Amor não é sexo. 01.

Um conto erótico de augustolincon
Categoria: Gay
Contém 2445 palavras
Data: 05/04/2020 22:39:30
Assuntos: Gay

Sinopse.

Alberto é um jovem médico que sempre estudou informática e era apaixonado por robótica. Após seu esposo, Cristiano, desaparecer durante um passeio, depois de cair de um barco, ele decide visitar Tóquio determinado a conseguir materiais para criar um androide à imagem e semelhança de seu amado. O cientista Alberto consegue chegar ao ápice de seu trabalho quando cria um robô androide com as mesmas características físicas e psicológicas de Cristiano, seu marido que caiu no mar durante um acidente três anos antes e foi dado como morto. O rapaz passou todo o tempo buscando métodos e tecnologias para finalmente recriar o amado. Porém, tanta humanidade pode não ter sido uma boa ideia, afinal sua criação foi inspirada na essência do humano. O robô foi desenvolvido para amar Alberto, seu criador. Poderá o androide sentir ciúmes?

Se o robô Cristiano vai ser igual ao verdadeiro e amar Alberto como o humano amava, só o tempo poderá dizer.

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Sempre disse que existe uma diferença grande entre sentir saudade e sentir falta.

Você sente saudade da sua infância, a nostalgia de coisas que te lembram momentos bons.

Sente saudade de um amigo, de programas de TV e do sabor daquele sorvete que vendia perto da sua casa. Saudade daquela música que te lembra um passeio, uma viagem.

E até então eu sentia saudade de muitas coisas. Mas experimentar o “sentir falta” é uma experiência que esmaga muito mais que a saudade.

Perder alguém próximo é uma experiência que consome aos poucos. Perdi meu avô, assim como você pode ter perdido alguém muito próximo de você. A falta de alguém é muito mais do que a saudade. A falta do cheiro, da voz, e até do som do caminhar apertam o coração.

"Quantas vezes aconteceu algo e eu quis contar pra ele? Quantas vezes sonhei com o barulho das chaves em seu bolso? Quantas vezes ainda vou me pegar pensando no seu cantarolar? E ao ver que são detalhes que ficam somente na memória, fecho os olhos e tento experimentar os momentos de forma mais real possível."

O luto é diferente, é a sensação da pessoa ainda estar ali e de repente você se dar conta que não está.

Não é algo que você sente o tempo todo, mas que quando sente tira o ar. É a sensação de que nenhum tempo do mundo foi suficiente. A ausência se faz presente em todo lugar.

São nos detalhes que você se perde e é na saudade que você repousa. São nas lembranças que você se conforta. É nessa saudade que você leva para sempre, que te lembra que os momentos bons não se apagam com o tempo.

São os momentos bons que ficam, no final de tudo. E por isso você deve aproveitar cada pessoa e cada momento, que são únicos, porque são eles que nos acompanham. São eles que nos fazem quem somos, e levamos um pedaço de cada pessoa por nossas vidas.

Somos feitos de pedaços, e cada pedaço leva um nome e um momento único. Que sejamos mais doces, para que nossa marca no outro seja assim, nada além de bom.

***

Sérgio.

No dia do casamento dos meus amigos, Alberto e Cristiano, eu quase não fui. Depois de um tempo, quando eu parecia já ter me acostumado a vê-los como um casal, a dor voltou com tudo. Eu estava sentado no meu quarto, vestido para ir ao casamento deles… então eu chorei muito, pensei sobre como tudo poderia ter sido diferente se eu tivesse me declarado primeiro ao Cristiano. Ver que eu estava para vê-lo entregar-se, de uma vez por todas, ao meu melhor amigo…

Ah doeu em mim. Decidi que não iria a casamento algum naquela tarde. Chorei sozinho em meu quarto. Eu já tinha a amizade e a gratidão do Cristiano, mas não era apenas isso que eu queria dele. No casamento, eu controlei meu choro, como quem chorava por dentro.

Eu e o Alberto nos conhecemos em um trabalho voluntário, logo viramos amigos. Mas eu conheci o Cristiano primeiro! Ele cuidava do jardim das casas e vendia quadros pelas ruas. Eu comprei alguns quadros, e depois suas telas serviram de desculpas para que eu pudesse vê-lo e trocarmos algumas palavras. Ele virou meu amigo. Para ajudá-lo, eu o indiquei para cuidar do jardim da mansão do Alberto, meu amigo de um bom tempo na época.

Eu estava para abrir meu coração para o Cristiano, quando o Alberto e ele se apaixonaram. Eles me contaram que queriam noivar e casar. Fiquei sem saber como agir. Nessa época, eu ainda era universitário.

O Cristiano combinava mais comigo e creio que teríamos tido uma bonita história. Mas o Alberto, com todo seu dinheiro e inteligência de gênio, conquistou o meu pintor em pouco tempo. O meu lindo amigo deixou de ser apenas o jardineiro da casa e tornou-se o esposo do Alberto. Confesso que eu me sentia um monstro por sentir ciúmes deles, mesmo sem desejar mal a eles…

Eu sonhei com o Cris, esperei que ficássemos mais amigos, para que nos conhecêssemos melhor e eu pudesse contar que o amava. O Cristiano iria tirar minha virgindade, mas acabei tendo minha primeira vez com um garoto de programa. O Alberto teve um namoradinho antes de conhecer o Cris.

Eu guardei meu sentimento, tolerei a paixão dos dois. Participei da vida deles e o Cristiano continuou sendo meu crush, minha paixão secreta. Me convidaram pra sair com eles pra tudo que é lugar e passeios… eu dormia na casa do Alberto, assistimos, os três, a filmes e séries… Tenho vários quadros pintados pelo Cristiano… Ele era lindo. 😍

“Era”, porque ele morreu há três anos, quando estava casado com o Alberto há um bom tempo. Culpa de uma violenta tempestade. Ele caiu no mar e desapareceu. Seu corpo nunca foi encontrado. Foi numa tarde, em um passeio de barco, quando Alberto o viu pela últimas vez.

O nosso lindinho se foi pra sempre. ☹️

Eu até hoje não acredito, não me conformo. Queria ele vivo, mesmo que com outro. Eles me incluíam na vida deles. Guardei segredo, nunca contei que o amava demais.

O Alberto mudou desde o acidente, deixou de sorrir… Nossa amizade continua até hoje. Eu passei a ser frio, a sair com vários homens. Resolvi não me apaixonar, mas apenas fazer sexo.

Nunca vi o Alberto tão triste como depois da morte do Cristiano.

Eu também sofro e sinto muito, pelos dois, pois me dói ver meu melhor amigo sofrendo de saudades e nesse luto sem fim. 😟

Outro dia em sua casa, nós nos beijamos de língua. Mas não conseguimos ir adiante. Foi como se o Cris estivesse bem perto da gente, então não rolou nada além daquele beijo.

Eu moro com uma irmã caçula e meus pais, em uma casa confortável. Me formei e sou dermatologista. O Alberto também é médico, mas não está trabalhando na área. É que além de não conseguir superar a grande perda, ele herdou muita grana de seus pais. A casa dele é uma mansão linda. Ele é foda nessa coisa de robótica. Parece um homem do futuro.

O Cris pintava lindos quadros e parecia que falava com as plantas, que entendia a natureza como ninguém… Ah aqueles olhos… eram como duas pedras preciosas… um jeito simples e alegre de ser. Ele tinha a minha idade quando morreu no mar: 23 anos. O Alberto é um pouco mais velho que eu, alguns anos.

Três anos se passaram e ainda não conseguimos nos conformar - Principalmente o Alberto.

Eu não entendo a vida, definitivamente. Ninguém deveria poder matar alguém, nem nenhum tipo de morte devia acontecer… Já imaginou? Um mundo em que ninguém morresse?

Não sou religioso, contudo acredito na existência de um bondoso Criador, e que ele é feito de amor. “Quem pintou o mundo? Quem escolheu a cor? Fez o sol amarelo, pôs o verde na floresta e o vermelho em uma flor? Quem pintou o mundo? Quem escolheu os tons? Fez a noite escura, desenhou a clara lua, misturando o que era bom?... O maior pintor do mundo, o Criador!”.

Outro dia eu consegui levar o Alberto a uma festa. Lá, um homem lindo flertou com a gente. O Alberto não quis conhecer ninguém. Depois estávamos conversando com o tal gato. Ele me paquerou e trocamos nossos zaps. Eu só não transei com o Gabriel porque eu precisei voltar com o Alberto e dormir em sua casa. O meu amigo estava carente e precisando de mim por perto. Enquanto ele dormia, transei com um garoto de programa. Depois o delicioso rapaz foi embora.

Houve um momento, enquanto conversávamos com o Gabriel, em que o Alberto bebeu um pouco e acabou contando ao outro de sua ideia de terminar de construir um robô igual ao Cristiano. Notei que o Gabriel sentiu muita pena do Alberto. Escutamos o Alberto falar e falar…

Vimos que o melhor era respeitar a dor do viúvo e tentar entendê-lo. Falar do seu esposo falecido lhe traz alívio e boas recordações, por isso não mudamos de assunto. Fomos caridosos.

Já perdi as contas de quantas vezes o Alberto me levou para jogarmos flores no mar… Ele não sabe, mas não foi apenas ele que perdeu um amor no mar: O Cristiano também era meu amor e estará pra sempre no meu coração.

Às vezes fecho os olhos e o imagino, recordo e recordo…

Pessoas tão maravilhosas jamais deveriam morrer… O Cris era muito legal, gracioso e leve. Eu me sentia tão bem perto dele. Entendo perfeitamente o porquê do Alberto ter trocado alianças com ele… Hoje ele e eu sentimos eternas saudades dele. Tem noites que sonho com ele, com o Cris pintando, cuidando das rosas e sorrindo… ai aquele sorriso… seu sorriso era um relance do que deva existir de bonito no paraíso… O cara era tão bonito e atraente, que chega parecia um boneco de cera…

Te quis… Queria… e ainda quero…

Eu sentia um milhão de alegrias em um minuto com ele…

Pra eu conseguir superar a morte do único cara que amei na vida, eu teria que me afastar do Alberto. Mas eu também adoro meu amigo metido a cientista.

Eu gostei um pouco de quando trocamos aquele beijo em seu quarto. O Alberto é bonito e viril, um ótimo partido.

Mas, um relacionamento eu sonhei ter apenas com o Cristiano. De lá pra cá, me tornei carnal; na verdade, um prostituto.

Eu adoro sair com homens diferentes, até levo alguns para meu quarto na casa onde moro com meus pais e irmã.

Querem saber mais? Teve uma vez que eu espiei o Alberto e o Cristiano transando. Fiquei escondido na sala, vendo a tudo. Eles ficaram nus e fizeram sexo num dos estofados. Embora eu tenha aproveitado e olhado mais para a nudez do Cris, vou confessar que o corpo do Alberto também me deixou bastante excitado. Homens malhados e pelados trepando a poucos metros de mim…

Saquei meu celular e filmei tudo. Depois de meses, eu mesmo deletei o vídeo. Toquei altas punhetas assistindo aos dois daquele jeito… Braços de homens altos, pernas firmes, bundas boas, peitos e barrigas definidas… os dois são pauzudos - E eu também sou. Confirmei que eles eram passivos e ativos. Eu quis muito estar no lugar do Alberto e transar com o Cris… Que rabinho lindo tinha o meu desejado…

Mas nem pude tê-lo, e o boy ainda foi levado pelas águas do mar. 😢

O Alberto tem uma empregada antiga, também do tempo em que o Cristiano estava vivo. O nome dela é Jenifer.

Mentira minha, tô brincando. 😊

Ela se chama Julieta. E é muito gente boa, uma mulher adorável e muito humana… - mas também é um pouco insistente e inconveniente; mas, também, ela se sente como se fosse uma mãe pro Alberto.

O Alberto quer que eu esteja amanhã cedo em sua casa. Falou que é uma novidade muito feliz, e que só me conta pessoalmente, e que eu preparasse meu coração.

Hoje eu adormeci ouvindo CPM 22 - Dias atrás. Pensando e sentindo a cruel… saudade.

Até consegui não ver pornô antes de dormir. 😊

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Alberto.

Há muitos meses, eu fui ao Japão. Consegui as fórmulas e todos os aparelhos eletrônicos necessários. O androide terá as mesmas memórias de uma pessoa que viveu, que amou… que existiu. Me desloquei do extremo da Terra, em busca de conhecimento, e agora eu sei como construir uma máquina idêntica ao homem que eu amava, o homem que eu tanto amei.

Eu vou recriar o meu amor, vou criar o homem perfeito e que nunca vai me abandonar, um Cristiano que sempre vai sorrir, nunca vai envelhecer e que vai me amar pra sempre.

Ele terá um crânio de cristal, e dentro, componentes eletrônicos sofisticados, os mais delicados, unidos por fios quase da espessura de um fio de cabelo, os chips quase microscópicos. Eu sinto carinho, respeito e gratidão por cada pecinha que formará o corpo do meu amor.

Cristiano, eu tenho esperanças de que você vai voltar.

Deus, que tantos milagres já fez, permita que o robô que eu vou construir receba a fagulha da vida, e faça com que o meu Cristiano volte pra mim.

Colocarei nele um coração de rubi; na verdade, uma bateria, um rubi eletronicamente ativado. Eu vou fazer tudo com o máximo de cuidado, e não por ser uma experiência científica única, mas porque o Cristiano é o meu amor.

E obrigado a quem está torcendo para que dê certo. E eu possa terminar o meu querido Cristiano.

***

Pensamentos de Alberto.

Não há um dia que eu respire sem pensar nele; não há uma noite em que eu não sonhe sem que seja com ele.

Eu quero um robô que fale e se movimente como uma pessoa. Um androide igual ao homem que eu amava. E quero que ele ande, que ele fale, que ele... sorria como o meu Cristiano. Eu quero ter de volta o meu amor. Afinal, qual é a fronteira entre os sentimentos, se um robô pode falar, se ele pode se movimentar, porque ele não pode também ter sentimentos? É a vida em mim que um androide estará me dando de volta. Eu fui ao Japão em busca do meu amor.

E finalmente, ele será despertado para me tirar da escuridão.

"O que é vida? Eu olho pra você, e você olha pra mim, e o seu olhar me transmite dor. Se é capaz de olhar pra mim e ter um sentimento, então você pode construir um homem como eu, ter o seu amor de volta. Deixe o amor falar mais alto, seja a mudança no mundo e vença a morte, faça o seu amado renascer."

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