Impasse

Um conto erótico de Aparecido Raimundo de Souza
Categoria: Heterossexual
Contém 568 palavras
Data: 07/10/2018 22:51:59
Última revisão: 07/10/2018 22:54:30
Assuntos: Heterossexual

Impasse

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza

O VISTOSO RAPAZ CHEGA e estaciona a sua BMW de qualquer jeito. Sai apressado e se dirige à jovem que está na esquina.

- Boa noite, gata. Estou a fim de um programa. Dá pra ser ou está difícil?

- Depende. O que eu ganho com isso se disser sim logo de cara?

- Preciso responder?

- Sempre é bom né?

- Por quê? Não está explícito em meus olhos? Se estou rodando nessa parte da cidade...

- Não é isso. Sei o que procura. É que dando um toque... levanta o astral. Impõe confiança. Embora pareça, não estou aqui pelo dinheiro. Não sou só uma garota de programaentendi. Então vamos? Entra ai... conversamos no caminho. Quanto?

- Calma! Eu ainda não dei sinal verde.

- Relaxe. O que precisa pra dar? Que eu pague adiantado?

- Vocês homens não são nada românticos. Todos iguais. Meu Deus!

- Eu sou romântico.

- O romantismo passou bem longe de você. Como consegue seus intentos?

- Com meu charme. Sem contar que tenho a carteira recheada. Vamos, entra... não tenho a noite toda.

- Cara, se a garota que resolver partir para os finalmente com você esperar por um gesto de carinho, de delicadeza, ou de romantismo... acredite. Está no sal.

- Que isso, gata. Não sou tão mal assim.

- Não disse que é.

- Pode não ter dito, mas acabou de me atirar um balde de água fria.

- Você entendeu errado. Não joguei nada. Apenas fiz uma observação.

- Por sinal, uma observação pra me deixar bem pra baixo.

- Deixa de ser bobo.

- Ficamos bobos quando nos aparece alguém que nos massacra. Se ainda fosse alguém decente...

- Sou um alguém como todo mundo.

- Ta legal. Me convenceu. Agora vamos. Entra nessa porcaria de carro.

- Pra onde pretende me levar?

- Pra cama. Onde mais?

- Ao menos um lugarzinho respeitável?

- O que significa “respeitável” pra você?

- Um ambiente em que eu me sinta mulher de verdade, não uma prostituta de quinta categoria.

- Nossa. Quanto papo furado! Na verdade, minha amiga, no fundo você não passa disso. Uma vagabunda de quinta.

- Obrigada. Valeu pelas palavras. E ai?

- Ai o quê?

- Para onde vamos?

- Meu apê.

- Você quer dizer, seu “matadouro” particular?

- Não sei do que fala exatamente.

- Como não? Você não pode tocar esse possante ao menos para um motel decente?

- Meu apê.

- Seu “matadouro!”.

- Meu apê não é nenhum matadouro.

- Quantas iguais a mim levou pra lá?

- Isso não vem ao caso. Não é da sua conta.

- Vem ao caso sim. E é da minha conta também. Quantas?

- Não vou dizer. Não sou obrigado.

- Então esquece.

- Gracinha, entenda. Estou pagando. Comigo é grana viva. Não uso cheque ou cartão. Dinheiro em espécie.

- Tudo bem, mas não sou puta.

- E o que você é?

- Um ser humano como você e como todas as demais mulheres aqui nessa merda de esquina.

- Sai fora. Entra ai e deixa de criar caso. Puritana de uma figa.

- Pra mim basta. Tchau.

- Dobro o preço que me pedir.

- Arranje outra.

- Ei, seu monte de cocô, estou pagando...

- Achará outra. Fui.

- Volte aqui sua piranha de uma figa. Pago bem. Sem saber, ao menos quanto vai me pedir e pior, nem sei se a sua carcaça é boa na horizontal. Volte... ei... venha cá... estou falando... volta aqui...

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza. Crônica integrante do livro “Amor de incesto” publicado pela Editora AMC-GUEDES, Rio de Janeiro, 152 páginas, 1ª Edição Julho de 2018.

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