AMOR DE PESO - 02X02 - VAMOS PARA O BARCO?

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 4605 palavras
Data: 20/03/2018 22:26:28
Última revisão: 06/07/2022 19:36:42

Pai e mãe,

Lá estava eu, na frente do Jonas e Hélder. Eu havia feito um grande amigo deles de palhaço, mas será que eles aceitariam que eu trabalhasse com o George? Meu Deus. Queria enterrar minha cara no chão. Que vergonha!

***

O silêncio tomou conta do estúdio de George. Acho que consegui até ouvir uma das modelos vomitando. Jonas não estava com cara de muitos amigos, e Hélder, se sentou de uma maneira dramática no pequeno sofá que havia no local.

O relógio começou a ganhar espaço na sala, tic, tac, tic, tac. Que merda, Yuri, fala alguma coisa. Graças a Deus, que Jonas decidiu dar o primeiro passo.

— E como está pequeno urso, superou todo o drama do último semestre? — perguntou Jonas se aproximando e me abraçando.

— Tentando sobreviver. Como qualquer outro jovem. — falei, ainda na defensiva.

— Desculpa pela brincadeira sem graça, mas sabe que sou uma bicha dramática. — Hélder admitiu, tentando levantar da poltrona, mas ficando preso e recebendo nossa ajuda para sair.

— Essa gay, sempre me dando trabalho. — brincou Jonas, arrumando a túnica de Hélder.

— George, uma das modelos, vomitou no camarim. — avisou Melissa, a secretária de George.

— Já estou indo. — disse George virando para nós e apontando o dedo. — Comportem-se. — saindo para verificar a situação do camarim.

Como duas senhoras fuxiqueiras, o Hélder e Jonas, ouviram o meu desabafo sobre a situação com o Diogo. Eles me deram vários conselhos, mas, afirmaram que não tomariam partido nesta história.

— Ainda acho errado o que você fez com o Diogo, ele te amava mesmo, mas eu entendo por um lado. — garantiu Jonas pegando no meu ombro e apertando. — Eu também fiz isso. Só que no meu caso, eu estava quase casado e troquei minha noiva pelo George.

— Nem me lembre. O Jonas de hétero era a treva! — exclamou Hélder fazendo uma careta engraçada. — Yuri, a viada era noiva quando conheceu o George. Abalou a sociedade manauara. Super close errado.

— Posso contar, vovó? — perguntou Jonas, de forma irônica e deixando Hélder puto da vida.

— Vovó é meu cool. — respondeu Hélder, andando de um lado para o outro.

— Eu quase subi ao altar com uma moça da minha igreja. Ia acabar com duas vidas, a minha e a dela. Graças a Deus, ou seja lá quem, eu conheci o George e o mundo gay se abriu para mim. — contou Jonas me deixando mais tranquilo.

— Entendi, então você não me odeia? — juntei coragem e perguntei para eles.

— Te odiar? Quem sou eu para julgar. Não se preocupe, Yuri. Ah, e eu quero conhecer o tal de Zedu. — afirmou Jonas me abraçando e tirando um peso enorme dos meus ombros.

— Um passarinho azul, me disse que ele é gato. Gato demais. — Hélder mostrou a página de uma rede social do Zedu me deixando envergonhado.

Ufa. Ainda bem que deu tudo certo. Os meninos não estavam me odiando. Os dias passaram e consegui aprender bastante sobre fotografia no estúdio do George. Na sexta-feira, ele até deixou que eu comandasse uma sessão, nada muito grande, porém, fiquei animado. Nunca cogitei viver de fotografia, mas a experiência que adquiri com o George mudou alguma coisa.

Diafragma. Regra dos terços. Enquadramento. Essas foram as primeiras lições. Em seguida, o George me ensinou a usar os vários tipos de iluminações, até consegui registrar as estrelas. O Zedu, claro, se tornou o meu principal modelo. Enchi um cartão de 32 gigas com imagens do meu namorado, uma mais linda do que a outra. Realmente, sou um ótimo aprendiz.

Sabe a surpresa do dia? O convite para participar do casamento do George e Jonas. Aparentemente, o Jonas foi casado no civil com uma mulher, então, levou um tempo para anular os documentos. Agora, com o caminho livre, os dois, finalmente, poderiam selar o seu amor. Nem preciso dizer que adorei saber da novidade.

Ainda bem que tudo deu certo. A minha primeira semana trabalhando com o George foi um sucesso. Aprendi muita coisa, muita mesmo. Ele até deixava eu comandar algumas sessões, mas nada muito grande. Nunca cogitei viver de fotografia, mas a minha convivência com o George mudou alguma coisa. Eu já sabia o que era diafragma, a regra dos terços, trabalhar com vários tipos de iluminação, e até mesmo consegui registrar as estrelas. Realmente, eu era um ótimo aluno.

— Bem, agora deixa eu ir. — falei recolhendo os meus pertences e colocando na mochila. — As coisas vão ficar loucas lá em casa. Viajar com essa turma sempre é uma aventura.

— Ah, Yuri. Serão dois convites para você. Ou seja, pode levar o seu amado Zedu. — George avisou, fazendo uma voz afetada quando falou o nome do Zedu.

Com os convites em mãos voltei para casa com um sorriso no rosto. Infelizmente, lembrei que viajaria para Parintins e teria que aturar as loucuras da tia Olívia, além da Giovanna e Richard.

Vocês sentem um pequeno desespero antes de viajar? Eu detesto essa correria para checar tudo. E, mesmo que esteja tudo combinado, nada, eu disse nada, sai como o esperado.

A minha casa parecia um centro de concentração para um desfile de carnaval. Arrumei as malas com três dias de antecedência, ou seja, um garoto exemplar. Inclusive, vamos exaltar essa mala? Ela é amarela e possui a aparência de um minion, da animação "Meu Malvado Favorito". É impossível perder algo tão chamativo.

Ouvi alguns gritos da sala, já até tinha uma ideia de quem era. A tia Olivia entrava no modo geral quando ficava nervosa. Ela coordenou os meus irmãos para que eles se apressassem.

A Giovanna apareceu na sala com cinco malas. Não tinha nem como levar tudo aquilo, por isso, tivemos que chantageá-la para compactar todas as roupas em uma única bagagem.

— Olívia, precisamos ir. — chamou Carlos que levava apenas uma mochila. — O pai da Ramona já está nos esperando.

— Quanta humilhação. — Giovanna passou por Carlos, carregando uma mala rosa, e ele sentiu uma onda de negatividade vindo dela. — O que eu não faço para garantir o meu estoque de leite de búfala.

A Kombi branca de seu Walter me trazia ótimas recordações. Afinal, ela foi a responsável pela minha primeira viagem no interior do Amazonas. Nos organizamos da melhor maneira possível, claro, que sentei ao lado do Zedu.

Era legal sentar ao lado dele, o meu namorado não se importava em ficar esfregando em mim. Um dos grandes problemas em ser gordo é ocupar muito espaço, algumas pessoas não gostam, principalmente, no transporte coletivo.

Senti a respiração do Zedu perto de mim, ele me fazia sentir seguro. Os meus amigos foram entrando, era uma mistura de humanos e malas. De alguma forma, a Giovanna conseguiu enfiar uma segunda mala de mão na Kombi para o desespero da titia.

No trajeto, os meus amigos foram explicando como funcionava o festival de Parintins. De acordo com Ramona, são três noites de festival. A torcida de cada bumbá ocupa uma parte do bumbódromo, uma espécie de sambódromo, e eles precisam participar ativamente, pois, aparentemente, tudo vale ponto dentro e fora da arena.

Já Luciana explicou que tanto o Garantido, quanto o Caprichoso são avaliados por uma bancada de 10 jurados, que são especialistas em antropologia e folclore. Entre os itens mais famosos estão cunhã-poranga, rainha do folclore, apresentador, levantador de toada, porta-estandarte, amo do boi, sinhazinha da fazenda, pajé, entre outros.

Perdi a atenção, quando o Zedu pegou na minha mão e começou a acariciar meus dedos. Entrei no modo automático e apenas balançava a cabeça e sorria para eles.

— Eu quero é ver as... — por pouco, Brutus não falou uma besteira, mas conseguiu concertar a tempo. — As alegorias gigantes. Eles sempre dão um show.

— Acho bom. — repreendeu Ramona cruzando os braços.

— Será que alguma delas vai explodir? — questionou Richard fazendo um barulho de explosão com a boca.

— Ainda bem que eles usam pouca roupa, né. — comentou Giovanna com um tom sofredor na voz. — Porque pela quantidade de roupa que estou levando é assim que vou me vestir. Com pouca roupa.

— Sem tempo, irmã. — brincou tia Olívia fazendo todo mundo no carro rir e falando sobre como funcionaria a nossa vida no barco durante 10 dias.

Chegamos ao porto antes de 12h, o lugar estava muito quente, afinal, estávamos em Manaus. Andamos em uma estrutura feita de madeira para chegar até o barco, a minha tia quase caiu dentro do Rio, sorte que o Brutus a segurou.

Fique impressionado com o tamanho do barco. Segundo o Zedu, o nome da embarcação era Barco de Recreio, utilizado pelos moradores da região Norte para viajar nas estradas aquáticas da Amazônia, ou seja, os rios.

"Ana Franscisca III". O nome estava escrito em letras garrafais na lateral do barco. Ele era branco e possuía bandeiras mistas, vermelhas e azuis. Talvez, o dono fosse Garranchoso, quando alguém torce pelos dois bois de Parintins.

Deu um pouco de trabalho para colocar as malas no barco, apesar do tamanho dele. A gente decidiu ficar na parte de cima, eu pensei que teria camarote, mas dormiríamos em redes.

O seu Walter se despediu de nós e fez várias recomendações para a filha. Depois, levou o Brutus para um canto e passou outras orientações. Quem gostou da cena foi o Zedu, que zoou com o amigo.

Giovanna, como sempre, a Giovanna, passou minutos parada na frente da embarcação com a boca aberta. Ela tirou os óculos rosas e deu o quarto ataque de pelanca do dia.

— Tia, pensei que era um barco. Tipo, tipo um iate.

— Esses são os barcos da Amazônia. — explicou Carlos passando a mão na cabeça de Giovanna e a direcionando para dentro do barco. — Precisamos atar as redes para marcarmos os nossos lugares.

"Uma guerra", contou Carlos nos chamando para 'marcar' os nossos lugares dentro da embarcação. Olhei para o lado e os meus amigos já estavam atando suas redes.

— Entendi. — disse pegando a minha rede e preparado para a batalha. — E como vamos amarrar as redes?

— Todo mundo trouxe suas cordas? — perguntou Carlos mostrando uma corda azul, especial para atar redes.

— Sim. — meus amigos responderam em coro para o Carlos.

— Olha. Temos um coral. — brinquei com a sincronia deles.

— Essa não! — exclamou tia Olívia já imaginando dormindo no chão do barco. — Acho que eu não trouxe cordas e....

— Calma. — pediu Carlos, abrindo uma sacola e mostrando mais cordas. — Eu trouxe o suficiente para nós cinco. Vocês querem uma dica? Acho bom ficamos aqui mesmo na parte da frente. Vai ser mais ventilado.

— Essa viagem vai ser um pesadelo. — reclamou Giovanna, sentando em cima da minha mala. — Uó. Ainda bem que não vamos demorar, né? — o questionamento da Giovanna fez Carlos rir.

— Que foi?

— São quase 20h de viagem, ainda vamos fazer duas paradas. Vamos dormir hoje no barco e, provavelmente, amanhã. — contou Carlos para o desespero da Giovanna que arregalou os olhos e deu um grito, assustando todos no barco.

Como sempre atrasado, o Mundico correu para não perder o barco. O seu grupo de dança seria um dos que viajaria conosco para Parintins. Ele conseguiu falsificar a assinatura do pai. Em casa, Mundico avisou que iria viajar para a casa da tia. O que não fazemos para realizar um sonho, né?

Ofegante, Mundico chegou no tempo limite e entregou a assinatura para o coordenador do grupo de dança. Aos poucos, o barco ia ficando lotado de jovens, eu e meus amigos conseguimos tirar muitas fotos, enquanto a embarcação não partia.

Subimos para o último andar do barco, onde ficavam localizados os camarotes e uma área de lazer. No fundo, uma bandeira do Amazonas estava balançando ao movimento do vento.

— Ei, vou poder ver o meu namorado dançando sem camisa? — questionei perto do ouvido de Zedu, que usava um chapéu do Ash, de Pokémon, e um óculos escuros.

— Sempre. — ele respondeu rindo e aproveitei para tirar uma foto do sorriso mais bonito do mundo.

De repente, a voz da tia Olívia ecoou nos alto falantes do barco. Ela pediu uma reunião com todos os jovens no primeiro andar, que funcionava como uma espécie de refeitório com cadeiras e mesas retráteis.

Ao todo, éramos 50 pessoas, além da tripulação do barco. A titia precisou usar um megafone para falar com todos. Ela disse que era um prazer representar a empresa e que todos ficariam hospedados no barco.

Haviam mais dois funcionários que ficariam responsáveis por organizar tudo. Ela também anunciou que as refeições seriam feitas em horários distintos para que todos pudessem comer bem.

Para o desespero de Giovanna, vários carregadores começaram a entrar no barco para deixar algumas malas. Já o Zedu mudou de expressão quando viu o dono das bagagens e me puxou para uma área mais afastada da embarcação.

— Lembra que eu te falei que dancei boi, né? — Zedu perguntou puxando o boné do Ash para trás.

— Sim. Você disse. — eu respondi com uma expressão de preocupação no rosto.

— E que eu também fiquei com um garoto que dançava comigo, né?

— Estou com medo de onde essa conversa vai chegar, mas me lembro sim.

— Yuri...

— Olha, o Grande José Eduardo, ou melhor, Zedu. — disse um rapaz loiro se aproximando de Zedu e o abraçando.

— Juarez. — Zedu soltou, assustado com o abraço repentino.

Puta merda. Que garoto lindo. O Juarez é o tipo de garoto padrão da academia. Tudo no seu corpo estava no lugar, principalmente, o par de olhos verdes.

Fiquei rindo igual um idiota, enquanto, Juarez falava sobre a época em que eles dançavam juntos. Me surpreendi, quando ele citou o nome da Alicia e sua personalidade horrível.

— Você ainda está com ela?

— Não. Eu. — olhando para mim, respirando fundo e pegando na minha mão. — Juarez, quero te apresentar meu namorado, Yuri.

— Oh. — soltou Juarez não escondendo a surpresa ao me ver. — Namorado, então saiu do armário? — ele questionou, me olhando dos pés à cabeça. — Vejo que o gosto por loiros continua, sendo mulher ou homem.

— Sim. — Zedu respondeu, colocando o braço em volta do meu pescoço.

— Bem, com licença. Deixa eu ver meu camarote. — Juarez se despediu, mas esbarrou na Giovanna.

— Alguém disse camarote? — Giovanna quis saber animada.

— Olá, pequena. Que menina linda. Adorei seu cabelo. — pegando nos cabelos de Giovanna.

— Ah, obrigada. Natural. — agradeceu Giovanna, jogando os cabelos para a direita. — Agora me explica essa história de camarote?

A conversa foi atrapalhada por Carlos que avisou a partida do barco. Nós subimos para a área descoberta do barco e encontramos os nossos amigos lá.

A viagem, finalmente, começou. Quase não acreditei no vento que deu. Era uma maravilha. Os dançarinos não esperam muito para praticar.

Eles eram bem sincronizados. Não me imaginava dançando. Juarez liderava a equipe, ele era um verdadeiro Deus Grego. Será que o Zedu ainda nutria algum tipo de sentimento por ele?

— Mundico! — brigou Juarez, quando Mundico errou um dos passos. — Você está indo muito devagar. Precisa acelerar, lembra que estaremos só nós nesse momento.

— Foi mal.

— Detesto trabalhar com amadores. — disse Juarez, mostrando ter uma personalidade difícil.

Minuto a minuto, a cidade de Manaus ficava para trás e o rio se tornava nossa única companhia. Aproveitei para registrar o ensaio do grupo de dança. Em um dos intervalos, o Juarez contou que o Zedu era um antigo dançarino do grupo e pediu para que o meu namorado dançasse.

Meio contra vontade, o Zedu foi. Ele explicou que estava enferrujado, porém, não foi o que pareceu. Ele dançou uma toada chamada "Ninguém gosta mais desse boi do que eu". Confesso que achei lindo o meu namorado dançando.

Assim como Juarez, o Zedu conseguia executar os passos com uma facilidade enorme. No fim da apresentação, todos aplaudiram o Zedu. Ele sorriu, muito sem graça, e sentou ao meu lado. Era incrível como o Zedu me atraia, sem encostar em mim, consegui despertar um desejo enorme, ainda mais suadinho.

Nem preciso dizer que o comentário do dia foi a performance do Zedu. A Ramona gravou, só que não conseguiu postar um vídeo dele. À essa altura, a internet não funcionava mais, um dos maiores problemas dos interiores da Amazônia, a falta de infraestrutura para rede de internet.

Para se exibir, o Juarez decidiu 'solar' uma música do Garantido. Os seus movimentos eram precisos e delicados. O Mundico assistiu a dança com os olhos brilhando, apesar deles viverem uma relação de amor e ódio.

Ele se sentia atraído, mas o comportamento do colega não era aceitável. Mundico não gostava de hipocrisia, mentiras e soberba.

— Mundico? Tá pensativo. — comentou Juçara, uma das colegas do grupo de dança de Mundico.

— Muita coisa, né? Eu estou nervoso. Essa apresentação é nossa oportunidade e preciso ter um bom portfólio para a faculdade.

— Aquele menino é fotógrafo. — apontando na minha direção. — Poderia pedir dele tirar fotos nossas. Você teria imagens de alta qualidade.

— Vou buscar uma oportunidade. — garantiu Mundico, voltando a olhar o ensaio de Juarez.

Minha tia estava nervosa por ter tantos jovens no barco. Ela tinha que se preocupar com tudo, principalmente, que nada acontecesse. O Carlos estava segurando a barra pelos dois, afinal, ele sabe muito bem que a minha não é boa com crises.

Tia Olívia, literalmente, se perdeu nos papéis que ela mesmo criou, mais um sistema falho para a sua lista. Meu irmão passou por eles e a titia não gostou daquele comportamento.

— Richard. Eu posso saber o que você está fazendo?

— Procurando a Serafina. — ele respondeu olhando para os lados.

— Serafina?

— Sim. A minha cobra de estimação. — Richard falou com a maior tranquilidade.

O medo irracional de cobras ou serpentes é chamado de ofidiofobia. Dentre todas as pessoas do barco, o único que tinha pavor de serpentes era o Carlos, que desmaiou quando ouviu a palavra 'cobra'.

Carlos precisou de um tempo para se recuperar, todo mundo tem um medo, a do Carlos é cobra. Ele morre de medo de réptil. Quem diria, um homem daquele tamanho. E nem quero lembrar da confusão que foi pegar aquela cobra.

A titia quase amarrou Richard na cadeira, o capitão do barco precisou parar para colocar a cobra em seu habitat natural. Richard ficou muito chateado, ele havia perdido mais um bichinho de estimação.

— Fortes emoções, hein? — comentou Zedu, tirando a camisa, sentando ao meu lado e batendo na minha coxa.

— Verdade. — concordou Brutus, imitando Zedu e tirando a camiseta. — A viagem não seria assim se não fosse o teu irmão.

— O meu irmão é meio descompensado, mas foi engraçado ver o Carlos desmaiando.

— Amor. — Zedu soltou, ficando vermelho quando os amigos começaram a nos zoar.

— Oi, com licença. — Mundico nos cumprimentou e ficou na minha frente. — Você é fotógrafo?

— Eu diria estagiário. — brinquei fazendo todo mundo rir.

— Queria saber se você poderia tirar umas fotos minhas dançando? Quero montar um portfólio para a faculdade. E seria legal umas fotos com qualidade.

— Acho que sim. — respondi, surpreso com o convite, preocupado de não fazer um bom trabalho e arruinar a entrada do garoto para a faculdade.

— Olha, meu namorado é um fotógrafo famoso. — Zedu me abraçou, dessa vez, sem ter medo de ser zoado pelos nossos amigos.

— Amanhã vou reunir uns amigos e podemos tirar aqui mesmo. — sugeriu Mundico, saindo, mas voltando para se apresentar. — Me chamo Mundico. Vai ser um prazer ser fotografado por você.

A viagem continuou sem muitas novidades. Quer dizer, gente, que pôr do sol maravilhoso. O Amazonas pode não ser o melhor do mundo para viver, mas a natureza dela é exuberante. Fiz muitas fotos bonitas do pôr do sol.

A gente começou uma conversar sobre o futuro, a escola e os projetos. Letícia comentou que o seu namorado ia fazer um filme de zumbis, e todos, claro, adoraram a ideia, principalmente Brutus. Ele adorava os filmes com mortos-vivos.

— Letícia, o papai tem uma casa que fica em um terreno enorme perto do rio. Ele tentou criar uma empresa de detritos, porém, não deu certo. O cheiro ficou horrível. — explicou Zedu, ainda abraçado comigo, sem qualquer tipo de preocupação, acho que o barco virou o seu lugar seguro. — A estrutura serve para o teu filme. Tem três andares.

— O Arthur vai morrer. — pegando o celular, mas percebendo que não havia internet. — Bem, em Parintins eu aviso.

— Bem, meninos e meninas. Vou tomar banho. — eu anunciei levantando para a tristeza do Zedu.

Um dos pontos negativos do barco? A fila do banheiro. Eram apenas seis cabines para tomar banho. O Zedu preguiçoso não quis ir esperar comigo. Entrei na fila e comecei a conversar com alguns dançarinos, a maioria tinha o biótipo indígena, eu achava lindo.

— A parte chata de ficar no barco é o banho. — Mundico falou atrás de mim, externalizando o meu pensamento mais recente.

— E ai, Mundico. Você viaja muito?

— Um pouco, o meu pai é pescador. — ele me contou, tendo dificuldade em segurar a mochila e toalha.

— Caramba. Que maneiro. Você deve ter muito contato com a água, os rios. Isso é até poético.

— Espera até conhecer meu pai. Sua definição de poesia vai mudar. — comentou Mundico rindo, mas, no fundo, ficando triste, pois nunca teria a aceitação do pai.

— E você quer estudar dança? — perguntei, dando um passo para frente, porque alguém havia saído do banheiro.

— Sim. A dança faz parte da minha vida.

— Espero que consiga. — desejei, torcendo para o Mundico conseguir entrar em uma faculdade de dança.

— Olha. Tudo bem meninas. — Juarez nos cumprimentou, saindo de uma das cabines, apenas de sunga, mostrando o seu corpo perfeito. — Nossa, Yuri, né?

— Sim.

— Está tão quente. Todo mundo está sem camisa, menos você. — ele falou, ao perceber que ainda usava a mesma camisa branca com a letra da canção "Viva Forever", das Spice Girls e a bermuda de flanela cinza.

— Algumas pessoas não gostam. — respondi, dando mais um passo em direção a cabine.

— Você acha mesmo que você, filho de peixeiro vai estudar dança? — rindo e esbarrando em Mundico, nem preciso dizer que fiquei chocado. — Eu sou tão maligno. — saindo e deixando Mundico pensativo.

— Idiota. Não liga para ele. Eu já me acostumei. — afirmou Mundico pegando no meu ombro, mas percebi que ele ficou chateado. — Sempre vai existir um idiota nesse mundo, Yuri. Como o meu pai que não aceita minha paixão pela dança.

— Ei, você deve seguir os seus sonhos. Eu te vi dançando, Mundico. Talento, você tem. Se eu levasse em conta a opinião dos outros, com certeza, não estaria vivo. — eu garanti, sorrindo, pois, não queria deixar o garoto triste. — Vai dar tudo certo.

Finalmente, chegou a minha vez de entrar no banheiro. Ele era azul e apertado. O vaso sanitário ficava junto ao chuveiro. Apoiei minha nécessaire no único lugar possível, perto da porta.

Tomei um banho relaxante de quase 20 minutos. Tive que me trocar no próprio banheiro do barco, uma tarefa um pouco difícil para um gordinho. Saí e o Zedu estava na fila com o Brutos. Conversamos um pouco e eles foram tomar banho. Deitei na rede e coloquei o meu fone, escutei um pouco de música e senti um cheiro maravilhoso.

Uma coisa que preciso confessar, a comida do Amazonas é maravilhosa. A cozinheira do barco fez macarronada, carne assada, arroz, farofa e salada. Nem preciso dizer que comi como não houvesse amanhã, era uma disputa, o Brutus e eu.

— Calma. A comida não vai fugir. — Ramona nos repreendeu, enquanto, colocava azeite na salada.

— Essa é a comida mais gostosa que já provei aqui. Acho que vou pegar umas dicas. — afirmei me deliciando com a macarronada.

— Jesus. — soltou Giovanna, segurando um prato apenas com alface e sentando à mesa. — Que comida péssima, como vou me manter na dieta assim? — tirando um azeite de dentro da bolsa e colocando na salada de alface.

— Onde conseguiu esse azeite? — perguntou tia Olívia, sem ter ideia das novas manias de Giovanna.

— Sempre ando com um frasco por aí, afinal, não sei quando vou ser prisioneira, né? — Giovanna jogou os cabelos para o lado e comeu a salada.

— Pronto. — Carlos chegou com o Richard, que virou uma espécie de prisioneiro. — Banho tomado, agora vai jantar.

— Não sou criança. Não preciso de supervisão. — reclamou Richard que usava um pijama do Ben 10.

— Com essa floresta nos rodeando? Já basta um sobrinho perdido na mata. — tia Olivia relembrou a minha história com o Zedu e ficou emotiva. — Bem, comam e vão escovar os dentes, todos. — agindo como a mãe de todos os meus amigos.

A mesa do barco era grande, então comemos em grupos, o Juarez se vangloriava de sua dieta milagrosa, a única pessoa que caiu em sua lábia foi a Giovanna.

O Mundico aparentava ser um cara legal, a gente conversou bastante, ele sempre vinha com uma dica sobre barco, principalmente, sobre sobrevivência, eu claro, prestava atenção.

Subimos para a área de lazer, enquanto o Zedu foi buscar o baralho para jogar com o Brutus. O Mundico me explicou a trajetória do sol, porém, o capitão fez uma curva com o barco para evitar troncos de árvores e acabei caindo por cima do meu novo amigo.

— Você tá bem? — perguntou Zedu me ajudando a levantar.

— Sim. Gente, o que foi isso? Será que tem algo errado?

— Fica tranquilo. — pediu Mundico levantando. — O Capitão deve ter mudado a rota, o rio carrega muitos detritos como árvores e, até mesmo, lixo.

A dormida no barco foi interessante. Por causa do cansaço, apaguei na rede e acordei com o barulho da buzina da embarcação. Levantei e arrumei meus cabelos, o Zedu não estava mais dormindo, provavelmente, no banheiro tomando o banho matinal.

Mais uma vez, fiquei na fila para tomar banho. Percebi que pouca gente enfrentou o chuveiro e descobri o motivo na prática. A água estava congelante, nem a Elsa teria coragem de enfrentar aquele banho.

Apesar do frio, a ducha me acordou. Escovei os dentes e encontrei o Zedu escolhendo a roupa que vestiria. O meu namorado usava apenas uma toalha e sandálias. Algumas garotas do grupo de dança, passaram por ele e começaram a fazer comentários.

— Vamos tomar café? — perguntei, pedindo para o Zedu se apressar.

— Calma. — ele pediu colocando uma camiseta sem manga e um short do flamengo. — Cadê, o pessoal?

— Estão no teto do barco. Pegando sol. E você sabe que eu não sou uma pessoal solar. — expliquei para o Zedu, rindo da minha própria piada ruim.

— Sei. Eu vou lá, tá? — se aproximando e me dando um selinho. — Ah, bom dia. — subindo para encontrar os meninos.

— Vocês dois são namorados? — perguntou Mundico me assustado, pois, apareceu, literalmente, do nada.

— O Zedu e eu? — respondi com outra pergunta para ter tempo de elaborar uma resposta. — Olha se fosse em outra época, eu te falaria que não, mas sim, pelo menos, eu acho. Ele não me pediu ainda, só que na minha cabeça estamos namorando.

— Porquê você não pede?

— Não sei como. — ri sem graça, sem, realmente, ter ideia de como tomar tal iniciativa.

Pela segunda vez, o barco vira e o Mundico conseguiu me segurar dessa vez. A gente se olhou, meio sem graça, pois ficamos em uma pose engraçada e nos afastamos.

— Então, você deve pedir o Zedu em namoro, cara. Aproveita o Festival. — sugeriu Mundico, tentando me ajudar na missão de pedido de namoro.

— Yuri. — Giovanna me cutucou e parecia ansiosa. — A tia Olívia tá te chamando.

— Aconteceu algo?

— Nada demais. — dando um riso amarelo. — Só o teu irmão que mudou a rota do barco. Vai lá antes que ela tire o couro dele. — se agarrando em Mundico, pois, o barco vira bruscamente.

— Deus!!! — gritei, correndo atrás da tia Olívia.

— É meu amigo. — Giovanna soltou batendo no ombro de Mundico com dificuldade, por causa da diferença de altura entre eles. — A tarde vai ser interessante.

****

Se você gosta dessa história e quer me apoiar, basta comentar, colocar uma nota e acompanhar os próximos capítulos. Se você quiser enviar um email fique a vontade: escrevoamor@gmail.com

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 6 estrelas.
Incentive Escrevo Amor a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

QUE AVENTURA!!! MAS VEO QUE ZEDU TEM ALGO A ESCONDER. CREIO QUE YURI VAI SOFRER.

0 0