O Vício - Couro Preto

Um conto erótico de Matheus Azevedo
Categoria: Homossexual
Contém 979 palavras
Data: 26/06/2017 23:00:54
Assuntos: Gay, Homossexual

Pretendo reivindicar um território, pequenino, mas meu.

Faltando-lhe um nome, eu o chamarei – temporariamente – de Terra da Foda.

Sem mudança, sem prazer, sem piadas, sem sexo.

Sem escolha, sem moral, sem ética, sem profundidade.

Sem cor, sem luta, sem liberdade, sem vida.

Profunda criação, a tentação é doce.

Eu estava sentado no quarto, assistindo à televisão, pensando no nada e em nada, sem conseguir continuar com a minha vida. Quando eu finalmente escuto alguém chegando à porta da minha casa.

Ele chega, de capacete como Darth Vader, usando calças pretas, jaqueta de couro preto e botas de couro de bico fino. Há esporas de verdade em seus calcanhares. Esporas de aço. Elas cintilam. Ele me toma nos braços, me abraça por um momento, meu corpo quente de encontro à maciez gelada pelo vento do couro preto. Desde o momento em que ouço o borrifo do cascalho na entrada de automóveis e o motor veloz da sua moto, meu motor também começa a funcionar. As batidas começam no meu coração, se espalham pelo meu corpo como tambores da selva, provocam um eco retumbante naquele outro coração entre as minhas coxas, acabando por umedecer o calção que vesti para esta ocasião (é realmente um calção e não a sua prima mais modesta, a cueca, pois comprei-o para o fim de semana sujo, gostoso e sujo, e o vestuário produzido para ele, como convém, é mais ousado).

Quem pode descrever a luxuria quando é quente assim, suculenta assim, irresistível assim? Palavras não a podem tocar. Talvez apenas a música possa fazer eco à sua elevação e peso, ao calor, à vibração. Certa vez fiz um desenho da luxúria (tudo bem: o segredo foi revelado, já sabem o meu hobby). Era um desenho redondo com um centro ardente de laranja e ondas de vermelho e lavanda vibrando em sua direção. (Os meus desenhos são bem abstratos, figurativos, pós-modernistas. Atualmente, estou mais interessado na fotografia.) Essas ondas de vermelho e lavanda... uma contusão futurista... estão comigo agora, dentro de mim, enquanto ele passa as mãos nas minhas nádegas, desliza-as entre as minhas coxas e encontra o local sedoso onde o calção se abre e eu viro líquido puro.

O que acontece a seguir você sabe. Eu quase sei também, só que estou enlouquecido de desejo. Ele me faz ajoelhar, como um bom menino obediente. Abre o zíper de sua calça, expõe para fora o seu pau, me faz colocar minha língua para fora, pousando o seu cacete sobre ela, para que eu possa degustá-lo, o que eu faço de bom grado.

Em seguida, ele me engoli-lo todo de uma vez. Ele começa a estocar a sua vara em minha boca, passando as mãos em meus cabelos, enquanto me observa através do visor do capacete, que ele sequer tirou.

Eu me esforço para conseguir chupá-lo, abocanhando o seu pau com gosto, enquanto agarro, com as duas mãos, o seu tórax e a sua cintura, deslizando meus dedos pelas suas costas, como se fosse um náufrago em mar aberto.

Caímos no chão do vestíbulo (tábuas largas de madeira, um tapete feito à mão, alguns montinhos de poeira correndo atrás uns dos outros como se fossem amarilhos no rastro de nossos cavalos em disparada), e ali mesmo, nas tábuas do piso, viramos a fera de duas costas num emaranhado de couro preto e tecido, nossas roupas puxadas apenas o suficiente para deixar expostas as partes que tem o poder de se unir.

Ele me joga ao chão e sobe em cima de mim, me penetrando com força e intensidade, me fazendo choramingar de prazer embaixo dele, enquanto ele me beija e chupa o pescoço. Me viro para poder beijá-lo, ansioso para provar de seu beijo de novo, sentir os seus lábios, sua língua molhada invadindo a minha boca. Desse jeito... vestidos, de capacete, com o couro do bode cujo signo copulamos... gozamos pela primeira vez tumultuosa.

Isso parece apenas aquecer o nosso sangue para a próxima, e agora começamos a despir as barreiras de tecido e pele e metal (meu calção, o seu couro preto, seu capacete), logo ficando nus nas tábuas largas do piso da década de 1970, com uma confusão de roupas jogadas por toda a parte... nossas testemunhas.

- Meu bruxo – sussurra ele.

- Meu demônio, meu feiticeiro, meu amor...

Não conseguimos nos controlar, na verdade, estamos ensandecidos. Ele lambe, mordisca e chupa os meus mamilos, minha barriga, meu umbigo. Eu me contorço todo e grito diante do seu toque, da sua língua, dos seus dentes. Arrancando sua última peça de roupa, sua cueca cinza, ele me põe de quatro no chão e com as pernas arqueadas ele começa a meter fundo em mim, abrindo-me cada vez mais para ele.

Ele se apoia em minhas costas, segurando os meus ombros, mantendo-me submisso e servil às suas estocadas. Em um ato impulsivo, nós viramos e agora eu estou por cima dele, sentado em seu colo, subindo e descendo loucamente por toda o comprimento de seu cacete, enquanto nos beijamos lascivamente, suas mãos segurando os meus cabelos.

Ele está dentro de mim de novo, duro de novo, a haste curva de seu pau correspondendo ao desejo retorcido que me impulsiona a ponta de sua glande alcançando aquele ponto bem dentro de mim que espirra líquido puro, a poção do universo dos bruxos.

Devo continuar? Como duas pessoas podem fazer amor desse jeito, depois se separar? Deviam ficar ligadas para sempre, transformadas em uma só sob a luz zombeteira que ilumina seus corpos azulados, vestidos de céu. Porém é uma das ironias deste tipo de sexo que ele se nutre da distância, e amantes que amam deste jeito ou não podem viver juntos, ou, quando vivem, a sua cópula perde parte da magia. Só assim eles podem viver juntos o suficiente para fazer mingau, pintar a casa, plantar um jardim... ou um bebê.

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Comentários

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Tipo mágica quando eles ficam juntos. Uma droga que faz você se sentir bem, mas ela é ruim pra você, pro seu ser. Esse é o vício do conto né?

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