós. – afirmava convicto.

- Amo você, Damião! Não sei o que seria de mim sem o seu amor. Vou para onde você quiser, contanto que você esteja sempre ao meu lado. – devolvi

- Sabe que é você quem me dá toda essa coragem? Quero te dar o mundo, quero te fazer a pessoa mais feliz da face da terra.

- Eu só preciso de você e, já sou a pessoa mais feliz desse mundo. – confessei.

Foi através de um funcionário do hotel, que se tornou nosso amigo, que viemos parar em São Paulo, pois ele conseguira um emprego para os dois num restaurante que frequentava próximo ao seu atual local de trabalho. O dono, um senhor viúvo e sem filhos, vivia para o negócio e era a alma do restaurante. Contratou-me como subchefe de cozinha e ao Damião como maître devido a nossa experiência no hotel cinco estrelas do Recife.

Nossos salários combinados permitiram que financiássemos um pequeno apartamento próximo ao restaurante. Sugeríamos mudanças que o proprietário, já cansado, aceitava de bom grado e implantava à medida do possível, o que o fez constatar um aumento nas receitas e no lucro do negócio. Quase quatro anos depois, ele teve um infarto decorrente de problemas cardíacos sempre negligenciados. Durante o período que ficou afastado e, com a saída do cozinheiro chefe, o Damião e eu assumimos praticamente todo o restaurante, mantendo o negócio em franco crescimento.

- Estão interessados em ficar com o restaurante? – perguntou, alguns meses após haver regressado ao comando do negócio. – Vocês se adaptaram muito bem, deram novo gás, os clientes aumentaram e gostam da maneira como vocês os tratam, o que acham? Não posso mais tocar o restaurante como deve ser, também não me sinto mais motivado para isso. Podemos negociar uma proposta que seja vantajosa para todos. – propôs.

Chegamos a um acordo para quitar o restaurante em três anos a partir das próprias receitas, e ele virou um de nossos assíduos frequentadores e estimuladores. O Damião e eu trabalhávamos como mouros até madrugada adentro e não tínhamos do que nos queixar, a não ser do pouco tempo que nos sobrava para namorar. Era por isso, que ao final de um dia já praticamente exaustos, quando aguardávamos a saída dos últimos clientes, que o Damião costumava me arrastar até a despensa e em meio a caixas, engradados e sacos, metia a estrovenga sedenta no meu cuzinho me fazendo gemer de tesão e prazer. Não podia haver vida mais completa e feliz do que aquela. Nosso amor havia chegado a um patamar em que não havia mais necessidade de palavras para nos compreendermos, bastavam as trocas de olhares, bastava o contato sutil, bastavam os coitos demorados envoltos em beijos apaixonados que varavam as madrugadas na serena paz de um lar construído sobre a confiança e respeito mútuos.

Tanto o Damião quanto eu, nunca mais tivemos qualquer tipo de contato com nossas famílias no povoado de Extrema, foi uma página de nossas vidas que resolvemos virar e esquecer. Ele porque a família jamais teria aceitado a opção dele de se unir a mim, e não a uma mulher que lhe desse filhos perpetuando o sobrenome dos Bezerra. Eu porque estava jurado de morte pelo meu próprio pai e, naquele sertão, lava-se a honra com uma garrucha ou uma peixeira sem a menor cerimônia. No entanto, ficamos sabendo que a mãe do Damião estava muito doente através daquele conhecido que nos abrigou no Recife quando de nossa fuga.

- Não posso fazer nada por ela! Já aqui, minha ausência vai te sobrecarregar. – argumentou ele, quando sugeri que fosse visitá-la.

- É sua mãe, sempre foi boa com você. Aliás, seus pais sempre foram bons com você, nunca tiveram as mesmas atitudes que os meus. É certo você ir ter com eles nesse momento difícil. – ponderei.

- Não queriam nem ouvir falar do meu amor por você. Nunca aceitaram eu ter me apaixonado por outro homem. O que vou fazer lá agora? Ouvir o sermão que tiveram anos para formular?

- Ponha-se no lugar deles, fizeram planos para o seu futuro e, de repente, você não se interessa por esses planos e traça sua vida ao lado de outro homem. Para aquela região e aquelas pessoas regidas pela ferrenha doutrina religiosa nós somos pecadores abomináveis. Mas, não é isso que está em pauta. Independentemente da escolha que você fez, ela continua sendo sua mãe e continua te amando, nunca deve ter assimilado completamente seu desaparecimento.

- E você? Vem comigo?

- Claro que não! Seria uma afronta para eles e, tenho que ficar aqui tocando o restaurante. Serão alguns dias, umas semanas, logo você está de volta. – argumentei.

- Dias! Não quero nem pensar em ficar uma semana por lá. Meu lugar é aqui, ao seu lado! – ele definitivamente relutava em ir e, não se sentia na obrigação de fazê-lo. Foi minha insistência que finalmente o convenceu.

Até a véspera da partida eu o instigava, mas quando fechamos o restaurante e fomos para casa, eu estava quase me arrependendo de deixá-lo ir. Era a primeira vez que nos separávamos depois da fuga, e eu já não sabia mais viver sem ele.

- Vou sentir sua falta! Promete que volta logo? – sussurrei quando fomos para cama.

- Não era você que estava praticamente me enxotando daqui, encontrando mil desculpas para eu viajar? – questionou ele.

- É porque é o certo a fazer, mas meu coração não pensa com a mesma racionalidade que a minha mente. – devolvi. Ele riu.

- E como é que seu coração pensa? – perguntou, começando a rolar sobre mim.

- Ele não pensa, só te ama! – respondi, beijando-o e deslizando a mão para dentro de sua cueca.

O caralhão dele endurecia na minha mão à medida que nossos beijos se tornavam desenfreadamente sensuais. As mãos dele agarraram minha bunda e ambos ardiam de tesão. O que desde o início apimentou nossa relação foi o fato de ele gostar da minha boca trabalhando na sua rola. Eu podia ficar um tempão brincando com ela, lambendo, mordiscando chupando que ele simplesmente abria as pernas e se deliciava com os meus afagos. Ele não verbalizava, mas adorava quando eu engolia seu sêmen. Por isso, enfiei-me sob os lençóis e fui em direção ao seu mastro. Suavemente fui arroxando os lábios ao entorno na chapeleta, ao mesmo tempo em que sorvia seu pré-gozo.

- Tesão da porra! Você deveria me deixar dormir ao invés de ficar botando fogo na minha pica, sabia? – grunhiu ele, excitado e louco para me enrabar.

- Tem certeza? Posso deixar como está, o que acha? – provoquei.

- Nem se atreva! Agora que botou o bichão em pé, encheu ele de vontades, você não me escapa sem encapar minha pica. – devolveu.

- Achei que você não queria que eu agasalhasse esse tarugão, e mostrasse a ele o quanto eu o desejo.

- Só sei que ele vai deixar esse cuzinho tão marcado que você não vai se esquecer dele pelo tempo todo que eu estiver fora. – ronronou.

Ele nem bem havia terminado a intimidação quando arriou minha cueca e começou a lamber meu cuzinho, esfomeado, cobiçoso e libertino. Eu gemia de tesão sentindo sua língua úmida dançando sobre as minhas preguinhas. Um dedo impudico ou sua língua pervertida brincando na portinha do meu cu era a artimanha da qual se valia para me deixar tão açorado que me sujeitava a dor da penetração daquele colosso em nome do prazer. Ele colocou uma das minhas pernas sobre seu ombro e guiou o pauzão para dentro do meu cuzinho. Eu gritei. Fazia quase cinco anos que ele metia o caralhão em mim, mas meus esfíncteres nunca se acostumaram com o estiramento que aquela verga grossa provocava e, por conseguinte, àquela dor lancinante. Anatomicamente eu era estreito para o calibre de sua rola, e o safado gostava desse detalhe, mesmo sabendo que qualquer impulsividade desmedida dele, me lacerava o cuzinho.

- Era o tarugão que você queria? Tá ele inteirinho ai para você! – exclamou, enquanto estocava meu rabo e me fazia ganir.

- Amo você Damião, meu homem, meu macho! – balbuciei. Ele ficava maluco quando eu o chamava de meu homem, meu macho.

- Ficou dengoso, com a pica do teu macho no cu, ficou? Eu também te amo, seu tesudinho do caralho, mas vou te foder bem gostoso, não adianta vir com manhas agora. Botou fogo no bicho, agora aguenta! – rosnou, tarado.

Meu pau duro começou a gozar sobre minha barriga. Ele abriu um sorriso enquanto se deliciava com os jatos de porra voando para todo lado. Eu o puxei para cima de mim ao terminar de gozar, e o beijei. O cuzinho lanhado ardia com aquele vaivém alvoroçado quando ele ejaculou, me deixando molhadinho e sentindo seu esperma formigando na ampola retal. De todas as vezes que fizemos amor, não me lembrava de outra que tivesse sido tão intensa, ela parecia carregar uma relevância ímpar e, quando nos encaixamos em conchinha, ele colocando apenas a cabeça do pau no meu cu, eu simultaneamente senti uma imensa felicidade e uma torturante tristeza.

Na manhã seguinte, levei-o até o aeroporto onde seguiria para Petrolina e, de lá, para Afrânio e Extrema num carro alugado.

A semana passou e, envolvido com o dobro de trabalho, não conseguia deixar de pensar um minuto sequer no Damião. Achei que ele fosse me ligar do aeroporto em Petrolina assim que estivesse embarcando de volta, mas isso não aconteceu. Vai ver resolveu ficar mais tempo com a mãe, pensei. Outra semana se passou e nenhuma notícia. Comecei a ficar inquieto, não era o feitio dele, pois sabia que eu me afligia por qualquer coisa que o afetasse. Mais uma semana sem notícias e eu já era puro desespero. Entrei em contato com nosso amigo no Recife para saber se ele tinha alguma notícia do Damião ou de sua mãe. Ele negou. O mês virou e eu já não conseguia trabalhar, chorava assim que pensamentos ruins me vinham à mente. Teriam-no convencido de que cometera um erro juntando-se a um gay? Teria ele me abandonado como era costume os cabras machos daquele rincão fazerem com suas mulheres, de quem pareciam se cansar depois de algum tempo juntos? Será que em meio a tantas atribulações de nosso dia-a-dia eu nunca tenha enxergado quem realmente era o homem por quem estava perdidamente apaixonado? Meu subconsciente já não era mais um bom conselheiro, incutindo em mim dúvidas sobre o amor e a fidelidade do Damião. Pensei em correr atrás dele. Desisti quando pesei o risco de voltar aquele lugar e, ante o temor de ouvir de sua própria boca que não me queria mais. Quatro meses depois, eu ainda tocava o restaurante sozinho, esperando sua volta, desalentado e deprimido, tocando a vida como se aquele dia fosse ser o último que teria.

- Sem o Sr. Damião e com a saída do Armando, o senhor não está precisando de alguém para dar uma força no salão, na cozinha ou até na faxina? – questionou uma das auxiliares de cozinha.

- Não sei Francisca! Talvez eu não precise de mais nada. – respondi, sem pensar, exceto em que já não valia mais a pena me dedicar aquele negócio sem o homem da minha vida.

- É que perto de casa tem uma amiga que o marido está desempregado há meses. Eles têm três crianças pequenas e, estão sobrevivendo da ajuda dos vizinhos, pois ela tem um problema de saúde e não pode trabalhar. – explicou a funcionária. – Pensei que o senhor precisando de alguém podia ajudar essa família dando um lugar aqui para o marido dela.

- Você pode estar certa! O pessoal do salão está sobrecarregado. Peça a ele que venha falar comigo, vamos ver se o encaixamos em algum lugar.

- Obrigado! Falo com ele hoje mesmo e, amanhã trago-o comigo.

- Faça isso, Francisca! Faça isso! Peça ao Pedro para fechar o restaurante hoje, ok? Não estou me sentindo bem, e acho melhor ir para casa.

- Precisa de alguma coisa?

- Não, obrigado! Só fale com o Pedro, por favor. – era um fardo cada dia maior trabalhar sem o Damião, era uma solidão crescente a ausência dele na cama, era insuportável aquela angústia de não saber se tinha sido abandonado.

Mal pude acreditar em meus olhos quando, na manhã seguinte, vi a Francisca entrando com meu irmão Juvenal antes de abrirmos o restaurante.

- Esse é o Ju... – começou ela

- O que faz aqui? Pensei que nunca mais teria o desprazer de olhar para essa sua cara biltre, seu calhorda! – despejei irado, antes de ela conseguir nos apresentar.

- O senhor conhece ele?

- Esse pulha sempre fez da minha existência um inferno e, quase me matou. Devia estar na cadeia e não andando livre por aí. – retruquei exasperado. A Francisca nos encarava sem entender nada.

- Você se saiu bem, hein irmãozinho? – observou o cínico.

- Vocês são irmãos?

- Por favor, Francisca, pode me dar uns minutos com esse sujeito? Peça ao pessoal para ficar de olho, acho que vamos ter que expulsá-lo daqui a pontapés. – ela correu para os fundos, tão atônita quanto perplexa, mas voltou trazendo consigo os funcionários que já haviam chegado.

- Me desculpe, Sr. José, eu só quis ajudar minha amiga Laura. – disse a Francisca chorando.

- Laura? Sua esposa se chama Laura? E o que é feito da Joventina? – indaguei, ele baixou o olhar, pois não conseguia encarar a Francisca. – Deixou-a com as três crianças e uma desculpa qualquer, não foi, seu desgraçado? – a Francisca mal podia acreditar que sua amiga estava prestes a descobrir quem era seu verdadeiro marido.

- Ficou tudo resolvido por lá! – respondeu o crápula.

- Resolvido para você! Duvido que qualquer uma delas saiba da existência da outra. É bem do seu feitio, um miserável que não vale o que caga! Ponha-se daqui para fora! Nunca mais ouse cruzar meu caminho, eu não sou mais aquele ingênuo e desprotegido que você e o Joviano estupravam todas as noites com a conivência de toda a família e, que você e o pai tentaram matar a pauladas antes de me abandonar na beira da estrada. – os funcionários ouviam meu desabafo atarantados com essa parte da minha vida que desconheciam.

- Estou numa pior! Você não há de chutar cachorro morto, seu próprio irmão?

- Foda-se! Foda-se, se está numa pior. Foi você quem cavou seu destino. E vou chutar cachorro morto sim! Não foi isso que você fez quando chutou meus rins e minhas costas depois de me açoitarem até eu não poder mais? Por que eu seria clemente com você? Você foi alguma vez quando eu implorava para não me estuprar? Foi?

- Nem é por mim, são meus filhos que estão passando fome. – suplicou.

- Esse é um problema seu! Pensasse nisso antes de colocá-los no mundo, de enganar uma mais uma coitada. Vá pegar no cabo de uma enxada, coisa que nunca fez lá no sítio, deixando o trabalho duro para mim e para nossas irmãs. Chega! Por favor, tirem esse sujeito da minha frente! Eu não posso mais! – berrei, no limite das minhas forças.

- Foi a perda do seu macho que te deixou tão revoltado? – questionou cínico.

- Cala a boca, verme! Você não sabe do que está falando!

- Aquele viado pelo menos teve o que mereceu! – insistiu, só para me espezinhar.

- Mereceu o quê? Ele está passando uma temporada com a mãe doente.

- A mãe dele morreu pouco depois que soube do acidente que o vitimou na BR-407. – afirmou, contente por me dar a notícia, ao perceber que eu não estava sabendo de nada. Só vi o mobiliário e o salão rodopiando a minha volta antes de tudo se apagar.

Havia uma equipe do SAMU me colocando numa maca quando recobrei os sentidos. O médico tornou a me examinar após recolocarem a maca no chão, e me perguntou se eu costumava ter esses apagões. Ante a minha negativa, sugeriu que procurasse um médico para fazer uns exames, mas me liberou.

Meus funcionários formavam um círculo à minha volta. Estavam chocados com a cena que presenciaram e com meu passado nefasto. Um por um se comprometeram a não me abandonar, incentivando-me a tocar a vida, apesar da ausência do Damião.

De mim só havia restado uma espécie de bagaço, quando todo sumo vital já foi extraído. Que sentido havia numa vida sem ele? Ele era o ar que eu respirava. Apesar de saber que nunca mais seria o mesmo, ergui a cabeça e prossegui. Prossegui porque esse era o nosso sonho, prossegui porque o Damião queria isso de mim, prossegui porque soube que ele não me abandonou. Quando na solidão do meu quarto com o lado da cama dele vazio, eu me via como uma rasga-beiço, assim chamam a jurema branca lá no sertão, com os galhos e ramos retorcidos pelas secas por que passava, mas suportando as intempéries do clima e, provendo os ruminantes na estiagem que dependiam dela para sua sobrevivência.

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Comentários

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parabéns Kherr Maravilhoso. Enquanto não pública contos novos, vou lendo os antigos dinovo e esse nunca tinha lido, passou batido. Impressionante como você mergulha no lugar do conto, conta com riqueza de detalhes a região e os costumes e gírias. minha família materna é do agreste Pernambuco e conheci a região e seus costumes. Fiquei muito emocionado com a morte do Damião. Não sei se o conto é baseado em algo real, mas está perfeito.

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Obrigado nego@! Fico contente que esteja relendo meus contos, é uma satisfação saber que os leitores curtem o que escrevo. Abração, meu querido!

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Cara, os contos desse autor são incríveis.

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Kherr...sei q talvez vc nem deve ler esses comentários. Mas, n posso deixar de deixar claro o quão artístico foi esse conto em sua melancolia e é, exatamente, por causa dela que te proponho e peço, de coração, que vc faça uma continuação desse conto. Embora haja o enfoque no núcleo do Damião e do Zé, há uma necessidade de uma retratação da felicidade do q vivo ficou. Por favor, considere esse pedido que, como eu e outros leitores seu, o fazemos.

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Tão envolvente e emocionante quanto deveria ser. Fiquei ao prantos com o fato de o protagonista ter uma família tão... nem tenho palavras. As conquistas que ambos obtiveram juntos alegrava-me como se eu fizesse parte de tudo aquilo , a notícia reveladora do final trágico me levou a chorar tanto quanto se eu fosse o protagonista que acabará acabara de sofrer tão perda. Ou seja INCRIVELMENTE MARAVILHOSO!!!

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Não tenho crítica nenhuma a este conto, perfeito em tudo que se propõe. Detalhe: a palavra tarugo é muito engraçada, conheço cachorros com este nome. Kherr sempre impecável.

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MINHA NOSSA SENHORA. ~PENSEI REALMENTE NUM MUNDO MARAVILHOSO ENTRE VC E O DAMIÃO. MAS PARECE QUE O DESTINO NÃO QUIS. A PRINCÍPIO PERCEBI QUE O DAMIÃO ESTAVA TE TRATANDO COMO SEUS IRMÃOS TE TRATAVAM, MAS VI QUE O QUE ELE SENTIA REALMENTE ERA AMOR POR VOCÊ. REALMENTE SEUS IRMÃOS E SUA FAMÍLIA TODA NÃO VALE AS FEZES DE UM CACHORRO. PARECIA UM CONTO DE FADAS,, MAL SABIA EU QUE O FINAL SERIA TRÁGICO. AQUI DE BOCA ABERTA. MAS DE FATO CREIO QUE DAMIÃO ONDE QUER QUE ESTEJA QUER QUE VC CONTINUE A OBRA QUE OS DOIS INICIARAM JUNTOS. SOFRA SEU LUTO, MAS ERGA A CABEÇA E SIGA SUA VIDA. ESPERO QUE ENCONTRE UM AMOR QUE POSSA TE FAZER FELIZ E PARA SEMPRE. LINDO CONTO, PARABÉNS. NÃO HÁ UMA SÓ LINHA QUE MEREÇA CRÍTICAS RUINS.

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Maravilhoso! Faço minhas as palavras do Tendo e do Blizard

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