Quando Me vejo em teus olhos ㅡ Cap 03

Um conto erótico de LuCley.
Categoria: Homossexual
Contém 4302 palavras
Data: 23/03/2018 13:39:03

Link da conta antiga com meus contos anteriores.

https://www.casadoscontos.com.br/perfil/215222

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Domingo todo passei planejando a provinha surpresa e passei o restante das notas da cantoria pro livro. Ainda tinha que levar o trio vencedor do 6° B na pizzaria como havia prometido. Acho que nasci pra ser rodeado por esses projetos de seres humanos. Por mais bagunça que fizessem, eu adorava aprontar junto com eles. Ser professor também é um aprendizado.

Eu estava quase acabando e meu pai me ligou. Antendi e me chamou pra almoçar com minha irmã e as crianças na casa dele. Pensei um pouco e ele disse sentir minha falta. Notei uma certa tristeza em sua voz e eu estava sendo um péssimo filho. Meu pai e eu sempre tivemos uma ótima relação. Ele sempre me deu abertura para eu conversar qualquer tipo de assunto com ele, nunca tivemos vergonha de certas conversas e ele senpre foi muito franco comigo.

O problema sou eu e meus conflitos internos. As vezes eu me fecho completamente e meu pai talvez pense que eu não confie mais nele, mas longe de ser isso, eu só quero ficar sozinho e matar meus próprios demônios.

Não resiti ao apelo de papai e aceitei de bom grado o convite que sabia ser se coração.

Um breve banho e me arrumei indo pra garagem. Liguei pra Penny e ela já estava lá com as crianças. Fui direto e passei antes em uma floricultura. Quando cheguei, minha madrasta veio me receber. Entreguei as tulipas amarelas, eram suas flores preferidas e me agradeceu com um abraço e um cafuné na cabeça.

ㅡ sempre gentil. Obrigada por ter vindo.

ㅡ imagina, e você sempre bonita.

ㅡ achou mesmo? Seu pai disse que esse vestido me deixa mais velha.

ㅡ ele que está mais velho, você só rejuvenece. O vestido está ótimo.

ㅡ com tanto carinho, vai ganhar aquela torta de prestigio que você adora. Lembrei e fiz pra você.

ㅡ oh delícia. Por isso que te elogio.

ㅡ kkkkkk, eu sei.

Que nada, a Laura sempre foi um amor de pessoa, linda e muito educada. Meu pai teve muita sorte de conhecer uma pessoa como ela. E não pense que ela é sempre um amor, as vezes ela sabe dar uma bronca como nunca, ainda mais quando a genre fica muito tempo sem ver os dois.

Ela me acompanhou até a sala e meu pai brincava com meus sobrinhos. A Penny ajudava na cozinha e meu pai veio me dar um abraço.

ㅡ da um abraço no seu velho pai.

ㅡ te amo. ㅡ disse e ele demorou mais que o normal no abraço de pai.

ㅡ também te amo. Está tudo bem?

ㅡ está!

ㅡ e porque não atende quando ligo?

ㅡ desculpa, chatisse da minha parte. Não tem nada haver com o senhor.

ㅡ fico preocupado contigo, Vinicius. Sua irmã me liga dizendo que você hora está bem e hora está estranho...

ㅡ pai, a Penny exagera. Eu estou ótimo.

ㅡ então é falta de rola. ㅡ meu pai sempre tira sarro da minha cara.

ㅡ kkkkkk, o senhor sempre sabe do que eu preciso.

ㅡ que pai eu seria se não soubesse? Vem beber um whisky comigo e conversamos.

As crianças foram brincar no quintal e meu pai e eu ficamos na varanda. Ele me serviu um pouco de whisky, sabendo que eu não gosto, e ficamos conversando sobre as mazelas da vida.

Me falou que estava querendo investir sua aposentadoria em algo lucrativo pra deixar um pé de meia pra mim e pra Penny. Disse que não precisava e que seria melhor ele usar esse dinheiro pra viajar com a Laura.

Me chamou pra dar uma volta pelo bairro e conversamos muito pelo trajeto. Perguntou se eu estava namorando alguém e comecei a rir.

ㅡ está rindo de quê? Você sempre foi namorador.

ㅡ fui mesmo, né? Mas estou rindo porque eu estou numa fase de querer ser cafona como todo mundo e como é difícil encontrar alguém pra dividir as cuecas com a gente.

ㅡ se sua irmã com aquele temperamento de Golias arrumou um marido, você vai encontrar também um cara que te ame do jeito que você merece.

ㅡ sei lá, os tempos mudaram e as pessoas estão cada vez mais independentes uma das outras. E não as julgo por isso, ouvimos tantas coisas absurdas e horríveis por aí. Está cada vez mais difícil confiar em alguém.

Continuamos nossa caminhada discursando sobre a vida, sobre sentimentos e a individualidade humana; até que ele parou e me olhando nos olhos, me confidênciou ter feito um exame de próstata e antes que eu ficasse preocupado, disse que estava tudo certo e que ficou com medo de estar doente. Fiquei bravo com ele.

ㅡ o senhor poderia ter me ligado. Não se passa por isso sem o apoio de alguém, pai.

ㅡ e preocupar você com algo que poderia ser nada?

ㅡ é, mas esse tipo de coisa é muito sério.

ㅡ você nunca me liga quando tem problema.

ㅡ porque não tenho nenhuma suspeita de câncer. Da pra sentir a diferença? Poxa!

ㅡ tudo bem, poderia ter te ligado, mas queria ter certeza antes de deixar vocês malucos. Entendeu?

ㅡ entendi. A Laura sabe?

ㅡ nāo. Estou contando pra você porque sempre contamos tudo um pro outro e sua reclamação dura bem menos.

ㅡ rsrs, bobo.

Abracei meu pai e o medo de perder meu velho veio de imediato. Desde que nossa mãe morreu penso em como seria nossas vidas se nosso pai também se fosse. Prometi ali mesmo nunca mais deixar de atender suas ligações e dar mais atenção ao homem que sempre me amou acima de qualquer coisa. Nunca tive segredos com ele. Sempre compartilhamos nossas agonias e tristezas, mas ele estava sentindo falta de nossas conversas e eu nem prestei atenção em seu desespero. Me senti um imbecil, um egoista.

Meu celular tocou e pedi licença ao papai e fui atender. Era o Valter.

Ele estava no jogo e mais uma vez perguntou se eu não queria ir.

ㅡ quem está aí? ㅡ perguntei e ele bocejou de sono. O futebol deveria estar animado que nossa.

ㅡ o pessoal de sempre.

ㅡ o de sempre eu já conheço. Não tem nenhum cara diferente?

ㅡ tem não. Ah, tem o filho da dona Eleonora, mas esse você já comeu.

ㅡ kkkkkk, já!

ㅡ tem o Beto, o Digo...

ㅡ já comi esses dois também.

ㅡ os dois? E eu pensei que eram héteros convictos.

ㅡ são não. Mas vê se não espalha. Juram de pé juntos que foi só pra saber como é. E também não sou de tirar ninguém do armário.

ㅡ claro que não conto. Mas foi com os dois juntos?

ㅡ kkkkkkk, claro que não. Nossa, você se superou agora.

ㅡ kkkkkk, estou zuando, bestão. Bom, só tem esses caras. Se aparecer alguém que eu ache gato, te ligo.

ㅡ kkkkk, não precisa. Estou na casa do papai.

ㅡ sacana. Quando terminar aqui, vou correndo pra aí.

Minha situação estava tão feia que até meu cunhado ficava tentando encontrar homem pra mim.

Fiquei sentado na escada com o celular na mão e não sei o quê me deu, mas comecei a lembrar do Matteo. Parecia que eu sentia seu cheiro e o toque de suas mãos em mim novamente. Estranhamente eu sentia meu coração em sintonia com esse homem, mas o fato dele ser hétero não ajudava em nada, mas tinhamos uma conexão, desde que nos vimos pela primeira vez, eu sentia. Tudo nele me chamava atenção e minha pica acordou do mundo dos mortos.

ㅡ calma carinha, vou arrumar pra você o melhor homem do planeta pra te tratar com muito amor e carinho. Você merece um cara bacana, e eu, um homem que me ame de verdade. Será que a gente está querendo muito? Sei lá. Agora abaixa aí porque não estamos em casa.

Eu conversava com meu cacete e minha irmã me chamou pra almoçar. Fui no banheiro, botei meu cacete na pia e mandei água fria pra ele baixar.

Almoçamos quase que em paz. A Penny inventou de discutir psicologia com a Laura e as duas pareciam duas gladiadoras. Meu pai queria sair correndo e as crianças foram comer na sala. No final, as duas riam e eu ficava impressionado em como a Penny se dava bem com ela. Era como se ela fosse a reencarnação da mamãe. O jeito que ela falava conosco, que nos dava bronca, tudo igual a nossa mãe; até o jeito carinhoso e preocupado que ela tratava o nosso pai. Muito estranho, mas eu adorava ver a família feliz e reunida. Me lembrava os velhos tempos.

Domingo em família foi agradável. Na segunda apliquei prova surpresa na escola e quase fui devorado pelos meus alunos enfurecidos, mas felizes por sairem de férias. Dei o resultado da melhor cantoria e na terça à noite levei a Amanda, o Paulo e o Rodrigo na pizzaria; com a autorização dos pais, claro. Foi bem divertido e apesar de serem umas pestinhas, se comportaram muito bem e no final da noite deixei cada um em suas casas. Eles adoraram e eu também.

Minha semana foi corrida, agitada mesmo.

Jantei na casa da Penny na quinta, brinquei com meus sobrinhos e os levei pra tomar sorvete na esquina.

O Matteo e eu trocamos mensagens durante toda a semana. As vezes ficávamos horas de papo ao telefone e ele sempre de bom humor, me divertindo e rindo também das minhas aventuras do passado.

Sexta-feira eu tinha acabado de chegar em casa e dando graças aos céus pelos dias de folga.

Botei o pé na porta e meu celular tocou. Era o Matteo.

Atendi com um entusiasmo absurdo e quase me bati por estar sendo tão idiota.

ㅡ Vini falando...

ㅡ Matteo só na escuta e querendo saber se o senhor já está disponível pra jantar com um certo amigo aí.

ㅡ ah, não sei... ㅡ me fiz de difícil e ele ria, sabendo da minha palhaçada.

ㅡ poxa, vai recusar o convite de um cara cego?

ㅡ kkkkkkk, você é muito filho da puta e chantagista. Estou totalmente disponível pra você. Qual é a bola da vez?

ㅡ rsrs, vem beber e comer um peixe assado comigo? Diz que sim porque acabei de por o peixe no forno e deu um trabalho do caralho ter que limpar o coitadinho.

ㅡ kkkkkkk, fiquei com pena de você agora. E não dispenso boa companhia e uma ótima refeição, e pelo jeito terei os dois. Que sorte eu tenho! Chego em 30 minutos. Muito cedo?

ㅡ está excelente. Já conhece o caminho. Te espero!

Fui mais que depressa tomar um banho e claro, eliminando todas as minhas expectativas de uma possível ficada. O cara era hétero e estava sendo muito gentil em botar panos quentes na minha cantada fajuta. Mandei o Vinizinho ficar quieto e que a gente só iria beber e conversar como bons amigos.

Vesti minha melhor roupa casual e passei o perfune do primeiro dia que vi o Matteo. Queria que ele soubesse que eu estava chegando.

Saí da garagem e o Valter vinha descendo a calçada com a Nina. Perguntou aonde eu ia e disse que ia na farmácia. Não queria ele especulando nada com a Penny depois.

Dei xau e arranquei, antes dele dizer que iria junto. Seria bem capaz da Nina querer sair com o tio de carro e eu falaria o quê?

Voei em direcão ao apartamento do Demolidor e comprei um vinho branco maravilhoso na ida. Quando saí do elevador, ele me esperava na porta. Estava lindamente à vontade com suas havaianas, camiseta regata e bermuda caqui. Até me deu um frio no estômago. Sorriu com aquela boca linda e me estendeu a mão. Ele estava sem óculos e seus olhos buscavam a direção que eu estava. Um abraço apertado como cumprimento e mais que espontâneamente, beijei seu rosto,as parece que ele não importou. Entreguei o vinho. Ele adorou e agradeceu a gentileza.

ㅡ obrigado pelo convite.

ㅡ obrigado por vim. Fique à vontade. Ah, que perfume é esse que você usa? Quero nome!

ㅡ kkkkk, então... o nome eu não entrego. Você vai usar e começar a conquistar corações por aí.

ㅡ igual a você? ㅡ queria eu conquistar seu coração, mas estava longe demais do meu alcance.

ㅡ hahaha, não sei. Se souber de algum coração que esteja se sentindo conquistado por mim, me avisa.

ㅡ rsrs, aviso sim. Vou na cozinha lavar a salada.

ㅡ precisa de ajuda?

ㅡ não, mas se quiser colocar o vinho gelar...é logo alí.

Coloquei o vinho gelar e notei que em casa ele não usava bengala. Ele tinha uma excelente desenvoltura e era como se ele enchergasse. Notei também a disposição dos móveis no apartamento e eram afastados pra ele melhor se locomover. Me sentei novamente e perguntei como havia sido seu dia e ele se virou pra mim fazendo uma careta.

ㅡ agitado e cansativo. A Prefeitura está em obras e vão reformar minha sala. Estão me mandando pro andar de cima e eu tenho que arrumar toda a papelada novamente. Estou exausto.

ㅡ e mesmo cansado está me recebendo. Poderia ter sido outro dia. Eu sei esperar.

ㅡ ah não, eu estou precisando arejar a cabeça e conversar um pouco. Faz tempo que estou programando isso contigo e só estava esperando você entrar em férias.

ㅡ fico lisongeado por ter se lembrado desse cara atrapalhado e , atrevido. ㅡ ele sorriu, sabia que me referi àquela cantada do outro dia.

ㅡ imagina, e sobre aquele dia, você foi tão espontâneo e sincero. Não fiquei incomodado.

ㅡ eu fiquei muito envergonhado, na verdade, ainda não consigo te olhar nos olhos sem me lembrar daquela cantada fajuta que te dei. Não foi minha intenção te ofender, se assim se sentiu.

Ele veio até mim e pediu minha mão. Segurou com as suas e disse que não se ofendeu. Pelo contrário, que pela primeira vez sentiu sinceridade em alguem. Disse pra eu não me preocupar com o que eu disse. Ele sorriu e foi terminar de arrumar a salada. Fiquei prestando atenção na decoração da casa e perguntei quem o havia ajudado.

ㅡ uma ex-namorada. Gostou?

ㅡ muito. Adoro esse estilo escandinavo. Você deve saber cada detalhe disso tudo, né?

ㅡ sei sim. Fomos comprar juntos.

ㅡ há quanto tempo está solteiro? ㅡ eu e minha boca curiosa.

ㅡ rsrs, há alguns anos. Três anos pra ser exato.

ㅡ se um homem tão boa pinta como você está solteiro há tanto tempo, imagina os reles mortais, tipo eu?!

ㅡ kkkkk, você é muito gentil. Mas a vida é assim e por enquanto, ninguém me quer. ㅡ ele disse rindo e eu com vontade de dizer que o queria, nem se fosse só um pouquinho.

Enquanto o peixe assava, ficamos conversando e ele me perguntou o porquê do termino do meu ultimo relacionamento e eu não estava muito afim de lembrar coisas ruins. Ele percebeu que eu estava enrolando e me pediu desculpas.

ㅡ não precisa se desculpar.

ㅡ esse cara te magoou muito...

ㅡ ele terminou comigo por mensagem quando eu disse que seria legal se morássemos juntos.

ㅡ há quanto tempo estavam namorando?

ㅡ dois anos. Depois da mensagem, a gente nunca mais se viu. Nos conhecemos na faculdade e eu já dava aula quando nos encontramos de novo.

ㅡ eu sinto muito...

ㅡ ah, não sinta, por favor. Eu estou ótimo.

Fui ver se o vinho estava gelado e perguntei se ele queria uma taça. Servi a nós dois e perguntei sobre sua família. Ele me contou que seus pais já haviam falecido, mas que tem dois irmãos mais novos e casados.

Tinha também alguns primos e tias na Capital e que as vezes os encontravam pela cidade, mas os outros nunca mais ou viu.

Me confidenciou que sua ultima namorada, a decoradora, conheceu um Italiano em uma de suas viajens à Europa e se mudou pra lá. Pelo menos ela abriu o jogo com o Matteo e disse que estava interessada no tal Siciliano.

Eles namoraram por três anos e por pouco o Matteo não a pediu em casamento.

ㅡ desde então você não namorou mais ninguém?

ㅡ namoro sério, não. Sabe, ela era uma pessoa bacana, foi bom enquanto durou.

ㅡ pelo menos ela foi sincera contigo.

ㅡ a gente conversava bastante e eu sempre dizia que não gostava de ser poupado de nada. Minha condição de cego não me torna mais frágil que os outros. As pessoas pensam que somos indefesos, mas enfrentamos problemas como todo mundo. Terminamos numa boa e somos bons amigos.

O jantar ficou pronto e ele fez questão de me servir. Fiquei realmente impressionado como ele se virava bem em tudo que fazia e como nada é perfeito, ele deixou derramar um pouco de vinho. Peguei um pano de prato e pedindo licença tirei a taça da sua mão e sequei seus dedos devagar. Me perdi por instantes em meus pensamentos e me toquei que o tocava por tempo demais. Pedi desculpa e servi a ele outra taça. Ele agradeceu e perguntou se eu me importava em ouvir música durante a refeição e disse que tudo bem.

Ele foi até o aparador e conectou o celular em uma caixinha de som. Ligou baixo e voltou à mesa.

Durante o jantar conversamos mais sobre nossas familias. Falei dos meus alunos, da competição musical que quase me deixou surdo e da noite de pizza com os meninos. Ele se divertia com minhas histórias e contava suas travessuras quando criança e como encarou sua cegueira.

Pedi que me servisse mais do peixe e disse a ele o quão delicioso estava.

ㅡ fiquei com medo de ter errado o sal, as vezes acontece.

ㅡ não, ficou maravilhoso.

ㅡ quer mais vinho?

ㅡ acho melhor eu parar. Sempre falo muita bobagem quando exagero.

ㅡ tudo bem, vamos de suco. Pode pegar? É de abacaxi com hortelã, gosta?

ㅡ meu favorito. A Penny sempre faz.

ㅡ bom estar te agradando, sempre fico inseguro em agradar as pessoas.

ㅡ é só você sorrir. ㅡ e ele sorriu. Eu fiquei sem graça mais uma vez e ele se serviu de mais vinho.

Jantamos e ele me levou até seu escritório e abriu os desenhos que queria me mostrar numa mesa. Eram incríveis e eu via o orgulho que ele tinha de si mesmo em seus olhos. Notei uns livros sobre a mesma e era todo em braille. Fechei meus olhos enquanto deslizava o dedo e ele me tirou de um transe profundo.

ㅡ está quieto. Está fazendo o quê? ㅡ ele me perguntou sem entender.

ㅡ rsrs, lendo seu livro com os olhos fechados. Queria saber como é a sensação. É muito perto as palavras e eu não conheço o alfabeto braille pra distinguir as letras, é mais complicado ainda.

ㅡ rsrs, vem aqui.

Ele tirou devagar o livro da minha mão e colocou suas mãos na minha cintura, ficando atrás de mim.

ㅡ poxa, homem, assim você mata o Vini do coração...

ㅡ hahaha deixa de ser mente poluida, vou te guiar pelo apartamento. Feche os olhos e não vale roubar.

ㅡ tudo bem, mas cara, você está muito perto...

ㅡ finge que sou a Madona.

ㅡ ela é minha diva do pop, se você for ela, vou pular no seu colo. É a Madonna, cara...a rainha!

ㅡ kkkkkkk, que saco. Podemos?

ㅡ podemos, vamos lá Demolidor!

ㅡ Demolidor?

ㅡ sim, o super-herói. O homem sem medo que luta contra as os caras maus. Ele é cego.

ㅡ rsrs, é um filme?

ㅡ sim senhor. Nunca assistiu?

ㅡ não, mas me lembrei ter ouvindo falar. Continue de olhos fechados que vou te levar pra passear e pare de pensar bobagem.

ㅡ eu? É você quem está com as mãos na minha cintura e respirando quente no meu pescoço.

ㅡ está bem, eu desisto. Você não vai ficar sério, mesmo.

ㅡ bota essa mão de volta. Parei de graça. Me leva capitão.

ㅡ você está com as duas mãos livres, use a seu favor, são seus olhos agora.

Andamos pelo apartamento todo e ele me mostrava cada objeto sobre os móvéis. De inicio me senti tão inseguro e era como se fosse cair, mesmo com ele me guiando.

Chegamos em seu quarto e ele disse pra eu continuar com os olhos fechados. Me levou até uma mesinha com todos os seus objetos pessoais e me fez adivinhar cada um deles.

Depois do jogo, me virei de frente pra ele e pedi se podia tocar seu rosto. Ele disse que sim e continuou com as mãos na minha cintura.

Coloquei devagar minhas mãos em seu rosto e toquei cada centímetro de pele. Fiz como ele havia feito em mim e quando cheguei em seus lábios, me demorei um pouco neles. Aproveitei o momento e toquei suavemente e deslizava meus dedos. Uma onda de calor percorria meu corpo e eu estava indo longe demais. Abri meus olhos e tirei minhas mãos. Ele sorriu, perguntou o quê eu senti ao andar por aí de olhos fechados.

ㅡ senti medo. Era como se eu fosse cair, mas depois você me passou segurança e foi mais fácil.

ㅡ eu também sentia medo no começo. Tudo é uma questão de tempo e treino. A gente acaba se acostumando e acho que pra mim foi mais fácil, eu já encherguei.

ㅡ o quê mais te incomoda, quando alguém começa a conversar contigo?

ㅡ quando trocam a palavra "ver" por "sentir" e "tocar". " Sente isso aqui, toca isso aqui, Matteo". É muito chato. As pessoas ficam com medo de falar pra eu Ver alguma coisa. Você é uma das raras pessoas que pede pra eu Ver, sem se importar se vou me ofender. Ah, o Valter é outro que me trata como uma pessoa normal. Gostei dele de cara por isso.

ㅡ se você prestar atenção, o Valter não é um cara muito normal, rsrs.

ㅡ hahaha, nem sua irmã.

ㅡ kkkkkk, a Penny nem é desse mundo.

Ofereci meu braço e o guiei até a sala novamente. Ele nem precisava da minha ajuda, mas eu queria muito ficar perto daquele cara incrível.

Ele se serviu de mais vinho e eu de suco, ficamos conversando na sacada coisas do cotidiano e futuro. Meu sonho sempre foi fazer uma viagem pro Chile; conhecer o deserto do Atacama, a Cordilheira dos Andes, o Deserto de Sal e muitos outros lugares na América do Sul. Disse que o levaria comigo e ele brincou dizendo que me daria muito trabalho.

ㅡ vamos sem pressa pra voltar e eu vou te guiar. Vou segurar sua cintura e pensar muita bobagem durante todo o percurso. Você vai gostar. ㅡ disse e ele bebeu mais um pouco do vinho e começou a rir.

ㅡ então pensou bobagem?!

ㅡ ah Matteo, vou estar sendo muito falso se te disser que não pensei nenhuma bobagenzinha, mas fica tranquilo, nunca vou ultrapassar limites contigo. Te respeito, cara.

ㅡ obrigado pela sinceridade e eu te admiro por isso.

Senti que ele estava ficando cansado e disse que estava na hora de eu ir.

ㅡ desculpa te fazer perceber que estou um caco. ㅡ ele disse e comecei a rir.

ㅡ imagina, eu também estou cansado e já está bem tarde. Adorei o jantar, estava maravilhoso. E adorei você ter me guiado pelo apartamento e ter me mostrado um pouco do seu mundo.

ㅡ eu que agradeço a boa companhia, Vini. Você está me devolvendo uma alegria que a muito tempo não sentia.

ㅡ poxa, que isso...

Nos levantamos e ele me levou até a porta. Nos despedimos e antes de eu entrar no elevador, olhei mais um pouco pra ele. Encarei seus olhos e ele perguntou se eu estava bem.

ㅡ estou bem, sim. Vou indo, boa noite.

ㅡ boa noite meu amigo.

Entrei no elevador e ele entrou fechando a porta. " Boa noite meu amigo", foi o quê ele disse. Queria ser mais que seu amigo, eu queria ser seu mundo, sua fortaleza, mas eu não poderia esperar mais que amizade da parte dele.

Apesar do que eu desejava, a noite foi muito agradável.

Cheguei em casa e me joguei na cama. Peguei no sono tão rápido que acordei com meu celular despertando. Era 07:00 e fui arrumar alguma coisa na cozinha pra devorar.

Antes de morder a primeira fatia de pão, fui ver se tinha alguma mensagem e para minha surpresa, tinha uma do Matteo.

ㅡ como é sábado, quer ser meu guia hoje e sair correr comigo? Me avise se puder ir. Corro na pista do ginásio. Chego lá às 08:00.

Ele tinha me mandado mensagem uma hora depois que saí do apartamento dele. Como cheguei e me joguei na cama, nem vi. Já era 07:35 e tomei um copo de suco mais rápido que o "ligeirinho". Vesti uma roupa apropriada e liguei pro Matteo.

ㅡ Matteo falando...

ㅡ haha, já está no ginásio?

ㅡ rsrs, ia te ligar pra avisar que me atrasei. Ainda estou trocando de roupa.

ㅡ quer uma carona? Já estou saindo.

ㅡ claro. Nossa, vou ficar mal acostumado contigo me levando pra lá e pra cá.

ㅡ ah, eu não ligo. Adoro desfilar com um cara bonito no banco do carona.

ㅡ hahaha, você não tem jeito.

ㅡ mas é com todo o respeito do mundo que te digo tudo isso. Não vai ficar irritado.

ㅡ kkkkkk, não da pra ficar irritado contigo, bonitão. Vem logo!

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Continua...

Obrigado pelo carinho de todos vocês. Fico feliz que estejam gostando. Comentem, Votem, Compartilhem no grupo da família (compartilho cada coisa sem querer que tenho vergonha de ser eu as vezes 😂😂😂), e voltem sempre! Até! 😉

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Comentários

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Nossa que fofo ,estou adorando seu conto to me apaixonada por Matteo .

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Sinceramente. Conto maravilhoso. A CDC é indigna dele. #prontofalei.

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A relação da família do Vini é linda, tem amor, alegria e satisfação por viver em família. O Matteo inconsciente está se aproximando do Vini com uma pessoa alegre, divertida, que será capaz de trazer alegria de viver, isso fará com que o Matteo acabe se apaixonando pelo Vini.

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Tenho estado emocionado lendo teu narrativa... uma alegria toma-me. Continue, por favor.

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Excelente. Estou adorando sua história.

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MATTEO TE VÊ APENAS COMO AMIGO MESMO? SERÁ? TALVEZ ELE ESTEJA COM RECEIO DE DIZER OUTRA COISA OU O QUE REALMENTE ELE GOSTARIA DE T DIZER. NO AGUARDO AQUI.

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Cara, eu estou apaixonado pelo seu conto. A forma leve que descreve as ações. A forma natural que viciante descreve Matteo (e é como deve ser), estou in love. Espero que continue logo.

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O amor rompe barreira.Conto maravilhoso.Continua por favor.

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