Negócio Arriscado 5 – Justiça com as Próprias Mãos

Um conto erótico de Kamila Teles
Categoria: Heterossexual
Contém 2109 palavras
Data: 10/10/2019 19:50:08
Última revisão: 10/10/2019 20:59:54

O motoqueiro subiu a marcha e começou a ganhar velocidade. Refletia sobre a história da garota; uma mentira inventada às pressas, deduziu. Era evidente que ela havia se metido com bandidos e estava encrencada. Logo alguém viria atrás dela, ou traficantes ou policiais.

“Não se envolva, disse para si mesmo, você já tem seus próprios problemas". Ele conhecia aquelas marcas no rosto da jovem; eram marcas de uma surra aplicada por um homem, as mesmas que ele viu várias vezes no rosto e no corpo de sua mãe quando seu padrasto a agredia.

O motor pedia a troca de marcha, ele engatou a terceira e girou firme a manopla do acelerador, quase empinou a moto com o ganho repentino de velocidade. Repetiu para si: "não se envolva, ela parece ser uma garota que sabe se virar sozinha". Ouviu sirenes se aproximando, era um caminhão de bombeiros seguindo um carro da polícia rodoviária e um outro do resgate. Passaram por ele em sentido contrário, rumo à fumaça negra visível bem mais à frente.

— MERDA! — gritou reprovando a si mesmo pelo que iria fazer.

Deu uma freada brusca, meia volta na moto e acelerou em direção ao hipermercado.

Avistou a garota caminhando com muita dificuldade, praticamente se arrastava. Ele parou ao seu lado.

— Se você quiser sair daqui sem ser notada, é melhor vir comigo.

Ela também ouvira as sirenes, sabia que precisava desaparecer daquele lugar o quanto antes ou estaria ferrada. Subiu na moto com a ajuda dele e agradeceu enquanto o rapaz acelerava.

Meia hora depois eles estavam no apartamento simples que ela alugou quando chegou na cidade de Campinas, era propositalmente próximo à rodoviária, propício para uma saída rápida da cidade em caso de necessidade, e ainda tinha os lockers (guarda-volumes) para ela manter perto e seguro o seu dinheiro conseguido em golpes anteriores.

Ela ainda não havia dito nada sobre o ocorrido, mas revelou que não se chamava Angelina e, sim, Jessie.

— Preciso de um banho — disse ela.

Com dificuldade de movimentos, ela mal conseguiu tirar a saia sozinha. Chamou pelo rapaz pedindo sua ajuda para tirar a camiseta. Depois de alguns "ais" e cara de choro, ela estava despida.

— Quem fez isso com você? — perguntou ao ver o estado crítico em que ela se encontrava.

— É uma longa história, depois eu lhe conto — agradeceu a ajuda.

Ele respeitou seu silêncio e a deixou sozinha. Aguardaria o momento apropriado para saber mais sobre a moça.

Enquanto Jessie iniciava o banho mais dolorido de sua vida. Pedro Miguel acomodou-se no pequeno sofá e recordou o seu passado não muito distante:

Seu pai foi uma das oito vítimas fatais de uma chacina na cidade de Fortaleza, onde moravam, Pedro tinha quatorze anos naquela ocasião. Segundo as informações da polícia, em um noticiário local, foi mais um acerto de contas entre traficantes de drogas. No entanto, o pai do Pedro Miguel era pedreiro de profissão e nunca esteve envolvido com o crime e nem tinha passagem pela polícia, assim como seus colegas, frequentadores do boteco naquela noite trágica: eles também foram friamente chacinados. Somaram-se a tantos outros, vítimas da falta de segurança e da disputa pelo poder travada entre criminosos rivais. Policiais corruptos faziam parte e protegiam os dois lados do crime ao invés da população. Era muito dinheiro envolvido e muitas vidas inocentes perdidas.

Um ano depois, seu irmão de apenas dezesseis anos, e mais quatro adolescentes, foram mortos nas mesmas circunstâncias quando estavam conversando em uma calçada na rua em que moravam naquela comunidade. Próximo das vinte e três horas surgiram dois carros com vidros escuros e em seus interiores haviam homens semelhantes à chacina anterior: vestidos de preto e encapuzados com toucas ninja. Dispararam dezenas de tiros vitimando os jovens.

Outro ano se passou, a mãe do Pedro Miguel foi morar com um homem antipático e de aparência rude. O convívio entre o adolescente de dezesseis anos e o padrasto ficou impossível. O sujeito embriagava-se constantemente e a cada dia ficava mais grosseiro. As discussões viraram rotina e as marcas de agressões em sua mãe tornaram-se frequentes. A mulher subalterna tinha medo do homem e de perder o pouco de conforto conseguido, aceitava com resignação as agressões e dizia para o filho parar de implicar e confrontar o companheiro dela.

O rapaz foi expulso de casa após denunciar o padrasto por mais um espancamento em sua genitora. O filho tentou abrir os olhos da mãe dizendo o que todos no bairro já sabiam: o homem era um bandido e integrante de uma milícia que extorquia os moradores e comerciantes daquela comunidade. A mulher não queria acreditar e também não confirmou à delegada as agressões que sofrera do seu companheiro. O miliciano continuou livre e mandou o jovem sair de sua casa. A mãe não fez nada para evitar.

Dezoito meses depois do rompimento com a mãe e o padrasto, Pedro Miguel estava nos fundos da oficina em que aprendera a trabalhar como mecânico de moto e onde também morava com o consentimento do dono. Foi procurado por uma antiga vizinha que relatou sobre a nova agressão que sua mãe sofrera. Ela estava em estado crítico, em coma em uma UTI.

Após o filho chegar ao hospital ele chorou angustiado ao ver sua mãe lutando há dois dias contra a morte após ser vitimada por mais um espancamento covarde. O médico disse que ela não resistiria, era questão de horas até desligarem os aparelhos. Seu sangue ferveu de tanta revolta.

Quando a noite ia alta, ele foi para o seu antigo bairro, sua sede de vingança só aumentara. Ficou vigiando a casa em que o homem vivia com sua mãe. A residência estava às escuras; o padrasto costumava chegar sempre depois da meia-noite.

23h30min, o movimento nos arredores se resumia a uma garota frágil e de aparência colegial que morava em uma casa no terreno ao lado. A moça estava sentada em um degrau no portão de sua residência, sua calcinha estava praticamente à mostra devido a minissaia, muito mini, que ela vestia. O tronco quase nu com um top tomara que caia, suficiente para cobrir apenas os seios pequenos. Sua atenção estava voltada a um celular, vez ou outra ela olhava para a esquina como se esperasse alguém.

Ela recebeu uma mensagem em um aplicativo, digitou respondendo e entrou correndo dentro de casa para comprar a cumplicidade da mãe; pediu que encobrisse sua ausência por uns vinte minutos. Seu pai assistia a um jogo de futebol na TV.

O rapaz aproveitou a oportunidade, com cautela foi em direção à casa da mãe e usou as cópias das chaves que fizera para invadir a residência. Se escondeu embaixo da cama do casal, esperaria o homem adormecer para acabar com a vida dele o esfaqueando sem chamar a atenção dos vizinhos.

O homem chegou cinco minutos depois, entrou na casa e parecia estar acompanhado. Pedro não contava com esse imprevisto, complicaria demais os seus planos.

— Vem, meu filezinho! — dessa vez temos a noite toda só pra nós.

— Não posso demorar, se meu pai souber que saí… tô lascada.

O rapaz encolhido debaixo da cama reconheceu a voz, era Paulinha, a garota que estava a pouco do lado de fora.

— Não precisa ter pressa, eu dou um jeito no seu pai — falou o homem com a voz empastada pelo tanto que bebeu.

— Para, viu? — deixa meu pai.

— Chega de aperreio e se achegue aqui, minha cachorrinha!

O cara a agarrou e enfiou a língua em sua boca, a jovem entregou-se deixando o corpo tombar para trás e foi sustentada pelo par de braços que a comprimia e movia como se fosse um brinquedo a esfregando no corpo másculo de atitudes sacanas.

Ele a levantou segurando pelas coxas e a deitou na cama.

— Não está avexada? — então tira logo essa roupa! — ele ordenou.

Tirou sua arma detrás da cintura e a colocou dentro de uma gaveta do criado-mudo. Se despiu a seguir. A mulatinha magra, de cabelos curtos e cacheados, já estava nuinha sendo admirada pelo "lobo mau". Ele partiu babando pra cima dela invadindo com seu tronco o espaço entre as pernas femininas. Sua boca, já com a língua de fora, tocou o sexo da garota a lambendo de baixo para cima e penetrou sua vagina de pelos ralos e castanhos.

A testemunha daquela relação permanecia praticamente imóvel sob o colchão. "Que merda", pensou, já havia se arrependido do plano.

Depois de quase meia hora de cama chacoalhando e rangendo, houve uma pausa. A garota pegou seu celular que havia vibrado duas vezes minutos atrás.

— Danou-se! Duas ligações perdidas do meu pai, tenho que ir na carreira.

Ela pegou sua calcinha e sentou na beirada da cama e começou a vestir-se.

— Vai o caralho, já disse que dou um jeito naquele froxo — ele falou com voz descontrolada.

Partiu pra cima dela dando-lhe uma gravata e a jogou de costas na cama, rasgou a lingerie que estava ligeiramente acima dos joelhos da menina, arreganhou suas pernas se alojando entre elas e tentou penetrá-la. Ela insistiu para que a deixasse ir e que voltaria no dia seguinte. O sujeito estúpido deu um tapa no rosto da garota mandando que calasse a boca. Ficou ainda mais nervoso com a resistência dela tentando evitar o coito.

Ele perdeu rapidamente a ereção e não conseguiu mais penetrá-la, daí sim virou um monstro e passou a agredi-la verbal e fisicamente.

— Sua quenga, vagabunda, quem você pensa que é? — eu que decido quando você vai ou fica.

O homem grosseiro deu tapas fortes e repetidos de um lado e do outro no rosto da Paulinha. O rapaz sob o colchão, ao ouvir o barulho da agressão, pensou: “esse animal fez o mesmo com a minha mãe.” Não conseguiu conter-se com tamanha covardia, olhou determinado para a faca em sua mão direita, deslizou sem barulho pelo piso e levantou preparando um golpe de cima para baixo… O agressor percebeu sua presença e se jogou para o outro lado da cama em busca de sua arma no criado-mudo. Pedro Miguel, no impulso, segurou a faca com as duas mãos e pulou sobre o homem, a lâmina de uns quinze centímetros atravessou as costas do sujeito antes que ele conseguisse empunhar o revólver. O rapaz, ainda por cima do homem agonizante, agilmente retirou a faca e o golpeou outras vezes acabando de vez com sua vida.

Paulinha ficou em choque, encolhidinha na cabeceira da cama, tremendo com cara de pavor. Ele tentou acalmá-la dizendo que não iria machucá-la, mas precisava da colaboração dela para saírem dali sem serem vistos. Mandou a menina se recompor e ir embora, e não deveria comentar com ninguém que o viu ou sobre o ocorrido, ou os dois e os seus familiares seriam mortos, pois o cara era bandido e pertencia ao grupo de milicianos.

A garota teve um pouco de dificuldade para processar todo o ocorrido, mas ela o conhecia e foi apaixonada pelo rapaz quando ele morou naquela casa. Se vestiu e limpou o sangue em seu rosto. Ele aconselhou que saísse pelos fundos e a acompanhou.

Já do lado de fora…

— Obrigada, Pedro! Acho que ele teria me matado se não fosse você.

Ele esboçou um sorriso discreto e pediu que ela saísse rápido e sem ser notada.

O rapaz retornou ao quarto, pegou o dinheiro da carteira do homem, $230. Era pouco, ele sabia que havia dinheiro ilegal escondido naquela casa. Procurou em gavetas e interiores de móveis. Achou uma caixa de metal com cadeado no guarda-roupa, a chave compatível estava no chaveiro do cadáver. Ficou satisfeito ao encontrar $3.800, ele enfiou no bolso da calça jeans. Aquele dinheiro garantiria a sua fuga e manutenção por algum tempo. No cofre improvisado havia também um bloco de notas com nomes e valores, tipo uma contabilidade da extorsão da milícia, deduziu. Jogou sobre o defunto, não queria mais nenhum envolvimento com os bandidos. Pegou a camisa do homem, tirou o cabo de uma vassoura e fez uma tocha. Abriu todos os bicos de gás do fogão, inclusive o do forno e saiu pelos fundos da casa. No quintal ele acendeu e atirou, como se fosse uma lança, a sua tocha improvisada. Correu enquanto o artefato viajava no ar penetrando pela porta aberta e provocando um incêndio imediato. O incendiário pulou o muro no mesmo instante em que ocorreu uma explosão.

Pedro Miguel saiu caminhando enquanto a casa ardia em chamas. Passou na oficina onde morava para pegar sua mochila; tudo o que ele tinha estava nela.

Quando a primeira luz do dia surgiu no horizonte, o rapaz já estava distante da cidade, porém ainda pensando que rumo daria à sua vida.

Continua…

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Foto de perfil de KamilaTelesKamilaTelesContos: 174Seguidores: 107Seguindo: 0Mensagem É prazeroso ter você aqui, a sua presença é o mais importante e será sempre muito bem-vinda. Meu nome é Kamila, e para os mais próximos apenas Mila, 26 anos. Sobrevivi a uma relação complicada e vivo cada dia como se fosse o último e sem ficar pensando no futuro, apesar de ter alguns sonhos. Mais de duas décadas de emoções com recordações boas e ruins vividas em períodos de ebulição em quase sua totalidade, visto que pessoas passaram por minha vida causando estragos e tiveram papéis marcantes como antagonistas: meu pai e meu padrasto, por exemplo. Travei com eles batalhas de paixão e de ódio onde não houve vencedores e nem vencidos. Fiz coisas que hoje eu não faria e arrependo-me de algumas delas. Trago em minhas lembranças, primeiramente os momentos de curtição, já os dissabores serviram como aprendizado e de maneira alguma considero-me uma vítima, pois desde cedo tinha a consciência de que não era um anjo e entrei no jogo porque quis e já conhecendo as regras. Algumas outras pessoas estiveram envolvidas em minha vida nos últimos anos, e tiveram um maior ou menor grau de relevância ensinando-me as artimanhas de uma relação a dois e a portar-me como uma dama, contudo, sem exigirem que perdesse o meu lado moleca e a minha irreverência. Então gente, é isso aí, vivi anos agitados da puberdade até agora, não lembro de nenhum período de calmaria que possa ser considerado como significativo. Bola pra frente que ainda há muito que viver.

Comentários

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que conto maravilhoso, perfeito, com uma excelente história, sexo, suspense e ação, daria um ótimo filme,parabéns..3 estrelas e nota 10

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