Minhas transas e meus homens - Parte 7

Um conto erótico de TeuToque
Categoria: Gay
Contém 2593 palavras
Data: 29/05/2020 22:55:45
Assuntos: Fetiches, Gay, Sexo casual

Eu acordo de manhã e me lembro da cena de quando cheguei em casa.

Nelson talvez tivesse me esperado chegar e acabou caindo no sono e a pizza deve ter apodrecido. Tudo bem que vinho e pizza não eram as coisas mais requintadas do mundo (a suíte com Celso provavelmente era o triplo do preço daqueles itens), mas se tratando de Nelson aquele gesto significava muito.

Ter um relacionamento com alguém debaixo de mesmo teto era bem complicado, mesmo que esse relacionamento fosse claro pra um mas um tanto confuso pra outro.

Apesar das minhas escolhas sujas eu amava mesmo Gilberto. Eu acreditava que a gente podia ter algo a mais e a julgar pela sua beleza e sua solteirice estranha, podia ser que ele não fosse tão inacessível romanticamente como eu cheguei a achar.

Por isso, incomodado com a experiência da noite passada com Celso e como minha carne era fraca e eu era sucumbido pelos meus desejos mais animalescos, decidi pôr os pontos nos is da minha vida.

Decidi que por mais difícil que fosse e por mais que adorasse transar com Nelson, eu tinha que acabar com o que quer que tivesse começado entre a gente.

“Nelson, a gente precisa conversar.”

Sentamos na mesinha da cozinha e entre goladas de café e mordidas de um bolo ressecado, deixei claro que nós dois não podíamos mais transar. Falei que estava começando a sentir sentimentos fortes por outra pessoa e esperava que Nelson entendesse e que ele era um dos homens mais charmosos e bons de cama que eu já tinha conhecido (isso o fez sorrir), mas pra mantermos nossa amizade precisaríamos dar um fim naquilo.

Nelson, como bom artista que era e sempre adepto a simpatia, sorriu. Disse que estava gostando do que a gente tinha, mas que entendia que eu estava entrando em algo mais profundo com outra pessoa (ele mal sabia de quem se tratava essa pessoa).

Tomei um banho demorado e perfumei o cabelo pra encontrar Gilberto no trabalho.

Faltava uma hora pra entrarmos e perguntei se ele queria fumar no nosso esconderijo.

O fim de tarde era poético e agradável. Nos sentamos em uma duna e o vento soprava nossos cabelos.

Eu sentei bem pertinho de Gilberto e ficamos em silêncio por um instante.

“Seu primo é bem estranho.”

Sinto a boca secar.

“É, ele anda bem...”, tento pensar em uma desculpa. “... revoltado depois que terminou com a namorada. Você sabe, chifre nunca é fácil.”

“Que chato", Gilberto dá uma baforada, fazendo uma careta de quem chupou um limão.

“É, muito chato.”

Eu encosto minha mão sobre a dele.

Gilberto me olha e sorri. Depois joga o resto de cigarro fora num peteleco.

“Você sabe”, minha voz soa terna.

“O quê”, Gilberto se faz de desentendido.

“Você sabe que eu gosto de você”, meu coração acelera e eu não posso acreditar no que estou dizendo.

“Isso é bem óbvio”, Gilberto olha pras minha mão na dele e sorri.

“Seu convencido", eu dou um tapinha no peito dele.

Mais um momento em silêncio. As ondas quebram à distância e algumas pessoas passeiam pela orla da praia.

“Eu também gosto de você”, Gilberto me surpreende me encarando.

Eu respondo dando um selinho na boca dele.

Naquele momento, o mundo parou por um segundo. Foi exato um segundo, mas que pra mim surtiu como um filme, um livro ou algo bem mais longo, mais intenso. Eu sentia a paixão tomar conta do meu coração de uma maneira única. Naquele momento meu amor por Gilberto tinha começado a florescer, já não era mais uma semente que depende de certos fatores para germinar. Com aquela frase dele e aquele beijinho inocente, as flores do nosso amor resplandeciam e agora mais do que nunca eu não podia pensar em mais ninguém que não Gilberto.

“Vamos", ele segura minha mão. “Temos que ir.”

Chegamos atrasados cinco minutos e eu passo o expediente todo sorridente.

Eu e Gilberto trocamos olhares românticos e ele sorri quando um cliente derrama champanhe em si próprio. Eu sorrio ainda mais, saboreando aquela sincronicidade gostosa de olhares e risinhos entre a gente.

A semana toda segue nesse ritmo.

Me despeço pela manhã de um Nelson que me sorri, meio triste, e vou me encontrar com meu amor nas dunas, na nossa companhia.

Ficamos sempre sentados, encostados um no outro.

Na segunda eu encostado no ombro dele. Na terça, ele com a cabeça no meu colo. Na quarta eu, no colo dele. Na quinta, deitados e eu recostado no peito dele. E na sexta estamos reunidos novamente.

“Você mora só?”, pergunto curioso.

“Moro com minha família. Meus pais e minhas irmãs.”

“Tem vontade de se mudar?”, eu brinco com a orelha dele.

“Por quê? Quer me convidar pra morar com você?” ele sorri, convencido.

Eu coro de vergonha e ele sorri ainda mais.

“Você se acha tanto assim porque sabe que é lindo”, eu aproximo minha boca do queixo dele.

“Você também não fica atrás” e ele também se aproxima.

E pela primeira vez nos beijamos de fato.

O encontro das nossas bocas é ainda melhor do que em meus sonhos. Gilberto me beija só como um príncipe beijaria e o gosto daquele beijo é o melhor de todos o que já provei. Ele era inigualável, único. Abraçados eu mergulho nesse mar de amor e contentamento.

Trocamos mensagens e eu fico feito bobo a admirar a tela do celular de madrugada.

Mais uma semana se segue e nossos beijos se tornam cada vez mais recorrentes. Eu já não me sinto pisando em ovos com Gilberto e muito menos tenso. Pelo contrário. A imagem dele me traz conforto e toda a tensão antes de nos conhecermos melhor ficou pra trás. Caímos na risada quando nos lembramos das nossas discussões bobas e ele sorri pra valer quando confesso minha paixonite e como tentei esconder no começo. Mas sempre o desejei com todas as minhas forças.

Como um adolescente, eu escrevo num caderno que fazem exatas duas semanas em que estamos ficando.

Sou eu quem dá a iniciativa de transarmos, já que mal podia esperar pra fazer amor pela primeira vez.

Justo eu que sempre trepava, fodia, dava. Mas agora eu recebia de volta. E a ideia de me entregar e ver outro se entregar me fascinava.

Mas Gilberto pareceu hesitar, o que me desapontou.

“Eu não quero parecer rude...”

Ele não consegue me olhar nos olhos, parece incomodado consigo próprio.

“É só que... eu nunca fiz isso antes e...”

“Tudo bem. Você não precisa se explicar.” Eu forço o máximo de maturidade possível mesmo que por dentro eu me sinta um adolescente cheio de hormônios namorando uma garota que escolheu esperar.

Tento não deixar as coisas estranhas e deixar que minha frustração surja e depois desapareça quando a serenidade que eu finjo realmente retornar. Então eu e Gilberto batemos os palmos das mãos nos livrando dos grãos de areia inoportunos e partimos pra mais uma noite de trabalho.

Gilberto me rouba um selinho.

“Você... “, ele desvia o olhar feito uma criança que quer saber se pode sair do castigo. “... tá chateado?”

E ele me olha com uma feição de cachorrinho sem dono e logo minha irritabilidade vai embora.

Duas semanas, eu escrevo no papel, à noite, depois que Gilberto me deixa em casa. Duas maravilhosas semanas.

“Sim, eu tenho disponibilidade na sexta", ouço a voz de Nelson da cozinha.

Estou deitado de bruços só de cueca e de banho recém tomado. Coloquei uma playlist romântica e estou escrevendo um resumo desses 14 dias incríveis em que eu e Gilberto começamos a nos envolver. Faço questão de escrever o nome dele em negrito e me demoro na caligrafia, como se deixasse impresso no papel o modo mais bonito que conseguia de escrever o nome do meu amado. Só que a pressão na caneta começa a afetar meus dedos e eu resolvo dar uma pausa pra tomar água.

“Eu trabalho com cachê fixo. Eu posso estar repassando os valores por mensagem", Nelson estava nu e acariciava a barriga. Sua barba estava irregular e dava pra ver que ele se encontrava ainda mais desgrenhado que de costume.

“Só um minuto", Nelson se livra do celular por um momento e me pergunta se tenho papel e caneta. Ele precisava anotar algo.

“No meu quarto”, eu digo enchendo o copo de água.

E assim que ele sai em direção ao meu quarto eu me dou conta do que eu tinha acabado de fazer. Aberta a página do caderno, Nelson saberia que eu e seu amigo tínhamos começado um caso. E não, ele não podia saber disso, principalmente porque eu tinha deixado de transar com ele pra ficar com Gilberto.

Eu corro atrás dele quase jogando o copo no chão e dou de cara Nelson a me olhar com uma expressão que eu sabia muito bem o que significava.

Ele tinha lido.

“Ok. Certo", o pênis dele balança conforme ele fala ao celular. “Combinado então. Eu agradeço, viu? Obrigado. Tchau.”

Nelson se encaminha para o quarto dele e em confusão, não sei se devo impedi-lo. Por mais que eu queira deixar que ele vá e eu me tranque no meu quarto eu preciso deixar claro que eu não queria causar nenhum desconforto e que aquilo precisava ficar entre a gente.

“Nelson.”

Ele para antes de fechar a porta.

“Olha, eu não quero que você fique chateado...”

“Eu não tô chateado", e pela voz dele ele realmente parecia bem tranquilo. Mas aquele era Nelson, ele não gritaria comigo mesmo que eu deixasse de pagar minha parte do aluguel por 6 meses seguidos.

“Ele ainda não tá confortável com a ideia... eu quero que você não comente nada com ele. Tudo bem?”

O olhar de Nelson parece cansado e distante. Eu não sabia se ele estava profundamente desapontado ou se não dava a mínima.

“Pode ficar tranquilo”, e ele me sorri meio triste e fecha a porta.

Eu estava confundindo as coisas ou eu tinha quebrado o coração de Nelson? Ou eu estava sendo terrivelmente narcisista e achando que tudo se resumia a mim e o quanto eu era irresistível?

Tento esquecer do mal entendido e me preparo pro trabalho.

Como de costume eu e Gilberto nos encontramos no nosso cantinho secreto. Ele segura a minha mão enquanto caminhamos até a área que gostávamos de ficar e eu sinto o calor da mão dele e seus dedos ásperos. Algumas nuvens se formam e eu gosto do como o cenário parece cinzento e pacífico.

“Quero que você faça cafuné no meu cabelo", Gilberto pede sem cerimônia e repousa a cabeça no meu colo. Eu percebo que minhas unhas começam a atingir o nível em que remetem a francesinha e meus dedos femininos brincam com os fios curtos do meu amado. Ouvimos um trovão à distância.

E de repente eu me lembro que Nelson sabia.

“Gilberto.” Minha voz soa séria demais pro meu gosto.

“Hum?”, ele parece relaxado demais com seus olhinhos fechados e sonolência. O trabalho de garçom demandava demais dele.

“Como você se sentiria se as pessoas soubessem da gente?”

E num piscar de olhos ele franze o cenho, semicerra a vista e senta-se. A postura dele me causa irritabilidade e eu entendia que ele tinha alguns limites. Mas a ideia de nos assumirmos pra ele parecer tão desorientadora me ofende.

“O que foi? Perdeu a voz?” minha agressividade transparece no meu tom de voz.

“O quê? Como?”

A confusão de Gilberto me causa ira.

“Para de se fazer de desentendido”, eu me preparo pra me erguer, esfregando as mãos. “Você me ouviu bem.”

“Qual é o seu problema?”

“Qual o meu problema?”, eu me ouço gritar. E então suspiro impaciente. “O meu problema é você ficar em cima do muro.”

“Fala baixo", a voz sexy agora me causa repulsa.

“Tá vendo? É esse terror no seu olhar quando eu falo sobre a gente assumir o que a gente tem!”

“Assumir o quê? Pirou?”

E então meu peito se estilhaça em mil pedaços. Minha marra e revolta se perdem no meio do rio de tristeza r melancolia que aquelas palavras me causam. Não quero transparecer minha fragilidade e tudo o que consigo fazer é correr. O mais rápido que posso.

Outro trovão e os ventos aumentam a intensidade.

“Duda!”

A voz já soa distante. Eu corro e meus joelhos doem no compasso das minhas pisadas na areia fofa. As lágrimas caem e brotam a todo momento. Quero soluçar, mas trancafio meu choro a sete chaves por mais que ele pareça arrombar a porta e os cadeados que insisto em pôr pra que ele não veja meu estado, apesar de desconfiar. Gilberto nunca tinha me visto chorar. Não seria agora que veria.

Sou chamado atenção pela gerência quando chego 20 minutos atrasado ao meu posto. Tudo porque tive que tomar banho e me recompor no banheiro dos funcionários, chorando com a palma da mão na boca. Eu me odiava por me encontrar naquele estado. Me odiava por amar um cara que não dava a mínima pra mim e jamais assumiria um compromisso comigo. Eu me envolvendo sempre com os caras errados. Os caras que não eram héteros, nem gays, nem bi, nem coisa alguma. Era tudo e nada. E as lágrimas tinham se misturado com o aguaceiro do chuveiro.

Ignoro a noite toda a presença do meu ex-amor à distância.

Agora que o choro tinha acontecido e partido em retirada (com a promessa de que retornaria o quanto antes), eu era só rancor e ódio. Dele e principalmente por mim mesmo.

O celular toca e o número é de Celso.

“O que você quer me ligando?”

“Eu quero te ver hoje.”

Estou prestes a mandar Celso tomar no cu quando meu olhar se encontra com o de Gilberto. Ele me observa com seu olhar de cão sem dono e eu desvio meus olhos, sentindo cada membro do meu corpo tensionar de raiva.

“Vem me buscar no trabalho daqui a meia hora.”

Passado algum tempo, os clientes se preparavam pra ir embora. Faltavam quinze minutos para a meia noite e impaciente (não queria ter que lidar com a presença de Gilberto esgueirando ao longe), dei meu turno por encerrado e subi as escadas para a área dos funcionários.

Quando estou trocando de roupa ouço passos vindos da escada.

“Ei.”

Gilberto caminha em minha direção.

Eu bato a porta do meu armário e de forma dramática saio correndo até as escadas.

Ele parece me seguir e corre atrás de mim ate a saída dos empregados.

“Me larga!”

Eu sinto Gilberto tentar me impedir segurando meu braço.

“Espera. Para de gritar. Desculpa.” A voz dele soa sussurrante e me dói saber que nosso relacionamento vai ser baseado em sussurros e emoções contidas. Eu nem mesmo podia me dar o luxo de brigar com ele pra não levantar olhares ou chamar atenção.

“Que palhaçada é essa?”

A voz de Celso da rua ecoa. O último carro dos clientes tinha dobrado a esquina. O pessoal limpava as coisas lá dentro. Estávamos só eu, Gilberto e Celso naquele começo de madrugada completamente deserto.

“Eu tô te esperando há um tempão”, Celso aponta pro relógio. “Você que me mandou vir, porra!”

Eu olho desconcertado pra Gilberto. Mas a feição de cãozinho fofinho se foi. Tudo que resta é decepção.

“Quer saber? Cansei dessa palhaçada. Pode dar pra esse aí, sua vagabunda!”

E ele arranca no carro.

Eu desabo no chão de vergonha e choro, enquanto Gilberto me dá as costas sem olhar pra trás e volta ao cerimonial para ajudar os outros garçons a guardar as taças de cristal.

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Comentários

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quem. muito escolhe acaba sem. auto estima nao passou na sua vida

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