Chapeuzinho Vermelho e o Lobo (uma releitura) - Capítulo 14

Um conto erótico de RedCap
Categoria: Gay
Contém 1883 palavras
Data: 07/06/2020 19:44:42

Senti algo quente atingir minha pele, bem na minha nuca e ombro esquerdo. Virei, e a luz do sol me fez fechar os olhos com força. Já era dia, e um dia de céu limpo, o sol brilhava envolto por um azul anil sem nuvens. Levantei da cama e fui pra sacada admirar aquela paisagem, que já começava a ser familiar, quando ouvi a porta abrir me virei e vi um Nicolas de pijamas entrar com uma bandeja de café da manhã.

- Bom dia! - disse sorridente.

¬ - Bom dia, dormiu bem? - falou enquanto repousava a bandeja sobre a mesa da varanda.

- Sim, e você? - perguntei, e não pude deixar de notar que tinha comida suficiente pra duas pessoas.

- Sim, foi ótimo! - disse ele enquanto se sentava, e fez menção pra eu me sentar também. - Eu acordei uns 10min antes de você. - informou.

- Ah sim. - respondi pegando uma das torradas, que estavam com uma cara ótima. - Essa geleia foi feita aqui? Num tem rótulo nem nada… - falei.

- Foi sim, vovó quem fez. Ela é ótima, precisa provar! - disse ele.

Comemos em silêncio por alguns minutos. O clima estava começando a pesar, e o momento do beijo de ontem começou a pairar no ar quase tocável. Ambos sabíamos que não seria possível uma relação como aquela. Mas de qualquer forma, parecia que algo recíproco acontecia em ambos. Resolvi perguntar por que daquilo antes que estragasse a viagem toda.

- Olha sobre o beijo de ontem… - falamos ao mesmo tempo. Nos olhamos com cara de assustados e rimos depois.

- Olha, eu sei que não podemos… er… ter essa relação, e por diversos motivos. Mas, eu acho que… er... sinto alguma coisa por você! - disse Nicolas.

- É, eu sei que não podemos levar isso adiante, e tá muito na cara que tenho um crush forte em você, pra eu começar a negar. - falei e ri na última parte. - Só que… A gente tá aqui, longe de tudo e de todos… - falei inseguro.

- E… não tem ninguém das nossas vidas “normais”. Podíamos esquecer disso tudo e nos permitir… Só por essa semana, claro! - exclamou Nicolas.

- Isso, isso… Só por essa semana. - falei. Olhamos e sorrimos um para o outro. Diante daquele sorriso, eu derreti por dentro mais uma vez.

Terminamos de tomar café, e enquanto Nicolas levava a badeja com as louças para a cozinha, eu troquei de roupas. Nicolas voltou e me encontrou vestido, e já havia arrumado a cama. Eu saí a espera-lo na sala, assim ele poderia trocar de roupas tranquilamente. Chegando lá, eu encontrei vovó e uma jovem que aparentava ter a minha idade ou menos.

- Bom dia vovó! Como a senhora está? - falei enquanto recebia um abraço aconchegante dela.

- Estou bem Eric! Dormiu bem? - perguntou.

- Sim. - respondi com simplicidade.

- Esta aqui é Roberta, ela é uma das moças que moram aqui comigo. - falou vovó. - Algumas delas devem chegar hoje. - falou.

- Ah sim, o Nicolas tinha me dito isso! - falei. - Prazer Roberta, me chamo Eric. - falei levantando e indo apertar sua mão.

- Oi Eric, prazer é meu! - falou Roberta sorridente e retribuiu o aperto. - Bom, me desculpem, mas vou lá pra cima desfazer minha mala. - falou e saiu logo em seguida em direção à escada.

Nicolas chegou um pouco depois que ela saiu, cumprimentou vovó de novo e avisou a ela que estávamos de saída. Ele tinha feito um programa pra gente passar o dia, iríamos visitar mais lugares da cidade, em especial a praça central, porque de dia ela ficava cheia de pessoas, e de barraquinhas diversas organizadas numa feirinha muito charmosa.

Chegamos à praça e resolvemos sentar numa das mesas que tinham por ali. Nicolas foi comprar uns sorvetes, enquanto o esperava liguei pros meus pais e falei que estava bem, que chegamos bem, apesar do ocorrido da blitz, não entrei em detalhes senão eles com certeza iriam brotar do chão pra me levar embora. Nicolas voltou com os sorvetes e começamos a conversar.

- E aí, o que pretende fazer depois que voltarmos? - perguntou ele atoa.

- Eu nem sei, é início das férias ainda, não sei se abstraio tudo da faculdade ou já adianto alguma coisa. - falei sério, mas ri alto depois. - Não vou adiantar é coisa nenhuma, isso eu deixo pra depois que voltarem as aulas.

- Ah com razão. Eu nem quero ver, os projetos estão ficando mais complexos e os professores cada dia pedem mais trabalhos, e com prazo curto. - disse ele, e não pude deixar de notar que seus lábios ficaram vermelhos por conta do sorvete gelado. - Tive uma ideia, vamos ali, na feira ver se encontramos alguma coisa legal pra levar pra casa. - disse ele me puxando.

Andamos pela feirinha, era tão charmosa com todas as barraquinhas no mesmo estilo de arrumação. Tinham barraquinhas de comidas típicas de alguns lugares do Brasil, barraquinhas de artigos de artesanato, e tinha uma barraquinha que chamou muito minha atenção, era uma de antiguidades da própria cidade, relíquias que foram reunidas e agora eram vendidas.

- Bom dia moço! - disse para o senhor que estava sentado atrás do balcão da barraquinha.

- Bom dia meu jovem. - respondeu solícito. - Podem olhar os artigos, se quiser eu pego algum que estiver longe pra você! - disse ele.

Tinham tantas coisas legais. Era a única barraquinha que tinha as laterais fechadas, pois nelas estavam estantes com mais artigos, eram muitos diferentes entre si, vasos, caixas, punhais, porta retratos, chaveiros, tudo muito bonito, e apesar de parecerem que tinham décadas estavam inteiros e perfeitos. Um em especial me chamou atenção, um chapéu marrom feminino, com um laço vermelho e suas abas demasiado grandes.

- O senhor pode pegar… Esse chapéu no alto dessa prateleira atrás do senhor pra eu ver? - pedi ao dono da barraquinha.

- Ah, claro, claro. Um minuto. - O senhor pegou o chapéu e me entregou. - Esse chapéu guarda uma história bem antiga meu rapaz. Uma história que também é um mistério. - disse ele fazendo suspense.

- Eu gosto de histórias. Pode contar se não se importar, ouvirei com todo prazer. - disse enquanto analisava o chapéu em minhas mãos, já tinha visto ele em outro lugar com toda certeza. Fazia força pra lembrar onde.

- Há muito tempo atrás este chapéu pertenceu uma moradora daqui mesmo, uma mulher atraente e com postura. Ela era muito decidida em suas escolhas. É claro que eu sou velho, mas nem tanto, pois ela viveu no tempo dos meus pais. E o que sei é devido ao que me foi passado. - começou o velho senhor em seu relato.

“Seu nome era bem conhecido, era Roboalda Marques Acônito.” - quando falou aquele nome tinha caído à ficha, aquele era o chapéu da foto que vi no cartório umas semanas antes acompanhado por Lola e André. - “Ela viveu aqui muitos anos, após um acidente de carro que tirou a vida de seu marido, ela encontrou na caça, uma atividade que a mantinha ocupada tempo suficiente pra não definhar sozinha em sua casa.”.

“Mas acalmem-se, ela não era sozinha, os filhos viviam em outras cidades, todos já criados e vinham visitá-la quase quatro vezes ao mês.” - disse ao ver nossas caras de assustados com a forma que havia falado aquilo. - “O fato é que ela ficou muito mal com a morte de seu marido, chegou a ficar internada sabem, ela quase ficou louca da cabeça.” - eu franzi a testa ao ouvir aquilo, provavelmente viria uma bomba pela frente.

“Ela acordava no meio da noite, diziam os médicos, gritando e chamando o marido, falando que viu um lobo gigante saltar na frente do carro. A perícia foi feita após o acidente, e constataram que o cabo do freio estava cortado. Foi uma tragédia mesmo, o cabo estava desgastado e se rompeu naquela viagem deles, sendo a última. Mais tarde quando já estava sã, ela que viveu sempre no campo, se ofereceu à prefeitura pra trabalhar nas lavouras.

Ai aconteceu uma série de ataques de animais aqui na cidade, e ela foi junto com outros caçadores à procura desses animais. Até que um dia ela matou um lobo enorme que apareceu aos arredores da cidade. Foi um feito incrível, ela já era uma idosa, mas deu conta do animal. A partir daí ela viveu tranquilamente até que faleceu naturalmente.” - ele terminou e eu fiquei com uma dúvida gigantesca, ela tinha sido assassinada, não foi naturalmente.

- Senhor… - eu tive que falar, minha língua estava coçando. - Ela não foi assassinada? Ela não morreu de forma natural, ela teve a cabeça cortada fora do corpo. - assim que terminei ele arregalou os olhos e depois os apertou.

- Meu rapaz, sabia que escondia alguma coisa não é? - disse soltando uma risada alta. - Poucos conseguiram a versão verdadeira de minha própria boca, sempre conto essa histórias, e para os mais audaciosos eu conto a versão verdadeira. - disse ele e soltou mais outra risada alta.

Eu sentia que Nicolas estava bem próximo de mim, e me olhava. Podia sentir o olhar dele de inquisição sobre mim, mas não tinha coragem de virar o rosto e encará-lo, será que ele desconfiava do por que eu estava tão interessado em saber da história? Será que ele já havia captado que eu estava investigando a vida dele e de toda a família dele? Tomara que não.

- Bom a versão verdadeira é que a mataram, um grupo de homens a sequestraram, pediram um resgate que não tiveram e cortaram sua cabeça. - completou a história com simplicidade. - A culpa recaiu em outro homem que era completamente alheio a toda situação. Rodolfo Bragança o nome dele. - disse, e naquele momento não pude mais ficar por ali.

- Ah obrigado senhor, foi muito esclarecedor todo seu relato, aqui o dinheiro, vou ficar com o chapéu. Muito obrigado, até logo. - falei e segurei o braço do Nicolas levando o pra longe dali. Teria que explicar tudo o que havia ocorrido naquela barraquinha, ele devia estar com a cabeça a mil por hora.

Depois de tomar uma boa distancia, com o braço do Nicolas bem firme ainda nas mãos, eu não pude deixar de notar que sua feição estava muito descontraída, mesmo para o que tinha acabado de acontecer. Eu resolvi começar antes que ele ficasse irritado, ou que aquilo tudo pudesse acabar com a nossa viagem dos sonhos que estava sendo até aquele momento.

- Nicolas, eu… - comecei, mas ele me interrompeu.

- Não quero saber! - disse firme.

- Mas é que… - fui interrompido de novo.

- Eric. - disse ele que se virou pra olhar nos meus olhos. Segurou meus ombros, como antes havia feito no quarto. - Eu não quero saber, de verdade essa não é a hora, nem o lugar. Vamos deixar essa conversa pra depois. Você e eu fizemos um trato lembra? - ele arqueou a sobrancelhas e sorriu.

- Sim, sim… Sim. - falei encarando aqueles olhos castanho-dourados. - Esquecer de tudo, de todos, e só nós, sermos só nós… - falei.

- Dois! - terminou ele pra mim. - Agora vamos comer, estou faminto. - disse ele que apontou pra um restaurante logo à frente.

Estava disposto a fazer aquela semana funcionar, e nada, nem mesmo uma informação que poderia ser crucial na minha investigação iria me atrapalhar. Afastei por aquele momento toda a história que aquele senhor havia me contado, coloquei aquele chapéu dentro da bolsa. Tomei a iniciativa, e segurei na mão de Nicolas e fomos andando em direção ao restaurante, o qual exalava um cheiro de comida mineira que só fazia minha fome aumentar.

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