Quando Me vejo em teus olhos ㅡ Cap 01

Um conto erótico de LuCley.
Categoria: Homossexual
Contém 4082 palavras
Data: 16/03/2018 22:32:20
Última revisão: 17/03/2018 23:59:58

Aos novos leitores, segue abaixo o link da minha conta antiga. Lá encontrarão meus posts antigos.

https://www.casadoscontos.com.br/perfil/215222

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Tive uma infância tranquila na pequena cidade de Mirasol. Vivi com meus pais e irmã em uma casa pequena e dividia quarto com a desbocada da Penêlope. Penny, como a chamava, não era só minha irmã, mas também, minha melhor amiga. Meus pais me criticavam por eu ter em minha irmã, um ídolo e na verdade? Ela era a rainha da Porra Toda!

Não digo isso somente pela sua sinceridade e atrevimento em enfrentar todos que criticavam seu jeito rebelde da época, mas pela sua doçura e carinho comigo, sempre. Se eu quebrava um braço, ela estava lá, se eu tirava uma nota lixo, ela estava lá, se eu me sentia o gay mais infeliz do mundo, ela estava lá me dizendo pra ser homem e mostrar pra todo mundo o quão orgulhoso eu era em ser viado.

Almoçar em família era o mesmo que lutar capoeira. Cada opinião de minha irmã era uma voadora na cara da sociedade. Meu pai jogava a toalha nos primeiros dez minutos. E olha que ele aguentava muito. Minha mãe, coitada, antes mesmo de começar qualquer assunto, pedia pra gente tentar não acabar em briga, mas a Penny sempre botava os argumentos do pai na parede e prendia com seu super punho de aço. Mas independente de qualquer discusão, nossa família era unida e minha mãe era o alicerce que nos prendia ao chão.

Minha irmã nunca foi de levar desaforo pra casa e uma vez, na oitava série, ela deixou o colega de classe, o Jean, pelado depois da aula de educação física. Acredita que o cara teve a coragem de dizer que minha irmã era brava porque ainda não tinha beijado nenhum garoto?

Claro que ela ficou furiosa. Esperou o sacripanta entrar no chuveiro do vestiário e pegou a mochila dele. O moleque ficou berrando por meia hora, até que o zelador encontrou as roupas dele dentro do latão de lixo da cantina.

Ninguém, além de mim, sabia quem escondeu a roupa do Jean naquele latão. O caso do Peladão foi arquivado, pro bem dela e pro meu, já que foi eu quem teve a ideia de misturar as roupas do salafrário com o resto da merenda.

Anos se passaram e me formei professor. Minha irmã estava casada (os brutos também amam) e com dois filhos. O mais velho já tinha cinco e a caçula, três. Meu cunhado era dono de uma loja de móveis planejados e nos fundos uma marcenaria. Os móveis eram fabricados por ele mesmo com a ajuda de um irmão mais novo, filho do segundo casamento de seu pai e mais dois funcionários.

Minha irmã apesar da rotina da casa, filhos e marido, ainda trabalhava como design de moda. A danada sempre desenhou bem, desde criança, mas irritava minha mãe dizendo que ia ser rockeira e que viajaria o mundo com uma banda de rock e tomaria cerveja-quente no gargalo com a homarada por aí.

Acho que foi por isso que minha mãe infartou quando eu tinha 20 e minha irmã 23 anos. Brincadeira, minha mãe não morreu de desgosto pela filha; morreu porque a vida quis assim. Foi um infarte fulminante.

Nosso pai pirou total depois da morte da nossa mãe e se afundou no colchão do quarto por dois anos. Entrou na mais profunda depressão. Bem triste mesmo. A gente até pensou que ele iria acabar se matando, mas um belo dia ele se levantou e foi conversar com uma psicóloga. Foi sua melhor decisão até então. Ah, ele e a psicóloga estão casados até hoje. Ela deixou de acompanhar o tratamento quando meu pai a levou pra jantar pela terceira vez. Nesse dia ele a beijou e ela bateu na cara dele dizendo que não podia, mas ele disse que era só ela indicar outro psicólogo e ele continuaria o tratamento numa boa. Ela pulou no colo dele e em seguida tocou o foda-se beijando ele também. Deve ter sido amor a terceira-vista, sei lá.

Minha vida era uma correria. Eu tinha uma profissão que me rendia muitas dores de cabeça. Lecionava para um bando de pirralhos da sexta-série em um colégio público de manhã e tarde, mas a noite eu corrigia as provas com notas horrorosas da pentelhada.

Eu me esforçava ao máximo pra ensinar Inglês aos pivetes. As vezes dava certo.

Minha última idea brilhante foi fazer uma competição musical. Dividi a cambada em trio e o quê tivesse a melhor pronúncia ganharia uma noite de pizza comigo. Claro, por minha conta. Eita, ideia maravilhosa. Como eu odiei cada dia de audição. Era tanta desafinação que quase me joguei da janela do quinto andar. Mas não pedi pra eles serem afinados, então, me ferrei bonito!

No ultimo dia de cantoria, resolvi passar na casa da minha irmã e ver meus sobrinhos. Duas crianças maravilhosas e que me adoravam. Eu sempre dava dinheiro pra eles irem comprar doce no boteco do seu Arnaldo. Talves fosse por isso a razão de tanto amor, mas preferia acreditar que eu era um tio muito legal.

Nesse dia chegei e as crianças não estavam. Minha irmã tinha acabado de chegar de um desfile de vestido de noivas, desenhados por ela, e ficamos batendo papo na cozinha.

Como sempre, passei o café. Por que na cabeça dela eu não "criava" e portanto, tinha que ir pra cozinha como qualquer pessoa normal.

ㅡ odeio meu próprio café. ㅡ ela me olhou de canto de olho e me deu o dedo do meio.

ㅡ que se foda a sua opinião, se quiser beber, vai fazer. Estou morta de cansada. Fiquei vendo aquelas sequeladas indo e vindo o dia todo naquela passarela cafona. Tem ideia da dor que estou na minha bunda?

ㅡ se reclama tanta do seu emprego, porquê não faz outra coisa?

ㅡ você tem razão, mas quem vestiria àquelas pobre coitadas no dia mais feliz de suas vidas?

ㅡ juro que não te entendo. Onde estão as crianças?

ㅡ na natação. Botei os dois pra nadarem. O Valter pega elas depois. Não aguentava mais aqueles dois pulando em cima de mim depois do trabalho. Agora eles chegam cansados e roncam até amanhã.

ㅡ kkkkk coitados. Pelo menos esporte faz bem pra saúde e pro caráter.

ㅡ tomara que não peguem os dois no dopping kkkkk. Aí seu conceito de caráter já era.

ㅡ meu Deus, você não é desse mundo. Jura que somos da mesma família?

ㅡ sei lá. Não me faça pergunta difícil a essa altura do campeonato. Vou mijar!

E lá se foi ela pro banheiro. Fiquei tomando meu café horrivel e lendo um jornal de semana passada. Notícia antiga é um porre e meu pé estava doendo no sapato. Tirei e ela voltou reclamando que meu cunhado não tinha consertado a válvula da descarga. Ligou pra ele e mandou arrumar alguém que fizesse o serviço ou ela mesmo meteria a marreta na parede. Eu ficava imaginando a cara dele no outro lado da linha. Talvez ele estaria se lembrando do conselho da minha mãe:

ㅡ Valter, você não está casando engando. Não aceito devolução da mercadoria.

Mas era tarde demais. A merda já estava feita e com dois anjinhos a tira colo.

Perguntei se queria ajuda e a miserável riu da minha cara.

ㅡ você, consertando a válvula da descarga? A única coisa que sua mão segura com firmeza é a piroca dos caras que você fica.

ㅡ eu vou embora, depois dessa. ㅡ peguei minha pasta e ia saindo porta fora.

ㅡ ei, Cinderela, volta aqui.

ㅡ diga, sua cuzona!

ㅡ vai vim pra jantar? Vou fazer aquela lazanha que você adora.

ㅡ claro. Nunca dispenço sua lazanha e sua péssima companhia.

ㅡ tambem te amo.

ㅡ até depois, diaba!

Caimos na gargalhada e disse que voltaria mais tarde. Andei cinquenta metros e estava em casa. Morávamos na mesma rua. Eu dava a ela ótimos conselhos em troca de comida nas sextas-feiras, sábados e domingos. Meu cunhado adorava quando eu aparecia por lá. A gente ficava falando mal dela pelos cantos da casa e bebia caipirinha até dizer chega. As vezes eu exagerava e ele me levava pra casa. Na utima vez ele quase me derrubou dentro do vaso. Vomitei horrores.

ㅡ bem que a Penny disse que você é fraco pra bebida.

ㅡ eu sou um fraco pro amor.

ㅡ é nada.

ㅡ sou um fraco, um bosta. Ninguém me quer como marido pra adotar umas crianças e ser feliz na cafonisse eternamente.

ㅡ não gosto de ouvir você falando assim. Olha pra mim...

ㅡ o quê é? ㅡ eu estava passado de bêbado.

ㅡ se eu não fosse casado com a tua irmã e amasse tanto aquela gritalhona do caralho, eu me casaria contigo. Está me ouvindo?

ㅡ uhum... ㅡ eu estava pra lá de "baguidá."

Ele me colocou na água fria e tirou toda a minha roupa. Fiquei puto com ele, mas ele ria da minha cara de bagasseira.

ㅡ Valter, você me acha legal?

ㅡ Vini, você é um cara foda. Gosto demais de você. Nunca conheci um cara tão gente boa igual a tu.

ㅡ porra, to arrependido agora de ter te apresentado pra aquela chata do cacete.

ㅡ kkkkkkk, pois é. Vem, vou te levar pro quarto.

ㅡ ta, mas não precisa me dar banho.

ㅡ Vini, já te dei banho faz tempo. Lavei até seu pau.

ㅡ ah não, mano. Não podia ter feito isso, agora vou ficar boladão contigo.

Ele dava risada e me jogou na cama. Ele ficou comigo um tempo deitado e a gente conversava quando a Penny chegou berrando no quarto.

ㅡ Valter, ce comeu meu irmão? Filho de uma puta do caralho!!

A gente começou a rir e eu:

ㅡ olha, se ele me comeu eu não lembro, mas ele disse que lavou meu pau.

Ela pegou ele pelo braço e ele ria igual cachorro sem dono indo pra casa arrastado por ela. Eu quase me mijei na cama de tanto rir. Depois dessa palhaçada eu apaguei e acordei com a Penny me ligando e dizendo pra eu almoçar na casa dela. Fiquei com uma ressaca de merda e meus sobrinhos me fizeram de gato e sapato o dia todo.

O Valter ainda teve tempo pra me dar uma bronca por eu ficar me depreciando o tempo todo. Ele era o irmão mais velho que nunca tive. Conheci o coitado na lanchonete da faculdade. Na época ele fazia umas cadeiras e mesas pro refeitório e papo vai, papo vem, disse a ele que era gay, e ele disse que já sabia. Papo vai, papo vem e ficamos amigos logo de cara e quando ele viu minha irmã em casa, se apaixonou pela Cruela. Ela deu uns quinhentos toco nele, mas ele a venceu a mardita pelo cansaço e eu como sempre, fiquei de vela. Pelo menos eles são felizes, do jeito deles, mas são.

Onde eu parei? Ah ta...

Cheguei em casa e fui direto pro banho. Ainda tinha que passar a nota da cantoria da pirralhada pro livro e eu não estava nem um pouco afim. Fechei a casa e fiquei peladão. Liguei o ar condicionado do meu quarto e fiquei viajando na maionese dos meus pensamentos pornográficos.

Comecei a ler uns contos eróticos em uma página conhecida e mexendo no vinizinho pra ver se ele acordava, mas o bichinho tava tão preguiçoso que me esnobou.

ㅡ ah seu filho de uma égua. Vou achar um cu e uma boca pra você entrar. Quero ver tu não subir. ㅡ ele tava bem chato esse dia e fui dormir.

Acordei e meu celular tocava desesperadamente.

Era o Valter me chamando pra jantar. Me troquei ligeiro e fui correndo.

Cheguei e minha irmã pediu pra eu ficar com os meninos no quarto. Perguntei o motivo de tanta cautela e ela disse que o Valter estava com visita. Perguntei quem era a kenga da vez e quase fui invadido por uma colher de pau em meu cu. Quase gritei e ela me mandou calar a boca.

ㅡ é um cliente, diferente.

ㅡ diferente? Ele tem três pintos?

ㅡ não, seu idiota. O cara é cego. Trabalha com design de cadeira, acredita nisso? Veio conversar com o Valter sobre trabalho e não quero a pirralhada correndo entre eles, incomodando.

ㅡ entendi...

ㅡ o quê foi? Porque essa cara de anta?

ㅡ nada, só fiquei curioso. E eu aqui reclamando da minha vida. Agora sim, me senti um bostão. O cara tem uma limitação foda e um talento mais foda ainda. Aposto que não reclama da vida igual a mim.

ㅡ não fala assim, nem sabe o quê ele passa ou já passou na vida.

Vini, o Valter ta preocupado contigo e eu também. Mano, saiba que a gente te ama e estamos aqui por você, sempre. Não se sinta sozinho, Vinicius. O pai me ligou. Disse que você não atende quando ele liga. O que está acontecendo contigo?

ㅡ nada. Só que as vezes eu tenho uma vontade de sumir. Não de morrer, to falando em largar tudo e pegar uma mochila. Sair por aí sem rumo e conhecer um porto-riquenho gato pra adotar umas crianças comigo. Sei lá. Estou sendo muito idiota em querer alguem mandando em mim, igual você faz com o Valter?

ㅡ rsrs, está não. Teu amor vai chegar, você vai ver. Esquece aquele babaca da faculdade que voltou do mundo dos mortos pra te incomodar.

ㅡ ja esqueci. E ele nem tinha um pinto bonito. Despachei.

ㅡ que bom, porque ele tinha bafo.

ㅡ kkkkk não tinha.

ㅡ tinha sim!

Ela mandou eu subir e quando passei pelo escritorio do Valter, vi ele conversando com o tal cara. Subi as escadas e dei de cara com as pestes no quarto. Me joguei em cima da ursaiada de pelúcia e eles vieram sobre meu mim feito dois mísseis. Minha nossa. Amassou meus ovos e pinto, tudo junto. Fiquei molinho na hora e o Valter subiu com o moço que parecia ser muito bonito; ele usava óculos escuros.

Parei com a palhaçada e eles foram no quarto do Valter. Fiquei ouvindo a conversa de longe e meu cunhado mostrava uma cadeira de design italiano pro cara. Espichei mais ainda meu pescoço e o vi passando a mão pela cadeira. Ele seguia cada linha, cada curva da cadeira com as mãos e o Valter lhe contava em detalhes como ela era. A Nina pulou em cima de mim. Caí e gritei de dor. O Valter veio perguntar se eu tinha me machucado e disse que estava bem, mas que minha bunda estava doendo. Vi que o cara deu uma risadinha da minha cara e vinha batendo a bengala pelo corredor. Me levantei e o Valter nos apresentou. Ele estendeu a mão e estendendo a minha, a apertei. Ele sorriu, dizendo que tios são como irmãos mais velhos.

ㅡ eu sofro na mão desses dois.

ㅡ mas eles gostam muito de você. Da pra sentir quando uma criança gosta de alguém só pelo sorriso.

ㅡ a gente se entende um bocado. Desculpa, esqueci seu nome...

ㅡ Matteo. Viniciús?

ㅡ Vinicius, isso mesmo.

ㅡ ou Vini. A gente só chama ele de Vini. ㅡ meu cunhado disse e o Matteo sorriu.

Fiquei brincando com as crianças, mas elas queriam descer. Fui com eles pra sala no andar de baixo e deixei os dois vendo tv.

Minha irmã berrou por mim. Pedi pra ela falar mais baixo.

ㅡ estou na minha casa, falo como quiser.

ㅡ o cara já é cego, quer deixar ele surdo tambem?

ㅡ ixi, esqueci. O quê eles estavam fazendo lá em cima?

ㅡ vendo aquela cadeira italiana caríssima que o Valter te deu de presente na desculpa de comprar pra ele mesmo.

ㅡ engraçadinho. Aquela cadeira é minha.

ㅡ aham...até parece.

Meu cunhado sempre conseguia passar a perna na minha irmã quando queria comprar algo caro e ela reclamava. A tática era ele apresentar o produto na desculpa de dar a ela, mas diz que ela acharia caro demais. Ela, na maioria das vezes acabava gostando e achando fofo ele dar algo de tão alto valor para a esposinha amada dele. A cadeira italiana foi uma dos vários móveis que ele comprou pra ela, mas na verdade, quem mais usava, era ele.

Eu morria de rir quando ela chegava em mim toda feliz com o presente novo que havia ganhado do maridão. Ah, que tolinha.

Meu sobrinho veio correndo me chamar e levei ele pra sala. Fiquei sentado no sofá e o moleque perguntou porque o Matteo andava segurando uma " varinha".

ㅡ se chama bengala. Ele usa porque não encherga com os olhinhos. A bengala ajuda o Matteo a caminhar sem bater nas coisas. Entendeu? ㅡ disse e toquei a ponta do seu nariz.

ㅡ entendi, e ele só vê assim?

ㅡ ele pode ver com as mãos e com o coração se dá pra ver e sentir um monte de coisa também.

ㅡ ele parece legal, igual você.

ㅡ parece né? Também achei.

Botei o moleque nas minhas costas. Saí com ele pela casa de cavalinho e o filho de uma égua metia os pés nas minhas costelas. Levei umas dez esporadas e disse que se não parasse, jogaria ele pela janela. Ele ria e desceu. Caí deitado no chão de pernas e braços abertos. Eu estava literalmente com a língua de fora quando minha bexiga anunciou que ia explodir. Corri para o banheiro e a porta estava trancada. Subi rápido e aliviei a pressão. Desci e o Matteo saia do banheiro. Ele parou, ajeitou a bengala e começou a prestar atenção em sua volta. Eu estava parado, tentando entender o quê ele faria a seguir e eu estava tão distraido que me assustei quando ele me chamou.

ㅡ Vini?!

ㅡ oi, sou eu sim. Desculpa, eu fiquei esperando você ir e acabei esquecendo de avisar que estava aqui. Como sabia?

ㅡ rsrs, culpa seu perfune por eu saber.

ㅡ mas olha, e eu achando que passaria despercebido por aí.

ㅡ não comigo por perto.

ㅡ poxa, então preciso tomar mais cuidado contigo.

ㅡ rsrs, não é para tanto.

Ele sorriu e perguntou onde estava o sofá. Perguntei como poderia ajudar e disse pra eu guiar sua mão até o móvel. Pedi que me desse a mão e fiz como ele disse. Ele foi tateando e abaixando o corpo devagar e se sentou.

ㅡ sua bengala? Estava na sua mão.

ㅡ está no meu bolso. A danada se dobra toda. Vi que você estava perto e pensei que não precisaria usá-la. Acabei te pedindo ajuda. Muito obrigado.

ㅡ imagina, se precisar de qualquer coisa, pode me chamar. Se eu não ouvir, faça como a Penny, dê um grito que eu venho correndo. ㅡ ele riu e eu fiquei sem graça.

ㅡ ela grita um bocado, né? Bem que o Valter me avisou.

ㅡ isso que ela está de bom humor, não queira vê-la furiosa. Aquela ali parece o Étna, espirra lava pra todo que é lado.

As crianças brincavam quietas no tapete e ficamos conversando até que o Valter voltou com a cerveja. Pediu que eu colocasse uma das caixas no freezer e ofereceu uma lata ao Matteo. Ele de imediato aceitou.

Minha irmã perguntou se o Matteo ficaria para o jantar e claro, o Valter insistiu pra que ele ficasse. Desejei o mesmo no meu subconsciente e ele disse que seria um prazer.

A pirralhada estava cansada e a Penny subiu os levando pra cama. Uma coisa era certa: se a Penny as chamava para dormir, não demorava nem dez minutos. Eles dormiam muito rápido e ela desceu para servir o jantar.

Eu ajudei com a bebida e coloquei à mesa para todos. Com as crianças dormindo, um silêncio absurdo se fazia presente. Peguei os guardanapos e levava pra cozinha quando o Matteo veio me perguntar se as crianças não ficariam para o jantar.

ㅡ eles já jantaram. A Penny serve o jantar mais cedo pra eles. Eles vão para a escolinha de manhã e precisam dormir cedo.

ㅡ entendi. Você mora pelo bairro?

ㅡ minha casa fica uns cem metros daqui. Bem pertinho. Quer beber alguma coisa?

ㅡ se puder me alcançar um copo de água, eu agradeço.

Fui até a cozinha e comecei a cantarolar um música enquanto servia água pro Matteo.

Me virei e dei de cara com ele. Me assustei e ele me pediu desculpas.

ㅡ pensei que tinha ouvido a bengala batendo no piso.

ㅡ eu estava distraindo, nem percebi. Não precisa se desculpar. Sua água.

Ele esticou o braço e eu entreguei o copo a ele. Ficamos conversando na cozinha e a Penny disse que a mesa estava posta. Meu cunhado abriu uma garrafa de vinho e nos serviu.

Durante o jantar o assunto foi minha capacidade de amar os filhos dos outros. De fato eu adorava a criançada e meus alunos me tinham como um pai. Acho que eu tenho o dom, sei lá.

O Valter contava as minhas aventuras com as crianças e o Matteo se divertia e muito com a minha desgraça.

ㅡ poxa Matteo, e eu achando que você tinha ido com a minha cara...

ㅡ pior é que eu fui, mas rir de suas trapalhadas é melhor, desculpa.

ㅡ valeu mesmo.

ㅡ eu sempre digo pro Vini que vou abrir uma creche pra ele cuidar. ㅡ minha irmã disse e eu caí na risada.

ㅡ engraçado é que ninguém gosta de ficar com a parte em que eu me quebro todo. Porque será?

ㅡ essa parte combina mais contigo. ㅡ o Matteo disse e nesse momento era como se ele olhasse diretamente pra mim.

ㅡ sou mestre na arte de quebrar a cara mesmo...

ㅡ ainda mais com namorados. Sempre se apaixonando pelos caras errados. Não é? ㅡ a Penny abriu a boca e me olhou em seguida como se me pedindo desculpa pela indiscrição.

Eu não tinha problema algum com minha sexualidade, pelo contrário, mas eu não sabia se o cara fazia a linha conservador e também não preciso falar pra todo mundo que sou gay. Se a pessoa desconfia e perfunta, eu falo numa boa, mas se nem comenta, vida que segue.

Percebi que ela ficou chateada pelo próprio comentário e o Valter mudou de assunto. Perguntou se o Matteo tinha algum material pra ele olhar e dar inicio à fabricação e ele disse que tinha, mas que precisava separar.

Jantamos e continuamos conversando na sala. O Matteo disse que precisava ir e me ofereci em levâ-lo, mas ele disse que tomaria um taxi. Pedi o taxi e fui com ele até a rua. Ficamos esperando e nesse meio-tempo ele disse que também não estava se dando muito bem no amor.

ㅡ a Penny não tinha nada que comentar...

ㅡ não fica bravo com ela. Se é tão natural entre vocês o fato de você ser gay, como ela iria se policiar?

ㅡ poderia não ser tão natural pra você, por isso ela deveria se policiar.

ㅡ eu não tenho nada haver com a sua vida, rapaz. Quem sou eu pra te dizer o quê é certo ou errado? Cada um vive sua vida como quer e se você nasceu gay, viva como é. Não se pode mudar tudo na vida, a gente só aceita e faz a vida valer a pena da melhor maneira possível.

Eu percebi que em suas palavras, ele se também se referia à sua cegueira e apenas sorri dizendo que ele estava certo. O taxi chegou e o ajudei a entrar. Ele me agradeceu e pediu meu celular. Fiquei surpreso.

ㅡ se importa em mantermos contato? ㅡ ele disse e um calafrio subiu pela minha espinha.

ㅡ claro que não. Será um prazer compartilhar contigo as mazelas da minha vida.

ㅡ rsrs, então seremos dois.

Ele se foi e fiquei pelo jardim pensando em como ele era bonito, divertido e simpático. A Penny veio falar comigo e me pediu desculpa pela indiscrição. Eu disse pra ela esquecer e veio me abraçar.

ㅡ você sabe que eu te amo e nunca te constrangeria na frente de ninguém.

ㅡ eu sei, você só falou a verdade. Eu é que fiquei inseguro. Deixa pra lá.

ㅡ inseguro com o quê?

ㅡ com nada...com nada.

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Continua...

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Comentários

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ja começou de forma otima...só to com medo de ler ate onde foi escrito pra descobrir q esse conto tb foi abandonado

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Vi hoje porque um outro autor da CDC me disse que eu TERIA DE VER. Que delícia de conto. Nem sei se já escreveu a continuação. E de Mirassol ainda. Aqui perto (no Velho Oeste Paulista). Adorei.... Já vou acompanhar. Uma delícia de leitura.

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Amei o início do seu conto, os personagens também. Sua escrita é simples mas fluída, gostei bastante.

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Gostei do início. Espero, ansioso, pela continuação. Um abraço carinhoso par ti.

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Um conto maravilhoso, envolvente, suave, libertário de todas os estigmas de certo ou padrão. Continua logo que este conto será um Mara sucesso.

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Muito fofo, continua que está ótimo.

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Algo novo na Casa. Gosto da sua narrativa despojada na medida certa para agradar. Continue, por favor.

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Nossa, excelente começo, muito bom mesmo, já vi que o Matteo enlaçou o coração do Vini, concordo com o Valtersó excelente escrita, na verdade sempre é um conto bem escrito, enredodo perfeito, continua logo.

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UM EXCELENTE COMEÇO. PELO MENOS UM TIPO DIFERENTE DE CONTO. VEREMOS. MUITO BEM ESCRITO, DE FÁCIL ENTENDIMENTO, SEM ERROS. MUITO BOM MESMO. DIFERENTE DOS CONTOS DE ESCOLA, OU FACULDADE OU DE INFÂNCIA. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

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