Apaixonado por Caio! Meu brother do Orkut. (10)

Um conto erótico de Fernando
Categoria: Homossexual
Contém 4178 palavras
Data: 15/11/2016 22:07:19
Última revisão: 15/11/2016 23:51:40
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

Atrasado, mas não tanto. Voltei num feriado baum heim. Tá aí mais um capítulo. Essa semana posto uns 3, juro. Obrigado pela paciência e carinho de vocês tudo ae. Desculpas as mancadas que dou em demorar, mas gente, minha vida tá tão corrida. Sei nem como dou conta de faculdade, casa, namorado, lazer... Tenho umas 30 séries pendente, amanhã vou na pré estreia de Animais Fantásticos, trabalhos de facu acumulados e tudo mais. Espero que tenham lido que vou VER Animais Fantásticos. Morram de inveja haha'. Flw, galera. Quinta eu volto. Beijos em cada um de vocês. Desculpas não responder os comentários novamente. Tô devendo.

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O perfil de quem publicou as fotos e notícia era o fake de uma personagem de Mangá, não identificável. No período de 3 horas, o mesmo postou essa mesma grade (uma foto com outras dentro dela) de mim e Caio lado a lado, abraçados e uma a qual beijo a bochecha dele. Fotos da nossa viagem, fotos de nós dois juntos, fotos e mais fotos. E aí a legenda na foto em Caps Lock e negrito diziam "CUIDADO, CASAL GAY COM AIDS" e logo mais um texto com o seguinte alerta:

"O CASAL NA FOTO, FERNANDO E CAIO, DESCOBRIRAM RECETENMENTE QUE SÃO SORO POSITIVO, AMBOS CONTRAÍRAM EM UMA DAS SUAS MUITAS ORGIAS COM UM DOS SEUS MUITOS MACHOS SEM PRESERTIVO ALGUM. NAS FOTOS AMBOS PODEM SER LEGAIS E TUDO MAIS, SÓ QUE AS APARÊNCIAS ENGAM E MUITO. DESCOBRI QUE OS DOIS ESTÃO MARCANDO ENCONTROS COM MULHERES E HOMENS AFIM DE ESPALAHAR O VÍRUS EM UM ATO DE VINGANÇA E ÓDIO. SEGUNDO UM DELES, AFIRMOU QUE LEVARÁ CONSIGO QUANTAS PESSOAS ELE PUDER. CUIDADO COM O BATE PAPO UOL, CUIDADO COM PROPOSTAS DE UM DESSES DOIS NOJENTOS PARA SAIR, POIS ELES AGEM TANTO JUNTOS COMO SEPARADOS. FURAM CAMISINHAS OU ENCONTRAM OUTRO MEIO DE INFECTAR A PESSOA. FIQUEI EM CHOQUE QUANDO DESCOBRI E QUERO QUE TODOS TOMEM CUIDADO E DENUNCIEM ESSES DOIS VIADOS SUJOS..."

Havia outra coisas escritas, mas percebi que não conseguia mais ler, as palavras se embaralharam... Não fizeram mais sentido, e o pior; doeram fundo. Pedro falou algo, pegou meu celular e o telefone e desligou ambos. Eu não consegui desgrudar do notebook, não conseguia parar de olhar minhas fotos com Caio. Ambos felizes, ambos inocentes, sendo vítimas de uma mentira asquerosa, nojenta, maligna. As notificações vieram aos montes. Comentários de pessoas que não conheciam a gente pessoalmente, xingando a mim e Caio. Amigos desses amigos, leigos à nós, compartilhando a imagem, curtindo, comentando com ódio e repúdio. Vi meus amigos denunciando, mandando o perfil se foder e dizendo que iriam pegar quem fizera isso. Meu coração batia frenético pois tudo estava uma bagunça. Tudo parecia não ser real, uma sensação bem ruim num todo. Lembrei que minha mãe criara um Facebook para falar comigo, que meu pai tinha um Facebook, que meus parentes também o usavam e todos veriam aquilo. Todos iriam querer uma explicação.

Minha mãe longe, ficaria angustiada e na pior das hipóteses passaria mal. Em pensar nisso uma raiva me subiu, pois aquilo preocuparia todos os quais eu amo... incluindo Caio. Pensar nele me colocou em alerta, se ele visse aquilo não saberia como agir, explodiria em uma ira descomunal ou ficaria em choque como sempre fica quando está abalado emocionalmente. Olhei pra Pedro e ao fazer isso percebi meu rosto molhado, as lágrimas eram de raiva.

Eu: Quem fez isso?

Pedro visivelmente abalado: Não sabemos. Mas pode deixar que a gente vai descobrir.

Eu: Caio?

Pedro: O Henrique viu e me ligou. Agora ele tá com o Caio vindo pra cá.

Eu: Caio viu?

Pedro: Não segundo o Henrique. Mas contou que aconteceu algo.

Eu: Quando começou isso?

Pedro: Desde cedo. Mas só que não te marcaram na primeira vez. Agora que começaram a fazer isso.

Marcaram? Poderiam ser mais de uma pessoa?

Eu olhei enojado pro notebook e mais notificações apareciam a cima do ícone de globo no lado superior da tela: Que desgraçado. Eu vou matar! Eu...

Eu estava com tanta raiva que minha vontade era de chorar, mas não me permiti a isso. Passaria a imagem errada, a imagem de fragilidade, a última coisa que eu queria mostrar; o quão frágil eu era. Fiquei calado, fitando o tapete em uma nauseante sensação de desconforto. Quem já teve problemas sérios deve ter sentido esse inquietante sentimento de que o mundo é injusto, "por que comigo?" perguntam sempre. Eu perguntei "de novo comigo? Por quê?". Eu não sabia. Ouvi Pedro falar algo, não dei atenção. Pensei nos amigos de Ricardo, nos primos dele se vingando, me atingindo novamente, e o pior; atingindo Caio. Então um pensamento engraçado rodeou minha cabeça e eu lembrei da minha sogra falando - na festa do meu sogro - que eu talvez teria doenças tais como a aids. Ela seria capaz disso? Desceria tão baixo e incluiria o filho em sua jogada suja? Pensar em quem foi naquele momento não adiantaria. Levantei e peguei o celular. Fui até o contado "Paxiúba Advogado" e passei os fatos para ele. Entre uns 'hum, ah, oh" ele disse que iria até meu apê dentro de uma hora e analisaria a situação, delicada mas não grave o suficiente para nos alarmarmos.

- Mantenha a calma, esses problemas cibernéticos são gelo fino onde devemos saber onde pisar. Não façam nada - ressaltara ele antes de desligar.

Lise chegara preocupada e foi logo me abraçando, eu segurei o choro quando vi sua expressão. Em menos de 30 minutos a minha manhã tranquila se tornara um caos. Mas o que me impactou foi ela deixando a porta aberta e nela se encontrar o cara o qual eu não sabia se deveria estar ali. Só que não me importei quando fui até ele e o abracei também. Uma característica forte no paraense é o fato de não nos abraçarmos, muito raramente acontece isso, contudo, movido por uma força desconhecida eu me senti bem indo até os braços dele, afinal... André era meu amigo. Me afastei e pedi pra ele entrar. Pedro o cumprimentou vagamente e ligou para alguém. Lise ficou do meu lado no sofá enquanto André perguntava quem poderia ser o autor daquela palhaçada e que quebraria a cara do sujeito. Então a porta foi aberta e dela um Caio preocupado entrou e foi até mim sem ligar pra ninguém.

Caio: Fernando? - Chegou me levantado cuidadoso e avaliou-me checando se não havia nada quebrado em mim. - Você está bem?

Ele já sabia.

Fiz que sim com a cabeça e mais uma vez vi o rosto que certa vez me provocou a maior agonia da minha vida. O rosto de um garotinho com medo e em uma angústia sem precedentes. A mesma expressão que ele teve quando me encontrou todo fodido de porrada na casa velha onde Ricardo e cia me espancaram. Abracei ele forte e senti seu calor me reconfortar e sem mais nem menos eu me permiti lagrimar, porque mais uma vez eu causava angústia no cara que eu mais amava. Ele não estava de boné, e seus braços se evidenciavam na camiseta branca colada ao corpo. Falei que estava bem, para ele não se preocupar comigo. Eu não merecia a preocupação dele.

O medo dentro de mim por ele estar tão perdido só aumentou quando ele olhou para André e nada falou. Ambos se cumprimentaram com a cabeça e só. Roger e Henrique estavam ali, minutos depois chegaram Juan e Pablo. Todos preocupados, pedindo explicação e com uma raiva descomunal. Mário chegara com o Dr. Paxiúba e todos nós nos sentamos na sala e falamos sobre o acontecido.

Quem?

A pergunta primordial.

Paxiúba olhou as postagens no Facebook e logo ligou pra uma amigo da polícia que pediu para nós irmos até a DP do bairro Nazaré e tomar as devidas providências. Na maioria do tempo, Caio ficou calado, sem falar nada. Assim como eu. Ambos somente ouvindo e deixando os outros falarem.

Dr. Paxiúba: Aqui se enquandra os três crimes contra a honra, que são, basicamente, a calúnia, a difamação e a injúria, definidos nos artigos 138 a 140 do Código Penal.

Caio olhando pro chão: Explica isso ae.

Paxiúba estava trajando uma roupa normal; calças jeans, camisa polo preta, sapatos sociais e óculos redondos. Sua maleta costumeira pousada na mesa de centro com tantos casos à espera. Ele nos olhou firme: Vou ser breve. Calúnia é quando o autor do delito diz uma mentira sobre o ofendido, quando esse é inocente de qualquer acusação. Difamação e quando parte pra algo mais agressivo, o caso aqui do texto sobre a suposta doença de vocês onde denigre a imagem de ambos, salientando falsamente que os dois estão espalhando o vírus. E Injúria é quando o agente ofende a dignidade ou o decoro do ofendido por qualquer meio. - Ele levantou e pegou a maleta. - Vamos, sugiro que façam um boletim de ocorrência.

André: Mas é crime isso?

Dr. Paxiúba: Sim, sim. Se o autor disso sabendo que a vítima é inocente e ofende a reputação ou a boa fama da mesma no meio social em que ela vive, imediatamente é qualificado como calúnia. Não importa se o fato é verdadeiro, ele não tem o direito de publicar isso sem provas.

Pablo: Tem como pegar esse panaca?

Paxiúba fez uma careta: Esse tipo de coisa é complexa e se resolve aos poucos. Primeiro vamos à DP, registrar uma ocorrência e tirar a publicação do ar. Não há leis sobre isso, não ainda, mas como eu disse, estão difamando e caluniando vocês dois - olhou para mim e Caio. - Crime é crime.

Roger abraçando Lise: Vamo pegar esse mané, podes crê.

Dr. Paxiúba calmamente: Por enquanto não façam nada. Vamos, meninos.

*

Fomos, Caio, Lise, Roger e eu no carro de Caio. André veio na sua moto com Pablo na garupa. Pedro, Mário, Henri e Juan foram no outro carro. Quem dirigiu foi Roger enquanto Caio e eu ficamos no banco de trás numa espécie de silêncio-conversa. Ele me olhava triste e eu olhava como igual, eu ria triste e ele erguia as sobrancelhas sem ânimo nenhum.

Baixinho eu perguntei como ele soubera: Um chegado da gente viu e perguntou que história era essa. - Falou ele indiferente. - O Henri não ia contar até a gente chegar em casa porque pensava que eu ia perder a cabeça.

Eu olhei pra minhas mãos: Desculpa.

Caio olhou pra mim e eu não o encarei: Não tem que se desculpar por nada, amor.

Eu o olhei: A culpa é minha. A gente e isso de Facebook. Você tinha razão.

Ele pegou minha mão: Cara, mesmo se a gente não tivesse conta, poderiam fazer isso com a gente.

Eu: Sem fotos nossas?

Caio: Err...

Eu: Não tira o peso da culpa de mim. Sou errado, cara. Eu sempre sou.

Ele ficou calado e depois não falou mais nada. Senti ele quieto, pensativo, como se quisesse sumir dalí. Chegamos na delegacia e fizemos os trâmites de praxe. O delegado viu as postagens das fotos e olhou pra nós dois - Caio e eu - com os cenhos franzidos.

Delegado: Vocês são namorados?

Caio rápido: Sim - estávamos em uma sala, sentados numas cadeiras duras, com uma mesa separando nós do delegado e o escrivão.

Delegado, que tinha lá seus 45 anos, cabelos grisalhos, uma barriga proeminente evidenciando seu uso abusivo de brejas aos finais de semana ou folgas e com um semblante de imparcialidade, falou: Hum... - Olhou para o escrivão e esse digitou algo. - São portadores do vírus?

Íamos responder, mas o Paxiúba foi mais rápido: Meus clientes estão cientes de que não portam nenhum vírus ou patógeno do tipo.

O delegado seco: Provas?

Caio: O que o senhor tá querendo dizer?

Delegado: Que, mesmo sob essa represália inteira, o ofensor pode estar falando a verdade, e se vocês quiserem processar ele e o mesmo apresentar provas a favor de si... o jogo muda.

Eu: Não somos soro positivo, senhor. Temos como provar se é isso que está pedindo.

Paxiúba: Tenho plena consciência de como funciona isso, delegado. Como meu cliente afirmou, temos provas que contestam as calúnias ditas por essa pessoa sem caráter.

O delegado: Olha, vou ser bem franco com vocês. As leis a respeito dos crimes cibernéticos são falhas e ainda estão tramitando no Senado, e isso pode levar uns anos até os crimes de Internet serem crimes mesmos.

Paxiúba: Onde você quer chegar, senhor delegado?

Delegado contornou a mesa e sentou bem na beirada dela: Filhos, os crimes na rede vem se tornando mais comum hoje em dia. O que vale muitas das vezes para quem faz esse tipo de coisa e a densora da imagem da pessoa e o que importa para essa pessoa denegrida é, em essência, mostrar à rede que tudo que foi dito não passou de mentiras caluniosas. Vocês dois tem amigos e mais amigos nesse Facebook. Parentes e tudo mais. Todos irão ver isso e os menos próximos vão compartilhar essas suas fotos e suposta denúncia com desconhecidos, mesmo depois do perfil ser denunciado e sair do ar. Esses desconhecidos não conhecem vocês e vão ter, no mínimo, nojo e repúdio.

Ele pigarregou e olhou para mim e Caio de lá e cá: Antes de processar essa pessoa, ou pessoas, pois já temos uns suspeitos, segundo os relatos de vocês, os dois devem fazer uma coisinha. Usem a rede social que lhes fere para ferir com a verdade quem lhes causou mal. Façam o exame e mostrem o resultado, mesmo que isso não seja da conta de ninguém. Mas mesmo assim, não deixem uma calúnia ser vista como uma notícia por capricho bobo. Ah... pronto. O perfil foi removido... os amigos de vocês contribuíram para isso. Muitas denúncias.

Ele riu sem humor. O escrivão parou de escrever e entregou uma papelada para a gente assinar. O delegado: Vamos caçar quem fez isso e em breve daremos notícias. Até lá, mostrem a verdade.

Fora da sala dele, 5 minutos depois, Caio resmungava algo e eu perguntei ao nosso advogado o que deveríamos fazer: Fernando e Caio, o delegado tem razão. Façam a verdade vir a tona. Façam o exame, de preferência amanhã e postem a foto no Facebook. Façam isso durante dois dias e parem. A suposta doença de vocês é tão real para os que viram notícia que se não aparecer nada contestando eles acreditarão.

Caio: Tanto faz.

Eu peguei a mão dele e dei um beijo nela. Ele riu sem ânimo e fomos encontrar os nossos amigos. André disse que iríamos encontrar esse sujeito desgraçado. Aproveitou que Caio estava perto e falou educadamente (mas ainda sim mecânico) que ele podia contar consigo para qualquer hora. Caio se limitou a acenar com a cabeça. André se despediu de mim e foi embora na sua moto. Lise e tantos outros fizeram uma mini campanha no Facebook quando voltamos pro nosso apê e ajudaram a derrubar a mentira para os que queriam entender aquele rebuliço todo. Já eram 4 da tarde e Lise com Roger do seu lado não desgrudava do seu Notebook olhando o que rolava lá. Então veio o pior, o telefone de minha mãe. Meus primos viram a notícia e contaram para ela. Ela ligou trêmula e pude notar que a mesma chorava contida. Eu a aliviei dizendo que tudo não passava de uma mentira e depois de uma longa conversa ela ficou mais calma e desligou. Provavelmente toda minha família da parte do Sul sabia da minha "doença". Lucas, o primo príncipe de BH de Caio ligou alarmado para Caio e ele explicou na forma bruta dele. Mandei uma msg de texto para ele falando melhor e o reconfortado também. Lá pelas cinco da tarde, meu pai com seu Cá (que ligara mais cedo) chegaram e como meu pai não entendia nada de rede sociais ralhou comigo por dar minhas fotos pros outros. De certa forma, entre palavras legais de todos ali, eu me senti mais confortável com as palavras rudes do meu pai, porque sentia que as merecia.

Mais rodadas de "quem foi o miserável que fez isso?" surgiram e já era tarde quando a maioria se foi, ficando só eu e meu grandão.

Eu: Caio?

Ele estava na cozinha fazendo algo: Oi.

Eu cheguei mais perto dele: Como você está?

Caio: Bem.

Eu: Não mente, amor.

Caio tirou a camisa exibindo seu peitão peludinho e chegou mais perto: Tô sem saber o que pensar, só. Com raiva de quem fez isso. Com vontade de socar a cara do cidadão...

Eu vendo a ira dele: Calma, minha vida. Calma.

O abracei. Ficamos assim por uns minutos um ouvindo a respiração dele. Ele falou: E tu perguntando se ainda iria acontecer alguma coisa nesse ano

Eu ri sem humor: Pois é, parece que tenho um imã pra atrair problemas - falei e comecei a lagrimar. - Desculpa, amor. Desculpa de novo por isso tudo.

Caio: Hey, amor. Para de chorar, uai. Ei, tu não tem culpa.

Eu: Você tinha razão sobre...

Caio: A gente jamais iria pensar que iria rolar isso. Para de neura, Nando.

Eu: Seu Cá ficou bem abalado - falei lembrando da expressão vazia do meu sogro horas atrás quando nos encontrou. Parecia que ele estava entrando num quarto de hospital, onde o filho se encontrava entre a vida e a morte.

Caio: Pegou a gente de supetão né.

E sua mãe?, perguntei tímido.

Ele olhou para algo atrás de mim, sem me encarar: Até agora não ligou nem nada.

Eu: Mas ela deve tá alarmada. Muito.

Caio: Será mesmo? - disse azedo.

Eu: Claro, tenho certeza.

Caio: Deixa ela pra lá. Vamo banhar e dormir que o dia amanhã será cheio.

Eu suspirei: Verdade. - Andamos abraçados de lado até o quarto. - Sabe, vejo a vida dos outros e não noto tantos problemas assim, como os nossos. Será que há algo de errado comigo?

Caio: Cara, entende. Não vivemos com o vizinho pra saber o que ele passa de verdade.

Eu: Isso é verdade.

Sem muito ânimo, tomamos banho e logo fomos dormir. Demorei pra pegar no sono, assim como Caio. Ficamos acordados mas sem disposição nenhuma pra conversar. Os sonhos vieram ruins, terríveis e lá pelas 4 horas da madrugada acordei suado de medo pois criaturas negras tentavam me pegar em um pesadelo medonho. Olhei pro meu tongão descoberto e somente de cueca dormindo de bruços. Fui até a cozinha tomar um pouco de água e fiquei na sala até o sol raiar pensando em umas coisas bem chatas, tomando decisões.

Caio acordou, tomamos café e fomos até o CTA próximo fazer o teste de aids. Depois de eles perguntarem o nome dos nossos pais e pegarem o celular deles, esperamos uns 30 minutos - em um corredor com ladrilhos brancos na parede e um forte cheiro de água sanitária, além de pessoas com semblante apático passarem para lá e para cá sem nos dar muita atenção - até sair o resultado. Caio e eu ficamos quietos, ora ele tentava puxar uma brincadeira besta comigo, me cutucando ou fazendo puns baixos com a boca, ora ele entrava em um modo 'pause' assustador. Então fomos chamados em uma sala, pois éramos um casal e por essa razão podíamos saber nossos resultados juntos. Nada. Não tínhamos nada. Saudáveis como dois cavalos. Claro que não fiquei eufórico, uma vez que eu tinha certeza absoluta de não ter o vírus assim como meu namorado.

Depois tirei fotos dos resultados e postei no Facebook meu e de Caio para acabar com aquela história. Na hora muitos elogiaram a iniciativa e repudiaram as acusações passadas. Fomos até a DP com o delegado o qual o nome eu esqueci e levamos os exames. Ainda procuravam o autor das mentiras e logo encontrariam ele, afirmou o escrivão gordinho e com rosto redondo. Dr. Paxiúba disse que isso não ficaria impune e que logo logo prenderiam o dito cujo. O engraçado era que entre mim e Caio não rolou indagações do tipo "quem você acha que foi?". Fomos pra casa de Pedro almoçar lá e a mãe dele, uma senhora loura de olhos gentis, e seu pai branco e alto simpático, falaram que souberam do ocorrido e ficaram revoltados. Ambos não eram intolerantes ao homossexualismo e abominavam tais atitudes de ódio e repressão. O almoço estava divino e eu me senti cansado.

Fomos pra casa calados, não com um silêncio desconfortável, mas sim um silêncio anormal. Chegamos na entrada da garagem e vimos um carro bonito estacionado quase na passagem, Caio xingou baixinho e eu pensei que era pelo fato do mesmo ter se zangado. Só que aí, nos aproximando mais do carro em questão, vimos ela no banco da frente. Minha sogra estava de óculos escuros e tão imóvel quanto uma estátua. Mesmo de longe, mesmo através do vidro da janela do nosso carro e do dela eu pude ver o rosto dela duro e inexpressivo.

Caio: O que... Quê que ela tá fazendo aqui?

Eu: Por isso ela não ligou? Pra vir aqui?

Caio: Num sei. - Ele dirigiu para dentro da garagem, depois descemos do carro e fomos até ela. Claro que eu fui acanhado, com medo. Não era todos os dias que eu recebia a sogrinha em casa. - Vou falar com ela e tu sobe, tá.

Eu: Caio, é melhor chamar ela pra subir. Acho que ela quer conversar.

Caio bravo: Tenho nada pra falar com ela.

Eu repreendendo ele: Pára, ela tua mãe. Vou subir e tu convida ela pra subir.

Ele resmungou, eu me encaminhei até a portaria e Caio foi até o carro. Bateu no vidro e ela o baixou. Apressado, entrei no elevador e fui pro meu apê. Ela não estava ali pra me ver, então eu sairia do caminho da mesma para não haver conflitos desnecessários de ambas as partes, pois eu não me encontrava em um momento paciência e não ficaria calado caso ouvisse coisas indevidas. Algumas pessoas pareciam ter visto o lance do Facebook, pois quando me viram no corredor do meu andar, sussurraram algo e olharam de soslaio para mim. Incomodado, entrei logo e fui para meu quarto. Olhei umas msg no celular e uma delas era de André perguntando se eu estava bem. Respondi rápido que sim e mandei um abraço pra ele. Ouvi a porta da sala abrir e fechei a porta do quarto. Então Caio entrou e me olhou estranho.

Caio: Fêr?

Eu: Oi?

Caio fez uma careta: A mãe tá aqui e não veio falar comigo.

Eu franzi o cenho: Não?

Estranho, era o correto a se fazer. Ela vir e repreender ele, ou pedir desculpas, ou se entenderem em fim. Caio: Neca. Ela veio falar contigo.

Eu: Como assim?

Caio deu de ombros: Ela disse que quer falar contigo.

Eu: Mas vocês conversaram?

Caio: Não, como eu disse; ela quer falar contigo e não comigo. - Falou ele lamuriento.

Eu entendi ele, os sentimentos. Acontece uma barra com o filho e a mãe não vem abraçá-lo e dizer coisas bonitas demonstrando seu amor e proteção. Ele se sentia triste por não ter isso. Senti uma ira e saí do quarto determinado a falar com ela. Dizer umas poucas e boas. Quem ela pensava que era? Falar comigo? E eu lá tinha algo pra falar com alguém que me detesta? Cheguei sala e Caio veio atrás trotando lentamente. Dona Helena usava uma saia preta cintura-alta, uma blusa de tecido leve clara e sapatos bico fino. Um cordão fino e elegante enfeitava-lhe o pescoço e os anéis as mãos. Ela ainda usava os óculos escuros e parecia dedicida a não tirar eles. Ela riu sem humor, um sorriso rápido e falso, mas ainda sim havia algo a mais nele que eu não identifiquei.

Eu: A senhora quer falar comigo?

Dona Helena: Sim.

Sua voz saiu arrastada, como se a mesma estivesse com uma rouquidão discreta. A mesma pigarregou e eu pedi para ela sentar. Mas quando Caio foi sentar ela disse: Eu vim falar com ele (eu) a sós, meu filho.

Parecia haver meiguice em sua explicação, mas vindo da boca dela pareceu um repreensão. Eu já ficando mais puto: Ele pode ficar, não tem que ir.

Caio: Não, amor. Sem brema.

Eu: Não, você fica.

Sogra: Depois falo com ele. Vim falar com os dois, mas primeiro quero falar com você - disse me fitando com seus óculos.

Eu quase falei "pois não vai falar com nenhum dos dois", mas me controlei. Se ela queria assim. Eu: Tudo bem. De propósito eu levantei e fui até Caio beijar ele. - Não ouve atrás da porta, grandão.

Caio riu tristonho e isso me doeu a alma. A mãe dele atingia ele de uma forma doída e eu sentia. Ele foi pro quarto e eu encarei a minha sogra. Falei grosso: E então?

Ela: Vou ser breve, eu juro.

Eu seco: Seja.

Ela tirou os óculos e entendi a razão dela usá-los. Os olhos vermelhos e inchados de tantas lágrimas, supus. Confirmei isso quando ela deixou rolar uma lágrima e falou com uma babinha grudando o lábio inferior e superior: Vim aqui só pra te pedir um favor.

Continua...

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Até quinta, galera. Beijão pra vocês.

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Comentários

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olha eu n li esse capítulo aqui ainda n mas to aqui pra te falar o seguinte mano que história mas viciante da moléstia kkkkkk eu via ela ms nunca quis ler eu tava doido das idea e nem sabia kkkkk ainda to lendo la atras e vou ler essas que espero que seja uma nova temporada eu acho muito bonito o amor de vcs e espero mesmo que seja tudo real msm pq pra mim tá real demais mano vcs conseguiram um grande fâ hj kkkkk não suman e voltem logo ^^ um abracão

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heey man kkk senti saudade de tu mano, e cada barra que o Caio é o Nando passam poxa, como sempre cara seu conto e nota 1000 abraço e sou fã de vocês.

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Mano que sdds de ti!! Que cap fodaaaa aqui aonde moro surgiu uns perfis falando mal dos outros olha foi tem em 24hrs uma bairro enorme se tornou um caus e foda isso. Deve te sido a maior barra ne mas graça aos ceus que tudo deu certo ne, essa bruaca vai pedi perdao ou conta que ta por tras de tudo? Eu desconfio de mts sou curiosa meu lado investigativo fala mas alto estava foda pra te acompanha certinho rs tenho dois filhos pra cuida, marido,casa,trabalho e faculdade que fudeu minha cabeça esses tempo e foda mas, meu filho ta lindooo gordao rs ansiosa pelo proximoooo nao demora mto nao por favor bjao em ti e no caioo <3 <3 <3

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desculpa fala mas eu queria muito te chamar de Laa-Laa kkkkkkk mas sei q é algo exclusivo dos seus primos então só vou chorar no cantinho por n poder msm. a sogra-problema deve ter ficado preocupada pelo filho e acho q ela foi na paz e no amor mas como q tudo q e bom dura pouco depois ela deve voltar ao estado cruela devil dela, mana só queria saber pq vc n foi naquela vagabunda q vc chamava de amiga e deu uns supapo naquela cara de nojenta dela ??

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Que será que essa senhora vai pedir? Que você se afaste do Caio? Espero que não. Terrível esse lance da calúnia sobre vcs. Tomara que tenham encontrado o culpado.

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Caralhoo que ansiedade velho e tu para logo aí! !! Volta logo

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Gente, quanta coisa. Tô no chão com tanto acontecimento. O q será que a sogra-cobra quer? Quando penso que tudo vai se acalmar surge mais problemas. E sobre a vida do vizinho ser melhor, a gente se engana viu. Ain gosto tanto do André. Ele preocupado que fofinho. Mas nada que se compare ao príncipe Caio. Amo amo. Volta logo que tô morrendo de curiosidade pra saber que favor é esse. Pelo amor da Xuxa não demora.

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Bush conto de hoje foi bafão, mas foi ofuscado pela visita da sogra kkkk.. E tu parou logo no melhor kkk.. affs. Não fura de novo vou... abraços bebelô de geladeira kkk..

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Eita e essa cobra ai? Você para nas partes melhores heim. Mata a gente

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Só uma coisa. É homossesualidade, não, homossexualismo. Esse segundo a gente desconsidera, ok? Fora isso, mais um capítulo maravilhoso. Não poderia esperar menos de vc. Ansioso pelo capítulo de quinta <3

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Que cachorrada em! Fiquei até curiosa pra saber o que essa velha louca quer.

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