Sem Vergonha

Um conto erótico de Oberlin
Categoria: Homossexual
Contém 938 palavras
Data: 24/06/2017 18:29:56

Não sei se você já ouviu a tal lei de Murphy, que diz “Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”, eu estava basicamente vivendo isto, parecia que nada que fizéssemos melhoraria a situação na qual me encontrava. Eu poderia parar por aí, desistir de tentar consertar o grande estrago que causei, mas decidi continuar a tentar resgatar-me. Estava convicto de que emergiria daquele mar de má decisões. Pena que meu “bote salva-vidas” serviu de peso para me matar afogado.

Mas deixem-me explicar minha situação mais detalhadamente. Meu nome é Isaac, eu tenho 31 anos e sou um dos mais bem-sucedidos escritores dos últimos anos. Vendi milhares de cópias dos meus melhores best-sellers.

Não foi fácil, obviamente, para chegar onde estou tive de lutar com leões e monstros, e eu consegui vencer todos, ou quase todos, no último ano um desses monstros ganhou, e eu acabei fazendo a maior bobeira da minha vida, expus minha intimidade em uma noite de bebedeira e no dia seguinte estava em todos os tabloides.

Pesquisas feitas pelo meu empresário informam que nos últimos 11 meses houve uma queda significativa nas vendas dos meus livros, e tudo indica que tenha sido resultado deste episódio detestável do qual vivi.

E era por isso que na última semana, durante todas as noites, eu me juntava com meu empresário e Mariana na sala da minha casa para discutir formas de sair desse lixo midiático que minha vida havia se tornado.

Foi em uma sexta-feira que decidimos fazer aquilo que mudaria minha vida para sempre.

João, meu empresário, estava em uma viajem à Buenos Aires fazendo contratos com uma distribuidora Argentina para a produção dos meus livros no país, então nossa reunião do dia foi feita via Skype.

Nossas reuniões eram pouco formais, até porque nós três já éramos mais íntimos que mãe e filho, então era comum encontrar Mariana de meia desfilando pelos corredores da minha casa. Durante a reunião ela havia jogado a cabeça sob meu ombro, enquanto seu cabelo negro e liso jorrava pelo lado esquerdo do meu dorso feito uma cachoeira sob as pedras. Eu podia sentir sua respiração compassada passar por altos e baixos enquanto ela oscilava entre cochilos e momentos em que estendia a mão para tomar uns goles de café.

O notebook estava no meu colo, iluminando nossas faces em meio à escuridão da sala de estar. Já havíamos passado em torno de 4 horas discutindo. Olhei para o relógio no canto da tela e vi que já eram 3 horas da manhã. Pensei em como era bizarro o fato de que ficávamos tanto tempo procurando uma solução para meu problema. Rebati aquele pensamento com a simples ideia de que é muito difícil reerguer uma imagem na mídia sem parecer um sociopata manipulador.

Estiquei a mão para pegar a caneca de café, no que vi Mariana erguer a cabeça em um pulo.

— Sua biografia — disse ela, sua voz estava rouca provavelmente por causa das horas em que ficou dormindo no meu ombro — Todo mundo viu sua biografia!

Ergui as sobrancelhas e virei meu rosto para Mariana.

— E daí? — Perguntei rigidamente.

— Nós podíamos reerguer sua imagem fingindo que você é uma pessoa do bem — ela franziu a testa assim que acabou a frase, depois olhou para mim e se explicou — Não que você seja uma pessoa do mal, mas você entendeu... — desistiu da explicação, enquanto bocejava.

— Continua — disse a voz nítida de João que saia dos alto-falantes. Graças a esses computadores modernos, uma sensação quase presencial inundou a sala, como se ele estivesse sentado no sofá atrás de nós.

— Se lembra, Isaac, quando você veio me pedir para morar de favor na minha casa, lá na época da faculdade? E eu disse que sim? Então, todo mundo gostou dessa parte. Nas entrevistas de quando saiu sua biografia, lembro que até fiquei famosa por ter ajudado uma celebridade a não virar mendigo.

A verdade era que Mariana era a pessoa mais inteligente que eu conhecia, sinceramente, mas só quando estava sem sono. Bufei e disse:

— Desembucha logo.

— Seria perfeito se você ajudasse uma universitária sem moradia, assim como eu te ajudei.

Silêncio.

Já consegui imaginar toda situação na minha cabeça. Era uma péssima ideia. Sinceramente, teria sido melhor ter deixado Mariana aproveitar suas férias da clínica em Marrocos, ou no Caribe, ao invés de tê-la pedido para ficar me ajudando a melhorar minha imagem. Mas que ideia! Mariana não era nem advogada, nem publicitária. Não entendia nada do mundo da fama.

Quando fui abrir minha boca para a advertir sobre a ideia péssima que teve, fui interrompido por João, dizendo:

— Pode dar certo.

Virei para a tela com as pálpebras superiores levantadas. Eu não acreditava naquilo. João mexia na pele do queixo, onde deveria ficar sua barba, do outro lado da tela, balançando a cabeça enquanto pensava naquela situação degradante.

— Não. Não pode dar certo! — Interrompi-os.

— Pode dar certo sim — disse Mariana.

— Vocês sabem muito bem como vão as coisas na minha vida — completei, no que pude sentir meu sangue subir para o rosto — Não podemos trazer uma garota para meu apartamento. A mídia vai dizer que é minha prostituta universitária!

Já podia ver os jornais noticiando aquela situação horrenda. Eu quase via os tabloides anunciando minha falta de dignidade, me comparando à um idiota.

Esse era um dos momentos em que eu agradecia por ter gasto tanto em um apartamento com paredes grossas, que não podiam transmitir meus gritos para os vizinhos.

— Não haverá nenhuma universitária! — revelou João — Até porque será um garoto.

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