Apaixonado por um hétero convicto

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 10973 palavras
Data: 04/11/2016 16:31:00

Apaixonado por um hétero convicto

A respiração profunda e tranquila fazia o peito dele se expandir, fazendo-o parecer ainda maior do que já era e, aqueles redemoinhos de pelos densos que desciam por seu abdómen musculoso pareciam um tapete fofo e acolhedor. Não restava dúvida de que ele estava tendo um daqueles sonhos libidinosos e obscenos com os quais costumava tirar uma onda nas rodinhas de conversas. O que me fazia concluir isso era a fisionomia maliciosa e o risinho que emoldurava sua face, bem como a pica enrijecida que distendia o tecido da cueca, formando uma espécie de iglu que se destacava entre as coxas peludas e grossas como um tronco. Toda vez que eu o via ali tão próximo e, ao mesmo tempo, infinitamente distante de mim, dormindo como um anjo que parecia ter sido enviado dos céus unicamente para se tornar a criatura que eu mais amei desde que me conheço por gente, uma profusão de sentimentos se apoderava de mim. Por um lado o desejo quase insano de liberar o tesão que eu sentia ao vê-lo assim praticamente nu e, por outro, a vontade de revelar a ele todo aquele amor que sufocava meu peito, simultaneamente com a sensação mais deliciosa que eu já sentira. Já estava quase amanhecendo, mas eu voltei para a minha cama e me aconcheguei ao cobertor, como um consolo, uma vez que não podia me aconchegar ao corpo desejado dele. Não consegui mais pegar no sono e, quando cheguei ao banheiro para tomar uma ducha antecipando aquele novo dia, o espelho refletiu um rosto amargurado com os olhos completamente marejados. Diante daquela imagem sofrida, perguntei a mim mesmo se um dia seria capaz de confessar toda essa miríade de sentimentos que ele despertava em mim. Estava aí uma coisa que eu pensei jamais conseguir fazer.

Há pelo menos três anos morávamos os cinco, isto é, o Rafael, o Tiago, o Rodrigo, o Roberto e eu, no apartamento de trezentos e oitenta e cinco metros quadrados e quatro suítes, do condomínio de luxo num bairro nobre da cidade, depois que a proprietária, uma viúva com dois filhos adolescentes se viu obrigada a alugar o apartamento suntuoso e decorado por um arquiteto renomado, para bancar o custo de um apartamento menor, ainda em financiamento, para onde se mudou com os filhos depois da perda precoce do marido, um empresário em ascensão. O Rafael e o Tiago são primos e trabalham na sede da filial brasileira de um banco mundial, eles que descolaram o apartamento inicialmente. Somos amigos de longa data, desde os tempos de colégio e, ao tomarem conhecimento de que meus pais estavam se mudando para uma casa num condomínio no interior do estado, resolveram me convidar a morar com eles, o que reduziria as despesas. O mesmo convite foi feito ao Rodrigo, um engenheiro em inicio de carreira numa construtora, que já havia morado com eles numa república durante os anos de universidade e, que também estava a procura de um lugar descolado. O último a se juntar ao grupo foi o Roberto, amigo do Tiago, um administrador de empresas que, depois de um MBA em finanças na universidade de Stanford, era o braço direito e provável sucessor do diretor financeiro de uma multinacional. A mudança dos meus pais coincidira com a minha promoção a diretor de criação na agência de publicidade onde eu trabalhava. Individualmente não poderíamos morar num endereço tão luxuoso, próximo dos nossos locais de trabalho e de endereços badalados da cidade, mas em conjunto, a opção se tornava viável e cômoda para todos. Das quatro suítes, duas eram bastante amplas e duas um pouco menores. Das mais amplas o Rafael e o Tiago dividiam uma, na outra estava eu inicialmente sozinho até a chegada o Roberto, o Rodrigo imperava sozinho numa das menores e, a outra, estava destinada aos hóspedes frequentes que nos visitavam, ora os pais de um, ora um ou outro amigo de outro. O dia-a-dia corria relativamente bem. Passávamos boa parte do tempo no trabalho ou cada um em seus divertimentos preferidos, sobrando pouco tempo para ficar em casa. O Tiago e eu é que cuidávamos das coisas práticas. Ele mais na administração das despesas e questões com o condomínio, e eu com a rotina doméstica, que envolvia as compras que abasteciam a despensa e o trato com a empregada.

Quando o Beto se mudou para o apartamento, eu e ele iniciamos um relacionamento bastante formal e distante. Nos primeiros meses cheguei a pensar que talvez nunca fossemos nos dar muito bem, pois havia algo nele que me repelia como as extremidades de mesma carga de um imã. Ele parecia sentir o mesmo por mim. Enquanto a conversa e o convívio com os outros era muito expansivo, entre nós pairava uma sombra que bloqueava qualquer aproximação. Com o passar do tempo, esse bloqueio foi se dissipando muito lentamente e acabamos por construir uma amizade sincera e profunda. Era isso que eu imaginava, até o dia em que descobri que estava apaixonado por aquele homenzarrão, machão convicto, que tinha o dom da conquista e fazia disso um de seus prazeres mais sarcásticos. A mesma intensidade e determinação que usava na conquista, se valia para despachar as garotas que já não o interessavam mais. Eu abominava esse aspecto da personalidade dele, e cheguei mesmo a verbalizar algumas censuras quando isso, o que me custou ouvir alguns desaforos da parte dele. Desde então resolvi não me meter mais na vida volúvel dele. Passei a nutrir um amor platônico por aquele macho insensível e cruel. Algumas vezes pensava deixar o apartamento e ir morar sozinho, mesmo que com menos glamour, mas distante daquela tentação que me inquietava o coração. Depois, refletia mais racionalmente e chegava à conclusão que seria melhor partir para outra. No entanto, já estava tão enredado naquela paixão que nada e ninguém me atraía.

Dividir com o Beto aquela suíte foi se tornando um exercício de desprendimento e superação de uma timidez que eu trazia desde a infância. Não foi nada fácil perceber que ele espichava o rabo do olho enquanto eu me vestia ou saía do banho só de cueca. Não era nada acintoso, muito menos um interesse carnal por mim, talvez não fosse mais que a curiosidade natural de quando se está diante de alguém em trajes sumários, como num vestiário de clube ou algo assim, mas eu parecia encolher diante desses olhares. Ao mesmo tempo, eu não conseguia disfarçar o olhar quando ele fazia o mesmo, ou quando estava dormindo, o que ele costumava fazer usando apenas a cueca ou nada. E também, quando deliberadamente saía do banheiro com a jeba monstruosa balançando livre e solta entre as coxas grossas, exibindo aquele dote com uma arrogância humilhante, uma vez que o tamanho do meu pau nunca foi nenhum motivo de orgulho. Ele parecia ter sido me dado tão somente para cumprir, muito discretamente, as suas funções básicas. Funcionava, era o que me bastava. Já ele, ostentava aquele cacete colossal como um troféu. Eu tinha a impressão que ao exibi-lo para mim ele estava se impondo como macho dominante, embora em meus pensamentos eu nunca tenha questionado essa posição.

Espantosamente, à medida que o tempo passava, ele e eu fomos criando uma intimidade cada vez mais profunda. Ele me contava em detalhes todos os lances com as mulheres que conquistava, inclusive e pormenorizadamente, os de cunho sexual. Falava do trabalho, queixava-se disso ou daquilo, me confidenciava questões ligadas à família dele e, em questão de meses eu sabia mais da vida dele do que qualquer outra pessoa com quem ele já tinha convivido. Passada essa fase de consolidação da nossa amizade, ele começou a pedir a minha opinião quanto às roupas que comprava. Quando chegava em casa do trabalho mais exausto e estressado, tomava uma ducha e me pedia para fazer massagem nele, o que o relaxava enquanto ia me contando como fora seu dia. Numa determinada ocasião, quando precisou ficar acamado por uns dias devido a uma virose severa, e o médico lhe havia prescrito um antibiótico injetável, pediu que eu fizesse as injeções, pois sabia que eu tinha feito um curso de primeiros socorros e procedimentos básicos de enfermagem. A tal ponto chegou a confiança que depositava em mim, e a certeza de que eu faria tudo para cuidar dele.

Muitas vezes, quando madrugada alta, conversávamos no quarto, e ele se mostrava mais aberto e confidente, eu tentei contar que me sentia atraído física e emocionalmente por ele. Que nunca tinha tido nenhuma experiência homossexual, mas que desde o momento em que o conhecera, essa tinha se tornado uma vontade avassaladora. No entanto, a coragem desaparecia assim que eu começava a pensar nas palavras que usaria para lhe dizer isso. A cada oportunidade perdida eu me sentia mais vulnerável aquele amor, e tratava de enfiar a minha frustração no cantinho mais recôndito da minha alma. O medo da reação dele, e de perdê-lo para sempre, fazia minha coragem desaparecer como num passe de mágica.

Uma pequena crise doméstica me fez conhecer de forma um pouco dolorosa e cruel um lado do Beto que eu preferia nunca ter conhecido. Tudo começou com a saída da Alice, nossa empregada. Era a quinta que nos deixava na mão nos últimos doze meses. Como essa era parte das minhas funções no cotidiano da casa, eu tornei a recorrer à agência de recrutamento que nos havia enviado as outras empregadas. Desta vez fui um pouco mais incisivo na minha solicitação e pedi um empenho maior por parte deles na indicação das candidatas.

- Paulo? É a Carina da agência de RH, tudo bem? – disse a voz quando atendi o número que não havia identificado no display do meu celular, enquanto estava almoçando com os colegas de trabalho.

- Ah! Tudo bem. Tem alguma novidade para mim? – perguntei, ansioso para por fim ao pequeno drama doméstico que estávamos vivendo.

- É por isso que estou ligando. Selecionamos quatro candidatas para o senhor entrevistar. – revelou animada.

- Que bom! Você sabe que eu só posso agendar as entrevistas para o sábado, é quando tenho como reunir boa parte das pessoas que moram comigo. – afirmei.

- Sim, sim. Está aqui no seu cadastro. Quero apenas confirmar os horários, pode ser?

- OK! Você disse que são quatro candidatas, não é? Deixe-me ver os melhores horários.

- Bem. Na verdade são três candidatas e um candidato. Trata-se de um rapaz de vinte e três anos. Ele já trabalhou em casa de família, tem ótimas referências e nos pareceu muito apto para o serviço, por isso resolvemos incluí-lo na sua lista. Tudo bem para o senhor? – havia algo na voz dela, enquanto justificava a inclusão do rapaz, que me soou um pouco estranho. Ou meu sexto sentido estava enganado ou havia alguma coisa de esquisito com esse rapaz.

- Se vocês o avaliaram com os parâmetros que eu te passei e, acham que ele tem condições, por mim tudo bem. – respondi.

- Sim, sim. Fizemos como nos foi pedido. – assegurou, ela.

O sábado amanheceu preguiçoso com uma garoa fina e um friozinho fora de época, por isso consegui que todos estivessem em casa para entrevistarmos as candidatas. Duas foram descartadas logo de cara, talvez fossem competentes no trabalho, mas não inspiraram a menor empatia em nenhum de nós. A outra tinha muita chance, embora o fato de não querermos que a funcionária ocupe o quarto de empregados, estivesse pesando na decisão. Ela alegara morar muito longe para ficar se deslocando diariamente, embora essa tivesse sido uma das nossas recomendações à agência. Ficamos de pensar e dar um retorno. O último a ser entrevistado foi o rapaz. Chamava-se Josival. Assim que eu abri a porta para atendê-lo, consegui compreender aquela apreensão na voz da Carina. O cara era um pouco gordinho, usava umas calças tão justas que eu me perguntei como foi que ele entrou nelas, e uma camiseta com apliques que mais parecia um traje de palco de algum artista brega. O ‘boa tarde’ dele soou como o miado de uma gata no cio empoleirada num telhado a chamar os machos. A entrevista com ele não deixou de ser divertida. Apenas o Beto e o Tiago se mostraram arredios e vetaram a contratação logo de cara. Pedi que ele aguardasse nosso contato para tomarmos uma decisão mais racional, sem o impacto da presença daquela figura ímpar.

- Como a agência pode mandar um viado desses? – questionou o Tiago assim que nos despedimos, achando graça e imitando alguns dos trejeitos do rapaz. – Não estou a fim de ficar falado no condomínio. – acrescentou, justificando seu veto.

- Por mim tudo bem. Se ele der conta do serviço é o que importa. – disseram o Rafael e o Rodrigo, quase ao mesmo tempo e, que não viam isso como uma questão a que se devesse dar muita importância.

- Pois eu não quero essa bicha circulando aqui dentro. Muito menos mexendo nas minhas coisas. Vai que o viadinho começa a brincar com as cuecas da gente. – o tom de sua voz denotava um desprezo profundo pela condição do rapaz. E, isso me atingiu como um punhal, com a pungência recriminadora de alguém que não consegue entender uma diferença como algo natural em qualquer ser humano.

- Quem é que vai querer mexer nas suas cuecas fedidas? – perguntei, sob o impacto da recriminação.

- Minhas cuecas com cheiro de macho são uma tentação para aberrações como esse sujeito! – exclamou

- O cara podia ser mais discreto, concordo. Mas, chama-lo de aberração é demais. Acho que você deveria respeitar o cara, independente da questão sexual. – revidei.

- Que questão sexual o que? Ou é macho, ou é fêmea. O resto é um bando de pervertido, aberrações da natureza. – retrucou, em sua visão diminuta da condição humana.

- Não entendo como alguém pode ser tão preconceituoso. É como enxergar o mundo por meio de uma fenda, nada mais antigo e insano. – aquela conversa estava acabando comigo. O amor que eu sentia por ele estava se transformando em desprezo.

- Vamos por em votação a escolha da mulher que quer vir morar aqui e do rapaz folclórico. – disse, brincando, o Rafael, vendo que o clima entre o Beto e eu estava esquentando.

- A bichona está fora de questão! – sentenciou o Beto.

- Concordo! Vamos votar. – respondi, como uma afronta à postura dele.

O Rafael e o Rodrigo optaram pelo rapaz, o Tiago foi contra, mas disse que se não tivéssemos opção melhor, ele acabaria aceitando. O Beto reafirmou seu veto incondicional. Coube a mim o voto de minerva. O olhar que o Beto me lançou tinha dois objetivos, segundo a minha interpretação, uma me intimidar, outra contar com a minha aquiescência.

- Não me oponho à vinda do rapaz. Acho que ele tem mais condições de encarar o serviço, que não é pouco, melhor do que a mulher. Depois, falatório por falatório, estaremos na boca do povo desse condomínio, tanto tendo uma mulher morando com cinco homens quanto com o cara afeminado. Ele, a gente pode pedir para ser discreto enquanto estiver por aqui. Já ela, vai saber o que vai sair falando por aí. – esclareci.

- Você é um sem noção, cara! A decisão é de vocês, depois não digam que eu não avisei. E, mais duas coisas. Não me peçam para falar com aquela coisa, se ele não gostar de como eu o trato que se foda. A partir do momento que ele entrar por aquela porta, não quero que mexa nas minhas coisas, passo a mandar as minhas roupas para uma lavanderia e não como a comida que ele puser na mesa. Não quero esse boiola tocando no que é meu. – vociferou zangado, e contrariado, por eu não ter apoiado a decisão dele.

- Quanta infantilidade! Pensei que você fosse mais homem. – provoquei, achando um absurdo o comportamento dele.

- Mais homem do que isso aqui você certamente não vai encontrar por aí com facilidade. – retrucou, agarrando o membro entre as coxas.

- Para mim chega! Então está decidido, não é? Ligo para o cara começar na segunda-feira, ok? – perguntei, obtendo o assentimento dos demais.

Me preparei para receber o Josival na segunda pela manhã, indo ao trabalho apenas no período da tarde. Todos ainda estavam em casa quando ele apareceu pouco antes das sete horas. O Beto antecipou a saída dele para evitar se encontrar com ele. Esperei que todos fossem para o trabalho para explicar a rotina da casa e como queríamos que ele fizesse as coisas. Logo percebi que aquele serviço não tinha nenhum mistério para a desenvoltura dele. Fiquei ensaiando como dizer a ele que fosse o mais discreto possível quanto ao seu comportamento, pois temíamos o falatório dos vizinhos. Eles já nos olhavam de maneira estranha por sermos cinco jovens solteiros vivendo sob o mesmo teto. A opinião dos outros nunca teve muita importância na minha maneira de ser, mas detestava viver sob um clima arredio e pouco amistoso.

- Você entendeu bem Josival? Queremos manter uma política de boa vizinhança e nem todo mundo encara bem aquilo que foge dos padrões que a sociedade estabeleceu. – disse, concluindo meu pedido.

- Claro! Entendi sim, senhor. – respondeu, como se essa lição já lhe tivesse sido administrada desde a muito. – Vou precisar me policiar bastante, pois nunca trabalhei num lugar com tantos bofes lindos de morrer por metro quadrado. – acrescentou, em tom de zombaria.

- Nem brinque fazendo uma observação dessas aqui dentro ou com porteiros e outros funcionários do condomínio. – rindo da brincadeira dele, mas deixando clara minha posição.

- Eu sei. Nem lá em casa posso falar que trabalho no meio de tanto bofe, senão o Geraldão me mata de pancada. O negão é segurança numa dessas empresas de transporte de valores, parece um armário de tão grande. Já levei umas bordoadas dele uma vez e sei que não é moleza. Eu o chamo de negão, mas ele é um moreno invocado que só ele. – retrucou.

- Quem é o Geraldão? Seu pai? – perguntei curioso.

- Não! O Geraldo é meu homem. Sou casado, tenho até aliança, veja! Não no papel, que a gente não tem grana para pagar a papelada, mas a gente é casado assim, vamos dizer, juntando as escovas de dente e as carnes, sabe como é. – revelou com orgulho. O que não só me comoveu como me fez sentir uma pontinha de inveja dele.

- Entendi. – balbuciei, pensando como seria maravilhoso se um dia eu pudesse chamar o Beto de meu homem com a mesma convicção e orgulho.

O mais complicado foi dizer que ele não deveria mexer nas coisas do Beto, que eu mesmo colocaria as roupas dele na máquina de lavar e que ele, no dia seguinte, deveria passa-las e deixa-las na lavanderia, pois eu me encarregaria de guarda-las posteriormente. Como essa restrição não existia em relação aos outros, ele logo sacou a razão daquele pedido esquisito. Antes de conseguir disfarçar o sofrimento que aquilo lhe causava, eu pude perceber o quão rejeitado ele se sentia. Em pouco tempo percebemos que nossa opção havia sido acertada. O Josival superou as nossas expectativas e se mostrou uma criatura excelente para se lidar e muito caprichoso nos seus afazeres. O Tiago se deu por vencido e até elogiava o trabalho dele. Somente o Beto manteve aquela postura infantil e preconceituosa.

Contornei a implicância do Beto dizendo a ele que separasse as roupas para eu as levar pessoalmente à lavanderia que ficava no caminho para o meu trabalho. E, a pretexto de querer fazer um café da manhã diferente dos demais, eu acabava fazendo o café da manhã dele junto com o meu, uma vez que ele não aceitava nada feito pelo Josival. E, assim as coisas ficaram arranjadas.

Até então, o Beto sempre me falava das façanhas dele com as piranhas com que costumava se envolver com a leveza e a sordidez de um Casanova. Eram aventuras que mantinham a sua fama de garanhão. O quanto mais rápido ele conseguia levar a mulher para a cama, menos durava seu interesse por ela. Mas, um dia, ao se referir a uma delas pelo nome com certa devoção no tom de voz, eu percebi que alguém havia conseguido penetrar naquele coração com o qual eu tanto sonhava. Tive que fazer um esforço enorme para ouvir como a tinha conhecido, o quanto ela tinha de especial, como era seu sorriso, o quão suave era seu jeito de falar. Meus temores se consolidaram quando ele, mencionando inúmeras qualidades que via nela, em nenhum momento mencionou de forma vulgar, como costumava fazer com as outras, os atributos físicos. Parecia que ele havia sublimado essa parte em razão de um motivo mais digno. Se ainda não estava, ele caminhava para se apaixonar por ela. Nunca senti tanta dor quanto no dia em que ele me falou dela pela primeira vez. Meu castelo de areia começava a se desmoronar como quando a maré vai subindo e faz as ondas carregarem os grãos de areia para o mar.

O Beto sofreu uma transformação perceptível a olhos vistos. Já não saíam de sua boca aquelas avalanches de palavrões. Começou a se preocupar demasiadamente com sua aparência e com suas roupas. Passou a adotar uma postura mais gentil no trato com as pessoas. Passava horas vasculhando o computador por mensagens que ela lhe enviava. Outras tantas eram desperdiçadas na procura por programas mais românticos. Tornara-se mais caseiro, e no tempo que ficava em casa, só se preocupava em me pedir conselhos quanto ao modo de conduzir aquela relação que estava mexendo profundamente com ele, como se eu fosse a pessoa mais certa para dar conselhos amorosos. Não conseguia nem mesmo mostrar ao homem por quem estava irremediavelmente apaixonado, o quanto ele era importante para mim.

- Deixa de má vontade! Você está sempre cercado de mulheres bonitas e interessantes. Custa me explicar como fazer para que elas se mantenham interessadas em você? – perguntou, depois que me recusei a ajuda-lo na conquista.

- Seja você mesmo, ora essa! Não adianta fingir aquilo que você não é. Cedo ou tarde a verdade aparece. – retruquei. Embora eu mesmo devesse seguir as minhas palavras, pois serviam para o meu caso como uma luva.

- Se eu for eu mesmo ela sai correndo no mesmo instante. Vai pensar que eu só quero comer a buceta dela. – declarou.

- E não é isso mesmo que você quer fazer? – questionei.

- Olha lá como fala! Não, dessa vez não estou pensando só nisso. Eu quero que ela se apaixone por mim. – disse, zangado.

- Então diz isso a ela!

- É, mas eu não posso ir logo falando assim. O que ela vai pensar? Que eu sou um frouxo, apaixonadinho que vai ficar aos pés dela? – revidou.

- Ah! Você quer bancar o durão, o cara que não se apaixona. Ela é que tem que ficar caidinha por você. Depois você concede muito graciosamente o seu amor por ela. É isso? – perguntei.

- Também não é assim! Mas ela precisa ficar apaixonada por mim antes do que eu por ela. – respondeu.

- De onde você tira toda essa bobagem? Você já está de quatro por essa mulher, se toca! – retruquei indignado.

- Não estou não! Eu estou interessado nela, é diferente. – o desgraçado não sedia nem sob tortura.

- Tá bom! Faz de conta que eu acredito. Você já se olhou no espelho? Só falta babar quando fala nela. Até seu jeito você está mudando. – sentenciei.

- Como assim?

- Esquece! Deixa para lá! Sai correndo atrás dela, quem sabe ela não se apaixona?

- Deixa de frescura e me ajuda, vai? Eu sei que você sabe como fazer isso melhor do que eu.

A carinha de desamparo dele era tão eloquente que eu, idiota, acabei concordando em ajuda-lo, embora não soubesse como.

- Em primeiro lugar, pode parar com essa ideia de endeusa-la, ou achar que é você quem a está conquistando. Ela, como toda mulher, é que vai ditar todas as regras e vai fazer isso de um jeito tão ardiloso que vai deixar você pensando que é você quem está dando as cartas. Se ela está te dando bola é por que já analisou o que você tem aí no meio das tuas pernas e, baseada no seu emprego, seu carro e inúmeros outros itens que você, sem querer, deixou nas entrelinhas da sua conversa, levou-a a concluir que você está apto a dar a ela e, a sua prole, a estabilidade que ela procura. – disse, disposto a fazê-lo entender onde estava se metendo.

- A Julia não é assim. Ela trabalha, tem boa formação e é independente. – afirmou, com a ignorância que para alguns casos serve de benção.

- Ela pode ser tudo isso, mas, acima de tudo, ela é mulher e isso basta para confirmar essa teoria. E mulher, só quer um belo pau na buceta e a certeza de que você lhe dará filhos e uma condição financeira confortável. Todo esse papo de romantismo é confete para camuflar as verdadeiras intenções dela.

- Como você pode pensar isso da Julia sem conhecê-la? – questionou.

- É simples. Como qualquer fêmea de qualquer espécie, ela só escolhe aquele macho que, na opinião dela, vai lhe garantir uma boa prole e a perpetuação da espécie.

- Então, segundo essa sua teoria, eu vou ser um privilegiado eleito dentre os outros.

- Um privilegiado uma ova! Você vai ser um mero fornecedor de espermatozoides e dinheiro para as necessidades dela e dos filhos que ela vai fazer questão de lhe dar, para que você se sinta um machão provedor.

- Não. Eu me recuso a acreditar que a Julia seja dessas mulheres.

- É o que todo homem pensa. Feito um trouxa, acha que a mulher dele é a tal, a única. Que o ama e por quem é capaz de jurar amor eterno. Quando ele, na verdade, faz parte do pacote do qual apenas alguns itens a interessam, o resto, ou seja, você e seus interesses e necessidades, vem como o amargor agregado de um remédio, é ruim, mas faz parte da cura.

- Impossível!

- Com uma rola que funcione à meia boca elas até que se acostumam logo. Afinal, a maioria delas vive com sujeitos que fazem muito alarde do dote, mas não passam de propaganda enganosa. Quanto à grana, deixe-a pressentir o risco de que pode contar com um futuro não tão promissor quanto o que ela sonhou que ela troca o parceiro pela primeira conta bancária mais polpuda, sem o menor remorso.

- Você diz isso só para me assustar. A Julia é tão meiga, tem um sorriso tão sincero. Ela é diferente, tenho certeza! – ponderou.

- Então, siga em frente! Se iluda. É essa ilusão que vem mantendo a perpetuação da humanidade mesmo. Por que haveria de ser diferente com você, não é?

- Você reduz o amor a coisas tão banais! – exclamou.

- Pelo contrário! Até agora não falei de amor. Falei do que é uma realidade, e que a maioria das pessoas pensa que é o amor, deixando-se levar por esse pensamento ilusório.

- Mas, todo mundo pensa assim.

- É por isso que a espécie humana está aí. É o que garante a continuidade dela, independente do que cada indivíduo sinta.

- E é errado pensar assim, por acaso?

- Não, se você se contenta com isso. É uma opção.

- Estamos aqui filosofando, mas até agora, você ainda não me deu nenhuma dica prática de como conquistar a Julia. – a determinação dele me irritava.

- Você não entendeu nada do que eu falei! Deixa para lá! Vamos fazer de conta que é você quem vai conquistar sua amada. – concluí desanimado. Ele aguçou os sentidos para captar melhor as tais dicas que ele pretendia seguir como os passos de uma receita de bolo.

Numa manhã em que eu tinha ficado retardatário, perdido nos meus pensamentos, à mesa do café da manhã depois que todos tinham saído para o trabalho, o Josival me surpreendeu com uma observação.

- Você está apaixonado pelo Beto, não está? E, aquele bobalhão nem percebeu. Mas, homem macho como ele é assim mesmo, demora a cair a ficha. – afirmou, ousado.

- Que bobagem é essa? De onde você tirou uma ideia estapafúrdia dessas? Onde já se viu? – respondi irritado.

- É que eu estou vendo o seu sofrimento. – retrucou.

- Nunca mais repita uma besteira dessas, ouviu? – ameacei.

- Tá bom! Não está mais aqui quem falou. – naquele momento a voz de gralha dele quase me tirou do sério.

Enquanto isso, o romance do Beto ia de vento em popa. Ele já começava a falar em noivado e, chegou a me pedir para que fosse com ele a uma joalheria, pois queria impressionar a Julia e eu era o cara para escolher o anel mais apropriado.

- Sei que, com o seu refinamento e bom gosto, você vai saber escolher muito melhor do que eu. – disse, tentando me persuadir.

A cada avanço ele vinha me contar como as coisas estavam caminhando. Parecia uma criança que acaba de conseguir se equilibrar em cima de uma bicicleta. Essa situação tinha nos aproximado ainda mais, eu agora era tudo pra ele, embora não aquilo que eu queria que fosse. Aquele entusiasmo dele estava acabando comigo. Doía como nada jamais tinha doído. Eu estava jogando meu amor nos braços dela, entregando-o por falta de coragem de dizer o que ele representava para mim.

- Você é um anjo! Sinto que ela já está embarcando na minha! – disse, me abraçando e tascando-me um beijo nas bochechas, numa madrugada em que voltava de um programa que eu havia sugerido e feito uma série de recomendações de como se portar com ela. – Não é a toa que você sempre tem um monte de garotas a sua volta! – acrescentou.

- Pois é! Para você ver como são as coisas! – retruquei, ainda mais ferido.

Apaixonar-se pelo Beto não era difícil. Ele tinha todas as qualidades e atributos que, tanto uma mulher, quanto um homem poderiam sonhar. Era evidente que a Julia estava se fazendo de difícil, mas há tempos já tinha feito sua escolha. Tudo agora era uma questão de ir levando a relação para onde ela queria. E, estava conseguindo. O noivado já tinha data marcada, seria dali a dois meses.

O domingo estava terminando com aquela cara de coisa saudosista, afinal amanhã começava mais uma dura semana de trabalho. Já se fazia bastante tarde, eu era o único que ainda estava acordado, a exceção do Rafael que até aquele momento não havia regressado de um programa com os amigos. Quando desliguei a televisão e saí da sala de TV, o apartamento estava imerso numa luz âmbar espalhada pelos poucos abajures ainda ligados. Entrei na cozinha e fui pegar um pouco de água gelada na geladeira para ver se conseguia amenizar aquele calor que, com certeza, não me deixaria ter uma noite de sono tranquila. Nesse instante, lembrei-me de ter esquecido de colocar as roupas do Beto na máquina de lavar, para que o Josival as pudesse passar no dia seguinte. Fui até o quarto onde o Beto ronronava feito um felino manhoso, esparramado sobre a cama dele numa cueca boxer na qual se alojava, como uma jiboia ao longo de sua coxa peluda, aquele cacete imenso. Como de costume, as roupas dele estavam espalhadas sobre a poltrona que ficava do meu lado do quarto, mas da qual ele fazia seu depósito de roupas usadas. Juntei-as e ia caminhando em direção à lavanderia quando o cheiro que elas exalavam me distraiu. Era uma mescla do perfume que ele usava com o suor dele e até uma instigante fragrância almiscarada. Antes de coloca-las na máquina, uma tentação boba me fez levar cada peça ao rosto e aspirar o cheiro dele. Camisas, camisetas, bermudas e cuecas foram passando pelo crivo apurado das minhas narinas. Eu as segurava contra o rosto enquanto era transportado para um Éden onde me era permitido sentir o cheiro do peito dele espargido por entre aqueles pelos que eu supunha sedosos ao tato, a exalação caprílica da virilha dele que impregnara a cueca junto com traços do almíscar do líquido pré-ejaculatório. Mergulhado no devaneio desse universo tão íntimo dele, eu não percebi que ele havia acordado e também viera até a cozinha atrás de um copo de água, me flagrando naquela atitude.

- Que porra é essa? Você está cheirando uma das minhas cuecas? Você está pondo minhas roupas para lavar? – o berro que ele deu às minhas costas me trouxe à realidade e me fez tremer assustado.

- Eu só, quero dizer, eu estava, eu posso explicar, acalme-se. – gaguejei, vendo a fúria brotar no olhar dele.

- Acalmar o escambau! Que viadagem é essa que você está fazendo? – questionou, arrancando com violência a cueca que eu apertava nervosamente entre os dedos.

- Não fica zangado Beto, eu só estava colocando as roupas na máquina. – balbuciei, com uma voz que teimava em não querer sair da minha boca.

- Você estava cheirando minha cueca, seu boiola! Isso é uma viadice sem tamanho! Qual é a sua, hein? – estava tão alterado que eu comecei a me sentir inseguro.

- Por favor, não grite. Você vai acordar todo mundo. – implorei, sem saber o dizer.

- Eu quero que se foda! Você não levava minhas roupas para a lavanderia, coisa e tal, por que fica no seu caminho e, tererê-tererê? Agora pego você nessa putaria de viado! – berrava exaltado.

- É que você tinha implicado com o Josival, eu só queria deixar tudo em ordem. – continuei gaguejando.

- Era justamente por que eu não queria aquele viado chafurdando nas minhas roupas que eu proibi que ele mexesse nas minhas coisas. Agora você resolve fazer justamente o que eu nem em sonho queria imaginar. Isso é coisa de boiola, de bicha rameira, sabia?

- Não é nada disso! Fique calmo, vamos conversar civilizadamente, eu te imploro.

- Eu estou com uma vontade de meter a mão na sua cara, você não faz ideia de como eu estou me segurando para não fazer isso.

- Se te fizer sentir melhor, esteja à vontade. – eu já não sabia mais o que estava falando.

- Não me provoque cara! Eu sou macho e não tolero esse tipo de zoação comigo. Você já deveria saber disso. – rosnou enfurecido.

- Eu não estou zoando, juro. Eu gosto tanto de você que perdi a cabeça. Senti um tesão danado quando cheirei suas roupas e me deixei levar pela empolgação, desculpe... – o soco que me atingiu fez a lavanderia toda girar como se eu estivesse num carrossel, antes de tudo se tornar um nevoeiro negro.

Quando meus olhos sentiram uma claridade eu já estava no sofá da sala e todos estavam a minha volta. O Rafael acabara de chegar quando eu distingui as primeiras silhuetas. Haviam colocado um saco plástico com pedras de gelo no meu rosto, exatamente no local de onde brotava uma dor muito forte.

- O que está acontecendo? O que foi isso? – perguntou o Rafael aproximando-se de mim. Os demais fizeram um sinal para que ele não fizesse mais perguntas, mas ele continuava com aquele olhar atônito sobre mim.

- Você está bem? – perguntou o Tiago. – Acho que é melhor a gente te levar para um pronto-socorro, esse afundamento está com cara de osso quebrado. – emendou.

- Eu não... onde está o Beto? Eu preciso explicar tudo para ele. – eu tentava me colocar de pé.

- Calma, calma. Fique sentado aí. A gente o deixou lá na cozinha para ele se acalmar um pouco. – disse o Rodrigo.

- Eu só vou me acalmar quando terminar de quebrar a cara desse viado filho da puta! – vociferou exaltado, vindo em minha direção, antes que o Rafael e o Tiago o contivessem a muito custo.

- Gente, nós sempre fomos amigos e não há por que não resolver isso de maneira amigável. Pô! Qual é a de vocês? – interveio o Rodrigo.

- Deixa o Beto extravasar a raiva dele. A culpa é minha. – falei, atordoado.

- Nada disso! Que bobagem é essa? Desde quando se resolve alguma coisa na porrada? – disse o Tiago.

- Eu gosto do Beto faz um tempão. Cheirei as roupas dele num acesso de bobeira, não sei o que me deu. Eu estou a anos segurando isso dentro do peito. – confessei de súbito, levando minhas duas mãos ao peito e as comprimindo com força.

- É, ou não é, motivo para eu quebrar a cara dessa bichona? – questionou o Beto.

- Epa, epa! Vai segurando a sua onda, cara! Ninguém vai quebrar a cara de ninguém aqui. – ameaçou o Rafael.

- Vem com a gente Paulo. Você precisa ver esse rosto, a coisa está bem feia, temos que ir ao pronto-socorro tirar uma radiografia.

O médico plantonista sonolento que me atendeu confirmou a suspeita do seu exame clínico. Havia uma fratura no meu malar esquerdo e um leve afundamento. Uma cirurgia precisava ser agendada para o dia seguinte a fim de recolocar o osso no lugar. A recuperação é bastante rápida nesses casos garantiu.

- Quer que um de nós passe a noite aqui com você? – questionaram o Rodrigo e o Rafael, que durante todo o trajeto até o hospital evitaram tocar no assunto.

- Não. Não precisa não, obrigado. Eu sou muito grato por terem me trazido até aqui. Vão para casa, amanhã é dia de trabalho. Não vamos fazer uma guerra por causa de uma bobagem. – sentenciei, humilhado e constrangido. Meu sentimento veio a público da pior maneira possível. Agora era conviver com isso.

- Não há por que você ficar assim. Você gosta do cara, e daí? Acho que todos nós já tínhamos percebido isso. Talvez não tão claramente, mas o jeito com que você trata o Beto sempre foi muito diferente do jeito com que você lida com a gente. Agora tudo ficou claro. – disse o Rodrigo.

- É isso aí. Você não precisava ter segurado essa onda sozinho. Por que não conversou com um de nós? Não vejo nada de mal no que você sente pelo cara. Mas, você conhece a fera. Precisava ter chegado nele muito sutilmente, pois o bicho é cheio de preconceitos. – acrescentou o Rafael.

- Agora já foi. Eu sei que fiz besteira. Desculpem de ter metido vocês nisso, e assistirem uma cena como aquela. – balbuciei.

- Cara, você é o mais equilibrado e certinho daquela casa. Sempre se preocupando com a gente, sempre dando uma força, sempre aí para o que der e vier, sempre um incentivo carinhoso quando a gente está para baixo. Você é o melhor de todos nós. E, ninguém. Entendeu? Ninguém vai te deixar nessa, sozinho. – concluiu o Rafael.

- Obrigadão! Valeu. Agora vão descansar, já é muito tarde. – agradeci, tentando conter o olhar marejado.

A cirurgia aconteceu na tarde do dia seguinte e pouco mais de trinta horas depois eu estava tendo alta hospitalar. O Tiago veio me buscar. Abriu um sorriso enorme e me abraçou fazendo todo meu corpo sacudir quando entrou no quarto.

- Você continua lindo mesmo com esse baita curativo e esse olho roxo! Pronto para voltar ao lar doce lar? – era o jeito brincalhão dele diante das crises.

- Acho que a partir de agora lá não vai mais ser um lar muito doce para mim. – comentei.

- Que isso? Daqui a uns dias ninguém mais se lembra do que aconteceu. E lá é o seu lugar, sim senhor! Isso nem se discute. – revidou.

Quando entrei no meu quarto vi que as coisas do Beto não estavam mais lá. Ele havia trocado de quarto com o Rodrigo, que passou a ficar junto comigo. O arranjo se deu enquanto eu estive no hospital e, o fato do Beto não ter dado as caras por lá, já indicava como seria nosso convívio de ora em diante. Eu não sabia se tinha condições emocionais para viver com o olhar de desprezo que ele provavelmente teria para mim doravante. Esperei o anoitecer, quando todos estariam em casa, para anunciar a minha decisão. Estava deixando o apartamento e me mudando para um apart-hotel. Foi uma chiadeira geral. Protestos, conselhos, sugestões e tentativas para me demover da decisão foi a resposta que os rapazes me deram. No entanto, a decisão estava tomada. Seria melhor para todos e, especialmente para mim. Cada dia a mais naquele lugar seria uma tortura infindável.

- Não há por que você fazer isso. Vai abalar o emocional de todos nós. Teremos que conviver com um vazio. – disse o Rodrigo, expressando a opinião de todos.

- Deixem de drama. Eu estarei por perto e a gente vai continuar se vendo e fazendo os mesmos programas de sempre. – respondi.

- Isso não é o mesmo que estar com você no dia-a-dia. Nem de longe substitui a falta que você faz. – retrucou o Rafael.

A despedida foi um capítulo a parte. É engraçado perceber como os homens procuram ser superiores a essas banalidades. Os olhos marejados estavam em todos, e o nó na garganta deles estava presente em cada abraço apertado e demorado. A única ausência era o Beto. Ele já havia retornado do trabalho, mas ninguém o encontrou dentro do apartamento. Levei o básico para passar alguns dias.

- Eu sinto muito por isso aí no seu rosto. Não sei se um dia você será capaz de me perdoar por isso, mas me arrependo muito do que fiz. – a voz saiu titubeando por detrás de uma das colunas da garagem junto com um Beto de fisionomia carregada, quando coloquei minha mala no bagageiro do carro.

- Esqueça! Já passou. – respondi, sem ânimo ou forças para ter qualquer conversa com ele.

- Fique. Não vá embora. – pediu, olhando para o chão onde o pé dele desenhava algo abstrato.

- Não vamos tornar isso ainda mais difícil, por favor. Tchau! – uma única palavra a mais e eu explodiria em prantos.

Ao fechar a porta do pequeno apartamento do apart-hotel um choro convulsivo se apossou de mim. Acho que todo preconceituoso é imune ao sofrimento alheio. Incapaz de se colocar no lugar de outro e, minimamente, imaginar como é ser ou ter conceitos diferentes da maioria. E tudo tem uma dimensão muito maior quando isso vem de quem se ama.

Dias depois retornei para buscar o restante das minhas coisas. Fiz questão de fazer isso enquanto os rapazes estavam no trabalho. Embora o Tiago tivesse aparecido nem meia hora depois da minha chegada, com mais uma tentativa de reverter a situação.

- Tá uma tristeza de dar dó por aqui, ‘seu’ Paulo, depois que você saiu. – revelou o Josival. – Ninguém come direito. Eles saem pela manhã sem tomar café e fazer aquela zorra, cheia de piadas e risadas, que costumava acontecer todos os dias.

- Logo, logo eles se acostumam e tudo volta ao normal. – respondi.

- Sei não. Tá tudo tão mudado que até o Beto não implica mais comigo. Dia desses, ele disse que era para eu arrumar o quarto dele e fazer tudo igual como fazia para os outros. Fiquei espantado! Só implica de vez em quando, dizendo que ora o suco, ora isso e ora aquilo não está do mesmo jeito que você fazia. Fica emburrado e sai pisando forte. – disse, enquanto me ajudava a fazer as malas.

- Isso agora não tem mais importância. Preciso me libertar desse sentimentalismo. – retruquei.

- Não quero ser fofoqueiro, mas acho que ele está descobrindo que gosta de você mais do que imaginava. Anteontem ele se meteu numa confusão. Teve até polícia. Não sei direito o que aconteceu, mas ele bateu o carro e ..... – ia dizendo em tom confidencial, quando o Tiago o interrompeu.

- Fazendo fofoca e bisbilhotando na vida dos outros, não é ‘seu’ Josival? – disse ao se juntar a nós.

- O que foi que aconteceu com o Beto? Ele se machucou? – fui logo perguntando.

- Ele está bem. Pelo menos fisicamente. Foi uma bobagem qualquer no trânsito, parece que um sujeito fez uma conversão repentina, amassou o paralamas e quebrou um farol do carro do Beto. Acontece que ele desceu do carro e encheu o sujeito de porradas. Tiveram que segurá-lo para ele não fazer mais besteira. Baseado no tamanho e na força do Beto você pode imaginar como o camarada ficou. Foi à delegacia e deu queixa, parece que vai abrir um processo por lesão corporal grave. O cara está todo arregaçado. – revelou, com um risinho sarcástico quando disse a última frase.

- E ele não machucou o Beto? – questionei.

- O infeliz nem viu de onde vinham os socos. Foi o saco de pancadas que o Beto estava procurando para extravasar a raiva da qual anda possuído. Acho que o pobre coitado nunca mais vai fazer uma conversão perigosa. – acrescentou em tom de brincadeira. – E, pelo visto, você saiu daqui, mas a paixão pelo socador de incautos ainda é a mesma. Que preocupação toda é essa se o Beto está machucado, se está tudo bem com ele? – perguntou, sabendo que eu podia estar distante fisicamente, mas o coração nunca estivera tão próximo dele.

- É só curiosidade. – menti, sem convicção.

- Até parece! Você acredita nisso Josival?

- O Geraldão é igualzinho ao ‘seu’ Beto! Quando a gente discute ele fica uma fera e sai distribuindo porrada para tudo quanto é lado. Macho tem aquela coisa, como é mesmo que se chama, ferro não sei o que? Que os faz brigarem com outros machos e serem tão agressivos. – disse o Josival, enquanto o Tiago e eu não conseguíamos evitar a risada.

- É feromônio que se diz, Josival! – exclamou o Tiago se divertindo com a observação. – Quer dizer que seu marido também sai dando soco quando você fica regulando o cuzinho. – emendou, tirando uma com o coitado.

- Nem me fale! O bicho sobe pelas paredes! Aí de quem pisar nos calcanhares dele quando está de lua virada. – sentenciou com sua voz estridente misturada com o riso.

Há tempos eu estava de olho numa placa de ‘vende-se apto’ presa a grade de um edifício, recuado da rua, com um jardim em patamares, em frente a uma praça no caminho do trabalho. Não distava mais do que oito ou nove quadras de onde eu havia morado. As duas semanas no apart-hotel me pareceram tão impessoais que resolvi ligar para a imobiliária a fim de ver o apartamento à venda.

Os cômodos eram amplos bem como os dois dormitórios, por se tratar de uma construção mais antiga. O apartamento estava em ótimo estado devido a uma reforma muito bem planejada recentemente. O charme ficava por conta de uma ampla varanda que corria ao longo de toda a frente do apartamento dando vista para a praça e a copa das árvores logo abaixo. Minhas reservas não eram suficientes para adquiri-lo, mas havia algum tempo que meus pais me incentivavam a comprar algo próprio, dispondo-se a me emprestar o que fosse necessário. Pouco mais de uma semana depois eu estava assinando a compra do apartamento, e planejava mudar-me tão breve quanto possível.

Embora eu me encontrasse com frequência com o Rafael, Rodrigo e Tiago ora no horário do almoço, ora para um programa ou outro, nunca mais tinha voltado ao apartamento, e nem perguntado pelo Beto. Eu tinha combinado com alguns amigos de fazer a inauguração oficial do meu apê, umas comidinhas, uns drinques e bom papo com um fundo musical eclético, assim agradaria a todos e deixava a porta aberta àquelas amizades benvindas. Faltava uma semana para a data agendada e, fazia pouco mais de doze semanas que eu havia deixado minha antiga moradia. Eu já tinha dormido as últimas três noites na minha nova casa encima de um colchão jogado no chão. Era sábado de manhã. O marceneiro e sua equipe tinham chegado cedo e estavam espalhados pelos cômodos instalando os móveis. Tinham se comprometido a terminar tudo naquele final de semana que antecedia minha open-house, mesmo que isso significasse entrar noite adentro e trabalhar no domingo, pois nada do que estavam fazendo perturbaria a tranquilidade dos outros moradores do condomínio. Era final de janeiro e o calor insuportável fez com que os montadores fossem ficando cada vez mais à vontade. Perto do meio-dia, em alguns só havia restado a bermuda, enquanto outros tinham o torso musculoso e suado sensualmente exposto. O marceneiro era um cara na casa dos quarenta anos, um tipo bruto, o que tinha pouca importância diante da beleza viril que ele esbanjava. Os auxiliares eram todos mais novos, deviam estar na faixa dos vinte e poucos anos, e, se os encontrasse assim vestidos, na rua, apostaria que tinham acabado de sair de uma academia. Eu tinha acabado de voltar da rua, onde fui complementar meu estoque de sucos e refrigerantes para os lanchinhos que, de tempos em tempos, eu fazia questão de servir a fim de manter o ânimo deles fixo nos meus móveis. Também tinha ouvido um comentário que um dos auxiliares fez com marceneiro, pouco antes de entrar pela porta de serviço, sem que eles tivessem percebido a minha presença.

- O patrãozinho ai tem um par de coxas que bota as de muitas garotas no chinelo. Que pernas são aquelas? Toda esculpida, carnuda, sem um pelinho a vista a não ser aquela penugem douradinha contrastando com a pele bronzeada. Sou ligado em mulher, mas aquelas coxas dão um tesão fodido. – sentenciou o garotão.

- Nem me fale! É bom nem pensar. Minha mulher manda me capar se souber que eu já precisei dar um bocado de ajeitadas na rola dentro da calça para não dar bandeira. – retrucou, com a malícia embutida no risinho. – E o perfume, quando ele chega perto da gente! Você vai sentindo aquele cheiro que parece de limão ou tangerina, meio morninho, entrando no seu nariz e a pica teima em começar a endurecer. É foda, cara! – emendou o marceneiro. Eles trocaram um olhar significativo quando entrei com a bandeja de copos de suco suando de tão gelados. O short que eu estava usando era realmente um pouco ousado para um ambiente que não fosse a areia de uma praia. Corar era algo de que eu nem me lembrava mais, mas não consegui deixar de sentir o rosto afogueado quando eles trocaram aquele olhar.

Os marceneiros tinham descido para almoçar num restaurantezinho, a poucas quadras, que eu lhes havia indicado e pago pelas refeições. Em meio a toda a bagunça que ainda estava espalhada pelos cômodos, eu ia abrindo as caixas da minha mudança e redirecionando o que elas continham para os lugares certos. Eu estava na suíte principal quando ouvi a porta de entrada sendo aberta. Julguei que fossem os marceneiros voltando do almoço, embora estranhasse o silêncio daquele retorno. Antes de eu me preparar para verificar se eram realmente eles, o Beto enfiou a cara pela porta do quarto.

- Está precisando de ajuda? – havia uma insegurança na voz, mas o sorriso no rosto a disfarçava muito bem.

- Oi! Bem! Eu agora estou sozinho, mas daqui a pouco os marceneiros estão de volta. O que não falta por aqui hoje são braços. – respondi, com um sorriso tímido e surpreendido.

- Tudo bem com você? – ele ainda não conseguia me encarar diretamente quando fez a pergunta.

- Tudo! E você?

- Como sempre. Nada de extraordinário. – ele estava pressentindo que a conversa talvez fosse mais difícil do que ele tinha imaginado.

- Que bom! – eu não encontrava palavras para continuar.

- Muito legal o apartamento! Foi um achado e tanto. E, seu bom gosto está deixando ele lindo. – comentou.

- Foi sim. Obrigado!

- Quem me deu o endereço foi o Josival. Praticamente tive que arrancar a informação dele a força. Os rapazes não queriam me dar o endereço. Acho que pensaram que eu ia arrumar outra confusão. – mencionou querendo parecer distraído, mas pela primeira vez, eu senti um olhar diferente na maneira dele me olhar.

- Ah, tá! Bem. Não é um segredo. Não há por que fazer mistério. – devolvi. Era o maldito short, ponderei. Não consegui disfarçar meu embaraço, estava com as faces ardendo de calor.

Por sorte, acho que para ambos, as vozes barulhentas dos marceneiros voltando já ecoavam pelo corredor. O que veio quebrar aquele clima tenso. O Beto cumprimentou os caras de maneira bastante econômica e reservada quando os viu entrando com tão pouca roupa sobre os corpos. E, sem a menor cerimônia, ofereceu-se para ajudar no que fosse preciso. Não arredou pé enquanto eles trabalhavam e, ocasionalmente solicitavam a ajuda dele. Ele estava plantado no meio da sala, já totalmente transformada, quando levei o grupo até a porta e me despedi deles. Uma lua em crescente estava estacionada bem em frente às portas de vidro que davam para a varanda. Elas estavam abertas e deixavam entrar o murmúrio das ruas junto com uma brisa morna.

- Diz que me perdoa, por favor. E que não vai mais ficar longe de mim. – As palavras saíram num repente, firmes, decididas. Acho que ele as tinham ensaiado a tarde toda. Me pegaram de surpresa.

- Não vamos mais voltar a esse assunto. Eu que te peço, por favor. Vamos deixar o que passou lá no passado, acabou. – respondi.

- Não diga isso! Eu nunca quis te machucar, juro. Sinto raiva de mim mesmo toda vez que me lembro do seu rosto naquele dia. – insistiu.

- Como você pode ver minha cara está novinha em folha. Portanto, não se martirize. – retorqui. – E, como foi o noivado com a Julia? Ela gostou do presente? – perguntei, tentando desviar o rumo da conversa.

- Não foi! Não teve noivado algum. – ele me encarou para não perder nenhum detalhe da minha reação a essa notícia. – Foi isso que vim fazer aqui hoje. Queria que você soubesse. – emendou.

- O que houve? Vocês discutiram? – de repente meu coração estava acelerado, eu podia senti-lo pulsando no meu peito.

- Terminamos.

- Você me parecia tão empenhado nessa paixão. – argumentei.

- Foi o que eu também pensei. Que era uma paixão. – afirmou. – Estava enganado. Me deixei impressionar pelo jogo de gato e rato que ela fez comigo. Agora eu sei que paixão é outra coisa. – sentenciou, aproximando-se de mim.

- Que bom. Quero dizer, bom que você conseguiu interpretar seus sentimentos. Isso evita alguns dissabores! – a presença dele tão próxima ainda mexia muito comigo, por isso quis me dirigir até a varanda, mas ele me reteve pelo braço.

- Sinto sua falta! Muito. – confessou. – Por que me ajudou a conquista-la, se disse que gostava de mim? – questionou, levantando meu queixo para poder olhar bem dentro dos meus olhos.

- Por isso mesmo. Quando se ama alguém só queremos a felicidade dessa pessoa, não importa com quem. – eu já estava todo travado outra vez. Ele tinha a capacidade de me obrigar a represar meus sentimentos, deixando tudo confuso dentro da minha cabeça.

- Suas lições funcionaram. Êxito total com ela. Menos o que sinto aqui dentro. Precisei correr o risco de te perder para perceber de quem eu realmente gostava. – disse, com a voz grave e decidida que me fazia perder o controle das minhas emoções.

- Não faz isso! – murmurei, sentindo meu braço tremer na mão dele. – Acho que esqueci a porta de serviço aberta, é melhor eu ir verificar. – a tentativa foi frustrada, ele não me soltou. Pelo contrário, me puxou para junto dele e, passando o outro braço pelo meu tronco, procurou minha boca com seus lábios ansiosos e úmidos.

- Preciso de você. Quero você mais do que tudo nessa vida. Perdoe as minhas tolices. – murmurou, depois de ter me beijado demorada e sofregamente.

- Você está confuso. Eu já disse que te perdoo, não precisa ficar tão angustiado assim.

- Realmente. Eu andei bem confuso. Deu um nó na minha cabeça quando aconteceu aquilo. Mas agora não tem mais confusão alguma. Eu sei o que estou sentindo, e muita coisa mudou em relação a algumas opiniões que eu tinha. – revelou.

- Ninguém muda assim tão rapidamente. – eu não queria embarcar numa canoa furada e vir a sofrer lá adiante.

- Tem razão! Estou mudando, nem tudo ainda está muito claro. Mas, de uma coisa eu sei. Não quero e não posso ficar sem você. Acho que o resto eu vou aprendendo com você. – pelo visto ele havia tomado sua decisão.

- Aprender comigo? Que piada! Sou a última pessoa que pode ensinar alguma coisa sobre sentimentos. Não viu a confusão que eu arrumei? – questionei.

- Então vamos aprender um com o outro, juntos. Isso é o mais importante. Não me renegue só por que sou um babaca.

- Eu sou incapaz de te renegar! Comecei a te amar sem perceber e, quando dei por mim, estava tão apaixonado quanto perdido, sem saber o que fazer com essa paixão. – assumi, pois ele me encarando com aquele olhar acolhedor não dava para resistir.

- E eu percebi que te amava quando seu rosto machucado estava doendo mais em mim do que em você! Foi aí que eu percebi que precisava proteger você, que você já estava tão impregnado no meu ser que eu nunca mais seria o mesmo sem você. – ele estava me apertando tão intensamente contra o corpo dele que eu mal conseguia respirar.

O beijo dele tinha o gosto que eu sempre havia imaginado. Era selvagem e carinhoso ao mesmo tempo. Era agressivo e suave, numa alternância envolvedora. Bastou o beijo para que meu tesão se espalhasse numa onda de calor por toda a minha pele. A mesma reação tomou conta do corpo dele, e uma ereção começou a se manifestar entre as suas coxas, abrupta e instigante.

- Está vendo o que está fazendo comigo? Quando me lembro de você naquelas cuecas cavadas deitado na cama ao lado da minha, vulnerável e me querendo, percebo como fui imbecil. Mas, não pretendo cometer esse erro novamente. Quero você todinho para mim! – exclamou, enquanto me baixava sobre os restos das caixas de papelão amontoadas no meio da sala.

As mãos dele percorrendo meu corpo por baixo da roupa despertaram em mim um tesão contido por anos. Com a mesma intempestividade que faz um vulcão expelir a lava contida em suas entranhas eu me consumia em desejos secretamente guardados. A possibilidade de vê-los realizados aguçava minha sensibilidade. A pele reagia com ardor ao toque aguerrido dele, pelo olfato o cheiro almiscarado e másculo me subjugava aos seus intentos, enquanto o sabor de sua saliva adocicava aqueles sonhos de há tanto sonhados. Os biquinhos dos meus mamilos estavam enrijecidos e empinados quando ele tirou a minha camiseta e os encarou com um risinho satisfeito e cobiçoso. Quando a ponta da língua dele os roçou com sua aspereza úmida, eu gemi revelando meus anseios. Afundei meus dedos em seus cabelos e o afaguei. As mãos dele desceram lentamente pelos meus flancos levando consigo o short e desnudando minhas nádegas. Vigorosa e insaciavelmente ele as amassava entre as mãos como se fosse toma-las para si. Eu soltei um ganido quando o dedo ávido dele começou a circundar meu ânus numa provocação deliberada. Meu cuzinho lascivo sincronizava movimentos de contração e desabrochamento num desejo de tragar aquele dedo impudico para o seu interior.

- Ainda vai ter coragem de resistir ao meu amor por você, com esse cuzinho piscando de tesão? – sussurrou, enquanto continuava a mordiscar meu peitinho.

- Eu sempre te quis! E, agora, mais do que nunca. – respondi num gemido quando o dedo dele varou minhas pregas.

Eu me agarrava ao peito dele e deslizava minhas mãos entre os pelos densos e macios, deixando-o dedar e explorar a minha exígua fenda anal. Aos poucos eu fui me deitando, ele afastara ligeiramente minhas pernas de maneira a deixar o cuzinho vulnerável a sua investida. Eu arfava e, em alguns momentos, gemia sonoramente, quando aquele dedo tocava mais agressivamente a musculatura dos meus esfíncteres. Como ele permanecia ajoelhado ao meu lado, dava para ver o contorno do seu cacete crescendo dentro da calça. Ele abriu o zíper e liberou o caralhão bem diante do meu rosto. Duas gotas do líquido pré-ejaculatório respigaram na minha bochecha trazendo consigo aquele aroma viril de macho excitado. A minha boca se encheu de saliva como se eu estivesse diante da minha comida preferida. Abocanhei a cabeçorra daquela pica e, suavemente, chupei-a entre os lábios. Ele soltou um ganido rouco. A rola crescia na minha boca enquanto eu provava todo o seu sabor. Com a ajuda de uma de suas mãos ele a meteu na minha garganta e, enquanto eu controlava os engulhos ela despejou mais um tanto daquele sumo apetitoso. Eu brinquei demoradamente com aquele mastro calibroso, e com as bolas do sacão peludo e pesado. Deslizava, sorrateiro, os dedos por toda sua virilha, explorando e aspirando o perfume morno que vinha dela. Lambia e mordiscava delicadamente todo o percurso do cacetão, da base de onde brotava o saco até a pontinha da glande, sorvendo cada gota que minava daquele orifício suculento.

- Caralho! Como isso é bom! Quem diria que essa boquinha macia podia ser tão gulosa? – exclamou, dentre dentes.

- Sou viciado nesse seu cheiro, sabia? – retruquei, sem interromper meus movimentos.

- Você não faz ideia do que isso ainda vai te custar! Você vai ter que dar conta de tudo que está me causando com essa provocação. Depois não diga que não avisei. – gemeu.

Ele terminou de tirar as calças e se lançou sobre mim. Minha bunda se encaixou na virilha dele como se tivesse sido esculpida na medida. O cacetão molhado começou a roçar meu reguinho apertado, enquanto ele se movimentava encima do meu corpo languidamente esparramado sobre os papelões. Ele me chupava o pescoço e, quando eu virava o rosto na direção dele, nos beijávamos perdida e loucamente. O apartamento estava mergulhado num lusco-fusco trazido pela lua que entrava pelos janelões e por algumas poucas luzes que estavam acessas desde a saída dos marceneiros. O tempo havia parado, e eu era incapaz de dizer quanto tempo estávamos ali. Pelo tesão que eu sentia diria que não eram mais do que alguns segundos. Pelo corpo exaurido diria que fora uma eternidade. No meio desse devaneio ele enfiou a pica no meu cu e, eu gritei, enquanto a dor tomava conta da minha pelve. Meu cuzinho virgem se rasgara para permitir que aquela jeba se alojasse em mim.

- Puta merda! Isso acaba com qualquer um. Tesão do caralho! – gemeu ele quando sentiu minhas pregas se rasgando em torno de seu pauzão estufado. – Está doendo, está? – perguntou, embora não pretendesse mover a pica dali independente de qual fosse a minha resposta.

- Espere um pouco, está me machucando. – consegui balbuciar entre os gemidos. No entanto, tudo o que eu mais queria era que ele ficasse onde estava, pois aquela era a sensação mais completa e vibrante que eu havia sentido. – Eu amo você. – gemi, fazendo com que ele começasse a mover os quadris contra os meus metendo aquela rola cada vez mais profundamente em mim.

Havia momentos em que ele apenas se esfregava no meu corpo estendido debaixo do dele, me chupando e lambendo minha nuca. Em outros, fazia o caralhão deslizar pelo meu anel anal distendido, num movimento de vaivém, tão intenso e bruto, que me fazia ganir feito uma cadela. Meu pau roçava as caixas de papelão amassadas debaixo de mim aumentando o tesão que meu cuzinho experimentava com aquela rola esfolando minha mucosa. O gozo veio tão intenso e pleno, que fez escorrer pelo papelão, o creme esbranquiçado que jorrava do meu pau.

- Está gozando com seu macho te arrombando o cuzinho, está tesudinho? Rebola essa bundinha gostosa para o seu macho encher ela de porra, rebola tesão. – rosnou, acelerando as estocadas que dava nas minhas entranhas.

- Ai Beto! – gani desesperado.

- Ai Beto, não! Eu não disse que você ia precisar dar conta da provocação que me fazia. Então. Agora vai ter que aguentar eu dar vazão a todo esse tesão que me faz sentir. – sentenciou.

A minha conexão com o Beto agora era real, não mais um sonho impossível, mas algo tão concreto e firme quanto o que estava dentro de mim, estocando minha pelve com a sanha máscula de sua tara. Quando a essência espessa e pegajosa dele começou a escorrer em mim eu soube que estava irremediavelmente vinculado a ele. A jeba pulsava entre as minhas carnes liberando o tesão acumulado dele, em forma de jatos potentes e mornos de porra.

- Ai Beto! – gemi, mais uma vez, feliz e realizado.

- Se eu soubesse que o cuzinho de um homem podia ser tão apertado e delicioso, eu já teria te descabaçado antes. – sussurrou, antes de virar meu rosto em sua direção e me beijar carinhosamente.

- Eu te amo. – murmurei dengoso, quando os lábios dele se desprenderam dos meus.

- Eu também te amo. E, isso é o mais gostoso de tudo. – ronronou ele, feliz e satisfeito.

A estreia da cama se deu entre beijos, carícias e penetrações e se sucediam a cada ereção que ele tinha, mesmo que só para alojar o cacetão no meu cuzinho, que ele definiu como sendo agasalhador. Eu achava que aqueles lençóis fossem demorar a envolver outro corpo que não apenas o meu ou, pelo menos, por um longo período. Mas, não foi o que aconteceu.

- Você acha que tem lugar para mais um nesse apartamento? Pois acho que você já sabe que aqui e aqui, eu já assumi o controle total e único. – disse, colocando sua mão sobre meu coração e meu cu.

- Depende! – respondi enigmático.

- Ah, é! E depende do que? – inquiriu curioso.

- Depende da proposta que vão me fazer? A mais vantajosa e interessante eu vou considerar. – respondi fazendo pilheria.

- Que história é essa de ‘vão’? Quem são os desavisados que estão querendo te fazer propostas indecentes? – perguntou, indignado. – Aposto que nenhum vai ser capaz de oferecer tantas vantagens quanto eu. Um cuidado zeloso, proteção e um amor imenso. E, na parte indecente, um caralho faminto e tarado nesse buraquinho macio e recatado.

- Hummmm....deixa pensar. É, acho que aceito! – respondi, tirando uma com a cara safada dele, enquanto pegava seu rosto barbudo entre as mãos e pousava suavemente meus lábios nos dele.

Hoje nossa união completa seu primeiro ano de existência. Acabo de beijá-lo durante o intervalo da partida de futebol que ele está assistindo deitado na cama diante da televisão do nosso quarto.

- O que significa isso? – pergunta, quando o beijo carinhoso e demorado termina. Ele me encara com um sorriso e tira o notebook onde eu teclava há algum tempo. Lê o que acabo de escrever, põe o computador de lado e se deita sobre mim, arriando com um só movimento minha bermuda e minha cueca. Olha nos meus olhos com aquele olhar apaixonado e quente. Aparta minhas pernas e as coloca sobre seus ombros. A pica distende minhas pregas, rompe meus esfíncteres e se aloja tão profundamente na minha intimidade que eu o envolvo num abraço receptivo.

- Amo você! – ele sussurra.

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Lamento por você Indo_por_ai! Como pode ver, minhas histórias têm muito da realidade embutidas nelas. A sua não foi tão feliz quanto a do Paulo, mas deve te levar a desistir. Abração!

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Muito bom so decepcionada com a visao que vc tem das mulheres isso e triste sabia , o amor e tao sublime e e para todos independente de qualquer posição social, raça ou gênero

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Olá Fênix 34! Vc generalizou ao achar que minha opinião sobre as mulheres é negativa, pelo contrário, eu, no geral, as admiro em muitos aspectos, mas vc há de convir que nem todas são seres fabulosos apenas por serem mulheres. Tenho a mesma opinião que vc quanto ao amor, ele é sublime sempre e deveria gerir todas as nossas ações sempre. Todos, indiscriminadamente, devem ter direito a ele, segundo as minhas convicções. Obrigado pelo comentáro e pela leitura do conto! Abraço!

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Juro que por um momento achei que o narrador-personagem ia ser padrinho de casamento do amigo hétero e a história não teria sexo... Obviamente gostei da resolução do conflito e do final, mas não ignoro que apenas um desabafo, no melhor estilo "o que vi da vida", também seria legal. Mais uma vez parabéns, você escreveu uma belíssima história :). E só pra comentar o "machismo" apontado pelo colega comentarista: estamos falando de uma personagem, que "pensa" e "sente" algo (e é isso que a torna mais "humana"), mas ela é um ser irreal e inofensivo (procure urgente ajuda psicológica se discorda disso). A personagem "pensar" tal coisa não quer dizer que o autor concorde com tais práticas ou pontos de vista. Thomas Harris, criador do Hannibal, não é canibal nem mata famílias inteiras para deixar apenas os dentes

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Os melhores contos para se ler da CdC. Nota 10

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Oi J.K.Obrigado pelo seu comentário. Tomara que o seu baixinho genioooooooso se inspire nos meus passivos e passe a ser bem carinhoso com você. Agora, você sabe que uma moeda sempre tem dois lados....o que será que você anda aprontando para ele ser assim? ..... kkkkk .... brincadeirinha. Não se ofenda. Do fundo do coração desejo que vocês estejam cada dia mais unidos. É isso que imorta quando se ama. Abração aos dois!!

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ja disse o quanto vc é incrivel?! Sim vc é! Demais cara, amo seus contos! nunca nos deixe! espero outro conto maravilhoso logo!

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Huuum, maravilhoso, como todos. Ah, este conto reacendeu em mim o desejo de encontrar um Beto, só que menos violento. Um abraço carinhoso,

Plutão

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Você, nos seus contos, personifica o que há de melhor do amor entre homens. Xô aos preconceituosos e incautos, que não percebem o poema que existe em seus contos. Valeu!

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Nunca vi tanta baboseira machista nuum conto só. Chamou toda mulher de intereesseira, evidenciou os principais defeitos dos homens em geral como qualidades, colocou a "bichinha com voz estridente" mais uma vez como inferioor e que deve sempre conter seu jeito espalhafatoso por causa dos preconceituosos. Cara desencana desse tipo de historia onde o macho alfa busca no amigo a mulher que ele nao tem e no final o viadinho da jistoria vira essa mulher prendada pra ele.

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