Uma pica muito possessiva

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 14245 palavras
Data: 07/03/2017 16:55:12

Uma pica muito possessiva

Corria o ano de 1780 numa França conturbada por revoltas populares, inundações ao norte e secas ao sul, nas regiões montanhosas, que agravavam a escassez de alimentos. A despeito do clima político alvoroçado, no castelo de Langeais, soprava uma brisa fresca que atingia o alto do promontório rochoso às margens do rio Roumer no vale do Loire. O duque de Touraine, meu pai, primo direto do rei, mas fora da linha sucessória, vivia com nossa família uma tranquilidade que se limitava aos muros do castelo. Eu como filho caçula, sabia pouco a respeito do que se passava no meu país, não porque tivesse uma educação limitada, pelo contrário, aos dezessete anos eu dominava perfeitamente quatro idiomas, tinha excelentes conhecimentos de história, geografia, álgebra, astronomia, botânica e filosofia, mas meus preceptores poupavam a mim, meus irmãos e mais outros filhos de nobres e generais que viviam nos domínios do meu pai, de todo e qualquer assunto que dissesse respeito ao que acontecia no mundo à nossa volta. Entre estes assuntos tabu estava, obviamente, a crescente onda trazida pelo iluminismo.

Eu era um apaixonado pela natureza. Gostava a acompanhar os trabalhos do mestre jardineiro, encarregado de cuidar dos imensos jardins que circundavam a propriedade. Quando não me encontravam nas dependências do castelo, era dada ordem de saírem a minha procura, pois, não raro, eu sumia durante horas, deixando os criados em constante polvorosa. Com o tempo, descobriram que bastava vasculhar os cantos mais ermos dos jardins, para me encontrar a beira de um regato, sentado nos troncos das árvores ou simplesmente perambulando próximo às margens do rio procurando pelos ninhos que algumas aves construíam entre o capinzal alto. Invariavelmente, meu retorno era acompanhado de uma bronca, algum castigo, e muita agitação e recomendações aos criados. Tanto eles quanto eu, já tínhamos nos acostumados às exaltadas ordens dadas pela minha mãe ou pelo pai, para que isso não acontecesse mais. Bastavam os ânimos se acalmarem e lá ia eu outra vez, seguir uma raposa que corria sorrateira entre as sebes, um pássaro que levava no bico algum alimento para os filhotes no ninho, ou algo do gênero.

O chefe da guarda era um general cuja vida tinha sido a dedicação fiel ao meu pai na proteção de suas propriedades que se estendiam por muitos quilômetros quadrados na região de Touraine, bem como à composição de um exército cujos homens estavam em constante serviço à corte defendendo aquela região do país da cobiça de outras monarquias. Entre seus filhos estava um único varão que, aos dezenove anos, se encantava mais pelas artes militares do que pelo ensino dos nossos tutores, uma vez que ele, também recebia a mesma educação que nós. Patrick se distraía durante as aulas fazendo desenhos de engenhocas bélicas, ou esboçando figuras que se engalfinhavam numa guerra imaginária. Quando monsieur Cavion o flagrava alheio a seus ensinamentos e concentrado em seus desenhos, o castigo era certo. Enquanto nós cochichávamos e dávamos risadinhas, ele fechava a cara e nos dirigia ameaças veladas. Embora estudássemos juntos todos os dias, por longas e intermináveis horas, eu pouco conversava com ele. Éramos tão diferentes que uma aproximação não era cogitada por nenhum de nós.

Entre os homens que preparavam os soldados do exército comandado pelo pai do Patrick estava um sujeito que ensinava a arte da esgrima. Patrick e ele logo se tornaram grandes amigos, embora o homem tivesse idade para ser seu pai. A afinidade veio pelo estilo agressivo e destemido que ambos possuíam. Poucos meses depois de sua chegada ao castelo, Patrick figurava entre os mais hábeis esgrimistas do grupo. Como filho homem, também precisei me submeter a mais este ensinamento. Eu o detestava, arrumava inúmeros pretextos para não comparecer às aulas e, obviamente, estava no rol daqueles que jamais dariam para a coisa. Ora eu saía com um punho luxado, ora com um arranhão na pele provocado por uma ponta de florete e, quase sempre, com o corpo moído por um esforço que eu reputava como inglório.

Embora eu não fizesse ideia, a fartura das festas oferecidas constantemente no castelo advinha da quase escravidão de uma plebe que trabalhava mais de doze horas por dia e, que ao final da jornada, tinha que se contentar com um minguado prato de cereais. Eu só vim a descobrir isso quando uma revolta campesina chegou às portas do castelo e, foi sumariamente suprimida pela ação feroz do pai do Patrick. A curiosidade aguçada me fez questionar meus pais, meus mestres e quem mais eu achava que podia me dar respostas sobre o motivo de tal revolta. As explicações desencontradas não me satisfizeram, no entanto, eu precisei me contentar com elas, pois ninguém parecia disposto a revelar a verdade.

- Dizem que o rei está enfrentando uma onda de revoltosos por todo o país. É uma plebe querendo derrubar a monarquia, segundo ouvi numa conversa do meu pai com um recém enviado do rei. – disse, um garoto cuja família morava num castelo próximo e, constantemente passava finais de semana conosco, uma vez que estava interessado na minha irmã Isabelle.

- Não é uma plebe! São camponeses, burgueses e toda a população da França cansada de pagar impostos que vocês e o clero não pagam. Eles querem que a carga tributária não caia exclusivamente sobre suas costas, mas seja dividida entre todos. – retrucou o Patrick, deixando o garoto sem ação e, a todos nós, com uma dúvida de onde ele sabia dessas coisas que nós, simplesmente, desconhecíamos.

- Quem é esse, Isabelle? – perguntou o garoto à minha irmã, quando ouviu as palavras do Patrick.

- É o filho do general Châtillon, amigo de papai. – respondeu minha irmã ao pretendente pelo qual ela também se interessava.

- Seu pai deveria ser aconselhado a afastar essa gente do convívio de vocês. Não consigo entender como ele permite que vocês se aproximem desses plebeus. Meu pai disse que todos deveriam ser executados na guilhotina. – afirmou o garoto, dirigindo um olhar desdenhoso para o Patrick.

- Se você repetir isso eu quebro a sua cara! Venha me colocar na guilhotina se for capaz, seu imprestável! – bradou Patrick, partindo para cima do infeliz, que se recolheu apavorado com a possibilidade de levar uma surra bem diante da namorada.

- Deixe de bravatas Patrick! Se não sabe conviver em sociedade, não deveria se juntar a nós. – disse minha irmã, tomando as dores do namorado. O Patrick se afastou do grupo chutando o solo e resmungando palavras ininteligíveis.

Eu só o reencontrei alguns dias depois, na aula de esgrima. Disse que queria conversar com ele quando as instruções e o treinamento terminassem, ele nem me deu bola. Tive de correr atrás dele quando o treino terminou e, já esgotado pelo esforço físico extenuante, mal consegui correr atrás dele.

- Espere Patrick! Quero conversar com você. Você não me ouviu antes da aula? – perguntei, arfando de cansaço.

- O que você quer? Não tenho nada para conversar com você! Me deixe em paz! – retrucou zangado.

- Pare! Estou ordenando! Não consigo andar tão ligeiro, estou exausto! – gritei atrás dele, usando minhas últimas forças.

- Quem é você para me dar ordens? – replicou ele, estagnando e virando-se na minha direção.

- Sou o filho de seu amo e senhor, e você me deve obediência! – exclamei, tomado da soberba que me foi incutida desde a infância.

- Aha! Você não passa de um fedelho arrogante! Eu não lhe devo obediência alguma. Vou lhe dar alguns cascudos para que aprenda a me deixar em paz e, principalmente, a não falar comigo desta maneira. – retrucou ele, erguendo os punhos como se quisesse me golpear.

- Como se atreve a falar comigo nesse tom? Vou contar tudo ao meu pai e, tenho certeza de que você, e sua família serão expulsos daqui. – revidei, não temendo seus punhos cerrados.

- Diga o que quer de uma vez. – respondeu, percebendo que eu não o temia.

- Como você sabe daquelas coisas que mencionou quando estávamos no piquenique próximo às margens do rio no último domingo? – perguntei, cheio de esperança de ver minhas dúvidas esclarecidas.

- Que coisas? Do que você está falando? – quis saber.

- Aquela coisa de pagar impostos. Eu nunca tinha ouvido falar nisso. – respondi.

- Vocês só ouvem aquilo que lhes interessa! Esse é um assunto muito complicado para essa sua cabecinha de vento. – disse ele.

- Eu sou mais inteligente do que você. Sempre sei as respostas das perguntas que monsieur Cavion faz, enquanto você está desenhando aquelas coisas. Não há nada que você me explique que eu não seja capaz de entender. – afirmei, convicto da minha superioridade intelectual.

- Aquelas aulas chatas não me interessam! E você não passa de um bobão que fica deslumbrado com o que aqueles mestres dizem. É incapaz de pensar por si próprio. – retorquiu ele.

- O namorado da minha irmã está certo, você deveria ser degolado ou ir para a forca. Você é um estúpido que não deveria conviver conosco. – revidei, cheio de raiva.

- Então mande me executar! Não é isso que vocês sabem fazer de melhor? Mas antes eu garanto que furo, com minha espada, pelo menos meia dúzia dos soldados que seu pai mandar atrás de mim. – garantiu ele, num arroubo de valentia.

- Deixe de ser exibido! Responda o que eu te perguntei, a menos que também não saiba dar uma resposta convincente. – desafiei-o.

- Pois bem! Então veja se é capaz de entender. – começou ele. Em seguida me revelou coisas das quais eu nem supunha a existência. Eu o ouvia com a máxima atenção, sem desgrudar o olhar petrificado de seu rosto viril.

- E, por que você acha que se todos pagarem impostos essa gente toda vai viver melhor? Se meu pai e os outros nobres derem dinheiro para essa gente, eles não vão querer trabalhar mais, não é? Eles trabalham por que precisam do dinheiro. – argumentei, na minha ingenuidade quanto aos conflitos sociais.

- Se todos pagarem impostos, aqueles que hoje pagam muito não precisarão pagar tanto, e todos viverão melhor! – exclamou ele.

- Quem te disse isso? Eu acho que eles vão simplesmente parar de trabalhar. – argumentei.

- É claro que não! Eles apenas terão mais dinheiro para sustentar suas famílias. Será que você não enxerga o obvio? – questionou.

- Você não pode ter certeza disso! – exclamei, pois os argumentos dele não faziam o menor sentido para mim.

- Assim como está é que não pode continuar! Uns com tudo e outros na penúria. Eu vou lutar para mudar isso, e ninguém vai me impedir. – garantiu ele.

- Você só pensa em luta. Não sabe fazer outra coisa que não seja arrumar briga? – indaguei, pois aquele arrebatamento dele me irritava um pouco.

- Eu sei lutar pelo que considero justo, ao contrário de você que só sabe andar por aí nesses trajes empertigados feito um marica afeminado. – afirmou.

- Estupido! Você diz isso por que no fundo queria ser igual a mim. Ao invés disso é um mero plebeu, sem eira nem beira. – revidei, com os brios feridos.

- Você já me importunou o suficiente por hoje! – respondeu, saindo pisando firme.

No dia seguinte enchi meus preceptores de perguntas a respeito do que o Patrick tinha me dito. Eles o encaravam com se ele fosse uma maçã podre no meio de uma cesta de frutas frescas. Monsieur Cavion chegou mesmo a solicitar uma audiência com meu pai ao final do turno de suas aulas. O resultado de tantas perguntas veio com o cair da noite. Durante o jantar, meu pai me perguntou o que o Patrick tinha me dito sobre a questão dos revoltosos. Pela expressão taciturna e preocupada dele, percebi que não deveria falar demais, pois poderia prejudicar seriamente a vida do Patrick e, talvez, até o de toda sua família. Fui o mais conciso que pude nas minhas respostas, mas minha irmã acabou se intrometendo na conversa e sinalizou que o Patrick tinha feito uma afronta ao seu namorado.

- Cale-se Isabelle! Você sabe muito bem que foi seu namorado quem provocou o Patrick. Ele só se defendeu das besteiras que aquele panaca falou. – afirmei irritado.

- Isso não são modos de você se reportar a sua irmã. Contenha seu linguajar se não quiser passar uns dias de castigo em seu quarto. – sentenciou minha mãe.

- Ela está falando isso para prejudicar o Patrick! – exclamei, tomando a defesa dele sem mesmo saber por que, uma vez que ele me ignorava completamente e tinha sido rude comigo.

Naquela noite, quando todos já dormiam, eu focava meu telescópio por uma das janelas abertas do meu quarto na direção das estrelas circumpolares da constelação de Cygnus, procurando especificamente as estrelas Deneb e Aldireo, que tinham sido mencionadas pelo professor de astronomia na aula do dia anterior e que, até o momento, eu não conseguira visualizar, quando o Patrick invadiu meu quarto feito um possesso.

- O que foi que você foi fofocar para o seu pai a meu respeito? Ele chamou meu pai para uma conversa e disse para ele me vigiar e me calar quanto a insinuações subversivas que eu estava promovendo. Acabo de ser repreendido e ameaçado pelo meu pai. Foi você quem veio me encher com aquelas perguntas. – gritava, me pegando pelos braços e me sacudindo todo.

- Eu não disse nada! Juro! – balbuciei, assustado com aquela abordagem repentina.

- Mentiroso! Covarde! Afeminado! – berrou alterado.

- Vou chamar pelos guardas, saia do meu quarto! Você não pode entrar aqui. Vou mandar prendê-lo numa cela seu cretino! – revidei, sem me intimidar.

- Então chame! Se vierem me prender jogo você pela janela. – afirmou, duvidando da minha coragem. Mas, no momento em que corri até a porta para pedir socorro, ele me interceptou e me atirou sobre a cama.

Eu me debatia tentando me libertar de seus braços musculosos, acertei uma joelhada no saco dele e ele me soltou, levando as mãos entre as pernas e se contorcendo de dor. Consegui alcançar a porta, mas antes de girar a maçaneta, virei-me em sua direção e desisti da ideia de pedir socorro.

- Viu? Não pense que tenho medo de você só por conta desse monte de músculos. Está doendo muito? – perguntei, me aproximando dele.

- Isso é golpe baixo! Um cavalheiro jamais faria uma coisa dessas. – gemeu, quase sem folego.

- Você me provocou! Eu não quis te machucar, juro! Me desculpe. – eu havia me aproximado perigosamente dele, e só me dei conta da minha ingenuidade quando ele me atirou sobre a cama e ameaçou me esbofetear.

- Vamos ver se continua tão valente depois de levar umas bordoadas! – exclamou furioso. Meu olhar arregalado e assustado com aquela mão pesada se aproximando do meu rosto fez com que ele também desistisse. Furioso consigo mesmo, por não conseguir me bater, deixou-se cair sobre a cama, sacudindo todo o colchão.

- Foi minha irmã quem contou que você ameaçou o namorado dela, depois de ter dito aquelas coisas. – confessei.

- Vai se esconder atrás das saias da sua irmã, seu marica? – inquiriu irritado.

- Não! Só estou te contando a verdade. Quem manda sair por aí ameaçando os outros? – afirmei.

- Aquele almofadinha precisa de uma lição. Na próxima vez que eu o encontrar ele vai levar o que merece. – rosnou furibundo.

- É por isso que você está nessa situação. Já falei para parar de ameaçar os outros. Um dia é você quem vai levar a pior. – argumentei.

- E você vai ficar feliz da vida, não é? É mais um plebeu pagando pelo que não fez. Isso vai te fazer vibrar. – disse ele.

- Não diga besteiras! Não tenho nada contra você, nem contra ninguém. Isso já virou mania de perseguição! Você deveria aproveitar os privilégios de que desfruta, ao invés de ficar maldizendo quem está te proporcionando um futuro. – aconselhei sensato.

- É assim que você pensa, não é? Basta jogar umas migalhas aos porcos que eles vêm lhe lamber as mãos. Comigo não é assim que a coisa funciona. – revidou, embora minhas palavras o tenham acalmado e ele refletia sobre elas, conforme me pareceu.

- Não adianta falar com você! Para tudo você tem uma resposta na ponta da língua, mas para me esclarecer o que eu pergunto você também não tem as respostas. – sentenciei, voltando para junto da janela e prendendo o olho no telescópio.

- Por que você insiste nisso? Para que quer saber quais são as razões dos revoltosos? – indagou.

- Por que acho que alguma coisa deve estar muito errada para que tantas pessoas se juntem a fim de defender seus direitos. Eu só quero entender! Há algum crime nisso? – afirmei.

- Eu também acho que tem alguma coisa errada. Não sei dizer exatamente o que, mas sou da mesma opinião. – sentenciou, finalmente concordando comigo.

- Viu? Pelo menos estamos de acordo! – revidei.

- Não tenho nenhum acordo com você! Não vou me misturar a almofadinhas maricas como você! Afinal, o que tanto você bisbilhota nesse telescópio? – questionou, percebendo que eu ignorara totalmente seus insultos.

- Estou procurando Deneb e Albireo! Lembra-se da aula de astronomia de ontem? Não as encontro. – respondi compenetrado na minha busca.

- Não admira, você está em Cepheus! Vire mais para a direita e ligeiramente abaixo, aqui ..., não, agora sim, esta parece ser Cignus ... vamos ver ... – ele movia delicadamente o telescópio.

- Saia! Sou eu quem quero encontra-las! – exclamei, jogando meu corpo sobre o dele para afastá-lo. – É verdade! Aqui estão Deneb e Albireo, veja como brilham. São lindas! – exclamei eufórico com o achado.

- São só estrelas, o que pode haver de lindo nelas? Não passam de pontinhos perdidos no céu, piscando feito vagalumes. – retrucou ele, insensível à minha alegria.

- Você não sabe apreciar nada do que é belo! – respondi, sem encará-lo.

Não sei quanto tempo passei com a cara enfiada nas lunetas, enquanto mil pensamentos vinham à minha cabeça, me transportando para além daquele quarto. Só voltei a notar a presença dele sentado numa poltrona quando me desprendi dos meus sonhos. Ele olhava fixamente na minha direção e eu não entendia por que. De repente vi que estava entre ele e uns candelabros, onde as luzes tremulantes das velas, agitadas pela brisa que entrava pela janela, faziam um clarão que permitia ver meu corpo debaixo da camisola fina, que se tornara transparente sob a luz das velas. Ele devia estar absorto com algum pensamento libidinoso, pois por baixo de suas calças via-se nitidamente uma ereção em curso.

- O que você está fazendo? Saia imediatamente do meu quarto! – berrei, quando me conscientizei da safadeza dele.

- Hã! O que foi que ... Eu não estou fazendo nada! – retrucou, só percebendo que estava de pau duro quando se levantou da poltrona e veio na minha direção impedir que fosse em direção à porta.

- Nojento! O que é isso, então? – perguntei, apontando para a pica dele.

- Deixe de drama! Vai me dizer que nunca ficou de pau duro! Precisa fazer todo esse escândalo? – respondeu calmamente.

- Você estava olhando para mim quando ficou assim! – afirmei.

- É, acho que estava. Gosto das curvas da sua bunda. Sempre me desconcentro nas aulas de esgrima quando você usa aquelas calças apertadas em que mal cabe essa bunda carnuda. – ele disse isso olhando na minha cara e sem o menor constrangimento.

- Como você pode dizer um absurdo desses? Nós somos dois homens, isso não tem cabimento! – retruquei exaltado.

- Eu sou homem, disso não há dúvida. Já você, eu não apostaria um escudo de prata para dizer o que você é. – ele se riu enquanto falava e propositalmente, virou a cabeça para melhor visualizar minha bunda. Eu parti para cima dele como um leão sobre a caça.

- Desgraçado! Miserável! Plebeu! Plebeu! Plebeu! – berrei, enquanto ele segurava meus socos para que não o atingissem. Uma gargalhada diante da minha fúria me deixou mais irado ainda.

- É, talvez se você se empenhar bastante nisso, pode ser que algum dia se transforme num homem. – zombou, quando minhas forças já não me permitiam continuar a agredí-lo.

- Eu odeio você! Eu mesmo vou ordenar o seu enforcamento um dia desses. Quero ver essa cara debochada pendurada numa corda. – desabafei, livrando meus braços de suas mãos que mais pareciam as patas de um urso.

Ele não revidou. Ficou calado, esperando minha respiração agitada voltar ao normal. Nem com os meus irmãos eu tinha discussões tão acaloradas. Ao mesmo tempo em que sentia vontade esganá-lo, gostava de estar com ele. Ele parecia revolver tudo dentro de mim, e isso me desestabilizava. Eu também invejava aquela liberdade que ele parecia ter, pois podia ir para onde bem entendesse sem estar acompanhado de um séquito funcionários. Aos poucos ele foi se aproximando de mim, encarou-me e pegou na minha mão.

- Não gosto de brigar com você! – murmurou, olhando bem dentro dos meus olhos.

- Então por que você faz isso o tempo todo? – perguntei, deixando o brilho castiço do meu olhar o seduzir.

- Não sei! – respondeu, inconformado com aquilo que brotava em seu peito.

Ele levantou um pouco a minha camisola e eu senti as mãos dele percorrendo minhas coxas rumo a minha bunda. Olhei no fundo de seus olhos e tentei decifrar aquele olhar, mas não consegui. As duas mãos agarraram minhas nádegas e ele me trouxe para junto dele. Dava para sentir o calor que vinha do corpo dele, e uma estranha energia que parecia formar uma aura ao seu redor, tão quente quanto ele próprio. Ninguém havia tocado na minha bunda daquele jeito, e eu senti um calafrio percorrer meu corpo. Mas não era uma sensação ruim, pelo contrário, embora eu sentisse as pernas tremendo, meu corpo começava a ficar quente e agitado. O Patrick foi erguendo minha camisola aos poucos, até a tirar por cima da minha cabeça. Eu estava nu e ele olhava fixamente para o meu corpo. Fiquei encabulado, mas percebi que ele estava gostando de me ver pelado. Ele colocou a mão debaixo do meu queixo e levantou meu rosto.

- Você é lindo demais! – disse, com uma voz suave e firme.

- Por que você tirou a minha roupa? – perguntei, olhando para seu rosto viril e anguloso.

- Queria ver como você é bonito! – respondeu, no mesmo instante em que começou a deslizar as costas de dois dedos sobre um dos meus mamilos.

Aquilo fez os biquinhos de ambos os peitinhos se projetarem hirtos e intumescidos, sem que eu pudesse impedi-los. Parecia que tinham adquirido vontade própria. O mesmo estava acontecendo outra vez debaixo das calças do Patrick, sua rola crescia e se projetava erguendo o tecido. Ele me puxou para junto dele num abraço forte, tocou os lábios nos meus mais suavemente do que o pouso de um passarinho. O tremor nas minhas pernas aumentou e eu as senti bambeando. Aos poucos a pressão que ele exercia sobre os meus lábios foi se intensificando, a ponto de eles se moverem e se encaixarem nos dele. Eu abri a boca e senti a língua dele me invadindo, com todo o sabor e quentura de sua boca. Isso me deu uma vontade louca de abraça-lo, e passei meus braços ao redor de seu pescoço. Notei que isso o agradou muito, tanto que ele me suspendeu do chão e me levou até a cama, onde abriu o cortinado do dossel e deitou meu corpo nu sobre o colchão. Eu fiquei olhando para ele enquanto se despia. Nunca havia notado a largura de seus ombros potentes e a constituição robusta de seu tronco, quase todo forrado de pelos. Ao descer as calças, um cacetão enorme, parcialmente enrijecido, se destacou entre as coxas grossas e peludas. O tremular das chamas das velas fazia com que um jogo de luz e sombra se alternasse em seu corpo, e eu me encantei com o que via. Ele subiu na cama e se deitou ao meu lado. Voltou a tocar delicadamente meu rosto e ficou sorrindo para mim.

- O que foi? – perguntei.

- Você é o rapaz mais bonito que eu já vi! – respondeu, fazendo sua mão percorrer meu ventre, flancos e coxas.

- Também acho você muito bonito! – afirmei, sorrindo para ele.

Ele se deitou sobre mim e começou a me beijar. Suas mãos tinham uma fixação pelas minhas nádegas e ele as apertava despudoradamente. Já não havia mais só um tremor agitando meu corpo, mas um frenesi como jamais havia sentido. A pele do Patrick estava quente como se ele estivesse com febre e isso me aquecia debaixo dele. Ele mencionou que minha pele tinha o perfume de um campo de rosmarinho, enquanto passava a ponta dos dedos sobre as veias azuladas que apareciam sob a transparência leitosa e alva da pele. Primeiro ele voltou a pegar num dos meus biquinhos duros de um mamilo, depois beijou-o e, por fim, chupou-o e mordeu-o até que eu gemesse. A rola dele roçava minhas coxas, dura e molhada. Ele me virou de lado e fletiu uma das minhas pernas, fazendo com que minha bunda se empinasse contra sua virilha. A pica se encaixou no meu rego e, quando ele se movimentava, ela se insinuava dentro dele. De repente, senti uma dor aguda e lancinante num lugar sensível e jamais tocado por alguém, meu cuzinho. Eu soltei um grito, mas a mão dele tampava meus lábios, e no quarto não se ouviu mais do que um ganido abafado.

- Ai Patrick! Está doendo muito! Você está me machucando, Patrick! Seu bruto! – gemi, sentindo que algo quente e pulsante começava a entrar no meu cu.

- Psssiuuu! Já vai passar, não fique aflito! – garantiu ele, colando sua boca na minha.

Algo me dizia que eu podia confiar nele, apesar da dor não passar como ele afirmara. Ele se movia jogando a pelve contra minha bunda e eu senti que ele estava entrando em mim. Apesar de doer, eu estava gostando daquela sensação, e deixei-o prosseguir, só gemendo e, de vez em quando, soltando um ganido mais pungente, quando a dor se tornava quase insuportável. Eu também o ouvia gemer, mas não me pareceu ser um gemido de dor, era antes um gemido de prazer, de jubilo, de euforia mesmo. Ele foi imprimindo um ritmo mais acelerado aos movimentos de sua pelve, e eu recebia estocadas que me atingiam as profundezas das entranhas, a dor aumentou e eu gemia com mais agonia. Ele parecia ter sido apossado por um demônio, pois agarrara-se tão intensamente ao meu tronco e apertava um dos meus mamilos com tanta força, que eu sentia minhas forças se exaurirem. Subitamente ele deu um urro que fez um espasmo percorrer toda a minha coluna. Eu comecei a ficar molhado. Aquele ardor que eu sentia no cuzinho enquanto ele se movia num vaivém alucinado, começou a aplacar com a textura pegajosa e morna que ia se espalhando dentro de mim. Fiquei constrangido ao perceber que meu pau tinha ficado duro e, de que eu tinha molhado a cama com uma substância leitosa e esbranquiçada, que saiu sem eu perceber, mas que foi prazerosamente boa de liberar.

- Você é tão gostoso, tão apertadinho, tão tudo que eu nem pensei em gozar fora! – exclamou, com a respiração acelerada e afrouxando aos poucos a maneira como me apertava.

Eu não sabia o que dizer. Eu estava sentindo tantas sensações simultaneamente, e tão inusitadas e intensas, que mal conseguia entender o que havia acontecido. Se aquilo tinha sido tão bom, por que eu senti tanta dor? Fiquei ainda mais apavorado e confuso quando vi que havia sangue entre as minhas coxas e sobre o lençol.

- Você me machucou! Eu estou sangrando! Você é muito bruto! – exclamei aflito e todo agitado.

- Não fique preocupado, daqui a pouco você não vai sangrar mais! – garantiu ele, me puxando contra o peito e me envolvendo em seus braços. Dava para ouvir o coração dele batendo forte e acelerado quando encostei a cabeça em seu peito, ele ainda respirava profundamente, mas a respiração vinha voltando ao normal como a minha. Eu estava gostando de ficar assim tão junto dele, e acho que ele também. Fiquei brincando com a ponta dos dedos num daqueles redemoinhos de pelos que havia ao redor dos mamilos dele, e isso me acalmou.

- Você estava dentro de mim! Eu senti você lá no fundo do meu corpo! – aleguei, depois que um silêncio reconfortante havia se instalado entre nós.

- Você gostou? – perguntou, levantando meu rosto para poder me encarar.

- Muito! – respondi. Por algum motivo percebi que minhas faces tinham ficado afogueadas.

- Por que você entrou em mim? – inquiri.

- Para procurar a sua alma! – respondeu, sorrindo maliciosamente para mim.

Ele ficou deitado abraçado em mim até o amanhecer. Acordei quando ele começou a se levantar. A janela pela qual o telescópio apontava para o céu tinha ficado aberta, e eu vi que minha pele estava toda arrepiada. Puxei as cobertas sobre mim para esconder a minha nudez, pois ele estava olhando fixamente para o meu corpo.

- Aonde você vai? – perguntei, quando ele começou a vestir as roupas.

- Preciso ir para casa! – respondeu ele. – Fique deitado, ainda é muito cedo! – acrescentou.

- Eu queria que você dormisse aqui todas as noites! – declarei. Ao que ele abriu um sorriso e veio me beijar. Foi um beijo dado na testa, mas eu logo segurei seu rosto entre as mãos e dei um beijo na boca dele, pois aquele sabor ainda estava impregnado em todo o meu ser.

Tal como o Patrick havia me garantido, eu tinha parado de sangrar. Sentia uma dor difusa dentro de mim, onde ele estivera enfiado, mas nada que me causasse qualquer incômodo, apenas me fazia sentir a presença dele. No entanto, o que mais ocupou os meus pensamentos durante todo aquele dia, foi a questão de ele procurar a minha alma. Ele não me disse se a tinha encontrado, e eu fiquei imaginando para o que é que ele queria a minha alma. Fiquei tão intrigado com aquilo que após a missa na capela do castelo, fui atrás do pároco. Ele estava retirando os paramentos, auxiliado por noviço de uma abadia próxima.

- Padre, por que alguém entra em outra pessoa para procurar sua alma? – questionei, deixando-o com um olhar embasbacado.

- Que tolices são essas? De onde você tirou a ideia de que alguém possa entrar em outra pessoa? E você já devia saber que a alma não é uma coisa física que se possa pegar! Você é sem dúvida, um garoto com muita imaginação! Onde já se viu, procurar a alma dentro de alguém? Só você mesmo para falar tanta besteira! – respondeu, um pouco irritado e mais um tanto debochado, me deixando plantado sem compreender nada.

- Ao entardecer, venha até a sala de paramentos, eu vou te explicar por que se procura a alma de alguém entrando dentro dela. – sussurrou o noviço, assim que a porta da sala se fechou atrás do padre e nós tínhamos ficado a sós. A sensibilidade que faltou ao padre sobrava no noviço, que soube muito bem de onde vinham as minhas dúvidas. Havia um sorriso irônico e malévolo em seu rosto, mas eu não dei importância. Importante era que ele ia me dar as respostas que eu queria.

Eu quase nunca ficava perambulando pelos arredores da capela do castelo. Só ia lá para a missa que me obrigavam a assistir. Eu não gostava daquele clima de mistério que parecia estar impregnado naquelas paredes e naqueles vitrais que filtravam a luz do sol e deixavam seu interior na penumbra. No meio da tarde eu já rondava a capela pelo lado de fora, os jardineiros estavam restaurando um canteiro de gérberas e narcisos, e eu fiquei observando o trabalho deles. As horas pareciam não passar. Fiquei apreensivo com a possibilidade de alguém começar a chamar por mim. Tinha feito todos os meus deveres das aulas da manhã, ido para o treino de esgrima e tomado chá na companhia da minha mãe e meus irmãos, ocasião na qual ela queria saber como tinha sido nosso dia e o que tínhamos aprendido, mas nunca se sabe, de uma hora para outra alguém poderia inventar de me procurar. Assim que vi o noviço entrando por uma porta lateral da capela, que ficava escondida entre uma reentrância na parede de pedras, corri atrás dele. O sol já havia se inclinado tanto no horizonte que seus raios haviam perdido a força de iluminar o interior da capela. Fui encontrar o noviço na sala de paramentos, para isso precisei me esgueirar tateando pelas paredes para encontrar o caminho. Ele estava acendendo uma única vela do candelabro que ficava sobre um aparador de madeira entalhada.

- Pois bem! Então me pergunte o que quer saber sobre almas. – começou ele.

- Quero saber por que se procura a alma de alguém entrando dentro dela? – perguntei, na maior ingenuidade.

- Alguém entrou dentro de você para procurar sua alma? – revidou.

- Sim, o Patrick, filho do general Châtillon. – respondi ligeiro.

- E como foi que ele entrou em você? – perguntou, olhando nos meus olhos.

- Bem! – de repente, percebi que seria muito difícil e embaraçoso explicar essa parte. – Entrando, ora bolas! – respondi.

- Vamos fazer o seguinte, eu vou entrar em você e aí você me diz se foi assim que aconteceu. Se você confirmar, eu tenho como te explicar de que maneira se encontra a alma, tudo bem? – além de ter ficado extremamente ansioso, ele apertava o cacete debaixo da batina com uma das mãos.

- Não sei! Você não pode me dar uma resposta, sem ter que entrar em mim? – questionei.

- Certamente não! Se não for o mesmo jeito com que ele entrou em você, não tenho como saber. – garantiu, olhando para saliência da minha bunda, cheio de cobiça.

- É que eu ainda estou um pouco dolorido, e tenho medo de que comece a sangrar de novo. – minhas palavras deixaram o noviço quase louco, eu achei que a qualquer momento ele ia começar a babar e espumar de tanta inquietação.

- Eu vou entrar em você com muito cuidado, não precisa ficar receoso. – garantiu ele, tal como o Patrick tinha feito, mas depois eu senti dor mesmo assim. E eu não confiava naquele noviço como confiava no Patrick.

- Está bem! Mas não se esqueça de que prometeu que vai entrar em mim devagarinho. – assenti, já sentindo meu corpo todo tremer e experimentar um reboliço inquietante.

Mal terminei de falar e o noviço me envolveu pela cintura, virou meu corpo e começou a me encoxar. Estranhei que ele não tinha tirado minhas calças e nem sua batina. Mas ele não demorou a se empenhar nisso. Tão logo eu estava nu, ele me ergueu pelas nádegas, caminhou comigo até uma mesa e me deitou sobre as costas com as pernas abertas apoiadas sobre seus ombros. Só então ele levantou a batina e eu pude ver o cacetão dele, tão duro e empinado quando o do Patrick. Deixei que ele roçasse a pica no meu rego e fiquei esperando aquela dor que eu sabia que ia vir quando a pica se insinuava no rego. Percebi que meu cuzinho piscava, e a musculatura ferida se contraindo doía um pouco, mesmo antes de eu sentir o pau dele entrando em mim. O noviço estava tão agitado, se movendo de um lado para o outro, que sua rola não encontrava a entrada do meu cuzinho e, quando a encontrava, eu era acometido de um daqueles espasmos que travava meus esfíncteres e a benga não conseguia me penetrar. Eu arfava e o noviço também, o vazio da capela e da sala de paramentos, fazia com que nosso arfar amplificado ecoasse pelo ar. Ao mesmo tempo em que senti uma pressão mais violenta forçando minhas pregas anais, escutei um som surdo e o noviço despencando no chão, levando consigo minhas pernas que estavam apoiadas em seus ombros.

- Que diabos está acontecendo aqui? – berrou a voz do Patrick.

- Eu e o noviço ... Ele ia me explicar como é que se entra em alguém para procurar sua alma! – balbuciei, assustado pela intromissão repentina, e por ver o noviço desfalecido no chão.

- O que? Meu Deus do céu! Você é impossível! Como pode ser tão burro? – vociferou furioso.

- Foi você quem disse que ... – ele não me deixou terminar.

- Esse desgraçado estava querendo te fornicar! Você não vê isso? – gritou exaltado.

- Eu não sou burro! Foi você quem falou que procurou minha alma ontem à noite. – retruquei inconformado.

- Vista essas calças antes que eu mesmo faça o que este aproveitador ia fazer. E vamos sair daqui. – ordenou, dando-me um safanão. – Preste muita atenção no que vou te dizer, eu não quero que você deixe mais alguém mexer na sua bunda nunca mais entendeu? Só eu posso fazer isso! Ninguém, ficou claro! – emendou me sacudindo.

- Você está machucando meu braço! Solte-me! – protestei.

Voltei ligeiro para dentro de casa, pois já deviam estar a minha procura. Estava tão zangado que pisava firme, quase socando o chão, por ter ficado tanto tempo esperando por uma resposta e, depois de tudo, sair dali sem nada esclarecido. Mal pisei no vestíbulo e já comecei a levar uma bronca do meu pai.

- Por onde você andou? Mandei que o procurassem! Estamos todos esperando para o jantar. Toda vez é a mesma coisa, parece que você não ouve o que eu digo. Você tem cinco minutos para estar na mesa do jantar arrumado e limpo, se não quiser ir para a cama esta noite com uma boa surra. – enquanto ele ralhava, eu subia as escadas pulando dois degraus de uma só vez.

Tive que ir para o meu quarto mais cedo naquela noite, como forma de castigo. Não fiquei muito zangado, pois minha outra opção teria sido ficar com toda a família na sala de música, ouvindo minha irmã dedilhar o piano e errar uma centena de vezes as notas da melodia, pois ela parecia que nunca ia aprender a tocar aquele instrumento. Eu estava um pouco entediado, não sabia bem o que fazer para passar as horas. Tinha olhado o céu pelo telescópio sem muito interesse, depois abri uns dois ou três livros, não consegui me concentrar na leitura, movi uma meia dúzia de peças do tabuleiro de xadrez, mas logo percebi que não ia dar em nada e, por fim, sentei-me sobre a cama e comecei a repassar as minhas últimas vinte e quatro horas. Tanta coisa havia acontecido e, um mundo de sensações e sentimentos havia se instalado em mim, que eu mal podia crer que tudo aquilo havia acontecido. Foi então que a porta do quarto se abriu, o Patrick entrou e rapidamente ele a fechou.

- O que faz aqui? Como é que você chega até aqui sem que ninguém o incomode? Você não sabe se fazer anunciar antes de invadir o quarto dos outros desse jeito? – questionei, pois ainda estava zangado com ele.

- Vejo que continua zangado comigo! Não faz mal, antes você zangado do que fornicado por aquele noviço desgraçado! – alegou decidido.

- O que quer? Diga logo e suma daqui, quero dormir! – sentenciei, embora não quisesse que ele se fosse e, muito menos estava disposto a dormir tão cedo.

- Vou te ensinar algumas coisas! Já passou da hora de você conhecer alguns fatos sobre a vida. – disse ele.

- Não estou com a menor paciência para ter mais aulas, já tive a minha cota de hoje! – revidei.

- Nem que eu te explique como se procura a alma de alguém dentro dessa pessoa? – disse, caçoando. E foi o que bastou para ele conseguir minha atenção.

- Se for isso, tudo bem! – consenti interessado.

Ele veio se sentar ao meu lado, estávamos apoiados na cabeceira da cama com as pernas esticadas ao longo dela. O braço dele roçava o meu de vez em quando, e eu sentia um prazer enorme com isso. Ouvi atento e calado o que ele dizia e, à medida que ia descobrindo o tamanho da minha ignorância, ficava envergonhado de não saber nada sobre os mistérios da vida. O Patrick procurou não me encarar de frente, pois sabia que isso ia me deixar ainda mais constrangido. No entanto, me explicou detalhadamente tudo o que eu queria saber e, pelo que havia me arriscado naquela tarde.

- Satisfeito! Era isso que você queria saber? – perguntou, ao final da explicação.

- Você deve me achar um tonto, um burro, como você mesmo me chamou lá na capela.

- Eu disse aquilo por que estava com raiva de você. Ou melhor, com raiva do que aquele noviço podia ter feito com você, ainda por cima com a sua completa e irrestrita anuência.

- Será que eu teria gostado tanto gostei com você? – perguntei de súbito.

- Ora essa! Está querendo levar uns sopapos agora mesmo? – disse, apertando meu queixo com uma das mãos. Fiquei em silêncio olhando para ele. Estava feliz por ter alguém como ele para conversar, brigar e gostar, de um jeito como nunca tinha gostado de alguém. – Quer dizer que você gostou do que fizemos ontem à noite? – emendou, depois de um tempo. Eu balancei a cabeça afirmativamente e ele se lançou sobre mim beijando-me na maior sofreguidão. Ele me penetrou umas três vezes antes da aurora lançar seus primeiros clarões da manhã. Minhas entranhas estavam empapadas com as sementes da virilidade dele.

Os rumores de agitações por todo o país cresciam. Os criados cochichavam nas galerias do castelo destinadas a eles, e se calavam assim que alguém se aproximava. Meu pai ia quase que diariamente a Tours, onde se encontrava com os nobres que viviam nos castelos próximos ao longo do Loire. Voltava sempre calado e com uma expressão de preocupação que formava rugas em sua testa. O número de soldados patrulhando os campos aumentava dia-a-dia, seguiam os camponeses por todos os lados e mal os deixavam exercer seu trabalho com liberdade.

- Por que há tantos soldados circulando por aí, papai? – perguntei certa tarde, quando ele voltava de mais um de seus encontros em Tours.

- Por quê? Por quê? Por quê? Você é o rei dos porquês! Preciso conversar com os seus preceptores, eles estão te dando poucas tarefas, por isso sobra tempo para tantos questionamentos! – ele estava mesmo furioso. Era raro ele nos tratar com severidade, a menos que sua cabeça estivesse cheia de preocupações.

Eu não era do tipo que desiste fácil. Se não me davam as respostas que eu queria, eu mesmo as ia buscar. Uma carruagem seguia diariamente até Tours com dois cocheiros, duas escoltas e uma empregada. Eles iam buscar na cidade os itens que abasteciam a despensa, os bordados da minha e da minha irmã e, qualquer coisa que se fizesse necessária junto aos artesãos da cidade. Demorei dois dias para encontrar uma maneira de me esconder na carruagem e ir até a cidade. Só fui descoberto por um dos soldados da escolta quando já havíamos entrado nos muros da cidade.

- Sois muito audacioso! Terei que relatar esta fuga ao duque assim que voltarmos ao castelo! – apressou-se a ralhar comigo a empregada aflita, que já previa uma punição iminente por seu relapso. - – Não se afaste da carruagem, sob hipótese alguma! Valha-me Deus se acontece alguma coisa com esse menino, seremos degolados na certa. – disse, colocando os demais na mesma polvorosa em que se encontrava.

- Ele só vai saber se vocês contarem! Vamos fazer um pacto. Ninguém menciona nada sobre a minha vinda à cidade e tudo fica bem. – argumentei, sereno e convicto de que tinha feito a coisa certa.

- Se derem pela tua falta estamos perdidos! – continuou ela que, àquelas alturas já nem sabia mais o que tinha a fazer.

- Ora acalme-se! Não há motivo para tanto desespero. – assegurei.

- Dizeis isso por não saber do que se passa! – retrucou ela.

- Foi isso que vim descobrir. Vocês vão me ajudar ou terei que sair por aí fazendo perguntas eu mesmo? – questionei, atrevido.

Sem dar tempo para me contestarem, rumei direto para a taverna que tinha um ir e vir que despertou minha atenção. Um dos cocheiros e um escolta saíram disparados atrás de mim. O clima acalorado do salão da taberna lotado era dominado por um único assunto, a derrubada da monarquia e a perseguição posterior a todos os nobres usurpadores e, pelas canecas de vinho que não paravam de abastecer as mesas onde um populacho embriagado clamava por justiça. A maioria era composta por jovens cheios de ideais soprados pelos ventos do iluminismo, embora eu soubesse que nenhum deles devia fazer a menor ideia do que isso significava. De repente, um rapaz subiu numa mesa e começou a fazer um discurso inflamado, ele mal se sustentava sobre as próprias pernas de tão bêbado que estava. O alvo de sua revolta era o conde que habitava o castelo d'Azay-le-Rideau. No momento em que ele mencionou o conde eu o identifiquei, tinha-o visto entre os cavalariços do conde e, seu nariz achatado, por uma provável fratura quando criança tinha despertado minha curiosidade. Durante seu discurso ele também me reconheceu. Subitamente, a bebedeira pareceu ter desaparecido, ele apontou na minha direção e gritou.

- Ali está um legítimo representante de nossos verdugos, infiltrado para nos acusar de insubordinados. Apresento-lhes cavalheiros, Henry Phillip, o mais jovem filho do duque de Touraine, primo do rei. – ele apontava na minha direção a mão com a qual segurava a caneca de estanho. Todos os olhares se voltaram para mim.

- Morte à nobreza podre! – berrou uma voz que vinha do fundo da taberna, cujo dono fez questão de não poder ser identificado.

Os dois funcionários que me acompanhavam tremiam feito varas de bambu ao vento. O escolta não sabia se engatilhava a pistola ou se, simplesmente, se rendia, se a turba caísse sobre nós.

- Este fedelho nobre? Faça-me rir! Este rapazola não passa de um marica fantasiado com roupas adornadas de babados. Sei muito bem quem é Henry Phillip, pois meu pai é o general da guarda do duque. Posso lhes assegurar que não se trata desse afeminado que está diante de vocês. Você bebeu demais, está tendo miragens! – disse uma voz que eu reconheci imediatamente, mesmo antes de Patrick se levantar de uma mesa junto à janela.

Antes que eu abrisse minha boca e começasse a despejar os impropérios que aquele discurso incitara em mim, o Patrick já estava ao meu lado e, agarrando meu braço, praticamente me arrastou para fora da taberna.

- Vou dizer a esses bêbados imprestáveis quem é que não vale nada! – exclamei, tentando me livrar do Patrick.

- Ajude-me a levar esse maluco para longe daqui antes que sejamos linchados. – disse o Patrick para o escolta que não tinha se refeito do susto, pois sua cara ainda tinha aquela expressão de pavor que havia se instalado nela lá dentro da taberna.

- Solte-me! Como ousa me impedir de dizer o que eu quero? – ordenei, ao que o escolta obedeceu sem pestanejar, enquanto o Patrick continuava me arrastando na direção da carruagem.

- Se você não se comportar vai levar uma surra aqui mesmo, em plena praça! – a determinação do Patrick, expressa por um olhar duro e firme, não me fez desafiar suas palavras.

Quando chegamos até a carruagem, a empregada e os outros dois já pressentiram o alvoroço que minha aparição na taberna tinha causado.

- Quem foi que deixou esse maluco andando por aí? Vocês hão de se haver com meu pai! No momento em que ele souber que deixaram o filho do duque entrar numa taberna com essa crise assombrando o país, eu não queria estar na pele de vocês. – vociferou o Patrick, ameaçando-os.

- Eu fiz um pacto com eles. Ninguém vai mencionar que eu estive na cidade. E isso se aplica a você também! – adverti o Patrick.

- Ele veio escondido na carruagem, só descobrimos quando já estávamos dentro da cidade. – defendeu-se o escolta que tinha ficado na carruagem, ao mesmo tempo em que um dos cocheiros reforçava sua explicação.

- Não adiantam desculpas. Vocês que digam isso ao general, meu pai. – sentenciou o Patrick, sinalizando para que os cocheiros colocassem a carruagem em movimento.

- Ninguém precisa se preocupar com nada. Eu mesmo vou contar ao meu pai se achar que isso é necessário. Vocês não têm culpa de nada. – garanti.

Não percorremos nem cinco quilômetros depois dos muros da cidade quando um grupo de seis cavalheiros veio ao nosso encalço. À frente vinha o rapaz do nariz achatado. Os cocheiros tocaram a parelha de seis cavalos impondo a eles o ritmo mais veloz que podiam. O Patrick, vendo que o grupo se aproximava cada vez mais, ordenou que os escoltas se preparassem para o enfrentamento.

- Não pare a carruagem por nada! – berrou para o cocheiro. – E, você, trate de ficar quietinho ai dentro. Não ouse enfiar essa cara para fora da carruagem! – continuou, usando os mesmos berros para se certificar de que eu ia me comportar.

- Então esse não é o filho do duque, não é? Eu o reconheceria em qualquer lugar! Avante homens! Vamos mostrar a esse fidalguinho o que vai acontecer a todos eles daqui por diante! – gritava o rapaz, tomado de uma valentia insana.

- Não vai sobrar uma cabeça sobre seus pescoços! Hão de pagar com a vida por incitar uma revolta contra o rei! – bradei pela janela da carruagem.

A luta começou poucas centenas de metros à frente. Um dos escoltas disparou a pistola que carregava na cintura e fez tombar o primeiro que se aproximou da carruagem. Os demais brandiam as espadas e se aproximavam perigosamente. O cocheiro que conduzia a parelha foi atingido no ombro e as rédeas se soltaram ficando enlaçadas entre os cavalos. O outro tentou apanhá-las, mas precisou se defender para não ser atingido. Pela janela de trás da carruagem vi o Patrick partindo para cima do rapaz do nariz achatado. Lutaram mesmo montados nos cavalos, e foi aí que eu senti medo pela primeira vez. Os escoltas não tiveram dificuldade de por a nocaute mais três sujeitos, dentre eles um que levou um tiro da pistola que estava na cintura do escolta que até então não tinha disparado sua arma. A morte de dois companheiros acendeu o ódio dos que ainda lutavam. A carruagem continuava a toda velocidade sem que ninguém a conduzisse, parecia que os cavalos conheciam o caminho para o castelo. A empregada estava tão apavorada que não parava de gritar. Íamos nos aproximando de uma ponte, e eu sabia que não podíamos passar sobre ela naquela velocidade, por isso abri a portinhola e fui me esgueirando até chegar ao lugar onde o cocheiro ferido estava debruçado. Usei a sombrinha da empregada para laçar as rédeas e, assim que as tinha nas mãos, o outro cocheiro começou a guiar os cavalos. A ponte chegou segundos depois de a parelha ter alcançado uma velocidade segura para a travessia. Sobre a ponte um escolta foi atingido, a espada varou sua perna esquerda e logo a calça estava tingida de sangue. Era preciso parar a carruagem para que o cocheiro viesse auxiliar na defesa. Assim que outro revoltoso foi atingido, eu corri para pegar sua espada. Mal a tinha empunhado quando ela me foi arrancada com um golpe de outro revoltoso. O Patrick olhou na minha direção e, antes de vir em meu auxílio, afundou a espada nos flancos do rapaz de nariz achatado, ele caiu do cavalo e ficou estrebuchando no chão. O que estava prestes a me golpear se virou tão rapidamente que o Patrick não teve tempo de estagnar a corrida até nos alcançar. O revoltoso o atingiu logo abaixo das costelas, sua camisa branca começou a se tingir de um vermelho vivo e cintilante.

- Patrick! – gritei a plenos pulmões, ignorando a presença do revoltoso ao seu lado e interpondo meu corpo entre ele e o Patrick. Um estampido abafado ecoou pela planície, e o revoltoso caiu feito um saco de batatas. O cocheiro ferido havia armado outra vez a pistola e disparado contra ele.

Os olhos do Patrick iam perdendo o brilho aos poucos, numa lentidão que apenas eu interpretava como tão rápida quanto um relâmpago iluminando o céu numa noite chuvosa. A luta terminara. Os revoltosos que não haviam morrido estavam tão feridos que em poucas horas seu destino seria o mesmo dos companheiros. Os cocheiros e os escoltas estavam exaustos, mesmo os feridos começaram a se preparar para colocar o Patrick na carruagem e seguir caminho. Eu segurava o troco do Patrick no meu colo e chorava como uma criança.

- Ele não vai morrer, não é? Por que não estamos indo mais depressa? – perguntei para a empregada que me ajudava a estancar o sangue que fluía do peito do Patrick.

- Estamos indo a toda velocidade! – respondeu ela, embora eu não tivesse entendido o que ela disse.

- Andem mais rápido! – berrei para o cocheiro, mas tudo se passava numa lentidão assustadora.

Uma mobilização geral agitou o castelo com a nossa chegada intempestiva. O general foi quem tirou o filho do meu colo. Levaram-no para um quarto ao lado do meu por ordem do meu pai. Médicos foram chamados às pressas e fizeram tudo que estava ao seu alcance naquelas circunstâncias. Fiquei horas caminhando de um lado para o outro em frente à porta do quarto até que, já tarde da noite, me deixaram entrar. Duas enfermeiras estavam junto à cabeceira da cama, se revezavam tentando baixar a temperatura do corpo do Patrick. Uma grande atadura cobria quase todo o tronco enorme dele, havia uma mancha de sangue no tecido imaculadamente branco. Aquele corpo colossal estava tão inerte quanto uma rocha encravada há séculos no mesmo lugar. Comecei a chorar. Chorava tão sentido e profundamente que meu tórax chegava a sacolejar. A culpa disso tudo era minha. Se eu não tivesse inventado aquela fuga até Tours, nada disso teria acontecido. Só então me lembrei que, até o momento, ninguém tinha questionado a minha presença durante aquele ataque dos revoltosos. Isso já não importava mais, qualquer castigo que eu fosse receber não seria nada em comparação ao remorso e à dor que eu estava sentindo vendo o Patrick naquele estado. Passei a ir à capela todos os dias, ajoelhava-me no silêncio e no lusco-fusco de seu interior, e então percebi que nunca tinha aprendido a rezar. Lembrava-me de algumas frases, mas tinha esquecido a maioria. Então comecei a conversar e pedir pelo Patrick do jeito que meu coração ditava, sem despregar os olhos daquela cruz que encimava o altar.

Os médicos haviam dito que as primeiras semanas seriam as mais críticas. Se nada de pior acontecesse, as chances de ele sobreviver iam aumentar. Foi a isso que me apeguei. Um médico ficou morando no castelo por ordem do meu pai. Era pela expressão da cara dele, toda vez que saia do quarto depois de examiná-lo, que eu ia tirando as minhas conclusões sobre o estado do Patrick. Apesar da presença constante de duas enfermeiras, eu quase não saía do lado dele. Até algumas aulas me deixaram cabular para ficar velando sua recuperação. Eu parecia um papagaio tagarela conversando com ele sem parar. Não recebia nenhuma resposta, mas algo me dizia que ele estava me ouvindo. Eu fazia isso com medo de que ele adormecesse e, talvez nunca mais acordasse. Quando o Patrick começava a se agitar, seu corpo se empapuçar de suor e ele começar a delirar, me obrigavam a sair do lado dele, e minha agonia era sofrida na solidão do meu quarto.

Minhas esperanças ganharam alento quando eu via que as semanas passavam e ele continuava a respirar, de uma forma quase imperceptível, era preciso encostar o ouvido para perceber o calor saindo de sua boca, mas ao menos ele respirava. Ele tinha ficado quase tão pálido quanto eu, depois de alguns dias, e me pareceu que seus músculos também já não eram tão grandes. Uma manhã, quando abandonei as aulas antes do tempo, as enfermeiras não quiseram me deixar entrar no quarto alegando que o iam banhar. Me fiz de desentendido e ocupei meu lugar de costume na cama ao lado dele. Senti ciúme quando uma das enfermeiras passava um pano umedecido em água morna e álcool na virilha do Patrick, fazendo com que o caralhão, e aquele saco imenso, balangassem de um lado para o outro entre suas coxas. Compreendi o porquê de o Patrick reivindicar meu cuzinho só para ele, pois eu também queria aquele cacetão e seus apêndices só para mim. Depois de terminarem o banho, elas saíram do quarto levando todos os apetrechos que tinham usado. Foi a primeira vez que fiquei sozinho com ele depois da fatalidade. A primeira coisa que fiz foi tocar meus lábios nos dele. Estavam mais ressecados e, em nada, lembravam a voracidade com a qual ele percorria meu corpo com eles. Tive a impressão de que o corpo todo dele reagiu quando minha boca se prendeu na dele. Apressei-me a examiná-lo, mas ele continuava tão inerte quanto nas últimas semanas. Comecei a tagarelar como sempre, só que desta vez dizia tudo o que estava preso no meu coração e não podia ser dito na frente de outras pessoas. Confessei que o amava, reconheci que ele era meu macho, fiz promessas de cumprir as sacanagens que ele queria fazer comigo e eu me negava e, jurei que só ia amar a ele durante toda a minha vida, não importava o que me obrigassem a fazer.

No dia seguinte, o Patrick abriu os olhos e gemeu, enquanto o médico fazia a troca do curativo em seu tórax. A ferida estava menos feia e menor. Ele acordou atordoado sem saber onde estava. Foi preciso as enfermeiras me segurar para que eu não me atirasse sobre ele, atrapalhando o trabalho do médico. As lágrimas rolavam pelo meu rosto embotando minha visão. Meu coração palpitava tão forte que parecia que ia sair pela boca. Seu olhar percorreu o aposento e os vultos que estavam a sua volta, um sorriso torto se formou em seus lábios quando ele me viu. Foi o mais belo e gratificante sorriso que alguém já tinha me dado.

O Patrick melhorava dia-a-dia. Seu apetite voltou e eu não me cansava de ir à cozinha buscar alguma coisa para saciar sua fome. Todo meu tempo livre eu passava ao lado dele. Lia longos trechos de algum livro que ele escolhia, antes de verificar que ele havia caído no sono. Dizia ele que minha voz tinha o poder de acalmá-lo, de embalar seu sono. Jogávamos xadrez. Enquanto suas forças ainda eram poucas, eu o deixava ganhar as partidas, mas com o passar dos dias eu vencia uma atrás da outra. Ela ficava furioso, não aceitava as derrotas, dizia que eu só as estava vencendo por que seu raciocínio ainda estava lento, mas eu sabia que ele era ruim mesmo. Na primeira vez em que o médico o liberou para tomar um banho sozinho, sem a ajuda das enfermeiras, eu o acompanhei até o banheiro e, depois da banheira cheia d’água, comecei a fazer sua barba. Eu nunca tinha feito uma barba antes, pois eu mesmo não a tinha, ele vigiava a minha mão com a navalha como se ela fosse uma serpente peçonhenta preparando-se para o bote. Eu caçoava do medo dele, e ele fazia cara de contrariado. No entanto, quando eu já tinha esfregado as costas e o peito dele, e ia deslizando a mão em direção a sua virilha, ele abria bem as pernas e deixava meus dedos acariciarem seu falo e seu sacão. A água da banheira ia esfriando e ele parecia não estar satisfeito, pois assim que eu ameaçava de tirar a mão de sua pica, ele a recolocava sobre a rola, recostava-se na banheira de olhos fechados e usufruía das minhas carícias.

- Só falta você pegar uma pneumonia nessa água fria! É mais um remorso que vou carregar. – eu dizia, censurando sua carência.

- Só mais um pouquinho! Você não vai se recusar a atender ao pedido de um moribundo, seria muita crueldade! – resmungava ele.

- Você está muito safadinho para um moribundo! – eu bronqueava, enquanto ele dava um jeito de roubar um beijo meu, ou passar a mão na minha bunda.

- Estou com tanta saudade do seu cuzinho. Prometa que vai se enfiar debaixo das cobertas comigo esta noite. – murmurava, deixando sua ereção crescer despudoradamente.

- Você não tem força nem para ficar em pé sozinho, quanto mais para esbanjar o pouco que tem em estripulias! – argumentava eu.

- Vou te ensinar outro jeito de me deixar feliz! Prometa! Venha assim que todos se recolherem. – ele sabia como conseguir qualquer coisa de mim.

Eu não hesitei um instante sequer em me enfiar em seu quarto. Estranhei um pouco quando ele sugeriu que eu colocasse a pica dele na boca, mas naquela altura do nosso entrosamento, eu sabia que ele era cheio de surpresas. Peguei a cacetão ainda flácido e o coloquei na boca. Senti o cheiro e o sabor de sua masculinidade. Bastaram alguns toques da minha língua para que a jeba começasse a empinar, eu a sentia crescendo e se avolumando na minha boca. Era um prazer indescritível. Eu me sentia poderoso por conseguir provocar essa reação nele. Em pouco tempo, pouco mais do que a cabeçorra arroxeada cabia na minha boca. Para acariciar todo o resto daquela pica cheia de veias ingurgitadas ao seu redor, eu me valia de lambidas e chupadas, ao que ele reagia com uns grunhidos de prazer enquanto se contorcia todo. Um muco aquoso e translúcido começou a minar da sua rola, e seu sabor era divinamente delicioso. Ele se misturava à minha saliva e eu deglutia tudo. Ele apertava minha cabeça afundando a benga na minha garganta, eu quase não conseguia respirar, mas continuava a sugar e chupar aquele falo quente. Ele enfiou uma mão dentro do cós da minha calça e alcançou meu rego, quase soltei um grito quando senti que um dedo dele começou a fazer movimentos circulares dentro do meu cuzinho, ouriçando minhas preguinhas e fazendo a fenda com meu cu se contrair espasmodicamente. Enquanto ele brincava no meu anelzinho, a outra mão mantinha meu rosto afundado em seus pentelhos. De vez em quando ele erguia as nádegas do colchão fazendo a pica entrar na minha garganta. Durante uma dessas vezes, minha boca se encheu de porra, que ele deixava sair em jatos enquanto bramia feito um touro. Eu ia engolindo todo aquele liquido de sabor picante, levemente adocicado e amendoado, tão espesso quanto um creme, e que deixava no ar aquele mesmo cheiro que ficava impregnado no meu corpo quando o Patrick me penetrava. Eu havia fixado meu olhar no rosto dele quando a porra começou a jorrar, e o que eu vi foi a mesma sensação de felicidade que eu experimentava quando ele estava dentro de mim e seu cacetão pulsava forte e duro contra a minha mucosa anal.

- Gostou? – perguntou ele, quando viu que eu lambia um pouco do esperma que estava sobre a cabeçorra.

- Demais! É a coisa mais gostosa que já provei! – afirmei sincero.

- Então venha me dar um daqueles seus beijos. Preciso deles mais do que tudo! – pediu precisado. Eu derramei dezenas deles em sua boca, rosto, pescoço e orelha. Ele só se deixava beijar, cerrando os olhos e se entregando satisfeito.

- Acho que nunca mais vou conseguir viver sem ter você ao meu lado! – eu disse, parando por uns instantes e beijá-lo.

- Você já me disse isso uma vez! E, desde então, eu acho que também nunca mais vou conseguir me separar de você. – afirmou ele.

- Quando foi que eu disse isso para você? Não me lembro de ter aberto meu coração desta maneira antes. – retruquei.

- Ah não! Você confessou que me amava, fez uma porção de promessas que eu vou querer ver cumpridas à risca e, disse que eu sou o seu macho. – enunciou, repetindo quase que literalmente tudo aquilo que eu lhe havia sussurrado quando estava praticamente desacordado.

- Você estava fingindo não estar consciente, não é seu embusteiro! E eu sofrendo só de imaginar que você nunca mais fosse acordar. – declarei revoltado.

- Eu não fingi! Eu estava realmente atordoado, mas sua voz chegava a mim como uma brisa fresca numa tarde de verão, amainando aquela dor que atravessava meu peito. Eu só queria viver para ver você cumprindo aquelas promessas que estava fazendo. Queria viver para você! – justificou. Não tive como não voltar a cobrir de beijos aquele rostinho depravado.

Demorou mais algumas semanas para que o Patrick retomasse definitivamente sua rotina. Meu pai o chamou uma tarde depois que terminamos a aula de esgrima, às quais eu passei a me dedicar de corpo e alma desde que ele foi ferido e eu nem consegui empunhar o florete direito. O general e meu pai estavam no salão principal quando retornamos do treinamento.

- Chegou a hora de eu te agradecer pelo que você fez pelo meu filho! Eu nunca vou poder expressar em palavras toda a gratidão que sinto em relação a sua bravura e a sua coragem, enfrentando aquela gente. Ao longo dos anos seu pai deixou de ser apenas o general que comanda minhas tropas, para se tornar um leal e grande amigo. O mesmo eu sinto em relação a você. E, creio que o Henry seja seu mais entusiasta admirador. Fico feliz de saber que meu filho tem um amigo de tanto caráter e personalidade. – Meu pai sempre foi muito comedido e lacônico em seus agradecimentos, mas devia estar tão grato que teceu todos esses elogios e, ainda, estendeu sua mão para cumprimentar o Patrick. E, quando este foi retribuir o cumprimento, muito formal e respeitosamente, meu pai o abraçou como fazia comigo e com meus irmãos. O orgulho que estava estampado no rosto do general, foi a certeza que eu tive de que aquele homem faria qualquer coisa para ver nossa família feliz.

Os verões e os invernos se sucediam, mas a França não via seus problemas se solucionarem. A pobreza parecia aumentar na mesma rapidez com que os campos viam sua produção cair, cada vez mais países ao redor se tornavam desafetos do rei, as guerras custavam fortunas e exauriam os cofres da monarquia. Os ecos de descontentamento popular já não eram tão tímidos e esparsos. Uma crescente massa de negociantes e artesãos difamava o monarca, sua extravagante e perdulária rainha, bem como qualquer um que ostentasse algum título da nobreza. Tornávamo-nos, cada dia mais, personas non gratas. Alguns, com títulos menos importantes e menos abastados, sofriam atentados, e procuravam desesperadamente pela proteção real, amontoando-se com suas famílias nos palácios ao redor de Paris. Eu comecei a antipatizar com o rei, mesmo mal o conhecendo, tendo-o visto não mais do que umas duas ou três vezes quando fomos à Versailles. Ia ficando claro para mim que era a sua inoperância, o seu descaso e a sua soberba que estavam empobrecendo a nação e criando todos aqueles revoltosos. Meu pai não gostava quando eu expressava minha opinião. Chegava a me repreender quando eu dizia alguma coisa. Mas, eu percebi que ele partilhava da mesma opinião, embora nunca tenha mencionado abertamente suas ideias.

Enquanto isso, o Patrick e eu consolidávamos o nosso amor. Ele sempre conseguia dar um jeito de passar a noite no meu quarto. Infiltrava-se sorrateiro burlando a guarda ou, o que eu achava mais provável, estabelecendo com ela um pacto para que tivesse acesso à ala privada do castelo. Era pelo menos assim que eu pensava até o dia em que flagrei o Patrick na parte de serviços da propriedade transando com a filha do chefe da criadagem. Ela era uma moça atraente, com um assanhamento impulsivo por debaixo das saias, e já tinha passado pelas mãos de quase todos os rapazes mais bem apanhados do castelo, desde guardas e sentinelas, jardineiros, valetes de chambre e, mais recentemente encantara-se com o Patrick, depois de perceber o quão estimado ele se tornara aos olhos de meu pai. Eu já havia percebido os olhares languidos de outras moças sobre o físico do Patrick. Havia inclusive duas, filhas de nobres dos castelos próximos que frequentavam nossa casa, que repetidas vezes se insinuaram para ele. Depois de flagrá-lo com a funcionária, suspeitei que aqueles flertes também tinham acabado na cama, ou em algum lugar escuso onde elas puderam desfrutar daquele membro enorme que ficava obscenamente exposto sob suas calças justas. Tivemos uma briga acirrada após o flagrante. Impedi-o de entrar no meu quarto, não falei com ele por semanas, e não me dispus a ouvir suas justificativas não justificáveis.

- Foi só um ímpeto, juro! Ela me provocou tanto que, uma hora, acabei não resistindo. Não sinto nada por ela. Você deveria saber que ela vem fazendo esse jogo de sedução com inúmeros rapazes. – argumentou, depois de mais de um mês sem nos falarmos.

- Não quero ouvir suas explicações! Foi horrível o que eu vi! Ela gemendo feito uma vadia, prensada contra a parede, com as pernas enlaçadas na sua cintura e, você atirando seu corpo feito uma besta selvagem contra o dela, enquanto esse cacetão a estocava sem dó. – disse eu, descrevendo a cena que não me saía da cabeça, e que me dava ganas de furá-lo como havia feito aquele revoltoso.

- Você está com ciúmes! Eu nunca duvidei da sua paixão, mas confesso que saber que você está tão enciumado me deixa com mais tesão. – afirmou ele.

- Cretino! Não estou com ciúmes de você. Aliás, nem gosto mais de você! Pouco me importa com quem fornica. Faça bom proveito! – revidei zangado, querendo fazê-lo acreditar nessa mentira. Ele deu uma risadinha disfarçada, pois sabia o quanto eu gostava dele.

- Vamos esquecer este episódio! Se você quiser pode me estapear, descontar toda sua raiva me socando, mas vamos fazer as pazes. Já não estou aguentando ficar sem seu cuzinho. Se você não cuidar disso aqui, também não vai poder reclamar se alguém o fizer. – declarou, pegando minha mão e colocando sobre seu falo.

- Pulha! Não pense que vai me dobrar com essas ameaças. Deixe estar, não me faltarão varões interessados no que tenho a lhes oferecer. Vou te esquecer em pouco tempo! – ameacei.

- Nem se atreva! Se não quiser ser o responsável por um assassinato! – vociferou, vindo para cima de mim.

Este episódio não estava nem superado quando peguei o novo coroinha que o padre trazia sempre junto com ele, em substituição ao noviço que tentara me estuprar, se fartando na pica do Patrick. Eu desconfiei quando o padre ficava à procura do coroinha que dava um jeito de sumir depois das missas, e demorava a ser localizado. Quando finalmente o encontravam, ele tinha o pecado ainda estampado no rostinho angelical, e seus olhos chegavam a dar reviravoltas quando via o Patrick. Atrás da capela havia um galpãozinho que os jardineiros usavam para guardar suas tralhas. No dia em que vi o coroinha sair dali todo afogueado, na maior euforia e, uns minutos depois, o Patrick ajeitando o cinto ao redor da cintura, compreendi a razão da felicidade do coroinha. Pressionei o Patrick e, ele logicamente negou tudo. Disse que eu estava tendo alucinações pela falta de uma pica bem metida no meu cu.

Com isso, nossa briga se estendeu até o final do outono. Primeiro ele fingiu que tinha se conformado com o fato de estarmos separados, mas não deixava de me vigiar com a mesma determinação que um leão acompanha sua presa. Ele se materializava assim que, algum rapaz mais atraente e predador se aproximava de mim, e dava um jeito de arrumar confusão com ele, quando não chegava às vias de fato. Isso aconteceu em duas ocasiões. O conde que habitava o castelo de Amboise tinha um primogênito de vinte e seis anos, extremamente cobiçado por seu porte majestoso. Sua fama corria além do vale do Loire, como um conquistador inveterado. As más línguas garantiam que seu valete de chambre era o que mais desfrutava da impetuosidade e das qualificações másculas de sua pessoa. A primeira vez que eu reparei que ele passou a me enxergar com outros olhos, foi quando do meu aniversário de vinte anos. As aulas de esgrima tinham deixado meu corpo muito esguio e minha bunda tinha chegado ao auge de sua saliência. Desde então, ele se empenhava em me incluir em seu rol de conquistas. Estava comprometido com a filha do barão de Valois, mas tinha em seu histórico de conquistas pelo menos outra dezena de moças e rapazes de toda a França. Eu estava na mira dele há tempos. Eu estava carente quando ele empreendeu uma nova tentativa. Ao contrário das outras vezes, em que me mostrei arredio, desta vez deixei-o me cortejar. Estávamos comemorando o noivado de Isabelle. O castelo estava cheio de convidados numa noite de gala. Ele acabou dando um jeito de me arrastar para longe do burburinho, num canto mais ermo dos jardins. Toda aquela sensação era nova para mim, notar que ele usava de todos seus atributos unicamente para copular comigo, me deixou excitado. Não me esquivei quando ele começou a me beijar e apalpar minha bunda, tomado de uma urgência predatória. Meu ventre sentia a frieza do banco de pedra sob um enorme salgueiro, depois de ele ter arriado minhas calças e estar se esfregando na minha bunda completamente exposta e encaixada em sua virilha. A rola babando umedecia meu rego e eu já gania feito uma presa dominada. O Patrick o arrancou de cima de mim e começou a soca-lo sem dó nem piedade. Ele não se intimidou e revidou o ataque. Ambos lutavam feito feras e nada os demovia da intenção de aniquilarem o oponente. Precisei pedir ajuda a alguns guardas para por fim ao duelo. Quando o Patrick se afastou, eu nunca o tinha visto tão zangado e furioso comigo. O outro episódio aconteceu com um capitão da própria guarda. Durante o verão era comum irmos até as margens do Roumer para nos refrescarmos em suas águas límpidas e frias. Numa tarde particularmente quente, ninguém dos meus irmãos quis me acompanhar, e eu decidi ir sozinho até lá, exceto pela companhia do capitão e de dois sentinelas. Despi-me às margens do rio mesmo, sem me importar com os olhares dos três. O calção que eu trajava ficou transparente assim que mergulhei na água fria, e entrou no meu rego proporcionando um espetáculo que levou o capitão e os sentinelas, a ajeitarem suas picas dentro das calças. Vendo o entusiasmo com que os sentinelas me observavam, o capitão deu um jeito de afastá-los o suficiente para que não tivessem uma visão do rio. Ele começou por me perguntar se a água estava fria, se eu estava gostando de ver os peixes passando entre os meus pés, e toda sorte de questões que chamasse minha atenção. Sugeri que ele mesmo viesse provar a água. A princípio ele se recusou, alegando que não estava usando um calção por baixo das calças, mas não precisei insistir muito mais para ele se decidir. Confesso que fiquei encantado quando ele desceu a margem do rio e entrou na água, nu em pelo. Entre suas grossas pernas peludas pendia uma benga com mais de vinte centímetros e muito calibrosa. Ele ficou visivelmente contente quando percebeu meu olhar inquietado e interessado sobre seu dote. Como ele tinha os ombros muito fortes e musculosos, comecei a brincar com ele, querendo montar em suas costas. Ele aceitou a brincadeira de pronto, e não perdeu a oportunidade de segurar minhas coxas, enquanto eu estava sentado em seus ombros. Eu pulava dos ombros dele para dentro d’água repetindo a escalada daquelas costas largas inúmeras vezes. O tesão dele não demorou a ficar visível, pois uma ereção tomou conta de sua jeba. Eu admirava aquele cacete sem disfarçar meu interesse, quando ele pegou minha mão e a levou até ele. Uma das coisas de que eu mais gostava quando estava com o Patrick, era brincar com uma pica. Adorava ficar acariciando e dedilhando aquele chumaço de pentelhos, deslizar delicadamente meus dedos ao longo da rola e, massagear as bolas ingurgitadas até que o sacão começasse a se tornar uma bolota estufada. O capitão se contorcia e gemia enquanto eu brincava com seu sexo enorme. Ele havia arriado meu calção e um dedo estava dentro do meu cuzinho, sondando e vasculhando num frenesi depravado a elasticidade dos meus esfíncteres. Ele estava prestes a me beijar quando o Patrick novamente se materializou do nada. Atirou-se na água com roupas e tudo, e a pancadaria começou. Gritei pelos sentinelas e, assim que apareceram, primeiro apreciaram minha bunda nua, pois até então havia me esquecido de que o calção estava arriado, depois apartaram os dois. Eu próprio tive que intervir para que o general não punisse o capitão, alegando que quem começou a provocação foi o Patrick. Se ele já estava zangado comigo, depois daquilo ficou furibundo.

- Você está se transformando num maricas prostituto. Não pode ver um macho que já quer levar a rola no cu. – esbravejou o Patrick, dois dias depois, quando viu que o capitão saíra ileso de uma punição. – Quer um cacete no cuzinho? Aqui tem um, veja! Vou arregaçar cada uma dessas suas preguinhas até você nunca mais pensar em outro macho. – emendou furioso.

- Ah é! E você não pode ver um rabo, seja de saia ou de algum rapazola deslumbrado com sua rola! Então qual é a diferença entre nós dois? – desafiei-o, pouco me importando com o fato de tê-lo tirado do sério.

- A diferença é que ... Bem! A diferença ... Que se dane! Eu não sei qual é a diferença! Eu só sei que não posso ver você com outro cara! É essa a diferença! – rosnou ele, contrafeito por não saber se explicar.

- Eu posso sentir ciúme. Eu tenho que ser compreensivo quando você diz que só estava trepando com a garota por que ela ficou se insinuando. Eu tenho que me conformar quando você não resiste a um rapazola delicado querendo chupar seu cacete. Tudo eu! E você? Por que você não é compreensivo e se conforma quando eu me interesso por outro cara? – protestei.

- Porque eu sou macho! E você deveria saber que não se desafia um macho! – argumentou.

- Pois eu desafio enquanto você se comportar dessa maneira leviana com o que sinto por você. – revidei.

- Eu devia te dar uma surra! É o que você merece, por deixar outros te tocarem. Você é só meu! – resmungou. – E, não foi você quem disse que não gostava mais de mim?

- Parvo, imbecil!

Nunca havíamos brigado tanto quanto nos últimos meses. Eu não sabia por que isso estava acontecendo, parecia que nunca mais íamos nos entender. Fiquei imaginando como tinham sido aqueles tempos logo no início quando descobrimos que nos amávamos. Tudo era um sonho. Ele era atencioso, estava sempre ali para me proteger, ficava horas no meu colo querendo carinho e, de uma hora para outra, parecíamos cão e gato.

O mês de janeiro de 1789 teve um dos piores invernos dos quais eu me lembrava. A seca que tinha feito minguar as colheitas do último verão agravou a escassez de alimentos. Havia uma horda de camponeses famintos vagando pelas aldeias, e uma marcha havia sido organizada por revoltosos rumo a Paris. Com o frio, essas pessoas começaram a perecer sem assistência, à exceção do pouco que alguns clérigos compadecidos fazia por eles. Meu pai tinha ido a Paris algumas vezes, tentando sensibilizar o rei. Mas, como das outras vezes, que algum nobre se empenhou dessa missão, o monarca o ignorou. Meu pai, então, começou articular nossa mudança para a Áustria, onde viviam outros parentes. Uma grande propriedade foi comprada nos arredores de Viena e, embora não houvesse sobre ela um castelo das proporções de Langeais, uma suntuosa casa de cinco andares e inúmeros aposentos resplandecia entre lagos, jardins e muitos acres de florestas. Os homens do exército do meu pai tinham sido requisitados pelo rei, o que tinha feito diminuir em muito o contingente que guardava a região de Touraine. Como o pai do Patrick não se dispôs a servir à monarquia foi deposto do posto de general, mas ficou em Langeais com alguns batalhões que também resguardavam os castelos da vizinhança. Meu pai encarou a fuga para a Áustria como uma afronta a seu prestígio, e se tornou-se um ferrenho inimigo de Luiz XVI. Sua privilegiada posição política dentro do Estado não seria mais a mesma na Áustria, embora essa fosse a única maneira de ele garantir a segurança de nossa família. A mudança demorou mais de três meses. Ela só foi concluída em maio de 1789, quando o clima da França não podia ser mais explosivo.

O general Châtillon e sua família vieram conosco, embora ainda, nem ele nem meu pai, sabiam quais seriam suas novas funções. Meus irmãos mais velhos estavam tentando inculcar no meu pai algumas ideias progressistas demais para seu pensamento aristocrático. Queriam que meu pai aplicasse seu dinheiro na formação de um conglomerado industrial, ao qual tencionavam administrar com a sólida formação que tiveram. Meu pai não concebia a ideia de que, a partir de agora, sua fortuna não viria mais da exploração de pessoas que viviam em suas terras, como havia sido durante gerações. De que era preciso inovar e obter recursos por outros meios.

- Isto fazem aqueles burgueses que levaram toda a França à ruína! – exclamava ele, refutando qualquer argumento que meus irmãos lhe apresentassem. Por fim, capitulou. Com isso, tornou-se um dos nobres pioneiros em amealhar fortunas diversificando seus negócios.

Dois meses depois, em julho, chegavam à Áustria, noticias alarmantes sobre a situação na França. Embora quase vazia, a Bastilha, o símbolo supremo do poder absoluto do rei, a prisão onde haviam sido levados durante anos, todos aqueles que falavam contra o regime, que no momento, estava com pouco mais de algumas dezenas de presos, foi o alvo dos revoltosos, insatisfeitos com as péssimas condições sociais. Iniciou-se então, um período turbulento sob o lema ‘Liberté, égalité et fraternité’ que resumia o anseios daqueles que, até então, eram os únicos a pagar as pesadas contas do Estado francês. Boa parte da nobreza francesa, com a qual minha família travava relações, havia fugido para outros países. O rei tentara o mesmo, mas foi capturado pelos insurgentes. Quatro anos depois ele e a rainha perdiam suas cabeças na guilhotina.

O Patrick e eu tínhamos voltado às boas. Todos aqueles acontecimentos nos pareceram mais importantes do que as rusgas de dois teimosos. Foi ele quem propôs a paz. Isso aconteceu antes da situação de seu pai ficar esclarecida. Ele havia me prometido que não seguiria a família se o pai resolvesse ficar ao lado da monarquia e defender seus interesses. Disse que meu amor significava muito mais para ele do que o destino da França. Embora o preconceito fosse imenso naqueles anos, havia em muitas casas nobres, filhos como eu que, ou tinham seus casamentos arranjados por interesses políticos ou financeiros, ou viviam com seus amantes dentro de um círculo restrito que tinha lá seus podres a esconder e não estava em condições de apontar um dedo inquisidor a quem quer que fosse. O Patrick me surpreendeu ao se engajar nos projetos dos meus irmãos. Mais uma vez, mostrou-se habilidoso passando a administrar junto com eles, alguns negócios da família. Eu pretendia fazer o mesmo e cheguei a me preparar para me juntar a eles, mas os ciúmes do Patrick tinham alcançado um nível muito mais insano depois que nossa relação ficou sacramentada diante de todos os familiares.

O primeiro verão que passamos na Áustria em nada lembrava a turbulência que havíamos deixado para trás. Um conde, amigo do meu pai, tinha um chalé de pesca junto ao Attersee, um lago distante alguns quilômetros a leste de Salzburgo no noroeste do país. Como o chalé havia sido posto à disposição de nossa família, o Patrick e eu resolvemos passar o verão por aquelas bandas. O chalé ficava ligeiramente isolado na margem oposta às montanhas que circundavam boa parte de sua orla. Acordávamos com os cumes ainda cobertos pela bruma da noite, e nos demorávamos na cama até que o sol a tivesse dispersado, iluminando seus topos. Aquela paisagem idílica despertava toda a sensualidade do Patrick. Ele acordava, como sempre, com a rola enrijecida, e mal podia esperar para que eu acordasse e, como adotamos o hábito de dormir nus, ele logo se apressava a roçar aquela pica excitada na minha bunda desprotegida. Enquanto eu ainda me espreguiçava, ele a metia afobadamente no meu cuzinho e, eu ao invés de bocejar, já começava a gemer com aquela tora dilacerando minhas pregas. Por sorte, ou infortúnio, não sei dizer, meu cuzinho já estava lubrificado com a porra que ele tinha ejaculado na noite anterior ou no curso da madrugada, de forma que a penetração até o talo e, o sacão batendo no meu rego, não demorava mais que alguns segundos. Eu me agarrava a seus bíceps enquanto a pica era atolada no meu rabo e, passado o sufoco dessa fase, eu os acariciava e beijava, o que o incitava a procurar minha boca para que aqueles beijos fossem todos dados em seus lábios cobiçosos. Eu me sentia a mais feliz e realizada das criaturas quando aquela jeba latejava dentro de mim. Eu a acolhia e acalentava com tanto carinho que acho que ele experimentava a mesma sensação, a de uma realização plena.

- Amo você! – dizia ele, enquanto aquele líquido quente e pegajoso que ele acabara de ejacular em mim se espalhava por minhas entranhas.

- Sou a criatura mais feliz desse mundo quando você está comigo! – asseverava eu, enquanto aquele cacetão profícuo amolecia lentamente dentro de mim.

Depois que ele sacava a pica do meu cu, e deitava a cabeça no meu colo, eu juntava as pernas e deixava aquela umidade morna se aninhar em mim. Beijava e acariciava seu rosto, onde uma barba hirsuta e espinhenta pinicava minhas mãos. Toda vez que ele ficava assim, com o torso nu e, ao alcance das minhas mãos, eu tocava de leve com a ponta dos dedos naquela cicatriz, ligeiramente elevada, por onde a espada que quase ceifou sua vida tinha penetrado, não conseguia evitar que meus olhos ficassem marejados e, muitas vezes até as lágrimas rolassem pelo meu rosto. Aquele era o único medo que eu conhecia, o de perdê-lo.

- Bobinho! Eu estou aqui e sempre vou estar. – garantia ele, adivinhando o que se passava na minha mente e, requisitando mais um beijo que não só mesclava nossas salivas, mas fundia nossas almas.

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Comentários

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Nem vou comentar, seus contos me deixam tão feliz que vim procura nos mais antigos esse prazer e confesso que não me decepcionei, definitivamente além de fã sou apaixonado por tudo que você escreve.

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Valeu Roberto! Se te deixam feliz é porque devo ter acertado em algumas coisas ao escrever meus contos. Super abraço!!

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Kherr, sinta-se abraçado.

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Obrigado LeBrunn! Receba o meu abraço também, é de coração!

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Que conto lindo, quanta profundidade. Vc aborda a revolução francesa e amor. E como você conhece a França e a história. Tive q ler em dois dias de tão grande que tá. Perfeito, parabéns!!!💯

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Olá!

Você podia fazer um conto mais curto, um "spin-off", das fodas do coroinha com o Patrick! Seria interessante ver as transas de ambos! O conto foi ótimo, parabéns.

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Seus contos realmente estão entre os melhores que já li por aqui! Queria deixar registrado que adoro o tema que você desenvolve e a maneira como você traça detalhes em cada história. Esse conto histórico foi fantástico! Se me permite uma crítica, a única ressalva que eu faria é que o excesso de perfeição do corpo e a invariável riqueza do passivo (que aparece em vários contos) pecando um pouco na verossimilhança! Se fossem mais "normais" acho que o conto ficaria ainda melhor (é claro que isso não se aplica talvez a este, que se passa na corte, é claro). Ah, uma outra coisa, você poderia fazer uma sequência especial do conto do retirante ou do perigo em alto mar (gostei demais deles). Parabéns!

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Mais um conto maravilhoso. Um abraço carinhoso para ati,

Plutão

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Confesso que tava amando até o papel do Patrick estragar tudo. Perdi o encanto quando ele se mostrou um traidor que não consegue segurar o pau dentro das calças. Ridícula as atitudes dele, o que o torna tão aproveitador e canalha quanto os caras que eles queria esbofetear. Mesmo assim mt bem escrito e pensado.

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Desperta tesão, alegria, raiva, e claro, amor. Esperança de achar alguém também que me ame tão intensamente assim. Vc diz que seus personagens são parecidos contigo. Deve ser lindo então. 😘😘

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Eu gosto do conto l, na verdade amo tudo que você escreve. Mas eu não sei se é pq eu sou de escorpião ou não sei o que me influência, mas sou muito orgulhoso chega há ser um grande defeito na minha conduta. Também sou ciumento e possessivo e jamais me submeteria a uma relação desigual. Jamais ficaria com alguém que diz que me ama e no momento seguinte está transando com outros e mesmo que me submetesse eu teria que ter esse mesmo direito. Ele não tinha moral pra exigir fidelidade. Eu amei seu conto, vou dar 10 obviamente, mas essa situação me deixou incomodado. Ao menos se ele tivesse fodido com o chefe da guarda e o outro monarca estariam de igual pra igual.

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Olá VALTERSÓ, essa é para você. Lembro-me de já ter lido um comentário seu nesses mesmos termos. Pelo que vejo você se indigna com essa questão de dominador e submisso. É interessante por que isso não significa que eles não compartilhem algo de bom em comum. Pela própria história, você pode perceber que, apesar de um ser mais mandão que o outro, eles se amam. Obviamente há limites para isso. Nem todo mandão consegue levar isso numa boa, alguns se acham no direito de extrapolar. Veja quantos crimes passionais são cometidos sob esse tipo de pensamento. Mas, existe aquele mandão que acha que está no controle da situação, mas no fundo o parceiro acaba ditando mais regras do que ele. Isso é particularmente verdade nas relações heterossexuais. Existe até o chavão, lá em casa sou eu quem dá a última palavra, sim querida! Meus personagens passivos têm muito de mim próprio, eu vivo uma relação assim. Meu parceiro é um pouco mandão como meus personagens ativos, fica uma fera em algumas situações, mas é o cara mais doce e compreensivo que eu conheço. Basta eu saber levá-lo e, principalmente, fazer ele amolecer. Nossas mais ardentes e apaixonadas transas aconteceram dessa maneira. Eu gosto muito desse jeitinho dele, pois no fundo sei que é só fachada. Há mais de uma década compartilhamos cada decisão, cada passo de nossa vida comum, e eu me sinto completamente realizado do jeito que a coisa está. Nunca fui capacho, nunca me deixei humilhar, nunca me deixei desrespeitar, pois aí sim, essa questão de dominador e submisso, assume um caráter doentio. Eu quero aproveitar para te agradecer pelos comentários, fico feliz que meus contos te indignem de alguma maneira, pois se eles conseguem isso, é sinal que o conteúdo mexe com os sentimentos das pessoas e, é isso que eu quero. Podem detestar ou podem amar, mas sintam-se mexidos pelas histórias. Grande abraço, cara! Beijo no seu coração!

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Tenho que concordar com vocês pessoal, sou péssimo para escolher títulos. Escrevo o conto e depois fico imaginando como vou nominá-lo. Talvez comece a deixar essa tarefa para os leitores ..... kkkkk ..... provavelmente serão mais criativos. Agora, vejamos por outro lado! Por incrível que possa parecer, quanto mais pornográfico o título, mais comentários eu recebo. Para haver uma relação direta entre a baixaria do título e o interesse dos leitores. Obviamente não me baseio nisso para dar nome aos contos, mas essa é a realidade.

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deu vontade de gozar! rubymcp@outlook.com

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Kher, você é o melhor escritor de contos que eu costumo ler, mas eu já até comentei com alguém dias atrás: os títulos dos seus contos passam uma ideia errada do conteúdo. Os contos são criativos, românticos e dramáticos. Os títulos, bem... Eu os ignoro e leio apenas porque vi o seu nome s2 s2 Abraçosssss

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BOM, O MACHISMO ESTÁ AI. PATRICK PODE TUDO E VC NADA. TEM QUE SE SUBMETER AOS CAPRICHOS DELE E O FAZ MUITO BEM. LAMENTÁVEL. APESAR DA BELEZA DO CONTO É NECESSÁRIO VER O QUE SE ENCONTRA OR TRÁS DISSO. A POSSE SOBRE O OUTRO, O DOMÍNIO, A SUBMISSÃO E ISSO SE PERDURA ATÉ OS DIAS DE HJ. LAMENTÁVEL DE NOVO. QUISERA QUE OS SEUS DIREITOS FOSSEM OS MESMO DE PATRICK. VC ATÉ TENTOU MAS NÃO CONSEGUIU, PREFERIU SE SUBMETER, AFINAL VC É O PASSIVO E ELE O ATIVO. QUE COISA RUIM. AO INVÉS DE COMPARTILHAREM PRAZER FIZERAM O CONTRÁRIO.

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