Quando o Redentor Chama - Capítulo II

Um conto erótico de Grimex
Categoria: Homossexual
Contém 2020 palavras
Data: 18/08/2018 21:28:21
Última revisão: 18/08/2018 21:31:47

Não demorou muito para que eu e o Diego criássemos uma conexão mais forte. Foi algo natural, não teve aquele subentendido forçado em que você consegue perceber que a outra pessoa tem segundas, ou até terceiras, intenções com você. Eram aquelas mensagens de bom dia, tarde ou noite, a atenção que era nítida que ele me dava, memes trocados, entre outras coisas que fizeram que em pouco menos de um mês já tivéssemos uma amizade mais forte do que a maioria das que eu tinha. Mesmo com a ascensão diária que nosso relacionamento passava a ter, a identidade dele ainda era um mistério para mim. Diego nunca me mandou nenhuma das suas redes sócias e a mesma foto escura sempre permanecia no seu perfil do WhatsApp. O máximo da sua pessoalidade que consegui atingir, depois de muito esforço, foi ouvir sua voz, que por sinal é bonita. Nem é tão grossa, nem tão fina, tem uma intensidade normal, e por mais que o normal quase nunca me agrade dessa vez serviu. Sua voz dizendo: Oi “Rafael, tudo bem?” foi suficiente pra que meus sentimentos pós-adolescentes sofressem uma revitalizada. Aliás, você sabia que eu me chamo Rafael?

Foi preciso que os três alarmes do meu celular tocassem para que eu tivesse a ação inicial de abrir meus olhos. Se a segunda-feira é o pior dia da semana, eu acho que as pessoas deveriam se lembrar da quarta. Levanto-me da minha cama e saindo do meu quarto já percebo que meus pais saíram para trabalhar. É bem raro eu ver meus pais durante a semana, quase sempre eles só chegam em casa à noite e como guardo essa parte do dia para estudar e navegar na internet nossa interação é quase que mínima, salvo nos finais de semana que passamos um tempo a mais juntos. Sirvo-me uma xícara de café e vejo que não tenho mais tempo para procrastinar em casa. Já são quase 7:20 e nem um banho tomei ainda. Depois de tomar banho, escovar os dentes e me arrumar, saiu as pressas de casa e sigo para a parada de ônibus. Olho no celular a hora e vejo que são 7:40. Mais um dia, mais um atraso. Ainda não consegui me acostumar com as aulas começando as 8 horas da manhã.

Como se já não bastasse a cadeira de cálculo vetorial aplicado existir, ainda colocam ela em plena quarta-feira as 8 da manhã para mostrarem para nós, reles alunos que a nossa vida é uma merda. Entro na sala de aula tentando não fazer o menor dos barulhos, mas ainda assim não consigo passar sem receber um “boa tarde” do meu professor. As horas vão passando, o conteúdo se esfarela cada vez mais na minha mente e a velha pergunta mental surge: Por que continuar estudando isso?

Confiro mais uma vez a hora no meu celular e vejo que tenho uma notificação de Diego. Abro nossa conversa quase que instantaneamente e leio o seu bom dia habitual. Respondo-o com uma mensagem de péssimo dia seguida por uma foto de tudo o que eu já tinha anotado até aquela parte da manhã e ele solta os seus já conhecidos “kkk”. Ele digita, e para. Digita mais uma vez, e para seguidamente. O que será que ele tá querendo dizer? Estou guardando meu celular na minha mochila quando ele manda uma mensagem dizendo:

- Eu te vi hoje. Você é bem bonito.

A temperatura do meu corpo aumenta em alguns graus e tenho certeza que meu rosto deve ter ficado avermelhado. Acho que o enigma sobre sua sexualidade acaba de ser desvendado.

- Onde você me viu?

A mensagem é visualizada quase que no mesmo momento em que eu a enviei, mas alguns segundos passam até que ele me responda.

- Vi você entrando no seu bloco hoje.

Nos primeiros dias que começamos a nos falar, Diego me falou que ele também estudava na UFC ironicamente no mesmo campus que o meu. Enquanto eu faço Engenharia Mecânica, ele estuda Ciências Biológicas. Mesmo sabendo dessa informação eu nunca o vi aqui por dentro, na verdade, mesmo se tivesse visto eu não iria saber reconhece-lo devidamente. Mil coisas passam pela minha mente e até penso em chamá-lo para almoçar no restaurante universitário comigo, mas antes que eu pudesse fazer o convite outra mensagem chega.

- Não quer dar uma volta depois da aula?

- Eu adoraria, mas hoje tenho aula o dia inteiro.

- Eu também, as minhas acabarão lá pelas 6. Depois eu e uma galera vamos para o Benfica passar um tempo por lá. Quer ir?

Nem preciso dizer que estou mais acalentado ainda, certo?

- Claro, eu adoraria.

- Pois vamos nos encontrar na parada do intercampi e vamos juntos para lá, pode ser?

O intercampi é o ônibus cedido pela universidade que liga todos os campus. Meu corpo entra em estado de excitação e já sei que vou sofrer de ansiedade o resto do dia.

- Podemos sim, mas já que vamos nos ver de qualquer jeito, posso ver uma foto sua? Pra que pelo menos eu saiba quem é você quando nos vermos na parada do ônibus.

Guardo o celular e o tento ignorar por alguns minutos, coisa que obviamente não consigo. Pego o aparelho e mesmo estando um pouco receoso de ter sido ignorado eu o ligo. Para minha surpresa havia uma notificação dizendo que ele havia me enviado uma foto. Minhas mãos começam a tremer um pouco. O momento que eu mais esperava acaba de acontecer. Abro a notificação e vejo uma foto de Diego, e nesta realmente dava pra ver seu rosto. Ele era bem diferente do que eu imaginava. Achava que ele seria um mix de uma pessoa gótica trevosa e nerd ao mesmo tempo, mas não, ele não era nem um dos dois.

Diego é careca, tem alguns piercings, aliás ele possui um no nariz na região entre os olhos que combina demais com seu rosto, e tem uns olhos densos e escuros bem atraentes. Não consigo parar de olha a foto, ela é muito hipnotizante, pelo menos para mim. Tomara que ele não seja um skinhead e seja apenas mais um punk fortalezense.

- Já não basta você chegar meia hora atrasado, você ainda não larga o celular Rafael?

Levanto os olhos e vejo que todos na sala me encaram. Se antes eu estava avermelhado agora eu realmente estou vermelho.

- Desculpa, professor.

Digo ao Diego que preciso ir e guardo meu celular.

O resto da aula foi um porre, tive que fazer um esforço imenso pra não pegar minhas coisas e ir embora. Minha mente não parava de pensar no possível punk que eu acabara de ver. Ele é muito lindo, como alguém como ele vai se interessar logo por mim? Calma seu idiota iludido, ele só disse que achou você bonito, não que quer namorar com você. Meus pensamentos ficaram tão fora de orbita que quando deu onze e meia e o professor liberou-nos da aula tive que passar alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Pego todos meus pertences e vou almoçar. Mesmo já estando no terceiro semestre do curso eu ainda não consegui fazer uma amizade real com ninguém daqui, então almoçar sozinho, por exemplo, tornou-se um hábito quase que rotineiro para mim, exceto quando alguma galera que mesmo não tendo intimidade comigo me chama para sentar com eles. Sirvo-me na bancada e dou uma olhada pelo local e não vejo ninguém conhecido. Mais um almoço sozinho.

Depois do almoço vou ao centro acadêmico do meu curso e fico lá por um tempo. Como ainda não é nem uma hora e minhas próximas aulas só começam as duas, resolvo tirar um cochilo enquanto isso. Como ainda estava cansado da noite anterior não foi difícil cair no sono, e o silêncio que o C.A estava só ajudou para que eu dormisse mais rapidamente. Mais uma vez tive aquele sonho estranho. Dessa vez não havia banquete, era apenas a mesma discussão que eu e aquele homem estávamos tendo. A diferença desse sonho para os outros é que os granidos, melhor definição que achei para o som que eu e ele soltávamos, estavam mais altos. Dessa vez o loop não se realizou, apenas o som foi aumentando e aumentando, até que eu não conseguia mais aguentar e soltava um grito agudo amedrontador. Após isso, acordo com um sobressalto. Alguém acabava de me acordar.

- Ei, cara, você tá bem? Parecia que estava tendo um pesadelo.

Ainda me recuperando das imagens que meu sonho havia projetado sobre mim, vou tentando entender o que o garoto falava comigo.

- Não, na verdade sim, estou bem, não se preocupe.

- Tem certeza? Essa sua cara de assustado parece dizer outra coisa.

- Sim, tenho certeza. Não precisa se preocupar comigo.

Bruscamente pego minhas coisas e vou embora. Por que as pessoas têm que se meter na vida alheia? Sonhos são coisas extremamente pessoais, não preciso dar justificativa com relação a eles. Como só faltavam agora vinte minutos para o início das aulas da tarde resolvo ir direto para a sala. Ainda estou tão embasbacado e ansioso com o Diego que nem consegui mandar outra mensagem para ele. Abro nossa conversa e a última mensagem foi a que ele mandou dizendo “tchau” quando tive que voltar a prestar atenção na aula. Digito algumas coisas, mas logo em seguida apago. Ao invés de mandar uma mensagem, subo mais um pouco a conversa e volto a encarar o seu rosto. Que rosto. Aos poucos mais pessoas vão chegando e alguns minutos depois a aula começa. A aula da tarde até que foi legal.

Quando o dia letivo acaba e noto que já são quase 6 horas toda a ansiedade que eu consegui reprimir até aquele momento toma conta do meu corpo. Meu coração acelerou, minha temperatura corporal aumentou significativamente e eu podia sentir minha pele suar. Tento me acalmar um pouco. Rafael, você só vai encontrar o garoto, não precisa desse drama todo. Digo isso para mim mesmo repetidas vezes até que aos poucos vou recuperando a sanidade. Mando uma mensagem ao Diego e pergunto se hoje iremos nos ver realmente. Rapidamente ele me responde e diz que sim, e que eu devia ir logo para a parada pois ele já estava lá com os amigos dele. Amigos. Já vi que de íntimo esse encontro não vai ter nada. Pelo menos com esse aviso a minha ansiedade deu uma caída.

Chego na entrada da faculdade e ando em direção ao local marcado. Por que tá tão frio hoje? De longe eu o vejo. Ele e os amigos riam barulhentamente e bebiam algo de umas garrafas que pela cor deduzi ser vinho. Fui chegando cada vez mais próximo deles e ao mesmo tempo analisava ele e sua galera. Só ele era careca. Os seus amigos tinham cabelos variados, com cores chamativas que iam de um vermelho intenso a um azul tão intenso quanto ou até mesmo chegando a um preto bem opaco, com tamanhos diversos. Quase todos usavam camisas de bandas de metal de diferentes vertentes, e os que não usavam tinham roupas bastante esquisitas, que por sinal eu adorei. A maioria das meninas usavam saias xadrez, enquanto os caras usavam calças que variavam do jeans ao preto, sendo essas calças bem coladas por sinal. No total consegui contar 11 pessoas, isso contando com o dito cujo. Vejo que ele é o único que usa mochila da rodinha, será que só ele estuda aqui? Tenho certeza que se já tivesse os visto na universidade eu lembraria. Chego cada vez mais perto e a excitação toma mais conta de mim, alguns dos amigos dele percebem a minha presença, mas ele ainda não a notou. Ele levanta sua cabeça e dá uma tragada forte no cigarro que fuma. Ele abaixa sua cabeça, olha para o chão e quando começa a levantá-la de novo nossos olhos se encontram. Ele solta a fumaça ao mesmo tempo de um meio sorriso. Felizmente ele é um punk e não um nazista.

Será que Deus permite que alguns de seus anjos sejam revoltados?

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