TLK - Distopia XIII

Um conto erótico de Bryan
Categoria: Homossexual
Contém 2053 palavras
Data: 12/09/2017 19:56:19

“Espuma, noite e névoa. Uma umidade que entra nos ossos com a força de uma erva daninha criando raízes. Água turva, escura. Milhares de metros de abismo abaixo do navio, e, em algum lugar, ali embaixo, monstros”

I. Freskor

O cano da pistola de Aaron cegava-me com o reflexo do sol. Estúpido, me lembrei que minha arma não tinha sido destravada. Voltei a olhar para Caleb, que ria satisfeito. Aaron aproximou-se de mim, até sua Glock encostar na minha nuca.

–Por que está fazendo isso?– Perguntei com lamúria e raiva.

–Pela verdade– Respondeu seco, o soldado. Me perguntei até onde iam as mentiras do Resistente que pensei conhecer.

–Você me jogou da borda do navio?– Perguntei enquanto ele me empurrava para frente, ordenando que andasse.

–Não, claro que não. Caleb fez isso por mim.

–E foi ele que acendeu o sinalizador verde enquanto você se jogava no mar para me salvar– Constatei.

–Bem, o plano não era quase morrermos– Comentou Aaron, virando a esquina da superestrutura central– Deveríamos se apaixonar, mas foi difícil com você sendo tão ridículo que sequer consegui ficar de pau duro. Já Brad, só precisou te dar uma surra de rola e você ficou babando.

–Eu gostava de você!– Contestei– Quando disse que te amava, foi com sinceridade! Mas... Você nunca se interessou por mim...

–E como me interessaria?– Perguntou Aaron, irritado, jogando meu corpo contra a parede do navio e aproximando seus lábios a poucos metros do meu ouvido– Ouvi dizer que você não serve nem para foder.

Senti um rubor subir pelo meu pescoço. Brad deveria ter contado para todos que eu chorara quando ele tentou me penetrar uma vez... Droga, como Brad poderia morrer dizendo que me amava se fazia isso comigo?

–Mas não nego– Continuou Aaron, sussurrando tão baixo que apenas eu escutava suas palavras. Caleb observava de longe– Que Brad se apaixonou por você depois do afogamento.

Me virei para encarar Aaron, seus olhos azuis pareciam cinzentos. Seus cabelos loiro estavam bagunçados. Comecei a bater no peito dele com toda minha força, o esmurrava enquanto era empurrado para dentro de uma das portas do laboratório.

Apenas parei de me debater quando vi a parede de vidro blindado ainda manchada com o sangue do dia anterior. Dra. Tess trabalhava sozinha, injetando uma vacina num rato. Ela me viu imediatamente quando entrei. Ainda segurando o animal nas mãos, ela observou, surpresa, eu ser guiado até o cubículo de descontaminação. Aaron escondia sua arma atrás das minhas costas, fiz um gesto de negação com a cabeça, claramente ela perceberia que algo estava errado. Afinal, ela já parecia espantar por eu estar ali no laboratório. Ainda mais acompanhado de Caleb e Aaron.

Ela correu para o botão vermelho no alto da parede do laboratório, mas antes que tivesse tempo de acertá-lo, Aaron e eu já havíamos passado pela descontaminação. Atravessamos a saleta onde ficavam as roupas esterilizadas e invadimos o laboratório. Dra. Tess Lirian guardava em uma maleta de prata uma amostra da vacina que acabava de administrar no rato.

–Parada– Vociferou Aaron, tirando o cano da Glock das minhas costas e apontando para a cientista.

–Você está contaminando o laboratório!– Vociferou sem intimidação, Tess Lirian. Ela parecia não importar-se com o dedo do soldado estar no gatilho da arma, pronto para atirar– Exijo falar com o comandante!

Aaron gargalhou.

–Precisaríamos de uma mesa espírita para falar com o comandante.

–Por que está fazendo isso?– Perguntou a médica, enquanto seus dedos aproximavam-se de outra seringa cheia na bancada.

–PARADA!– Gritou Aaron, atirando na caixa de acrílico com o camundongo recém vacinado.

Dra. Tess olhou assustada para a caixa, rompida com o rato ensanguentado por algum estilhaço. Ela pegou a maleta de prata e caminhou para cima de Aaron, mas a arma dele já apontava novamente para ela.

–Mais um passo e você morre– Murmurou o soldado. Ele em nada lembrava o homem que me abraçara enquanto me afogava e jurara amor eterno. Provavelmente aquele fora apenas mais um truque para me despistar.

–VOCÊ ROMPEU A CAIXA DE ACRÍLICO COM O VÍRUS!– Gritou ela para Aaron, enquanto aproximava-se dele– O TLK está solto no laboratório!

Aaron olhou para a caixa e depois para a doutora.

–Vamos– Falou, abrindo passagem para a doutora passar para a saleta com roupas esterilizadas. Não foi difícil para mim perceber que o vírus exposto no laboratório assustava meu raptor e a cientista– O que faz agora?– Perguntou Aaron, fechando a porta dupla do laboratório atrás de nós. Sua arma mudava o alvo, da doutora passava novamente para a minha cabeça. Minutos atrás, pela primeira vez, Dra. Tess Lirian Kathreen falara o nome do vírus para o qual criávamos uma vacina preventiva.

–O que é TLK?– Perguntei enquanto a cientista aproximava-se de um teclado perto do cubículo de descontaminação. Ela digitou uma senha e quase imediatamente jatos de algum produto químico saíram do teto e do chão do laboratório. Em um segundo, uma explosão controlada destruiu completamente a sala.

–TLK– Repetiu a doutora, voltando-se para o cubículo e digitando uma senha de emergência. Seus cabelos loiros, parcialmente brancos, mostravam-me novamente uma mulher cansada. Me perguntei se ela passara a noite criando a vacina preventiva. Se sim, então, a maleta na sua mão carregava a única amostra– Abreviação para The Last Killer.

Fechei minhas sobrancelhas, numa confusão.

–O nome do vírus não é uma abreviação do seu nome?– Perguntei incrédulo. Não sabia que o vírus se chamava TLK e muito menos pensei que as enormes caixas que vira no dia de embarque do TITAN não significasse que eram da Dra. Tess.

A cientista, com um sorriso torto de canto de lábio, virou-se para mim.

–Também.

Aaron me empurrou para perto da porta de descontaminação, que abria-se. Nós três, Aaron, Tess e eu, nos esprememos no cubículo enquanto as luzes ultravioletas eram ligadas e o gás desinfetante acabava com o pouco ar do cubículo. Após alguns segundos a porta externa foi aberta e finalmente nos vimos livres do laboratório.

Claro, não contávamos com a presença de Caleb apontando uma segunda arma em nós. Caleb ameaçava Tess e Aaron à mim. Saímos para o convés, onde disfarçadamente fomos obrigados a subir num dos bote motorizados de emergência.

–Há algum Resistente na ponte?– Perguntou Dra. Tess, obviamente tão curiosa quanto eu para saber como os cabos presos ao bote desceriam os vários metros até o mar.

–Não– Respondeu Aaron, sem emoção. Aaron ficou de pé no convés e começou a descer o bote manualmente, enquanto sua imagem desaparecia substituída pelo casco do navio. Estávamos quase atingindo a água do mar, quando escutamos um tiro no alto do navio. Imediatamente fui tomado pelo temor e alívio da possibilidade de alguém ter neutralizado Aaron. Engano o meu. Logo depois do tiro, o bote sacudiu-se até acabar de atingir o mar.

Do alto do convés, Aaron pulou na direção da água salgada do mar.

Caleb obrigou Tess e eu a ajudarmos Aaron a subir conosco no bote motorizado. Quando nós quatro estávamos prontos. Caleb num extremo, apontando a arma para a cabeça da Dra. Tess, seguido por mim e finalmente por Aaron, que ligava o motor, começamos a navegar na direção do mar aberto.

–Onde vamos?– Perguntei, enquanto via começarmos a nos distanciar do navio. Demorou três segundos para vários soldados saírem no convés e encontrarem o corpo da pessoa morta por Aaron. Imediatamente eles começaram atirar, antes de subirem nos outros botes e descerem com a ajuda da ponte.

–Para terra firme– Murmurou Caleb, apontado para frente. Me virei para observar sinuosos prédios erguerem-se em meio ao mar. Como não tinha reparado que estávamos tão pertos do continente? Ergui minha cabeça para o sol e notei que nossa navegação havia mudado.

–Estamos nas águas do Pacífico– Explicou Dra. Tess, percebendo minha confusão– Depois dos carregamentos no porto de São Paulo, descemos para o fim da América do Sul até contornarmos. Por isso as águas geladas, as tempestades causadas pelo choque entre as massas de ar frio da Antártica e massas de ar quente... Enfim.

–Alguém sabe o que vocês estão fazendo?– Perguntei para Dra. Tess– Alguém sabe que todos do TITAN estão sendo sequestrados?

–Sete dias atrás– A resposta veio de Caleb, seus lábios apertados forçaram-se a pronunciar o que precisava ser dito – O último contato recebido do continente constava que os dois TITANS haviam sido tomados por extremistas e naufragados numa tempestade.

Estávamos há poucos metros da praia quando Dra. Tess levantou-se sem aviso e ficou de pé no bote. Os motores foram desligados. Olhei uma última vez para o TITAN II, mais próximo de nós, e observei os botes cheios de soldado aproximando-se.

Caleb, Aaron e eu ficamos de pé, imitando o ato da doutora. O som das ondas do mar batendo na areia foi quebrado pelo grito desesperado de Caleb. Ele jogou-se no mar e começou a nadar em direção à praia, Dra. Tess balançou a cabeça.

Todos contemplávamos as ruínas do que um dia fora a cidade litorânea de Concépcion, Chile. Seus prédios ardiam em chamas enquanto milhares de infectados de TLK lamuriavam nas ruas. E finalmente eu entendia porque TLK era abreviação de The Last Killer.

Aaron virou-se para Tess com a arma em punho, pronto para atirar.

–Me diga um motivo para não te matar– Falou com os dentes cerrados. Dra. Tess sorriu.

–Seu amigo– Respondeu ela, apontando com a cabeça para Caleb, que acabara de alcançar a praia– Ele precisará mais dessas balas.

Aaron olhou para o outro Resistente, que começava a correr na praia. Algumas pessoas doentes começavam a correr para ele, provavelmente procurando por água e comida. Em segundos, milhares de doentes ocupavam a praia, atraídos por Caleb. Aaron mirou e, com um grito escapado da minha boca, ele atirou.

–Todo o Chile foi consumido pela epidemia?– Perguntei ainda chocado com a morte do outro Resistente a sangue frio. Minha pergunta flutuou no ar por alguns segundos, sem ser dirigida para ninguém em específico.

–Pandemia– Corrigiu Dra. Tess– O mundo morreu.

Ainda de pé no bote, saboreei as últimas palavras da doutora Tess. Me esqueci de tudo que Aaron fizera e de todas as palavras horríveis que me dissera, e apenas aproximei minha mão da dele. O soldado me encarou por um segundo, antes de entrelaçar seus dedos nos meus. Encostei minha cabeça em seu ombro enquanto observava com infelicidade o caos da cidade.

Ao longe, uma sirene começava a soar. Aaron e eu continuamos imóveis, indiferentes a linha azul que destacava-se entre o céu e o mar atrás de nós ou aos botes cheios de soldados aproximando-se. Com o primeiro olhar de desespero passando por sua face, Dra. Tess sentou-se no bote e anunciou o motivo da sirene soando ao fundo.

–Tsunami.

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FIM DA PARTE UM

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TLK é cientificamente o nome da doutora Tess Lirian, mas popularmente é conhecido como abreviação de The Last Killer (assim como H1N1 é conhecida por gripe suína). Não entrarei em detalhes sobre o vírus porque será melhor explicado na segunda e terceira parte da história. A primeira parte de TLK (distopia) é focada nos mistérios que rondam os navios e enquanto Chris tenta descobrir os segredos por trás de todos.

Sabendo antecipadamente do risco iminente desse vírus, mantido em sigilo por um par de meses antes da pandemia, cientistas que o estudavam resolveram preparar um plano de contingência para sobrevivência caso o pior acontecesse. Com ajuda de empresários e alguns políticos, foi criada a Coalisão de 12 empresas responsáveis pela construção de 12 navios que carregariam humanos selecionados. Cientistas de grande importância são classe A. Cientistas e pesquisadores são classe B. Humanos de sangue O negativo e alta inteligência são classe C e acompanhantes são classe D.

Apesar de unânime entre as lideranças a importância dos TITANS, não acontecia o mesmo com soldados e oficiais de classes baixas que sabiam do vírus. Em pouco tempo, pequenos grupos de motins surgiram combatendo o plano TITAN e defendendo a revelação do vírus para uma preparação da população como melhor forma de sobrevivência do máximo de pessoas. Eles são A Resistência. Considerado um grupo terrorista e perigoso para a continuidade humana.

Não sei quando começarei a postar a segunda parte da história. Obrigado por todos que acompanharam a história, peço que comentem opinando quem puder.

Obrigado por todos que acompanharam a leitura,

Com toda gratidão, B.

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Comentários

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Não terminou, até o final do mês continuará a parte 2. Aaron está sendo bem cretino mesmo, mas humanos são assim. Difícil achar pessoas sinceras, a única diferença é que elas não falam na nossa cara quando estão nos usando ou se aproveitando.

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Aaah isso é jeito de terminar? E Aaron era fofo agora é só um cretino escroto.

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