Feio com Pegada

Um conto erótico de Augusto Treppi
Categoria: Homossexual
Contém 776 palavras
Data: 07/02/2017 21:50:03
Última revisão: 18/02/2017 16:50:39

Marcelo andava de saco cheio dos seus aplicativos de pegação. Tinha baixado no celular por insistência de um amigo e, depois do entusiasmo inicial, vinha pensando seriamente em deletar tudo. Quase não entrava mais e as mensagens que recebia ou eram de bichinhas procurando bofe ou uns sem noção correndo atrás de qualquer fast foda que preenchesse o vazio de seus tesões mal resolvidos.

Claro, ele sabia que grande parte da culpa lhe cabia. Afinal, a pinta de macho alfa revelada na sua foto só poderia atrair estes tipos mesmo. Acontece que Marcelo era passivo convicto e seu sonho dourado era encontrar um marido. Sim, bem nos moldes românticos, queria um homem pra chamar de seu, alguém que assumisse o lado “macho da relação”, a quem ele se submeteria como esposa dedicada do século XIX. Em resumo, queria lavar as cuecas do seu homem e se entregar a ele, languido e submisso, todas as noites de sua vida.

Por que a foto exposta nos aplicativos? Simplesmente porque Marcelo, embora consciente das suas preferências em assuntos de sexo e romance, era um cara muito determinado. Aos 38 anos, bem sucedido na carreira de produtor de eventos empresariais, não se sentia devendo nada a ninguém. Construíra o sucesso através de esforço, dedicação e competência. Logo, não admitia nenhum preconceito quanto à sua vida particular. Não tinha nada a esconder e sentiu ainda mais convicção quando optou por colocar literalmente a cara no sol. Queria se mostrar como realmente era para possíveis pretendentes. Infelizmente a maioria não lia o perfil, onde ele deixava bem claro o que procurava. Inebriados pelo rosto moreno e o queixo quadrado com a barba por fazer, a passivada caía matando.

Foi numa madrugada qualquer que tudo mudou. Lutando contra a insônia, o galã resolveu dar uma geral nas possibilidades que estivessem on line. De imediato um perfil chamou a sua atenção pelo avatar. O cara não tinha foto, mas uma bem desenhada caricatura onde se via um nariz avantajado, olhos claros bastante expressivos e uma boca fina, diferente da sua, que era bem carnuda. A descrição do perfil batia com os seus desejos. Em vez do cansativo “versátil” ele se definia como ATIVO, assim mesmo, em letras garrafais. Além disso, tinha um tom arrogante, que intimidava, mas ao mesmo tempo atraía.

Um pouco ansioso, Marcelo arriscou contato, coisa que raramente fazia. A maioria das interações sempre partia da outra pessoa. Pediu foto e já levou um pra trás.

- Cara, se você está procurando um bonitão pra fazer par com essa sua estampa de artista de novela, pode dar meia volta. Sou feio pra caralho e essa caricatura que está vendo é o melhor que pode me retratar, mesmo assim melhorado. Só vai me ver ao vivo, vai querer dar meia volta, mas te asseguro, se ficar vai ter momentos inesquecíveis.

Porra, o cara se garante... Com esse pensamento, e já um pouco excitado, o bonitão decidiu render papo. Assim ficou sabendo que o nome do outro era Daniel (e não “Feio com Pegada”, como estava escrito no nick) e que ele se definia como “macho”, não admitindo qualquer menção em contrário. Ah, e que pouco estava interessado no pau do passivo, solenemente ignorando questões de tamanho ou formato, partindo logo pro interesse explícito pela bunda e boca. Ou “meu próximo parque de diversões”, como definiu, numa clara manifestação de que não sentia nenhuma dúvida de que fosse “pegar” o galã.

O resto da noite foi agitado. Num ímpeto meio irresponsável, mas dominado pelo tom algo autoritário do outro, Marcelo revelou o endereço de casa. Meu deus, falei onde moro num aplicativo, delirava o moço, sem conseguir dormir direito. O sujeito nem foto tinha, nenhuma referência, e se fosse um psicopata? Empapado de suor, acordou já com o dia claro, sem recordar direito do pesadelo que com certeza estava tendo minutos atrás.

Ao lado do travesseiro, o celular revelava algumas notificações. Com o coração aos pulos, o produtor percebeu que o app utilizado na noite anterior piscava comunicando a chegada de alguma mensagem. Normal, isso sempre acontecia. Marcelo recebia dezenas de chamados apaixonados por dia, infelizmente todos de bichinhas sedentas por pica. Só que dessa vez, instintivamente, ele sentiu que encontraria algo diferente. Dito e feito, Daniel lhe enviava bom dia e intimava um encontro para o final daquele dia que estava iniciando. In-ti-ma-va. Esse era exatamente o tom. Não um pedido, ou uma proposta. Uma intimação, curta e grossa, marcando uma esquina próxima do endereço inadvertidamente fornecido.

Meu, e agora?

Continua...

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Comentários

Foto de perfil genérica

Achei desnecessário narrar que bichinha sedentas correm atrás dele quando ele próprio faz o mesmo.

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