Romance no rio 4

Um conto erótico de Dan_emin
Categoria: Gay
Contém 1742 palavras
Data: 15/04/2020 20:10:00
Assuntos: Gay, Romance

- Como você soube que eu estaria aqui agora? – foi a primeira coisa que me veio a cabeça quando nos sentamos, já imaginando que ele estivesse me seguindo.

- Eu vim as últimas semanas aqui todo dia pra ver se te encontrava, achei que frequentasse.

- E frequento, só quis evitar te encontrar – falei com toda a sinceridade e frieza que tinha.

- Você nem me deixou falar aquele dia, explicar...

- Explicar o que, Igor? E falar agora não vai mudar nada do que aconteceu.

- Mas eu sinto que devo, me escuta por favor.

- Está bem, Igor. Estou todo ouvidos.

- Primeiro me desculpe. Eu não consegui deixar de pensar essas últimas semanas em todo sofrimento que você me disse ter sentido. Eu não queria ter causado aquilo tudo.

- Isso é passado.

- Tudo bem, eu não vou querer que você responda o pedido agora; mas só queria falar.

- Está bem e o que mais?

- Thiago, eu juro que eu não queria ter te feito sofrer, nem te abandonado, mas aconteceu tanta coisa.

- Vai me dizer que nunca teve cinco minutos para escrever uma carta? - Falei ironicamente

- Eu vou começar do início. Quando chegamos a capital ficamos morando de favor em um barraco no fundo da casa da minha avó um bom tempo, o cara que tinha prometido emprego pro meu pai sumiu e ficamos na pior. Meu pai fazendo bicos, me levando junto pras obras, enfim não tínhamos dinheiro pra nada.

- Eu entendo, Igor. Eu também passei muitas dificuldades quando vim pra cá com meus pais e logo tive que cuidar das contas também. Mas não estou entendendo o que isso tem a ver...

- Isso é uma parte da história. A parte que explica eu nunca ter pegado um ônibus pra ir te ver. Mas além disso meu pai me pegou no primeiro dia que estava escrevendo a carta pra você, ele me deu uma surra, disse que já desconfiava, que não ia admitir aquilo, que não tinha criado filho baitola. Eu assumi pra ele que gostava mesmo de você e não ia desistir.

- Eu sinto muito Igor

- Eu não ia desistir mesmo, mas ele ameaçou. Disse que ia mandar uma carta pro seus pais contando tudo pra eles, que você ia ser expulso de casa e jogou isso na minha cara que ia ser minha culpa. Eu fiquei de mãos atadas, não podia correr o risco de prejudicar sua vida tanto assim. Ele ainda me disse que já tinha conversado com seu pai antes de virmos, que se algum dia chegasse uma carta ou contato meu pra ele avisá-lo...

- Eu jamais imaginei, mas - eu falei parando um tempo pra digerir toda aquela história- porque você nunca tentou nem procurar nos anos seguintes.

- Eu vou chegar lá. Depois de alguns meses eu juntei um dinheiro dos bicos que fazia por fora e fui comprar uma passagem de ônibus. Mas meu pai ao me ver juntando umas roupas sacou que eu estava me mandando. Tomei mais uma surra e ele me disse que se eu fugisse também pra vir atrás de você ele ia avisar seus pais. Isso durou alguns anos, até ele me confessar já próximo de morrer que tinha blefado sobre ter conversado com seu pai e me pedir desculpas por ter interferido tanto na minha vida. Quando ele morreu, a primeira coisa que fiz foi ir a nossa cidadezinha.

- Nós nos mudamos quando eu vim fazer faculdade, mas...você voltou mesmo lá?

- Voltei. E Estava tudo do jeitinho que eu lembrava, só não tinha você lá – ele falou segurando minha mão e sorrindo sincero.

- Desculpe, Igor – eu falei ao puxar minha mão involuntariamente da dele- é muita coisa pra eu processar.

- Eu entendo. E eu sinto muito Thiago, por tudo que você passou por minha culpa, todo sofrimento, eu senti isso bem no último dia que nos encontramos.

- Você também pelo jeito não viveu um mar de rosas né? – falei sorrindo pra quebrar a tensão e ao mesmo tempo enxugando uma lágrima que desceu teimosamente pelo meu rosto.

- Mas o seu foi pior, eu imagino. Por que eu pelo menos me lembrava do que vivemos como uma verdade e pra você depois foi como se tudo fosse uma mentira – ele falou segurando minha mão mais uma vez e dessa vez eu não puxei.

Estava ainda um pouco anestesiado, olhava pra ele e parecia que estava num sonho surreal. Aquele cabelo levemente encaracolado, as sombrancelhas grossas, olhos castanhos expressivos, a barba cerrada circulando aqueles lábios carnudos. Ele usava uma blusa colada ao corpo que realçava o peitoral largo e deixada a mostra seus antebraços bem desenhados.

Ao mesmo tempo que sentia um alívio enorme, sentia também o buraco ainda aberto pelo sofrimento que passei por causa dele.

_ é foi difícil, mas isso é passado. O que aconteceu não tem como ser alterado – falei recuperando o fôlego e novamente soltamos as mãos

_ O que você quer dizer? – ele falou e percebi uma pontada de dor nos olhos dele.

_ Igor eu sinto muito por tudo isso que você me disse, sinto mesmo e agora acredito que não foi descaso seu se afastar; mas isso não muda o buraco que você deixou aqui -falei apontando meu peito- eu não quero, eu não posso passar por isso de novo. Me desculpe eu não posso me aproximar de você.

_ Por favor, agora que te encontrei não me corta assim.

_ O que você quer de mim, Igor? Eu acho que não posso, nem nunca vou poder te dar nada do que esteja pensando.

_ Não precisa se preocupar em me dar nada, só me deixa aproximar de você de novo. Janta comigo amanhã?

_ Eu..- ia negar, mas ele me olhou de uma forma tão desesperada e terna que não consegui ser tão seco – está bem, podemos jantar – ele abriu um sorriso, o mesmo sorriso que deu na primeira vez que nos vimos e eu não consegui controlar dar um leve sorriso também – mas agora preciso ir, Igor. Muitas emoções pra um dia.

Trocamos telefone e ele ficou de me ligar no dia seguinte pra marcar certinho onde iríamos.

Estava ansioso já esperando pela ligação dele sentado no sofá da sala com minha mãe arrumado pra sair.

- Gente, mas onde você vai tão cheiroso assim? – ela perguntou sorrindo.

- Oxe, e eu não sou cheiroso sempre? – falei provocando ela.

- Claro que é, mas hoje tá demais

- Tá mesmo? Falei preocupado - acho que vou lá tirar então.

- Nada disso, tá ótimo, sem exageros, só cheiroso e lindo– ela falou me dando um cheiro no pescoço – só queria saber pra quem é isso tudo.

- Mas a senhora tá muito curiosa – falei fazendo cócegas nela e meu celular tocou na hora. Era Igor me avisando que já estava me esperando na rua.

- Depois eu te conto, mas agora preciso ir – falei e me abaixei pra beijá-la mais uma vez.

Cheguei na rua e Igor me esperava encostado no carro com as mãos nos bolsos. Ele estava muito lindo, com uma calça jeans que realçava suas coxas grossas e uma camisa preta um pouco colada ao corpo com as mangas até o meio dos antebraços.

Ele abriu a porta pra eu entrar sorrindo, entrou no carro e partimos pro restaurante.

Igor me contou um pouco da vida dele, os anos de trabalho, os estudos até chegar a se tornar dono de uma construtora. Eu ouvia tudo encantado por saber o que sempre desejei durante os anos que passamos longe.

- E você nunca se casou? Quis família? - perguntei fingindo displicência enquanto tomava um gole do vinho a frente.

- Tive alguns relacionamentos, mas de fato nunca cheguei a me apaixonar de novo. E você? – ele falou me olhando atentamente.

- Posso dizer que nesse quesito somos bem parecidos

Igor parou o carro em frente minha casa depois daquela noite maravilhosa, mas parece que ambos não queríamos que ela acabasse.

Ficamos um tempo parados sem dizer nada.

- É, acho que não podemos reclamar da vida né – falei passando a mão no painel do carro dele observando a beleza e textura – lembrar de onde saímos e tudo que conquistamos. Tanta coisa que passamos.

- É mesmo, as vezes lembro disso e serve de combustível pra conquistar mais.

- Eu também, cada contrato novo que fecho comemoro como se fosse o primeiro. Aquele dia que te encontrei estava até comemorando com meu amigo lá na cafeteria – falei me virando pra ele.

- Eu lembro, seus olhos brilhavam, achei que era paixão por ele, senti um ciúme enorme – ele confessou.

- O Rubens?! Não, é meu amigo, meu irmão praticamente. Nunca tive um, mas acho que é até mais.

- Que bom – ele sorriu parecendo aliviado

Ficamos nos olhando um pouco e antes que eu desse por mim a boca dele já estava colada na minha. Fechei os olhos e mergulhei naquele beijo ardente. Nossas línguas se enroscavam enquanto ele ia aproximando mais seu corpo do meu me abraçando forte.

Nos beijamos intensamente até perder o fôlego e me afastar dele.

- Me desculpe, não devia pressionar assim, mas queria muito isso – ele falou alarmado estudando minhas reações enquanto eu ficava com a cabeça abaixada ainda sem coragem de olhá-lo.

_Tudo bem – falei levantando meu rosto para olhá-lo – eu também queria.

Igor me puxou pra um abraço e ficamos assim por um tempo apenas sentindo o calor um do outro.

Desci do carro e me abaixei na janela uma última vez pra agradecer pela ótima noite. Entrei em casa parecendo que estava nas nuvens, mas ao mesmo tempo com uma vozinha lá no fundo da cabeça me dizendo que não devia me permitir sentir aquilo de novo.

- Já chegou? – minha mãe perguntou do sofá da sala.

- Sim – falei sorrindo bobamente e vindo me sentar ao seu lado.

- Gente, que sorriso é esse, nunca vi, agora pode me falar quem é o responsável por isso? – ela perguntou toda ouriçada.

_ O Igor

_ Que I...- ela ia perguntar quando de repente falou não acreditando – Nãooo, aquele Igor?

_ Ele mesmo – falei sorrindo pra ela.

_ Mas como?? Depois de todo esse tempo.

_ Uma longa história, mamãe. Te conto depois... – falei me levantando pra ir pro meu quarto.

_ Thiago, você tem que se afastar desse rapaz. Tudo que você sofreu por causa dele, não...se afaste dele, não quero você sofrendo de novo.

_ Está tudo bem mamãe, não se preocupe tá. Falei me abaixando para dar-lhe um beijo na testa e fui pro meu quarto.

Foi difícil pegar no sono aquela noite.

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